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sexta-feira, novembro 22, 2013

A interminável lista dos 'Intermináveis'

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Em 2011, fuçando pela inFernet, listei num post a situação de seis jogadores ex-são paulinos que, naquela época, estavam sem clube mas recusavam-se a pendurar as chuteiras - França, Belletti, Mineiro, Alex Dias, Fernandão e Ilan. Outro dia, sem ter o que fazer, resolvi checar o que aconteceu com eles e descobri que só o último, Ilan, ainda joga (no Bastia, da França). Porém, decidi ir além com a brincadeira e, ao ampliar o número de pesquisados, me surpreendi com o destino de muitos outros que eu também já julgava aposentados. Vamos ver por onde andam dez "intermináveis":

Dodô - Ricardo Lucas Figueredo Monte Raso, 39 anos, revelado pelo Nacional-SP, passou por Fluminense e Paraná antes de despontar no São Paulo, em 1997, quando anotou 55 gols na temporada. Ao todo, em quatro temporadas vestindo a camisa do São Paulo, marcou 94 gols. Depois, perambulou por outros 13 clubes, incluindo Santos e Palmeiras, até aportar, neste ano, no Clube Atlético Barra da Tijuca (foto), para disputar a Série B do Campeonato Carioca.

Aloísio Chulapa - O folclórico Aloísio José da Silva, atualmente com 38 anos, que começou no CRB e depois chegou ao Flamengo, destacou-se pelo Goiás e, posteriormente, no Atlético Paranaense e no São Paulo (onde marcou apenas 23 gols mas conquistou o Mundial de Clubes e o tricampeonato brasileiro). Em fim de carreira, voltou para sua terra e está jogando pela Associação Atlética Santa Rita (foto), da Segunda Divisão do Campeonato Alagoano. Seu último clube de destaque foi o Vasco da Gama, em 2009.

Cicinho - Depois de um retorno decepcionante ao São Paulo, em 2010, o lateral-direito Cícero João de Cezare, o Cicinho, 33 anos, passou pelo espanhol Villareal e pelo pernambucano Sport antes de ser contratado pelo Sivasspor, da Turquia (foto), a pedido do ex-lateral esquerdo e hoje treinador Roberto Carlos. A melhor temporada de Cicinho foi a de 2005, quando ganhou o Paulistão, a Libertadores e o Mundial e chegou à seleção. Fez 21 gols pelo São Paulo.

Fabiano Costa - Genro de Vanderlei Luxemburgo, Fabiano Pereira da Costa, 35 anos, assinou contrato este ano com o XV de Piracicaba (foto). Revelado nas categorias de base do São Paulo, fez 20 gols como profissional pelo clube e ganhou, como titular, os títulos estaduais de 1998 e 2000, além do Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte. Depois de jogar pelo espanhol Albacete, foi para o México e, de lá, retornou ao Brasil. O último grande clube foi o Atlético-MG, em 2010.

Fabão - Em apenas três temporadas, José Fábio Alves Azevedo  tornou-se o quarto maior zagueiro-artilheiro do São Paulo, com 15 gols, e conquistou um Paulistão, um Brasileiro, uma Libertadores e um Mundial. Antes disso, havia jogado por Bahia, Flamengo, Betis, Córdoba (ambos na Espanha) e Goiás. Seu último clube de destaque foi o Santos, em 2009. Aos 37 anos, Fabão ainda defende uns cobres com a camisa do Sobradinho (foto), no Campeonato Brasiliense.

Leandro "Guerreiro" - Companheiro de Aloísio Chulapa e Fabão na conquista do Brasileirão de 2006 pelo São Paulo (seria bicampeão no ano seguinte), Leandro Lessa Azevedo, 33 anos, voltou para sua cidade natal e hoje defende o Botafogo de Ribeirão Preto (foto) no Campeonato Brasileiro da Série D. Teve boa fase pelo Corinthians, entre 2001 e 2003, onde conquistou o Campeonato Paulista, o Rio-São Paulo e a Copa do Brasil. Pelo São Paulo, marcou 14 gols.

Rico - Leandson Dias da Silva, o Rico, tem apenas 32 anos - mas já vão longe os dias em que vestiu a camisa sãopaulina, entre 2002 e 2004, marcando 7 gols (porém, só se destacou, curiosamente, quando esteve emprestado à Portuguesa Santista, no Paulistão de 2003). Ao cair para a Série B do Brasileirão com o Grêmio, em 2004, virou mais um andarilho do futebol, chegando a jogar até no Marrocos. Hoje, está no Alecrim-RN (foto), que também disputa a Série D do Campeonato Brasileiro.

