Destaques

segunda-feira, janeiro 24, 2011

'O nós é mais importante do que o eu'

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Muitas vezes, ao externar nossas posições políticas, somos taxados de "esquerdinhas", "petistas", "comunistas" etc. Sim, é fato: na própria apresentação do blogue, deixamos claro que, "sem tanta homogeneidade, todos pendem para a esquerda". Ou então poderíamos cravar, em resumo, que ninguém aqui apoia o campo conservador da direita. Mas tudo isso, no final das contas, é rótulo e reducionismo. O sentido é muito maior que isso. Porque nossa opção política, na verdade, é pelo social. Pelos valores coletivos e públicos, como alertou certa vez, com propriedade, a psicanalista Maria Rita Kehl.

E foi exatamente dessa forma que o falecido cantor e compositor Gonzaguinha (foto) definiu, numa entrevista, seu posicionamento político e a disposição de seguir lutando, até mesmo contra a descrença. "A política, desde 1964, distanciou-se cada vez mais do povo e tornou-se algo repugnante. Mas sei que ninguém faz nada sozinho. O nós é mais importante do que o eu", diz o artista, em trecho do livro "Gonzaguinha e Gonzagão - Uma história brasileira", de Regina Echeverria (Ediouro, 2006).

E já que falamos sobre "antes o que nos une do que o que nos diferencia", Gonzaguinha comentava, sobre o PT: "O que eu acho importante é que não vejo dentro dele uma juventude de ideias conservadoras". Concordo. Prova disso foi a baixaria sem limites do campo da direita, nas últimas eleições presidenciais, com apêlo para o que há de mais retrógrado, arcaico e nojento - e principalmente na internet, território dos jovens. Por isso seguimos lutando do lado de cá, mesmo com todos os problemas, erros e dificuldades. E vamos à luta!



E VAMOS À LUTA
(Gonzaguinha)

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão (como é que não?)
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta é com essa juventude
Que não corre da raia à troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói a manhã desejada

Aquele que sabe que é negro o couro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha, entra no botequim
Pede uma Brahma gelada, e agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode e sacode a poeira
Suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira - e nós estamos pelaí...

Um lento começo de ano

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A diretoria do Corinthians deve ter pensado que uma proposta irrecusável garantiria Ronaldinho Gaúcho no time, peça que a meu ver cairia como uma luva no time, mesmo que o seu prazo de validade fosse o mesmo de seu xará Gorducho: um semestre. O desenrolar do episódio foi, a meu ver, bem descrito pelo Marcelo do Vertebrais, aqui. Conversas para trazer Luis Fabiano, com a ajuda do celular do Roberto Carlos, também dispersaram ao vento. Tivesse sido bem sucedido nas duas “negociações”, o Corinthians teria resolvido suas principais lacunas, um meia criativo e um atacante decisivo. Palavras ao vento.

Após um bom brasileiro, em que o Timão esteve muito próximo do título, pode considerar sua base montada. E, de fato, o time não é mau: Julio Cesar é um bom goleiro, Chicão já não é um menino mas é um bom líder na zaga, Roberto Carlos continua rendendo bem acima da média dos laterais esquerdos em geral; Ralf e Jucilei formam uma excelente dupla de volantes, com características complementares; Bruno César é um bom meia-atacante, com rompantes geniais e com condições de crescer, Dentinho e Jorge Henrique são muito bons como "segundos-atacantes". Se pudéssemos de fato contar com Ronaldo, teríamos um time bem difícil de bater.

Mas o que todos veem (está em toda a mídia) é um time pesado, sem condicionamento físico para entrar num campeonato como a Libertadores. Nessa hora, a juventude faz falta, pois se a experiência e a qualidade sobram a Ronaldo, já não temos esperança de vê-lo desempenhar a sombra do que fazia, não digo cinco mas dois anos atrás. Assim, que se aprenda rápido com esse começo de ano lento, pois os campeonatos passam rápido...

Por que formar universitários pobres?

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Editorial do Estadão é sempre peça cômica. Ontem bradavam o "Colapso do ENEM", o exame nacional que agora, com o SISU, se tornou a ponte direta do estudante pobre à universidade. Na Folha, com seus truques de estilo, usaram o mesmo trocadilho que o Boris Casói (aquele!) para acusar de "Inépcia" o INEP, órgão responsável pelo exame; pro Casói, é "Uma verrrrgonha" o anúncio de que seria criado um órgão para cuidar apenas do ENEM, não vendo nisso o reconhecimento de sua importância e provável crescimento ao longo dos próximos anos.

Tenho folheado esses dois jornalões diariamente durante todo o último ano e não me lembro de neles ter lido qualquer análise sobre o significado do ENEM, o que ele representa para a educação no país. Não apenas porque agora, com o SISU, integra a rede universitária federal, que cresceu enormemente nos anos Lula, com a rede pública de ensino médio, dando materialidade ao discurso do excelente Fernando Haddad de que educação tem que ser pensada de forma sistêmica, envolvendo a valorização de todas as idades e todos os atores do processo (alunos e professores; gestores e financiadores; acesso e qualidade). Mas também pela qualidade mesma do sistema de avaliação, que é o maior exame de ensino médio do mundo, com 4 milhões de estudantes avaliados em 1.700 cidades.

Ao contrário, só se veem críticas, e pesadas, à aplicação dos testes ou ao sistema eletrônico de inscrições. O site do SISU ficou lento por três dias (mas o número de servidores foram dobrados e o problema solucionado), os candidatos podiam ver as notas de outros durante vinte minutos (vinte minutos!!!, e o problema foi solucionado), houve erro na prova do ENEM (em 0,25% das provas!!!!) e pedem que o exame inteiro seja refeito. Hoje, com a divulgação da lista de aprovados no SISU, a manchete focava nas 176 vagas (de um total de 83.125!!!!) que não despertaram interesse dos mais de 2 milhões de inscritos.

Tudo parece um grande fracasso quando numa geladeira cheia de Serra Malte o míope investigador só vê as três latinhas de Belco batendo nelas com o nariz. A educação no Brasil está, de fato, e os números mostram isso, encontrando um caminho de crescimento consistente, ampliando e democratizando o acesso e focando em qualidade, com valorização do professor e da infraestrutura.

Fernando Haddad, esse é o cara.

Nada a ver com o que ocorreu mais ou menos uma década atrás, quando o MEC, para turbinar índices de aumento de vagas no ensino superior, tornou-se um balcão de licenciamento de armadilhas universitárias privadas, muitas das quais fecharam as portas pouco depois (por não ter qualidade para cumprir exigências acadêmicas) deixando alunos a ver navios, sem diploma e com um débito considerável pelas mensalidades pagas durante alguns anos.

Tem que melhorar o site do SISU? Sim, mas esse é o menor dos problemas. O engraçado é que os jornalões não percebem que as consecutivas derrotas políticas que colecionam têm a ver, também, com essa incapacidade de enxergar a realidade. Conseguem, no máximo, e a custo de muito ódio, manter fiéis aqueles que só sabem do mundo por meio desses mesmos jornais, sem qualquer contato com a realidade vivida por outras classes sociais, ou em outros lugares do país. Outro dia, na Folha disseram que o Haddad estava "sob observação", pois Dilma teria se reunido com ele para que explicasse os tais problemas do SISU. Uma interpretação no mínimo exótica de um fato totalmente dentro da normalidade, mas que denota o teor das notícias: a virtualidade que gostariam que existisse, não a realidade. Ainda mais lembrando que a Dilma, logo que foi eleita, declarou que concentraria a atenção em saúde e segurança pública, pois a educação, segundo ela, "estava encaminhada".

Mas o mundo não está de todo perdido, ainda existe sinceridade e pureza de coração. O filósofo Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na "Ilustrada", declara peremptoriamente: "Para alguns, universidade é coisa de elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses.". Aí desfila um discurso confuso, que eu não sei bem o que quer dizer, sobre o fato de que a democratização do ensino vem com o "barateamento do produto", referindo-se às más faculdades privadas, ou "a abertura de universidades às centenas e em quase toda esquina, quase sempre com qualidade duvidosa. 'Universidades a R$ 399,90 por mês'". Não que todas essas instituições tenham deixado de existir, mas não é mais o boom de outros tempos. E, não custa lembrar, o investimento em pesquisa (a elite da universidade, por assim dizer) cresceu mais de dez vezes no governo Lula, com resultados comprovados.

O colunista não leva em conta que o Brasil já dá sinais de que para um desenvolvimento sustentável precisa formar milhares de engenheiros, médicos, etc. etc. Por que não ter médicos e engenheiros (e outros profissionais de nível superior) de "origem humilde"? Desconfio que essa resposta não leremos nem na Folha nem no Estado.

domingo, janeiro 23, 2011

Estilo de "vida"

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Às vésperas do aniversário desta (chuvosa) cidade de São Paulo, parei em um restaurante próximo ao Largo da Batata, com minha noiva Patricia e minha filha Liz, e, nem terminamos de almoçar, caiu (mais) uma tempestade, que nos deixou ilhados por duas horas no local - e eu tive uma boa desculpa para experimentar, finalmente, a tal cerveja Paulistânia (sintomático esse nome). Foi um caos: a energia caiu várias vezes, os trovões eram ensurdecedores e a rua alagou. Como sempre, começamos a disparar telefonemas para desmarcar tudo o que havíamos planejado fazer naquele dia, véspera de feriadão. De fato, é uma cidade inviável.

