Destaques

sábado, janeiro 09, 2010

Discurso de manguaça não tem dono

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Por Moriti Neto


Quem disse que fazer discurso manguaça é prerrogativa de alguma classe específica? Para aqueles que acreditam que só os assíduos frequentadores dos bares mais humildes são responsáveis por digressões feitas no calor dos goles da distinta, pode-se afirmar um ledo engano.

Entre políticos, há casos exemplares de pronunciamentos manguaças. Alguns dos mais notáveis foram feitos pelo ex-presidente russo Boris Yeltsin, falecido em abril de 2007.

Contudo nem só os titulares de cargos eletivos ou os humildes pinguços cotidianos têm exclusividade sobre o ato de soltar o palavrório devidamente manguaçados em ambientes públicos.

A cantora estadunidense Mariah Carey assumiu, na última quinta-feira, dia 7, que estava sob efeito de álcool quando discursou ao receber um prêmio pela atuação no filme "Preciosa: Uma História de Esperança", no Festival de Cinema de Palm Springs, nos EUA.

Atrapalhada com as palavras, ela não conseguiu completar uma frase: "Perdoem-me, porque estou um pouco...". Foi quando alguém do público, talvez em igual estado etílico, o que pode ter facilitado a conclusão, fez questão de completar: "bêbada”!

A cantora tentou justificar a condição – o que geralmente não é boa idéia – com a seguinte pérola: "Peço desculpas, às vezes fico um pouco difícil".

Bem, é possível conferir o quanto Mariah Carey fica difícil (às vezes?) no vídeo abaixo e comprovar que nem só as espécies citadas acima utilizam a retórica manguaça.

sexta-feira, janeiro 08, 2010

A volta dos que não foram

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O Olavo já falou aqui do retorno de Giovanni, quase aposentado, ao futebol. Mas além da plêiade de veteranos contratados pelos clubes grandes como Marcelinho Paraíba (São Paulo), Roberto Carlos (Corinthians) etc etc etc, há os exemplos de jogadores que já estavam aposentados – ou quase - e retornaram para a equipe de origem, para exercer mais de uma função em um clube ou trazer visibilidade a times pequenos e faturar uns trocos antes de pendurar em definitivo as chuteiras.


Este último é o caso do atacante Viola, que já fazia parte do elenco fixo do showbol, exibição de ex-atletas feita para a TV a cabo. Aos 41 anos ele fechou contrato com o Brusque, de Santa Catarina, “agenciado” pelo também ex-craque Edmundo . Mesmo estando há meses sem atuar (seu último time foi o carioca Resende), mostrou que não esqueceu os clichês de boleiro: “Nunca prometo gols. Prometo honrar a camisa, dedicação, bom serviço. O gol é a consequência de um bom trabalho”. Viola pode estrear contra outro veterano, Sávio, 35, contratado pelo Avaí, na primeira rodada do campeonato catarinense.

Já o “capetinha” Edilson, depois de dois anos parado, decidiu encerrar a carreira no Tricolor da Boa Terra, aos 39 anos. Mas o Bahia só vai contar com o futebol dele depois de 30 dias de trabalhos físicos e sua estreia deve acontecer somente contra o Atlético de Alagoinhas, no dia 6 de fevereiro. Não satisfeito, o baiano pediu a contratação de outro aposentado, o conterrâneo Vampeta. Seria o embrião de um time de masters?

Já no Ituano, vemos uma nova modalidade de trabalho de atleta aposentado: a do dirigente-jogador. Juninho Paulista, depois de quase abandonar a carreira após uma passagem, digamos, discreta pelo Sydney da Austrália em 2008, topou ser administrador do Ituano no meio do ano passado e vai jogar o seu terceiro campeonato paulista pelo clube (antes, havia vestido a camisa rubro-negra em 92 e 93). Perto de completar 37 primaveras no mês que vem, o meia conseguiu convencer outro pentacampeão a retornar aos gramados: o zagueiro Roque Júnior, sem clube desde sua última desastrosa passagem pelo Palmeiras, em 2008.

Outro que volta à bola aos 32 é o ex-goleiro do São Caetano Silvio Luiz. Sem jogar desde junho do ano retrasado, quando sofreu um grave acidente automobilístico, ele assinou contrato com o Juventude e deve estrear pelo clube no Gauchão.

E aí, qual "quase aposentado" vai dar certo em 2010?

Baby boom

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Pode ser exagero, mas estimo que quase metade das pessoas que conheço faz aniversário em janeiro. Quando eu era adolescente, fazíamos todo ano um churrasco dos nascidos especificamente em janeiro de 1974 e acho que eram mais de 20 pessoas. Tinha gente do dia 2, do 3, do 5, do 7, do 8, do 10, enfim, ia intercalando até uma menina que era do dia 29. Em Campinas, na faculdade, era a mesma coisa. Em Fortaleza, onde morei por um tempo, idem. E aqui em São Paulo não é diferente: de hoje até domingo são cinco festas, churrascos e cervejadas de amigos e agregados. Hoje eu conversava com um deles, Fernando, que no dia 16 vai comemorar 28 anos fazendo um churrasco na laje, lá em Guaianases, em homenagem aos 30 anos da prisão do Paul McCartney por porte de maconha, no Japão (!!). Vai daí, ele me perguntou:

- O que será que acontece em abril pra nascer tanta gente em janeiro?

- Feriado de Páscoa, respondi.

- Ué, mas tem feriado o ano inteiro, ele rebateu.

- Pois é, mas neste as pessoas enchem a cara de vinho e enforcam o Judas!

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Se conselho fosse bom, a gente bebia...

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Um colega cachaceiro (assumido) dá dois conselhos aos butequeiros:

1 - Antes de ir ao bar, já tome umas três ou quatro, pra chegar no mesmo "grau" da conversa dos outros;

2 - Sempre beba em pé; se der vontade de sentar é que você já passou da conta e tem mesmo é que ir embora.

Tá explicado

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Ao voltar da Irlanda, em dezembro, passei por um período difícil de readaptação ao gosto de nossas sofríveis cervejas nacionais de maior consumo. Depois de sete meses provando dezenas de marcas européias (note-se: as mais populares de lá), meu paladar já não se convence tão facilmente de que as Skol, Brahma, Original, Bohemia e mesmo a tal de Antarctica Zero são, de fato, cerveja. E nem vou baixar o nível, falando de Kaiser, Itaipava, Nova Schin, Sol, Glacial, Lokal etc. Tirando a Serra Malte, a Brahma Extra e as "artesanais" como a Baden Baden e a Colorado, entre outras, o resto me parece - e já me parecia muito antes de eu ir morar no exterior - água gelada com uma mistura rala de cevada e espuma. E digo isso porque, como comecei a consumir cerveja com regularidade há mais de 20 anos, me lembro muito bem do (ótimo) gosto que as Skol, Brahma e até a Antarctica tinham naquela época. Simples: tinham gosto de cerveja, como hoje tem a Paceña boliviana.

