Destaques

sexta-feira, setembro 06, 2013

Para aprender com os uruguaios até sobre cerveja gelada

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O Uruguai, país de 3,4 milhões de habitantes, vem dando demonstrações de medidas progressistas, como a regulamentação da união homoafetiva (casamento gay) e a descriminalização da maconha, entre outras. Antes, em 2003, ao rejeitar o fim do monopólio sobre os hidrocarbonetos e o petróleo, controlados pela estatal Ancap, garantiram também a continuidade da presença do Estado na economia, já que a Caba S/A, divisão de álcool da companhia, produz também bebidas como uísque e conhaque (uma precursora do Manguaça Cidadão).

Apesar de não vencer uma Copa do Mundo desde 1950, há muito o que aprender com este pequeno país do Cone Sul do continente americano. O amigo e jornalista Vitor Nuzzi esteve em Montevidéu para visitar o Estádio Centenário, assistir ao Peñarol e usufruir de outros atrativos da cultura gaucha e uruguaya e envia mais uma lição.

Foto: Vitor Nuzzi, de Montevidéu, Uruguai

Em um quiosque que vende de fotos 3x4 para documentos a cerveza helada, mostra que nem só de vinhos Tannat, asado e dulce de leche vivem os conterrâneos de Alcides Ghiggia e Diego Fórlan.

8ª derrota em 18 partidas; Ceni perde 3º pênalti seguido

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Dessa vez, vou cravar a verdade nua e crua: o São Paulo perdeu ontem (a 6ª derrota dentro do Morumbi nesta competição!) pura e simplesmente porque É MAIS FRACO do que o Criciúma. Ponto. Da mesma forma que venceu o Náutico porque, no Brasileirão, o time pernambucano é o ÚNICO inferior à equipe treinada por Paulo Autuori. Pode-se dizer, assim, que Ponte Preta, Portuguesa e Fluminense estão mais ou menos no mesmo nível que o São Paulo. E que Flamengo, Santos, Vitória, Bahia e o já citado Criciúma são ligeiramente superiores. Resultados como a vitória sobre o Fluminense e o empate com o Flamengo foram, portanto, perfeitamente razoáveis. Os pontos fora da  curva foram os empates com Corinthians e Botafogo, que, ao que parece, aconteceram muito mais por partidas ruins de ambos os adversários do que pela realidade do São Paulo.

Por essa ótica, o time do Morumbi ocupa hoje o lugar onde, pela sua qualidade (ou falta de), deveria estar. No máximo, com um pouco de sorte e extrema superação, poderia estar emparelhado com o Flamengo (14º), o que seria um feito heróico - mas possível, dentro dessa análise de que os cariocas estão mais ou menos no mesmo patamar futebolístico. O resumo da ópera de ontem foi o seguinte: o primeiro gol do Criciúma saiu em pênalti ridículo cometido pelo zagueiro improvisado Rodrigo Caio, em jogada que, provavelmente, terminaria em tiro de meta. Lembremos que o mesmo zagueiro perdeu uma bola bisonha no jogo contra o Botafogo, deixando atleta adversário sozinho na cara do gol sãopaulino, que, felizmente, chutou por cima (o que reforça minha tese de que aquele foi um dia atípico para o alvinegro carioca). Portanto, a falha de ontem não surpreende.

Ceni defende cabeçada fulminante: Criciúma é melhor (Eduardo Viana/Lance!Press)
 Segundo gol: bola levantada na área do São Paulo, em cima do zagueiro Rafael Tolói. Com 1,85m, ele não consegue cortar pelo alto e ela cai no pé do atacante, que dispara um petardo fulminante na pequena área, empurrando Rogério Ceni com bola e tudo para a rede. Não é a primeira vez que o goleiro sofre com Tolói; lembremos daquela atrasada horrível que entregou a bola no pé do corintiano Pato (Ceni fez pênalti e o Tricolor perdeu o confronto válido pelo 1º turno do Paulistão), da hesitação na goleada sofrida para o Atlético-MG, na eliminação da Libertadores (que permitiu a chegada de Tardelli e um golaço por cobertura) e nova hesitação ao marcar - marcar?!? - Renato Augusto na primeira partida decisiva da Recopa (outro golaço cobrindo Ceni). Ou seja, Tolói entregando gol também não surpreende. A zaga do São Paulo é HORROROSA. Prova disso é que o Criciúma perdeu chance incrível de fazer 3 x 0 logo nos primeiros segundos da etapa final, numa bola que bateu na trave, e ainda houve uma cabeçada que Ceni segurou em cima da risca.