Ou, como disse o poeta Antônio Risério, num programa da TV Cultura, é a cidade "das impossibilidades": tudo longe, tudo difícil, tudo complicado, tudo caro, tudo excludente. Cimento, cimento, cimento, cimento. E nem o clima ajuda! Porém, o mais curioso, naquele nosso "retiro" forçado no restaurante, foi a Patricia olhar na parede e reparar, entre dezenas de fotos antigas de São Paulo, emolduradas, a de uma enchente da década de 1940, com calhambeques submersos até quase o capô.

Ou seja, é tão comum que dá até nostalgia: "Olha, que legal, foi naquela enchente que meu bisavô morreu afogado!". "Não, não! Acho que foi aquela que derrubou a casa da vovó!". Só tomando uma(s), mesmo...

Pra botar na parede: uma beleza de enchente no Túnel do Anhangabaú, em 1963

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Entreviste Julian Assange

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Julian Assange, o fundador do Wikileaks, concederá uma entrevista ao público brasileiro e responderá a dez perguntas de leitores. Quem tiver interesse em formular uma pergunta a ele deve enviar sua questão como comentário no blogue cartacapitalwikileaks.wordpress.com, com o nome completo e e-mail de contato. O prazo para o envio de perguntas vai até hoje, sexta-feira 21, às 18 horas.

É bom lembrar que, dos critérios que serão utilizados para uma questão ser escolhida estão a originalidade, já que Assange tem concedido várias entrevistas, e a relevância para o público brasileiro. Envie a sua por aqui.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Fominhas 3 x São Bernardo 0

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Por Moriti Neto

Sem centroavante e com um ataque, a princípio, individualista. Foi assim que o São Paulo venceu o São Bernardo, por 3 x 0, na noite desta quarta-feira, no Morumbi, pela segunda rodada do Campeonato Paulista. De inusitado, ao menos para este escriba, a boa atuação do caçula do time vindo da cidade que forjou o maior político da história deste país e os autores dos gols da vitória são-paulina: Dagoberto, Marlos e Fernandinho. São jogadores velozes, com boa dose de habilidade, mas que carregam demais a bola e dificilmente sabem o momento certo para definir um lance.

O jogo

Com as ausências dos cinco garotos que estão na seleção brasileira sub-20, que disputa o sul-americano da categoria, principalmente Casemiro e Lucas, e poupando Fernandão, Paulo César Carpegiani escalou um time pouco marcador. Na defesa, Alex Silva e Miranda protegiam a meta de Rogério Ceni. Pelos lados, apareciam a dupla Jean e Juan (não, não é sugestão de trocadilho inspirado na música sertaneja). Rodrigo Souto fazia a cobertura da esquerda, Cléber Santana da direita, Ilsinho e Carlinhos Paraíba eram responsáveis pela criação nos lados do campo e Marlos ficava na frente, junto com Dagoberto.

No bom primeiro tempo, logo aos 4 minutos, Dagoberto, completando jogada de Marlos, anotou de canela: 1 x 0. A equipe tocava bem a bola, fazia tabelinhas, jogava pelos lados e arriscava vários chutes de fora da área. Controlando o ritmo da partida, o São Paulo ampliou com Marlos, aos 41, depois de cruzamento feito por Ilsinho, e fez jus ao resultado parcial de 2×0. Dagoberto ainda quase marcou um golaço ao arrancar no ataque e tocar por cobertura. A bola raspou a trave.

Começou a segunda etapa e a peleja ganhou ritmo diferente. O São Bernardo foi para cima, jogando um futebol vistoso. O mandante só não tomou o gol graças ao trabalho de Ceni, Alex Silva e Miranda. Assim, Carpegiani começou a mexer na equipe e colocou Fernandinho no lugar de Ilsinho. E o atacante, aos 31, foi autor do terceiro gol, numa bela jogada dentro da área. Depois, entraram Xandão e Fernandão, nos lugares de Cléber Santana – que saiu muito vaiado – e Dagoberto.

Decidido o resultado, o São Paulo voltou a dominar a partida, mas não teve o mesmo ímpeto em atacar de forma aguda como mostrado na etapa inicial. O Tricolor jogou muito bem o primeiro tempo e emperrou um pouco no segundo. Parece que vai pegando ritmo, mas, sinceramente, não consigo me empolgar com o meio de campo lento formado por Rodrigo Souto e Cléber Santana.


Apesar da goleada, o São Bernardo surpreendeu e mostrou qualidades. Pode despontar entre os pequenos neste estadual. Contudo, surpresa mesmo foi ver os três tentos da partida marcados por caras que, costumeiramente, carregam tanto a bola que dão impressão de quem vai exceder os limites das quatro linhas com a redonda. Ontem, só deu fominha balançando as redes.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Mais do mais do mesmo

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Encontro de santos hoje, no Morumbi: São Paulo e São Bernardo. Os dois times venceram na primeira rodada do Paulistão, o primeiro fez 2 a 0 no Mogi Mirim e o segundo, 3 a 1 no Grêmio Prudente. Muito cedo para qualquer diagnóstico, o São Paulo deve sofrer modificações no campeonato, com o retorno de Lucas e Casemiro do Sul Americano Sub-20 de Seleções e de Fernandão do departamento médico, além de alguma contratação discreta, como a do zagueiro uruguaio Coates. No mais, vendo os gols da partida de domingo, me deu uma sensação danada de déjà vu. São Paulo vencendo o Mogi Mirim com um dos gols de Marcelinho Paraíba e tendo Paulo César Carpegiani como técnico? Parece que já vi esse filme antes...

SÃO PAULO 4 x 0 MOGI MIRIM
Campeonato Paulista/ 24 de março de 1999
Estádio: Morumbi
São Paulo - Roger; Edmílson, Nem e Bordon; Jorginho (Belletti), Carabalí (Sídnei), Souza e Marcelinho Paraíba; Warley, França e Dodô. Técnico: Paulo César Carpegiani
Mogi Mirim - Anselmo; Paulão, Ronaldo e Fábio Paulista; Luiz Gustavo (Daniel), Rogerinho, Alexandre, Luiz Mário (Babau) e Misso (Lico); Márcio e Alex. Técnico: José Carlos Serrão
Gols: Bordon (2), Marcelinho Paraíba e Edmílson

Mas o jogo do último domingo foi esse aqui, ó:

terça-feira, janeiro 18, 2011

Em Belém do Pará, a cerveja de bacuri

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Aqui no Futepoca, já registramos especialidades brasileiras como a cerveja de mel, produzida no Nordeste, a de chimarrão, (obviamente) do Sul, e outras feitas, entre outras coisas, com café e até rapadura, no Sudeste. Pois bem, o meu colega Luiz Otávio Alencar (foto), que conheci trabalhando na ONG Instituto de Tecnologia Social, nos manda agora mais uma invenção tupiniquim, lá de sua terra, Belém do Pará: a cerveja feita com o fruto bacuri. A Bacuri Beer é definida assim pelo fabricante: "Clara e suave, com aroma de bacuri. Vencedora do prêmio internacional Tecno Bebida Award. Uma princesinha deliciosa. Teor alcoólico: 1,8%".

Mas vamos direto ao texto enviado pelo Otávio, conhecido em terras paraenses como "Cabeça de Minhoca":

"Um antigo Galpão abandonado das Companhias das Docas do Pará foi transformado, pela administração da Cidade de Belém, em um dos melhores lugares para se conhecer as delícias do Estado, de tantas histórias encantadas, de tanta gente talentosa e de tanta riqueza natural. O lugar é a Estação das Docas, e nele fica a Amazon Beer (foto abaixo).


É um bar de frente para a Baía de Guajará, que banha diversas cidades do Estado do Pará, inclusive sua capital, Belém, e é formada pelo encontro da foz do Rio Guamá com a foz do Rio Acará (imensa...). Um lugar que assusta pela elegância e estilo, pois vem logo aquela impressão de que você vai ser assaltado pelos preços do ambiente. No entanto, fica só na impressão, pois os preços são bons. É possível levar a família e se divertir, comendo uma bela salada de camarão com mix de folhas e vinagrete de frutas da Amazônia.

A especiaria do Amazon Beer é a cerveja de bacuri, com baixo teor alcoólico, sendo possível sentir o leve gosto da fruta (foto) na cerveja. Para um paraense como eu, nascido em Belém, criado em Ananindeua e com ascendência acaraense, que comi bacuri no pé - e com farinha, ver e sentir cheiro e gosto de uma cerveja feita da fruta, confesso que é bem interessante. Meu avô, José Alencar, com certeza ficaria bem assustado! O bacuri é uma das frutas mais populares de toda a Região Amazônica. Tem um gosto suave, leve, mas marcante, bem diferente do cupuaçu, de sabor e cheiro forte.

Um abraço a todos do Futepoca!"

O fora de série Neymar marca quatro e Brasil derrota o Paraguai no Sul-Americano sub-20

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A estreia da seleção brasileira no Sul-Americano sub-20 foi um jogo com quase tudo que o futebol pode proporcionar ao torcedor. Grandes jogadas, muitos gols, tentos de placa, alternância de domínio, expulsões, quase brigas. Ótimo para o telespectador daqui que não fez esforço para ficar acordado na madrugada de terça.