Nessas festas de fim de ano, a família e os amigos estranharam quando, muitas vezes, eu parava de beber a loira gelada e partia para outras bebidas. E quando eu dizia que a qualidade da nossa cerveja está pra lá de sofrível, tinha que ouvir as piadas de que voltei ao Brasil com frescura, que "cerveja é tudo igual" e até mesmo que o nosso produto é o melhor do mundo (!!!). Aí não dá, não tem conversa. Porque é muito, muito ruim. Prova disso é o artigo publicado pela Folha de S.Paulo (enfim, alguma coisa útil naquele pasquim), do professor da Unicamp Rodrigo Cerqueira Leite, "A cerveja: bebendo gato por lebre", que nos foi enviado pelo camarada Don Luciano. O texto afirma, categoricamente: "(...) o milho (e outros eventuais cereais que não a cevada) constitui, em peso, quase três quartos da matéria-prima da cerveja brasileira, revelando sua vocação para homogeneização e crescente vulgaridade".

Segundo Cerqueira Leite, essa é a principal sacanagem da nossa inescrupulosa indústria cervejeira - a quarta maior do mundo, como ele frisa logo de início. A bebida deveria ser composta por cevada, lúpulo e água, mais fermento. "Tradicionalmente, o termo malte designa única e precisamente a cevada germinada", prossegue o artigo. "O malte pode substituir a cevada total ou parcialmente. A malandragem começa aqui. Com frequência, lê-se em rótulos de cervejas a expressão 'cereais maltados' ou simplesmente 'malte', dissimulando assim a natureza do ingrediente principal na composição da bebida. Com a aplicação desse termo a qualquer cereal germinado, a indústria cervejeira pode optar por cereais mais baratos, ocultando essa opção". Ou seja: usam milho, gastam menos, lucram mais. E nós ficamos com o prejuízo, a insatisfação e o gosto ruim (ou ausência de qualquer gosto) na goela.

Esse processo de mediocrização da cerveja com ingredientes impróprios já tinha sido comentado aqui no Futepoca por nosso amigo e colaborador Bruno Aquino, do site Cervejas do Mundo: "Muitas marcas substituem na sua totalidade o malte de cevada por arroz. As cervejas chinesas são um excelente exemplo disso, caso da Tsingtao. A americana Bud também aposta nesse cereal. Aliás, a cevada é muito mais cara do que arroz ou milho, pelo que muitos produtores optam por substituir parte da ceveda por um desses cereais, mais baratos, neutrais e de produção em larga escala". Falando das cervejas estadunidenses, aliás, Aquino também avaliou, sobre as Macro Lager, que "elas não são muito amargas, têm médio/baixo teor de álcool, pouco sabor e aroma". Alguma semelhança com as "cervejas" brasileiras?

E completou: "O mais importante é a produção em grande massa, cortando-se em cereais nobres como a cevada, malte e lúpulo e abusando-se do milho e do arroz. Pelo menos o produto final é barato, apesar da qualidade deixar muito a desejar". O problema é que, aqui no Brasil, o (péssimo) produto final nem barato é! Pra complicar, o professor Cerqueira Leite, em seu oportuno artigo, acrescenta: "Outro determinante da baixa qualidade da cerveja brasileira é a adição de aditivos (sic) químicos para a conservação. O mal não está só nessa condição, mas na sua necessidade. O lúpulo em cervejas de qualidade, sejam 'lagers', sejam 'ales', é o componente responsável pela conservação -além, obviamente, de suas qualidades de paladar. Depreende-se daí que os concentrados de lúpulo usados na cerveja brasileira são de baixa qualidade".

Pois é. Sem frescura, vou continuar a consumir nossas marcas mais vendidas. Mas com saudade das estrangeiras. Ou melhor, das cervejas de verdade...

Como quebrar um clube de futebol

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O Futepoca teve acesso ao relatório de auditoria feito no Galo a pedido do Conselho Deliberativo pela Auditoria Consultoria Organizacional Ltda., ACO, contratada para analisar a vida administrativa do CAM nos últimos anos.


Como o arquivo foi conseguido pela Internet, é necessário fazer ainda algumas checagens de sua veracidade, mas, verdadeiro, traz um Raio-X de como os clubes brasileiros sofrem pela incompetência de seus dirigentes, isso para não dizer coisas piores.

Pelo cuidado na checagem e leitura mais detalhada, hoje será postada uma parte que já saiu na coluna do jornalista Chico Maia, do jornal mineiro O Tempo, que explica como o volante Ataliba, do time rebaixado de 2005, conseguiu tranformar uma dívida de 3 meses de um salário de R$ 22 mil numa vitória na Justiça do Trabalho que fez o clube dever R$ 10 milhões.

Segundo o jornalista, o clube atrasou mais de três meses de salário, o que o levou o jogador a conseguir na primeira instância da Justiça do Trabalho o rompimento do contrato e um ganho de R$ 350 mil na causa.

Na segunda instância, o desastre: por conta de o os dirigentes terem colocado uma cláusula em que estabelecia "multa" de R$ 1o milhões para o rompimento do contrato e por ter causado o rompimento, foi condenado a pagar R$10.350.000 a Ataliba.

Cabe aqui as perguntas, já também feitas em parte pela auditoria e por Chico Maia, por que um clube estipula uma multa de R$ 10 milhões para um jogador medíocre e já rodado como o "craque" Ataliba?

Como já não faz um acordo e paga na primeira instância o valor de R$ 350 mil e se livra de uma pena maior?

Por que a legislação não determina a punição do dirigente que lesou por incompetência ou mesmo má-fé ao clube?

Um parêntese, se fosse um clube empresa, os dirigentes poderiam ser processados também e responderiam com seus bens pessoais. Grossso modo isso explica porque a maioria quer deixar tudo como está. Fazem dívidas enormes, depois vão embora deixando o passivo para seus sucessores e os bobos dos torcedores. Isso levando em consideração apenas a incompetência, porque outras práticas criminosas precisam ser provadas.

Amanhã, checando com mais cuidado o documento, tentarei descrever como esses mesmos dirigentes que deram prejuízos milionários ao clube "emprestaram" dinheiro para "pagar" suas besteiras e saíram credores de dezenas de milhões de reais do clube.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Um ídolo pode se queimar?

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Giovanni está voltando ao Santos. Aos 37 anos, o paraense deverá, neste 2010, ter sua terceira passagem pela Vila. A primeira foi a mítica realizada entre 1994 e 1996, que teve como ápice o vice-campeonato brasileiro em 1995, o melhor momento do Santos na década retrasada (vixe maria, foi estranho escrever isso). A segunda ocorreu em 2005 e foi marcada por episódios fortes como o jogaço posteriormente anulado contra o Corinthians, o bicão na bola e a dispensa por Vanderlei Luxemburgo no início do ano seguinte.