Warley - Hoje com 35 anos, Warley Silva Santos, o Warley "Brasília", foi revelado pelo Atlético Paranaense entre 1997 e 1998, chegando ao São Paulo no ano seguinte. Havia a expectativa de tornar-se grande artilheiro, mas, em um ano, anotou só 6 gols, o clube não ganhou nada e ele foi parar na Udinese, da Itália. Depois de jogar pelo Palmeiras e voltar ao Atlético Paranaense, entre 2005 e 2006, enfrentou a decadência. Joga atualmente pelo Botafogo da Paraíba (foto).

Francisco Alex - Depois de fazer um bom Paulistão pela Ferroviária de Araraquara, em 2006, Francisco Alex Souza da Silva aportou no mesmo ano no Morumbi, mas foi pouco aproveitado pelo técnico Muricy Ramalho. Ainda assim, estava no elenco campeão brasileiro daquele ano e até anotou um gol na competição. Marcou outros 4 gols em uma excursão à Índia, no início de 2007. Hoje, aos 30 anos, está no Atibaia (foto), da Segunda Divisão (quarta, na prática) paulista.

Fabiano - Assim como Warley, surgiu no Atlético-PR. Se destacou ao vencer o Brasileirão de 2001. Promissor lateral-esquerdo, também jogou só uma temporada pelo São Paulo, em 2003, marcando seu único gol pelo clube na decisão (perdida) do Paulistão, contra o Corinthians. Daí, foi para o Peruggia e o Fenerbahçe, passou pelo Palmeiras, voltou à Itália, jogou na Espanha e, em 2010, retornou para jogar no Guarani de Campinas. Está no Central de Caruaru (foto) e tem 34 anos.

quinta-feira, novembro 21, 2013

'Boi da Cara Preta' dá três chifradas no 'Boi Bandido' e, sob muita chuva, a vaca vai mais cedo para o brejo

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Ganso comemora seu gol (Foto: Gazeta Press)
Quando Paulo Henrique Ganso recebeu passe do "Boi Bandido" Aloísio, fintou o volante pontepretano Baraka e tocou no canto do goleiro Roberto para abrir o placar para o São Paulo, ontem, minha filha Liz, de 11 anos, que assistia ao jogo comigo, improvisou uma paródia da tradicional cantiga de ninar: "Boi, boi, boi/ Boi da cara preta/ São Paulo vai ganhar/ 3 a 1 pra Ponte Preta...". Na hora, Liz percebeu seu engano no fim da musiquinha e tentou corrigir, cantando "3 a 1 na Ponte Preta". Mau presságio. Pouco depois, o mesmo Ganso que tinha aberto o placar no Morumbi deu um passe de calcanhar no meio de campo, demonstrando uma precoce - e preocupante - soberba do time de Muricy Ramalho. E, como o próprio treinador diz, "a bola pune". Antes do gol, o São Paulo jogava pra frente; depois, passou a esperar a Ponte Preta para dar o bote no contra-ataque. Mas não conseguiu fazer isso. Então, coube à Ponte fazer.

Antônio Carlos faz contra (Foto: Gazeta Press)
Desde o início do jogo, Jorginho, o técnico adversário, gritava com insistência para o (bom) meia Rildo, um dos destaques da vitória sobre o Vélez Sarsfiield em plena Buenos Aires, atacar com mais contundência o lado direito da defesa sãopaulina. Muricy havia barrado o lateral/meia Douglas e escalado o meia mais ofensivo Lucas Evangelista em seu lugar. Assim, Paulo Miranda ficou sobrecarregado na marcação daquele lado, com o volante Denilson, em noite muito ruim, na sobra. E foi exatamente Denilson que levou um humilhante drible da vaca do lateral-esquerdo Uendel, que cruzou na pequena área e o zagueiro Antônio Carlos, na tentativa de salvar, acabou empurrando a bola pra dentro. Ali, a vaca sãopaulina começou a ir para o brejo. Na volta para o segundo tempo, Muricy tentou corrigir seu erro substituindo Lucas Evangelista por Wellington, para reforçar o lado direito. A emenda foi pior do que o soneto...