Não foi um jogo fácil no início. Apesar de o Brasil quase ter marcado com Bruno Uvini, em cobrança da falta de Neymar, o Paraguai chegava bem à frente com Correa, atacante de área quase típico, porém com alguma técnica, e Ortega, atleta que os antigos chamariam de “liso”. Além disso, o sistema defensivo guarani estava bem postado, com jogadores que ganharam na base da força física muitas disputas com os avantes brasileiros.

Mas em uma partida equilibrada, às vezes é o elemento surpresa que ajuda a decidir. E assim foi. O volante Casemiro veio de trás e, com habilidade, força e muita vontade, conseguiu furar a retaguarda adversária e sofreu pênalti. Confesso que até agora não tenho muita convicção da marcação do árbitro, mas o lance pareceu de fato penalidade. Neymar deslocou o goleiro e abriu o placar.

Sete minutos depois, o fora de série da Vila Belmiro deu de novo o ar de sua graça. Lucas avançou e conseguiu tocar para o santista, que entrou na área, fugiu da marcação de dois rivais e finalizou no único lugar possível. Dois a zero. O atacante peixeiro ainda deixaria Lucas na cara do goleiro Ovando, mas o tento não saiu, e faria mais duas jogadas de efeito no lado esquerdo do ataque que dobraram a torcida no estádio, contrária ao Brasil.

A equipe toda se mostrava motivada, com o tal “comprometimento” que tanto pedem os técnicos. Mesmo quem não desempenhava bem sua função se destacava pela entrega. Mas excesso de vontade também pode ser contraproducente. Talvez isso justifique a tola expulsão do volante Zé Eduardo, que recebeu dois cartões amarelos em três minutos. Expulsão justa que complicou a partida. Quase na sequência, o goleiro Gabriel se atrapalhou e o Paraguai conquistou escanteio. Viera, livre na pequena área, diminuiu na cobrança.

Ney Franco sacou o apagado Oscar e colocou o volante Fernando. Mas o susto só passou quando, em uma bola disputada no ataque após um chutão da defesa brasileira, a bola sobrou para Neymar, que chutou em cima do goleiro, prosseguiu no lance e marcou de cabeça. Três minutos depois, uma pintura de gol. O lateral Galhardo, que substituiu o ansioso Danilo, lançou da intermediária e Neymar dominou, avançou e encobriu o arqueiro paraguaio com um classe ímpar. Com a esquerda. O quarto do Brasil e o quarto dele.



Mais jogadas de efeito do santista e, com a equipe já relaxada diante de um perdido Paraguai, dois lances ainda agitam a partida. Os guaranis chegam ao segundo gol aos 39, com Galhardo. E Henrique, de novo com o tal excesso de vontade, comete falta, toma o segundo amarelo e é expulso. Mesmo com dois a menos durante o fim da partida, o Brasil não é ameaçado.

A vitória por 4 a 2 sela um início promissor para a equipe de Ney Franco, mas traz também a preocupação com o rendimento e o preparo psicológico de alguns atletas. O ponto positivo é que o leque de opções à disposição é bom. E poder contar com Neymar é quase uma bênção.

sábado, janeiro 15, 2011

Paulistão 2011 - Linense 1 X Santos 4 - Estreia com goleada do time misto

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A primeira partida do campeão paulista de 2010, o Santos, foi contra o Linense, atual vencedor da Série A-2. Na equipe do interior, alguns nomes conhecidos (ou não) como o goleiro Paulo Musse (ex-Vitória, Bahia, Santa Cruz etc etc etc) e o avante Pedrão, ex-ex-Grêmio Barueri. Já o Peixe tinha a defesa que jogou a maior parte do tempo no ano passado, mas do meio pra frente...

Sem Arouca, ainda sem Ganso, sem os recém-contratados Jonathan, Charles e Elano, e os atletas da seleção sub-20 Neymar, Alex Sandro, Danilo e Alan Patrick, Adílson Batista optou pelo 4-3-3, esquema tático, aliás, que propiciou os maiores espetáculos da bola do Alvinegro e, modéstia às favas, do futebol brasileiro em 2010. Claro que os atores desta feita eram outros...

O trio de ataque peixeiro contava com Zé Eduardo, atuando mais pela esquerda, Keirrison no meio e Maikon Leite pela esquerda. O último já está fora (mesmo?) da Vila, o primeiro, quase, e o segundo busca se recuperar do fraco 2010 que teve. Na criação, Róbson,que voltou do Avaí onde retomou a alcunha de Robinho.

Pressionando no começo da partida, o Peixe fez o primeiro gol do torneio aos 8 minutos, com Maikon Leite. Depois, o relaxamento natural de uma equipe em começo de temporada, mas o Linense só conseguia chegar com algum perigo em bolas paradas. No entanto, quando o Santos foi à frente, fez. Zé Eduardo contou com a ajuda do goleiro aos 33 e marcou. Keirrison sofre pênalti e converteu aos 41. Sem forçar, o primeiro tempo terminou 3 a 0 para o time da Vila.


Na segunda etapa, pressão do Linense. E penalidade a favor da equipe da casa. Rafael fez o que sempre faz em cobranças de pênalti: se mexeu o tempo todo em cima da linha, apontou o canto para o batedor finalizar, catimbou e... Fausto chutou e o goleiro defendeu. Como fez duas vezes contra o Grêmio Prudente em 2010. Um minuto depois, bola na trave. Mais cinco defesas dignas de nota testaram a boa fase do arqueiro peixeiro no segundo tempo.

E o Santos chegou ao quarto gol de novo com Maikon Leite aos 21, em contra-ataque, depois que Adílson Batista já tinha sacado Zé Love para colocar o volante Rodriguinho, aos 15. Ainda que esse tipo de substituição para amarrar a partida feita tão cedo não me agrade, fica o voto de confiança, até pelas limitadas opções do técnico.

Mas o fato é que nem essa, nem as outras duas alterações de Adílson fizeram com que o Linense deixasse de dominar o jogo na etapa final (de forma estéril a maior parte do tempo), mas, para uma estreia com time misto, marcar quatro gols está de bom tamanho. O Linense fez o seu aos 43, com Fausto, mas era mais que tarde. Junto com a vitória do time feminino no torneio internacional e dos meninos na Copinha, o hat trick do sábado estava feito.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Yo y mis cervezas

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Buenas, já que aproveitei o tempo que estive na Irlanda para comentar umas e outras cervejas que provei por lá, faço o mesmo, agora, sobre as que conheci numa rápida passagem por Uruguai e Argentina. Quando chegamos a Montevidéu, fomos encontrar uns amigos na Cervejaria Burlesque, no bairro Pocitos. Provamos algumas cervejas artesanais, não engarrafadas industrialmente, e outras marcas latinas. Mas eu gostei mesmo foi da holandesa Grolsch (foto), uma Premium American Lager que fica entre a compatriota Heineken (mas menos amarga) e a nossa Serra Malte (mas um pouco mais suave). O teor alcoólico é de 5% e ela vem numa garrafa com um sistema diferente de lacre.

Muito parecida com a Grolsch é a uruguaia Zillertal (foto), que provei em um butequinho da Praça Cagancha. Vem numa daquelas garrafonas de 1 litro, como as também uruguaias Norteña e Patricia, mais comuns em terras brasileiras, e tem 5,5% de álcool. É outra Premium Lager e, pelo o que percebi, só não é mais pedida que a popular (e fraquinha) marca Pilsen. Também experimentei, em Montevidéu, uma long neck de garrafinha gordinha da mexicana Negro Modelo, que chega até lá via importadora venezuelana. Muito gostosa, 5,3% de álcool. Pelo o que li aqui, ela também é uma cerveja Lager, mas o fabricante a denomina Munich Dunkel, sendo que outros a consideram uma Vienna. Quem entende sobre isso, que se manifeste...

Ainda no Uruguai, na última noite por lá, provei uma long neck da marca Patricia, só que estilo Red Lager, no barzinho Fun Fun, bairro Ciudad Vieja. Muito boa, parecida com a Baden Baden desse tipo, só que mais fraca (5% de álcool). Já em Buenos Aires, resolvi mergulhar de cabeça nos excelentes vinhos, mas o forte calor - muito mais que em Montevidéu, cidade ventilada - me "obrigou" a voltar à fundamental rubia helada, digo, loira gelada. A primeira que arrisquei foi a manjada Quilmes (foto), num buteco tosco da Avenida Córdoba, em Palermo Viejo. Outra cerveja Lager, o que comprova que essa história de que as Pilsen, mais leves, são obrigatórias em lugares quentes, é conversa fiada aceita só no Brasil. A Quilmes tem 4,9% de álcool, mas vou me abster de nota para a qualidade, pois na Argentina, ao contrário do Uruguai, todo bar serve cerveja morna. Só o chope vem geladaço.

