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sábado, outubro 01, 2011

Fluminense 3 X 2 Santos - Peixe faz a alegria de mais um carioca

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Mais uma vez o Santos protagonizou uma partida emocionante contra um time carioca (a outra, todo mundo lembra). E mais uma vez perdeu. O jogo praticamente decreta o fim das possibilidades do time peixeiro disputar o título, única coisa que lhe interessa, pois tem a vaga para a Libertadores do ano que vem garantida. Aliás, a proximidade do Mundial e o cuidado em se fazer um revezamento no meio de campo a partir de agora – setor crítico da equipe – já denunciavam que a preocupação da comissão técnica e da diretoria é outra.

Neymar, Kardec e Borges. Nem sempre é o Santos quem ri por último
Não vi o primeiro tempo, mas pelo que se percebeu na segunda etapa, Elano e Arouca, que voltaram agora de contusão, vão precisar de mais tempo para readquirir ritmo de jogo. Já Ibson, que entrou no lugar de Elano, continua devendo. As contusões e cartões têm forçado Muricy a adotar um esquema Two and a Half Man na frente (já que ou Neymar ou Alan Kardec voltam para o meio), com três homens no meio de campo. Funcionou em alguns jogos, hoje não foi o caso. Havia um vácuo entre os atacantes e os meias, e Alan Kardec fez uma partida pífia. A responsabilidade de Neymar, que jogou bem, foi muito grande. Também contribuiu para o mau desempenho os laterais reservas, Adriano no lugar de Danilo e Éder Lima ocupando a ala de Léo. Difícil fluir algo ofensivamente com os dois.

O Fluminense teve mais domínio, mas não criou grandes chances no segundo tempo. No entanto, fez dois gols, principalmente porque encarou a partida como uma decisão, coisa que o rival não fez, embora tenha se doado por boa parte da partida. Mas a questão é que, quando os seus superiores priorizam (com alguma razão) outra competição, é difícil para o atleta manter toda a atenção, ainda mais quando enfrenta um adversário tão comprometido como foi a equipe carioca, que assegurou os três pontos em jogada de escanteio aos 51 do segundo tempo.


De positivo para o Santos, a estreia de Renteria, que marcou logo de cara, como fez Borges. Pode ser útil, mas a preocupação de Muricy no momento deve ser com o meio de campo. E, para o torcedor alvinegro (assim como para o técnico), resta a torcida pela volta plena de Ganso, que dá outro ritmo ao meio de campo peixeiro. 

O Mundial

Podem dizer que é coisa de torcedor, análise enviesada, ou o que for. Mas, para mim, Mundial é bônus de quem ganha a Libertadores. Disputar uma partida só ou duas, como é hoje em dia, em território neutro (leia-se, no país que pagar mais), em termos técnicos e de “justiça da bola”, nunca me convenceu. O sistema de partidas de ida e volta como as que aconteciam nos anos 60, com cada campeão continental jogando em sua casa, não só davam possibilidades para que um equívoco ou lance de sorte de um jogo não fosse tão determinante, como também permitia que as torcidas locais pudesse ver a decisão. Hoje, ir para a Ásia ver seu clube do coração é impeditivo para a maioria dos torcedores, inclusive para os europeus, que não costumam dar muita bola para o torneio.

Mesmo assim, hoje, no business futebol, o tal do Mundial pode representar muitas pontes e chances de ganho financeiro para os clubes que souberem aproveitar a oportunidade. Isso, considerando que o rival de uma possível final é um time considerado um dos melhores de todos os tempos, no mínimo o melhor do planeta nos últimos 30 anos. O Santos, obviamente, está de olho, e tem mesmo que priorizar a competição, menos pelo valor técnico, mais pelo valor de marketing. Mas que dá dó ver um elenco desses que poderia estar disputando o título patinando... Isso dá.

Pelé contra o Barcelona

A propósito de marketing, o presidente do Santos, Luiz Álvaro de Oliveira, falou que já convenceu Muricy a inscrever Pelé com um dos atletas que podem disputar o Mundial e só falta acertar com o Rei. Uma jogada de marketing em caixa alta, mas é necessário lembrar que se pensava homenagear o Messias Giovanni na final do Campeonato Paulista de 2010 e a disputa se mostrou muito mais acirrada do que seimaginava e o veterano não entrou. Imagine se chegar a uma final contra o Barcelona...

Mesmo assim, sou a favor de toda e qualquer homenagem a Pelé, principalmente por parte do Santos, já que a diretoria anterior não conseguiu se aproximar do eterno dez.

quinta-feira, setembro 29, 2011

A nova posição de Ronaldinho Gaúcho

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Vi apenas o segundo tempo do jogo e, pelos “melhores momentos” do primeiro, parece que cheguei junto com o futebol. Meus colegas, mais competentes que eu, podem analisar o jogo, em post ou nos comentários. Eu mesmo queria só apontar algumas coisas que me impressionaram.

Primeiro a posição do Ronaldinho Gaúcho. Ele agora está se esmerando na arte de dar dribles fantásticos na antemeia-esquerda, ou anteponta, sei lá que nome tem aquela região do campo. Com o Neymar de ponta-esquerda e o Cortez apoiando na ala, o Gaúcho ficou recuado driblando e dando bons passes por ali, antes do meio campo, na sinistra, mais ou menos entre a quina da própria área e a linha central. E até que funcionou, porque justamente não tumultuou a zona de ação do Neymar.

Os dois gols brasileiros mostraram que há esperança no nosso futebol, pois foram gols de equipe, em que a bola foi ficando mais redonda a cada patada que recebia. O primeiro foi impressionante, a começar pelo drible inicial do Cortez, que de algum modo dá a velocidade e a inspiração para que a jogada continue, os toques perfeitos de Borges e Danilo, e no meio disso tudo, desde o início da jogada, cruzava o Lucas, que quando pega a bola numa posição dessas é mortal.


O segundo foi novamente uma limpada de terreno do Cortez, e o passe perfeito do Diego Souza para a, digamos, “trombada-arte” do Neymar, aquela jogada em que todo mundo se atrapalha e ele está ali para dar o toque que precisava.

Foram jogadas em que prevaleceu a qualidade. Chega a inflar o coração, mas aos poucos está parecendo que esta geração não vai deixar alternativa ao técnico da seleção senão investir no jogo bem jogado, pra frente, ágil e preciso. Mesmo que uns não queiram, certas verdades são irrefreáveis, pois se mostram com tamanha evidência que fica impossível reverter.

Será que as defesas brasileiras amadureceram? Será que agora já sabemos o que é defender e poderemos voltar àquela que acreditamos ser a vocação nacional, o futebol bonito, ofensivo, diagonal, oblíquo, imprevisível, elástico?

Simbolicamente, foi o Ronaldinho Gaúcho – que é artista mas sempre foi jogou mais pras câmeras que pro resultado, e de qualquer maneira é de uma geração em que os volantes é que eram “a alma” do time – que recuou e deu lugar deixou a dianteira pra molecada. E é gostoso ver isso acontecer diante da Argentina, mesmo que desfalcada, e mesmo tendo depois que ouvir o Galvão Bueno pela vigésima vez dizer que “ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muuuuuito melhor”, o que é o óbvio.

Ou será que sou eu que fui tomado de um acesso de otimismo num joguinho pouco mais que medíocre? Olha que eu nem bebi, que eu tô me curando de uma conjuntivite. Deve ser o colírio antibiótico.

quarta-feira, setembro 28, 2011

O machismo nosso de cada dia ou Gisele Amélia Bündchen

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Hoje a comunidade virtual brasileira está fervilhando com o debate sobre a legalização do aborto. O assunto começou por conta da Campanha 28 de Setembro pela Despenalização e Legalização do Aborto na América Latina e no Caribe, que inspirou posts em muitos blogs, feministas ou não.


Sem muito o que acrescentar depois de textos tão completos (exemplos aqui e aqui), vou falar de outro assunto que afeta as mulheres. Pipocaram aqui e ali algumas discussões sobre o comercial estrelado por Gisele Bündchen, de uma marca de lingerie. Na peça, a modelo "ensina" como as mulheres devem comunicar más notícias para seus maridos/namorados. Falar que bateu o carro ou que estourou o limite do cartão de crédito (oi?) vestida não dá certo. A pedida é mostrar o corpão na hora de comunicar ao macho provedor que você, mulher, não se comportou como ele gostaria.

Sério mesmo?

O comercial tem tantos problemas conceituais que é até difícil falar de tudo. Mas vou tentar mesmo assim. Em primeiro lugar, é sabido que há anos existem mulheres trabalhando. Pode parecer incrível para alguns, mas mulheres saem de casa todo dia, vão ao trabalho, ralam bastante e ganham um salário (menor que o dos homens que cumprem as mesmas funções) para pagar as contas. A ideia de que mulheres devem explicar seus gastos para o homem da casa é muito, muito velha.

Vou me contradizer nesse momento e dizer que, apesar de a ideia da frase anterior ser velha, a prática de homens que acham que podem cobrar de suas esposas (ou até filhas) que lhes entregue o salário ainda existe. Sim, homens acham que devem controlar o orçamento doméstico para que a mulher não gaste demais. Não importa que as mulheres sejam mais responsáveis com dinheiro, como mostra a opção dos programas sociais de ter como titular do benefício a mulher e não o homem. Essa realidade faz com que a propaganda seja ainda mais ofensiva.