Ponte vira o jogo no rebote (Foto: Gazeta Press)
Sob muita chuva, a Ponte multiplicou a pressão que já havia imposto no fim do primeiro tempo e partiu com tudo para o ataque. Após conquistar uma sequência de escanteios, a bola sobrou livre para Fernando Bob, dentro da área, que fuzilou Rogério Ceni. O goleiro fez uma defesa fantástica, mas rebateu nos pés de Leonardo Silva, que virou o placar. Dupla falha da defesa: ninguém marcou Fernando e um defensor ficou parado na linha de fundo, dando condição legal para Leonardo fazer o gol. Completamente atordoados e sem articulação para reagir, os sãopaulinos (reforçados pelos atacantes Luís Fabiano, que entrou no lugar do volante Maicon, e Welliton, que substituiu o improdutivo Ademilson) viram o lateral Uendel entrar sozinho novamente pela "avenida" do lado direito da defesa tricolor e chutar para fazer 3 x 1, com desvio no volante Wellington - aquele que tinha entrado para "resolver" o setor. No duelo de treinadores sob forte temporal, Jorginho deu "banho" em Muricy.

Sob chuva, o terceiro gol (Foto: Gazeta Press)
Fim de papo. Satisfeita com o (excelente) resultado, que obriga o São Paulo a fazer no mínimo três gols fora de casa, no jogo da volta, a Ponte se fechou na defesa e só observou Luís Fabiano perder dois gols, um de cabeça e outro após driblar o goleiro Roberto, e Welliton desperdiçar o mais incrível, na pequena área, chutando em cima do zagueiro. A torcida do time de Campinas ecoou vários "olés" em pleno Morumbi, o que deve ter esquentado principalmente a orelha de Paulo Henrique Ganso, que quis fazer firulas no primeiro tempo, depois de abrir o placar. Foi uma partidaça da Ponte Preta e a comprovação de que em campeonato disputado em "mata-mata" um mesmo time joga de forma completamente diferente do que faz nos pontos corridos. Afinal, o time de Jorginho está praticamente rebaixado no Brasileirão e o de Muricy só escapou do rebaixamento há três rodadas. Na Sul-Americana, a Ponte é forte. E favorita.

Vitória da Ponte foi justa (Foto: Gazeta Press)
Porque, nessa competição, ela vem atuando muito melhor que os adversários ao compactar a defesa e aproveitar as brechas no contra-ataque. Coisa que o São Paulo não conseguiu fazer - tanto por incompetência do ataque quanto por seguidas falhas dos defensores. No jogo de volta, terá que partir no desespero atrás de três gols e, com isso, abrirá todo o espaço que os velozes pontepretanos Rildo, Elias, Leonardo Silva e Uendel precisam. Ou seja, se a situação já parece praticamente irreversível, tomar mais um gol da Ponte pode desmontar de vez qualquer tipo de reação. Paciência. Nós, sãopaulinos, não podemos reclamar nem lamentar nada neste fim de 2013. Digo, repito e reafirmo: o técnico Muricy Ramalho fez um milagre ao salvar o clube de um rebaixamento que, em setembro, parecia terrivelmente possível. Contra a Ponte, agora, o time tem que ir todo à frente, mesmo que perca de novo (afinal, "perdido por um, perdido por mil"). Que seja, pelo menos, um jogaço. Vamo, São Paulo!


Com seleções da Copa 2014 definidas, expectativa é pela composição dos potes do sorteio

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Uruguai quer "Maracanazo reloaded"
“Somos os reis da repescagem.” Assim o técnico do Uruguai, Óscar Tabárez, comemorava ironicamente o empate em 0 a 0 com a Jordânia, no Centenário de Montevidéu, confirmando a já aguardada última vaga entre os 32 times que vão disputar a Copa do Mundo no Brasil em 2014. A piada não foi feita à toa, aliás: é a quarta vez consecutiva que a Celeste se classifica para um Mundial desta forma.

Agora, fica a expectativa para o sorteio dos grupos da Copa, que ocorre no próximo dia 6 de dezembro. A composição dos potes com oito seleções cada sai no dia 3 do mesmo mês. Por enquanto, só está definido o pote 1, com os cabeças de chave da competição, mas muitos já especulam a formação dos outros três, já que a Fifa anunciou que os critérios serão “geográficos e desportivos”.

Com a definição dos cabeças de chave com base no ranking da entidade como no Mundial de 2010, torna-se impossível fazer como no Mundial da África do Sul, quando havia um pote com oito times do velho Continente, outro com quatro africanos e quatro sul-americanos e um com quatro asiáticos e quatro da Concacaf.

O Uol calculou três possibilidades para a formação dos potes. Uma leva em conta a questão geográfica prevalecendo sobre o ranking. Nessa hipótese, como são nove europeus, a pior ranqueada, a França, ficaria em um pote com seleções sul-americanas e africanas.