A única exceção foi o bar La Biela, no bairro Recoleta, onde conheci uma (gelada) Imperial, indicada, no rótulo, como "cerveza especial argentina". Nunca tinha ouvido falar, mas é boa mesmo. Pra (não) variar, é uma Premium Lager, com 5,5% de teor alcoólico. O bar servia também outras argentinas, como a já citada Quilmes e a Schneider, mas a Imperial estava em TODAS as quase 100 mesinhas do local, em versão long neck e 1 litro. Outra surpresa, já no caminho de volta, no Aeroporto Ezeiza, foi a Quilmes versão Stout, long neck (foto). Cremosa, suave (só 4,8% de álcool) e um pouco adocicada, diferente de outras do tipo, como a tradicional irlandesa Guinness ou a brasileira Colorado. Mas foi uma boa despedida. Até a próxima, ou melhor, as próximas! Saludos!

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Velha mídia: a diferença entre a chuva tucana e a petista

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Há três anos a Thalita fez, neste espaço, a comparação entre dois editoriais do jornal O Estado de S. Paulo. Cada um dos textos tratava de uma obra então realizada pelo poder público e ambas tiveram tratamento bem distinto: o alagamento do túnel da Avenida Rebouças no início do mandato (incompleto) de José Serra na prefeitura paulistana e o episódio do "buraco do metrô", que fez sete vítimas fatais, também na capital do estado.

Lembrei desse post por conta do editorial desta quarta-feira, 12, do mesmo Estadão, intitulado "São Paulo pode conter as enchentes". O otimismo do título já é louvável e merecedor de elogios. Trata-se de um periódico que torce e acredita na terra bandeirante no mais entusiasmado estilo "yes, we can". Mas é interessante ler o texto, na íntegra, abaixo:

São Paulo pode conter as enchentes
O Estado de S. Paulo - 12/01/2011



A forte chuva que caiu na noite de segunda-feira e início da madrugada de ontem traz mais uma vez à discussão o renitente problema das enchentes que todos os anos castigam São Paulo e cidades próximas, e para o qual até agora as autoridades municipais e estaduais, que dividem as responsabilidades nesse caso, não conseguiram oferecer qualquer esperança de solução satisfatória. Solução, aqui, significa minorar significativamente os seus efeitos, já que eliminá-los é praticamente impossível tendo em vista as peculiaridades da capital paulista.
Repetiu-se o cenário desolador já bem conhecido dos paulistanos: quatro mortos na capital e outros quatro em municípios vizinhos; centenas de desabrigados que tiveram suas casas, construídas em áreas de risco, destruídas e perderam tudo; e ruas, avenidas e túneis alagados, com lixo e carros boiando e passageiros desesperados.
O transbordamento dos Rios Tietê e Pinheiros, em vários pontos das marginais, e de córregos, como o Cabuçu de Baixo, na zona norte, o Jaguaré, na zona oeste, e o Morro do S, na zona sul, paralisou boa parte da cidade até as 10 horas da manhã. Foram registrados 135 pontos de alagamento, e 58 deles ficaram intransitáveis por várias horas. Nos próximos dias, as avaliações da Defesa Civil, das administrações municipal e estadual e de entidades empresariais darão uma ideia mais precisa dos prejuízos para a população e a economia da capital.
É verdade que a topografia de São Paulo, em cuja área se alternam violentas ondulações e várzeas, não ajuda. Essa fatalidade geográfica é uma limitação importante. Apesar disso, o poder público pode fazer muito para reduzir os efeitos das enchentes, como sabem os estudiosos da questão. Elas nunca deixarão de ser um problema, mas podem deixar de ser um desastre periódico, como acontece hoje. As medidas para chegar a esse resultado são bem conhecidas, há muito tempo, e a maior parte delas já está sendo executada, mas infelizmente não de maneira satisfatória.
Os melhores exemplos disso são a limpeza do Rio Tietê, a construção de piscinões e a canalização de córregos. Bilhões já foram gastos no Projeto Tietê, destinado à recuperação desse rio, boa parte dos quais para o seu desassoreamento, com a retirada da sujeira acumulada durante décadas em seu leito, que possibilitou o aprofundamento da calha, o alargamento das margens e o aumento considerável da vazão. O resultado disso foi uma sensível redução do risco de transbordamento.
Desde que se concluiu essa etapa do projeto, todos sabiam que, sem um trabalho de manutenção adequado, com a limpeza constante do leito, essa importante conquista estaria ameaçada. Infelizmente, foi o que aconteceu. Mas, ainda que a vazão do Tietê não seja a mesma de quatro anos atrás, ela é suficiente para evitar um mal maior. Sem ela, a situação teria sido muito pior nas últimas enchentes. O governador Geraldo Alckmin já anunciou um remanejamento de verbas destinado a garantir recursos para acelerar a limpeza da calha do rio, que deve estar concluída em dois anos.
Quanto aos piscinões, destinados a reter a água das chuvas em pontos estratégicos, há dois problemas a resolver. Em primeiro lugar, seu número - hoje são 49 na Grande São Paulo - é insuficiente. Para completar o sistema, o governo do Estado deve contar com colaboração maior das prefeituras da região metropolitana. Até agora, só a capital deu contribuição significativa. Em segundo lugar, sua limpeza tem deixado a desejar.
A canalização dos córregos e a execução de outras medidas importantes cabem à Prefeitura da capital. Entre estas, a conservação, a limpeza e ampliação do sistema de drenagem, em especial de bueiros e galerias pluviais, que não têm sido satisfatórias, e o mapeamento das áreas de risco, a retirada dos que nelas se instalaram e ações para coibir novas ocupações.
É verdade que todas essas obras e serviços de manutenção, que podem minorar de forma significativa os efeitos das enchentes, custam caro. Mas é igualmente verdade que a sua ausência tem um custo ainda maior para a cidade. Elas são, portanto, altamente compensadoras.
Todos os negritos são meus e estão aí para realçar o quanto o escriba se esforçou para dizer que o problema da enchentes numa metrópole como São Paulo é complexo, o que seria até acaciano dizer. O texto afirma ainda que o governo paulista de fato agiu para evitar o pior por meio do Projeto Tietê. "Só" faltou manutenção, a limpeza do leito que não foi feita. Nas linhas, não se mostra o nome do responsável pelo malfeito, mas foi o mesmo gestor público que o jornal apoiou em outro editorial para a presidência da República.

Enfim, é tocante a compreensão do Estadão para com os problemas urbanos e como ele de fato enxerga o esforço do poder público e confia nos investimentos futuros para evitar que novas tragédias ocorram novamente. Curiosamente, disposição parecida não houve há quase seis anos:
Pressa e inépcia se uniram para tornar precário o Túnel Rebouças 
O Estado de S.Paulo - 15/01/05 
Quem errou vai pagar, avisou o prefeito José Serra durante visita, na semana passada, ao Túnel Jornalista Fernando Vieira de Mello, na Avenida Rebouças, construído às pressas pela administração Marta Suplicy para ser inaugurado às vésperas das eleições. Na primeira chuva intensa de novembro, a passagem foi invadida pelas águas e se transformou num piscinão. De lá para cá, a cada precipitação forte, o acesso ao túnel – construído para dar maior fluidez ao tráfego no cruzamento com a Avenida Faria Lima, ao custo de R$ 97,4 milhões – é fechado e o trânsito se torna pior do que antes da obra.
Agora, atendendo a pedido do prefeito, engenheiros do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da Escola Politécnica da USP, do Instituto de Engenharia e da Secretaria de Infra-Estrutura e Obras apresentaram relatório sobre os problemas de execução do túnel. O secretário municipal de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz e Silva, afirmou que a pressa foi inimiga da qualidade. A galeria de águas pluviais, construída ao lado da passagem subterrânea, foi feita com tubos de PVC e areia em vez de concreto, material muito mais resistente.
A análise dos técnicos do IPT aponta para deformações, rachaduras, remendos, assoreamento e infiltrações na galeria. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o vice-presidente da Construcap, contratada pela empreiteira Queiroz Galvão para executar as obras, admitiu que “a técnica construtiva foi escolhida por causa da exigüidade do prazo imposto pela Queiroz Galvão”. Segundo ele, tudo foi feito em menos de 40 dias, com os operários trabalhando de madrugada para não atrapalhar o tráfego. Capobianco lembra que a Emurb autorizou o uso do material.
Identificadas as falhas de execução, o prefeito José Serra quer agora que os responsáveis pela obra realizem as reformas imediatamente, sem que a administração municipal desembolse um único centavo.
O contrato firmado entre a Prefeitura e a construtora Queiroz Galvão, em 2003, estabelecia o prazo de 18 meses para a entrega do túnel. No primeiro semestre de 2004, o governo petista alterou os planos para inaugurar a obra em novembro. Alegando dificuldades técnicas, mudou o padrão de construção. A decisão elevou em 47% o preço da obra, cujo ritmo foi acelerado, permitindo que fosse inaugurada em setembro.
Tanta correria numa construção complexa, a poucos metros do Rio Pinheiros, não poderia ter outro resultado. Há décadas, nas ocorrências de chuvas fortes, as ruas próximas do túnel apresentam alagamentos por causa das galerias subdimensionadas e da impermeabilização do solo, que leva as enxurradas em grande velocidade em direção ao Rio Pinheiros, onde não conseguem desaguar e há o refluxo pelas bocas-de-lobo.
O prefeito acerta ao cobrar o trabalho bem-feito dos responsáveis pela obra. Além dos riscos trazidos pela inundação do túnel, as falhas na execução da obra comprometem a segurança do corredor de ônibus. Segundo o secretário de Infra-Estrutura e Obras, Antônio Arnaldo de Queiroz Filho, a deformação excessiva da tubulação pode provocar o solapamento do piso do corredor.
A administração Marta Suplicy prometeu fazer da Rebouças uma avenida-modelo, com o corredor do Passa-Rápido, um belo projeto paisagístico e a passagem subterrânea, que acabaria com um dos principais gargalos do trânsito na região.
Ocorreu, de fato, grande mudança na avenida que, atualmente, parece um cenário de guerra. Um dos mais nobres corredores da cidade está sem calçadas e tomado por entulhos. O projeto paisagístico se perdeu, com as plantas emaranhadas, sem os cuidados necessários, e o trânsito continua complicado. E assim ficará por bom tempo. Afinal, as reformas do que foi feito às pressas vão ser iniciadas, haverá bloqueio de duas faixas da Rebouças e carros e ônibus terão de se espremer em apenas 5,7 metros de via. O fechamento das pistas permitirá que 3,5 mil veículos trafeguem por hora na Rebouças, quando o movimento normal é de 4,5 mil.
Por conta dos caprichos e da irresponsabilidade da administração passada, os moradores de São Paulo voltarão a enfrentar transtornos ainda maiores no trânsito.

