Destaques

quinta-feira, outubro 28, 2010

Liberdade de imprensa no dos outros é refresco

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Liberdade de imprensa e de expressão é um dos temas frequentemente discutidos e reportados aqui no Futepoca, até porque somos nove profissionais da comunicação e o próprio blogue é mais um espaço a defender a pluralidade de informações e opiniões. Recentemente, o governo Lula vem sendo atacado por supostamente querer "controlar" ou, mais explicitamente, "amordaçar" a mídia. Mentira - e ninguém melhor para botar os pingos nos is do que o próprio presidente: "Muitas vezes, uma crítica que você recebe é tida como democrática, e uma crítica que você faz é tida como anti-democrática. Como se determinados setores da imprensa fossem acima de Deus e que ninguém (deles) pudesse ser criticado. (...) No Brasil, a imprensa deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e que tem um partido. E que falasse. Seria mais simples, mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", disse Lula, para o site Terra.

"Mas eles preferem fingir que não têm lado e fazem crítica à todas as pessoas que criticam determinados comportamentos e determinadas matérias. (...) Quando nós tomamos a decisão de fazermos a Conferência da Comunicação, determinados setores da imprensa não quiseram participar e acharam que aquilo era anti-democrático. Eu não sei qual é a preocupação que as pessoas têm de a sociedade discutir comunicação. Mas o Brasil vai ter que estabelecer um novo marco regulatório de telecomunicações", acrescentou (veja a ÍNTEGRA AQUI).
Lula cutucou onde a ferida mais incomoda os donos do meio de comunicação: a apregoada liberdade de imprensa defendida por eles é totalmente relativa, pois o foco depende do lado político que eles defendem ou atacam. Mais precisamente sobre o candidato José Serra, do PSDB, conhecido pela hipocrisia com que defende a tal liberdade da imprensa ao mesmo tempo que não dialoga e chega mesmo a calar jornalistas que não o agradam.

Em 27 de setembro, a então candidata à presidente Marina Silva, do PV, já advertia: "Tenho ouvido reclamações nos últimos dias que o ex-governador José Serra tem ficado nervoso quando fazem perguntas que ele não gosta. Ouço também relatos de que há uma tentativa de intimidação dele aos jornalistas. Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa. Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule. Serra constrange e tenta intimidar jornalistas". Não por acaso, Marina usa hoje seu blogue para criticar o "vale-tudo" de Serra nessa campanha eleitoral.

Sendo assim, por estarmos a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, penso ser interessante apontar esse jogo sujo (mais um) da chamada "grande mídia" brasileira, que tenta construir um Lula "ditador" e "censor" contra o verdadeiro merecedor desses adjetivos, o candidato tão protegido e blindado pelos próprios meios de comunicação. Reproduzo abaixo uma reveladora sequência de eventos que mostram o quão defensor da liberdade de imprensa José Serra é (e que poderia ser ainda pior, se investido do poder de presidente da República), a partir de uma lista feita pelo jornalista Antônio Biondi para o blogue O Escrevinhador. Vale a pena ler até o final. A arrogância e tirania impressionam pela constância e pelo descontrole emocional:

29 de maio de 2009
Vítima: Estadão/ repórter Sandro Villar. Escreveu o Estadão: "A entrevista coletiva foi tumultuada. A segurança reprimiu os jornalistas com certa dose de truculência. O governador fugiu das perguntas políticas. Ao ser perguntado pelo repórter do Estado se faria dobradinha com Aécio Neves na eleição para a presidência, Serra se irritou. "Pensei que você veio para perguntar sobre o hospital", respondeu (em referência a uma pauta publicada). Um segurança agarrou o repórter na frente do governador, que condenou a atitude do jornalista (!) e soltou um sonoro palavrão impublicável. Villar declarou, em correspondência a Luis Carlos Azenha: "Não faz muito tempo surgiram informações de que o Serra foi submetido a um cateterismo realizado secretamente na calada da noite. Eu queria perguntar isso ao governador para ele desmentir ou não. Mas, pela segunda vez, fui agredido pela segurança de Sua Excelência. Protestei e disse que nem na época da ditadura militar fui tratado com tanta truculência".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio CBN/ comentarista Miriam Leitão. Em entrevista pela manhã, Miriam perguntou se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era "brincadeira". Em seguida, disse, ríspido: "Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!". Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Miriam: "O que você está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem".

10 de maio de 2010
Vítima: Rádio Nacional. Relato da Folha de S. Paulo: "Um repórter da Rádio Nacional, emissora estatal, perguntou se o tucano acabaria com o Bolsa Família. Serra reagiu de forma ríspida. 'Por que a pergunta? Porque disseram para você que eu vou acabar? Então eu gostaria de saber a fonte. Isso é uma mentira total', afirmou. Em outro momento de irritação, Serra não quis detalhar sua posição referente à divisão dos royalties do pré-sal. 'Não vou ficar repetindo.' Assessores de Serra procuraram repórteres para pedir desculpas pelo tom do tucano, que chegou ao evento com 40 minutos de atraso".

22 de junho de 2010
Vítima: TV Cultura/ mediador Heródoto Barbeiro. "Como o estado poderia prestar serviço não cobrando pedágios tão caros como são cobrados no estado de São Paulo? A gente viaja por aí e as pessoas reclamam que para ir de uma localidade à outra custa R$ 8,80″, questionou o jornalista. "Você tá transmitindo o que o PT vive dizendo", acusou Serra. O candidato afirmou que o modelo de privatização de rodovias de São Paulo passou por mudanças em seu governo. "Nós mudamos o modelo de concessões e os pedágios baixaram em relação aos elementos anteriores". Ao final da discussão, Serra classificou as indagações do jornalista de "trololó petista" e condenou Barbeiro por não apresentar resultados do governo tucano em São Paulo. "Essas perguntas têm sempre de vir acompanhadas de resultados", exigiu o tucano. Logo depois, Barbeiro deixou a bancada do programa, dando lugar a Marília Gabriela.

Julho de 2010
Vítima: Rádio Mirante AM, do Maranhão/ repórter Mário Carvalho. Serra irritou-se quando foi perguntado sobre o que faria para diminuir sua rejeição no Nordeste. Respondeu: "Onde você viu essa informação? Você está fazendo campanha para Dilma". "No Ibope e no Datafolha", disse Carvalho. "De qual emissora você é?", inquiriu Serra. "Da Mirante AM". "Não é rádio do Sarney? Eu não sei aonde você viu isso. Vamos fazer uma coisa, você quer fazer propaganda pra Dilma? Eu acho legítimo que sua rádio e você faça campanha para Dilma. Não tenho nada a me opor. Agora não venha falar mentira. Tudo bem, faz a campanha direto", despejou, gritando, o candidato do PSDB.

16 de julho
Vítima: TV Globo/ Fábio Turci. Segundo Mino Carta, o repórter dirigiu à Serra uma pergunta sobre juros. O perguntado não escondeu sua irritação, e indagou com a devida veemência: "De onde você é?". Turci esclarece ser da Globo. E Serra, de pronto: "Ah, então desculpe".

7 de agosto de 2010
Vítima: TV Cultura/ Gabriel Priolli. No final da tarde, Fernando Vieira de Mello, vice-presidente de conteúdo, chamou Priolli à sua sala para comunicá-lo de seu afastamento da direção de jornalismo da emissora. O episódio aconteceu apenas 5 dias depois de Priolli assumir o cargo. Ele havia encomendado uma reportagem sobre pedágios no estado de São Paulo. A Folha escreveu sobre o episódio: "Nos corredores da emissora e na blogosfera, circula a informação de que, por trás da saída de Priolli, está uma reportagem sobre problemas e aumento nos pedágios. A reportagem teria sido 'derrubada' – jargão para o que não é veiculado – por Mello. 'A reportagem não foi ao ar na quarta-feira por uma razão simples: não estava pronta', diz Mello. 'Eram ouvidos só [Geraldo] Alckmin e [Aloísio] Mercadante. Em período eleitoral, somos obrigados a ouvir todos os candidatos. Foi isso que fizemos', acrescenta." Escreveu o Observatório da Imprensa: "Explicações complicadas terão que ser dadas pelo candidato à presidência José Serra – acusado de ter pedido a cabeça dos jornalistas."