Outra questão é o uso do corpo como passaporte para se safar de situações difíceis (considerando o que já foi dito antes, que é um absurdo falar que bateu o carro ser uma situação difícil). Não quer criar problema? É só oferecer sexo e tudo bem. Mas veja bem, se você não for linda, alta, magra e loira não adianta, porque, afinal, quem é que quer uma mulher que não seja perfeita fisicamente? (e sim, indo um pouco além, sexo, para as mulheres, serve só para agradar os homens. Mulher tendo prazer? Isso é coisa do demo!)

E, num exercício de imaginação, vamos continuar a cena em que a notícia é dada quando a modelo está vestida. Se o filme sugere que o melhor é fazer isso pelada, é porque algo aconteceria se ela estivesse com roupas (ou fosse baixinha, gordinha e morena). O homem poderia ficar chateado, dar uma bronca e, quem sabe, até gritar com a pobre acidentada. Na vida real, isso acontece, o que já é bizarro, mas acontece mais, e pior. Acontecem agressões. E não me venham dizer que isso não é motivo para que agressões aconteçam, que isso só na minha cabeça de feminista que não tem mais o que fazer além de ter inveja da Gisele, já que sou feia, peluda, lésbica e mal comida (sim, são esses os argumentos de algumas pessoas). Qualquer motivo pode ser estopim de violência doméstica, basta ser desagradável ao macho provedor.

E quando você acha que não pode piorar, lê um texto, escrito por uma mulher, defendendo a propaganda com unhas e dentes.

Defender a propaganda, vá lá. Mas duas coisas me irritaram. A primeira foi o tom de desprezo pela opinião contrária. A segunda, a crítica à ação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, que, depois de receber reclamações, resolveu pedir a suspensão da propaganda. Afinal, uma Secretaria paga com o "nosso dinheiro" deveria se meter em assuntos mais importantes.

Calma lá, cara pálida. Quem é você para decidir, sozinha, o que é importante para as mulheres? Então é assim: se você, que tem um blog no Estadão, acha que está tudo bem com a peça, então a Secretaria não deve se manifestar? Afinal, você trabalha no Estadão, tem voz, e por isso deve ser muito melhor que o resto das mulheres, certo? As mulheres que reclamaram para o órgão têm mais é que assistir a esse machismo caladas. Ah, faça-me o favor.

Dizer que é desperdício de dinheiro público também é uma piada. Quantos reais será que foram gastos com o pedido de suspensão e com a nota de repúdio? Uns R$ 10? Se o pessoal acha muito, eu reembolso a Secretaria, sem problemas.

Acho também muito curioso que uma pessoa que escreva sobre propaganda ignore a força de propagação de mensagens que esse tipo de mídia tem. Bom, na verdade é óbvio que a autora do texto acredita na força da publicidade, não fosse assim não escreveria sobre o tema nem seria paga para ter um blog sobre ele. Mas quando convém, a propaganda passa a ser apenas uma atividade inocente.

Eu tenho muito orgulho da atitude da Secretaria de ter passado por cima do óbvio e criticado a propaganda. O fato de não ser a primeira peça publicitária sexista não tira o mérito da ação. Espero que tenha êxito e faça com que nossos publicitários pensem um pouco mais na hora de fazer piadas com estereótipos.

Bom, é isso que eu gostaria que acontecesse, mas não tenho muita esperança, já que nossos criativos criadores sempre acham um jeito de burlar certas proibições. É só ver as propagandas de cerveja, que podem até não ter mais mulheres peladas, mas continuam machistas em sua maioria. Parece que, para algumas pessoas, é difícil entender que o que importa é a essência de uma regra, não as letras miúdas.

Os argumentos reaças vão ficando piores nos comentários depois do texto. É triste, mas sempre acho esse tipo de leitura um aprendizado. Porque costuma ser assim: quando você acha que não dá para piorar...

PS: Não vou colocar a propaganda aqui, me recuso. Todo mundo já viu mesmo...
PS2: desculpem pela banalização do PS, mas a gente fica criticando aqui sem dar nome aos bois, parece protesto contra corrupção que não fala de corruptor. A agência que criou as peças é a Giovanni+DraftFCB. Eles merecem ser expostos também.

José Dirceu, a cachaça e Merval Pereira

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Durante a festa de aniversário de dez anos da revista Fórum, o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu, esteve presente e o Futepoca conversou rapidamente com ele. Dirceu mostrou conhecimento na área de cachaça, tema caro a este blogue, e também comentou o caso Veja e a regulação da mídia, sobrando para o o mais novo membro da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira. "Agora, vamos esperar o livro que ele vai publicar", ironizou. Confira a entrevista abaixo:


Futepoca - Esse é um blogue de política, futebol e cachaça, mas vamos começar por um assunto sobre o qual o senhor fala menos: gosta de cachaça? 
José Dirceu - Estou acostumado e acabo sempre tomando as mesmas, como a Germana, Boazinha, Indaiazinha etc. Mas existem muitas cachaças boas no Brasil, menos conhecidas, como Serra Limpa, Rainha, da Paraíba. Vale lembrar a Maria da Cruz, do ex-vice-presidente José Alencar. Hoje, também, as empresas não querem mais dar relógios de brinde e fabricam  cachaças exclusivas para presentear, como a que faz a Odebrecht, é uma cachaça de qualidade, como muitos empresários produzem. Lógico que ela fica um pouco mais cara, o ideal é que toda a população tivesse acesso, porque a cachaça comum tem metais pesados.

Futepoca - Você falou que muitos empresários dão cachaça de presente, qual cachaça Veja daria?
José Dirceu - Com alto teor alcoolico e alto índice de contaminação por metais pesados.


Futepoca - Neste último episódio, o repórter queria tomar cachaça no seu apartamento?
José Dirceu - É um episódio grave porque ele tentou invadir meu apartamento, depois se passar por um assessor da prefeitura de Varginha para me entregar um documento... O que ele queria fazer no meu apartamento? Fotografar, ver o apartamento ou colocar uma prova contra mim? É grave o que aconteceu e mais grave são as imagens ilegais, que são invasão de privacidade, de intimidade, foram subtraídas ou entregues ilegalmente à Veja, tanto que eles não dão crédito para as imagens. A construção de toda a matéria é uma tentativa de me linchar de novo, me prejulgar e de influenciar o Supremo Tribunal Federal. O que a Veja busca, e a matéria desta semana mostra isso, é influenciar ou tentar forjar uma prova para que se abra um novo processo contra mim, ou criar um clima de constrangimento, mobilizando a opinião pública para pedir minha condenação, já que, na avaliação deles, eu vou ser absolvido, até porque sou inocente.

Antonio Cruz/ABr
Futepoca - Mas a ação do repórter, que é um jovem formado há dois anos, de onde veio isso?
José Dirceu - É o editor, tem os responsáveis... Ele responde a quem em Brasília? Ao Mário Sabino, que responde ao Victor Civita. A Veja é responsável, até porque o advogado que defendeu o jornalista é da Veja e ele é réu confesso. É a quarta matéria que fazem, fizeram uma sobre reforma política agora e dizem que sou eu que estou conduzindo.

Futepoca - O seu caso é um caso extremo, mas há vários outros abusos cometidos pela imprensa cotidianamente. Você registrou ocorrência...
José Dirceu – Quem registrou ocorrência foi o hotel. A camareira que comunicou à segurança, a segurança comunicou à gerência e o hotel achou por bem fazer o boletim de ocorrência. A Veja vaza que as imagens da câmera do hotel foram fornecidas pra ela garantindo o sigilo da fonte, gratuitamente, não houve compra, não houve contratação de araponga. Agora, começam a vazar que foi um serviço paralelo da Abin. Pra mim não interessa quem foi, sei que a Veja cometeu um crime.

Futepoca - Mas pra você interessa o esclarecimento do caso. Você acha que falta um pouco dessa mesma disposição da parte de outras pessoas, dentro e fora do meio político, que são alvo de leviandades e crimes da imprensa? Até a discussão sobre regulação da mídia fica interditada.
José Dirceu - O [Luís] Nassif relatou aqui o calvário que é você processar um veículo de comunicação por crimes contra a honra e a imagem. Tudo porque, ao se revogar a Lei de Imprensa, se revogou o direito de resposta que estava regulamentado. Dependemos de uma nova lei de comunicação e a mídia faz campanha pra não ter regulamentação nenhuma. Não é pra não ter regulação não, mas pra não ter nem direito de resposta, porque em tese ele já estaria contemplado no Código Penal... E não tem nada, em todos os países do mundo existe o direito de resposta, que e é rigorosíssimo. No Brasil, começa a se ter a consciência de que tem que ter. Além disso, precisa regular a mídia, e regular não tem nada a ver com censura, todos os países do mundo têm.