Pote 1 – Brasil, Espanha, Argentina, Alemanha, Suíça, Bélgica, Colômbia e Uruguai

Pote 2 – Holanda, Itália, Inglaterra, Rússia, Bósnia, Portugal, Grécia e Croácia

Pote 3 – Gana, Nigéria, Argélia, Costa do Marfim, Camarões, Chile, Equador e França

Pote 4 – EUA, Costa Rica, Honduras, México, Irã, Coreia do Sul, Japão e Austrália

No caso acima, Equador e Chile não poderiam cair em um grupo com cabeça de chave sul-americano e a França não poderia ser sorteada junto a um europeu, lembrando que, exceção óbvia feita ao Velho Continente, duas seleções da mesma federação não podem cair no mesmo grupo. Já em uma possibilidade na qual o ranking prevalecesse sobre a geografia, os potes ficariam assim:


Pote 1 – Brasil, Espanha, Argentina, Alemanha, Suíça, Bélgica, Colômbia e Uruguai

Pote 2 – Holanda, Itália, Inglaterra, Chile, Bósnia, Portugal, Grécia e EUA

Pote 3 – Gana, Croácia, Rússia, França, Equador, Costa do Marfim, México e Costa Rica

Pote 4 – Nigéria, Argélia, Honduras, Camarões, Irã, Coreia do Sul, Japão e Austrália


Uma terceira possibilidade é equilibrar ranking e o critério geográfico, o que poderia deixar seis europeus em um pote, junto com Chile e Equador; e os outros três do Velho Continente com as seleções africanas. A distribuição ficaria assim:


Pote 1 – Brasil, Espanha, Argentina, Alemanha, Suíça, Bélgica, Colômbia e Uruguai

Pote 2 – Holanda, Itália, Inglaterra, Bósnia, Portugal, Grécia, Equador e Chile

Pote 3 – Croácia, França, Rússia, Gana, Nigéria, Argélia, Costa do Marfim e Camarões

Pote 4 – EUA, Costa Rica, Honduras, México, Irã, Coreia do Sul, Japão e Austrália

De qualquer forma, dado que os cabeças de chave incluem seleções com pouca tradição em Copas como Colômbia, Bélgica e Suíça, o que pode pesar na hora da disputa de um Mundial, a possibilidade da formação de “grupos da morte” aumentou, podendo haver até três campeões mundiais em uma chave só. Em quaisquer das possibilidades de composição de potes acima é possível, por exemplo, que Brasil ou Argentina formem um grupo com Itália e França, podendo-se ainda completar o chaveamento com EUA ou México.

Com seleções de nível bastante parecido, pode ser que não tenhamos um grande futebol, mas a primeira fase da Copa do Brasil deve ser das mais competitivas das últimas décadas.

Coincidências 2003-2013 OU Profecias para 2023

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Que nada do que vier escrito a seguir se realize.

À luz do que o futebol brasileiro vive em 2013 em comparação com 10 primaveras atrás, em 2003, aí vão quatro profecias para 2023.

Cruzeiro será tetracampeão brasileiro
Nos pontos corridos, com uma campanha irreparável, o time azul de Minas Gerais sagrar-se-á campeão com algumas rodadas de antecedência. Em 2003 foi assim, com a estrela de Alex brilhando com a 10; em 2013 foi assim, com a 10 apagada, às costas de Julio Baptista, desembarcado na metade da competição e na reserva do time. Ainda assim a profecia se sustenta, porque Everton Ribeiro jogou uma bola fina, digna da camisa que já foi de Tostão. Será o melhor ataque, promoverá a maior goleada da competição.

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Palmeiras será tricampeão da Série B
O alviverde imponente terá caído em 2022, mas regressará, recuperará a dignidade em um rotineiro tricampeonato nacional da segundona. À exemplo de 2003 e de 2013, a profecia sugere que o evento repetir-se-á daqui uma década, para desespero dos palmeirenses. Que tristeza!

O G, na camisa do Goiás, voltará ser símbolo de "gol"
O artilheiro do campeonato pode nem ser do Goiás, mas o homem-gol mais notável da competição de 2023 vestirá a camisa verde do time do Centro-Oeste. E a letra G, estampada no escudo do Goiás, voltará a significar "gol" de um jeito peculiar. Em 2003, foi assim com Dimba, que findou como artilheiro da competição. Em 2013, Walter não é o maior fazedor de gols, mas certamente é o que mais chama atenção (em tempo: Éderson, do Atlético-PR é que figura com o maior número de tentos assinalados).

