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terça-feira, dezembro 22, 2015

'Tudo ficará positivamente mórbido...'

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Júpiter Maçã nos tempos de 'A Sétima Efervescência Intergaláctica'
Quase nos acréscimos, "fomos surpreendidos novamente" pelo ano de 2015: depois de levar José Rico, em março, agora nos levou Flávio Basso, o Júpiter Maçã, já citado neste blogue (aqui e aqui). Segundo familiares, ele teria caído no banheiro e sofrido lesões na cabeça, mas isso não está confirmado. Sim, um acidente tão estúpido e estranho quanto o que sofreu em julho de 2012, quando quebrou o pulso e uma costela ao despencar dois andares. Pelo o que parece, infelizmente, álcool e drogas já estavam cobrando o preço dessa lenda viva do rock gaúcho, que tinha apenas 47 anos. Como ele cantava em "Miss Lexotan 6 mg", um de seus maiores hits (regravado, entre outros, pelo Ira): "E quando o sol finalmente raiar/ E ela então ferrar/ E quando o sol finalmente raiar/ E ela desmaiar/ Tudo ficará positivamente mórbido..."

Uma de suas últimas aparições, no festival 'Psicodália 2015', em Rio Negrinho (SC)

Júpiter Maçã, quando ainda era Flávio Basso, apareceu com a banda Cascavelettes, por volta de 1987. Naquele mesmo ano, participaram da coletânea "Rio Grande do Rock", ainda em vinil, lançada pela gravadora holandesa SBK. Mas foi no segundo disco solo da banda, o "Rock'a'ula" (EMI Odeon, 1989), que os gaúchos ganharam projeção nacional ao ter incluída a música "Nega bombom" na trilha da novela "Top Model", da Rede Globo. Foi então que, "para a nossa alegria", protagonizaram um dos maiores constrangimentos da história de nossa televisão, ao apresentarem a música "Eu quis comer você" no programa "Clube da Criança", da Angélica (!): "Quando eu volto pra casa/ E a minha garota está dormindo/ Eu tomo uma latinha de cerveja/ Que fome eu estava sentindo! Uhn.. eu quis comer você!" (Chupa, Huck!) Os Cascavelettes acabaram em 1992 e, quatro anos depois, Flávio, já "reencarnado" em carreira solo como Júpiter Maçã, lançou uma obra-prima do pop nacional, o álbum "A Sétima Efervescência Intergaláctiva", todo calcado nas bandas de garagem e na psicodelia da década de 1960. Sempre vale - e valerá - a pena ouvi-lo inteiro:


O disco abre com "Um lugar do caralho", espécie de "hino-manifesto" regravado por gente como Wander Wildner: "Eu preciso encontrar/ Um lugar legal 'pra mim' dançar/ E me escabelar/ Tem que ter um som legal/ Tem que ter gente legal/ E ter/ Cerveja barata/ Um lugar onde as pessoa sejam mesmo 'afudê'/ Um lugar onde as pessoas sejam loucas/ E super chapadas/ Um lugar do caralho!" É o som de uma época (pelo menos para mim). Quem me apresentou esse disco foi o colega Fabião (Fabio Butinholi), em 1997, quando eu ainda fazia faculdade e vivia exatamente a "vida zonza" descrita nessa letra nas "repúblicas" (podres) lá em Campinas. Em 2000, quando morava no bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, enchia a cara e berrava o refrão de "Eu e minha ex" com o camarada Paulo Coting, para desespero dos vizinhos. Tempo bão. Uma mobilete velha, um garrafão de vinho vagabundo, cigarro "estoura-peito", planejamento zero e Júpiter Maçã rolando na fita cassete. "Querida Superhist", "As tortas e as cucas", "As outras que me querem", "Pictures and paintings"... Hoje é dia de (re)ouvi-las, "bebendo o morto". Muito grato, Flávio Basso. Esteja bem.