Futepoca - O Merval Pereira assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras ontem (23 de setembro) e fez um discurso contra a regulação da mídia, dizendo que era censura...
José Dirceu - Ele está falando dos EUA, de Portugal, da Austrália, do Canadá, da Espanha, da França, da Grã Bretanha – que é rigorosíssima em relação à comunicação. Ele está dizendo que esses países são ditaduras e que têm censura. Ele sabe o que está fazendo, sabe que não é verdade, está defendendo o poder político, partidário. 
Já falei que a piada do ano é o Merval Pereira ser eleito para a Academia Brasileira de Letras. Ele ficou indignado comigo, mas é ele que toda hora me chama de chefe de quadrilha, corrupto. Até fiz um elogio pra ele... Realmente, a Academia Brasileira de Letras fez um grande ato ao escolhê-lo.  Agora, vamos esperar o livro que ele vai publicar.

(Por Frédi Vasconcelos, Moriti Neto e Glauco Faria)

Nota da redação: Futepoca também faz um apelo: leitor, ajude a encontrar alguém que já leu um livro de Merval Pereira.  

terça-feira, setembro 27, 2011

Lula deve desculpas à elite ou A casa grande tem raiva

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O Eduardo Guimarães e o Rodrigo Vianna já falaram a respeito, mas é difícil ignorar esse assunto. É possível conhecer muitas pessoas, ainda mais no estrato social dos autores do Futepoca, que não gostam do Lula. Os motivos são variados: há quem faça críticas à esquerda; outros, à direita; alguns citam tolerância à corrupção; outros destacam contradições de seus dois governos. Tudo isso faz parte do debate democrático, e que bom que é assim.

Mas muitos dos “críticos” que conhecemos não enveredam por esse lado. Gostam de lembrar da origem social do ex-presidente, falam do seu jeito de se expressar, do seu português, da sua não-formação universitária. A desqualificação é baseada no preconceito, em uma suposta superioridade que o tal canudo da universidade confere a seu possuidor. Os antecessores de Lula provam que isso não é bem verdade.

Abaixo, a tradução do artigo Esclavistas contra Lula, de Martín Granovsky, feita pela Thalita Pires. O jornalista mostra perplexidade diante dos jornalistas brasileiros que elaboram perguntas que tentam emparedar Richard Descoings, diretor de Sciences Po, que concedeu o título Honoris Causa ao ex-torneiro. Vale ler e perceber como um argentino pode entender tão bem as motivações da elite do país vizinho. E do servilismo de parte da sua mídia em relação a essa mesma elite.


Os escravocratas contra Lula

Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Eles podem pronunciar sians po. É mais ou menos assim que se diz sciences politiques. Dizer Sciences Po é o suficiente para se referir ao encaixe perfeito de duas estruturas, a Fundação Nacional de Ciências Políticas na França e o Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Não é difícil de pronunciar Sians Po. O difícil é entender, nesta altura do século XXI, como as ideias escravocratas permeiam as mentes das elites sul-americanas.

Esta tarde, o diretor da Sciences Po, Richard Descoings, entregará pela primeira vez o título de Doutor Honoris Causa a um latino-americano: o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio "Lula" da Silva. Descoings discursará, e Lula também, claro.

Para explicar corretamente sua iniciativa, o diretor convocou uma reunião em seu escritório na Rue Saint Guillaume, perto da igreja de Saint Germain des Pres, de onde se podiam ver castanheiros com folhas amareladas. Entrar na cozinha é sempre interessante. Se alguém vai para Paris para participar como palestrante em dois eventos, um sobre a situação política na Argentina e outra no das relações entre Argentina e Brasil, não é mau entrar na cozinha em Sciences Po.

Pensa o mesmo a historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige o Observatório de Paris sobre a Argentina contemporânea, é diretora da Instituto das Américas e foi quem teve a idéia de organizar atividades acadêmicas na Argentina e no Brasil, do qual também participou o economista e historiador Mario Rapoport, um dos fundadores do Plano de Phoenix há 10 anos.

Claro que, para ouvir Descoings, haviam sido convidados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser agradável e didático. A Sciences Po tem uma cátedra sobre o Mercosul, os estudantes brasileiros vão cada vez mais para a França, Lula não saiu da elite tradicional brasileira, mas atingiu o maior nível de responsabilidade no país e aplicou planos de alta eficácia social.

Um dos meus colegas perguntou não havia problema premiar quem se gaba de nunca ter lido um livro. O professor manteve a calma e olhou espantado. Talvez ele saiba que essa jactância de Lula não consta em atas, embora seja verdade que ele não tenha título universitário. Tanto é verdade que quando ele assumiu o cargo em 1º de janeiro de 2003, levantou o diploma dado aos presidentes do Brasil e disse: "Pena que minha mãe morreu. Ela sempre quis que eu tivesse um diploma e nunca imaginei que o primeiro seria o de presidente da república. " E chorou.

"Por que premiar um presidente que tolerou a corrupção?" foi a pergunta seguinte.

O professor sorriu e disse: "Olhe, a Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais nem tira conclusões precipitadas. Deixamos esse e outros assuntos importantes, como a chegada da eletricidade em favelas em todo o Brasil e as políticas sociais, para o julgamento histórico." Ele acrescentou: "Hoje, que país pode medir outro moralmente? Se você quer levar a questão mais longe no tempo, lembre-se que um alto funcionário de outro país teve que renunciar por ter plagiado uma tese de doutorado de um estudante." Ele falou de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro da Defesa alemão até que se soube do plágio. Além disso: "Não desculpamos, não julgamos. Simplesmente não damos lições de moral a outros países."

Outro colega perguntou não havia problema em premiar quem uma vez chamou Muammar Khadafi de irmão. Com desculpas devidas, que foram expressas para o professor e colegas, a impaciência argentina levou a perguntar onde Khadafi tinha comprado suas armas e que país refinava petróleo, bem como o comprava. O professor deve ter ficado grato que a questão não citou, por nome e sobrenome, a França e Itália.

Descoings aproveitou para destacar em Lula "o homem de ação que mudou o curso das coisas" e disse que a concepção de Sciences Po não é o ser humano como "um ou outro", mas como "um e outro", destacando o et, que significa "e" em francês.

Diana Quattrocchi, como uma latino-americana que estudou e se doutorou em Paris após sair de uma prisão na ditadura na Argentina graças à pressão da Anistia Internacional, disse que estava orgulhosa de que a Science Po tenha dado o Honoris Causa a um presidente da região e perguntou quais eram os motivos geopolíticos para isso.

O mundo todo se pergunta", disse Descoings. "E nós temos que ouvir todos. O mundo ainda nem sabe se a Europa vai existir no ano que vem."

Na Science Po, Descoings introduziu incentivos para que alunos presumivelmente em desvantagem pudessem passar no exame. O que é chamado de discriminação positiva ou ação afirmativa, e parece, por exemplo, com a cota exigida na Argentina para que um terço das candidaturas ao legislativo sejam de mulheres.

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa a Lula era um exemplo de ação afirmativa da Science Po.
Parte da elite daqui parece ter saudades de tempos idos
Descoings observou-o cuidadosamente antes de responder. "As elites não são apenas educacionais ou sociais", disse ele. "Aqueles que avaliam os que são melhores são os outros, não aqueles que são iguais. Se não, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro que se tornou presidente, mas até onde entendo, foi eleito por milhões de brasileiros em eleições democráticas."

Como Cristina Fernández de Kirchner e Dilma Rousseff na Assembléia Geral da ONU, Lula enfatizou que a reforma do FMI e Banco Mundial estão atrasadas. Ele diz que essas agências, como funcionam hoje, "não servem para nada". Os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) ofereceram ajuda para a Europa. A China sozinha tem o maior nível de reservas no mundo. Em um artigo publicado no El Pais os ex-primeiros-ministros Felipe Gonzalez e Gordon Brown pediram maior autonomia para o FMI. Eles querem que o organismo seja o auditor do G-20. Em outras palavras, eles querem o oposto do que pensam os Brics.

No meio dessa discussão, Lula chegará à França. É conveniente avisá-lo que, antes de receber um Honoris Causa na Sciences Po, ele deveria pedir desculpas para a elite do seu país. Um metalúrgico não pode ser presidente. Se por algum acaso chegou ao Planalto, agora deveria se esconder. No Brasil, a casa-grande das propriedades eram reservadas aos proprietários de terras e escravos. Então, Lula, agora silêncio, por favor.

A casa-grande tem raiva.

O original está aqui.

segunda-feira, setembro 26, 2011

A inquietação como um bom sinal no Tricolor

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Por Moriti Neto

Botafogo 2 x 2 São Paulo foi daqueles jogos de causar inquietação. Tanto melhor para o torcedor são-paulino, que vinha faz tempo aguardando uma partida menos previsível do time de coração.

Neste domingo, no Engenhão, cada etapa foi de uma equipe. O Glorioso esteve melhor nos primeiros 45 minutos. Mais objetivo, criou boas chances, com direito a bola na trave de um Ceni já batido, e ataques muito velozes com Maicosuel pela esquerda do ataque. E exatamente por ali, aos 24, a bola chegou a Loco Abreu, livre, para abertura do placar: 1 x 0.

O marcador era merecido. O São Paulo tinha mais posse de bola, mas eram os botafoguenses que levavam perigo maior. Não demoraria muito para que o melhor mandante do campeonato ampliasse. Aos 38, Wellington faz pênalti em Renato. Na batida, Loco Abreu vence novamente Ceni e anota 2 x 0.