Torcida do Goiás e seus artilheiros inusitados

Bahia e Vitória farão BaVis esquecíveis
A última vez em que Bahia e Vitória (e vice-versa) se enfrentaram na primeira divisão do Brasileirão antes de 2013 havia sido em 2003. Depois disso, caiu Bahia, naquele mesmo ano, para a série B. Desceu ladeira abaixo, para a Série C, em 2005. Voltou à segundona em 2007 e à primeira, em 2010. O Vitória caiu em 2004 e em 2010. Subiu em 2007 e em 2012. Embora o tricolor bahiano esteja perigando na 16ª posição, com um a frente do Coritiba, a profecia não é clara sobre o rebaixamento -- embora seja candidata a quarta coincidência.

terça-feira, novembro 19, 2013

O milésimo gol, 44 anos depois

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Selo comemorativo do milésimo gol de Pelé
Selo comemorativo do milésimo gol de Pelé
Há 44 anos, Dona Celeste, mineira de Três Corações, fazia 46 anos. Naquele 19 de novembro, porém, não comemorou a data pessoalmente com o filho, que estava longe, no Rio de Janeiro. Dico já não era mais garoto, tinha completado 29. Aliás, nem Dico era mais. O filho de Dondinho pela primeira vez na carreira se sentia realmente nervoso. Estava prestes a fazer história de novo. Ele, autor de façanhas inúmeras, partia em direção à bola para ser novamente único. O primeiro a marcar mil gols.

Mas, antes de chegar até ali, a expectativa foi grande.
 Em outubro, Pelé tinha 989 gols. Até a partida contra a Portuguesa, válida pelo Campeonato Brasileiro, então Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Na peleja disputada no Pacaembu, o Peixe venceu por 6 a 2, com quatro gols dele. A partir daquele dia 15, a contagem regressiva começou.

No jogo seguinte, contra o Coritiba, na capital do Paraná, o Santos superou o time da casa por 3 a 1, dois do Rei. Faltavam cinco. Nenhum tento viria no empate em zero a zero contra o Fluminense, no Maracanã, que contou com a presença pouco afável do ditador Médici. Ele não marcaria também contra o América-RJ, no Parque Antárctica, igualdade em 1 a 1, gol de Edu.

Pelé voltaria a fazer o seu em um 4 a 1 contra o Flamengo, no Maracanã, mas passaria em branco na derrota pelo mesmo placar contra o Corinthians, no Pacaembu. No empate em 1 a 1 contra o São Paulo, no Morumbi, foi Rildo quem fez o tento peixeiro. E viria uma sequência de três partidas no Nordeste, contra Santa Cruz, Botafogo-PB e Bahia. As chances de o milésimo vir ali eram grandes e cada cidade e clube pensou, e ao fim preparou, sua festa à sua maneira.

O Santinha não foi páreo para o Peixe na Ilha do Retiro e perdeu por 4 a 0, dois gols de Pelé. Em João Pessoa, o Santos foi recebido com festa no aeroporto e o Rei recebeu o título de cidadão da capital paraibana. Quem conta o que aconteceu é o próprio Atleta do Século, no obrigatório Pelé: minha vida em imagens (Cosac Naify):

“Mal o jogo começou, o Santos fez dois a zero, com bastante facilidade. A partida estava realmente fácil, e quando eu já me perguntava se aquilo não era de propósito, o juiz marcou um pênalti a nosso favor. A multidão explodiu em euforia e começou a gritar 'Pelé! Pelé!'. Mas eu não era o batedor de pênaltis do time. (…) A pressão era enorme para que eu batesse. Meus companheiros de equipe disseram que, se eu não o fizesse, o público não nos deixaria sair daquele estádio!” Ele bateu e fez o 999º gol.

Tudo indicava que seria ali o local do milésimo. Mas o improvável aconteceu. O goleiro Jair Estevão caiu no gramado, contorcendo-se de dor, e foi retirado de campo. Como não havia jogador no banco para substituição, o “arqueiro reserva” do time – e também da seleção – era Pelé, que foi para debaixo das traves. Como muitos disseram à época, aquela contusão parecia bastante apropriada para que o histórico tento não saísse na pequena Paraíba. "Só que assim que o Pelé fez o gol de número 999, eu fui obrigado a me 'contundir' e o Pelé foi para o gol no meu lugar porque, premeditamente, eu entrei em campo sem goleiro reserva. O esquema foi bolado pelo Júlio Mazzei, porque ninguém do Santos queria que o milésimo gol de Pelé saísse na Paraíba e sim no Maracanã", conta Jair, no Blog do Milton Neves.

