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quinta-feira, julho 18, 2013

Cavalo arreado

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Terça-feira, duas horas da tarde. Naquela sauna, dois oficiais conspiram - e transpiram. O mais velho tentando impor a "linha dura"; o outro, quase cedendo a uma "abertura ampla, geral e irrestrita". No calor dos acontecimentos, enrolados apenas em toalhas sumárias, confabulam:

- Major, a hora é agora!

- Shhhhh! Tenente, já falei que, aqui dentro, meu codinome é Bilú!

- Perdão, majo..., digo, Bilú. Mas reafirmo: as condições se apresentaram.

- Tem certeza, Tetéia?

- Tetéia? Que Tetéia?

- É o teu codinome, energúmeno!

- Ah, sim! Bem lembrado, majo..., digo, Bilú.

- Exponha suas considerações.

- Maj..., Bilú, tenho observado atentamente as manifestações nas ruas e nas redes sociais. Como o nosso serviço de inteligência já tinha detectado, eles convergem diretamente conosco: querem derrubar o governo e fechar o Congresso. Só que fui além. Identifiquei dezenas deles e, pesquisando seus perfis e publicações na internet, descobri algo ainda mais significativo. Eles nos apoiam! Querem as Forças Armadas de volta ao poder!

- Shhhhh! Cala a boca! Tenente, nunca se esqueça: aqui dentro não existem Forças Armadas! Diga apenas Farofa-fá! Compreendido?

- Às ordens, senhor!

- Também não precisa bater continência! Mas prossiga, Tetéia. O que te faz crer que a juventude quer o nosso retorno?

- Muitos jovens, de boas famílias e íntegra procedência, postam fotos de tropas desfilando e de tanques, senhor, com frases como "É preciso botar ordem na casa", "Ocuppy Brasil" ou "A hora está chegando". E muitos deles dizem claramente, em postagens ou comentários, que querem que as For..., digo, querem que Farofa-fá tome conta da situação!

- Bom, muito bom. E eu que pensava que se tratava de meros baderneiros ou agitadores comandados pela corja vermelha.

- Não, maj... Não, Bilú! São patriotas. Apoiam Farofa-fá! Estão do nosso lado.

- Bem, Tetéia, também não precisa exagerar. Duvido que, se passasse uma lista no meio de qualquer uma dessas manifestações pedindo alistamentos voluntários, a gente arrumasse mais que meia-dúzia...

- É... Com certeza. Por outro lado, isso explica exatamente o motivo de nos convocarem para fazer o que eles querem.

- E o que nós também queremos.

- Exato, maj..., Bilú! Vamos ao golp..., digo, à Nova Redentora!

- Shhhhhhhh! Diabos, Tenente! Digo, Tetéia! Aqui nesta sauna não tem Redentora nenhuma! É Pimenta Malagueta! Pimenta Malagueta!

- Às ordens, às ordens! Perdão. Sem continência. Pois bem, vamos à Pimenta Malagueta! Sem refresco! E com o apoio da juventude manifestante! O gigante acordou!

- Mas será que acordou, mesmo? Quais são as condições? Só com a juventude, não faremos nada.

- Temos tudo na mão, maj..., Bilú. A Platinada, como sempre, promete apoio total. Ainda mais depois que alguns desordeiros resolveram protestar em frente ao seu prédio e que desencavaram uma história caluniosa sobre suposta sonegação de impostos.

- Que é tudo verdade, mas não é da nossa conta. Agora, apoio da Platinada é óbvio, não diz nada. É a mesma coisa que dizer que a revista dos carcamanos nos dá cobertura. Fora a mídia, o que temos de concreto, de sólido, no nosso braço político civil?

- Ótimas notícias. Tomei a liberdade de conversar com o Imortal.

- Que Imortal?

- O Sociólogo, major. Shhhhh! Perdão, perdão. Sem continência. Falei com o Sociólogo, Bilú. É que ele acabou de entrar pra Academia.

- Ah, sei. Mas ele também sempre foi nosso. O pai dele era nosso.

- Sim, sim. Só que eu perguntei se eles ainda têm esperança de vencer nas eleições do ano que vem ou estariam dispostos a compor com a gente para governarmos juntos.

