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quinta-feira, março 19, 2015

O bom da Wikipedia é que a gente 'aprende'

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Na versão espanhola da Wikipedia, a definição de "Café frio":



Tradução: "O café frio é uma variante fria do café bebido normalmente quente."

DEPOIS O BÊBADO SOU EU!


Leia também:

Nada é tão óbvio que não possa ser redundante




Sofredores

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Sãopaulino reza, reza, reza...
O torcedor do Corinthians sempre se orgulhou de ser "sofredor", no sentido de que grande parte de sua imensa torcida integra as classes econômicas mais humildes. Mas, de 2009 pra cá, esse adjetivo pode ser aplicado também ao torcedor do São Paulo, só que, desta vez, no sentido futebolístico da expressão. Ser sãopaulino e acompanhar os jogos do Tricolor, nas últimas seis temporadas (contando com esta), é conjugar o verbo sofrer em todas as suas declinações. Tirando uma dúzia de atuações convincentes, contra equipes realmente fortes, nestes últimos seis anos, o resto foi de vitórias contra times mais fracos e sofrimento - muito sofrimento! - em todos os momentos em que o time precisou decidir alguma coisa. Nem na decisão da Copa Sul-Americana de 2012, único título do período, deixamos de sofrer. O adversário argentino (Tigre) recusou-se a voltar para o segundo tempo, sob alegação de que havia sofrido agressões, e os sãopaulinos viveram minutos intermináveis de tensão até o juiz encerrar o jogo e confirmar a vitória brasileira. Sufoco, sempre sufoco...

Sofrer: rotina de 2009 para cá
Aliás, falando em mata-mata, a coleção de decepções é vasta: no Paulistão, três semifinais seguidas perdidas para o Santos (entre 2010 e 2012), duas para o Corinthians (2009 e 2013) e até para o Penapolense (2014)! Na Copa do Brasil, passamos vexame contra Avaí (2011), Coritiba (2012) e Bragantino (em pleno Morumbi, 2014). Aliás, falando em perder jogos decisivos em casa, o São Paulo conseguiu a proeza, também, de ser eliminado da Sul-Americana, diante da própria torcida, pela Ponte Preta (2013) e pelo Atlético Nacional (2014). Na Libertadores, o sofrimento sempre é contra times brasileiros, e isso já há nove anos: perdemos para o Internacional (2006 e 2010), Grêmio (2007), Fluminense (2008), Cruzeiro (2009) e Atlético-MG (2013). Perdemos a Recopa de 2013 para o Corinthians. Já nos pontos corridos, batemos na trave e terminamos como vice do Brasileirão em 2009 e 2014. Nas duas oportunidades, tivemos rodadas ou confrontos diretos em que uma vitória deixaria o título bem encaminhado. Mas perdemos ou empatamos. E morremos na praia.

Tá difícil torcer pro São Paulo
Fora isso, quase fomos rebaixados no Brasileirão de 2013, naquela que talvez tenha sido a pior temporada do São Paulo em 84 anos de existência. Mas o mais grave, e o que mais incomoda, de 2009 pra cá (curiosamente, entre a saída de Muricy Ramalho e sua volta), é a extrema dificuldade de formar um time de verdade. De fazer com que o torcedor saiba de cor e salteado a relação dos 11 titulares. De ter um padrão técnico, tático e estratégico. De ter zagueiros confiáveis, laterais indiscutíveis, volantes marcadores e bons apoiadores, meias efetivos e artilheiros, atacantes unânimes. De cabeça, só consigo me lembrar de dois momentos em que conseguimos ter um time realmente definido: no fim de 2012, quando Ney Franco fixou o esquema com dois pontas e um centroavante (mas Lucas era peça fundamental e, quando saiu, tudo desmoronou); e em 2014, quando Muricy alcançou um estilo de jogo coletivo (mas que dependia de Kaká e, quando ele se foi, tudo desmoronou de novo). Nas outras temporadas, vimos só indefinição, improviso, irregularidade.

Ufa! Só Michel Bastos salva!
Ontem, a vitória contra o San Lorenzo foi outro "show de sofrimento" para a torcida sãopaulina. Como esse time de 2015 sofre para chutar no gol adversário! Sempre que pega adversário forte (Santos, Corinthians, San Lorenzo), a dificuldade de articular jogadas pelo meio ou pelas laterais e de emplacar algum contra-ataque rápido é assustadora. Quando os zagueiros ou os volantes recebem a bola de Rogério Ceni, não sabem o que fazer com ela. Não existe qualquer planejamento para a saída de bola. Invariavelmente, ela bate nos laterais ou nos meias e retorna para a defesa, que dá um chutão e rifa a bola para a frente. Não há qualquer jogada ensaiada para o tradicional "um dois" entre laterais e pontas e deles com os atacantes que caem pelo meio. Aliás, os laterais não têm ideia do que fazer na maior parte do tempo e tanto marcam quanto atacam mal. Ganso joga pessimamente; Luís Fabiano fica só assistindo, sem ação. Para sorte dos sãopaulinos, o clube é o "da fé". E, apelando para o "Muricybol" (20 bolas alçadas na área), só Michel Bastos salva... Ufa! Quanto sofrimento, meu Deus! Até quando? Até quando...



