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sexta-feira, setembro 12, 2014

11 gols

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Ao fechar o placar para o São Paulo contra o Botafogo-RJ, no estádio Mané Garrincha, Alexandre Pato chegou a 11 gols com a camisa do clube. E igualou-se a outras figurinhas carimbadas do futebol brasileiro que também passaram pelo Morumbi. Vamos a uma breve lista com outros 11 conhecidos jogadores que também marcaram 11 gols pelo São Paulo:

André Dias - Zagueiro que integrou a leva de jogadores do Goiás contratados a partir de 2004. Chegou em 2006, virou titular e foi três vezes campeão brasileiro. Em 2010, foi vendido para a Lazio por 2,5 milhões de euros (6,5 milhões de reais). O contrato acabou em julho deste ano e, deste então, está parado. Dizem que estaria na mira do Corinthians.

Alex Dias - Depois de uma boa passagem pelo Vasco, em 2005, o atacante foi contratado pelo São Paulo no ano seguinte, já com a experiência de seus 33 anos. Não chegou a ser titular absoluto, mas marcou sua passagem com gols em clássicos. Ganhou o Brasileirão de 2006 e foi para o Fluminense logo depois. Aposentou-se em 2012, na Aparecidense (GO).

Bezerra - Contratado do Guarani de Campinas em 1976, o zagueiro teve seu melhor momento no ano seguinte, quando foi campeão brasileiro. Na decisão contra o Atlético-MG, marcou um dos gols na decisão por pênaltis. Em 1980, teve diagnosticado um problema na cabeça e ficou dois anos sem entrar em campo. Aposentou-se jogando em Barretos, em 1985.

Bobô - Considerado o "cérebro" do Bahia que conquistou o Brasileirão de 1988, o meio-campista chegou ao São Paulo no ano seguinte com status de craque. Mas, apesar de ter sido campeão paulista e vice-brasileiro em 1989, não correspondeu à fama. Foi emprestado ao Flamengo e depois vendido ao Fluminense. Voltaria ao Bahia para se aposentar, em 1997.

Casagrande - Brigado com Jorge Vieira, então técnico do Corinthians, o centroavante foi emprestado ao rival São Paulo no segundo semestre de 1984. Improvisado na meia-direita, fez excelente dupla com Careca, que seria resgatada durante as Eliminatórias para a Copa do México. Casão ainda rodaria o mundo até se aposentar, em 1996, no São Francisco (BA).

Gérson - Logo após ganhar, como titular da seleção, a Copa do México, o "Canhotinha de Ouro" foi a grande contratação do São Paulo para acabar com 13 anos de jejum de títulos. E deu certo: o habilidoso meia comandou o bicampeonato paulista de 1970 e 1971. Mas a saudade do Rio de Janeiro fez com que fosse para o Fluminense, onde se aposentou, em 1974.

Júnior - Campeão com o Palmeiras dos 100 gols em 1996 e da Copa de 2002 com o Brasil, na reserva, o lateral-esquerdo baiano foi repatriado da Europa pelo São Paulo em 2004. No ano seguinte, venceu o Paulistão, a Libertadores e o Mundial. E, entre 2006 e 2008, foi tricampeão brasileiro. Aposentou-se em 2010, depois de jogar por Atlético-MG e Goiás.

Júnior Baiano - Xará e conterrâneo do lateral acima, só que zagueiro, revelado pelo Flamengo. Apesar de violento, foi cobiçado por Telê Santana e contratado em 1994 - justo quando o São Paulo perdeu o tri da Libertadores e entrou em decadência. Jogou ainda o ano seguinte e depois foi para a Alemanha. Disputou a Copa de 1998 como titular e aposentou-se no Miami FC, em 2009.

Lugano - Também zagueiro, chegou em 2004. Assim como o lateral-esquerdo Júnior, ganhou o Paulista, a Libertadores e o Mundial em 2005, transformando-se em ídolo da torcida sãopaulina e capitão da seleção uruguaia. Jogou parte do Brasileirão de 2006, antes de ir para a Turquia. Após a Copa de 2014, ficou sem clube. Dizem que está prestes a ir para o futebol árabe.