Na frente, por mais que o time crie chances de gol, não consegue finalizar. Que o diga Luís Fabiano, que nem de longe lembra aquele que comandou a seleção brasileira nas eliminatórias da Copa da África do Sul. Negueba nada produziu de muito útil, assim como seu substituto, Osvaldo. Jadson não jogou nada, assim como seu substituto, Ganso. Fabrício sumiu, assim como seu substituto, Evangelista. O péssimo Douglas saiu (graças a Deus!) e seu substituto, Paulo Miranda, jogou muito mal. Por tudo isso, afirmo categoricamente: o elenco do São Paulo é fraco. No momento, mais fraco que Criciúma, Vitória e Bahia (perdeu para os três). O Rogério Ceni perder o terceiro pênalti seguido também não surpreende. Má fase destrói confiança e puxa erros. O que surpreende foi ele ter ido fazer a cobrança, sendo que Aloísio, que sofreu a falta, já estava com a bola nas mãos.

Após a partida, o "Boi Bandido" se atrapalhou com as palavras e respondeu a um repórter: "Só bate pênalti quem erra." Mesmo corrigindo o batido chavão logo em seguida ("Só perde quem bate"), ele acabou atestando, no engano, uma verdade: só bate pênalti no time do São Paulo quem erra - o Rogério Ceni, que errou contra o Bayern, a Portuguesa e o Criciúma, e o Jadson, que desperdiçou contra o Flamengo. Triste fase. E agora o time enfrenta o forte Coritiba, fora de casa, domingo. OREMOS AO SENHOR!


O homem que colocou o São Paulo entre os grandes

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Na década de 1940, Leônidas veio do Rio para transformar o São Paulo em 'Máquina'
Há exatos 100 anos nascia, no Rio de Janeiro, Leônidas da Silva. Muito já está sendo dito sobre esse lendário atleta, considerado "o Pelé dos anos 1930 e 1940", sensação da primeira seleção brasileira que encantou o mundo e aglutinou a torcida em nosso país, na Copa de 1938. Naquela época, foi o primeiro jogador de futebol a tornar-se uma das figuras mais populares do Brasil, ao lado do "cantor das multidões" Orlando Silva e do presidente Getúlio Vargas. Leônidas tinha fã-clube e era amigo de artistas e intelectuais. Em 1932, ao conquistar a Copa Rio Branco pela seleção brasileira em pleno Uruguai, ganhou o apelido de "Diamante Negro", que alugaria para uma marca de chocolate. No mundial da França, em 1938, ganhou outro apelido célebre, "O homem de borracha", pelos seus lances plásticos. Apesar de não ter inventado a jogada conhecida como bicicleta, foi ele quem a imortalizou, fazendo muitos gols assim.

A Segunda Guerra Mundial foi a principal vilã de Leônidas da Silva, pois naquele período deixaram de ser disputadas duas Copas do Mundo, em 1942 e 1946. Justamente o período em que o atacante, maduro e cerebral, colocou o São Paulo Futebol Clube entre os grandes clubes brasileiros. Sim, porque, antes de contratar Leônidas, em 1942, o clube, refundado em dezembro de 1935, não havia ganho nada. Para se ter uma ideia, o time terminou a primeira competição que disputou após a refundação, o Campeonato Paulista de 1936, em 8º lugar, e, no ano seguinte, ficou em 7º. Ou seja, o jovem São Paulo era um "saco de pancadas", muito abaixo de Corinthians, Palmeiras e Santos e atrás também de Portuguesa e Juventus. Não tinha estádio, campo para treinamento e nem local para concentração. Seus atletas, nessa época, eram semi-amadores. Sua ascensão começou quando fundiu-se com o Estudantes, da Mooca, no fim de 1938.