- Governarmos juntos? Explique-se, Tetéia.

- É simples. O Imortal aprovou (e confidenciou que eles não vencem nas urnas nem que o tomate tussa!). É o seguinte: a gente derruba o governo mas dá a posse ao Vice. E aí implanta o parlamentarismo. O primeiro-ministro seria indicado pelo Imortal. No caso, seria o Mineiro. Que é perfeito para o posto de primeiro-ministro. Seu finado avô, inclusive, já tinha nos prestado esse serviço.

- Hummm. Engenhoso. Mas como assim "posse ao Vice"? Você está louco, Tetéia? O partido do Vice já manda no Congresso e, da última vez que mandou no governo, fez três planos econômicos desastrosos e chegou a 60% de inflação ao mês - sem contar o golp..., digo, a artimanha do mandato de cinco anos.

- É. E o homem mandava no Senado até outro dia. Só que o senhor não está atentando para um detalhe: nós vamos fechar o Congresso. E depois vamos extinguir as eleições diretas. Logo, quando acabar o mandato, o Vice, por nós investido de presidente, sairá de cena. E, a partir daí, só tomará o cargo quem nós quisermos. Já a função de primeiro-ministro, como combinado na conversa que tive, deixaremos para o partido do Imortal. Como o senhor disse, "nosso braço político civil".

- E os nossos superiores? Já sabem disso?

- Claro, senhor! Não leu os jornais? Eles andam escutando todo mundo, no mundo todo. Não tem telefone, computador ou informação de qualquer gênero que esteja a salvo. O Grande Irmão sabe de tudo. E, como sempre, também está do nosso lado. Com informações, propaganda, dinheiro ou até armamentos, se preciso for.

- Ah, não será necessário. Golp..., digo, revolução, nesse país, sempre foi pacífica. Reeditaremos a Pimenta Malagueta sem precisar dar um tiro sequer.

- E a Platinada e a revista dos carcamanos estarão a postos para justificá-la como a mais legítima forma de redemocratização. Como em Honduras. Ou no Paraguai.

- Tem razão. Excelente. Tetéia, gostei dessa sua sugestão sobre parlamentarismo. Porque primeiro-ministro não manda nada. Mas, ao mesmo tempo, sacia a vaidade do Imortal e do partido dele. Quem vai mandar, mais uma vez, somos nós! As For..., digo, Farofa-fá! Pode ser interessante, durante um certo período. Dá um ar de modernidade, de renovação, de primeiro mundo. O povo vai gostar. É capaz, até, de comemorar. E, com o tempo, mudaremos gradualmente essa configuração. Editaremos atos complementares, extinguiremos os partidos, concentraremos os mecanismos decisórios. Tenho planos, muitos planos. Está decidido! Vamos agir!

- Muito bem, maj.., Bilú!  Vamos à Pimenta Malagueta! Com Farofa-fá no comando! Vou iniciar as articulações com os Anonymous no Facebook. A Platinada e o Imortal cuidarão do resto. O cavalo está arreado e, mais uma vez, não vamos deixar ele passar.

- Ah, Tetéia, não me fale em cavalo...

- Por que, senhor? Também prefere o cheiro dele ao cheiro do povo?

- Prefiro a massa cheirosa. Mas não é bem isso.

- O que é, então? Que olhar é esse, senhor?

- É que cavalo me lembra montar...

- Bilú, Bilú...

- Ah, Tetéia...

E assim, com a juventude nas ruas e nas redes sociais, a Platinada brilhando e o Imortal operando, Farofa-fá já trama uma nova Pimenta Malagueta.

No do povo, é refresco.

'Anônimos'? 'Apartidários'? Os mascarados sabem muito bem o que querem...

Seis derrotas seguidas. E contando.