23 de agosto de 2010
Vítima: TV Brasil. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se irritou com uma pergunta de uma jornalista da TV Brasil, emissora estatal, sobre o fato de a propaganda na TV completar uma semana hoje e a expectativa
do tucano de conseguir reagir nas pesquisas. "Pergunta lá pro seu pessoal na TV Brasil. Eles têm uma opinião", disse Serra.

15 de setembro de 2010
Vítima: CNT/Gazeta/ entrevistadores Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Serra irritou-se durante gravação e ameaçou deixar o programa "Jogo do Poder", da CNT, comandado por Márcia Peltier e Alon Feurwerker. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam "perdendo tempo" com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo "os argumentos do PT". Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio. "Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim", disse Serra, reclamando que a entrevista não era um "troço sério". Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: "Isso aqui está um programa montado." A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.

28 de setembro de 2010
Vítima: Folha de S.Paulo/ repórter Breno Costa. Em Salvador, diálogo entre o repórter Breno Costa, da Folha, e o candidato do PSDB. "Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a [sua] estratégia?". Resposta de Serra: "Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez". Sobre a matéria, explicação da Folha: "Serra referia-se à reportagem que mostrou ressalvas feitas por técnicos do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo no ano de 2009, quando ele era governador. As objeções técnicas do TCE-SP, que aprovou suas contas, referiam-se a ações que, hoje, fazem parte da lista de promessas do tucano".

13 de outubro de 2010
Vítima: Valor Econômico/ repórter Sérgio Bueno. O repórter fez pergunta sobre Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. E ouviu do candidato: "Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral. Eu sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos". Horas depois, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, ensinou: "O jornalista [Sérgio Bueno] só estava fazendo o trabalho dele, que é perguntar. Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem".

Que esses fatos lamentáveis ajudem os eleitores a pensar muito bem até o próximo dia 31.

Diferença abissal entre o pré e o pós Lula

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Ontem listei, no post sobre o aniversário do presidente Lula, alguns exemplos de como seu governo ultrapassou todas as expectativas na distribuição de renda e no combate à desigualdade social. Naquele mesmo momento, o sociólogo e jornalista Joelmir Beting listava outros cinco índices que comprovam o sucesso desse projeto econômico e político (no vídeo abaixo). Assim, fica muito fácil decidir em quem votar no dia 31.

Água gelada (potável) e cerveja aguada (bebável)

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Conversando com meu colega carioca João Lacerda (legítimo sobrinho-neto daquele Lacerda), perguntei o motivo de a Skol ser a cerveja preferida no Rio de Janeiro. Resposta sincera:

- É que o Rio tem clima quente o ano todo, dá muita sede e todos acabam preferindo uma bebida alcoólica que lembre água gelada...

Depois, o João me mostrou um post do professor de Linguística da Unicamp, Sírio Possenti, sobre uma propaganda dessa mesma marca de cerveja:

BEBABILIDADE? - Uma fábrica de cerveja botou propaganda na praça dizendo que seu produto não dá aquela sensação de barriga estufada. Termina afirmando que sua cerveja tem bebabilidade. Não quero discutir com publicitários (se nem com os de campanhas políticas, imagine com os de cervejas!). Mas aproveito a deixa para uma consideração. "Beber" é verbo da segunda conjugação (como "mexer"). Uma coisa que pode ser bebida é uma coisa bebível (potável, claro, mas essa é outra história), assim como uma coisa que pode ser mexida é mexível.

Se uma coisa é bebível, ela tem... bebibilidade. Para ter bebabilidade, a cerveja teria que ser bebável, de um hipotético verbo "bebar". Talvez o "erro" se explique. A conjugação produtiva é a primeira. Todos os verbos novos (neologismos ou estrangeirismos) são da primeira conjugação. Pode ser por isso que uma palavra nova, inventada, mas derivada de um adjetivo que deriva de um verbo, "faça de conta" que se trata de um verbo da primeira conjugação. Mas eu preferia que a cerveja fosse bebível. Cerveja não pode ser só potável.




Curioso é que a tal propaganda de um "novo tipo" dessa marca (acima) diz que ela "não estufa e não empapuça". Ora, bolas, então reconheceram que não é mesmo cerveja de verdade! Pelo menos para o meu paladar, de potável só tem a (cada vez mais predominante) água. Bebível ou bebável, deixo para os cariocas.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Lula 65 - Início na política com futebol e cachaça

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Hoje o nosso presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemora 65 anos com mais de 80% de popularidade e terminando sua gestão com a certeza absoluta de que o Brasil está hoje, inegavelmente, milhões de vezes melhor do que há sete anos, quando iniciou seu primeiro mandato. Os 28 milhões que saíram da linha da miséria, os mais de 30 milhões que ascenderam à classe média, os quase 15 milhões que conseguiram emprego com carteira assinada, as milhões de crianças e famílias amparadas pelo Bolsa Família, os mais de 700 mil que realizaram o sonho de chegar à faculdade pelo ProUni, além dos milhares que tiveram acesso à energia elétrica e que puderam comprar ou reformar sua casa própria com as facilidades inéditas da Caixa Econômica Federal são as principais testemunhas da transformação fantástica da sociedade brasileira no período. E de que, com certeza, "nunca antes na História deste país", o estado fez tanto para tantos - e o mais importante, para os tantos que mais precisam.

No esporte, entre múltiplas iniciativas, o governo Lula marcou verdadeiros gols de placa ao disputar de conquistar o direito de sediar a próxima Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas de 2016. Há dez anos, se alguém dissesse que o Brasil tinha 0,0001% de chance de trazer um evento de projeção mundial desse porte, seria taxado de louco e rechaçado às gargalhadas. Lula resgatou o orgulho de ser brasileiro, de saber que podemos e fazemos, que confiamos no nosso taco. Algo parecido com o que sentíamos no final da década de 1950 e que logo em seguida foi destroçado pela subserviência da ditadura militar aos ditames de Washington. E esse projeto político que deu e dá certo no Brasil teve e tem suas raízes nos movimentos populares, entre eles, o sindical, dos trabalhadores organizados. Que tomou impulso e direção a partir do momento em que Lula assumiu a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, no ABC Paulista, em 1975.

E o mais interessante, que registro aqui nesse post a partir do título, é que o gênio político e intuitivo de Lula buscou no futebol e na cachaça sua primeira estratégia de atuação. Logo, nosso presidente tem tudo a ver com o Futepoca, ou seja, Futebol, Política e Cachaça. No livro "O sonho era possível - A história do Partido dos Trabalhadores narrada por seus protagonistas", compilação de entrevistas feita pela jornalista e pesquisadora chilena Marta Harnecker (Editora Mepla/Casa América Livre, Cuba, 1994), Lula afirma que sua primeira decisão no sindicato foi a de ir às fábricas, em vez de ficar esperando que os trabalhadores comparecessem às assembleias, o que nunca acontecia. Aliado a isso, ele imaginou uma forma infalível de fazer com que os operários fossem conscientizados politicamente ao mesmo tempo que se divertiam. Diz Lula, no livro:

Um dia, discutimos na diretoria como é que íamos fazer para o trabalhador pegar confiança na gente. Sabe o que eu fiz? Eu marcava campeonato de futebol: a diretoria do sindicato contra a seção de uma fábrica. A gente ia e antes de começar o jogo eu falava cinco minutos com os trabalhadores. Depois a gente tomava umas cervejas, tomava chope, fazia churrasco. Em pouco tempo conseguimos criar uma nova consciência: a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) era uma lei, a Constituição era uma lei, mas tem um espaço político importante para a gente atuar. Em pouco tempo, um sindicato que era esvaziado e que ninguém participava, lotava em todas as assembleias.

Convenhamos: é ou não é um craque? Show de bola na política - e na cachaça também! Vamos brindar ao Lula e à sociedade civil organizada, que já mudou e que vai continuar mudando este país para muito melhor. Saúde, Lula!

Prossegue a campanha de esgoto do PSDB

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Daí eu pergunto, senhor José Serra: isso é ser "do bem"?

terça-feira, outubro 26, 2010

Polvo Paul bate as (oito) botas

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Assim como alertamos há três meses, o badalado polvo Paul não durou mesmo até a Eurocopa e foi comer alga pela raiz, digo, faleceu ontem na Alemanha, causando comoção mundial. Curioso é que sua morte ocorre somente alguns dias após um parente seu, brasileiro, ter se metido a fazer "advinhações" duvidosas sobre política. Teria esse fato desagradável causado tal desgosto no original inglês que acelerou sua morte? Nunca saberemos. O fato concreto é que, no final, tudo vira paella. Ah, e alguém advinha se vamos ou não beber o morto? Se bobear, com direito até à "dança do polvo bêbado":

Elementar, meu caro garçom!