Inversão

O segundo tempo mostra um cenário inverso ao da primeira etapa. Não é mais o anfitrião deselegante que manda na partida. O visitante mais incômodo do certame é quem controla as ações.

Com Rivaldo em lugar de Juan – claramente atingido emocionalmente pela pressão da torcida adversária – Carlinhos Paraíba ocupa a lateral-esquerda. O Tricolor mantém a posse de bola, mas, dessa vez, ganha, de fato, o campo do adversário. Wellington e Denílson passam a marcar  adiantados e bloqueiam as saídas rápidas do Botafogo. O esférico passa a girar com mais qualidade e o volume de jogo aparece.

Aos 15, no único contragolpe efetivo que os cariocas conseguem, Loco Abreu perde, embaixo da meta são-paulina, incrível chance de selar os destinos da peleja.

Henrique entra no lugar de Marlos. Funciona. Os paulistas, agora, além de mais inteligência na organização, têm uma referência no ataque.



Algumas oportunidades já haviam ocorrido, quando Cícero, aos 20, chuta de fora da área, o goleiro Renan rebate, e Henrique, como um centroavante deve fazer, mesmo caindo, diminui.
Daí para frente, o São Paulo pressiona, sempre com Rivaldo ditando o ritmo. O Botafogo se segura na marcação. Aos 46, uma falta perto da área carioca faz Ceni se deslocar até o campo de ataque. Ele bate. A bola viaja com muito efeito. O goleiro faz a assistência perfeita para o camisa 10, de cabeça, empatar.

No minuto seguinte, Lucas faz jogada em velocidade e a bola sobra para Rivaldo pela esquerda do ataque. Ele toca, tenta fazer um golaço por cobertura, e a redonda vai fora. Poderia até bater firme, cruzado, é verdade, mas, naquela altura, como criticar um jogador, que aos 39 de idade, num jogo duro, adverso, conferiu toda a lucidez que faltava ao Tricolor?

Bom resultado e mais clareza

Depois de um primeiro tempo que pintava a partida como um passeio botafoguense, o empate soou como vitória, até porque algumas coisas vão ficando mais claras no São Paulo: há esperança de jogar bom futebol – como mostrado em toda a segunda etapa – o talento de Rivaldo ainda pode ser decisivo em jogos difíceis (restando saber se é melhor colocá-lo de cara numa partida e esperar que manifeste o cansaço ou se ele entra para “salvar” em situações ruins) e o time que, desde março, é preparado para jogar com Luis Fabiano no ataque (vide a insistência de Carpegiani com Fernandinho, visando mais jogadas de linha de fundo) deveria ter apostado, há tempos, em alguém com características de área. Talvez Henrique. Talvez mesmo Rivaldo. Precisava era ter referência.

Vem aí o Flamengo, no Morumbi, e até o problema do comando de ataque tem boas perspectivas de solução. Luis Fabiano vai estrear e a casa estará cheia. Hora de inquietar os adversários.

sábado, setembro 24, 2011

Revista Fórum completa 10 anos

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Hoje a Revista Fórum comemora 10 anos e não poderia deixar de registrar o fato. O futepoquense Glauco Faria é o seu editor executivo e todos os integrantes e ex-integrantes do Futepoca estiveram um dia nas fileiras de frente da Fórum.

A Fórum nasceu inspirada no Fórum Social Mundial, em 2001, e tem feito jus à responsabilidade de ser um veículo qualificado com olhos e ouvidos abertos para os movimentos sociais, com pautas que não são abordadas em grandes veículos ou que neles aparecem com atraso e de maneira distorcida. Mas não só, a revista tem ampla pauta política, sobretudo nacional, mas com atenção especial à América Latina, e realizou algumas entrevistas antológicas.

No evento de hoje, 10 horas seguidas de debates e a reunião de muitos profissionais, amigos e consumidores da mídia independente deste país. Destaque para o debate sobre economia, às 17h, que reunirá o professor Ladislau Dowbor, o jornalista Luis Nassif e o presidente do IPEA e colunista da Fórum Marcio Pochmann.






Festa #Fórum10

24/set/2011

Local: Casa Fora do Eixo
Rua Scuvero, 282, Cambuci



Programação de Debates


10h: Que desafios democráticos nos impõem as novas possibilidades de comunicação?

Sergio Amadeu – Ativista digital, doutor em Ciências Sociais e professor da Universidade Federal do ABC

Ivana Bentes – Doutora em comunicação e diretora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ)

Guilherme Varella – Graduado e mestrando em Direito pelo Largo São Francisco (USP), gestor cultural e músico. Atua com advogado do Instituto de Defesa do Consumidor ((Idec)

Pablo Capilé– Produtor cultural, idealizador e co-fundador do Espaço Cubo, em Cuiabá, um dos coletivos fundadores do Circuíto Fora do Eixo, em 2005.

Renato Rovai – Jornalista, mestre em Comunicação pela ECA-USP, midialivrista, blogueiro sujo e editor da Revista Fórum

Alexandre Schneider – secretário de Educação da cidade de São Paulo



11h30: juventude, ruas e rede: o desafio da política

Carolina Rovai – Estudante de Ciências Sociais e estagiária da Revista Fórum

Cauê Ameni – Estudante de Ciências Sociais e estagiário do site Outras Palavras

Lais Melini – Coletivo Fora do Eixo


12h: O Legado do Fórum Social Mundial e dos dias de Ação Global para a era das Redes

Henrique Parra – Professor Doutor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Fábio Malini – Professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), blogueiro e ativista da Rede Universidade Nomade.

Lia Rangel – Jornalista, fundadora da Casa de Cultura Digital, foi coordenadora da TV Brasil, Canal Integracion e coordenou a experiência de jornalismo participativo no Roda Viva, da TV Cultura.


13h: Um século para impropriedades: o comum e o sustentável

Miguel S. Vieira: Editor –  Graduado em filosofia e especializado em propriedade intelectual. Cursa doutorado em educação, sobre o tema “Bens comuns intelectuais e mercantilização”.

Ale Abdo – Cientista molecular e commonista praticante, pesquisador da Fiocruz, professor convidado do departamento de computação do IME-USP e organizador de cursos livres sobre colaboração e compartilhamento.

Rodrigo Savazoni – Ativista e realizador multimídia, fundador da Casa da Cultura Digital, diretor-geral do Festival CulturaDigital.Br (www.culturadigital.org.br), integrante do Grupo de Pesquisa em Cultura Digital e Redes de Compartilhamento da Universidade Federal do ABC.


14h: Orientação Sexual, gênero e um certo comportamento estúpido

Vange Leonel – cantora, compositora e escritora. Autora do livro Grrrls – Garotas Iradas.

Maria Frô – Historiadora e blogueira.

Tica Moreno – Organização Sempreviva Feminista, ONG que gerencia o escritório da Marcha Mundial de Mulheres (MMM).


15h: Política, movimentos e rede

Victor Farinelli – Jornalista, colaborou como correspondente free lancer na Argentina para diversos meios (Estadão, Lance, entre outros). Mora no Chile desde 2006, onde colabora com o portal Opera Mundi. Tem realizado reportagens sobre o movimento dos estudantes chilenos.

Bruna Angrisani – Jornalista, formada pela Universidade Católica de Santos, e pós-graduada em comunicação audiovisual pela Universidad de Santiago de Compostela. Atualmente reside em Barcelona, onde participou do Movimento dos Indignados e esteve nos acampamentos da Plaza Catalunya. Organiza o blog Naranja Orgánica.

Juan pessoa – Jornalista, participou da campanha de internet de Dilma Roussef, no Brasil, e de Ollanta Humala, no Peru.

Lino Bochinni: jornalista e blogueiro do Desculpe a Nossa Falha.


Debate 16h:  Blogosfera política: seus efeitos e contornos

Luis Carlos Azenha –  Jornalista e blogueiro.

Rodrigo Vianna – Jornalista e blogueiro.

Dennis Oliveira – professor da Universidade de São Paulo e blogueiro.

Eduardo Guimarães – representante comercial e blogueiro.


17h: De que economia estamos falando?

Luis Nassif – jornalista e blogueiro.

Marcio Pochmann – economista e presidente do IPEA.

Ladislau Dowbor – professor de Economia da PUC-SP.


18h30: O Caso Zara, imigração e trabalho escravo

Leonardo Sakamoto – Diretor da Repórter Brasil, blogueiro, jornalista e doutor em Ciências Sociais.

Paulo Illes – Diretor do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (CDHIC).

Adriana Delorenzo – Jornalista, repórter da Revista Fórum e editora do blog das Cidades.


19h15: Arena livre e entrevistas com participantes da festa.

20h– mesa de encerramento com os provocadores e equipe da Fórum.



Reunião Paralela – Um site para São Paulo

Às 14h blogueiros e ativistas digitais paulistanos estão convidados para a reunião que vai discutir a criação de um novo site para São Paulo. Esse site vai tratar basicamente das questões de São Paulo e tem por objetivo ser construído de forma colaborativa.

Coordenação da reunião: Rodrigo Vianna, Glauco Faria, Adriana Delorenzo e Márcia Brasil.

