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quinta-feira, agosto 14, 2014

Três cenários após a morte de Eduardo Campos

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A trágica morte do candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB), na quarta-feira (13), em um acidente de avião, traz incertezas e um filão para os palpites. É a série "Futurologia numa hora dessas?" Menos preocupados com o luto e sem oferecer tempo sequer para que se dissipe o choque na percepção das pessoas, já é possível listar pelo menos três possibilidades.

Foto: Arquivo PSB
Campos aos pés da estátua da Padre Cícero, em Juazeiro do Norte (CE)

Direto ao ponto:

1) Marina Silva assume cabeça de chapa

Aparentemente a mais provável, é a hipótese favorita de nove em cada dez analistas políticos da velha mídia. É o cenário que mais aproximaria o cenário deste ano ao de 2010, quando houve segundo turno entre a atual presidenta, Dilma Rousseff, e o nome do PSDB (José Serra, há quatro anos, Aécio Neves atualmente).
Não é tão simples.
Campos era o articulador da chapa. Era a cola que juntava Marina e sua Rede Sustentabilidade com seu socialismo pragmático, a esquerda "amigável ao capitalismo", para usar termos da mídia internacional ao comentar o passamento do presidenciável. Isso dificulta a identificação de um nome para se unir à ex-PT e ex-PV.
Ao mesmo tempo, o PSB não tem um líder natural e nacional -- Ciro Gomes foi formar o PROS; Roberto Amaral não tem tanta projeção; Márcio França é uma figura paulista. Isso significa que é difícil achar esse nome que agregue o próprio PSB debaixo de Marina.
Ainda: se superado o desafio de fazer a mistura dar liga, Marina se torna uma ameaça significativa para Aécio Neves. O corpo fechado da acreana, que chegou a ser convidada por Campos para ir a Santos mas não foi, pode grudar como um estigma metafísico. Ao mesmo tempo, a movimentação anti-Dilma de 2010 teve características conservadoras do ponto de vista moral: esse eleitorado hoje não está com a petista, mas com Aécio.

2) Outra figura do PSB assume a cabeça de chapa

De fato, como mencionado anteriormente, o PSB não tem um líder natural e nacional. Isso dificulta o apontamento de uma figura para encabeçar a chapa, ainda mais para se sobrepor a alguém que teve 20 milhões de votos no pleito anterior.
Mas o PSB tem pouca ou nenhuma afinidade com Marina, há dez meses nas hostes da legenda. Por restrições de confiança e afinidade entre o corpo pessebista com a vice de Campos, pode haver espaço para pensar em alguma outra figura do partido para substituir o ex-governador de Pernambuco.
Em termos práticos, a medida seria equivalente a retirar-se da disputa, já que a campanha começou muito, muito antes de 6 junho (tecnicamente como pré-campanha). Um cenário assim tenderia a facilitar a resolução do pleito em primeiro turno.

3) Marina e o PSB recuam e retiram candidatura

Pouco provável, a medida cogita um cenário em que a base do governo conseguisse reabsorver Marina e PSB, pensando em 2018. Ou que o PSDB fosse capaz dessa aglutinação.
A oposição se reuniu em torno de Aécio Neves, mas representa setores mais conservadores e pró-mercado. Por mais que o PSB esteja com o PSDB em estados como São Paulo e Minas Gerais, nacionalmente esse tipo de articulação é mais difícil. Em especial na região Nordeste.
A outra alternativa, a adesão à situação, tem outros bloqueios. Sem um sucessor petista visível para Dilma -- na hipótese de reeleição e sem contar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- houve quem reclamasse que Campos deveria ter esperado sua chance em 2018, quiçá com apoio do partido da presidenta. Dificilmente, porém, o PT abriria mão da cabeça de chapa. Se isso já era pouco provável com o neto de Miguel Arraes, é ainda menos tangível com uma figura como Marina, que foi dissidente do governo Lula.
Que política tem fila, é fato. Que a fila não é "respeitada", também. Fatalidades e fatos ainda não escritos mudam (ou podem mudar) tudo.


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