Giovanni em 10/12/1995, o dia em que se inscreveu definitivamente como ídolo

Sua contratação é uma espécie de "presente" da nova diretoria santista aos torcedores. A dispensa de Giovanni no começo de 2006 foi um dos episódios mais mal-digeridos pelos santistas. Apesar de dentro de campo não estar rendendo aquelas maravilhas, era ídolo dos torcedores e merecia ser tratado como tal. Foi dispensado subitamente, sem explicações suficientes, no mesmo balaio que incluiu Luizão e Cláudio Pitbull. Estava em final de carreira, mas merecia uma despedida mais digna.

Agora, os novos dirigentes do Santos trazem Giovanni de volta. A aproximação entre as duas partes se deu desde a campanha eleitoral, quando o camisa 10 fora anunciado como um "intermediário do Santos na região Norte" ou coisa parecida. É nítido que, mais do que reforçar o elenco, o objetivo é dar ao atleta uma despedida digna do Santos.

Como santista, não aprovo a quase fechada contratação. Tenho Giovanni como ídolo. Meu depoimento sobre ele é praticamente idêntico ao dos outros santistas da minha faixa etária - Giovanni foi um facho de luz sobre o período mais sombrio da história do Santos, um cara que deu a nós um orgulho que não conhecíamos, uma esperança que só sentiríamos novamente sete anos depois daquele 1995.

Mas não quero ver esse ídolo submetido à fogueira que o Santos em reconstrução se mostra ser. Assim como muitos santistas, sei que o 2010 que vem aí não deve ser de títulos. E sim de conquistas fora de campo - auditoria nas contas do clube, limpeza dos quadros administrativos, execução de bons projetos de marketing e por aí vai. Claro que se as taças vierem, agradecemos; mas temos que ter ciência dessa realidade.

Acontece que há muitos que pensam de maneira diferente, e podem colocar no ídolo de 15 anos atrás uma carga que ele não merece carregar. E aí o mito Giovanni, construído com tanta qualidade naquele 1995, pode se esvair.

Eu já xinguei Pepe quando ele foi técnico do Santos, em especial na sua fraca passagem no Paulistão de 1994. Pela escalação errada de algum lateral-esquerdo ou coisa parecida, não lembro ao certo. Uma questão pequena e pontual - nada comparado com a positivamente monstruosa história que Pepe construiu como jogador na Vila.

Pepe permaneceu imune a isso. Mas será que todos os ídolos conseguem superar as insatisfações que podem pontual e involuntariamente causar às torcidas que os idolatraram? Émerson Leão, por exemplo, é visto como persona non grata no Palmeiras, clube que com tanta qualidade defendeu nos anos 1970.

É estranho.

As pequenas tragédias da Ilha Grande

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Duas cenas: a chegada e os passeios numa Ilha Grande paradisíaca e o Morro da Carioca, em Angra, depois da tragédia.

Fotos: Simone Polli e Frédi Vasconcelos


















Das grandes tragédias nem é necessário falar. A TV, a todo momento, mostra imagens da pousada que caiu, das casas, dos velórios. Na falta de assunto, explora-se ao máximo a dor alheia em busca de audiência...

Mas eu e a companheira Simone estávamos num grupo que foi para a Ilha passar o Ano-novo, na casa dos amigos Helô e Gerardo, na Praia Grande de Araçatiba, bem perto do Bananal, onde despencou o morro.

A chegada no dia 27 e os dias 28 e 29, apesar de um pouco de chuva, foi dentro do previsto. Praia, caminhadas, passeios de barco, boas comidas, ótimas conversas com os amigos etc.

A mudança começou no dia 30. Desde as primeiras horas, chuva torrencial. Impedia de fazer qualquer coisa, mas nada indicava o que viria.

Manhã do dia 31, não havia boas notícias. A chuva continuava muito forte. O morro atrás da casas que estávamos começou a cuspir terra. A primeira operação, apesar do susto, foi até simples, tirar aquela pouca terra e fazer um caminho para a água descer.

Operação que teve de ser repetida durante algumas vezes, mas nada ainda que assustasse. À tarde a chuva diminui e traz alívio a todos. Engano, ledo engano. Volta com mais força ainda à noite, o que não impede a ceia e as comemorações da meia-noite. Com direito a ir pular as 7 ondas mesmo debaixo da chuva.

Na volta à casa, as notícias não são boas. Mais terra caíra. É necessário trocar de roupa de festa e fazer um novo caminho para que a água não invada os quartos. E lá vai o grupo para a tarefa nas primeiras horas de 2010.

Não adianta. Refeito o primeiro caminho, vem mais terra ainda, a situação começa a ficar crítica. Não é possível mais mexer atrás da casa porque fica perigoso, a toda hora acontece novo pequeno desmoronamento.

É necessário tirar as roupas, os colchões, tudo que puder ser salvo, porque a invasão de terra e água é iminente. Cada um faz uma pequena mochila para levar o que é essencial. Mais terra caindo e água vertendo do morro, formando novas cachoeiras.

Perto das 3h da manhã a decisão de abandonar a casa e ir para lugar mais seguro oferecido por amigos. A caminhada parece que nunca acaba, atravessando partes inundadas, pequena trilha que pode a qualquer momento desmoronar. No grupo, os bravos León e Thomás, de 9 e 14 anos, que enfrentam tudo sem reclamar.

A chegada à outra casa foi um alívio. Parte do grupo não cabe e ainda tem de caminhar mais para chegar a outro local. Ficamos nesse primeiro e tentamos dormir...

No outro dia, caímos da cama às 8h da manhã com medo do que poderia ter acontecido à casa de Helô e Gerardo. Chegamos e eles já estavam lá. Apesar de ter entrado água e terra nos quartos, que tivemos de limpar, a situação era melhor do que esperávamos. Não havia acontecido nada de mais grave. Embora um dos quartos estivesse com cerca de 1,5 metro de terra na parede externa. Além de pedras ameaçadoramente soltas. Limpamos tudo e almoçamos o resto da paella maravilhosa preparada por Gerardo para a noite anterior.

Daí fomos para outra pousada, numa área de menos risco.

Soubemos da tragédia no Bananal e em Angra, mas com informações cada vez mais confusas. Chegavam a falar em 100 mortes, inclusive de gente famosa...

O espírito das férias já tinha ido embora. Na nossa última noite na Ilha, algo simbólico. Um jantar feito com restos da ceia e mais o peixe e o camarão que sobraram fritos por Helô, com vinhos trazidos da Argentina por Daniel e Mónica, à luz de velas, na mesa de um bar fechado. A prova de que enquanto resta solidariedade e vida, tudo ainda pode ser feito.