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Douglas: 'inexistente' seria elogio
O script foi idêntico ao do jogo de ida no Morumbi: o Corinthians não fez qualquer esforço e, como se treinasse uma jogada ensaiada, marcou um golzinho no primeiro tempo e outro no segundo. De forma burocrática, quase que bocejando. A única diferença no Pacaembu foi que, dessa vez, o goleiro Cássio não teve dó e resolveu defender o chute de Aloísio (praticamente a única finalização do São Paulo em 90 minutos). Quando o juiz apitou o fim do jogo, os corintianos pareciam até meio sem jeito de comemorar o título da Recopa. Parecia estranho levantar um troféu após dois "treinos" contra aquilo que se assemelhava a um time de várzea muito fraco. Assim como na primeira partida, se o Corinthians tivesse feito 15 ou 20 minutos de "abafa", teria goleado por cinco ou seis gols. Ou mais. E o fato de o time do Parque São Jorge ter se dado o luxo de poupar o adversário nos dois jogos configura humilhação ainda maior para o outrora autoproclamado "soberano" time tricolor. O Corinthians disputou essas partidas como uma equipe obrigada a cumprir as duas últimas rodadas de um campeonato por pontos corridos depois de já ter comemorado o título. Foi como se pudesse levantar o troféu com dois empates mas o rival era tão ruim que os gols saíram naturalmente, repito, sem esforço. No mais, parabéns ao Tite. Ele merece (muito).

Juan: o pior de todos os tempos
Quanto ao São Paulo, após seis derrotas seguidas e nove jogos sem vencer, até o mais otimista dos otimistas admite que a perspectiva a curto e médio prazo é a pior possível. No sábado, enfrenta o embalado Cruzeiro, quarto colocado na tabela do Brasileirão, que goleou o Náutico na última rodada. Depois, os comandados por Paulo Autuori enfrentam o... Corinthians - e novamente no Pacaembu. Ficou com dó? Calma, tem mais. Logo após essas duas pedreiras (com previsível possibilidade de derrotas), o time embarca para Munique, na Alemanha, para disputar a Copa Audi, torneio amistoso. E sabe quem é o primeiro - e, com certeza, único - adversário? O Bayern. Atual campeão europeu. Treinado por Pep Guardiola. Sim, o São Paulo, que perdeu bisonhamente para Goiás, Bahia e Vitória e só assistiu Santos e Corinthians derrotá-lo tranquilamente irá enfrentar o Bayern de Schweinsteiger com Lúcio, Tolói, Denilson, Ganso, Juan e Douglas. O que só confirma o alerta que fiz logo após o show de bola sofrido na goleada por 4 a 1 para o Atlético-MG, na eliminação da Libertadores: "A derrota de ontem não será o último vexame de 2013. Já que o clube é o da fé, vamos rezar muito". Não sei se o Bayern terá a mesma cordialidade do Corinthians. A iminência de um vexame épico é mais do que plausível.

Ps.: Segundo o blog de Paulo Vinicius Coelho, o São Paulo não perdia seis vezes seguidas desde 1936, primeira temporada após sua refundação. Naquele tempo, dois anos antes da fusão com o respeitado Estudantes, da Mooca, o Tricolor era um catado de jogadores medíocres, sem campo para treinar ou mandar jogos e nem local para se concentrar - o que às vezes só ocorria, por misericórdia, na torre da Igreja da Consolação, pois o padre era sãopaulino. Era um verdadeiro saco de pancadas, considerado inferior à Portuguesa e anos-luz atrás de Corinthians, Palestra Itália e Santos (terminou o Paulistão de 36 em oitavo e o de 37 em sétimo). Só viraria "gente grande" na década seguinte, após a chegada de Leônidas da Silva e a conquista de cinco títulos paulistas. Mas hoje, 77 anos depois, o São Paulo revive e regride à fase quixotesca de seu início. Parabéns, Juvenal Juvêncio. Você conseguiu.



(Fotos: Rubens Chiri/ SPFC)

quarta-feira, julho 17, 2013

Cachorradas nos batalhões

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Pichação 'Dilma sapata' em estrutura metálica da Praça do Patriarca, em São Paulo: feita no mesmo protesto em que gritavam contra Marco Feliciano e o projeto da 'cura gay'

"Há, em qualquer brasileiro, uma alma de cachorro de batalhão. Passa o batalhão e o cachorro vai atrás. Do mesmo modo, o brasileiro adere a qualquer passeata. Aí está um traço do caráter nacional." - Nelson Rodrigues
Sim, as manifestações de rua são livres e justas. Estamos num regime democrático. Mas é claro que, se o Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo do finado escritor Sérgio Porto) ainda existisse, teria reunido farto material para mais duas ou três edições do "Febeapá - Festival de Besteiras que Assola o País". Abaixo, relato cinco fatos presenciados por mim que justificam a "alma de cachorro de batalhão" descrita por Nelson Rodrigues - ou que simplesmente ilustram a expressão "vergonha alheia":

