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sexta-feira, março 07, 2014

Arouca, sobre as ofensas racistas: "Não quero que minha filha passe por isso no futuro"

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quinta-feira, março 06, 2014

A excursão que 'peneirou' Hernanes no São Paulo

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Hernanes (à esquerda) e Marco Antônio (direita) na embaixada brasileira na Índia
"À Índia fui em férias passear
Tornar realidade um sonho meu
Jamais eu poderia imaginar
E explicar o que me aconteceu..."

Os versos iniciais de "Férias na Índia" (sucesso radiofônico do brega/jovem guarda Nilton César, há mais de quatro décadas) caem como uma luva para fundo musical da excursão internacional que o São Paulo fez no início de 2007 - e que bifurcou a carreira de vários jovens jogadores. Alguns deles, como Marco Antônio e principalmente Hernanes e Jean Raphael, "tornaram o sonho realidade", como diz a música, e se firmaram no cenário futebolístico profissional de primeiro nível. Mas os outros participantes daquela aventura, como Carlinhos, Gustavo Cazão, Chumbinho, Francisco Alex, Caiuby, Paulo Matos, Flávio Donizete e Mazola, não sabem até hoje "explicar o que aconteceu". Muitos se perderam nos caminhos da bola, viraram "ciganos" do futebol ou praticamente sumiram, sem deixar saudade.

Na Índia: Jean Raphael, hoje no Fluminense, é o 4º agachado, a partir da esquerda
A excursão à Índia foi a forma que o São Paulo encontrou para fazer um último teste com jogadores que havia trazido para o elenco mas que não tiveram chance ou não se firmaram no time principal. Não era a primeira vez: viagem semelhante do Tricolor àquele país havia ocorrido em 1989. Mesclados com garotos da base e comandados pelo técnico Silva, o "mistão" de "renegados" sãopaulinos partiu em janeiro de 2007 para cinco amistosos num prazo de apenas 15 dias. O clube venceu todas as partidas que disputou, marcou 17 gols e não sofreu nenhum - reflexo da fragilidade do futebol indiano, sem qualquer tradição histórica no esporte. Por isso mesmo, o bom desempenho não significou que o clube fosse aproveitar todos os "turistas".


27/01 - 3 x 0 KF East Bengal - Gols: Carlinhos, Paulo Matos e Jean Raphael
31/01 - 6 x 0 Mohammedan Sporting - Gols: Hernanes (2), Francisco Alex (2), André e Pablo
04/02 - 2 x 0 Mohun Bagan - Gols: Marco Antônio e Flávio Donizete
07/02 - 3 x 0 Kerala XI - Gols: Marco Antônio, Chumbinho e Hernanes
11/02 - 3 x 0 JCT Mills - Gols: Francisco Alex (2) e Cazão

Marco Antônio: capitão do 'mistão'
Os meias Hernanes e Marco Antônio, que haviam subido para o profissional e disputado alguns jogos em 2005 (o segundo foi campeão paulista e da Libertadores), foram emprestados no ano seguinte ao Santo André. Voltando da Índia, Hernanes foi reintegrado ao São Paulo e atingiu o estrelato, sendo peça fundamental dos títulos brasileiros de 2007 e 2008, que o alçaram à seleção brasileira (tem grande chance de disputar a Copa no Brasil este ano). Saiu do clube em 2010 para o futebol italiano, onde se destacou na Lazio e chegou prestigiado, neste início de 2014, à Internazionale. Marco Antônio, ao voltar, perambulou por América-SP, Criciúma e Vitória antes de se destacar pela Portuguesa, em 2009, e chamar a atenção do Grêmio. Atualmente, está no Atlético-PR.

O terceiro que se destacaria daquele grupo seria o volante/lateral-direito Jean Raphael. Quando retornou da Índia, foi emprestado ao Marília e, depois, ao português Penafiel. Sua grande chance pelo São Paulo viria na reta final do Campeonato Brasileiro de 2008, quando participou da arrancada para o terceiro título seguido. Mais tarde, seria repassado ao Fluminense, onde venceu o Brasileirão de 2012. E naquele mesmo ano, curiosamente, chegaria à seleção brasileira quando o ex-companheiro de São Paulo Hernanes foi cortado por trauma no crânio. Porém, em 2013, os dois se reencontrariam na conquista da Copa das Confederações. Só que aqui acaba a "parte feliz" do que aconteceu após a viagem sãopaulina às terras indianas. Porque hoje quase ninguém ouve falar o nome - ou sequer se lembra - dos outros participantes daquela excursão.