Gijo, Bauer, Noronha, Rui, Turcão, Sastre, Piolim, Leônidas, Teixeirinha, Luizinho e Remo
Mas a "maioridade" definitiva do Tricolor viria quatro anos depois, com a contratação de Leônidas. Foi chamado de "bonde", ou seja, péssima contratação, por ter custado assombrosos 200 contos de réis (o equivalente, mais ou menos, a R$ 196 mil hoje) e estar fora de forma, aos 29 anos. Tinha saído pela porta dos fundos do Flamengo, ao passar meses preso por estelionato, acusado de adulterar o certificado militar. Paulo Machado de Carvalho, dono da Rádio Record e dirigente do São Paulo, resolveu bancar a aposta no "veterano" craque carioca. E acertou na mosca: em nove temporadas, entre 1942 e 1950, Leônidas comandou a conquista de nada menos que cinco títulos paulistas (1943, 1945, 1946, 1948 e 1949), marcou 142 gols e venceu 136 das 210 partidas que disputou pelo clube. De time pequeno/médio, o São Paulo emparelhou com Corinthians, Palmeiras e Santos e multiplicou em muito a sua torcida.

Naquele final da década de 1940, os melhores times do Brasil eram o Vasco, chamado de "Expresso da Vitória", base da seleção brasileira na Copa de 1950 com Barbosa, Augusto, Danilo, Ademir, Chico, Maneca, Ely e Alfredo (mais o técnico Flávio Costa), o Internacional de Porto Alegre, conhecido como "Rolo Compressor", com Alfeu, Nena, Tesourinha, Russinho e Carlitos, e o São Paulo, a "Máquina Tricolor", de goleadas como 12 x 1 no Jabaquara e 10 x 0 no Guarani, com Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Teixeirinha no ataque e Bauer-Rui-Noronha na retaguarda. Infelizmente, o bairrismo fez com que apenas Bauer disputasse a (trágica) Copa de 1950 como titular. Aposentado, Leônidas foi técnico do São Paulo no início dos anos 1950 e, depois, comentarista esportivo. Morreu em 2004, aos 90 anos e sofrendo há muito do Mal de Alzheimer. Mas estará para sempre no coração dos - agradecidos - sãopaulinos.

Para marcar o centenário do craque, os jogadores do São Paulo entraram em campo com uma camisa "retrô" ontem, contra o Criciúma, e voltarão a usá-la amanhã, contra o Coritiba. Pena que a equipe atual não faça, nem de longe, justiça ao esquadrão dos anos 1940...

Leônidas (anos 30 e 40), Pelé (anos 50, 60 e 70) e Friedenreich (anos 10 e 20): GÊNIOS

quarta-feira, setembro 04, 2013

2ª vitória na sequência de 5 jogos sem perder

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Engana-se quem pensa que o São Paulo venceu o Náutico por 1 x 0, em Recife, com um jogador a menos. Na verdade, o time terminou o jogo com nove. Com Douglas titular (por quê, meu Deus, por quê?!??), o Tricolor já começa a partida com dez. Por isso, após a (justa) expulsão do recém-contratado zagueiro Antonio Carlos, a equipe demonstrou raça e heroísmo ao buscar o gol e segurar a vitória, jogando fora de casa - mesmo que tenha sido contra o pior time do Brasileirão.

E a assistência para Aloísio marcar foi feita pelo lateral-esquerdo Reinaldo, que é, para mim, um dos maiores símbolos da "gestão" Paulo Autuori. Depois de afastar a "cobra criada" Lúcio, o técnico apostou suas fichas no garoto Rodrigo Caio (que vem jogando bem tanto como zagueiro quanto como volante), em Reinaldo e em Aloísio, que personificam o espírito de luta que um time tem que ter quando briga contra um possível rebaixamento. Ou seja: medianos, mas batalhadores.
 
Douglas salta: com ele, time entra com um a menos (Foto:Aldo Carneiro/ Lance!Press)

Porque os "medalhões" simplesmente sumiram depois que o São Paulo foi eliminado do Paulistão pelo Corinthians e da Libertadores pelo Atlético-MG, iniciando uma tenebrosa sequência de derrotas e vexames. O que produz Osvaldo, que não faz gol desde fevereiro? O que acrescenta Luís Fabiano, que, quando não está contundido ou suspenso, marca um gol a cada dois meses? Cadê o Jadson? E o Ganso? Desse grupo, que devia chamar a responsabilidade, só Rogério Ceni corresponde.