1 - Em manifestação tipicamente "contra tudo e contra todos", no dia 1º de julho, um grupo de mais ou menos 100 jovens e adolescentes marchou do Largo da Batata até a Assembleia Legislativa de São Paulo. E exibiu orgulhosamente, para os deputados ESTADUAIS, uma faixa de uns 10 metros de comprimento com os seguintes dizeres: "FORA RENAN";

Faixa protestando contra Renan Calheiros: é possível até que os deputados estaduais se sensibilizem com a causa, mas talvez fosse mais produtivo se eles atuassem no Congresso Nacional...


2 - No mesmo protesto, lideranças de dois grupos formados em redes sociais - um era "Basta não-sei-o-quê" e outro, "Corrupção não-sei-das-quantas" - brigavam no megafone pelo comando dos manifestantes. Uns queriam que o grupo marchasse até a Avenida Paulista, outros, para a 23 de maio. Nisso, os que seguravam a faixa "Fora Renan" começaram a gritar: "23 NÃO VOU! 23 NÃO TEM METRÔ!";

3 - Passeata dos médicos, dia 16 de julho, reuniu diversos profissionais brandindo no ar, como se fossem cartazes, CAPAS DO JORNAL O ESTADO DE S.PAULO...

4 - Um amigo me conta que, no Rio de Janeiro, um grupo queria marcar uma manifestação na orla de Copacabana. E a principal discussão, entre os "organizadores", era sobre o ponto de encontro: qual posto seria melhor para, após o protesto, PEGAR UMA PRAIA.

5 - Numa postagem em rede social, alguém comenta orgulhosamente que estas são "as maiores manifestações de rua do Brasil em todos os tempos". Outra pessoa discorda e observa que talvez não tenham sido maiores que o comício das Diretas na Praça da Sé, em 1984, ou a Passeata dos 100 mil, no Rio, em 1968. O que deu margem para réplicas acaloradas e raivosas, dizendo, por exemplo, que o movimento Diretas Já não existiu (!) - "Foi invenção da mídia!" - ou que, melhor ainda, "MANIFESTAÇÕES IGUAIS A ESTAS SÓ EXISTIRAM NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL". Este comentário teve dezenas de pessoas curtindo/apoiando...


Propaganda de um filme pega carona nos 'Anonymous' que proliferaram pelos protestos Brasil afora - e o slogan 'o gigante acordou' remetia a uma campanha publicitária de uísque


segunda-feira, julho 15, 2013

Ameaça de rebaixamento em 5, 4, 3, 2...

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Autuori: pior que o time do Vasco, só o São Paulo
Paulo Autuori pulou da panela pra cair no fogo. Se o treinador considerou uma real possibilidade de rebaixamento para sair do Vasco, agora já deve ter percebido que a situação não é menos crítica no São Paulo. Com um jogo a mais em relação aos adversários (adiantou o confronto com o Bahia para poder viajar e disputar a Copa Suruga, no fim do mês), o Tricolor do Morumbi tem míseros 33,3% de aproveitamento, com apenas 8 pontos em 24 disputados, e já contempla a zona de rebaixamento como campo de batalha nos próximos meses. Afinal, ainda nem enfrentou Coritiba, Botafogo, Cruzeiro e Internacional, quatro dos cinco melhores times do campeonato até aqui. A derrota para o Vitória por 3 a 2, em Salvador, foi a terceira seguida no torneio - e a quinta em sequência se considerarmos o amistoso com o Flamengo e a primeira partida da decisão da Recopa contra o Corinthians. Queda livre em um abismo que nem chegou ao meio...