Luizão - O centroavante revelado pelo Guarani não tinha nem 30 anos quando voltou da Europa e teve passagem pífia pelo Botafogo-RJ, em 2004. Mas, no ano seguinte, arrumou uma vaga no time do São Paulo e venceu o Paulistão e a Libertadores (competição da qual tornou-se o maior artilheiro brasileiro). Foi para o Japão e, em 2009, aposentou-se no Rio Branco (SP).

Wilson - Zagueiro de dar arrepios em qualquer torcida, foi titular do São Paulo no difícil período entre 1999 e 2002. Mesmo assim, participou das conquistas do Paulistão de 2000 e do Torneio Rio-São Paulo do ano seguinte. Sabe-se lá Deus como, marcou 11 gols com a camisa tricolor (!). Passou por Inter-RS, Corinthians-AL e Juventude. Não sei por onde anda...

quinta-feira, setembro 11, 2014

Luz no fim do turno

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Em 29 de agosto, quando o Datafolha divulgou pesquisa apontando que Marina Silva bateria Dilma Rousseff por 10 pontos em eventual 2º turno disputado por ambas (leia aqui), um conhecido comentou comigo que políticos do PT haviam confirmado em off, pra ele, que pesquisas internas do próprio partido, naquele mesmo período, davam resultado idêntico. "Então ferrou", me lembro de ter comentado. Porém, contra todas as minhas (ultra-pessimistas) expectativas, a explosão da boiada pró-Marina parece estar sofrendo, agora, um refluxo. Ontem, o Datafolha soltou nova pesquisa (leia aqui) mostrando que agora, num 2º turno disputado entre Marina e Dilma, a primeira alcançaria 47% e a segunda, 43% - o que, num levantamento com margem de erro de dois pontos para cima ou para baixo, configura empate técnico. Parece que, após o fluxo de rejeição contra a atual presidente da República ter atingido a crista da onda no mês passado, há um refluxo também significativo dos que estão considerando com mais atenção o que seria um governo de Marina Silva. E, como bem observou o camarada Nicolau em seu excelente texto postado ontem (leia aqui), se cristaliza "a chance, cada vez mais uma certeza, de Aécio Neves ser o primeiro tucano fora da disputa desde 1989, o que é ainda mais interessante". Oremos ao Senhor!

Som na caixa, manguaça! - Volume 77

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Candeia
VOCÊ, EU E A ORGIA
(Candeia e Martinho da Vila)

Beth Carvalho

Escute, benzinho
Você não pode me deixar
Este triângulo de amor
Não pode acabar
Não vamos nos separar
Somos versos da poesia
Você e eu, orgia...

Acredito nos versos
Por isso te peço mais compreensão
Me conheceste no samba, no meio de gente bamba
Pandeiro na mão
Quando estou vadiando
Neguinho reclama sua companhia
Você e eu, orgia

Se eu morrer na orgia
Tô certo, neguinho, que vou lá pro céu
Vou orgiar lá em cima com Silas
Com Ciro Monteiro, com Zinco e Noel
Quero morrer nos seus braços
Porque você é minha estrela da guia
Você e eu, orgia

Orgia é aquela folia
É aquela esticada pela madrugada
É um papo bom, discussão, violão
No fim de semana aquela feijoada
Cachaça é uma água mais benta
Do que a que o padre batiza na pia

Você e eu, orgia

Quem leva a mulher pro samba
É o cara que paga pra ver e confia
Você e eu, orgia
Somos a realidade
E somos a fantasia
Você e eu, orgia
Somos a Santa-Trindade, neguinho
E somos a trilogia
Você e eu, orgia
Somos um papo furado
E somos a filosofia
Você e eu, orgia
Que será, mas o que de nós será?
Você e eu, orgia
Separar, mas pra que separar?
Você e eu, orgia

(Do LP "Beth Carvalho - De pé no chão", RCA, 1978)


quarta-feira, setembro 10, 2014

Eleições, bancos e jogadas pelas pontas

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Ficou assim: Dilma à esquerda, Aécio à direita e
Marina no meio, piscando pro eleitorado dos dois
Incorrendo orgulhosamente no vício das metáforas futebolísticas, o cenário político no Brasil hoje está parecendo um Corinthians e Palmeiras em final de campeonato. O santista e o são-paulino podem se refestelar no sofá de casa, apreciar a partida e secar qualquer dos lados, enquanto os envolvidos diretamente roem as unhas e mal conseguem entender o que se passa em campo.

