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quarta-feira, agosto 20, 2014

Efeito coLATERAL?

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Álvaro Pereira: 'ala' característico
Há muito tempo, defendo que, por ter no elenco laterais ofensivos (ou "alas") e praticamente nenhum lateral clássico, marcador e mais preso na faixa anterior ao meio do campo, o atual time do São Paulo deveria voltar ao esquema com três zagueiros. Concordo que isso nem de longe é o ideal, mas, com o que o técnico Muricy Ramalho tem à disposição, seria uma medida emergencial, no mínimo, sensata. Pois foi exatamente isso o que disseram ontem à noite, no programa "Cartão Verde" da TV Cultura, o colunista de esportes Vítor Birner e o ex-treinador Candinho. Já parece óbvio, portanto, que uma zaga formada pelos apenas medianos Antônio Carlos e Rafael Tolói (ou então pelos abaixo de medianos Paulo Miranda e Edson Silva), com eventual improvisação do agora machucado Rodrigo Caio, não "segura o rojão" quando os ofensivos Douglas (ou Luís Ricardo) e Álvaro Pereira (ou Reinaldo) se mandam para o ataque e deixam as laterais completamente expostas na defesa.

Souza posta-se na linha de frente
E mais: além de complicar o sistema defensivo, os atuais "alas" do São Paulo não colaboram em nada para a saída de bola, que cai na "ligação direta" de um chutão do goleiro ou dos zagueiros para o ataque. Isso explica muito da inoperância da tão superestimada linha de frente formada por Ganso, Kaká, Pato e Alan Kardec. Sim, porque o segundo volante, Souza, também fica postado lá na frente, esperando bola, e nem Maicon nem Denílson (opções para primeiro volante) estão conseguindo defender e carregar a bola até a frente. Com três zagueiros, dois deles poderiam liberar os "alas" da marcação para também ajudarem a municiar a linha de frente - e até a finalizarem a gol com mais frequência. E liberar o primeiro volante para marcar e a roubar bolas no campo do adversário. Buenas, o que não resta dúvida é que, de 2008, quando venceu o Brasileirão pela última vez, pra cá, o São Paulo sofre com laterais. Curiosamente, jogava com três zagueiros naquela época.

Vejamos como o clube do Morumbi "bateu cabeça" nas contratações desde então:

Richarlyson foi início do improviso
LATERAIS-ESQUERDOS - Dono da posição e campeão paulista, da Libertadores, do Mundial e do Brasileiro entre 2004 e 2006, o veterano Júnior perdeu a vaga no time titular em 2007, quando o volante Richarlyson assumiu a função. Com essa improvisação, o São Paulo venceu mais dois campeonatos nacionais. O clube chegou a contratar outro especialista, Jadílson, do Goiás. Mas, assim como Júnior, tornou-se apenas opção no banco de reservas. Em 2009, com a chegada de Júnior César (vindo do Fluminense) e de Diogo (das categorias de base), Júnior foi para o Atlético-MG e Jadílson para o Grêmio. Sinal de que as soluções buscadas para o setor começavam a falhar é que Richarlyson ainda atuaria frequentemente como lateral-esquerdo até deixar o São Paulo, em 2010. Também contribuiu para essa instabilidade a demissão de Muricy Ramalho. Depois de sua saída, o então presidente Juvenal Juvêncio passou a fazer contratações sem planejamento ou critério.

Juan foi desastre total no São Paulo
E, além de tudo isso, a "bruxa" assombraria a lateral esquerda em 2010: Júnior César rompeu o tendão e Carleto, recém-contratado, se contundiu gravemente e teve que operar o joelho. Daí, a aposta foi em Juan, que havia sido formado nas categorias de base do São Paulo e fazia boas temporadas no Flamengo, tendo conquistado o Brasileirão no ano anterior. Pior, impossível. Juan, hoje, pode ser considerado um dos piores jogadores que já atuaram pelo Tricolor. No entra-e-sai de treinadores pós-Muricy (Ricardo Gomes, Sérgio Baresi, Carpegiani, Leão, Ney Franco e Paulo Autuori), Juan fez partidas horrorosas e, depois de ser preterido pelo garoto Henrique Miranda, acabou emprestado ao Santos. Lá, até conquistou o título paulista, mas terminou o ano encostado e foi devolvido ao clube do Morumbi. Na crise em que o São Paulo mergulhou em 2013, Juan foi posto para fora do elenco e "exilado" em Cotia até conseguir uma transferência para o Vitória. 

Cortez teve proposta de R$ 20 milhões
Mas, voltando a 2011, quando Juan - infelizmente - era o lateral-esquerdo titular do São Paulo, Júnior César foi vendido justamente ao Flamengo (mais tarde, seria titular no Atlético-MG campeão da Libertadores em 2013, que eliminou o São Paulo nas oitavas-de-final com um humilhante 4 x 1). Não bastasse, Carleto, ao voltar da operação no joelho, foi emprestado seguidamente ao Olimpia do Paraguai, ao América-RN e ao Fluminense. Por isso, para 2012, diante do empréstimo de Juan para o Santos, o São Paulo comprou Cortez do Botafogo-RJ. A primeira temporada foi brilhante: tornou-se titular incontestável quando o técnico Ney Franco enfim acertou o time e conquistou a Copa Sul-Americana. No fim daquele ano, o São Paulo recebeu uma proposta de R$ 20 milhões por Cortez, do Metalist, da Ucrânia. A diretoria se arrependeria amargamente de ter recusado. Cortez "sumiu" em campo, foi emprestado ao Benfica e, depois, ao Criciúma - onde "jaz", totalmente apagado.