Estão mantidos os negritos na Thalita no texto original porque eles refletem, primeiro, a condenação sem rodeios da administração petista que realizou a obra, pautada por declarações do prefeito e do secretário tucanos. Segundo, evidencia o diagnóstico do jornal: pressa e inépcia. Mas, no editorial de hoje, não se questiona o que deixou de ser feito tampouco os erros repetidos da falta de planejamento urbano de São Paulo. Como é o caso da ampliação da marginal do Tietê, obra bilionária que conta com uma duvidosa compensação ambiental e reforça um modelo viário que ajuda a tornar a cidade inviável em breve. Sobre isso, comenta Raquel Rolnik em seu blog:
Me parece, e tenho repetido isso, que evidentemente não é a obra de ampliação da marginal que causou enchentes, pois isso não faz nenhum sentido. A questão é que esta é uma área sujeita a enchentes e alagamentos, porque está na beira do rio. Sempre podem ocorrer chuvas excepcionais e a beira do rio está sujeita a enchentes e alagamentos. O problema é colocar o sistema viário estrutural da cidade em um lugar dessa vulnerabilidade, significa claramente expor o sistema de mobilidade principal a essa situação.
Na terça-feira, 11, também foi curioso assistir ao Jornal das Dez na Globo News. A única menção ao poder público na escalada (abertura) do noticiário foi relativa às verbas para prevenção de desastres do Ministério da Integração teriam diminuído de R$ 168 milhões em 2010 para R$ 137 milhões em 2011. Ou seja, a culpa é do Lula, claro! Essa foi a primeira pergunta feita ao urbanista João Whitaker, que colocou os pingos nos is de forma diferente da imaginada pela pauta (veja aqui).

É bom ressaltar que o montante reservado no orçamento do governo federal para prevenir desastres em todo o país, e que é irrelevante para São Paulo, é um pouco maior do que os R$ 100 milhões obtidos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na gestão Marta Suplicy para a construção de dois piscinões na capital paulista. As obras foram canceladas por seu sucessor, José Serra, e os recursos estão intocados para que o atual alcaide possa usar. Mas talvez a cidade não precise de obras contra enchentes, por isso a demora.

terça-feira, janeiro 11, 2011

A quem Pelé realmente reverenciava

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A partir de 1958, quando brilhou na Copa da Suécia, Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, tornou-se um dos seres humanos mais célebres do planeta, a ponto de nem exigirem seu passaporte em muitos dos países que visita. Desde aquela época, passou a ser recebido com reverência e admiração por reis, papas, presidentes e centenas de personalidades de todo o mundo. Ao que parece, nunca demonstrou estar muito emocionado nesses encontros, mesmo quando ainda era um adolescente. Mas havia outro brasileiro por quem, pelo o que está registrado, ele realmente se importou quando teve a oportunidade de conhecer.


No livro "Nuestro Vinícius" (Editora Sudamericana, Buenos Aires, 2010), a autora Liana Wenner conta histórias das passagens do poeta e compositor Vinicius de Moraes pelas terras portenhas (foto acima), onde era idolatrado, nas décadas de 1960 e 1970. Em agosto de 1968, ele se apresentou pela primeira vez na Argentina, com Dorival Caymmi, Quarteto em Cy, Baden Powell e Oscar Castro Neves. Nesta "noite mágica", como define Wenner, quatro ou cinco jogadores do Santos, que estavam em Buenos Aires para um amistoso contra o River Plate, apareceram na porta do teatro para tentar entrar na metade da segunda apresentação.

O produtor do show, Alfredo Radoszynski, foi abordado pelo lanterninha, que disse: "Senhor, Pelé está aqui!". O produtor saltou até uma das portas laterais: "Por favor, rapazes, venham!". Pouco depois, Pelé e seus colegas estavam em cima do palco. "Baden Powell improvisou no violão uma batida de samba ao estilo de Pixinguinha. A bateria acompanhou", relata Liana Wenner. "Vinicius se aproximava para abraçar os jogadores. Pelé sentiu seus olhos marejarem e começou a chorar como um menino assustado". Neste momento, o Rei revelou a quem idolatrava.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Efeitos subterrâneos da amplificação da "crise dos cargos"

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Ao amplificar a sede de cargos do PMDB no governo petista, a pauta da grande mídia é ainda aquela veiculada na campanha de José Serra: "A Dilma não dá conta". Ela não é o Lula, que "com seu carisma" conseguia segurar as feras do PMDB e também – no momento fora de foco – os "radicais do PT", como se o carisma fosse a sua única qualidade, ignorando a enorme capacidade de articulação política, que não se perde com a entrada de Dilma, pois o know how é da equipe: há continuidade. Como Dilma dará conta, haverá uma partilha dos cargos, em algum momento terá que ser construída a versão para a "solução da crise", ou seja, o momento em que conseguirem mostrar que houve "derrota do PT para o PMDB" (ou derrota do governo dentro do governo). Mas isso passará.

O PMDB, tal como é, sabe que não pode ter qualquer existência como oposição. Teria o mesmo fim do DEM, o encolhimento vertiginoso, até um provável sumiço dentro de uns dez anos. Então a pressão por cargos também tem os seus limites.

Talvez não percebam que, subterraneamente, estão desenvolvendo uma pauta que interessa ao PT: a desmoralização do PMDB, que se mostra apenas como uma massa fisiológica, salvo as sempre citadas exceções, como o governador Sergio Cabral. Quanto mais investirem nessa crise, o desgaste não será exatamente do PT, mas do próprio PMDB, que terá cada vez mais dificuldade de se mostrar como um partido com projeto de país e capaz de propor uma real alternativa de poder. No médio-longo prazo, é um cenário positivo para os petistas.

sexta-feira, dezembro 31, 2010

O Sobrenatural de Almeida é manguaça!

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Ontem eu já voltei pra casa dos meus pais "mal" intencionado, com uma dúzia de garrafas de cerveja à tiracolo e um gigante pedaço de queijo reino "dubão". O calor dessa região de Ribeirão Preto, no interiorzão de São Paulo, convidava ao ócio e à manguacice. Já encontrei meu pai, "Seo" Chico, com a mesma disposição. Enchemos os copos, cortamos o queijo, pusemos uma mesinha e cadeiras no quintal e botamos um CD do Altemar Dutra com marchinhas carnavalescas. Meu pais contou suas histórias de infância e adolescência, quando era crooner de orquestras, de seus tempos de Exército em Pirassununga, da boemia paulistana nos anos 1970, enfim, coisas que só eu, na família, tenho paciência e supremo prazer em ouvir.

Vai daí que ele se lembrou de um outro 31 de dezembro, há mais de duas décadas, quando ele, eu (então com uns 12 anos) e mais alguns primos e tios decidimos passar o Ano Novo isolados numa casinha no alto de uma serra, local sem energia elétrica, para observar os fogos em toda a cidade (buenas, tudo desculpa pra beber à vontade longe da mulherada, lógico!). Já havia dois carros cheios de cerveja Malt 90 quando alguém lembrou que precisávamos comprar gelo. Lembro que, por horas, vagamos por todos os mercados, postos de gasolina e casas de parentes atrás da preciosa mercadoria. Nada; o produto estava em falta por causa das festas de Ano Novo. Decidimos, então, subir a serra e beber cerveja quente, mais ou menos resfriada na água de um riachinho.

Quando já estávamos no meio do mato, lá pelas nove da noite, o carro do meu pai fez a última curva antes da subida principal, na beira de uma lagoa, quando se deparou com duas enormes e reluzentes pedras, tendo que frear bruscamente. Descemos para retirar os obstáculos e, para nosso espanto e felicidade geral da nação, tratava-se de dois blocos enormes de... GELO! Ainda hoje essa história rende conjecturas entre nós, os manguaças da família. Quem teria jogado aquele gelo ali, no meio do mato, longe da cidade, justo no nosso caminho? Para o gelo estar inteiro, tinha sido pouco antes de passarmos. Mistério total. Mas passamos o reveillón com cerveja gelada...