Apresentação inicial do projeto: Renato Rovai

Esta reunião está fora da programação que será transmitida por questões técnicas.

sexta-feira, setembro 23, 2011

Um trago para vencer a morte

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Amanhecer na entrada do Vale do Elqui


A cidade é uma curva na estrada, no vale do Elqui, em direção à cordilheira. A igrejinha com uma única torre se coloca no centro deste cenário ao mesmo tempo delicado e grandioso: barrancos secos cor de serragem, coberto de vinhas igualmente secas, perfeitamente perfiladas; ao fundo, os picos nevados.

É neste pequeno lugar que se encontra a mais antiga e respeitada destilaria artesanal de pisco do Chile. O vilarejo chama-se Pisco Elqui, e foi ali que viveu, ainda no século XIX, Rigoberto Rodriguez Rodriguez, o homem responsável por tornar uma lenda o pisco 3Rs (marca que hoje é explorada por uma grande indústria exportadora).

Com mais um punhado de casas, esta é Pisco Elqui. 
Arrisco dizer que Don Rigoberto está para o pisco chileno como Anísio Santiago está para a cachaça mineira. Sua pequena destilaria hoje se chama Los Nichos e fica na beira da estrada, poucos quilômetros depois de passada a igrejinha. Acompanhei uma visita guiada ao local com o guia Carlos, que nos explicou todo o processo de produção da bebida.



Intervalo cultural: a produção do pisco

Na semana em que o Futepoca esteve no Chile, no início de agosto, a seleção do país austral havia perdido da seleção do Peru por 2 a 1, sendo o gol chileno na realidade um contra do zagueiro peruano. Os descendentes dos incas não perderam a oportunidade de dizer que até os gols chilenos são, na verdade, peruanos.

Com o pisco acontece a mesma coisa. O Peru afirma que o pisco original e único verdadeiro é produzido em suas terras. O guia Carlos explicou que a produção de pisco em seu país é tão antiga quanto no país vizinho, mas que no Chile a grande indústria (como o Capel, a 51 do pisco) proliferou de tal modo que desfigurou completamente a bebida original. Um verdadeiro pisco artesanal chileno é tão bom ou melhor que o seu correspondente peruano.

Diferente da grappa italiana ou da bagaceira portuguesa, que destilam o produto da fermentação do bagaço da uva, o pisco (como o Cognac) é um destilado de vinho. Primeiro produz-se um vinho muito doce e de alto teor alcoólico, a partir de uvas brancas como a moscatel. Este vinho é fermentado, produzindo um mosto, que é decantado e, depois, destilado. Despreza-se a cabeça e a cauda da para ficar apenas com o coração da destilação, o chamado “álcool de pisco”.

Neste estágio, o licor tem graduação alcoólica entre 70 e 80%. É então diluído em água, obtendo-se a graduação desejada, de 30% até 45%. Conforme me explicou Carlos, o pisco tradicional não é envelhecido. Foi a má fama adquirida pelo produto industrial que levou alguns fabricantes a envelhecerem o pisco em carvalho, como esta fosse a razão da qualidade. Não é.

Epitáfios a quem sai na horizontal

Nichos à esquerda, habitados pelos espíritos de manguaças ilustres.

Por mais de meio século à frente da produção do pisco, Don Rigoberto tinha certeza de que depois de morto permaneceria entre suas garrafas. Ele armazenava sua produção no porão da casa, onde fez construir "nichos" como aqueles que há em criptas de igrejas antigas para sepultar mortos ilustres. As garrafas de pisco foram preenchendo os nichos, e ali estão até hoje – cada garrafa dessas vale uma pequena fábula.

Foi numa mesa colocada diante de suas melhores garrafas que Don Rigoberto recebeu as mais ilustres figuras da sociedade chilena, entre eles vários chefes de Estado, além de comparsas locais. Aos amigos do peito, homens de caráter que por pelo menos cinco vezes “entrassem nas covas na vertical e saíssem na horizontal”, Rigoberto reservava-lhes um nicho e escrevia um epitáfio. Hoje, cada nicho é dedicado a um desses nobres senhores, cujo espírito habita entre as garrafas.

Comprei duas, uma de Los Nichos e outra de Espírito del Elqui, mais forte. A primeira é para os amigos, a ser compartilhada em plena alegria; a outra, para beber só, é dos inimigos, para quando fazem meu fígado trabalhar demais e preciso dar-lhe alguma tarefa que me devolva à sensatez.  

quinta-feira, setembro 22, 2011

O jogo do medo

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Por Moriti Neto

A base foi o medo na noite desta quarta-feira, no Morumbi. São Paulo e Corinthians fizeram uma partida aquém do que se espera de um Majestoso que tinha a liderança, mesmo que provisória, do Campeonato Brasileiro em disputa. O 0 x 0, não somente pelo placar, foi digno de nota das mais baixas. Para os dois times e técnicos.

O jogo

Jogando em casa, o Tricolor até começou pressionando um Corinthians que, claramente, vinha com uma proposta defensiva, quase um ferrolho.  Duas chances seguidas, antes dos 10 minutos de bola rolando, com Dagoberto e Lucas, deram a impressão de que o mandante daria tom ofensivo à metade em três cores do campo.  Não foi o que se viu até o fim da primeira etapa.

Os visitantes congestionaram o meio e só saiam da defesa à base de reza braba. A não ser em raras tentativas de contragolpe, sem sequência é bom ressaltar, o Alvinegro permitiu que Ceni e até mesmo João Felipe e Rhodolfo fossem quase expectadores do fraco “espetáculo”.

No final da etapa inicial, Dagoberto ainda cobrou falta, Casemiro cabeceou na trave esquerda de Júlio César, e Piris, no rebote, chutou fora a melhor chance são-paulina. Foi pouco. Quase nada para quem aguardava um “clássico”.

O segundo tempo chega e já não há esperança de um jogo muito melhor. A  justificativa  se dá ao olhar para os bancos e enxergar Adilson de um lado e Tite de outro.  Retratos de apatia e, pior, covardia. Se o treinador corintiano, desde sempre, apostou na postura defensiva, o são-paulino jamais abdicou dos três volantes, ainda que percebendo (???) o adversário satisfeito com o empate – em tese, o suficiente para adiar a queda do comando técnico. Aliás,  apesar do jogo de baixa qualidade, pelo menos essa boa expectativa os corintianos tinham.  Já aos tricolores, nem isso restava.



Daí até o final, o que se viu foi o São Paulo tendo duas chances criadas pelo volante Wellington, uma em chegada à linha de fundo e outra num bom arremate que pegou no lado de fora da rede,  e um Corinthians com Emerson se matando no ataque, inclusive quase anotando de cabeça.

Encerrada a peleja, vaias dos 44 mil torcedores presentes ao Morumbi a uma das partidas mais fracas vistas num Majestoso nos últimos anos.

Algo muito errado

Rivaldo começou  aquecimento aos 14 minutos da segunda etapa. Entrou aos 30. O medo de Adilson Batista não permitiu que sacasse antes o quase volante Cícero para colocar em campo o meia que poderia ter conferido alguma qualidade ao jogo se tivesse mais tempo.  Erradamente, a aposta foi em Casemiro para armar. Já disse aqui que ele tem alguma qualidade para organizar jogadas, mas pode fazer isso eventualmente, já que não é, de fato, armador. Claro, Lucas prosseguiu isolado, de costas para a defesa adversária ou largado num dos lados do campo.

Dagoberto, para variar, sumiu em jogo importante. Isso já é histórico. As boas fases do camisa 25  sempre foram como coadjuvante. O atacante não pode, jamais, ser o elemento decisivo de uma equipe. Quando se depende dele para resolver, alguma coisa está muito errada.

Em dado momento, me peguei a pedir Marlos. Mais do que nunca, havia algo realmente indo muito mal. No entanto, ao acreditar que o meia/atacante, que, apesar da desinteligência,  pelo menos tem talento para o drible, queria apenas quebrar o marasmo proposto por dois treinadores cagões.

quarta-feira, setembro 21, 2011

O choro em números

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Discutir arbitragens é sempre perda de tempo. Nada muda um resultado e, para quem ganhou, a reclamação parece choro de perdedor. E a discussão sempre acaba com a velha desculpa, a arbitragem é ruim mesmo, todos são prejudicados etc...

A novidade nessa discussão neste ano é o site Placar Real (clique aqui). Não conheço o povo que faz, mas a ideia é bem interessante. Eles analisaram os lances controversos de todos os jogos do campeonato e pegaram os momentos capitais, como pênalties mal marcados, gols irregulares validados e gols confirmados de maneira equivocada. Enfim, os erros que definem uma partida.

Dessa análise fica claro que, neste campeonato, até agora, alguns times são mais beneficiados que outros e alguns mais prejudicados. A imagem acima mostra a classificação atual e a tabela "corrigida" sem os "erros". Outra informação interessante são os gráficos favorecimomêtro e o dos times mais prejudicados. Resolvi publicar antes do jogo contra o Galo para não dizer que estaria reclamando de algum lance a favor do Flamengo que possa ocorrer. Aliás, estranho que o Paulo César Oliveira apitará dois jogos do Galo em sequência. Apitou contra o Atlético-GO e apitará hoje. Contra os goianienses houve dois erros, um gol anulado equivocadamente para cada lado, mas o erro foi do bandeirinha.