É minha sensação: se eu morasse no Uruguai, estaria tomando uma Nortenha e me preparando para apertar um legalizado baseado com ávido interesse pela política do gigante vizinho. Como analista político, temos uma eleição bem jogada, com novidades interessantes, reviravoltas, suspense até o final – e temperada duas vezes por um plebiscito popular pela reforma política que rearticula e mostra a força do campo progressista. Como brasileiro de esquerda (e eleitor de Dilma, digo logo para evitar mal-entendidos), bate um enorme medo de retrocessos.

A eleição presidencial começou se mostrando um passeio no campo para a candidatura petista. A presidenta Dilma Rousseff enfrentava níveis de aprovação perigosos, mas liderava com folga sobre dois concorrentes que não empolgavam. Aécio Neves e Eduardo Campos não conseguiam galvanizar a aparente insatisfação do eleitorado, que não é bem com o governo ou com o PT, mas um reflexo do grito “contra tudo que está aí” que esteve entre os inúmeros brados de Junho de 2013. Havia um eleitor em busca de uma saída para mudar sem retroceder no que já conquistou com os governos petistas.

A trágica morte de Campos trouxe a opção que faltava: Marina Silva, a única política de projeção nacional que teve seus índices nas pesquisas elevados após as Jornadas de Junho. Com uma linda história pessoal de superação, trajetória de esquerda e uma aura de outsider da política que construiu nos últimos anos (mesmo estando toda a vida adulta a fazer política, vai entender...), ela apareceu como uma opção para empunhar o discurso do “novo” que as ruas cobram.

A linha condutora do discurso é o fim da polarização entre PT e PSDB, carta que já foi usada por Celso Russomanno e Gabriel Chalita em São Paulo. Acena com um governo dos “bons”, sem o intermédio dos partidos políticos, corruptos por excelência no entender geral. Assim, acabaria com as negociatas ao escolher os melhores de cada partido, de cada campo social. Na prática, ela precisaria também acabar com os conflitos inerentes a qualquer sociedade: patrões e empregados decidiriam de bom grado sobre aumentos salariais, latifundiários e sem-terra estariam de acordo sobre a reforma agrária, PM e moradores das favelas entrariam em paz automaticamente, brancos e negros fechariam questão sobre as cotas nas universidades.

O discurso esconde os conflitos sociais, o que permite a Marina não se posicionar sobre eles. É despolitizante e enganoso, pois restringe esses conflitos aos partidos, como se as divisões partidárias não existissem para representar as divisões da própria sociedade – e eu nem citei o Marx aqui ainda pra falar em luta de classes. Nesse sentido, é interessante que muitos dos eleitores de esquerda de Marina sejam aqueles que criticam o PT por flexibilizar (eles talvez dissessem vender) bandeiras históricas e fazer alianças com partidos de direita em nome da governabilidade. A fala de Marina não é um recuo no processo de peemedebização dos partidos brasileiros, mas antes um passo adiante nesse caminho.

E no meio da geleia, apresenta propostas de esquerda ao lado da direita mais perigosa. Fala em aumentar gastos com segurança, com saúde, com o meio ambiente. E fala em aumentar o superávit primário (grana que o governo separa antes de qualquer outra despesa para pagar juros da dívida), em independência para o Banco Central (leia-se terceirização aos banqueiros) e medidas drásticas para conter a inflação. É uma conta que não fecha, não dá pra cortar e aumentar gastos ao mesmo tempo. 