Cerveja sim, mata-mata não!

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Neste país, todo avanço parece estar condicionado a algum retrocesso, e  vice-versa. Vejamos: a comissão de clubes formada recentemente para debater a volta do sistema mata-mata (retrocesso) no Campeonato Brasileiro discutirá também a retomada da venda de cerveja nos estádios (avanço). Assim como, há pouco mais de uma década, tivemos a adoção do sistema de pontos corridos (avanço) e, como contrapartida, a proibição da venda de goró nos estádios (retrocesso). Ou seja, a gente  muda para depois voltar a ser tudo como antes. Bonito isso.


terça-feira, março 17, 2015

Socialismo e anarquismo - para crianças

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Chiados e riscos nostálgicos na estante da sala
Ao embutir uma estante na parede da sala, e instalar, nela, um aparelho de som com toca-discos, passei uma noite inteira deleitando os ouvidos com velhos LPs, observando as artes das capas gastas pelo tempo e curtindo até os nostálgicos chiados e riscos que os CDs eliminaram. Discos bem antigos da Simone, Toquinho & Vinicius, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Milton Nascimento, trilhas de novelas e de filmes, duplas caipiras, música brega, rockinho brasileiro dos anos 80, coletâneas de tangos e de canções italianas, música andina, blues, jazz, guarânias, mela-cueca, enfim, uma miscelânea anárquica e heterogênea que catei aqui e acolá nos últimos 20 anos. Tem até um LP do (falecido) ator Cláudio Cavalcanti, de 1971, em que ele declama poemas e canta várias canções, como "Let it Be", dos Beatles (!). A última parada foram os discos infantis, para que minha filha Liz, de 12 anos, se familiarizasse - e se divertisse (muito!) - com o manuseio dos anacrônicos vinis e do toca-discos. E conhecesse, por tabela, o som que as crianças consumiam em tempos idos: Patotinhas, Arca de Noé, Pirlimpimpim, Balão Mágico etc etc.

Capa do vinil lançado no Brasil há 38 anos
Foi aí que encontramos o LP "Os Saltimbancos", de 1977, versão brasileira do musical inspirado no conto "Os Músicos de Bremen", dos Irmãos Grimm, com letras do italiano Sergio Bardotti e músicas do argentino Luis Enríquez Bacalov. Aqui, as letras em português foram feitas por Chico Buarque, e interpretadas, no LP, por Miúcha, Nara Leão, Magro e Ruy (ambos do MPB4). Liz já tinha ouvido essas músicas, mas sem prestar muita atenção. Daí eu expliquei o caráter político do musical, com o personagem Jumento representando a classe trabalhadora, a Gata os artistas e libertários, o Barão a elite conservadora, e daí por diante. A tese central, no enredo que conta a união de quatro animais contra o jugo de seus donos, é marxista: "Todos juntos somos fortes/ Somos flecha e somos arco/ Todos nós no mesmo barco/ Não há nada pra temer" (da música "Todos juntos", sintetizando o que o velho Karl quis dizer com "Trabalhadores do mundo, uni-vos"). Mas eu mesmo nunca tinha atentado para a ousadia do Chico Buarque. Como é que isso passou pela censura da época?

Chico e sua filha Silvia, em 1977: ousadia
Na letra de "Um dia de cão", que apresenta o personagem Cachorro, a provocação aos militares é escancarada: "Lealdade eterna-na/ Não fazer baderna-na/ Entrar na caserna-na/ O rabo entre as pernas-nas". E mais: "Fidelidade à minha farda/ Sempre na guarda do seu portão/ Fidelidade à minha fome/ Sempre mordomo/ E cada vez mais cão". A zombaria (pesada) à obediência canina e nunca questionada dos militares é arrematada com a frase "Sempre estou às ordens, sim, senhor!". Por algo muito semelhante - os versos "Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão", de "Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando e cantando)" - o Geraldo Vandré tornou-se o inimigo musical nº 1 dos militares e sofreu forte perseguição. Mas as sutilezas de "Os Saltimbancos" não param por aí. Na música que apresenta a personagem Galinha, Chico Buarque ironiza (os grifos são meus): "Pois um bico a mais/ Só faz mais feliz/ A grande gaiola/ Do meu país". Hoje isso pode parecer uma bobagem sem importância, mas, naqueles tempos bicudos, isso era uma provocação pra lá de temerária. Só que, de alguma forma, passou pela censura.