Clemente Rodríguez: outro fracasso
Por isso, em 2013, a solução foi apelar para Carleto, que voltou do Fluminense e começou o Brasileirão como titular. Mas o azarado lateral rompeu novamente os ligamentos do joelho e só voltaria em 2014 - para ser emprestado primeiro para a Ponte Preta e, atualmente, para o catarinense Avaí. Com isso, na má fase de 2013, que quase levou o São Paulo ao rebaixamento no Brasileirão, Juvenal Juvêncio foi buscar Clemente Rodríguez no Boca Juniors. A exemplo de Juan, outro desastre: jogou só seis partidas, foi expulso logo na primeira delas e também terminou "exilado" com em Cotia, onde recebe R$ 150 mil mensais para treinar. No desespero, o São Paulo "catou" o jovem Reinaldo, emprestado pelo Sport. Ele "fez o feijão com arroz", sem comprometer, ajudou o time a escapar da Série B e acabou sendo contratado. Hoje, com a chegada do uruguaio Alvaro Pereira, que tomou conta da posição, é opção no banco de reservas.

Ilsinho foi 'roubado' do Palmeiras
LATERAIS-DIREITOS - Depois da venda de Cicinho para o Real Madrid, em 2005, o São Paulo "roubou" o então garoto Ilsinho do Palmeiras. Com ele como titular, o time conquistou o Brasileirão em 2006. A "sombra", no banco de reservas, era o equatoriano Néicer Reasco (que jogava improvisado, pois, na seleção de seu país, atuava como lateral-esquerdo). No ano seguinte, nem um nem outro justificavam a escalação. Começou, então, a série de improvisos. Primeiro com o volante Souza, que, surpreendentemente, seria eleito o melhor lateral-direito do Brasileiro de 2007, quando o São Paulo levantou a taça novamente. No ano seguinte, outro volante, Zé Luís, também jogou na posição. Prova de que as contratações feitas para o setor, Jancarlos (que havia se destacado no Atlético-PR) e Joílson (que veio do Botafogo-RJ junto com o zagueiro Juninho), também não agradaram. Ou seja, além das improvisações, começaram as apostas mal sucedidas.

Cicinho voltou - e não convenceu
Ilsinho foi para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e Reasco voltou para seu clube de origem, a LDU de Quito. Jancarlos e Joílson se revezaram com Zé Luíz na conquista do tri brasileiro e, no ano seguinte, um foi para o Cruzeiro e outro para o Grêmio. Em 2008, mais uma aposta que não deu certo: Éder, que veio do Noroeste de Bauru e durou pouco. Por isso, em 2009, a solução foi "mezzo" caseira/ "mezzo" estrangeira: Wagner Diniz, que estava no Vasco, Adrián González, do argentino San Lorenzo, e Nelson Saavedra, do chileno Palestino. Nenhum deles emplacou. O desespero foi tanto que, para 2010, o clube foi atrás exatamente dos dois "donos" da posição entre 2004 e 2007, Cicinho e Ilsinho. Só que os dois, na Europa, já haviam migrado para o meio-de-campo. Com isso, os treinadores da época - Ricardo Gomes e Sérgio Baresi - precisaram recorrer a uma nova improvisação na lateral direita, com o volante Jean (hoje no Fluminense).

Piris levou muitos 'bailes' de Neymar
Em 2011, duas novas apostas confirmaram a falta de pontaria do presidente Juvenal Juvêncio. A pior delas foi a do paraguaio Iván Piris, que, a exemplo de Reasco no Equador, também atuava como lateral-esquerdo na seleção do seu país. Foi uma piada. Os santistas dão risadas até hoje ao recordarem os "bailes" que Neymar dava no pobre Piris, invariavelmente perdido em campo. E a segunda aposta na lateral direita conseguiu ser ainda mais sem sentido: aconselhado por Rivaldo, que já era presidente do Mogi Mirim e tinha sido contratado como jogador pelo São Paulo naquela temporada, o cartola Juvenal Juvêncio trouxe do Mallorca o "craque" Edson Ratinho. Resultado: em 2012, nem ele nem Piris estariam mais no Morumbi, sendo substituídos por Douglas, ex-Goiás, e Lucas Farias, das categorias de base. Douglas venceu a Sul Americana como titular mas, em 2013, afundou com o resto do time e foi preterido até pelo zagueiro Paulo Miranda na lateral.

Luís Ricardo: outro que não emplacou
Lucas Farias não disse ao que veio e atualmente está emprestado ao mineiro Boa Esporte Clube. Mas as besteiras de Juvenal Juvêncio não pararam por aí: antes de deixar o comando do clube, trouxe o lateral-direito Mateus Caramelo do Mogi Mirim, junto com o atacante Roni. Outro furo n'água (e desperdício de dinheiro). Caramelo jogou cinco partidas e hoje está emprestado ao Atlético-GO. Por fim, como Douglas nunca manteve um mínimo de regularidade, o São Paulo contratou Luís Ricardo, que tinha feito uma boa temporada pela Portuguesa, em 2013. Também não disse ao que veio. Porém, como, a exemplo de Douglas, está na categoria de lateral ofensivo (ou "ala"), que não consegue ajudar a defesa, poderia ser testado no esquema com três zagueiros, para ver se rende. O capítulo mais recente dessa bizarra "saga" da lateral direita sãopaulina é a inesperada contratação de Douglas pelo Barcelona. E vamos nós, de novo, apelar pro Paulo Miranda...

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