Os marineiros chamam esse tipo de denúncia sobre as posições econômicas da candidata de “discurso do medo”, mas não estamos falando do desconhecido aqui. Essas medidas foram usadas no Brasil e em toda a América Latina durante os anos 1990, a era de ouro neoliberal, e tiveram sempre o mesmo resultado: recessão econômica, menor crescimento, desemprego, queda nos salários. Se não lembra, basta olhar a situação de países europeus como Espanha e Grécia, todos vítimas do mesmo receituário. Dá medo sim, mas não é um mero discurso, é uma análise histórica.

Pelas pontas

Bom, mas o fato é que a entrada de Marina foi o fato novo que chacoalhou a eleição. A partir daí, a possibilidade de Dilma descer a rampa do Planalto tornou-se extremamente concreta. E também se cristalizou a chance, cada vez mais uma certeza, de Aécio Neves ser o primeiro tucano fora da disputa final desde 1989, o que é ainda mais interessante.

As duas candidaturas começaram a se mexer em busca do eleitorado perdido, cada uma a seu modo. Aécio falou em “mudança segura”, chamou FHC e outros tucanos para seu programa eleitoral, garantiu Armínio Fraga, queridinho do tal “mercado”, esse deus hoje já sem tantos adoradores, no ministério da Fazenda em seu governo, declarou que há “exageros” no seguro-desemprego brasileiro. Ou seja, quis mostrar ao eleitorado conservador que a opção correta é ele, um direitista de carteirinha e tradição. Não aceite imitações.

De sua parte, Dilma também aumentou o tom, mas pela esquerda: falou em regulação econômica da mídia (saída encontrada contra as ridículas acusações de “censura”), defendeu claramente plebiscito e constituinte para a reforma política, a criminalização da homofobia. Em seu programa de TV, atacou duramente as medidas neoliberais da economia prometidas por Marina e Aécio e contrapôs claramente os interesses dos bancos e da população. Uma agenda de esquerda, buscando os votos progressistas que apoiam Marina – em especial os dos trabalhadores mais pobres.

Ou seja, a entrada de Marina empurrou a eleiçaõ para as pontas: Aécio para a direita e Dilma para a esquerda. E estamos falando aqui das propagandas eleitorais, que costumam ser muito pouco sinceras. Se olharmos as publicidades do PT e do PSDB em eleições passadas, na maior parte do tempo elas falam de platitudes por educação, saúde e sei lá mais o que. Consensos, sem dizer com muita clareza onde querem chegar. É na prática dos governos que as diferenças aparecem, que os apoios sociais de desnudam e fica claro o caráter programático e ideológico dos dois partidos, PT mais para a esquerda, PSDB mais para a direita. O discurso político – no melhor sentido da palavra, o das opções e alianças para governar – só apareceu em momentos chave, em geral no segundo turno, como na eleição de 2006, quando Lula jogou as privatizações no colo de Alckmin.

É um efeito muito positivo de uma candidatura muito perigosa, principalmente por suas opções econômicas, que podem por a perder os ganhos sociais que tivemos nos últimos 12 anos. Além dos investimentos em infraestrutura, que Dilma ampliou muito, e das políticas de desenvolvimento, como a opção por compras nacionais no pré-sal e os juros subsidiados para certos setores – que Eduardo Gianetti, um dos gurus de Marina, já disse que devem sumir, o que significaria na prática o fim do Minha Casa Minha Vida, dos financiamentos via BNDES, do Pronaf e outros programas na mesma linha.

Mas deixando de lado as críticas, há fatores muito interessantes na candidatura Marina, a maioria trazidos pelo movimento original da Rede Sustentabilidade. Incluir a questão ambiental no modelo de desenvolvimento inclusivo que queremos é importante. Mais ainda, a Rede congrega pessoas que têm uma visão interessante sobre as demandas por maior participação popular nas decisões públicas. Fortalecer essa parcela da base marinista é um avanço para o país. Sem falar na escanteada que o PSDB - logo, a direita neoliberal orgânica - está levando nessas eleições. Que a Rede (ou pelo menos essa parte central dela, que prescinde de Marina) cresça e encontre uma voz própria na economia, e que não seja tão atrelada aos bancos.