Pelos dados do site, os times mais prejudicados até agora são Palmeiras, Atlético-MG e Coritiba. Os mais favorecidos, Cruzeiro, Santos e São Paulo. Analisando os dois mineiros, por exemplo, sem os lances controversos, o Galo ficaria no décimo-segundo lugar, com 31 pontos, e o Cruzeiro estaria na zona do rebaixamento, em décimo-sétimo, com 27.

Claro que a análise depende de critérios subjetivos e qualquer um que faça seu ranking chegará a dados diferentes. Mas o trabalho, por analisar todos os jogos com a mesma metodologia, deixa claro que os erros são decisivos para as posições do campeonato e que eles caem mais vezes em alguns lugares que em outros.

terça-feira, setembro 20, 2011

20 de setembro, o dia em que o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão

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Por Paulo Donizetti

O palestrinos estavam com o São Paulo entalado na garganta. Segundo a reportagem apurou, a diretoria do jovem clube tricolor atuava forte nos bastidores não apenas para que o Palestra Itália mudasse de nome. Aproveitando o clima xenófobo vivido pela comunidade italiana em razão da Segunda Guerra, o desejo era que o time do então Parque Antártica fosse banido e que, de preferência, seu charmoso estádio fosse apropriado pelo clube do futuro Morumbi, então ainda em busca de endereço fixo.

Era a penúltima rodada do Paulistão, os dois disputavam o título cabeça a cabeça. Para esquentar o clima de guerra, os futuros bambis preparavam apupos e vaias para quando o esquadrão palestrino adentrasse o gramado. Mas o time de Oberdan e Waldemar Fiúme foi a campo conduzindo uma bandeira brasileira, e as arquibancadas emudeceram, para em seguida irromper em aplausos. O jogo estava 3 x 1 quando o beque Virgílio derrubou Og Moreira na área aos 19 do segundo tempo. O árbitro assinalou o pênalti e expulsou o agressor. O São Paulo se retiraria de campo.

A data entrou para a história como Arrancada Heróica e ficou famosa como "o dia em que o Palestra morreu líder e o Palmeiras nasceu campeão". Lembro como se fosse ontem.

Foto: Reprodução





Foto do Palmeiras campeão
paulista de 1942. Consta que
Og Moreira foi o primeiro negro 

a vestir a camisa do clube



Campeonato Paulista de 1942
Palmeiras 3 x 1 São Paulo
Data: 20/09/1042 - Pacaembu
Árbitro: Jaime Janeiro Rodrigues
Palmeiras - Oberdan; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio Pinho, Waldemar Fiúme, Lima, Villadoniga e Echevarrietta. Técnico: Del Debbio.
São Paulo - Doutor; Piolim e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho Mesquita, Waldemar de Brito, Leônidas, Remo e Pardal. Técnico: Conrado Ross.
Gols: Cláudio Pinho aos 20, Waldemar de Brito aos 23 e Del Nero aos 43 minutos do 1º tempo. Echevarrietta aos 15 do 2º.


Paulo Donizetti de Souza é parmerista por influência da nonna, dona Marcelina (1918-2007), uma sábia. Jornalista, apreciador da plataforma temática do site, não é candidato a nada, seu negócio é madrugada e seu peito é do contra.

segunda-feira, setembro 19, 2011

De passado e de futuro: a sequência Tricolor

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Por Moriti Neto


A última rodada do Campeonato Brasileiro, se não foi perfeita para o São Paulo, passou perto disso. Primeiro, pois o time conquistou seu melhor placar na competição, goleando o Ceará por 4 x 0, no Morumbi, o que apesar de algumas dificuldades encontradas na etapa inicial, não é pouco, principalmente considerando que o Tricolor, depois que Adilson Batista assumiu o comando técnico, tem, na média, vacilado em casa.

Sobre a partida, três destaques. Há tempos reclama-se – com razão – do fraco desempenho dos laterais são-paulinos. A verdade é que a equipe pouco joga pelos lados do campo. Juan, na esquerda, e qualquer um que tenha atuado na lateral-direita neste ano, são alvos de duras críticas da torcida. Só que, no sábado, foi pelos flancos que o Tricolor resolveu a parada. No primeiro gol, Carlinhos Paraíba caiu pela esquerda e cruzou para Juan, com 1,68m, escorar de cabeça: 1 x 0. Depois, o paraguaio Iván Piris fez a passagem pela direita e recebeu lançamento de Casemiro para, já dentro da área, anotar o segundo. Ressalte-se o fato, pois o São Paulo sofre demais como mandante quando os adversários vêm fechados. Em pontos preciosos perdidos no Cicero Pompeu de Toledo, estava entre os maiores anteparos a insistência em tentar romper as defesas pelo meio. Com os erros de passes, vinham os gols dos rivais em contragolpes.

Outro ponto que merece ênfase é o desempenho de Casemiro. Contra o Vovô, ele atuou ora como volante ora como meia, mostrando qualidade para construir jogadas. No segundo gol, o passe que realizou foi precioso. No terceiro tento, único não construído pelos lados, aprontou um belo lance individual, com direito à caneta seguida de lindo arremate longo.


Por fim, vale falar de Rivaldo. Quando ele acha espaço para jogar, ainda faz a diferença. Além do golaço de voleio, o quarto são-paulino, depois de jogada iniciada por Lucas e cruzamento na medida de Juan, deu um toque de gênio com o calcanhar e largou Cícero de frente para a meta cearense. O camisa 16 isolou, mas a jogada valeu. Contudo, reforço: Rivaldo precisa de espaço. Não pode ficar no meio, onde a marcação aperta e dificilmente é no um contra um. Quando atuou mais à frente, mostrou categoria e frieza para produzir e marcou dois golaços. Assim foi no sábado e também na partida com o Figueirense, na segunda rodada do returno.

Tabela

A vitória do Santos sobre o Corinthians, o empate entre Botafogo e Flamengo e mesmo os resultados de Internacional (empate em casa) e Fluminense (derrota fora) foram ótimos para o Tricolor. Não dá nem para reclamar dos 4 x 0 do Vasco em cima do Grêmio, pois era esperado o triunfo carioca.
Na somatória, o São Paulo continua colado na liderança e abre diferença em relação a Botafogo, Inter, Fluminense e Flamengo. De bônus, ultrapassou o Timão, adversário da próxima rodada. 

Tabela 2

Não sou dos que acha que o clássico de quarta define o futuro do Tricolor na competição. O que decide, creio, é a sequência que começa por ele. Depois do Corinthians, tem Botafogo (fora) Flamengo (casa) Cruzeiro (fora) e Inter I(casa). Com a dificuldade das próximas cinco rodadas, se o time se sair bem, e com a volta de Luis Fabiano – que quando este texto era fechado acabava de marcar três gols no treinamento desta tarde – as perspectivas ficam bem interessantes.

domingo, setembro 18, 2011

Corinthians 1 X 3 Santos - Peixe tira Timão da liderança

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Após 17 (guarde esse número) rodadas seguidas e várias pelejas mal jogadas há pelo menos dois meses, o Corinthians saiu da liderança do campeonato brasileiro. A vitória do Santos no Pacaembu – a primeira derrota do Alvinegro paulistano após 17 (opa, olha ele aí de novo) clássicos no estádio, sendo que a última tinha sido para o próprio Peixe – fez o ex-líder cair para o 3º lugar, a dois pontos do Vasco e um do São Paulo.


Não cai, Neymar... Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC
O Santos entrou modificado taticamente por Muricy Ramalho, que não pôde contar com os titulares do meio de campo Arouca, Elano e Ganso. Ibson voltou a jogar depois de pouco mais de um mês fora por contusão e a atuação dele no setor, assim como de seus companheiros pouco entrosados, quase comprometeu o Peixe no primeiro tempo. Eram três atacantes de ofício, mas Neymar voltou bastante para buscar jogo e Alan Kardec também se movimentava para ocupar espaços, embora nenhum dos dois tenha atuado como meias. O Corinthians tentou se impor no início da partida e pelo lado direito da defesa praiana, em jogada de linha de fundo de Alessandro, chegou ao seu gol aos 12 minutos do primeiro tempo. Liédson “matou” com o rosto e marcou.

Na sequência, Julio César fez duas boas defesas em um escanteio e em outra bola cruzada na área corintiana por Danilo. Os lances de escanteio na área da equipe da casa, aliás, foram das principais armas santistas no primeiro tempo. E em uma delas saiu o gol de empate, com Henrique, aos 38. Antes disso, o Peixe havia chegado uma outra vez com Borges, que se deparou com uma saída arrojada do goleiro do Corinthians. O Timão, por sua vez, meteu uma bola no travessão com Liédson e contou com uma finalização ótima de William, defendida por Rafael. Em chances, equilíbrio, mas os corintianos mantiveram o controle da partida por um tempo maior.