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Essa foi a informação que faltou na materinha preconceituosa de Larry Rohter sobre o presidente Lula: pessoas inteligentes bebem mais! Isso mesmo. Dois estudos, um do National Child Development Study, no Reino Unido, e outro do National Longitudinal Study of Adolescent Health, dos Estados Unidos (pátria de Rohter), revelaram que crianças e adolescentes de até 16 anos avaliadas como mais inteligentes, quando cresceram, passaram a beber com mais frequência e em maiores quantidades do que as menos inteligentes. Em ambas as pesquisas, os grupos pesquisados foram divididos em cinco classes cognitivas: "muito burro", "burro", "normal", "esperto" ou "muito esperto" (muito científico, não?).

Os hábitos alcoólicos das crianças estadunidenses foram acompanhados por sete anos após o início do estudo; já as inglesas foram monitoradas por mais tempo, até os 40 anos. Na Inglaterra, aliás, os "muito espertos" se tornaram adultos que consumiram quase oito décimos a mais de álcool do que os colegas "muito burros". E isso mesmo considerando as variáveis que poderiam afetar os níveis de bebedeira, como estado civil, formação acadêmica, renda, classe social etc. Ainda assim, o resultado foi inplacável: crianças inteligentes bebem mais quando adultos.

A conceituada revista Psychology Today avaliou a possibilidade de que essa relação entre álcool e inteligência seria um traço evolutivo que começou há cerca de 10 mil anos, quando finalmente surgiu o álcool bebível. Até aquela época, o único jeito de encher a cara era consumindo frutas apodrecidas (talvez a Kaiser seja uma recuperação nostálgica desse paladar...). De minha parte, não faço muita ideia sobre o que relaciona a tendência a beber mais com a "esperteza" de cada um. Sou muito burro pra isso. Vai daí, preciso urgentemente beber alguma coisa!

segunda-feira, outubro 25, 2010

Do vinho e da verdade

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Nas últimas semanas, estive absorvido na elaboração de um livro sobre a pianista Cristina Ortiz, uma das maiores solistas do mundo. Fui visitá-la em sua casa de veraneio na região de Bordeaux, na França, e, em mais de 20 horas de entrevistas, gravadas neste computador, tive o privilégio de compartilhar com ela reflexões sobre tudo o que envolve a arte musical de concerto.

Seria muito tratá-la como um Pelé do piano, mas sem dúvida é algo assim como um Zico. Ou seja, alguém que, como muito poucos, conheceu cada detalhe de sua arte, magnetizou grandes plateias, venceu os maiores concursos, tocou ao lado das mais reputadas orquestras e dos melhores regentes nas principais salas de espetáculo dos cinco continentes. Suas palavras têm o lastro de quem esteve lá, viu, viveu, venceu, e nunca abriu concessões naquilo que é a razão de sua vida: a música.

Essa breve introdução é apenas um pano de fundo, que talvez explique a mim mesmo o quão sensível estive, durante aqueles dias na França, à verdade das coisas. Um elemento indispensável participou de minha intelecção: vinho farto e excelente. Conversávamos regados a vinho local, e quando uma garrafa chegava ao fim, quase que imediatamente eu era interpelado: “Acabou? Qual você quer abrir? Tem este de um chateau a dois quilômetros daqui, este outro quem faz é um amigo que me deu quando toquei lá em etc. etc.”. Tive a oportunidade rara de viver uma imersão no vinho, coisa que, pela tradição latina, é o mesmo que uma imersão na verdade. In vino veritas, diz o bordão. A verdade do próprio vinho, a verdade das coisas que o vinho traz à tona.

Pude, pela primeira vez, acompanhar com minha própria língua a abertura de um vinho. Há vinhos que abrem. Tem gente que prefere esperar que ele se abra antes de começar a degustá-lo. Mas eu, desavisado e ignorante, servi e logo dei minha talagada. Um amargor sanguíneo atiçou as regiões embaixo da língua, fez-me pensar em uma textura áspera. A luz da tarde incidia sobre a velha casa com delicadeza, estava linda, o que aumentava o contraste com meu paladar. Fui caminhando pelo gramado, sentindo a bebida afetar cada parte de meu corpo à medida que seu aroma se revelava com nitidez e ganhava espessura ao redor de mim.

Algo aconteceu. Não era ainda que eu o conhecia, mas sim uma sensação comparável a quando de repente se toca a pele da mulher que começa a se envolver no jogo de sedução. Como se o vinho, depois de apresentado a mim, me oferecesse algo que naquele momento era só nosso, e que me capturava para dentro dele.

Sorvi devagar, contornando a casa pelo jardim, e ao encher a boca e depois o peito, um sabor frutado e doce foi brotando de dentro do sangue. Eu, cada vez mais envolvido, vivendo o paradoxal sentimento de pisar mais firme sobre a terra e, a um só tempo, transcender a pele das coisas, me percebi amando o vinho, que se abria cada vez mais surpreendente, com um sabor claro, impactante e nuançado. Este encontro erótico durou ainda alguns minutos.


Sentindo a alma límpida, deixei o copo vazio descansar sobre um tronco e sai a caminhar. Uns passos além do portão e já se margeia os campos de vinhas, que ali estão, sem qualquer proteção de cercas ou muros. Bem próximo de mim, galhos pendiam ao peso dos cachos de uvas pretas de tão maduras. Tomei-as delicadamente nas mãos e constatei o óbvio. Como eu, qualquer um poderia arrancar e deliciar-se com aqueles frutos. No entanto, ninguém o faz, e a prova era aquele cacho em minha mão, frágil, desprotegido. Os vinhedos, que a princípio me pareceram feios e excessivamente disciplinados, com o sol quase horizontal transluziram, como um vitral de igreja ou caleidoscópio, tonalidades de vermelho amarelo e verde.

Devolver as uvas cuidadosamente ao seu lugar foi, para mim, participar do sagrado. E o sagrado, embora experienciado por cada um, só pode ser algo que se compartilha em irmandade. Tive a certeza de que, num lugar onde existe tamanho respeito por aquele elemento mágico que une a todos igualmente em torno de uma mesa para celebrar a comunhão promovida pelo que oferecem generosamente o sol, as chuvas, a terra e seus frutos, as pessoas sem dúvida podem olhar-se nos olhos com simplicidade e dizer o que pensam, sonham e desejam, sem recalcar sua própria casca de convívio num mundo de hipocrisia.

A verdade é, necessariamente, simples.

O olhar direto e cristalino, a palavra clara e o gesto indúbio são coisas que teremos que reconquistar na terra da cachaça, depois do pleito de 2010.

Folha de S.Paulo diferencia o PT, que 'paga' militantes, do PSDB, que só 'dá ajuda de custo'. Ah, tá...

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Sempre disse e continuarei observando que, involuntariamente, o governo Lula acabou fazendo outro enorme benefício para o Brasil: o de desmascarar completamente a mídia elitista, retrógrada e golpista. Veículos de comunidação que tempos atrás - mesmo pendendo para uma posição política de situação e/ou de centro-direita - já foram considerados "progressistas" ou minimamente "sérios" e "equilibrados" na hora de bater ou elogiar, tiraram a máscara e revelaram-se de forma nua e crua com suas essências mais execráveis e grotescas. Exemplo maior é a revista Veja, capaz de armações, distorções e calúnias de proporções nunca publicadas antes de Lula subir a rampa do Palácio do Planalto. Tirando os conservadores, fascistas e demo-tucanos mais empedernidos, a maioria dos antigos leitores hoje têm indisfarçável vergonha de assumir que leem ou já leram essa nojenta publicação.

Mesmo o Jornal Nacional, que surgiu há 41 anos como "boletim oficial" da ditadura militar, passou a ser ainda mais explícito em suas manipulações de pauta e edições vergonhosas de matérias nos últimos sete anos (só pra lembrar de cabeça, a campanha golpista e insistente sobre o "mensalão" do PT, a tentativa de incriminar o governo Lula com "caos aéreo" no acidente da Gol e, agora, o carnaval que envolveu até perito para justificar a falácia da agressão de bolinha de papel contra José Serra). Entre os jornais impressos, o Estadão também teve momentos constrangedores, mas não chega a surpreender porque sempre foi uma voz assumida dos ricos e poderosos. Porém, seu concorrente direto, a Folha de S.Paulo, revelou-se de forma espantosa como o maior libelo de tudo o que não presta e não se deve fazer em termos de "jornalismo".