A realidade é assustadora. Tirando Rogério Ceni, Jadson e Osvaldo, nenhum outro atleta tem condições de ser titular do São Paulo. Ganso e Luís Fabiano só estão "jogando" com o nome. Aloísio, Rodrigo Caio e Denílson são perfeitos como reservas, para completar elenco - bem como Roni, Caramelo, Silvinho, Ademilson e Lucas Evangelista. Todos os outros poderiam rescindir contrato JÁ, IMEDIATAMENTE (ou melhor, nunca deveriam ter sido contratados): Lúcio, Edson Silva, Rafael Tolói, Maycon, Fabrício, Juan, Douglas, Lucas Farias, João Schmidt, Alan. Sobre o contundido Negueba, que nunca jogou, e o recém-contratado Clemente Rodríguez, que entrou em uma só partida, não dá pra opinar. E Wellington e Rhodolfo parece que já estão vendidos, graças a Deus! Ou seja: Paulo Autuori tem oito posições para preencher no time titular. OITO! O São Paulo vai de mal a pior e o técnico não tem zagueiros, nem volantes, nem laterais. Quando eu digo "não tem" significa NÃO TEM. Ninguém. Nenhuma opção. Nenhuma saída.

Começo a compreender o que os palmeirenses sentiam no Brasileirão 2012: DESESPERO.


Merval Pereira, o trabalhador, as manifestações e o que isso tem a ver com a democratização da comunicação

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Quem cantou a bola foi o Azenha nesse post do Viomundo. De fato, a conversa entre o “imortal” Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg é daquelas memoráveis pelo que nem dá pra chamar de “atos falhos”, já que a opinião do membro da ABL já foi emitida, de outras formas, em ocasiões diversas.
O áudio está aqui, mas selecionamos os “melhores momentos”:

Sardenberg – As centrais sindicais tentaram pegar uma carona nessa onda de manifestações mas não se deram muito bem não, né?
Meval – Não, não, ficou muito claro que a capacidade de mobilização delas é menor do que a capacidade de mobilização das redes sociais. E também a adesão popular foi nula, praticamente. Porque também as reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora, né? Jornada de 40 horas, fim do fator previdenciário, esse tipo de coisa que só mexe com quem está com esse problema, né?


Bom, primeiro que dizer que as centrais “quiseram pegar carona” dá a sensação de que o sindicatos não fazem mobilizações. Talvez porque a falta de cobertura da mídia tradicional dê uma impressão errada. As centrais fizeram, por exemplo, uma marcha no mês de março que reuniu 50 mil pessoas, ou 25 mil, de acordo com a PM, em Brasília. 

Para efeito de comparação, a mais vistosa manifestação em Brasília durante o mês de junho teve um público calculado de 30 mil pessoas, bem próximo ao da Marcha, que não depende de “onda” alguma, como sugere o comentarista da CBN. Mas talvez ele não tenha sabido da existência do evento. Busque no Google as referências a respeito na velha mídia, talvez não ache nada nas primeiras páginas. Mas você vai encontrar, fácil, fácil, cobertura de protestos “contra a corrupção” ou similares que reuniram 50, 100, 200 pessoas no máximo.

Mas o “melhor” momento é quando Merval fala que as reivindicações eram “coisas muito específicas da classe trabalhadora”. Ou seja, como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é “povo”, suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade. Claro, o fator previdenciário não interfere em nada na rotina de quem ainda vai ingressar no mercado de trabalho, se isso não for explicado para ele. E os veículos tradicionais certamente não vão fazer questão de debater e explicar isso para a população. O mesmo vale para a jornada de 40 horas e outros pontos que precisam de debate e pressão popular (isso inclui trabalhadores, Merval) para fazerem parte da pauta do Congresso.

Sardenberg – Agora, por outro lado, quando a gente tinha feito aqui entrevista com sociólogo... O Renato Meirelles, do Datapopular, por exemplo, chamava a atenção que nas manifestações de junho você via classe média, né? Ele disse que era preponderantemente manifestações de classe média. Ontem não, ontem já tinha trabalhador, tinha mais negros, cara aí de trabalhador e tal.
Merval – O balanço é ruim pro governo, né, porque as reivindicações dos trabalhadores são em cima do governo, as reclamações são contra o governo, e as outras da classe média também foram contra o governo. Tem um problema sério que assim como rejeitaram os partidos políticos, também as centrais foram rejeitadas, a UNE, o MST. Quer dizer, nenhum tipo de organização formal está conseguindo capitalizar, cooptar, organizar a insatisfação na sociedade. Isso é que é preocupante, porque você tem que ter canais organizados para que essas inquietações sejam solucionadas dentro da normalidade, dentro da ordem pública e das instituições que existem.