O maior bolo do mundo

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No próximo dia 30 serão completos 46 anos da morte do genial Sérgio Porto, cronista, escritor, radialista e compositor mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Esses dias, tava folheando o primeiro volume de seu clássico "Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País", publicado em 1966 (teria ainda mais dois volumes, até 1968), e me deparei com a seguinte pérola:
Era o IV Centenário do Rio e, apesar da penúria, o Governo da Guanabara ia oferecer à plebe ignara o maior bolo do mundo. Sugestão do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando soube que o bolo ia ter 5 metros de altura, 5 toneladas, 250 quilos de açúcar, 4 mil ovos e 12 litros de rum: “Bota mais rum”.

Ps.: Outra passagem magistral do livro está na crônica "A conspiração", em que Sérgio Porto resume, com fino humor carioca, como a ditadura militar tratava seus opositores:

O importante é que veio a denúncia de que havia conspiração no domicílio do Coronel. Logo uma viatura [da polícia] partiu para colocar os conspiradores a par de que o regime é de liberdade...

(A íntegra desses e de outros textos pode ser acessada clicando aqui. Evoé, Stanislaw!)


terça-feira, setembro 09, 2014

'Mercado de notícias': ao colaborar com massacre midiático de Collor, PT fortaleceu golpismo da imprensa

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Fui ver "Mercado de notícias", documentário de Jorge Furtado que debate política e jornalismo. A costura de depoimentos de vários profissionais da comunicação sobre o comportamento e interesses da mídia, tendo como pano de fundo uma peça de teatro inglesa do século 17 (que dá nome ao filme), dá margem a vários tipos de crítica, comentários, interpretações e conclusões. De minha parte, saí do cinema com duas impressões: 1) de que, por ser jornalista com duas décadas de profissão em redações e assessorias de imprensa, não ouvi nenhuma novidade; 2) e de que, por outro lado, para uma pessoa leiga (e consumidora desavisada do noticiário midiático), o documentário é didático e revelador - para que ela passe a questionar notícia como "verdade".

Alguns dos jornalistas/ repórteres/ blogueiros/ donos de veículos de imprensa entrevistados até ensaiam uma defesa daquilo que se convenciona chamar de "jornalismo", da "verdade factual" e de outras funções aparentemente "imprescindíveis" dos profissionais de comunicação para a sociedade. Porém, no final das contas, creio que o documentário cumpre a função (louvável e necessária, em minha opinião) de levar a maioria dos espectadores a concluir que o noticiário divulga apenas versões, em vez de fatos - e versões que favorecem prioritariamente os interesses econômicos/ políticos das empresas de mídia. Como observei, penso que, para nós, jornalistas (veteranos e calejados), isso costuma estar mais do que claro. Mas, para quem não é jornalista, não está, não.

Entre outras coisas, os profissionais que aparecem no documentário dizem que: não existe imparcialidade no jornalismo; que os jornais são partidos políticos; que, por isso mesmo, críticas e denúncias (mesmo que infundadas ou irrelevantes) são sistemáticas e catastróficas contra determinadas pessoas e/ou grupos, ao mesmo tempo que quase inexistem ou são feitas de forma benevolente quando referem-se a outros grupos e/ou pessoas; que as redações desenvolvem "teses" (mesmo que irreais e/ou mentirosas) e depois mandam os repórteres colher informações e declarações que as justifiquem; que a maior parte das notícias é produzida sem que se faça a necessária e profunda apuração e checagem dos fatos; e que, por fim, tudo é um grande "balcão de negócios".

De certa forma, eles estão verbalizando, para plateias de milhares de espectadores, muitas das coisas que afirmei, há três anos, para um blog da minha terra natal, Taquaritinga (SP), que, óbvio, tem um alcance quase nulo. "A imparcialidade é um mito, não existe", cravei, naquela entrevista (leia a íntegra clicando aqui). "Dono de jornal não é jornalista, é empresário, que defende seus interesses, econômicos e políticos", prossegui. "A censura, hoje, não é política nem imposta pelo governo. A censura é econômica. Só consegue dizer o que quer quem tem dinheiro para ter um meio de comunicação", acrescentei. Pois exatamente tudo isso, de maneira menos simplória que minha abordagem, lógico, é dito, com outras palavras, no documentário "Mercado de notícias".