Depois de esconder o mensalão do PSDB como "mensalão mineiro", de tentar amenizar a ditadura brasileira apelidando-a de "ditabranda", de dizer que Dilma Rousseff seria uma das cabeças do sequestro de Delfim Netto (que não houve!), de publicar um artigo impublicável com a insinuação de que Lula teria tentado violentar (!) um companheiro de cela quando foi preso pelo governo militar, e de responsabilizar Dilma pelo prejuízo que os brasileiros tiveram com o apagão elétrico do governo Fernando Henrique Cardoso (!!), o jornal da família Frias foi descendo ladeira abaixo até quase o mesmo (ou o mesmo) patamar de ridículo e de descredibilidade da Veja. E hoje temos mais uma prova de que, no governo Lula, a Folha, que antes tentava se vender como tendo "rabo preso com o leitor", assumiu o lado político onde prendeu seu rabo e perdeu de vez sua vergonha.

Hoje temos mais um exemplo da cara-de-pau e da canalhice desse "jornal". Em materinha sobre a campanha eleitoral do PT, o título já entrega a maldade: "Idolatria por Lula e militância paga motivam petistas" (o grifo é nosso). Além de apresentar os petistas como "fanáticos", ou seja, sem razão e facilmente manipuláveis, a Folha força a mão na tecla de que trata-se de uma militância que só funciona a base de dinheiro. "Na ausência do presidente, a campanha precisou recorrer a militantes pagos ou de movimentos sociais amigos para encher o salão de festas onde a candidata discursou (no Iate Clube, em Belo Horizonte)". Já a materinha espelhada sobre a campanha pró-Serra é um elogio só, a começar pelo título: "Ideal, antipetismo e ajuda de custo movem tucanos".

E o que seria essa "ajuda" dos "bondosos" tucanos? O mesmo "maldito pagamento" do PT: "Entre tantos militantes 'ideológicos', ainda se vê, no meio das hostes serristas, o velho cabo eleitoral remunerado, aquele sujeito que, em troca de R$ 50, agita durante seis horas consecutivas as bandeiras do PSDB", diz um trecho do texto.

Com licença, vou ali vomitar e nem sei se volto...

Lula com a palavra

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Que me perdoem os que eventualmente discordem, mas é muito emocionante este discurso do Lula, proferido no evento de premiação de empresas organizado pela Carta Capital.

Gostaria que aqueles que o chamam de analfabeto fossem pegos de surpresa por este discurso: a qualidade de seu português, o uso preciso da língua portuguesa, sem nada de empolado, mas com um vocabulário riquíssimo, usado com desenvoltura, a capacidade de manejar o humor e a ênfase, de conquistar a cumplicidade do público e de trazê-lo consigo em sua argumentação, de mostrar apenas com sua presença o homem que é, cuja trajetória e realização não encontra paralelo em ninguém que eu consiga imaginar aqui. Me ajudem, se puderem. Pelé, talvez.

Enumeraria aqui cada trecho, mas seleciono apenas este: “Eu governei oito anos tendo que provar a cada dia a minha existência. (...) A elite brasileira não precisa provar nada, eles erram, afundam o Brasil, e não têm que provar nada. Termina o mandato, vai passar três, quatro anos na Europa, volta e está tudo a mesma coisa. Eu é que tive que provar a cada dia que este país podia dar certo.”



Para se aguardar o seu discurso de despedida da presidência, no dia 1º de janeiro de 2011.

Vida longa!

A rodada ideal

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Vencer o Palmeiras é o que o Corinthians precisava neste momento. Em crise depois de sete partidas sem vencer, com mudança de técnico e a visão da taça se afastando cada vez mais, depois de estar muito mais próximas das mãos alvinegras, vencer o rival de casa revigora a alma e traz de volta a confiança abalada.

Não vi o jogo, mas os melhores momentos abaixo mostram um Corinthians claramente melhor no primeiro tempo, quando fez o gol com Bruno César, e um Palmeiras que se recupera e quase empata no segundo, com a bola parada de Marcos Assunção e bela defesa de Julio César.



Ronaldo quebra o tabu de ainda não ter vencido contra o Palmeiras e Tite tem a melhor recepção possível. Jucilei também se destacou com sua raça e habilidade, como tem sido a regra desde que começou a atuar pelo Timão.

Na tabela, ajudaram bastante a derrota do Cruzeiro para o surpreendente Atlético Mineiro e os empates do Flu e Inter, além da igualmente surpreendente derrota do Peixe.

Agora o negócio é manter a concentração, pois cada jogo será uma final. Que belo campeonato!

domingo, outubro 24, 2010

Patética capa da Veja comprova: a munição acabou

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Uma única coisa me contenta na patética capa da Veja desta semana: a história é tão bizarra, tão non-sense, que comprova que as "cartadas finais" da mídia serrista para virar a eleição, na verdade, não existem. É verdade que isso pode ser perigoso. Sem munição, Serra pode ser capaz de tudo. E não se sabe o efeito que "tudo" pode ter, quando não há tempo para retrucar. Há que ficar a postos.

Para economizar nosso tempo, copio abaixo o post em que o Luis Nassif desconstroi a bravata da ocasião. Quem quiser ler lá no blog dele, clique aqui.

E quando tudo passar, em nome de nossa sanidade e das futuras gerações, teremos a obrigação de fazer um cuidadoso levantamento do que foi essa campanha eleitoral, sobretudo nesses dois últimos meses. Definitivamente, não pode passar em branco.

Veja e a estratégia de Mister M

AS ILUSÕES PERIGOSAS DA REVISTA MISTER M

Veja blefa mais uma vez: não existe fita provando que Abramovai falou o que não disse. Não existe grampo legal nem perícia nem nada. Só cascata.

Veja publicou uma reportagem de 1.581 palavras das quais apenas 14 realmente interessariam se fossem verdadeiras: "Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês". A suposta frase foi atribuída ao secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovai, ganhou destaque na capa da revista, que circulou no sábado, e reproduzida instantaneamente no programa de José Serra na TV.

Se fosse verdadeira, a frase revelaria um fato gravíssimo, de interesse público e com evidentes repercussões no processo eleitoral. Seria motivo para uma rigorosa investigação policial e uma ação do Ministério Público, com vistas a esclarecer que pedidos seriam esses, a quem aproveitavam, quais seriam os alvos, quem seriam os agentes e os mandantes da produção de dossiês.

Ocorre que nem a frase foi pronunciada nem Veja tem como sustentar a veracidade do que destacou na capa (gostosamente reproduzida por Estadão, Globo e Folha). A negativa de Abramovai está escondida no quinto dos nove longos parágrafos da matéria.

Trata-se de mais uma reportagem ao estilo Mister M, que tem caracterizado a produção recente da que já foi a mais importante revista brasileira. É o jornalismo ilusionista, que recorre a uma série de truques para distrair a atenção do leitor e fazê-lo acreditar nos poderes mágicos da reportagem mentirosa.

O primeiro truque, clássico, é socorrer-se do testemunho de sua fonte, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Veja sabe que Tuma Júnior não tem credibilidade para sustentar uma acusação desse teor. Ele foi afastado do governo numa investigação sobre seu envolvimento na concessão fraudulenta de vistos a estrangeiros. É um rancoroso.

O outro truque de Veja é misturar o suposto de diálogo entre Abramovai e Tuma Júnior com uma fitalhada de conversas pela metade envolvendo o próprio Tuma, o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e sua chefe de gabinete Gláucia de Paula.

Veja recebeu mesmo algumas fitas. Malandramente, porém, a revista induz o incauto a acreditar que as 14 palavras atribuídas a Anbramovai fazem parte do mesmo lote de fragmentos de conversas gravadas.

Veja dá-se ao desplante de afirmar que as conversas teriam sido "gravadas legalmente", como tantas outras fitas que chegam às redações desviadas ilegalmente de inquéritos policiais e do Ministério Público. Nesse caso, a revista teria de informar de que inquérito ou ação penal elas teriam sido extraídas, mas não pode fazê-lo porque sabe que isso é falso.

Elas reproduzem fragmentos de conversas entre mais de duas pessoas. Não são grampos, são escutas ambientais, feitas por alguém presente no local da conversa – e Romeu Tuma Júnior é o mínimo múltiplo comum de todas essas conversas.