Significativa a conclusão de que o balanço é ruim pro governo, porque “as reivindicações dos trabalhadores são em cima do governo, as reclamações são contra o governo, e as outras da classe média também foram contra o governo”. É evidente que o governo (federal) é alvo, mas não só ele. Antes que se esqueça disso na próxima esquina, o estopim dos protestos foi a questão do aumento da tarifa em inúmeras cidades e o que levou muito mais gente à rua em um segundo momento foi a indignação contra a violência policial em muitos locais. Ou seja, estamos falando de questões da alçada de prefeituras e governos estaduais.

Quanto às questões da pauta das centrais, a maior parte depende sim do empenho do governo, que se omite em boa parte desses pontos. Mas é o Congresso o campo principal dessas batalhas. O mesmo Congresso que, quando finge ouvir a voz das ruas, na verdade reage em relação à pressão da narrativa imposta pela mídia oligopolizada. Narrativa esta que é representada por Merval, praticamente aquele tradutor da voz dos donos que chega e diz “olha, se você não entendeu o que nossa linha editorial por meio do nosso noticiário quis dizer, eu explico”.

Aí sim o governo tem uma responsabilidade brutal. É a concentração midiática, questão praticamente intocada durante anos do governo Lula e também no governo Dilma, que permite que um poder que não se vê na maior parte dos países do mundo conte a História sem ouvir, por exemplo, os trabalhadores. Essa é, ou deveria ser, a pauta principal, a luta pela democratização da comunicação (que não tem a ver com censura, como muitos querem fazer crer).

E, talvez, essa luta já comece também a ganhar as ruas. Afinal, ao contrário do que diz o comentarista, não foram as centrais, o MST e UNE “rejeitados” nas manifestações, mas sim a Globo, alvo de protestos dos mais diversos, tanto meio às grandes concentrações de junho como agora, em eventos voltados especificamente para a democratização da comunicação. Uma batalha que certamente não será televisionada pelos canais de sempre.

domingo, julho 14, 2013

Sem meio nem estabilidade, Corinthians perde dos reservas do Galo

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Hoje não deu pro Pato, nem aqui, nem
acolá (Eduardo Viana/LancePress)
A enorme e variada lista de contusões no meio-campo cobrou seu preço neste domingo, quando o Corinthians perdeu para os reservas do Atlético MG em pleno Pacaembu. A completa falta de toque de bola no que deveria ser o setor pensante do time é sem dúvida a causa técnica para a derrota. Mas não é desculpa para um resultado tão vexaminoso.

Não que o time enviado a campo pelos mineiros seja tão ruim assim. Tinha, Réver, o goleiro Vitor, que fez umas três belíssimas defesas, Guilherme, autor do salvador gol de quarta-feira, por exemplo. E Bernard, que deu hoje o passe para Rosinei marcar o gol da vitória do Galo, marcando mais um ponto para o espírito dos ex-jogadores contra seus times passados. O gol contou ainda com uma marcação frouxa de Edenílson sobre o selecionável atleticano e uma cochilada imperdoável de Paulo André na pequena área.

Sem Douglas, Danilo, Renato Augusto e Emerson, A linha de três no meio campo foi formada por Ibson, Pato e Romarinho, Guerreiro na centravância. Em linhas gerais, o Galo se defendeu e explorou contra-ataques e o Corinthians tentou, tentou e tentou marcar o seu.

As melhores chances estiveram nos pés de Romarinho, que tem uma deficiência crônica no arremate. Pato, que destruiu contra o Bahia, não encaixou dois bons jogos em sequência, perdeu duas chances e foi homenageado às avessas pela torcida.

Sequência, aliás, parece ser algo impensável para o Corinthians neste ano da graça de 2013. Novos jogadores, contusões a granel e Tite que se vire. Ainda é cedo, o Brasileirão é longo. Mas sem estabilidade, não se disputa campeonato de pontos corridos.