Outros "ecos" que ouvi se referem à necessidade de pulverizar a verba estatal para os meios de comunicação (no filme, há quem concorde e quem discorde) e, mais impressionante, o papel protagonista do Partido dos Trabalhadores na configuração do tabuleiro de interesses midiáticos. Na última década, gastei muita saliva - e a paciência da companheirada - nas mesas de bar e afins sustentando que, a partir de 2003, o governo Lula deixou a imprensa "nua", no sentido de que não consegue mais disfarçar seus reais interesses. No documentário, Janio de Freitas diz que, até 1964, cada jornal defendia um partido político; que na época do golpe militar todos se uniram para apoiá-lo; e que, depois da vitória de Lula, todos se unem novamente, só que no anti-petismo (bingo!).

Outra teoria que já despejei na orelha dos camaradas foi de que, no episódio "mensalão", o PT passou a pagar o preço por ter colaborado com o movimento golpista contra o presidente Fernando Collor de Mello. Pois, no documentário, Luis Nassif afirma com todas as letras que o "jornalismo" praticado (e louvado) hoje no Brasil, baseado em uma cascata de denúncias escandalosas que via de regra não possuem provas nem sustentação lógica, virou "padrão" ou "modelo" justamente na cobertura midiática que "enlameou" a carreira política e a vida de Collor, e que precipitou sua renúncia. Renata Lo Prete acrescenta, no filme, que muitos dos que hoje reclamam da postura da imprensa eram os que antes, quando estavam na oposição, forneciam informações e materiais para alimentar escândalos.

Por essas e por outras, recomendo o documentário "Mercado de notícias". Rende muito "pano pra manga" sobre um assunto que considero de fundamental importância no mercado jornalístico: o esclarecimento do receptor (leitor, ouvinte, espectador, internauta) sobre os métodos, artimanhas e interesses do emissor (as empresas que comercializam notícias). E, como sonhar não custa nada, ainda espero que, um dia, essa necessária "educação" sobre o consumo de mídia venha a fazer parte do ensino formal na escolas. Ou então nós mesmos, jornalistas, teremos que, voluntariamente, deixar o jornalismo "nu" para a população.

segunda-feira, setembro 08, 2014

Fófis

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Tipos de Cerveja 73 - As Flemish Sour Ale

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Como o próprio nome (sour) alerta, trata-se de algo azedo. Por isso mesmo, Bruno Aquino, do site português Cervejas do Mundo, opina: "Este é um estilo muito peculiar pelo qual, confesso, não nutro grande simpatia. Não quer isto dizer que as Flemish Sour Ale não sejam cervejas de qualidade. Muito pelo contrário: é habitual encontrá-las extremamente bem classificadas em livros e sites que se dedicam à avaliação de cervejas. Todavia, o seu sabor ácido e, em geral, avinagrado, está bem longe do sabor que eu espero encontrar numa cerveja que considero boa". Uma observação é que flemish significa flamenca (ou flamenga), "termo com que se designa o habitante da Flandres (a metade setentrional da Bélgica, historicamente parte dos Países Baixos)", onde o idioma é o "neerlandês (língua conhecida popularmente por holandês)" - segundo esse texto aqui. Sobre as Flemish Sour Ale, o site Cervejas do Mundo acrescenta ainda que "podem variar entre o vermelho e o castanho, com álcool entre os 4% e os 8%, sendo que o seu forte sabor a vinagre e fruta lhes é conferido por um fermento especial", e que são "produzidas segundo métodos muito antigos, estagiam algum tempo em cascos de carvalho e o resultado final é, habitualmente, o resultado da mistura de cervejas novas com outras mais antigas". Como exemplos, são citadas a Panil Barriquée, a Rodenbach Grand Cru (foto) e a Liefmans Goudenband.