E depois de relembrarmos esse episódio sobrenatural ontem à noite, eis que hoje, lá pelas seis da manhã, minha mãe passa pelo quintal e, do nada, encontra um isopor em cima do muro, cheio de gelo e com três latinhas de cerveja dentro! Temendo mexer no que não é nosso, deixou a caixa lá, até umas dez da manhã. Nada. Sem alternativa, eu e meu pai nos servimos de mais esse "presente" de Ano Novo do Sobrenatural de Almeida. Que já deve estar de porre uma hora dessas... Brindando um Feliz 2011 e desejando muita cerveja para todos os futepoquenses, colaboradores e leitores! Saúde!

Som na caixa, manguaça! - Volume 65

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SAUDADE DOS AVIÕES DA PAN AIR (CONVERSANDO NO BAR)
(Fernando Brant-Milton Nascimento)

Milton Nascimento

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E de um tiro que ele não levou, levei um susto imenso
Nas asas da Pan Air
Descobri que as coisas mudam e que o mundo é pequeno
Nas asas da Pan Air

E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo fruto
Sem nenhum pecado, sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois
Descobri que a minha arma é o que a memória guarda
Dos tempos da Pan Air

Nada existe que não se esqueça, alguém insiste e fala ao coração
Tudo de triste existe que não se esquece, alguém insiste e fere o coração
Nada de novo existe neste planeta que não se fale aqui na mesa de bar
E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu, morri a cada dia dos dias que vivi

Cerveja que tomo hoje é apenas em memória dos tempos da Pan Air
A primeira Coca-Cola foi, me lembro bem agora, nas asas da Pan Air
A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo nas asas da Pan Air
Em volta dessa mesa velhos e moços lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua vivendo o seu normal
Em volta dessa rua uma cidade sonhando seus metais
Em volta da cidade...

(Do LP "Minas", EMI Odeon, 1975)



Sugestão do camarada DeMarcelo (Maurício). Feliz Ano Novo pra ti, pra Cris e pro Chicão. E pra toda a coletividade futepoquense!

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Brasileirão - considerações finais

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Os números do Footstats mostram alguns aspectos interessantes do Brasileirão 2010, que poucos colunistas ou comentaristas se preocupam em analisar antes de dispararem seus coquetéis de teorias, palpites ou absurdos puros e simples. Algumas coisas são meio óbvias, mas quase ninguém atenta para elas. Como, por exemplo, o fato de que quem mais arrisca finalizações, mais gols faz. Ou, então, de que o time que tem o maior driblador é aquele que sofreu mais pênaltis. Enfim, uma radiografia interessante de alguns aspectos do nosso maior torneio nacional - que, sem entrar no mérito do nível técnico, da má arbitragem e de outros problemas graves, tem sido mais disputado e emocionante a cada ano.

Violência não traz resultado - Dos quatro times mais tradicionais de São Paulo, o Corinthians foi o melhor e o Santos também fez um bom campeonato. Palmeiras e São Paulo terminaram na zona intermediária e nem conseguiram classificação para a Libertadores. Curiosamente, são times que tiveram atletas que receberam três cartões vermelhos cada um (Marcos Assunção e Richarlyson), só ficando atrás do recordista Heleno, do Ceará, com quatro expulsões. O mesmo Richarlyson ainda levou 12 cartões amarelos (Pituca, do Atlético-GO, e o carniceiro Heleno levaram 15). O palmeireinse Edinho recebeu 11.

Quem arrisca, petisca - Na lista dos maiores finalizadores do campeonato, nenhuma surpresa. Jonas, do Grêmio, foi o maior de todos, com 135. Não por acaso, terminou como artilheiro da competição, com 23 gols. Na sequência, empate técnico com Bruno César, do Corinthians, com 108 finalizações, e Neymar, do Santos, com 107. Também não é nenhuma coincidência que o santista tenha sido o vice-artilheiro, com 17 gols, e o corintiano o terceiro maior goleador, com 14.

Talento e objetividade - Ainda falando sobre o talentoso Neymar, ele driblou 194 vezes no Brasileirão, recordista absoluto. Fato que chama a atenção é que o Santos foi o time que sofreu mais pênaltis: 13. Interessante é que o terceiro e o quarto colocados no fundamento, Lucas, com 120 dribles, e Marlos, com 110, jogaram pelo São Paulo. E o time do Morumbi não teve nem meia dúzia de pênaltis a favor. Curiosidade: Mazola, que jogou pelo Guarani, foi o segundo maior driblador, com 139 lances. Ele também é atleta do São Paulo. E o Guarani foi rebaixado.

Arbitragem ou erro de posicionamento? - Thiago Ribeiro, atacante do Cruzeiro, foi o recordista de impedimentos no campeonato, 40 vezes. Seu time foi o segundo mais advertido nessa infração, 110 vezes. Já o botafoguense Jóbson vem na sequência, com 32 impedimentos. E o Botafogo foi o líder, com ataque impedido 123 vezes. Será que os dois jogadores precisam mesmo corrigir sua noção de posicionamento ou a arbitragem foi especialmente rigorosa com esses dois clubes?

Longevidade e qualidade - Aos 37 anos e titular do gol do São Paulo desde 1997, Rogério Ceni foi, ao lado de Conca, do Fluminense, e de Fernando Prass, do Vasco, um dos únicos que entraram em campo todas as 38 partidas da competição. Isso significa que não foi expulso e nem chegou a tomar três cartões amarelos. Apesar de suas habituais falhas inacreditáveis (que foram bem mais raras nesse Brasileirão), o goleiro sãopaulino fez alguns jogos espetaculares, gols e continuou fazendo lançamentos precisos na ligação do contra-ataque. É o jogador com mais partidas na história da competição. Um mito.

Tipos de Cerveja 58 - As German Kristallweizen

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A Kristallweizen é, simplesmente, uma Hefeweizen filtrada. Isso faz com que seja uma cerveja clara e límpida, com cores que vão desde o amarelo claro até o âmbar. "Por vezes, e de modo depreciativo, são conhecidas como as 'Hefeweizen castradas'. Não partilho dessa opinião, apesar de muitos exemplares que podemos encontrar no mercado terem uma certa falta de personalidade", observa Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo. "Para além disso, são ligeiramente mais suaves do que as Hefe, com sabor e aroma mais atenuados", comenta. Para quem está planejando a ceia de Ano Novo, as Kristallweize acompanham bem saladas e pratos vegetarianos. Marcas mais conhecidas: Tucher Kristall Weizen, Allgauer Furstabt Kristallweizen e Weihenstephaner Kristallweissbier.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Oprimidos no poder, oito anos depois

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Foi logo depois do segundo turno da eleição presidencial de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu a disputa para ser presidente da República, que a revista Época publicou: "Os oprimidos no poder". A reportagem assinada por Igor Fuser, um jornalista com vasta experiência em coberturas internacionais, trazia um balanço de lideranças populares que chegaram ao poder pelo mundo afora.

O gancho eram as comparações constantes entre Lula e Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul depois de anos de prisão e de liderança contra o regime do Apartheid. A proposta era lembrar que a origem oprimida de um mandatário nacional não garantiu, historicamente, o sucesso da gestão. A matéria citava quatro figuras em diferentes partes do mundo.

Antes de continuar, vale lembrar que Lula traçou paralelos entre Mandela e Dilma Rousseff no primeiro programa da campanha eleitoral, em maio de 2010 (sic).

"Comparar-se a uma unanimidade mundial (Mandela, no caso) é certeza de bons dividendos eleitorais – sobretudo se, como é o caso de Lula, o paralelo tem suporte na vida real. Mas a analogia, para ser completa, deveria levar em conta os fracassos que marcam os cinco anos de Mandela como presidente", propunha o texto. Na verdade, a brincadeia era incluir a parte ruim dos mandatos de outros líderes egressos de movimentos sociais e populares.

Com um ou outro senão, a reportagem era bem ampla e não mereceria ressalvas deste leitor, a não ser pela edição de imagens e pelos quadros comparativos. Trazia informações interessantes e boas doses de críticas ao receituário do Fundo Monetário Internacional (FMI), aquela de redução de déficits fiscais, de investimentos e de intervenção do Estado na economia, bem como privatização e ampliação da autonomia do mercado.

Foto: Slawek/Wikipedia
Na conta de Mandela, colocava-se 500 mil desempregados em 1999 e uma recessão que reduziu a renda per capita da população. Na de Lech Walesa (foto), o ex-sindicalista de direita polonês que fez um governo marcado pelo autoritarismo pós-socialismo no país, vem o fracasso da "terapia de choque" de Jeffrey Sachs.

Os outros exemplos são anteriores à primeira metade do século XX. Ramsay MacDonald foi o primeiro trabalhista a chefiar o Parlamento britânico antes da Primeira Guerra Mundial e durante a crise de 1929. Emiliano Zapata, no México, não tomou o governo em 1914 apesar de ter tomado a capital do país.

Ao final da análise, uma reflexão. "Governantes conservadores têm menor dificuldade para se adaptar à máquina do Estado, que parece ter sido construída sob medida para eles. A competência e os inesquecíveis desastres dessas administrações são avaliados por outro horizonte e outros critérios", propunha. Por outro lado, "reformas sociais" provocariam "pequenos distúrbios" e demandariam "ajustes", mas "quando dá certo, produz resultados admiráveis".