Francisco e Caiuby: sonho efêmero
Se a Índia não tem tradição no futebol, pode-se dizer o mesmo do município de Diadema, no ABC paulista. O principal clube da cidade, o Água Santa, tem pouco mais de três décadas de vida e só disputou o primeiro campeonato profissional, a temível 2ª Divisão paulista (na prática, junção das extintas 4ª e 5ª Divisões), em 2013. Logo de cara, porém, conseguiu o acesso à Série A-3. Pois o Água Santa é justamente o novo time do meio-campista Francisco Alex, que pediu dispensa do Marília recentemente. No auge de sua carreira, chegou ao São Paulo junto com o atacante Caiuby, ambos destaques da Ferroviária campeã da Copa Federação Paulista de Futebol em 2006. Mas, ao contrário do atacante Borges e do meia Hugo, que foram apresentados junto com a dupla, tiveram que seguir para a "peneira" indiana assim que pisaram o Morumbi.

Apesar da expectativa, nenhum dos dois vingou: ao voltarem da excursão, os dois foram preteridos da disputa da Libertadores. Caiuby seguiu para o Guaratinguetá e o São Caetano, antes de ir para a Alemanha jogar no Wolfsburg e sumir do noticiário quando se transferiu para o Duisburg e o Ingolstadt. Já Francisco Alex, que foi o artilheiro na excursão à Índia, conseguiria até marcar um gol na última rodada do Brasileirão de 2007, pelo campeão antecipado São Paulo. Mas nunca foi levado a sério e, nos anos seguintes, foi despencando do Sport Recife para o Paulista, Rio Branco, Mogi Mirim, Itapirense, São Bernardo, São José-RS, Juventude, Botafogo-SP, Catanduvense, Atibaia, Marília e, agora, o "portentoso" Água Santa.

Flávio Donizete no Japão, em 2005
Na viagem à Índia também estavam dois zagueiros que figuraram no time titular do São Paulo entre 2005 e 2006: Flávio Donizete, que integrou o elenco campeão mundial de clubes no Japão, e Carlinhos, aproveitado em jogos da campanha do título brasileiro de 2006. Na volta da viagem internacional, ambos foram para o América de São José do Rio Preto, junto com o já citado Marco Antônio. Flávio rumou de lá para o Alagoinhas, da Bahia. A última notícia que encontrei foi de que jogou pelo Nacional, do Amazonas, em 2009. Já Carlinhos peregrinaria pelo Votoraty, Paraná Clube, São Bento, Ferroviária e Itapirense antes de acertar com a Matonense, onde disputa a Série A-3 do Paulista - competição em que poderá rever Francisco Alex.

Os outros "renegados" que viajaram à Índia foram promessas que ficaram no papel. Cria das categorias de base, o meia Chumbinho já tinha passado pelo Kashima Antlers e pelo Náutico antes da excursão. Ao voltar da viagem, integrou o "bonde" de sãopaulinos que desembarcaram no América-SP. De lá, passou por Rio Claro, Coritiba, Ponte Preta e o próprio São Paulo antes de ir fazer extensa carreira na Grécia, jogando pelo Ethnikos Piraeus, Olympiacos (onde se destacou), Panserraikos, Creta, Levadiakos e Atromitos. Hoje, está no quase impronunciável Qarabağ, do Azerbaijão. Do meu conterrâneo Gustavo Cazão, zagueiro, só consegui descobrir que esteve no Cotia em 2013. Parece também que jogou pelo Clube Atlético Taquaritinga, de nossa terra natal, em 2004, e que se envolveu em disputa judicial no Noroeste.