Raul: anarquia para crianças (na Globo!)
Outro LP revisitado, dessa vez muito menos político, foi o "Plunct, plact, zum", trilha sonora de um especial infantil exibido pela TV Globo em 1983. Tinha no elenco os humoristas José Vasconcelos e Jô Soares, as cantoras Fafá de Belém e Maria Bethânia e os cantores/compositores Eduardo Dusek e Raul Seixas. E foi este último que, pra variar, "carimbou" ali, naquela inocente atração global para crianças, um componente político inusitado. Encarnando o "Carimbador Maluco", Raul compôs uma canção homônima que fez enorme sucesso (tirando-o de um ostracismo de três anos sem gravar) e que botou na boca das crianças - e do povo - os versos iniciais "Tem que ser selado, registrado, carimbado/ Avaliado, rotulado/  Se quiser voar!". Pois isso foi tirado simplesmente de um texto anarquista, "Ser governado", de Pierre-Joseph Proudhon, publicado em 1851 no livro "Idée générale de la révolution au XIX e siècle" ("Ideia geral de revolução no século XIX"). Diz o filósofo e político francês: "Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenceado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido". Isso mesmo: anarquia para crianças! E na Rede Globo! Grande Raul. A Liz adorou tudo isso.


segunda-feira, março 16, 2015

Tomaram conta

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Bolinha voa sobre Serra: ódio
O triste "espetáculo" que tomou as ruas ontem, em todo o país, confirma que, ao contrário do que comemorava a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores, a esperança NÃO venceu o ódio quando a presidente Dilma Rousseff foi reeleita. Muito pelo contrário. "Nunca antes", desde que Lula tomou posse, em 2003, este sentimento de ódio irracional e violento esteve tão forte, palpável e amedrontador. Em post escrito em novembro de 2010, comentei: "A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez (...) nas eleições presidenciais conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós". Me enganei. Não havíamos, na época, chegado à tensão máxima. Aquele clima de "vamos fazer justiça com as próprias mãos, vamos matar e esquartejar esses petistas desgraçados" detonado por Serra - e a "grande" imprensa - com a lamentável e constrangedora farsa da bolinha de papel era apenas o início da escalada do ódio. E, depois de ontem, tenho medo só de imaginar quando a tensão máxima de fato for atingida...

"Deus" e "militares": como em 1964
Esse ódio, que sempre foi insuflado pela elite e a mídia golpistas contra o citado Partido dos Trabalhadores, seus integrantes e militantes, agora passou a um outro nível. Ao receber todos os palanques, holofotes e espaços possíveis, estes "setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira" ultrapassaram a fase de negação (dos "petistas", dos "sem-terra", dos "comunistas", "cubanos", "bolivarianos", "chaviztas" etc etc etc etc) e partiram para a afirmação pública, explícita e orgulhosa de todas as suas bandeiras (as piores possíveis). Depois de ontem, o impeachment ao governo Dilma Rousseff, o ódio ao PT, a Petrobras, a "corrupção generalizada", a "crise" econômica e outros quetais passaram a ser apenas o granulado do bolo. A verdadeira massa deste quitute é o fim da democracia partidária e das eleições diretas, a defesa do retorno à ditadura militar, a criminalização dos trabalhadores organizados, o combate a todo e qualquer movimento dos excluídos, dos negros, dos nordestinos, das mulheres, dos homossexuais.

Janine: ataque aos direitos humanos
Mesmo em minoria (pois perderam as últimas quatro eleições presidenciais), os conservadores e extremistas tomaram conta não apenas das ruas, mas do cenário político e midiático, da internet e de todos os locais onde alguém se atreve a falar sobre algo que eles odeiam. Dá discussão. Dá briga. A sem-cerimônia com que os "líderes" do tal movimento "Revoltados Online" faz propaganda do execrável Jair Bolsonaro (PP) como seu preferido na disputa presidencial de 2018 dá ideia de onde o ódio disseminado pela oposição e pela imprensa irresponsável nos levou. Como bem observou o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da cadeira de Ética e Filosofia Política da USP, em palestra recente, "A extrema-direita está se distinguindo do restante por um ódio cabal aos direitos humanos. (...) Atacam o homossexual, a igualdade de gênero, os direitos das mulheres. (...) O perigoso no Brasil, de certa forma, é a extrema-direita ir se aproximando da direita e contaminando, a ponto de seu apoio se tornar essencial. (...) Estamos tendo no Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que deveriam ser tipificadas como criminosas… Pregar a volta dos militares deveria ser crime, deveria levar a pessoa para a cadeia". EXATAMENTE.

Cômico, se não fosse trágico: brincadeira na Internet reflete bem do que se trata o post