Pelé comemora o milésimo gol no Maracanã
Pelé: 1281 gols na carreira (Ed. Sextante)
Mas ainda haveria mais um jogo antes do Santos ir ao Rio de Janeiro, contra o Bahia, em Salvador. E ninguém havia “combinado” nada com Pelé, que queria se livrar da pressão o quanto antes. O Rei teve duas chances. Em uma oportunidade, a bola bateu na trave. “Na segunda, recebi a bola perto da marca do pênalti, dei uma volta, passei por um jogador e avancei para o lado direito do gol. Chutei e o goleiro não conseguiu pegar, mas, vindo não sei de onde, apareceu um zagueiro e tirou a bola na linha do gol. Em vez dos torcedores de seu time comemorarem, o estádio inteiro vaiou. Era algo surreal”, conta o Dez em Pelé: minha vida em imagens. O jogador Nildo “Birro Doido”, falecido em 2008, ficou conhecido como o homem que evitou o milésimo gol do Rei. 

Após o empate em 1 a 1 com os soteropolitanos (gol alvinegro de Jair Bala), chegava a noite da quarta-feira, no Maracanã, contra o Vasco. O zagueiro vascaíno Renê cometeu um pênalti em Pelé e, aos 33 do segundo tempo, ele cobrou. Com paradinha, como aprendera vendo Didi cobrar em treinos da seleção brasileira. Mesmo saltando no canto certo, o argentino Andrada não segurou e veio o milésimo. O jogo parou por 20 minutos, e alguns torcedores entregaram a Pelé uma camisa do Vasco com o número 1000.

O tento foi dedicado às “criancinhas”, por conta de um fato ocorrido dias antes. “Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um dinheirinho para tomar conta do carro. Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram que eu não precisava me preocupar pois só roubariam carros com placa de São Paulo. Mandei-os sair dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado sobre isso, mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já então me preocupava com a questão da educação das crianças e essa foi a primeira coisa que surgiu em minha cabeça quando marquei o gol”, diz, em Minha vida em imagens. Pelé continuaria marcando gols, chegando a 1.281 em sua carreira.

No entanto, matéria do jornal Folha de S.Paulo publicada em 1995 aponta que o milésimo teria sido marcado, de fato, na partida contra o Botafogo-PB. Isso porque a lista de seus tentos omitiria um feito pela seleção do exército, em 1959, contra o Paraguai, partida válida pelo Sul-americano. 



Sobre a contagem de seus gols feitos pelo time das Forças Armadas, vale destacar que, diferentemente de atletas que contam tentos marcados quando amadores, os anotados na lista de Pelé foram feitos quando ele já era profissional, e era praxe que as seleções das Forças Armadas à época contassem com jogadores profissionais com idade para servir. O time pelo qual jogou o Rei, por exemplo, contava com outros que já atuavam no futebol profissional como Nélson Coruja, Lorico e Parada. E são contabilizados 15 gols dele na seleção do exército, o que o deixa com uma margem mais que folgada para a contagem de mais de mil gols, ao contrário das contas de outros que não chegariam a essa marca sem artifícios como incluir jogos-treino como amistosos ou contabilizar gol de partida anulada...

A despeito da questão numérica, fica a lembrança dos versos de Drummond em “Pelé: 1.000”: “O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols, como Pelé. É difícil fazer um gol como Pelé.”

segunda-feira, novembro 18, 2013

No processo kafkiano, delação é premiada com prisão

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Jefferson em 2005 e hoje: delação levou à prisão, mas ele parece tranquilo e satisfeito

A prisão dos condenados pelo chamado "esquema do mensalão" é o desfecho de um processo kafkiano que tem a imprensa como principal condutora dos fatos - e uma "delação premiada" que, curiosamente, teve como "prêmio" a prisão. Voltemos no tempo: dois anos e cinco meses após o início do governo Lula, em maio de 2005, a revista Veja finalmente encontrava um porrete para bater com força no presidente petista, ainda que indiretamente. O alvo da matéria era um partido aliado da base do governo federal (ainda que de menor importância) mas a chamada de capa já prenunciava o chumbo grosso que viria naquele ano pré-eleitoral: "O vídeo da corrupção em Brasília". A reportagem denunciava um suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e, já a partir do título, "O homem-chave do PTB", apontava o dedo inquisidor com a chancela "corrupto" para o deputado federal Roberto Jefferson, presidente do partido. Ato contínuo, toda a imprensa partiu para cima de Jefferson. E o que ele fez? Tudo o que a mídia estava louca para que algum "delator" fizesse: desviou o dedo apontado para ele diretamente para o braço direito de Lula até então, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