Paulo Matos no São Paulo
Paulo Matos, que marcou um gol pelo São Paulo em 2005 e fez outro na partida de estreia da excursão indiana, defendeu na sequência Náutico, Criciúma, Gama-DF e Paraná. No gúgou, encontrei link para um vídeo postado mês passado por uma firma de advocacia com lances do ex-atacante sãopaulino (que não sei por onde anda). Já o meio-campista Vélber, destaque do Paysandu  no início dos anos 2000 que foi contratado pelo São Paulo e teve várias chances como titular entre 2004 e 2005, também esteve naquela viagem à Índia, depois de ser emprestado para Fortaleza e Ponte Preta no ano anterior. Ao voltar, seguiu para o América-SP junto com Marco Antônio, Carlinhos, Flávio Donizete e Chumbinho. E depois "excursionou" por Remo, Itumbiara, Paysandu, América-RN, Luverdense e São Raimundo. Em 2013, estava na equipe paranaense do Cametá que foi goleada por 7 a 0 pelo Atlético-GO na Copa do Brasil. "Triste fim de Policarpo Quaresma"...

Por último, o atacante Mazola foi emprestado ao paranaense Toledo, Paulista de Jundiaí e Guarani antes de retornar ao São Paulo, em 2011, quando teve chance como titular com o técnico Paulo César Carpegiani. Pouco depois, porém, foi emprestado ao Urawa Red Diamonds (da Coreia) e, em seguida, ao Zhejiang Lücheng e Greentown Hangzhou (ambos da China). Visitou os companheiros do São Paulo em 2013. Dos outros que participaram daquela excursão à Índia (Mateus, Tiago, Pablo, Davi Oliveira, Fabrício, André e Arthur), não consegui descobrir nem pista do que o futuro os reservou a partir de então. Veja, no vídeo a seguir, cenas daquela fatídica - e inusitada - viagem feita pelo São Paulo entre janeiro e fevereiro de 2007:




domingo, março 02, 2014

Futebol é coisa de macho

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Por Laura Gaelx Montero, original em La Marea

Em 2 de maio de 1998 Justin Fashanu, primeiro jogador de futebol que reconheceu publicamente sua homossexualidade, tirava a própria vida. A falsa acusação de abuso sexual de um garoto de 17 anos e a sentença da opinião pública contra foram a última gota de um copo que havia começado a encher oito anos antes. À época, em pleno apogeu de sua carreira na Premier League, concedeu uma entrevista exclusiva que o tabloide sensacionalista The Sun deu como título: “estrela do futebol de 1 milhão de libras: SOU GAY”.

Quinze anos depois desta trágica morte, os jogadores abertamente homossexuais das primeira ligas europeias se reduzem a um: Thomas Hitzlsperger, meio campista alemão que saiu do armário em janeiro de 2014, quatro meses depois de se aposentar. Ampliando o alcance para clubes de fora da divisão principal, chega-se a três ou quatro nomes. E nenhum deles está na ativa.

As federações oficiais de países como Inglaterra, França ou Alemanha têm realizado esforços mais ou menos contundentes para atacar a homofobia nos gramados. Contudo, os resultados têm sido totalmente estéreis. Manuel Neur, goleiro do Bayern de Munique na Bundesliga e da seleção alemã desde 2009, tem sido vítima de insultos homofóbicos devido ao fato de há três anos ter incentivado companheiros seus que seriam gays a saírem do armário. Em sua bem intencionada e um tanto inocente opinião, “os torcedores se acostumariam rapidamente. O que é importante para eles é o rendimento em campo dos jogadores, não suas preferências sexuais”.

A diversidade sexual sim tem importância para muitos torcedores. Ao menos para os que integram a rede europeia de clubes LGBT Quer Football Fan Clubs (QFF), criada em 2006 na Alemanha. Além da paixão pelas cores de sua equipe, o que os une é acabar com a homofobia no futebol. Segundo reconhecia em uma entrevista o porta-voz da QFF, Dirk Brüllau, o problema, mais do que nos gramados, está nas arquibancadas dos estádios. “Se vou como torcedor gay de St. Pauli a Rostock (estádio desta equipe alemã), significa que ficarei com três dentes a menos”, assinala.
Comemorando a data de nascimento de Fashanu, o dia 19 de fevereiro foi escolhido por associações LGBT como dia contra a homofobia no esporte, ressaltando que o futebol não é a única modalidade esportiva sobre a qual pesa o véu da invisibilidade da diversidade sexual.

A Felgtb, especificamente, reclama ao governo da Espanha que a lei 19/2007 contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte incorpora explicitamente a discriminação por orientação sexual entre os males a erradicar. Além disso, se uniu à ação convocada pelas associações Arcópoli e Halegatos na Puerta del Sol de Madri no último domingo (23) para reivindicar a igualdade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais no esporte.