Abraço não durou 17 segundos. Ricardo Saibun/Divulgação Santos
Na segunda etapa, o Santos voltou melhor tática e tecnicamente. Muricy posicionou melhor seus meias, bloqueando as passagens pelas laterais e evitando o maior perigo do primeiro tempo, os lances de linha de fundo. O time foi mais incisivo e o Joia, que já tinha aparecido bem em alguns momentos nos 45 minutos anteriores, começou a aparecer mais: ora como arco, ora como flecha. 

Aos 6 minutos, Alan Kardec perdeu um gol incrível, cara a cara com Júlio César depois de lance espetacular de Neymar. Mas, dois minutos após, não desperdiçou a jogada feita por Neymar no lado esquerdo, foi ao fundo e cruzou para Borges fazer seu 17º (olha aí de novo...) gol no campeonato. A partida, eletrizante, seguiu e o Corinthians se aproximou com perigo aos 10, em chute de fora da área de Emerson. Esta foi a segunda defesa de Rafael no jogo e, mesmo o Peixe jogando com um a menos por quase meia hora no segundo tempo, o arqueiro santista não foi mais exigido, ainda que tenha passado um susto com uma cabeçada de Liédson aos 24, quando o Peixe já atuava sem o expulso meia Henrique.

Alan Kardec perdeu ainda outro gol feito aos 12, e Felipe Anderson também deixou de fazer ao encobrir o goleiro rival, finalizando pra fora... Com um a mais, o Corinthians ficou mais com a bola, mas não ameaçou realmente a meta peixeira. Usou e abusou da jogada aérea, principalmente por meio de chuveirinhos, mas a defesa santista foi soberana nesse quesito. Foram 31 bolas alçadas na área sem sucesso e só cinco chegaram em cabeças e pés paulistanos. Tite tentou mexer, mas a equipe sentiu o gol de empate e partiu pra cima sem organização, deixando espaços para o contra-ataque santista. Em uma dessas jogadas de contra-ataque, Alan Kardec cruzou para Neymar, mas Chicão não deixou o joia fazer e empurrou pro gol, anotado para Kardec.



Ao fim, o Santos completou sete partidas sem derrota, uma sequência de cinco vitórias e dois empates, somando... 17 pontos. Para esse santista, nascido num dia 17, foi um dia numerologicamente feliz.

*****

Se algum repórter quisesse fazer a Rogério Ceni alguma pergunta que não fosse laudatória como de hábito, deveria perguntar quantas das faltas que Neymar recebeu não existiram no clássico contra o Corinthians, e se houve alguma que aconteceu e que o árbitro deixou de marcar. Será que chegaremos na mágica estatística de 50% de simulação?

sexta-feira, setembro 16, 2011

A Beleza Americana e o Uno primordial: o bar

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por Maurício Ayer

A poeira da pedra filosofal, o éter onde as esferas navegam em perfeita harmonia. Que elemento mágico permeia esses dois filmes, tão distintos para um observador que se apegue a detalhes inócuos, mas que qualquer ser dotado de sensibilidade poderá identificar como emanações de um mesmo princípio, desdobramentos da Ideia, do Uno universal, ou, por que não?, o que parece óbvio, o amor que move o sol e outras estrelas?

American Beauty - Flying Bag


O mais bebado de todos - bebado caindo - olha o que a cachaça faz


O emo que chora diante da dança do saco plástico não se comoveria diante do balé deste inocente cowboy de Boituva (ou de outra paragem, que importa, falamos aqui da essência), bom selvagem que se entrega de corpo e alma ao movimento do universo, que corporifica em si mesmo o ponto de mutação, seguidor involuntário de Confúcio ou Lao Tsé?

Se o princípio do belo é um só, será que ao presenciar o emotivo discurso de seu vizinho enquanto assistem às brutas mas profundamente belas imagens da dança do manguaça a menina iria com igual ternura tomar-lhe a mão como sinal do amor nascente e beijá-lo, para aplacar qualquer dúvida que pudesse macular a pureza desse instante?

Somente um garçom pode fornecer imediatamente os elementos necessários para encontrar essas respostas.

Doutor Sócrates mais vivo do que nunca

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O Sócrates deve ser um dos maiores exemplos de integridade que conheço. Não saberei falar disso melhor que o Idelber Avelar, como se pode ler aqui. E noutro blogue uma amostra de seu caráter, aqui.

Vou então dar outra tonalidade a esta breve homenagem. Já foi dito aqui que ele personifica como ninguém a união de futebol, política e cachaça. A única figura que poderia ser comparável nesse aspecto é a de Lula, mas seria forçar a amizade. Não há dúvida que a habilidade e sabedoria de Lula na política recendem a futebol e cachaça, mas não serão mais o tempero de seu modo singular de ser no intrincado jogo do poder.

No caso do Sócrates, cada gesto é síntese dessa tríade. Anti-atleta de triste figura – magrelo, cabelo e barba desgrenhados, manguaça –, ele era pura inteligência, seu futebol era feito de hábeis decisões com as quais vencia defesas sem agredi-las. O toque de calcanhar que se tornou sua marca não é nada além disso. Sua força nunca foi bruta, nunca precisou desqualificar ninguém para se afirmar. É como se seu jogo fosse um debate aberto, que vencia com a força dos argumentos. 



E como cachaça também se “argumenta com doçura”, o Doutor nunca escondeu que sua postura libertária tinha um pé no boteco. Quantos são os atletas atuais ou recentes que são manguaças e não gostam de treinar? Muitos, mas quantos como o Magrão fazem disso um gesto de liberdade? Ou mesmo de contestação de um estado de coisas, no contexto dos estertores da ditadura militar. Ele era o galo que cantava sem pedir licença ao regime ou à sociedade retrógrada.

Em sua coluna na CartaCapital, Sócrates narrou diversos episódios de como esse sentimento de ser livres inspirou vitórias naqueles tempos. E esse sentimento não tinha nada de abstrato, a liberdade podia perfeitamente se materializar num belo churrasco com samba e cerveja na véspera de uma final: a alegria de ser o que se é e compartilhar esse momento em “equipe” dava mais condições de vencer que treino e concentração. A leveza da alma devia ser colossal.

Uma vez, me ouvindo falar da Democracia Corintiana, um amigo são-paulino soltou um “democracia de maconheiro...”. Sei que falou isso mais por melindre que por convicção, pois seria incoerente com o desgaste de seu próprio fígado e principalmente porque é daquelas fórmulas que só ornam terno de reacionário. Desqualifica a postura libertária com um pré-juízo moralista.

Hoje, é o que se vê em diversos veículos, querem fazer de sua luta o fim da deprimente história de um alcoólatra. É a velha mensagem castradora: não gozai hoje pois amanhã virá vossa degradação. Esquecem que o beber também fez de Sócrates o que é. 

Por essas e outras, esse entra e sai da UTI do doutor Sócrates deixa a gente chateado pra caramba. Me uno aos torcedores com suas faixas: “Não para de lutar, doutor”, não só pela sua saúde, pela qual brindamos, mas pelo que ele representa para mim e para tantos: meu primeiro ídolo, provavelmente o maior, para mim, mais vivo do que nunca.

quinta-feira, setembro 15, 2011

No 0 a 0 de Brasil e Argentina, Galvão Bueno merece uma nota

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Durante a Copa do Mundo de 2010, todo mundo se divertia com o Galvão Bueno nas transmissões da competição. Mas era um se divertir ruim, sarcástico, cheio de críticas, do Cala boca Galvão no Twitter. Nenhum problema com essa modalidade de humor mal humorado.

Mas nesta quarta-feira, 14, minha diversão na transmissão foi diferente. Achei o tantas vezes odioso Galvão Bueno divertido mesmo. Teve momentos em que me ocorreu a ideia de que Galvão tivesse tomado um vinho de Mendoza durante a cena em Córdoba, antes de ir ao Estádio Mário Alberto Kempes. Ou um Fernet Bianco, para descontrair.

O cidadão me soou mais leve e bem menos pretensioso do que o normal. Admitiu que não sabia o número do Casemiro porque "na lista não tem", mandou o comentarista de arbitragem Arnaldo César Coelho pastar (por duas vezes), tomou uns pedalas de volta, reclamou dos bons tempos em que os jogadores eram revelados na várzea, lamentou a atuação do árbitro, disse que Neymar "apanhou da bola"...

Como não assisto nem acompanho Fórmula 1, em cujas transmissões, consta, abundarem asneiras, nem  sei se foi exceção ou se anda sendo nova regra.

Claro que pintaram bobagens, elogios desnecessários ao Mano Menezes, comentários sobre o futuro de Neymar (incluinco "bronca" do técnico Mourinho e as pretensas necessidades de driblar menos e de ganhar mais massa muscular). E menção a um suposto medo dos argentinos durante o jogo. Mas foi bem mais agradável do que eu imaginaria.

Jogo chato

Apesar de o Brasil ter colocado duas bolas na trave, com Leandro Damião, o jogo foi chato. Claro, se não fosse assim, o Galvão Bueno nunca teria ido parar no topo deste post. O melhor teria sido se a bola tivesse entrado na chance com direito a carretilha do atacante do Inter. Mas a defesa mostrou fragilidades, mesmo com três volantes. Enquanto o meio e o ataque tiveram dificuldade de fazer jogadas e permitir que se chegasse com qualidade no campo de ataque.