Se Veja tivesse a fita com a frase atribuída na capa a Abramovai – as 14 palavras que realmente interessam – este áudio já estaria circulando, no site da própria revista, na rede de blogs auxiliares da desinformação, na CBN, no Jornal Nacional e no programa de José Serra.

Antes que o desavisado preste atenção a esse detalhe, está na hora de chamar uma dançarina ao palco. Ricardo Bolina, o perito multiuso, entra em cena para atestar a veracidade das gravações obtidas com exclusividade por Veja. Seu lado é apresentado em fatias, é um biquíni que mostra muito mas esconde o essencial: ele não comprova coisíssima nenhuma.

Vamos exibi-lo quadro a quadro, como está no facsimile da revista:

1) O perito recebeu dois arquivos de áudio

2) O perito tem de verificar se as vozes de Luiz Paulo Barreto e Pedro Abramovai ocorrem nessas amostras e se houve algum tipo de montagem

3) O perito constata que não houve alteração ou trucagem nos arquivos

4) O perito constata que as vozes dos arquivos conferem com as de Abramovai e Barreto, numa comparação com entrevistas dos dois personagens veiculadas na televisão.

Percebeu o truque? Nem o perito diz nem veja mostra que o áudio examinado contém as 14 palavras que realmente interessam e que foram peremptoriamente negadas. Diz apenas que recebeu uma gravação com a voz de Abramovai dizendo sabe-se lá o quê.

Há muito tempo que Veja não faz jornalismo, faz prestidigitação, fiando-se em duas máximas: as mãos são mais rápidas que os olhos; se colar, colou.

É triste lembrar que esta já foi a mais importante e mais acreditada publicação da imprensa brasileira. Veja não passa hoje de uma revistinha mandraque, para iludir os incautos e os que pagam para assistir seu espetáculo mambembe.

sábado, outubro 23, 2010

Pelé 70 - mais palavras para definir o indefinível

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Por algum tempo, em minha vida de torcedor, escutar o nome de Pelé não era algo bom. Santista desde que soube que a bola é redonda, ia aos estádios quando criança e depois adolescente, em anos amargos de fila, e escutava a torcida adversária gritando sempre a mesma coisa: “Pelé parou, o Santos acabou”. Aquele camisa Dez que eu nunca tinha visto jogar ao vivo era motivo de orgulho, mas também era um fardo, uma sombra que pairava sobre todo meia que vestisse o manto alvinegro. Qualquer outro time grande podia ter um meia ou um dez qualquer, o Santos não. Todos eram, em algum momento, comparados com o Rei. Os atletas sofriam, o torcedor sofria. E eu seguia incomodado por dizerem que um jogador podia ser maior que o meu clube.

O tempo passou e fui conhecendo mais a obra de Pelé e vi que, para alguns, era crível pensar que ele fosse maior que um time. Que fosse maior que a seleção brasileira ou que fosse, na verdade, maior do que o próprio esporte que praticava. Afinal, o que justificaria ele ser famoso até mesmo em lugares onde não se conhece a lei do impedimento ou se saiba o que é um escanteio, como nos Estados Unidos? Só de ver jogadas do Rei nota-se, e isso é claro mesmo para os que ignoram o futebol, que se trata de muito mais do que um simples atleta. Assistir alguns segundos de suas atuações é contemplar um artista genial, daqueles que impressionam os sentidos ainda que não se entenda exatamente o que é a sua arte. Em campo, era a tradução da transcendência.

No entanto, a comparação sobre quem ou que é maior não faz sentido. Santos e Pelé, encontro que só a metafísica poderia justificar, nasceram um para o outro. Juntos, ambos fazem sonhar até hoje. Aquele menino que veio de Bauru pelas mãos de Waldemar de Brito chegou a um time que era bicampeão paulista, em uma época em que o estadual era o torneio máximo. Tinha Jair Rosa Pinto, Zito e Pepe, jogadores que o futuro Rei admirava. Logo se enturmou e foi estrela maior em meio a uma verdadeira constelação. Se fosse para outro lugar, certamente não brilharia tanto tão cedo.

O futuro na Vila Belmiro ainda lhe daria seu maior parceiro, Coutinho, com quem, segundo os dois, se comunicava com o olhar. As tabelinhas, nunca treinadas, surgiam naturalmente. A seleção brasileira foi outro casamento perfeito, onde pôde conviver com gerações distintas de craques que incluíam Didi, Nílton Santos, Gérson, Tostão... E Garrincha, outra combinação sem igual que nunca viu uma derrota com a amarelinha.

Pelé foi Rei, numa época em que os brasileiros, na bola, eram soberanos em todo o mundo. Encantávamos pela técnica, pela habilidade e pela capacidade de vencer quase que nos divertindo. A jogada do quarto gol do Brasil na final da Copa de 70, com oito jogadores tocando na bola em pouco mais de 30 segundos, é a síntese de como o país impressionava o planeta. No lance, o passe de Pelé para o companheiro de Santos e da seleção, Carlos Alberto, sem olhar, é sinal de uma inteligência sem igual com a bola nos pés.

Por isso, Pelé e o futebol que ele representa serão eternos. Seu nome, adjetivo que se tornou no dia a dia sinônimo de perfeição, sempre estará presente quando alguém vir um gol bonito e disser, de forma profana, que é um “gol de Pelé”. Ou na alegria de um garoto que na pelada da rua, mesmo sem nunca ter visto o Rei jogar, vai reivindicar a autoria de um tento como se majestade também fosse. Hoje, parabéns e obrigado àquele que, se não tivesse existido, talvez não nos permitisse que ainda teimássemos em sonhar com o jogo bonito, bem jogado e que é patrimônio genuíno do nosso país. O futebol agradece a seu filho – e também pai – maior. 

Ah, sim, hoje ouvir que sou "viúva do Pelé" não me incomoda nem um pouco. Afinal, se a bola é, porque eu, fã de futebol, não seria?

Mais Pelé no Futepoca:

Campanha repulsiva afugenta até eleitor tucano

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

É natural que muitos dos leitores do Futepoca nos "acusem", nos comentários, de ser "petralhas" e de só defender o governo Lula, o PT e suas candidaturas. Deixamos bem claro, no "Quem escreve", que, em nosso coletivo de nove jornalsitas, "na política, sem tanta homogeneidade, todos pendem para a esquerda". Porém, justamente pela sinceridade, transparência e coragem de assumir um determinado posicionamento, muitas das reflexões, observações e/ou opiniões políticas de nossas postagens são desqualificadas e ironizadas, mesmo quando procedentes. Chego a pensar que, só se alguém aqui fosse eleitor do PSDB ou simpatizante dos tucanos, alguns desses textos iriam adquirir, para uma parcela dos leitores, maior "credibilidade".

Vai daí que, navegando pela internet, encontrei o blogue de um tucano assumido, o jornalista Paulo Nogueira (foto), ex-editor assistente da Veja, editor da Veja SP, diretor de redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora Abril e diretor da Editora Globo. No post "A tomografia da fita crepe", ele resumiu, sem condescendência: "A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido". O texto é tão lúcido - e isento - que resolvi transcrever na íntegra:

Alguém se surpreendeu com as últimas pesquisas, que parecem consolidar a caminhada de Dilma rumo ao Palácio do Planalto? Eu não. A campanha de Serra é repulsiva, e acabou por afugentar do PSDB gente que, como eu, tradicionalmente opta pelo partido.

O episódio (...) no Rio é apenas mais um de uma lista de pequenas trapaças de Serra. Ele é provavelmente a primeira pessoa no mundo a fazer tomografia por receber uma fita crepe na cabeça. O médico que o atendeu disse, constrangido, que o exame acusara o que todo mundo já sabia. Não havia problema nenhum.

Serra aproveitou para fazer fotos no hospital, em meio a extemporâneas e descabidas declarações de paz e amor hippie. “Não entendo política como violência”, disse ele. Serra entende política como uma forma de triturar todo mundo para chegar à presidência. O melhor quadro do PSDB para suceder FHC era Pedro Mallan, que foi sabotado de todas as formas por Serra.

Serra quer muito ser presidente. O problema é que os brasileiros não querem que ele seja. Em farisaísmo, a tomografia da fita crepe equivale à célebre frase de Monica Serra segundo a qual Dilma é a favor de matar criancinhas. Não conheceríamos a capacidade de jogar baixo de Monica se um repórter não estivesse presente para registrar a ação maldosa da candidata a primeira-dama.