Decidimos retornar no dia seguinte, mas boa parte do grupo ficou em locais mais seguros.

Agora, o verdadeiro problema é para a população local. Está sem água e luz até hoje, várias casas estão interditadas, os mantimentos que ficam nas geladeiras estão todos estragando, os turistas vão saindo em bandos, lotando os barcos que vão para a Angra.

A época em que todos que vivem lá do turismo ganham algo para passar o ano está irremediavelmente soterrada.

Nada se compara às vidas perdidas, mas as pequenas tragédias continuarão ainda por muito tempo.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

O legítimo "futebol científico"

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Desde pequeno escuto falar do tal "futebol científico", termo que faz alusão ao estilo de jogo praticado na extinta União Soviética e em países do Leste Europeu. No entanto, não sabia precisar o porquê do termo e muito menos a sua origem já que, em 1958, o futebol soviético era mais semelhante ao sulamericano do que aos ferrolhos que caracterizavam boa parte dos times europeus. Por que então o "científico"? Era só uma referência ao cientificismo dos regimes da cortina de ferro?

Foi lendo o excelente Como o futebol explica o mundo (Ed. Jorge Zahar), de Franklin Foer, que me deparei com o mentor do dito estilo de jogo. Valeri Lobanovsky (foto), um ex-bombeiro hidráulico que aplicou a lógica do marxismo científico ao esporte, quis sobrepor o coletivo ao individual e se propôs a desvendar os fundamentos matemáticos da modalidade. Criou um sistema de valores numéricos representando cada ação executada em uma partida, fazendo com que grupos de "cientistas" analisassem passes, desarmes e chutes de cada atleta. Os dados alimentavam um computador que atribuía aos jogadores avaliações da intensidade, atividade, taxa de erros e efetividade.

Sim, muito antes dos laptops ficarem comuns no mundo da bola, Lobanovsky já utilizava a tecnologia disponível à época, formando no futebol a imagem do homo sovieticus idealizado pela então potência rival dos EUA. Mas o futebol científico se mostrou mais do que uma simples incorporação ideológica feita pelo treinador e provou que podia ser, de fato, vencedor.

A máquina de Kiev

O sistema dentro das quatro linhas tinha como objetivo que os jogadores detivessem a posse de bola o menor tempo possível, privilegiando sempre o toque de primeira e as triangulações, com transições da defesa para o ataque realizadas de forma rápida. Foi jogando assim que, no período em que treinou o Dínamo de Kiev, entre 1974 e 1990, Lobanovsky ganhou oito campeonatos soviéticos, seis Copas URSS, uma Supercopa da Europa - este o primeiro título continental de uma equipe da União Soviética - e duas Recopas europeias.

Ele foi também técnico da seleção da URSS em três períodos distintos: de 1975 a 1976, de 1982 a 1983 e entre 1986 e 1990. Aliando seu método rígido e disciplinador a que os ucranianos estavam acostumados com a criatividade dos atletas russos, chegou ao vice da Eurocopa de 1988, perdendo para a Holanda comandada por Rinus Michels, de Rijkaard, Gullit e Van Basten. Ironicamente, o treinador holandês era uma das inspirações de Lobanovsky, que via no futebol total da Holanda e da Alemanha de 74 a última revolução ocorrida no futebol.



O mentor de Shevchenko

Com o fim da URSS, Lobanovsky passou pelos Emirados Árabes Unidos e também pelo Kuwait, retornando à Ucrânia em 1996 para dirigir o Dínamo. Conseguiu levar a equipe às semifinais da Liga dos Campeões em 97/98 e, no torneio anterior, obteve uma senhora goleada contra Barcelona, um 4 a 0 em pleno Camp Nou.

Àquela altura, o técnico revelava ao mundo o artilheiro Shevchenko, quase um jogador ideal de acordo com sua concepção de futebol. Tanto que, em 1998, Lobanovsky dizia preferi-lo a Ronaldo, no auge da carreira então. "Ronaldo? É um jogador capaz de inventar, mas Shevy tem tudo: passa bem, lê o jogo com facilidade e é muito forte fisicamente".

E Sheva foi grato ao mentor. Quando o Milan conquistou o título da Liga dos Campeões da temporada 2002/2003, chorava depois da partida, se dizendo muito emocionado por lembrar do antigo técnico, que havia morrido em 2002. Dias após a vitória, Shevchenko retornou à Ucrânia e deixou a medalha de campeão no túmulo de Lobanovsky.

O que aconteceria se...

Lobanovsky era o comandante da União Soviética do goleiro Dasaev, que perdeu para o cantado e decantado time de Telê na Copa de 1982. Derrota ocorrida graças à ajuda do árbitro espanhol Lamo Castillo, que deixou de marcar dois pênaltis cometidos pelo atleticano Luisinho quando o jogo estava 1 a 0 para os soviéticos (um frangaço histórico de Waldir Peres). Houve também um tento soviético anulado no segundo tempo por suposto impedimento, que não fica bem claro pelas câmeras da época.  A virada veio graças a dois chutaços de fora da área, de Sócrates e Éder.

Mas o que aconteceria se o árbitro fosse menos verde-amarelo? O Brasil poderia cair no grupo de Polônia e Bélgica nas quartas e ir adiante na Copa ou seguiria o mesmo caminho sendo esquecida nos dias de hoje graças à derrota inicial? A URSS encaixaria melhor seu estilo de jogo contra Argentina e Itália e Lobanovsky seria mais lembrado hoje no Brasil do que Telê? Quem quiser arriscar o possível destino das seleções, fique à vontade...

quinta-feira, dezembro 31, 2009

O bom freguês só ama o bar que se foi

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Trecho inicial da crônica "Os bares morrem numa quarta-feira", de Paulo Mendes Campos (1922-1991), que dedico a todos os saudosos do Bar do Vavá e de outros "fóruns adequados" extintos pela sanha capitalista:

Um amigo de Kafka conta que este arquitetava o seguinte: um homem desejando criar uma reunião em que as pessoas aparecessem sem ser convidadas. As pessoas poderiam se ver ou conversar sem se conhecerem. Cada uma fariao que lhe aprouvesse sem chatear o próximo. Ninguém se oporia à entrada ou à saída de ninguém. Não havendo propriamente convidados, não se criariam obrigações especiais para com o anfitrião. E o espinho da solidão doeria mais ou menos.