Parece que os tais "medalhões" só sabem mostrar serviço "na boa", quando o time briga pelas primeiras posições. Quando o buraco é mais embaixo, desaparecem. E, neste momento difícil, o time precisa exatamente de atletas com o perfil de Reinaldo, Rodrigo Caio e Aloísio. Porque não é pra "jogar bonito". A briga não é pelo título, mas pela permanência na Série A. Também acredito em Paulo Miranda, que devia assumir a lateral direita. E em Negueba, que segura a bola no ataque.

Nas condições ideais, sem afastados por lesões ou suspensões, este (limitado) time do São Paulo poderia definir como titulares Rogério Ceni; Paulo Miranda (ou Welington), Rodrigo Caio, Antonio Carlos e Reinaldo; Denilson, Fabrício (ou Welington) e Ganso; Jadson, Aloísio (ou Luís Fabiano ou Welliton) e Negueba (ou Osvaldo). Simples, sem invenções. A lateral direita continua exposta, sem um especialista de origem, e o meio não é lá essas coisas. Mas, para brigar sério, é o que temos.

E vamos ao Criciúma, em casa, e ao Coritiba, fora. Pedreiras. Mas esse é o "clube da fé"!


terça-feira, setembro 03, 2013

Maluf, insuperável

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O site Terra faz hoje uma imperdível recuperação das melhores frases ditas pelo - insuperável - Paulo Maluf, ampliando coletânea publicada em 2012 pelo jornalista Xico Sá, no site da Folha de S.Paulo. Reproduzo, aqui, dez das mais históricas (e impagáveis):

1) "Professora não é mal paga, é mal casada." - Em discurso proferido em 1981, quando era governador de São Paulo, nomeado pelo governo militar.

2) "No Brasil, o político é veado, corno ou ladrão. A mim, escolheram como ladrão." - Durante a escolha do Colégio Eleitoral.

3) "O que fazer com um camarada que estuprou e matou? Tá bom, está com vontade sexual, estupra, mas não mata." - Durante palestra para médicos e estudantes de medicina, na campanha para presidente da República, em 1989.

4) "Não se pode comprar deputados, porque eles saem por aí contando e você se desmoraliza com o eleitorado." - Em 1996, no seu último ano como prefeito de São Paulo.

5) "Vote no Pitta e, se ele não for um bom prefeito, nunca mais vote em mim." - Em 1996, durante programa eleitoral do candidato à prefeitura de São Paulo Celso Pitta, seu afilhado político.

6) "Ela é obediente, vota no candidato que o marido manda." - Na campanha ao governo do Estado de São Paulo, em 1998, ao referir-se à esposa, Sylvia.

7) "Nossa polícia é boa, o que atrapalha é essa política de Direitos Humanos para bandidos." - Na mesma campanha eleitoral.

8) "Já disse mil vezes e vou repetir, democraticamente, mais uma: não tenho conta na Suíça." - Em 2004, ao rebater denúncias do Ministério Público sobre ter contas ilegais no exterior.

9) "A minha ficha é a mais limpa do Brasil." - Durante convenção do PP, em 2010.

10) "Eu, perto do Lula, sou comunista." - Durante eleição para prefeito de São Paulo, em 2012.

domingo, setembro 01, 2013

Quatro jogos sem perder. Já é alguma coisa.

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O São Paulo fez uma boa partida no Maracanã, segurou o Botafogo e o empate sem gols. Mesmo que tivesse vencido, não sairia da zona de rebaixamento. Mas já significa alguma coisa quatros jogos sem derrota. Tirar Tolói da zaga foi uma decisão correta. Só não entendo o motivo de Douglas continuar sendo titular - e jogar os 90 minutos. Improdutivo, inútil, peso morto. Do outro lado, porém, Reinaldo continua bem na lateral-esquerda. E o ataque ganhou duas novas alternativas com as estreias (discretas) de Welliton e Negueba. Menos mal. Osvaldo, há seis meses sem fazer gol, está implorando pelo banco de reservas. No mais, Ganso parece querer ser mais participativo, só que ainda está muito apagado (assim como Jadson). O meio de campo, aliás, é um setor indefinido. Nem Wellington nem Fabrício podem ser considerados titulares absolutos ou peças imprescindíveis. Tem Denilson, que volta de contusão, e Rodrigo Caio, que está mostrando serviço como zagueiro mas surgiu como volante. Enfim, se o time conseguir contratar um lateral-direito decente, existe alguma luz no fim do túnel. Pelo menos o São Paulo está jogando sério. Vamos ver quantos pontos vão render a "maratona" de quatro jogos em curto período.