No dia 6 de junho daquele ano, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o deputado petebista, concedida à então editora da coluna "Painel", Renata Lo Prete. Jefferson tirou da cartola a denúncia de que Delúbio Soares, tesoureiro do PT, pagava, a mando de Zé Dirceu, mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso Nacional, para que eles votassem junto com o bloco governista, e referiu-se ao pagamento como "mensalão", cunhando o mote que os jornais (e os oposicionistas) tanto precisavam para carimbar a testa do governo Lula e emporcalhá-lo diariamente como "corrupto" e "ladrão", com violência e virulência dignas da imprensa mais udenista e lacerdista dos anos 1950, por todos anos seguintes. Pergunta que ninguém fez: por que a denúncia-bomba foi feita como entrevista, e não em forma de reportagem? Porque o entrevistador não precisa apresentar provas ou dados que confirmem o que o acusador está falando. É só uma entrevista, quem está dizendo é Jefferson, a jornalista e o jornal não têm nada com isso - o que também não os impede de dar manchete e trombetear a denúncia (sem provas) para todo o Brasil. Foi assim que estourou a maior crise do governo Lula, baseada em acusações, ilações, suposições e teorias de conspirações, sempre chanceladas como "verdades absolutas" pela imprensa.

A forçação de barra contra o PT ficou evidente por dois motivos: 1) Jefferson nunca apresentou provas do que disse (o que colaborou para que tivesse o mandato de deputado federal cassado - afinal, "cabe ao acusador o ônus da prova") e contradisse vários pontos de suas denúncias ao depor ao Conselho de Ética da Câmara e em outras ocasiões em que foi questionado sobre o assunto; 2) As investigações caíram no que de fato existe no Brasil, caixa 2 (doações não contabilizadas) em campanhas eleitorais, lavagem desse dinheiro e seus acertos posteriores - coisa que TODOS os partidos fazem, o que a mídia escondeu (o episódio mais constrangedor foi o de Paulo Markun no programa Roda Viva, da TV Cultura) e o que não tem NADA a ver com a denúncia - nunca comprovada - de que o governo federal estivesse dando dinheiro à parlamentares em troca de votos. Bom, o resto, como se diz, "é história". Não há nem espaço para relembrar, aqui, a avalanche de episódios bombásticos do tal "mensalão" que atordoou a população naquele ano de 2005 e que alimentou manchetes diariamente até o julgamento do caso, em 2012, e a ordem de prisão para vários dos acusados agora, no presente mês. Incluindo o "delator" Roberto Jefferson, que está aguardando a Polícia Federal em sua casa. Sim, ele, o "herói" da mídia golpista.

Jefferson diz que aguarda a prisão "com serenidade". Desde o início, ele sempre pareceu satisfeito ao deixar de ser o alvo principal das denúncias de corrupção da mídia e, em troca (talvez num acordo "negociado"), topar ser a voz "em on" da delação contra o governo federal. Pode ser que, se as investigações tivessem focado o esquema nos Correios, muito mais coisa tivesse sido descoberta contra ele, contra o PTB e os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, dos quais Jefferson e seu partido também participaram. Ou seja, tudo leva a crer que o esquema nos Correios vinha de longe. Mas, numa cobertura "jornalística" (e bota aspas nisso!) que sequer se preocupou em checar e confirmar com provas a denúncia central de Jefferson sobre o pagamento de "mensalão", cobrar perguntas racionais e básicas parece tão absurdo quanto o próprio teor das toneladas de matérias sobre o caso. Nem Franz Kafka, em "O processo", chegou a tais requintes de nonsense quanto a imprensa brasileira. E agora temos milhões de pessoas comemorando a prisão dos tais "mensaleiros" como se fosse título de Copa do Mundo. Roberto Jefferson, personagem central dessa ficção, que de acusado passou a "herói nacional" por delatar a "corrupção", hoje já não tem utilidade alguma para a imprensa, nem defensores.

