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quarta-feira, agosto 21, 2013

Galo Queer: “A rivalidade faz parte do futebol, mas a homofobia não”

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Entrevista com Milena Franco, da Galo Queer.

Por Nicolau Soares

Futepoca – Como surgiu o movimento? Quais suas motivações?
Milena Franco – Sou atleticana desde sempre, mas recentemente comecei a estudar gênero e teoria feminista e, por isso, da última vez que fui ao estádio, fui com um outro olhar, e fiquei muito incomodada com a homofobia e o machismo generalizados e naturalizados por todos, mesmo por parte de pessoas que, fora do estádio, têm uma postura política de respeito à diversidade. Dessa angústia surgiu a ideia de fazer um movimento e várias pessoas gostaram da ideia e se juntaram a ele. Agora o movimento cresceu e é constituído por muitas pessoas. Somos atleticanos de várias idades, gêneros, profissões e orientações.

Futepoca – A repercussão surpreende? Como está se dando esta repercussão, tanto positiva quanto negativa? 
Milena – A repercussão surpreendeu muito. Nunca imaginei uma repercussão dessa magnitude. Fiz a página apenas para divulgar entre meus amigos, pensando que algum dia poderíamos nos organizar pra fazer algo maior. Mas em três dias a página foi curtida por mais de 3.000 pessoas. Acho que atendemos a uma demanda silenciosa. Pelo visto, muita gente que gosta de futebol já queria dar esse grito contra o machismo, a homofobia e a intolerância e ficamos muito emocionados com todas as manifestações de apoio. Infelizmente, há também muita repercussão negativa, mas isso já era esperado, já que estamos mexendo em um terreno muito machista e conservador, que é o do futebol. O problema são as ameaças que recebemos. As pessoas se oporem ao movimento é totalmente aceitável, mas ameaça não..

Futepoca – Há a ideia de levar isto à direção do Galo? 
Milena – Ainda não recebemos uma resposta do time. Ficamos sabendo, no entanto, através da reportagem do Globo Esporte, que a diretoria é favorável ao movimento e ficamos muito felizes de ver que o nosso time tem essa postura de respeito á diversidade e combate ao preconceito.

Futepoca – Qual a dimensão da homofobia e do sexismo no futebol brasileiro hoje? Qual a importância de se mudar isto?
Milena – Há muito machismo e muita homofobia no futebol e estes são temas totalmente intocados. Enquanto essas arenas de exceção continuarem existindo, arenas onde o preconceito é permitido, o preconceito e a intolerância nunca acabarão. Discutir machismo e homofobia no futebol é uma questão urgente.

Futepoca – Após a repercussão inicial do Galo Queer, uma página similar foi criada levando o nome do Cruzeiro e posteriormente várias outras torcidas de times de todo o Brasil. O que vocês acham disso?
Milena – Achamos as iniciativa muito boas. A rivalidade faz parte do futebol, mas a homofobia não. E é por isso que é importante que haja um movimento amplo de combate à homofobia e ao machismo dentro do futebol. Claro que temos orgulho do pioneirismo, mas é essencial que o movimento se espalhe. Ficamos muito felizes.

Futepoca – Vocês pretendem levar o movimento para o estádio?
Milena – Frequentamos o estádio e temos sim esse objetivo. Mas queremos fazer tudo com calma e no momento certo, é preciso garantir a integridade física de todos os participantes. Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil fazer protestos no estádio. Estamos pensando na melhor forma de fazer isto. Mas o legal é que o movimento já começou a ir para o estádio naturalmente, recebemos fotos de torcedores do Galo que foram ao Mineirão no último jogo (contra o Villa) com cartazes de apoio à Galo Queer e repúdio à homofobia. O triste foi saber que os seguranças do estádio não permitiram a entrada dos cartazes, com a justificativa de que "eles não tinham nada a ver com futebol". E depois falam que o "políticamente correto" é que faz censura.

Futepoca – Vocês estão em contato com as outras torcidas anti-homofobia que surgiram após a criação da Galo Queer?
Milena – As outras torcidas anti-homofobia que surgiram entraram em contato com a gente apenas para pedir ajuda na divulgação. Mas estamos dispostos a, no futuro, organizar alguma ação conjunta com as outras torcidas.

Futepoca – O que vocês acham de expressões como "Maria" e "Bambi"?
Milena – Expressões como "bambi" e "Maria" são sim sintomas de uma cultura homofóbica. Se você não é homofóbico nem machista, você simplesmente não usa tais termos para ofender alguém. A rivalidade pode se expressar de várias outras formas que não alimentem uma cultura opressiva. O argumento de que "brincadeiras" desse tipo fazem parte da cultura do futebol não se sustenta, a escravidão também fazia parte da nossa cultura há alguns séculos atrás, mas a cultura é mutável, ainda bem.

Futepoca – Na sua opinião, os clubes brasileiros, a CBF e as federações não tratam da forma devida o combate à homofobia no futebol? E a mídia esportiva?
Milena – Não. Acreditamos que não há nenhum empenho da CBF em combater a homofobia e o machismo no futebol. Em outros lugares do mundo existem iniciativas super interessantes, como a campanha da Holanda, mas no Brasil não há nada parecido. A mídia esportiva parece seguir a mesma linha da CBF, apesar de que ficamos felizes de ver tantas matérias sendo feitas sobre a Galo Queer e as demais torcidas anti-homofobia e antissexismo, parece que as coisas estão começando a mudar.

3 comentários:

Anselmo disse...

piadas podem até fazer parte da cultura, mas também podem ser um espaço de exercício da crueldade de formas terríveis.

de machismo, de sexismo, racismo, fascismo...

acho engraçado o discurso de que "as piadas com bambis só vão parar quando a torcida 'assumir' (sic) o apelido como mascote, que nem aconteceu com o Porco e o Palmeiras". Acho engraçado porque, contra a lama e a sujeira do chiqueiro, nem dá pra dizer que exista "preconceito"...

é bem bacana levantar essas bolas pela torcida, pelos jogadores, por todo lado...

Unknown disse...

É isso aí, Anselmo. Bem observado esse teu comentário sobre "assumir" o "bambi". Milena Franco fala sobre isso:

"Expressões como 'bambi' e 'Maria' são sim sintomas de uma cultura homofóbica. Se você não é homofóbico nem machista, você simplesmente não usa tais termos para ofender alguém. A rivalidade pode se expressar de várias outras formas que não alimentem uma cultura opressiva. O argumento de que 'brincadeiras' desse tipo fazem parte da cultura do futebol não se sustenta, a escravidão também fazia parte da nossa cultura há alguns séculos atrás, mas a cultura é mutável, ainda bem."

Meus parabéns ao Futepoca, especialmente Glauco e Nicolau, pelo "especial homofobia". Ainda mais porque, como as entrevistas foram feitas em abril e maio, mostram que o blog antecipou a (necessária) discussão e não pegou carona nesse episódio do Sheik, que revelou muita hipocrisia e oportunismo de torcedores que normalmente corroboram a homofobia no futebol diariamente.

Parabéns, abraços.

Unknown disse...

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