Quem concorda, levante a mão?

Para comparar
Passados oito anos, é o momento de avaliar em que nível Lula ficou. Fez menos do que os setores mais à esquerda gostariam, mas é bem avaliado pela esmagadora maiora das pessoas. Lula termina o mandato com 87% de aprovação, provavelmente mais do que Mandela (realmente não encontrei dados de pesquisas da época).

Foto: Ricardo Stuckert/Pr
 Lula olímpico: saiu-se bem na foto comparado a outros líderes
egressos de movimentos sociais, populares e "oprimidos",
para usar o termo consagrado em 2002 pela reportagem citada

O desemprego em baixa e o sucesso de programas de combate à pobreza – incluindo a Previdência Social, estabelecida na Constituição de 1988, e o Bolsa Família, expandido exponencialmente a partir de 2003 – formam uma tendência contrária à formação do "Apartheid social" sul-africano, para usar termos comuns quando se analisa o governo Mandela.


Na comparação com Walesa, vale citar que, em 2000, ao disputar a presidência, o polonês teve 1% dos votos. A derrota em 1995, quando disputou a reeleição, no entanto, ocorreu por três pontos percentuais. Em vez da hiperinflação polonesa do início da década de 1990, houve aumento de preços dentro da mal-quista meta estabelecida pelo governo Lula. Em vez de congelamento de salários, aumento da renda média dos trabalhadores – ainda que no final da gestão.

Com MacDonald, vale parear o que foi o resultado da crise de 1929 à "marolinha" de 2008-2009. Descontadas as proporções – e posições geopolíticas – de cada um dos países comparados, o Brasil teve um ano de recessão seguido de um crescimento acima de 7% em 2010. O Reino Unido teve quatro anos de retração.

Foto: Wikipedia


Para espelhar Lula e Zapata, além do confronto barba contra bigode, seria preciso que o presidente que agora deixa o governo tivesse, de um lado, recorrido às armas para tomar o poder. De outro, que tivesse deixado o cargo ao perceber que não seria capaz de fazer reforma agrária etc.

Lula diz ter feito a maior redistribuição de terra da história da República, embora o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) discorde. Começou o governo com uma condução ortodoxa da economia, mas superou a crise econômica mostrando que ainda há muita capacidade de intervenção.

Sai com a maior popularidade entre os presidentes eleitos do Brasil.

Lado ruim
Se alguém ainda conseguiu ler até aqui, há um aspecto da vida política sul-africana que merece reflexão. Para alguns analistas, tudo o que Nelson Mandela representa no imaginário da sociedade tem um efeito ruim. Ruim para quem ocupa o cargo máximo do Executivo. O atual e questionável presidente do país, Jacob Zuma, assumiu em 2009 e rapidamente viu caiur seus índices de aprovação. A comparação com o Madiba, o paizinho dos sul-africanos, dificulta a vida do atual mandatário, que sucedeu Thabo Mbeki.

Substituir o presidente mais popular da história da República vai ser complexo para Dilma Rousseff. Mas aí a comparação é com outras figuras internacionais.

domingo, dezembro 26, 2010

Na cachaça, a amizade e o amor incondicionais

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Na ficção "Incidente em Antares" (Editora Glôbo, 1971), do gaúcho Érico Veríssimo, sete defuntos que são impedidos de serem sepultados por uma greve geral que abrange também os coveiros se levantam dos caixões e, em protesto contra os "maus tratos", retornam para assombrar e empestear a cidade com seus aspectos hediondos e o odor insuportável. Cada um deles tem suas contas a ajustar: o advogado flagra a esposa com outro na cama e vai ao cartório para fazer uma mutreta; a matriarca milionária surpreende as filhas e os genros discutindo com violência sobre a partilha de jóias que ela pedira para ser enterrada com elas; o maestro fracassado que cortou os pulsos volta à casa de solteirão para finalmente executar a sonata que não conseguira décadas antes, em público; o militante que morreu torturado pela polícia vai conversar com um padre progressista para tratar da emigração de sua esposa grávida; a anciã e ex-prostituta retorna à sua moradia miserável para consolar a amiga e colega de profissão; o sapateiro anarquista vai à delegacia atazanar o truculento torturador do município. O único que não tem rancor ou assuntos urgentes é Pudim de Cachaça, o bêbado que, mesmo tendo sido envenenado pela esposa, que não aguentava mais seus porres e agressões, vai procurar apenas seu melhor amigo e companheiro de copo, um tal de Alambique.

"Alambique espanta as môscas que voejam também em tôrno da sua cabeça, pega o violão e começa a tocar uns ponteios. O morto pergunta:

- Escuta aqui... é verdade mesmo que a Natalina botou veneno na minha comida?

- É. Confessou.

- Não teria sido invenção da polícia?

- Não. Falei com ela. Não nega que te matou de propósito.

- Coitada! Não está arrependida?

- Não sei. Mas não me pareceu.

- E agora? Será que vai pegar muitos anos de cadeia?

- Ora, menino, isso depende de muita coisa. Do discurso do promotor. Do advogado dela. Dos jurados. Toma alguma coisa!

Alambique ergue-se e, meio cambaleante, vai até a prateleira do botequim, por trás do balcão, segura uma garrafa de cachaça e volta com ela para a mesa.

- Estamos de donos desta joça. Quando te viu, o Quincas ficou branco como papel e botou o pé no mundo. Hoje podemos beber de graça. Quem sabe aceitas um vinho... ou um licorzinho?

Pudim belisca, distraído, as cordas do violão do amigo.

- Onde está a Natalina?

- Na cadeia municipal. Onde mais?

Pudim de Cachaça passa a mão pelo estômago, quase numa carícia.

- Escuta aqui, Alambique... E se a gente hoje de noite fôsse fazer uma serenata pra ela?"

sexta-feira, dezembro 24, 2010

Bonde errado

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Sondado recentemente por Corinthians e Palmeiras e vivendo momento ruim (pra variar) no Roma, o eterno manguaça Adriano viveu seu último grande momento no futebol em 2009, quando sagrou-se campeão brasileiro pelo clube que o revelou, o Flamengo. Mas nem isso garantiu para ele uma vaga na seleção de Dunga, que disputou este ano a Copa da África do Sul. O que, no final das contas, poupou o manguaça de mais uma derrota em mundiais. Na subida para o Largo do Guimarães, em Santa Teresa, Rio de Janeiro, registrei uma curiosa pintura sobre o "bonde errado" que Adriano deixou de pegar para terras africanas:


Som na caixa, manguaça! - Volume 64

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MINHA HISTÓRIA (GESUBAMBINO)
(Dalla/ Pallotino - versão: Chico Buarque)

Chico Buarque

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá,laiá, laiá

Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto

Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá,laiá, laiá
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor, laiá, laiá, laiá,laiá

Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus
Laiá, laiá, laiá,laiá

(Do LP "Construção", Philips, 1971)

O importante é levar vantagem, certo?

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Caminhando pela Praia Linda (foto), em São Pedro da Aldeia (RJ), resolvo parar num quiosque para traçar meia porção de camarão ao alho e óleo acompanhada de uma geladíssima Devassa (de garrafa grande). E estou lá, contemplando a vastidão da Lagoa de Araruama, quando chega o manguaça, trançando as pernas e cantando: "Numa moto foi embora pra cidade, que infelicidade, ela foi sentada atrás..." ("Motoqueiro", a sequência de "Fuscão preto", do Almir Rogério). Deve ter seus 70 anos, é bem negro, com alguns fios de cabelo branco, está sem camisa e com uma bermuda feita de uma velha calça social azul marinho. Os vira-latas da praia começam a latir alto para a cantoria do bebum, que pede uma pinga e continua com seu cíclico "Numa moto foi embora pra cidade..." (será que ele caiu na cachaça por ter sido abandonado no altar?). Vai daí que uma mulher, de canga e biquini, chega ao balcão para acertar a conta de sua mesa. O dono da tapera vai listando o preço de cada item quando o bêbado interrompe:

- Peraí! Quanto custa a garrafa de cerveja?

- É R$ 2,80 - responde o quiosqueiro.

- Pô, uma garrafa inteira custa só R$ 2,80? E por que um copinho de cachaça custa R$ 1,00? - indigna-se o manguaça.

- É porque cachaça mata mais rápido.

- Ah, sim! Agora eu vi vantagem! Bota mais um copo!

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Nove ministras e uma presidente

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A presidente eleita Dilma Rousseff bateu o martelo em seu ministério. São 37 nomes, da Fazenda à Pesca, da Agricultura ao Desenvolvimento Agrário. Do total, nove são mulheres, menos de um quarto. Com a inclusão da mandatária, seriam 10 moças para 28 marmanjos no primeiro escação, quase um time de futebol feminino na Esplanada dos Ministérios.

Fosse Luiz Inácio Lula da Silva a analisar, ele diria que nunca, na história da República, tantas mulheres ocuparam cargos de tanto destaque. Para um país que tem uma inédita presidenta (para usar novamente termos do mandatário da nação), esses 24% podem ser vistos como um sinal da conquista feminina por espaço de poder, ainda que decorrente de uma decisão política.



Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Miriam Belchior,
futura ministra
do Planejamento



Mas pode parecer pouco levando-se em conta dois indicadores. O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 51% dos 190 milhões de pessoas que habitam o país são do sexo feminino. O outro dado é um exercício matemático realizado até pela campanha de Dilma no início do segundo turno.

Os votos de 61% dos eleitores brasileiros na disputa presidencial de 3 de outubro foram para mulheres. É que além dos 43% da petista, 18% foram para a senadora Marina Silva (PV-AC). Seria exagero entender, apenas por este dado, que a maioria da população quer mulheres no poder.

Especialmente considerando-se que a discussão sobre ações afirmativas para conduzir mulheres ao poder tenha ampla resistência. Foi motivo de "gatos" alaranjados, por parte dos partidos políticos, a garantia formal de 30% de participação feminina nas candidaturas e 5% dos recursos para programas voltados às mulheres. E ainda agravado pela desidratação dessas postulações pela míngua de financiamento, como constatou o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).




Foto: Wilson Dias/
Agência Brasil
Maria do Rosário,
que assume a
Secretaria de Direitos
Humanos em janeiro



Relativamente
A presença de mulheres em outras instâncias de poder fica ainda mais restrita. Nas duas casas do Congresso Nacional, das 594 excelências, 55 são mulheres atualmente; serão 57 em 2011.

Para detalhar: no Senado, 15% dos 81 representantes dos estados a partir do ano que vem são mulheres. Isso quer dizer duas a mais do que o ocorrido hoje – sendo que uma delas, Ana Rita Esgário (PT), assume como suplente a vaga do governador eleito do Espírito Santo Renato Casagrande (PSB-ES). Na Câmara, o número de deputadas foi mantido em 45, embora tenha ocorrido ampla renovação.

No comando dos estados, vale lembrar que o país voltará a ter apenas duas mulheres como governadoras, mesmo número de oito anos atrás. Isso representa 7% dos 26 estados mais o Distrito Federal. No pleito anterior, o comando dos executivos regionais vinha sendo ocupado por presença feminina em três unidades da federação.

Considerando-se o universo de empresas privadas, um estudo revelador foi publicado pelo Instituto Ethos em novembro deste ano. O levantamento, junto às 500 maiores companhias do país segundo ranking do anuário "Melhores e Maiores 2009", da revista Exame, mostrou que 13,7% dos cargos de direção são ocupados por mulheres – o dobro de nove anos atrás, quando pesquisa similar foi realizada.

Apesar da evolução, é pouco, muito pouco. Ainda mais porque quanto mais se ascende na hierarquia corporativa, menos mulheres chegam. Como elas têm, em média, mais anos de escolaridade do que os homens, feministas põem na conta o machismo esse funil estreito.

Relativamente a outros espaços de poder, os 24% para mulheres entre o alto comando do governo federal não são tão pouco.

Compare-se
Primeiro escalão do Executivo Federal – 24%
Senado – 14,8%
Câmara dos deputados – 8,7%
Governadores – 7,4%
Diretoria de Grandes empresas – 13,7%

quarta-feira, dezembro 22, 2010

O homem por trás da "espingarda Rossi"

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por Vitor Nuzzi

Morreu Enzo Bearzot, técnico da seleção italiana de 1982, campeã mundial. Com quase 18 anos e praticamente só ligado em futebol naquele período, tive uma das primeiras grandes decepções esportivas ao ver a nossa seleção perder para a Azzurra, na chamada tragédia do Sarriá, referência ao estádio já demolido e que foi palco do Brasil 2 x 3 Itália em 5 de julho daquele ano. Só não digo que foi a primeira decepção porque, no ano anterior, tinha visto o São Paulo perder em casa a final do Brasileiro para o Grêmio, com um golaço do Baltazar (para nós, tricolores, um "baitazar", diria a piada infame).

Mas o óbito do treinador italiano é um bom pretexto para lembrar que aquele jogo teve duas e não uma só injustiça. É claro que o time comandado por Telê Santana era bem acima da média, com dois bons zagueiros (Oscar e Luisinho), bons laterais (Leandro e Júnior) e um meio de campo para não deixar dúvida: Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico. Na frente, Serginho Chulapa era um razoável coadjuvante e Éder mandava bem do lado esquerdo. O nosso goleiro, Waldir Peres, era irregular - tanto podia fechar o gol como tomar um frango daqueles, como na estreia, contra a União Soviética. Doeu ver aquele time ser eliminado, principalmente após o baile contra a Argentina do infante Diego Maradona - mas, naquele jogo contra os italianos, a sensação era de que se o Brasil fizesse o terceiro, o Paolo Rossi faria o quarto, e assim por diante. Não é à toa que anos depois ele lançaria um livro cujo título é "Fiz o Brasil chorar".

Agora, a outra injustiça, menos falada, é dizer que o nosso time perdeu para ninguém. A Itália, ainda que viesse trupicando, pra variar, tinha um belíssimo time, começando com Dino Zoff no gol. Na defesa, Gentile, Colovati, Cabrini, Scirea. O meio com Oriali, Tardelli, Antognoni (meia da Fiorentina que jogava muito) e o ataque: Conti, Graziani e Rossi. Deste último, a piada que circulou depois da Copa falava do lançamento da espingarda Rossi, tão eficiente que, com três tiros (os gols do jogo contra o Brasil) matava uma zebra, 11 canarinhos e 120 milhões de patos.

O time verde-amarelo merecia ir adiante. Mas, para quem não viu e só ouviu falar, valeria a pena ver o taipe daquele jogo - e constatar que havia dois times em campo.

* Vitor Nuzzi gosta de futebol em qualquer época. Pôs os pés num estádio pela primeira vez aos 10 anos (tem 45) e não pretende tirá-los tão cedo, façam o que fizerem com a pobre bola. A sua seleção do São Paulo, time do coração, que viu jogar seria: Rogério; Zé Teodoro, Oscar, Dario Pereyra e Serginho; Chicão, Cafu, Raí e Pedro Rocha; Careca e Serginho Chulapa.

 Leia também:
• Ludopédicas: Morre Enzo Bearzot, técnico da seleção da Itália em 82

terça-feira, dezembro 21, 2010

Quem bebe, bebe comigo

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O início do verão marca um fenômeno curioso na mídia. Uma série de reportagens de temática sazonal aparecem. É que falta assunto. Esse é um dos motivos por que o verão, iniciado às 21h desta terça-feira, 21, segundo a mídia causa problemas de pele, risco de epidemia de dengue etc.

Aí, um presidente em fim de mandato como Luiz Inácio Lula da Silva facilita a vida do jornalista sem assunto. Ele fala sobre o Wikileaks, sobre o Orçamento Geral da União, sobre o Rio de Janeiro, sobre o "bicho-papão"...

Foto: Ricardo Stuckert/Pr
Lula e Cabral passeiam de teleférico sobre o Complexo do Alemão

E fala também sobre a cachaça e o bar. Deu no Terra:

Ele prometeu, depois de "desencarnar" do cargo, visitar a Rocinha novamente, onde inaugurou, por vídeoconferência, unidades habitacionais. Aparentemente, o setor de segurança do Palácio do Planalto viu problemas para garantir o deslocamento do mandatário até o local, embora Lula tenha passado o dia na capital fluminense.

Além de pedir desculpas por não ter ido à Rocinha, o presidente foi além. Prometeu voltar sem aparato de segurança. O destino? O bar.

"Quando for (até a Rocinha sem seguranças), vocês vão me dar um copinho de cerveja aí, porque quem não bebe fica olhando, e quem bebe, bebe comigo", brincou o presidente.

A Rocinha ainda não recebeu sua Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e ainda está, segundo a própria Secretaria de Segurança do estado, sob controle do crime organizado.

Futebol de berço no Velódromo e na Chácara Dulley

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No lugar de um, há o Teatro Cultura Artística. Em outro, a Oficina Cultural Oswald Andrade e o Colégio Santa Inês. Um minidocumentário de alunos da Metodista relembra dois palcos do que pode ser considerado o berço do ludopédio paulistano.

O Velódromo era localizado na Praça Roosevelt. A Chácara Dulley, no Bom Retiro. A pressão do crescimento da cidade e a construção de novos estádios, mais adequados – como o Parque Antártica, do Germânia, de 1902, e a Chácara da Floresta, de 1906 – eliminaram qualquer traço do passado futebolístico dos locais.

A parte menos interessante da reportagem é a que prevê que o Paulo Machado de Carvalho, que poderia ser ameaçado pela construção de arenas como a do Corinthians. Claro que o Pacaembu precisa ser preservado e o Museu do Futebol pode ser um dos passos para garantir isso.

Como são oito minutos, vale assistir.

Medicina alternativa

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Passando pelo Leblon, aqui no Rio de Janeiro, um senhor parado em frente a uma banca de revistas, com uniforme azul de porteiro ou cobrador de ônibus, comenta em altos brados, indignado:

- Remédio de biriteiro não presta! Tu vai confiar em "ex-cachaceiro", "ex-biriteiro"? Isso não existe, mermão!

Não sei qual remédio prescreveram pra ele. Mas deve ter sido receitado no buteco. E não funcionou...