Dilma deve ganhar menos pelos seus méritos e até menos pelo apoio do Lula do que pelos vícios da campanha vale-tudo de Serra. Ele tem que sair de cena para que o PSDB se renove.

É possível que ele arraste Aécio na queda, agora que repousam sobre o mineiro as esperanças de operar uma reviravolta. Dilma bateu Serra no primeiro turno em Minas, e Aécio disse que vai mudar isso. Faz alguns mandatos já que quem ganha em Minas leva a presidência, e por isso as esperanças se reabriram. Só falta Aécio combinar com os mineiros.

A última pesquisa mostra que a distância de Dilma sobre Serra em Minas se ampliou em vez de diminuir. Serra talvez possa culpar Aécio se a virada não aparecer, e assim prosseguir, como um interminável Galvão da política, mais alguns anos em sua louca cavalgada rumo à presidência, num titânico duelo de vontades contra os brasileiros.

O desespero machucando o coração (4) - OU o Serra 'de esquerda' e os siris azuis

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O ridículo da mídia tucana não conhece mesmo limites. Depois de enfiarem uma foto do José Serra no encarte de um CD do Chico Buarque, de pagarem uma vidente pra dizer que Dilma Rousseff vai brigar com Lula, de esconderem a fundação do PT e apagarem suas bandeiras numa foto, e de - cúmulo do absurdo - tentarem justificar uma bolinha de papel ou fita isolante como "agressão violenta" (ver post abaixo e a denúncia da farsa aqui), a imprensa pró-PSDB achou neste sábado mais uma forma inacreditável de tentar influenciar possíveis incautos. Dessa vez, apelaram até para o reino animal...

Na impossibilidade de "contratar" o polvo Paul, sensação da última Copa do Mundo por acertar todas as escolhas que "fez", o Diário de S.Paulo (que em 2009 passou das mãos das Organizações Globo para o empresário J.Hawilla) traz hoje, como manchete de capa, "A voz do polvo". Temendo pelo pior, folheei um exemplar na banca até a página 3, onde uma materinha nonsense explicava que o "genérico" polvo Paulo, do aquário de Ubatuba, litoral de São Paulo, foi "consultado" para escolher entre Dilma Rousseff e José Serra. O texto diz que, abaixo da foto de cada presidenciável, foi colocado um siri azul (o grifo é nosso), como primeira refeição do dia para o polvo.

O jornal observa que a "experiência" foi "capitaneada" pela bióloga Carla Beatriz Barbosa. Já prevendo o resultado, fui até a página 7 e constatei, sem surpresa, que o polvo escolheu José Serra. Assim que soltaram o bicho, ele preferiu se alimentar do siri azul (mais um grifo nosso) que estava sob a imagem do nefasto candidato. Diz o "panfletário" texto: "Em nenhum momento ele titubeou. (...) 'Tucaneou' convictamente". Detalhe: sem motivo aparente, a imagem de Serra foi colocada à esquerda (festa de grifos) do polvo. Sinal de que, à confirmar a inclinação natural de direção, podemos supor que ludibriaram o pobre animal com a foto errada.

No mais, que triste observar que o debate político e os projetos nacionais, nessas eleições, foram transformados em dogmas religiosos, bolinhas de papel, rolos de fita crepe, polvos de aquário e siris azuis. PSDB (e mídia tucana) é isso aí.

quinta-feira, outubro 21, 2010

José Serra e o atentado da bolinha de papel

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Nesta quarta-feira, dia 20, um atentado vitimou o candidato tucano a presidência da República José Serra. Durante uma caminhada no Rio de Janeiro, a entourage do nobre estadista – formada em boa parte, segundo relatos, de seguranças grandalhões – entrou em conflito com representantes da horda de bárbaros famélicos que vêm para destruir a cultura e a civilização (by Laerte) que atende pelo nome de Partido dos Trabalhadores. Na confusão, um dos bárbaros atingiu Serra na cabeça com um objeto terrível, uma arma dos novos tempos. O ataque, que provocou imensa comoção nos meios de comunicação, levou o candidato a suspender sua agenda.

Os dados não são conclusivos, mas de acordo coma trajetória feita pelo projétil e pela reação do nobre candidato demonstradas nessa reportagem do SBT, tratava-se de uma BOLINHA DE PAPEL. Veja no vídeo abaixo, aos 34 segundos.

Outro momento digno de nota acontece a 1 minuto e 6 segundos: Serra recebe um telefonema, cerca de vinte minutos depois do ataque, e, ato contínuo, começa a sentir-se mal por conta do selvagem golpe desferido pelos monstros petistas. O candidato foi levado até um hospital, onde o médico Jacob Kligerman explicou que o golpe havia sido na região occitoparietal (se eu ouvi direito), mas que não houve ferimento aparente. Serra foi submetido a uma TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA para evitar complicações. Ufa!


(Vídeo via blog do Luís Nassif)

quarta-feira, outubro 20, 2010

Registros atrasados

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

São notícias que aconteceram já há alguns dias, mas como ainda não haviam passado pelo Futepoca, simbora registrá-las.

Já há dois times garantidos na Série B do Campeonato Brasileiro em 2011 (e não estou falando do Grêmio Prudente). Tratam-se de Ituiutaba-MG e Salgueiro-PE.

Ambos triunfaram em mata-matas concluídos no final de semana.

A classificação das duas equipes é das mais surpreendentes. Analisemos caso a caso. O Salgueiro, de Pernambuco, é profissional apenas desde 2005 - ou seja, é um time mais novo do que Grêmio Barueri/Prudente e Ipatinga, que estiveram na elite nacional há pouco tempo e foram tão criticados por roubarem o espaço de clubes mais tradicionais, como Bahia, Santa Cruz, Remo e outros.

No caso do Salgueiro, a situação se acentua porque o time pernambucano despachou um "tradicional" dentro de campo - o clube derrotado no mata-mata derradeiro foi o Paysandu. Tal qual um Boca Juniors de 2003, o Salgueiro foi mal em seus domínios (1x1) e arrebentou o Papão da Curuzu em plena Belém (3x2).

Já o Ituiutaba, embora mais tradicional, é também um time pequeno. Como tantos de porte igual, tem uma trajetória de ioiô no campeonato estadual, conseguindo acessos e descensos no Mineiro com frequência. Um desses rebaixamentos ocorreu logo neste 2010, um ano após o time alcançar as semifinais do estadual. E aí, no ano em que o time cai em nível estadual, sobe na escala nacional. Curioso, no mínimo.

Os outros confrontos da Série C serão decididos no final de semana. Macaé e ABC jogam pelo empate contra Criciúma e Águia-PA, respectivamente.

Quarta
Descendo um degrau, a Série D já tem seus quatro "vencedores" definidos: América-AM, Madureira-RJ, Araguaína-TO e Guarany-CE estão promovidos para a Série C de 2011.

Agora, duelam para ver quem fica com a taça. Araguaína x Guarany e Madureira x América são os confrontos das semifinais, que começam no dia 23.

Segunda
Invertendo a lógica, fecho o post para falar da Série B nacional. Coritiba e Figueirense estão praticamente promovidos, Bahia e América-MG estão próximos do acesso; mas o registro a ser feito é sobre a mudança de cidade e nome do Guaratinguetá.

O time do Vale do Paraíba, também jovem, confirmou os rumores que circulavam com força e oficializou sua modificação: irá para Americana, e Americana será também seu novo nome. É na cidade que jogará a primeira divisão estadual e a segunda nacional (se não for rebaixado) no ano que vem.

Fui uma das poucas pessoas que até achou legal a transferência do Grêmio Barueri para Presidente Prudente. Meu entendimento, na época, era que o futebol ganhava mais tendo uma equipe competitiva em Presidente Prudente do que em Barueri - Prudente é grande e distante de qualquer outra cidade-sede de um time grande, enquanto Barueri pertence à região metropolitana de São Paulo e, por isso, é meio inviável acreditar que seus cidadãos poderiam deixar de lado um jogo de São Paulo, Corinthians, Palmeiras ou Santos para prestigiar a equipe.

Mas, quando falamos do caso Guaratinguetá/Americana, não há como aplicar essa regra. Porque Americana é sede do tradicionalíssimo Rio Branco, que volta e meia disputa a Série A1 Paulista. Ou seja: além de estragar uma tradição que vinha se consolidando, a modificação ainda não contribuirá para a formação de uma "nova cultura futebolística", até porque ela já existe na cidade.