sexta-feira, agosto 30, 2013

Walter, o novo artilheiro na tradição do Goiás

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É impressionante como, de vez em quando, o Goiás aparece com um artilheiro de destaque. Alguns comprovam, mais tarde, que não eram "fogo de palha". Outros, pelo contrário, tiveram brilho efêmero e sumiram. A bola da vez é Walter, que, apesar do excesso de peso (segundo a revista Placar), tem 21 gols na temporada, seis gols no Brasileirão e foi decisivo para eliminar o Fluminense da Copa do Brasil nesta semana, ao dar assistências para os dois gols de seu time. Pois é, parece que o Goiás tem a sina de surpreender com atletas brigando na ponta da artilharia de competições nacionais, mesmo quando a equipe não está bem. Relacionamos, abaixo, os sete que deram mais projeção ao clube de Goiânia, incluindo Walter. E o curioso é que apenas um deles é goiano - e outro, do Distrito Federal. Mas três deles foram revelados no Goiás. Confiram:

Túlio - Precursor - e mais famoso - dos artilheiros do Goiás, Túlio Humberto Pereira Costa, mais conhecido por Túlio Maravilha, nascido em Goiânia, estreou como profissional pelo clube em 1987. Dois anos depois, foi artilheiro do Brasileirão, com 11 gols. Após uma breve passagem pela Europa, no Sion (Suiça), foi contratado pelo Botafogo, onde viveu o auge de sua carreira, chegando à seleção brasileira. Voltou a ser artilheiro do Brasileirão, em 1994 e 1995, e, neste último ano, levantou a taça da competição. Depois de boas passagens pelo Corinthians (campeão paulista em 1997) e Vitória, ambas patrocinadas pelo Banco Excel, decaiu totalmente e percorreu dezenas de clubes. Aos 44 anos, o folclórico Túlio tenta marcar o milésimo gol (em suas contas) pelo Vilavelhense, do Espírito Santo.

Araújo - O pernambucano de Caruaru Clemerson de Araújo Soares chegou ao Goiás em 1997. No início do ano seguinte, apareceu como um dos grandes destaques da Copa São Paulo de Juniores. Mas foi no Campeonato Brasileiro de 1999 que se destacou, marcando 10 gols (foi um dos poucos a se salvar na desastrosa campanha do Goiás, rebaixado à Série B - tanto que chegou à seleção brasileira). Em 2000, chamou a atenção novamente ao decidir jogos diante do Santos e do Vasco, pela Copa do Brasil. Depois de passar por Shimizu e Gamba Osaka, do Japão, jogou no Cruzeiro, Al Gharafa (Qatar), Fluminense, Náutico e Altlético-MG, até voltar a Goiás, já veterano, onde tem contrato até o fim de 2014. É o maior artilheiro da história do clube, com 136 gols até maio deste ano, quando retornou.

Dill - Exemplo clássico de "jogador de uma temporada só". E ela ocorreu em 2000, quando o maranhense (de São Luís) Elpídio Barbosa Conceição tornou-se o maior artilheiro de uma edição do Campeonato Goiano de Futebol, com 29 gols, e também foi o artilheiro da Copa Centro-Oeste e da Copa João Havelange, o Brasileirão daquele ano, com 20 gols no Módulo Azul - ao lado de Romário e Magno Alves. O prêmio foi uma transferência milionária para o Olympique de Marseille, da França, de onde seguiu para o Servette, da Suíça. Retornou ao Brasil em 2002, para jogar no São Paulo. Marcou um único gol em dois anos e ganhou o slogan "Dill: o artilheiro que sumiu". Depois de perambular por vários clubes (incluindo Botafogo e Flamengo), aposentou-se no pequeno Foz, de Portugal, em 2010. Hoje é empresário de jogadores.