É possível que Kafka não haja escrito esta alegoria por ter percebido que a mesma já existia corporificada sob a forma de cafés, restaurantes e bares. Mas o episódio pode levar-nos a considerar com súbita estranheza o mil vezes conhecido: os bares já eram kafkianos quando surgiram no mundo. Ou este, o mundo, é que foi o primeiro bar, quando se encontraram duas criaturas desconhecidas, e a mulher, buscando comunicação, ofereceu ao homem uma fruta. Naquele Garden Bar principiaram os equívocos. Foi o primeiro ponto de encontro. E não durou muito.

Pois os bares nascem, vivem, parecem eternos a um determinado momento, e morrem. Morrem numa quarta-feira, como diria Mário de Andrade. O obituário dessas casas fica registrado nos livros de memórias. Recordá-los, os bares mortos, é contar a história de uma cidade. Melhor, é fazer o levantamento das cidades que passaram por dentro de uma cidade. (...) O curioso é que os bares do presente, por seus serviços e sua frequência, podem merecer até o nosso entusiasmo, mas não recebem jamais o nosso amor. O bom freguês só ama o bar que se foi. Só na lembrança os bares perdem suas arestas e se sublimam.

Um bar que se foi, mas que não sai da memória: bebendo vodka com tubaína, eu ouvia do João a descrição de mais um lance magistral de Pelé

quarta-feira, dezembro 30, 2009

O lado bom das coisas ruins

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Comemorando o Natal no buteco, o amigo Alexandre "Cherno" Silva me saiu com essa:

- As três melhores coisas da religião católica são o pecado, o feriado e o vinho!

A melhor cachaça de Minas Gerais não é de Salinas

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Ribeirão das Neves, a 32 quilômetros de Belo Horizonte, é dona da melhor cachaça de Minas Gerais. A Áurea Custódio foi escolhida como a primeira na categoria premium no primeiro Concurso Cachaça de Minas, que escolheu 14 marcas produzidas do estado onde politicamente nasceu Itamar Franco, o responsável pela instalação do Dia Nacional da danada, em 21 de maio.

Nenhuma das 14 é de Salinas, município que se converteu em sinônimo da chambirra a partir dos anos 1960, com a ascensão do mito da Havana – posteriormente decolocada como Anísio Santiago. Januária, que aparece no dicionário como sinônimo de aguardente de cana, tampouco está entre as agraciadas.


As vencedoras do concurso, em cada categoria, em
uma montagem que despreza a tampinha. é só uma questão
de enquadramento. Mas eu juro que nenhuma tem tampa
de plástico. Pelo menos não nas fotos originais.


Antes que os puristas gritem e peçam mais uma rodada, uma ressalva. Das 280 marcas de cachaça de alambique sediadas no estado e comercializadas, apenas 66 participaram. Ligadas a 52 empresas, o certame foi promovido pela Federação Nacional dos Produtores de Cachaça de Alambique (Fenaca), com apoio do Governo do Estado, Sebra-MG e Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) sob a coordenação da Universidade Federal São João Del Rey (UFSJ).

Tudo para impulsionar a cadeia da cana de qualidade. Iniciativas como essa são frequentes, e é difícil comparar resultados de concursos diferentes. O importante é que tudo está regulamentado na produção.

Segundo os organizadores, é o primeiro – e único – concurso realizado com bases técnico-científicas. E passou batido pela editoria de cachaça do Futepoca a entrega do prêmio, no dia 9 de dezembro. Justo um pessoal tão afeito a metodologias científico-etílicas!

Ao que consta, os responsáveis pela avaliação também se dividiram. O cheiro e sabor foi verificado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná. Características físico-químicas ficaram a cargo da Fundação do Centro Tecnológico de Minas Gerais. O insubstituível quesito rótulo e garrafa ficou para a turma da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Degustadores autônomos (?) tiveram direito a dose e voto.

As categorias em que podiam ser inscritas marcas das que mataram o guarad foram "Nova/descansada", "Armazenada/envelhecida" e "Premium". Não encontrei em canto nenhum a relação completa das participantes. Do primeiro ao quinto lugar de cada uma delas, a produção providenciou uma medalha de mérito de qualidade, podendo exibi-la no rótulo por um ano.

Provei, na vida, duas das 14. Há muito trabalho pela frente. Mas antes que alguém se candidate a acompanhar os desbravadores do Futepoca, um aviso. Minas Gerais é o maior produtor de cachaça do país, porque tem nove mil alambiques. Neles, são destilados 260 milhões de litros todos os anos. Pior, a Fenaca garante ter 4 mil associadas em todo país e promete novos concursos em outros estados, como por exemplo o Paraná já em 2010. Mãos ao copo.

Confira as vencedoras:

Categoria: Cachaça branca/Nova
1º Diva - Divinópolis
2º Lucas Batista - Itabirito
3º Monte Alvão - Itatiaiuçu
4º Jacuba - Coronel Xavier Chaves
5º Mandacaru - João Pinheiro

Categoria: Cachaça envelhecida/Armazenada
1º Pirapora - Pirapora
2º Branquinha de Minas - Claro dos Poções
3º Engenho doce - Passa Quatro
4º Prazer de Minas - Esmeraldas
5º Bueno Brandão - Bueno Brandão

Categoria: Cachaça Premium
1º Áurea Custódio - Ribeirão das Neves
2º Topázio - Entre Rios de Minas
3º Prazer de Minas- Esmeraldas
4º Rainha das Gerais - Curvelo

terça-feira, dezembro 29, 2009

Panetones de Arruda viram joguinho na internet

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Deu no blogue da Paola Lima. Os panetones que se transformaram no símbolo do escândalo de corrupção do Distrito Federal já viraram game na internet. O governador José Roberto Arruda, o vice, Paulo Octávio, secretários e deputados distritais são investigados pela Operação Caixa de Pandora da Polícia Federal por um esquema de distribuição de propinas.

Clique aqui para jogar

Panetones e o próprio Arruda surfam pela tela e o jogador precisa ajudar a limpar brasília. Cada panetone vale um ponto, enquanto atingir o ex-Democrata soma cinco no escore. A iniciativa é do Brasília Limpa, movimento promovido pela seccional do DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com o sindicato dos publicitários e das Agências de Propaganda.

Depois de um tempo do jogo bastante produtivo e útil para combater a corrupção, a mensagem: "Você ajudou a limpar Brasília".

O tradicional pão com frutas cristalizadas e uvas passas tornou-se símbolo do escândalo porque é a alegação oficial de Arruda para justificar os vídeos em que os envolvidos trocam maços de cédulas e até rezam pelo esquema. Tudo seria para doar panetones a crianças pobres.

Outros escândalos e os games
O primeiro escândalo de corrupção a ganhar as telas de vídeogames e computadores foi o que envolvia o então presidente Fernando Collor de Mello. Com o nome "Roxo", o objetivo do passatempo era acertar a figura de um caricato mandatário – com faixa presidencial a tira-colo – com um martelo. Ao garantir o sucesso da empreitada, o pequeno Collor no joguinho, seu membro ganhava a cor roxa e surgia um balãozinho com o dizer: "Ui!". Tudo em alusão à declaração do próprio alvo da piada, ainda em campanha eleitoral, de que ele teria "aquilo roxo".