Sem contar que o seu distintivo (na minha humilíssima opinião) é de gosto pra lá de duvidoso, lembrando mais um brasão de um destacamento do exército dos EUA do que o de um time brasileiro de futebol.

Em um dos últimos jogos realizados em Guaratinguetá, ontem, contra o Icasa, torcedores vaiaram a equipe o tempo todo e chegaram a queimar camisetas durante a peleja.






José Serra: mentira, fraude e falsidade ideológica

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Nesta semana, a guerra de campanhas eleitorais trouxe de volta a polêmica sobre o candidato José Serra (PSDB) ter ou não diploma universitário. Segundo consta, ele sempre se apresentou como "engenheiro e economista", desde os primeiros cargos públicos que ocupou e campanhas eleitorais que disputou. Acontece que Serra nunca concluiu o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Sendo assim, é impossível que tenha qualquer curso de pós-graduação minimamente "validável" - o que levanta suspeitas sobre como teria sido possível dar aulas na Universidade de Campinas (Unicamp), de 1978 a 1983.

Ao abandonar o curso na Politécnica da USP e exilar-se no Chile, Serra teria feito um "Curso de Economia" na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 1965 e 1966, especializando-se em Planejamento Industrial. Parece óbvio que um curso de graduação de dois anos não pode ser formal. Depois disso, fez "mestrado" em Economia pela Universidade do Chile, em 1968, onde seria "professor" até 1973. Em 1974, faria "mestrado" e "doutorado" em Ciências Econômicas na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sem ter concluído faculdade.

No Chile e nos EUA não é exigido curso superior para fazer pós-graduação, o que não é permitido aqui no Brasil. Além disso, os cursos de pós-graduação que Serra cursou na Cornell não são strictu senso mas lato senso, como os fornecidos pela rede privada brasileira. Resumindo: não valem nada em termos acadêmicos. Bom, mas, no frigir dos ovos, deve-se considerar que, para sua carreira política, ter ou não graduação não faz diferença alguma. O problema é não ter e dizer que tem. E, ao dar aulas no ensino superior (sabe-se lá como conseguiu isso), configura-se crime.

Recentemente, o Conselho Regional de Economia da Paraíba fez interpelação judicial e pedido de enquadramento de José Serra no Artigo 47 do Decreto-Lei 3.688/41, sobre falsidade ideológica e charlatanismo, pelo "uso indevido da qualificação de economista pelo candidato, que não tem bacharelado em economia nem é registrado em qualquer Conselho Regional de nenhum estado brasileiro". O pedido foi endossado pelos Conselhos Regionais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Maranhão, Rondônia e Tocantins, e por dois membros do Conselho Federal de Economia. Porém, o Conselho Federal de Economia nunca se manifestou sobre isso.

Folheando o livro "O sonhador que faz", de Teodomiro Braga (Editora Record, 2002), encontrei a confirmação pela própria palavra de Serra:

(...) Em 1967, apesar de não ter feito graduação, eu entrei na Escola de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Chile, que era chamada Escolatina.

Como conseguiu ser admitido se não tinha graduação em economia?
Eles exigiram que eu fizesse um exame equivalente a todo o curso de graduação em Economia.

(Trehco extraído da página 102)

Um exame? Assim, simples? Sem graduação, como pôde ser admitido como professor pela Unicamp? Dilma Rousseff (PT) foi acusada de não ter mestrado nem doutorado pela Unicamp, e reconheceu isso. O que importa, na verdade, é que ela nunca deu aulas - o que até poderia ter feito, pois tem, pelo menos, graduação. Já José Serra atuou profissionalmente de forma indevida. É uma fraude. Porém, como a Unicamp pertence ao governo de São Paulo, comandando pelo PSDB, qualquer possibilidade de investigação ficará no campo de nossas ilusões. E a imprensa pró-Serra não fará o menor esforço para retirar a pedra de cima desse assunto.

Os times de cada candidato

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

A Folha publica hoje "intelectuais" que estariam apoiando um ou outro candidato à sucessão presidencial.


Nesses tempos de campanha, de obscurantismo religioso e intelectual, é bom ver com quem cada candidato anda.

Por isso, a partir da lista da FSP, montei dois times para fazer um racha, sem me preocupar muito com posições Quem você acha que ganha a partida eleitoral? Não preciso dizer para qual vou torcer, né?

Time da Dilma:
Oscar Niemeyer, Chico Buarque, Otto, Fernando Morais, Chico César, Beth Carvalho, Leonardo Boff, Alceu Valença, Hugo Carvana, Gilberto Gil, Frei Betto. Técnico: Lula

Time do Serra:

Hélio Bicudo, Carlos Vereza, Tarcísio Meira, Hector Babenco, Glória Menezes, Ferreira Gullar, Rubens Ewald Filho, Maitê Proença, Nicette Bruno, Fernando Gabeira, Silas Malafaia. Técnico: FHC

terça-feira, outubro 19, 2010

Falar aos pobres

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Acabo de encontrar meu amigo George, brasileiro que vive em Londres. Ele me contou que seus amigos tucanos estão em polvorosa no Facebook. Em plena mobilização, clamam para que todos falem com suas empregadas, com os porteiros de seus prédios, com as faxineiras de suas avós ou com os seguranças e a mulher do cafezinho do trabalho... com toda essa gente aí, para não deixar a Dilma se eleger.

Quer dizer, estão conclamando o pessoalzinho – que fez escola particular e universidade pública, que tem bons empregos, que lê jornal, bem, que, em suma, não é analfabeto – a formar a opinião dos pobres... Na cabeça deles deve passar algo como: “Gente, eles são analfabetos, desinformados, não são más pessoas, mas não sabem o que fazem. Você que ‘trata bem’ e é até meio amigo do seu porteiro, pois fala com ele sobre futebol, não deixe ele cometer essa burrada de ignorante e votar na Dilma, faça ele votar em gente como a gente”.

Está claro que também estão respondendo ao apelo do candidato Serra de que cada um conquiste mais um voto e estão fazendo a parte deles com os pobres mais à mão, aqueles sobre os quais sentem que têm até alguma obrigação de influência. Herança genética dos tempos do cabresto?

Será que essa mobilização confirma a opinião de Maria Rita Kehl de que não há respeito pelo voto do pobre, que aprendeu a votar em causa própria em vez de votar pela causa de seus patrões, aquela exata opinião que lhe valeu a demissão de O Estado de S.Paulo?

Espetada em Serra sobrou até para Boris Casoy

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No Rio de Janeiro, durante o ato de apoio de artistas e intelectuais à campanha de Dilma Rousseff para a presidência da República, o cantor/compositor/escritor Chico Buarque resumiu o motivo de sua opção (o grifo é nosso):

‎- Eu vim aqui reiterar meu apoio entusiasmado à Dilma, essa mulher de fibra, essa mulher que já passou por tudo, que não tem medo de nada, e que, sobretudo, vai herdar o senso de justiça social, que é a marca do governo Lula, governo que não corteja os poderosos de sempre. Porque não é de sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis. Temos hoje um país que é ouvido em toda parte porque faz de igual pra igual com todos - não fala fino com Washington nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai. E que, por isso mesmo, é ouvido e respeitado no mundo inteiro, como nunca antes na História desse país (risos).

Ou seja, além de botar a carapuça em José Serra, que, em vez de dialogar, criminaliza os movimentos sociais, e que costuma botar a polícia para bater nos professores (além de representar a linha política de submissão a Washington e de prepotência com os países sul-americanos mais pobres), Chico ainda deixou uma espetada sutil no apresentador de telejornal Boris Casoy, que este ano classificou dois garis como "o mais baixo da escala do trabalho" (reveja o vídeo aqui). Abaixo, a íntegra do discurso de Chico Buarque e de Leonardo Boff:

segunda-feira, outubro 18, 2010

Quem orientou esses ignorantes?

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

No sábado faleceu o psicanalista José Ângelo Gaiarsa, aos 90 anos. Há oito anos, eu e o companheiro Anselmo fizemos uma entrevista com ele que, logo de saída, nos desafiou: "Vocês vão fazer as mesmas perguntas de sempre para que eu dê as mesmas respostas de sempre ou vamos tentar ir além?".