Foi usado e descartado, como tantos outros "inocentes úteis". Porém, nunca foi inocente. E sua "utilidade" à imprensa provocou uma das mais graves distorções jurídicas do planeta, criando um precedente - condenar sem provas - extremamente perigoso, um feitiço que, um dia, pode muito bem virar contra os feiticeiros. De caixa 2 e financiamento público de campanha ninguém fala nada. O que importa é o triunfo do ódio. Viva a imprensa nacional, baluarte da "moral", da "ética" e da "virtude"! E quem falar em controle da mídia também será "esquartejado" exemplarmente.

E até que o 'Expressinho' não fez feio...

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Depois de salvar o São Paulo do rebaixamento para a Série B, Muricy Ramalho se deu ao luxo de colocar um time reserva para enfrentar o Fluminense no Maracanã, ontem - uma situação que nenhum sãopaulino acreditaria ser possível há apenas dois meses, quando o time se debatia para sair da zona da degola. Dessa vez, quem se debate é exatamente o Fluminense, que, com o novo técnico Dorival Júnior, está conseguindo vitórias importantes na luta para permanecer na Série A. Foi o que aconteceu ontem: depois pressionar os paulistas o jogo todo, os cariocas conseguiram o gol da virada e dos fundamentais três pontos aos 43 minutos do segundo tempo, em cabeçada do zagueiro Gum após cobrança de escanteio. Pra (não) variar, falha de marcação e de posicionamento de Rafael Tolói, que prova, a cada atuação, que seu lugar é mesmo o banco de reservas (ou então, fora do clube). Registre-se: aos 27 da segunda etapa, portanto, 16 minutos antes de fazer o gol salvador, Gum, que já tinha cartão amarelo no jogo, deu um carrinho violento em Lucas Evangelista, que partia em direção ao gol do Flu. O juiz poupou o segundo cartão e, com isso, manteve o futuro "herói da partida" em campo. Sinal de que o "Expressinho" do São Paulo não fez feio, ou seja, resistiu bem ao time titular carioca e quase segurou o empate.

Da molecada que entrou jogando, o volante João Schimidt, que deu assistência (de calcanhar) para o primeiro gol do jogo, do atacante Welliton (o melhor do time de Muricy), foi o que mais se destacou. Improvisados nas laterais, o zagueiro Lucas Silva se perdeu no nervosismo e acabou substituído no intervalo pelo lateral-direito de ofício Mateus Caramelo e o meia Lucas Evangelista, pela esquerda, acabou facilmente envolvido pelos adversários. Mas isso foi uma aposta de Muricy Ramalho e o fiasco pode ser debitado na conta dele. O treinador sinalizou, porém, que não confia nos laterais reservas, nem em Caramelo e muito menos no argentino Clemente Rodríguez (ambos devem ter se tocado que não estarão no elenco em 2014). Outros que podem acionar seus empresários, em busca de clubes interessados, são o já citado zagueiro Rafael Tolói, o tosco volante Fabrício e o improdutivo atacante Osvaldo, há sete meses (!) sem marcar gol. Mesmo não sendo tão dispensável, o zagueiro Edson Silva também pode estar com os dias contados, pois o São Paulo provavelmente vai reforçar a zaga. O mesmo acontecerá com Wellington, que já teve propostas do exterior, se o clube trouxer um ou mais volantes. Enfim, Muricy prova para a diretoria, em partidas como essa, que metade do elenco não tem utilidade.

Denis, o goleiro, voltou a falhar ao bater roupa no primeiro gol do Fluminense, mas o treinador o poupou e creditou o erro à falta de ritmo de jogo. Porém, é certo que será muito difícil que o efetivem como titular, caso Rogério Ceni confirme a aposentadoria. O clube está de olho no goleiro rival de ontem, Diego Cavallieri, transação que, se for concretizada, eu considero um grande acerto. O que preocupa, desse time considerado reserva, é Jadson. Não é nem sombra do jogador que iniciou o ano "voando baixo", comandando o meio de campo, dando assistências e fazendo gols - o que o levou a disputar a Copa das Confederações pela seleção brasileira. Talvez a fé cega da diretoria e das comissões técnicas em Paulo Henrique Ganso, forçando sua escalação mesmo quando ainda não estava bem, tenha desanimado Jadson, que percebeu que não era prioridade. Curiosamente, Osvaldo, que também chegou à seleção e começou o ano dando show, "desapareceu" no mesmo período. Se o boato de que o São Paulo vai apostar na vinda do veterano Zé Roberto - que encerra seu contrato com o Grêmio em dezembro - se confirmar, acho que Jadson vai forçar saída para outro clube. O que é uma pena, pois é bom jogador, apesar da má fase atual. Mas confiro nas decisões de Muricy Ramalho. Vamo, São Paulo!