Mais recentemente, presidentes do Senado ganharam suas sátiras no mundo dos games. Dance Renan permite que o jogador "comemore" o fato do senador alagoano ter se livrado das acusações de corrupção. Naturalmente, como a Culpa é do Lula, é o presidente quem dá a nota pelas danças. Não encontrei nenhum relacionado à Mônica Veloso.

José Sarney, atual mandatário da Casa, também viu das suas. Derruba Sarney, em que é preciso acertar o imortal das letras – e do planalto central – com cocos, melancias e outras frutas disparadas por um canhão. Para isso, é preciso também acertar outros senadores da situação e da oposição, de Eduardo Suplicy a Álvaro Dias, de Romero Jucá a Jader Barbalho.

O ex-presidente bigodudo também é "homenageado" com o Chute o Sarney que, como sugere o nome, envolve acertar o traseiro de um amapaense ex-maranhense em trajes de de velho oeste estadunidense. Nem chutado nem derrubado. Sarney continua presidente do Senado.

Antonio Carlos Magalhães Neto também foi alvo do Grampinho não, para "não deixar o grampinho baixar em Salvador". O contexto era o da eleição municipal de 2008 que, pode até não ter sido decisivo, mas o neto de ACM – promotor de grampos telefônicos contra metade da Bahia lá pelos idos de 2002 e 2003 – não venceu as eleições.

Claro que Lula e Dilma também são protagonistas. O Pac-man faz o trocadilho entre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com o clássico dos games. Não encontrei mais esse trem no ar.

Quem será o próximo político a ser satirizado em um game para desocupados no escritório? Ou para garantir nossa pauta de fim de ano?

segunda-feira, dezembro 28, 2009

E Juscelino só conseguiu apaziguar com cerveja...

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No livro "História e causos", publicado pela FTD em 2005, o sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002) relembra a teimosia de seu irmão Leonardo (1918-1961) durante uma visita do então presidente da República Juscelino Kubitschek (foto) ao Parque do Xingu. Vale destacar a diplomacia de JK para resolver o imbróglio:

Leonardo controlava os barcos do posto. A filha do Juscelino resolveu passear com o namorado e pediu que lhe preparassem um barco. Leonardo disse que não, pois os barcos estavam lá para atender aos índios e não para levar as pessoas para passear. A moça queixou-se para dona Sara, que, debalde, tentou convencer Leonardo. A coisa esquentou e chegou aos ouvidos o chefe da guarda de Juscelino, conhecido por sua truculência. Mas o Leonardo também era duro!
Já estávamos vendo que a situação ficaria difícil. Também tentamos convencer o Leonardo, que não deu a menor bola. Quando o chefe da guarda ia descendo a barranca para a margem do rio, Juscelino gritou:
- Espere que eu também vou.
Quando chegou na beira do rio, a confusão já estava feita. Juscelino então perguntou ao Leonardo:
- O que está acontecendo?
Leonardo, com um boné enfiado na cabeça, respondeu rispidamente:
- Essa moça está querendo passear de barco com o namorado, e eu disse que não há barcos disponíveis.
Juscelino ficou pensativo por alguns instantes e então disse:
- Ora, se você está dizendo que não tem barco, então está dito!
Mandou todo mundo embora e então, em tom apaziguador, perguntou ao Leonardo onde é que eles poderiam tomar uma cerveja. O Leonardo fez menção de não responder. Eu, que nessa altura já estava com uma raiva desgraçada, dei um beliscão nele que o fez balbuciar:
- Lá no meu rancho.
Juscelino concordou e, olhando para mim, disse:
- Seu irmão é duro!
Eu respondi:
- Não, presidente, ele é grosso mesmo!
Anos mais tarde, quando soube da morte do Leonardo, Juscelino me disse:
- Se eu tivesse tido meia-dúzia de homens como o Leonardo, teria mudado o Brasil!

domingo, dezembro 27, 2009

Os dez mais lidos do Futepoca em 2009

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Com especulações rolando à solta no futebol (sendo que 90% não se tornarão realidade), jogos de amigos de não sei quem contra amigos de não sei que lá, congresso nacional em recesso (que raro) e políticos de férias, falta assunto para a imprensa em geral, quem dirá para o pessoal do Futepoca, em ritmo de merecido recesso. Por isso, e como é época de retrospectiva, publicamos os dez posts mais lidos de 2009. Se você ainda não leu, é tempo:

10 - Flamenguistas prometem até comitiva de travestis para receber Ronaldo

Ah, o ressentimento... Como vingança das falsas juras de amor do Fenômeno à torcida rubro-negra, alguns torcedores começaram a organizar uma recepção calorosa para o hoje corintiano quando ele fosse ao Maracanã. Relembre.

9 - A arte de ser moleque e beber qualquer coisa

Ah, quando se é jovem o fígado parece nunca se render à razão e ao bom senso. O resultado (que é cobrado mais pra frente) são experimentações de bebidas e drinques de gosto e qualidade pra lá de duvidosos... Confira aqui.

8 - O manual da Maria Chuteira

A modelo Nives Celsius resolveu dar uma ajuda a quem quiser fisgar um jogador de futebol como ela fez. Para tanto, resolveu circular dicas e informações valiosas como “confortar sexualmente após uma derrota é sempre bem pensado”. Mais pérolas desse naipe aqui.

7 - Palmeiras virou porco há 40 anos

Uma provocação que resultou na mudança do mascote de um time. Se você ainda não sabe, veja as origens do apelido que os palmeirenses hoje ostentam diante dos adversários. O post é esse.

6 - Ideia de bêbado

A incrível história de como um manguaça teve a brilhante ideia de escolher uma foto de tiração de sarro que retrata um verdadeiro "açougue humano" para a capa de uma coletânea dos Beatles nos Estados Unidos. Conheça.

5 - Por que você torce para o seu time?

Pais, tios, padrinhos, amigos, moda... Afinal, o que fez com que você virasse um sofredor apaixonado (ou não) pelo seu time. Saiba o que pode levar alguém a escolher sua camisa e evite riscos de seu filho torcer para outra equipe. Aqui.

4 - Entenda - finalmente - como funciona o ranking de seleções da Fifa

Papo de muitas discussões em mesa de bar, o ranking da entidade futebolística é mais contestado que aprovado, mas pouco entendido. Descubra como funciona e quais são os critérios adotados pela Fifa e veja se é justo ou não. Confira.