Tentamos ir além. Não sei se conseguimos, mas o resultado da entrevista se mostra atualíssimo, ainda mais em tempos em que a discussão política se torna tão impregnada por moralismos de ocasião e de religiosidade duvidosa. A entrevista completa está aqui, mas abaixo vão alguns trechos que têm a ver com o momento do Brasil e impressionam ainda mais tendo vindo de um senhor, à época, com 82 anos.

Três argumentos sobre o instinto de cooperação

Vou passar rapidamente por três gigantescos argumentos para provar que o instinto de cooperação é muito maior que o de autodefesa, muito maior que o do sexo. Em primeiro lugar, alguns dos maiores biólogos contemporâneos defendem a idéia de que toda a vida é simbiótica. Os organismos simples foram se juntando e criando organismos cada vez mais complexos. Bactérias foram se unindo, formaram protozoários e assim por diante... Nosso corpo é uma gigantesca colônia de subcolônias. O fígado, os rins, o cérebro, todos são colônias que rendem muito mais funcionando juntos. Uma forma espontânea de cooperação que se aplica aos vários níveis biológicos. Qualquer ecossistema é cooperativo, se você tira três elementos ele se desorganiza completamente.

Uma frase ficou muito marcada para mim, de dois "animantropólogos" - que estudam os homens dado o comportamento animal. Só a espécie humana faz trocas. "Me dá seu marreco porque você tem dois, que eu te dou dois peixes porque tenho três". Os primeiros conquistadores da humanidade foram os pescadores, que iam pelo mundo trocando. A raiz civilizatória é muito mais comercial que guerreira, o que acho muito bonito. Trocas são a essência da economia. O que é a economia de um país senão a soma de todas as trocas que acontecem a cada instante retratadas na bolsa de valores? A bolsa é uma feira instantânea, quantos caminhões de urânio por quantos navios de petróleo. A troca nos uniu completamente. Tudo o que você faz é para os outros, e tudo o que você tem foi feito pelos outros.

Quer prova mais absurda de que nós somos nós, e não eu? Imagine-me, coitado de mim, no meio da floresta amazônica, pelado. Não duro três dias. Então veja como é profundo esse instinto de cooperação, que não é falado. Predomina a frase capitalista: "O homem é naturalmente egoísta", e a lei número um do capitalismo: "se dá lucro, está certo". "Olha, que sujeito sensacional, ficou rico! Era um bandido como o Fleury, roubou até os colarinhos e foi eleito outra vez, e está aí para roubar mais".

Lado sombrio da família 

Por cinquenta dos meus 82 anos, de 6 a 8 horas por dia eu só ouvi queixas familiares. Ninguém conhece o lado sombrio da família melhor que eu. Sinto-me plenamente autorizado a falar mal dela, o que tem de ruim não está escrito. Ela é o eixo do conservadorismo, sim. "Pai e mãe estão sempre certos": isso é o próprio tiranismo à Saddam Hussein. E o pior é que muitas mães e pais acreditam nisso. Embora hoje a garotada mais escolada, mais violenta e mais rebelde, já esteja consertando isso. Mãe, pai e filho num apartamento é uma loucura, muita convivência não funciona. Mais filhos é até melhor que um ou dois, porque dá diversidade de contato. Mas a criança mesmo muito pequena já vai para a escola maternal, creche. Desde pequeno começa a afrouxar essa intensidade de contato, que é a causa das neuroses. Psicanálise quer dizer afrouxar laços familiares. Complexo de Édipo é o que tem nos Jardins, na favela é encrenca de família, mas é a mesma coisa. Todo mundo vive por aqui com a família em particular. Exceto em público, a família da TV no programa da Hebe: "Nossa, eu sou tão feliz, meus filhos são uma jóia" (risos).

Segunda escola de família

Depois de ouvir tudo isso sobre família a solução que eu vejo, idealista - duvido que aconteça -, é uma escola de família. A sociedade deveria ter dois tipos de casamento. A pessoa se casa com quem quiser e vai morar com ela. Se depois de dois anos de convivência o casal achar que está se entendendo, fica autorizado a ter filhos e a juntar bens. Mas para ter filhos é preciso passar por uma educação especial. Dizem que os pais não orientam os filhos, mas quem orientou esses ignorantes? Metade dos pais brasileiros são alcoólatras crônicos, têm quantos filhos quiserem, um exemplo doméstico mortífero, horrível. A família é muito falada, elogiada e em nada cuidada. Na América do Norte isso está começando a brotar. Os cientistas fizeram um boneco que tem todas as necessidades fundamentais do bebê. Ele faz xixi, cocô, quer mamar, chora, esperneia. Quando aparece um casalzinho dizendo querer filhos, leva o boneco por dois meses. Se acharem que está tudo bem acordar no meio da noite, berrando, se fizerem a experiência do bebê dois meses e acharem ótimo podem ter o nenê. Porque um nenê é um inferno, algo que só se descobre quando se tem.

Machões 

Durante muitos anos, morria de inveja dos machões. Era difícil chegar perto das moças pra conversar, o que eles faziam bem. Isso foi até eu saber que eles não faziam nada. Os homens são extremamente monótonos na cama. Em média, são 10 minutos de agrados e 2 de sexo, e isso já é excepcional. E todos sabemos que os machos são absolutamente dispensáveis, já que um homem numa só ejaculação bastava para fecundar todas as mulheres dos EUA. Por isso é que eles precisam se exibir, se mostrar tanto para parecerem úteis. Fizeram todas as guerras assim, homens matando competidores e rivais. E criaram ainda o assalto coletivo, saqueando uma cidade inteira, estuprando as mulheres e levando os que sobraram como escravos. Mas os machos não são grande coisa.

domingo, outubro 17, 2010

Emocionante

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O confronto entre São Paulo e Santos seguia empatado em 3 a 3 até os 47 minutos do segundo tempo, com virada de placar, bolas na trave, expulsão e defesas inacreditáveis dos dois goleiros. Se o juiz apitasse ali, o clássico paulista igualaria em qualidade e placar o Fluminense x Flamengo de 19 de setembro, que também testou a resistência dos cardíacos. Mas eis que Marlos pegou uma bola na lateral e cruzou para Ricardo Oliveira, que fulminou de primeira e obrigou defesa milagrosa de Rafael. Houve rebote e Jean, que já havia perdido dois gols feitos, completou de cabeça e definiu a vitória sãopaulina: 4 x 3. Só por isso, o clássico paulista superou, em emoção, aquele Fla-Flu de setembro. Quem foi ao Morumbi viu um jogaço, na acepção da palavra. (Foto: Rubens Chiri/SPFC)

Quando cheguei em casa e liguei o rádio, o jogo estava no início do segundo tempo. Assim, não ouvi a movimentada primeira etapa, quando o Santos saiu na frente e Dagoberto virou o placar com dois gols; o São Paulo fez mais um e o Santos ainda teve tempo de diminuir para 3 x 2. Daí, lógico, o que se esperava dos 45 minutos finais seria o ótimo e perigoso time do Santos partir para o "abafa" e o São Paulo segurar as pontas e tentar alguma coisa no contra-ataque. Foi o que aconteceu, mas os santistas só conseguiram o gol após a expulsão (justa, segundo os comentaristas) de Richarlyson, jogador que, quando não apanha muito, bate muito. Pouco depois disso, o Santos insistiu mais no ataque até que Alex Silva fez pênalti em Neymar, que converteu e empatou a partida.

Curiosamente, mesmo com um a menos, o São Paulo seguiu levando perigo - e foi premiado no final. Pouco antes do gol de Jean, Rogério Ceni jogou uma bola para escanteio em defesa "impossível", e poderia ter sido o herói sãopaulino, ao lado do goleador Dagoberto. Mas a equipe da Rádio Globo apontou Ricardo Oliveira como o craque da partida, e parece que ele foi mesmo o fator de desiquilíbrio, com assistências e frequentes investidas contra a defesa santista. Alguém chegou a fazer um comentário que achei procedente: "Em forma, o Ricardo Oliveira é outro jogador, imprescindível". Porém, ainda considero o time do São Paulo inferior aos cinco ou seis primeiros na tabela e, apesar das vitórias e da reação no campeonato, é cedo para qualquer avaliação - mesmo porque, com uma ou duas derrotas, o São Paulo pode voltar ao "inferno astral" e clima de crise.

Mas, enfim, dou a mão à palmatória: Paulo César Carpegiani injetou novo ânimo num time que, antes dele, era apático e presa fácil, principalmente em clássicos. Prova do trabalho do técnico é que até Carlinhos Paraíba jogou bem! Quem diria...