A Argentina jogou pouca bola e teve pouca vontade e disposição para ganhar. Com um pouco mais de qualidade, e o marcador teria sido alterado para o lado dos hermanos.

A ideia de ressuscitar a Copa Roca é legal, apesar de a partida só com jogadores que atuam nos respectivos países ter uma terrível aparência de vitrine para vender jogador. Ainda mais num período de crise econômica nos países ricos com falta de grana para contratações.

Dá o que pensar a história de que o troféu foi criado com nome de cartola paraguaio, Nicolás Leoz, e desenhado por um artista uruguaio, Carlos Páez Vilaró. Seria Mercosul demais?

E a rivalidade entre Brasil e Argentina já foi bem mais nervosa do que hoje. Muita cordialidade para um confronto de tanta história e tanta rusga.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Marina e Heloisa Helena estarão juntas em “partido suprapartidário”

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A Folha de São Paulo desta quarta-feira anuncia com direito a matéria de topo de página que a ex-senadora alagoana Heloísa Helena autorizou a ex-verde Marina Silva a usar seu nome nas articulações que jornal chama de “movimento suprapartidário” para a criação de um novo partido (como um movimento suprapartidário pode criar um partido eu já não sei bem).

Até que faz sentido. As duas chegaram a conversar nas eleições de 2010 e Heloisa comprou uma briga com seu partido, o Psol, ao propor o apoio à candidata então verde, hoje “sonhática”.

Chama a atenção o apetite de Marina. Deixou o PT por divergências no governo, mas também em muito seduzida pelo palanque que o PV lhe ofereceu. Não durou seis meses na nova casa após a eleição. O personalismo também marca Heloisa Helena, que em 2006 teve papel semelhante ao de Marina, ajudando a levar a disputa entre Lula e Alckmin para o segundo turno.

A campanha presidencial das duas moças religiosas, Marina evangélica e Heloísa católica, também teve suas semelhanças, digamos, conceituais. A psolista fez uma campanha de cunho moralista, surfando na onda do escândalo do “mensalão”. Em 2010, Marina procurou se colocar como a “novidade” num cenário em que nada presta – desconsiderando seus 30 anos de militância no PT. Nas duas o termo moralismo se aplica tanto à instrumentalização da ética pública quanto ao atraso no terreno comportamental, com posiões contrárias ao aborto e a união entre homossexuais. Também em comum, a despolitização dos dois discursos. Triste.

PS.: é interessante ver a lista de notáveis que teriam participado de ato em Brasília do tal movimento: os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Taques (PDT-MT). O personalismo político esteve muito bem representado.

A angústia de ficar sem a bola

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Por Moriti Neto

Nesta terça-feira, 13, o resultado de Barcelona x Milan, no Camp Nou, pela Liga dos Campões, empate em 2 a 2, não mostra nem de longe o que foi a peleja. O time catalão teve amplo domínio da situação e não venceu por que o futebol é um negócio estranho, como bem observou o Nicolau outro dia.

O Barça teve mais de 70% de posse de bola. Chutou 14 vezes com perigo ao gol milanês. Só Messi finalizou oito vezes, mais do que o time italiano todo, que realizou seis arremates. Domínio mais que amplo e com bom futebol. Claro que não à altura do que os azul-grenás apresentaram na temporada passada, mas, salvo alguma anormalidade, ficou nítido que o Milan, para arrancar o empate, precisou jogar no limite. Não deve exibir muito mais no restante do ano. Já o Barcelona tem espaço para crescer consideravelmente. Talvez ao ponto em que chegou à finalíssima da Liga passada, quando protagonizou um dos maiores bailes da história numa decisão de torneio de expressão mundial. Os 3 x 1 contra o nada frágil Manchester United, na Inglaterra, foram uma aula de futebol.

Ainda ontem, o atacante do Corinthians, Emerson Sheik, em participação no Cartão Verde, da TV Cultura, dizia que assistiu a Barcelona e Milan e que, apesar do empate, a partida parecia um treino de ataque contra defesa.

A declaração me lembrou um Portuguesa e Flamengo, disputado lá em 1984, pelo Campeonato Brasileiro. A Lusa jogava no Canindé contra o Rubro-Negro de Júnior, Leandro, Andrade, Adílio, enfim, aquele timaço que, mesmo sem Zico (negociado com a Udinese, da Itália) jogava um bolão.

Tá aí o Tite no Guarani, vice-campeão brasileiro em 1986
Terminado o primeiro tempo, o 0 x 0 no placar, pela força do adversário, dava impressão de “lucro” à equipe paulista. Ao menos foi o que achou um jornalista da Rádio Record. Na saída do gramado, o sujeito disse a Tite, atual técnico do Corinthians e que atuava, naquela partida, como atacante da Portuguesa : “Agora é manter o bom resultado, não é?”. A resposta veio surpreendente: “Que bom resultado? Só eles é que ficam com a bola. Não tem coisa pior pra um jogador do que, em 45 minutos de jogo, não conseguir pegar na bola”. O placar foi 1 x 0 para os cariocas. Pouco, segundo o próprio Tite, ao final da contenda.

Como diz o Xico Sá, o Barcelona, em cada jogo, “não tem tempo de sentir saudade da bola”. Os adversários, ao contrário, devem ter sensação semelhante à de Tite: angústia por não conseguir tocar o grande objeto de desejo presente no campo.

Cachaças do mundo, uni-vos

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Em 13 de setembro de 1661, portanto há exatos 350 anos e um dia, pressionada pelos produtores e consumidores brasileiros, a Corte Portuguesa autorizou oficialmente a produção de cachaça no Brasil. Isso porque os portugueses haviam proibido a nossa caninha em privilégio da bagaceira, feita do bagaço da uva usada na produção do vinho. Por essa razão, tornou-se o Dia Nacional da Cachaça. Este símbolo nacional já foi do céu ao inferno, de bebida de barões a veneno de pinguço, e hoje retornou ao mais alto status.


Mas vai longe o tempo em que era preciso destruir o próximo para ser alguém neste mundo. O Dia Nacional deveria ter um correspondente próximo, o Dia Internacional das Cachaças, ou simplesmente Internacional das Cachaças, em que celebrássemos a diversidade das águas da vida de todas as culturas, em nome da mestiçagem universal, da nossa maior riqueza que é viver num mundo com tanta gente diferente capaz de tantas qualidades. Por que preferir por princípio e não por gosto a cachaça ao uísque, a vodca ao steinhaeger, a grappa ao pisco, o conhaque ao rum, o absinto ao aquavit? Já existe a Feira Mundial da Cachaça, mas quando vai haver o Fórum Sociomanguaça Mundial?


Viemos da mesma fonte e envelhecemos na mesma essência. Foto: M. Ayer.


Afinal, o espírito que ronda a Europa é o mesmo que atravessa as Alterosas ou os vales do Tennessee. A humanidade há de evoluir a isso: destilar a utopia do comunismo manguaça.

PS: Em anos passados, celebramos no Futepoca o Dia da Cachaça em Minas Gerais, 21 de maio (em 2007 e 2009), instituído pelo Pai do Real, Itamar Franco.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Falta craque, falta sistema

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Por Moriti Neto

Pode ser problema meu, mas não entendo o esquema do São Paulo. Se é que existe algum. Não percebo jogadas de ataque ensaiadas, passagens pelos lados, pouca gente chuta a gol (como se ganha um jogo sem chutar em gol?).

O Tricolor é um time confuso. E toma gols no meio da confusão. E perde pontos preciosos, principalmente no Morumbi. E joga com duzentos volantes, atletas de estilo parecido, como mandante ou visitante.

Certo que ontem, contra o Grêmio, no Olímpico, a equipe foi até mais aplicada do que quando atua em casa. Foi um jogo tenso, com um adversário batendo forte desde o início. Entre os problemas, faltam duas coisas essenciais ao São Paulo. Bolas menos quadradas no setor de meia cancha e um jogador responsável por fazer a referência na área, que possa ser acionado pelos rápidos e habilidosos Lucas e Dagoberto.

Adilson Batista tem as opções para resolver isso. Se quiser uma referência ao estilo mais pivô, o sujeito que sabe dominar bem a redonda e preparar com categoria para quem chega, o nome pode ser Rivaldo. Com ele, ainda teria o bônus de um homem de qualidade na finalização. Numa faixa mais restrita de campo, o veterano precisaria correr pouco. Outra possibilidade seria investir no jovem Henrique, dar pelo menos três partidas diretas ao garoto. É a opção mais próxima em estilo do tão aguardado Luis Fabiano.

Em qualquer uma das escolhas que fizesse, Adilson ganharia a solução para o outro problema: o da falta de qualidade no meio. Lucas seria recuado para a posição de origem, onde rende mais. O 7 são-paulino não é o típico meia-armador, mas é disparado o jogador mais talentoso do elenco, que pode levar a bola até os atacantes com mais frequência e eficiência.



Nos tempos em que dirigia o São Paulo – e quando pegou elencos até mais limitados que o atual, como o de 2008, ano em que foi tricampeão brasileiro – Muricy Ramalho dizia que, como não há muitos craques atualmente, o time precisa estar bem treinado para produzir bom resultado. Parece que isso está faltando ao Tricolor.