3 - O marketing viral e a Nike

Embora tenha sido escrito em 2008, o post continua sendo dos mais lidos do blogue, já que causou uma série de discussões a respeito da relação entre a publicidade e a blogosfera. Leia ou releia aqui.

2 - Boa causa para alavancar a orgia

A história de dez prostitutas paraibanas que decidiram doar uma noite de seu trabalho para resgatar uma dívida da Associação das Profissionais do Sexo da Paraíba (Apros-PB). Veja como a vida imita a arte - ou vice-versa - aqui.

1 - Decotes e roupas curtas: essa é a tática dos banqueiros para "conquistar clientes"

Post-denúncia sobre uma ex-bancária cujo empregador a obrigava a se insinuar para os clientes para cumprir as suas metas de vendas. Relembre ou conheça esse fato absurdo nesse texto.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Na cachaça tudo posso!

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Essa eu ouvi ontem em um bar de madeira nas margens da estradinha que liga os municípios de Cândido Rodrigues e Fernando Prestes, no interior de São Paulo: há uns 30 ou 40 anos, os donos de uma rádio local ofereceram uma bolada para dois manguaças subirem na torre da emissora para trocar uma lâmpada. Era muito dinheiro, eles nem conseguiam se imaginar com aquela soma nos bolsos. Munidos de correias, cintos e a nova lâmpada, pegaram suas bicicletas e foram até o local. A torre tinha quase 50 metros e não parecia muito firme. O primeiro deles ajeitou o cinto, abraçou a torre com uma corda e começou a subir. No meio do caminho, berrou:

- Ah, compadre, não vai dar, não! Muito perigoso! Vou descer!

O outro deu risada do colega e se preparou para subir e cumprir o serviço.

- Sai pra lá, medroso! Por esse dinheiro eu subo até o céu, deixa eu te mostrar.

E começou a subir, bem mais ligeiro, como se já visse em sua frente o saco de dinheiro - e as pingas que tomaria com tudo aquilo. Mas a torre começou a vergar temerariamente e, mesmo tendo ultrapassado a metade da distância, teve que entregar os pontos.

- Ah, companheiro, isso vai cair! Não tem jeito, vai desabar! Vou sair daqui!

Derrotado, desceu e compartilhou a aflição do amigo. Não era possível desistir daquele dinheiro, nem passar a vergonha de ter assumido um compromisso e não cumpri-lo por medo. Com esses maus pensamentos na cabeça, cada um deles ainda fez mais duas tentativas, todas invariavelmente fracassadas. Desolados, pegaram os equipamentos e as bicicletas e rumaram para o boteco mais próximo, para afogar o vexame. Logo que chegaram, o dono do bar indagou sobre o serviço e, sabendo que não tinham conseguido, soltou uma gargalhada. Logo a notícia se espalhou, para zombaria completa dos bêbados e fofoqueiros.

- Que vergonha, hein, compadre? Que que nós vamos dizer lá na rádio?

- Nem me fale, não gosto nem de pensar. E o dinheiro? Nunca mais na vida a gente vai ter uma oferta dessas!

E derrubaram o primeiro, o segundo, o terceiro, até o décimo copinho de pinga cada um, para anestesiar a decepção. De vez em quando, notavam pelo rabo do olho os risinhos de escárnio dos frequentadores do bar. No décimo primeiro copo, um dos amigos decidiu:

- Ah, eu posso morrer e nem receber o dinheiro, mas a vergonha de ter prometido uma tarefa e não ter feito, isso eu não levo pro túmulo! Vou voltar lá!

- Tá certo, compadre! Eu vou junto. E se precisar morrer também, eu morro. Mas não passo esse vexame.

E lá se foram de volta. Ninguém sabe ao certo o que (ou como) aconteceu, pois não se teve mais notícias dos manguaças por aquelas bandas. Mas que a lâmpada nova estava rosqueada lá no alto, ah, isso estava sim....

Metáforas futebolísticas prometem animar ano eleitoral

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Foto: Reprodução

Bola pra frente que 2009 já era, pelo menos em termos esportivos. Etílicos jamais, afinal, sempre é hora de tomar umazinha, mas quanto ao cenário político ainda tem muita gente enrrolada, esperando os segundos para a virada do ano.

Aliás, 2010 será um ano eleitoral que promete regar de emoções nossos dias. Não faltarão denúncias, alfinetadas, a imprensa repercutindo cada detalhezinho estúpido das campanhas, pesquisas de intenção de voto, políticos tentando salvar seus empregos e, claro, não vai faltar a tradicional prefêrencia pela metáfora futebolística que nosso presidente Lula tanto gosta utiliza. Em 2009, a quantidade de metáforas foi fantástica, mas no final do ano o presidente caprichou.

Em uma fala só, Lula propagou vários conceitos do esporte sagrado da terra brasilis. Em entrevista a uma rádio carioca nesta terça-feira, 22, o presidente explicou a importância de pensar coletivamente. "Às vezes você tem um cara extraordinariamente bom de bola, mas na hora de escalar, você escala um que, taticamente, vai cumprir uma função melhor para o time. Ou seja, não basta o cara ser bom de bola. O cara tem que, primeiro, saber trabalhar em equipe, saber que jogo não se ganha sozinho, e saber que dos 11 em campo, cada um tem uma tarefa e cada um tem que participar da vitória", afirmou o presidente. Em seguida o radialista perguntou se Serra poderia ser um bom técnico. Lula respondeu "Ah, não. Eu acho que não seria mesmo".

Em um café da manhã com jornalistas na última segunda, Lula afirmou que "dois Tostões" não teriam necessariamente resultados positivos - em referência a uma eventual chapa tucana formada pelos governadores de SP e de MG, José Serra e Aécio Neves. Como resposta, o presidente do PPS, Roberto Freire, afirmou que os tucanos tem "dois craques, já eles (os petistas) uma perna de pau". Já o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, agradeceu Lula por reconhecer os craques tucanos. "Tenho que agradecer ao presidente Lula porque reconhece os raques da nossa seleção. Agora não vejo problema em escalar dois craques, como Tostão e Pelé na Copa de 70", respondeu o senador tucano. Teve também a contestação do governador José Serra, que afirmou que dois bons jogadores podem sim atuar no mesmo time. "Acho que, quando o jogador é muito bom, dá para duplicar. Dá-se um jeito de colocar os dois em campo. "Mas, quando questionado se a mesma teoria pode ser aplicada à política, Serra disse: "Vamos pensar a respeito."

Ano de Copa e de eleição, 2010 promete.

Em tempo
O promotor de Justiça Militar Mauro Faria de Lima apresentou nesta segunda-feira, 21, denúncia no TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) contra os coronéis da Polícia Militar do Distrito Federal Luis Henrique Fonseca e Silva Filho, por lesão corporal. Os dois foram os responsáveis pela coordenação da operação que acompanhou uma manifestação contra a série de denúncias do governo Arruda (ex-DEM) e que acabou em pancadaria e truculência da polícia. Caso a denúncia seja aceita pela Justiça Militar e os coronéis sejam condenados em um eventual julgamento, a pena para lesão corporal leve é de três meses a um ano de detenção.

terça-feira, dezembro 22, 2009

PQFMTMNETA 9 - O dia em que um Preá virou herói (2008)

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PQFMTMNETA é abreviação para "Parece que faz muito tempo, mas nem é tanto assim". Série que iniciei no Futepoca em novembro de 2008 e que, por esquecimento, permaneceu sem atualizações desde abril deste 2009 que está acabando. A ideia é Nesse espaço mostrare eventos do futebol acontecidos há, no máximo, cinco anos, que causaram polêmica na sua época, e que depois caíram no esquecimento. Agradeço sugestões!


PQFMTMNETA 9 - O dia em que um Preá virou herói (2008)

Palmeiras e Portuguesa se enfrentavam no Parque Antarctica pela 17ª rodada da primeira fase do Campeonato Paulista de 2008. Depois de uns tropeços iniciais (com direito a uma derrota por 3x0 para o Guaratinguetá), o Alviverde se aprumava e dava mostras de ser o melhor time da competição. O grupo comandado por Vanderlei Luxemburgo ostentava uma invencibilidade de oito jogos e uma sequência de cinco vitórias consecutivas - duas delas nos clássicos contra Corinthians e São Paulo.

A classificação para as semifinais parecia de certo modo garantida, mas não convinha vacilar.

Do outro lado, a Portuguesa fazia uma campanha intermediária mas ainda almejava a classificação para as semifinais. Vencendo no Parque Antarctica e triunfando também nas duas partidas que restavam - e com alguns tropeços dos concorrentes - a Lusa ainda poderia beliscar uma posição entre os quatro melhores do torneio.

Mas o jogo passou e o Palmeiras não conseguia furar o bloqueio luso. A Portuguesa atacava vez ou outra, mas o que mais se via no Palestra Itália era um Palmeiras que detinha a posse de bola mas que não transformava isso em chances claras de gol.

Até que aos 48 do segundo tempo a bola foi alçada na área lusitana. E, segundo aquele roteiro típico da dramaticidade que só o futebol pode proporcionar, pipocou por entre pés, mãos e cabeças até alcançar a chuteira de Jorge Preá, que a estufou para as redes.

Um gol histórico, emocionante, que marcou a campanha do Palmeiras naquele campeonato - que, como se sabe, culminaria no título paulista, obtido após uma fácil final contra a Ponte Preta e uma gaseificada semifinal contra o São Paulo.

Jorge Preá comemorou a conquista e colocou a faixa de campeão paulista no peito. Mas não teve vida longa no Parque Antarctica. Poucos meses depois de ser herói foi emprestado ao Atlético-PR, como contrapeso na transação que levou o zagueiro Danilo ao Verdão. Também não se destacou no Furacão, e pouco depois estava no Bragantino. Mais insucesso: sua passagem na terra da linguiça não foi das mais memoráveis, e a partir do Paulistão de 2010 Jorge Preá tentará a vida no Mogi Mirim, onde terá como companheiro o volante Baraka.

Seu retorno ao Parque Antarctica poderá acontecer logo na primeira rodada do Paulistão 2010 - Palmeiras x Mogi é um dos jogos que abre o certame. Resta saber como a torcida alviverde recepcionará Jorge Preá que, em 26 de março de 2010, foi o maior herói da história do Palmeiras, ao menos naquele dia.

Cerveja está liberada para a ceia, diz ambientalista

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A cerveja está liberada para a ceia de natal e ano novo. A análise é de Adalberto Marcondes, jornalista especializado em temas ambientais, quando questionado sobre formas de se garantir uma ceia sustentável, quiçá carbono-neutro.

Foto: Alexandre Jaeger Vendruscolo/Sxc.hu
A principal recomendação são atitudes e consumo preocupados com o ambiente sem "perder de vista que qualidade de vida também é ter acesso a algumas coisas que dão prazer".

Tudo o que emite muito gás de efeito estufa vale a pena ser evitado. Isso inclui vinhos europeus, porque o transporte – especialmente o aéreo – emite muito carbono para alcançar mais de 800 quilômetros por hora em velocidade de cruzeiro. O melhor seriam vinhos orgânicos produzidos o mais perto possível. Mas se não rolar, no máximo chilenos ou argentinos.

Refrigerantes podem ser abolidos. Em seu lugar, a receita são sucos de fruta, porque a produção do "suco negro do capitalismo" usa muito carbono. Pelo jeito, nem água com gás nem tônica se salvam.

No caso da cerveja, vale a mesma máxima do vinho: preferência por marcas orgânicas e produzidas em regiões próximas. A questão é que a gelada não tem jeito de ser substituída à altura. Então, já para a mesa.

Todas as recomendações, incluindo misturas, entradas e acompanhamentos, estão na reportagem de Suzana Vier.

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Final justo no Mundial de Clubes

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O duelo entre Estudiantes e Barcelona que, no sábado, definiu o Campeonato Mundial de Clubes, passou longe, mas bem longe de ser uma boa partida de futebol. Foi mais algo próximo de uma pelada, como o Manchester x LDU do ano passado.

Assisti o jogo a partir do segundo tempo, então, se a primeira metade da partida foi diferente, por favor acrescentem informações nos comentários. Mas o que eu vi foi um Estudiantes acuado, com má qualidade mesmo, refém de um Barcelona que martelava, martelava e martelava, mas sem a eficiência necessária.

Ganhando de 1x0, o Estudiantes abriu mão completamente de qualquer tentativa de ataque. A análise de Mauro Cézar Pereira, que comentava o jogo pela ESPN, foi precisa: mais do que um "recuo para garantir o resultado", o que acontecia com o Estudiantes era uma imposição determinada pelo adversário. Só o Barcelona jogava.


Mas custava a vencer. Tanto que só empatou no último instante do segundo tempo; na prorrogação, com mais qualidade técnica e condicionamento físico, obter a virada era questão de tempo. E ela veio, com Messi - que teve uma partida mais do que apagada mas, por circunstâncias do futebol, acabou o jogo como herói. Ainda conquistou o prêmio FIFA de melhor do campeonato.

De certo modo, o jogo de sábado seguiu um roteiro de tantas e tantas partidas que vimos por aí: um time de menor qualidade acha um gol e inicia um bate-rebate desesperado implorando para que o jogo acabe. Seria injusto o Estudiantes levantar a taça. Parabéns, Barcelona!

E com o triunfo, a Europa empata o placar com os sul-americanos na somatória de todos os torneios - agora são 26 conquistas pra cada lado.