Dimba - Outro atacante que fez história pelo Goiás, ao tornar-se artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2003, com 31 gols - o primeiro a ultrapassar a barreira das três dezenas na história da competição. Editácio Vieira de Andrade, nascido em Sobradinho (DF) e revelado pelo time de sua cidade, jogou no Brasília e no Gama antes de  ir para o Botafogo, onde, em 1997, marcou o gol do título do Campeonato Carioca. Depois de passar por América-MG, Portuguesa, Bahia, Leça (Portugal), novamente Botafogo e novamente Gama, transferiu-se para o Goiás em 2002. Em 2004, foi contratado pelo Al Ittihad, da Arábia Saudita. Depois, jogou por Flamengo, São Caetano, Brasiliense, Ceilândia, Legião e novamente Ceilândia, onde está, desde 2012.

Alex Dias - Nascido em Rio Brilhante (MS), Alex Dias de Almeida só se destacou em sua segunda passagem pelo Goiás, no Brasileirão de 2004, quando balançou as redes 22 vezes, terminando a competição como vice-artilheiro, atrás apenas de Washington, que fez 34 gols pelo Atlético-PR. O jogador começou no Águia Negra, de sua cidade natal, e depois passou por Comercial-MS, Remo, Boavista (POR), Goiás, Saint-Etienne e PSG (França) e Cruzeiro, antes de retornar à equipe goiana. A vice-artilharia no nacional de 2004 o levou ao Vasco e, de lá, ao São Paulo, onde foi campeão brasileiro em 2006. Depois, jogou por Fluminense, novamente Goiás, Brasiliense, Crac, Mixto, Vila Nova, Pelotas, América-RJ e Aparecidense, até 2012, quando se aposentou.

Souza - O carioca Rodrigo de Souza Cardoso viveu a melhor fase de sua carreira pelo Goiás, em 2006, quando, a exemplo de Túlio, Dill e Dimba, tornou-se artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 17 gols. Até aquele momento, depois de ser revelado pelo Madureira, o atacante havia passado sem brilho pelo Vasco, CSKA Sófia (da Bulgária), Marítimo (Portugal) e Internacional de Porto Alegre. Depois do Goiás, como artilheiro do Brasileirão, foi contratado com o status de "maior reforço" pelo Flamengo, onde faria pífios 3 gols no nacional de 2007 e outros 6 na competição do ano seguinte. Daí, foi para o Panathinaikos (Grécia) e voltou ao Brasil para jogar no Corinthians, onde também decepcionou. Desde 2011, está no Bahia, onde, habitualmente, é reserva.

Walter - A nova surpresa do Goiás é Walter Henrique da Silva, pernambucano de Recife. No momento, ocupa a terceira posição na artilharia do Campeonato Brasileiro, com seis gols, e também a vice-artilharia da Copa do Brasil, com 4 tentos - sendo um dos principais responsáveis pela equipe goiana estar nas quartas-de-final. Revelado nos juniores do São José-RS, Walter foi para o Internacional e tornou-se a principal revelação da Copa São Paulo de Juniores de 2008. Ficou no Colorado até 2010, quando foi negociado com o Porto, de Portugal, que é dono de seu passe. Jogou por empréstimo no Cruzeiro, em 2012, e, no mesmo ano, foi emprestado ao Goiás. Campeão da série B e artilheiro da equipe com 16 gols, é o atual ídolo da torcida esmeraldina. E já fala até em disputar a Libertadores em 2014...

quarta-feira, agosto 28, 2013

'Tem o Osvaldo e o... o... o... o Osvaldo, né?'

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Jadson se assusta com o 'ataque'
Para o  jogo contra o Botafogo, domingo, no Maracanã, o São Paulo não terá Luís Fabiano (suspenso), Aloísio (idem) e provavelmente Ademilson (contundido). Questionado sobre quem jogará no ataque, o meia Jadson expôs em sua resposta o quanto o elenco tricolor é carente neste setor:

- Serão perdas grandes, mas temos outros jogadores também de velocidade. Tem o Osvaldo... Temos outros jogadores... O Osvaldo, né?

É. Tem o Osvaldo. Que não faz gol desde fevereiro. E o Luís Fabiano. Que, quando não está contundido ou suspenso, marca um gol a cada dois meses. E o Aloísio. E o Ademilson. E o... o... o...

CADÊ OS ROJÕES? E A PASSEATA? - Depois do expurgo do zagueiro Lúcio, a melhor notícia que os sãopaulinos poderiam ter: o lateral-esquerdo Juan, um dos piores jogadores que já vestiram a camisa do clube em todos os tempos, conseguiu a inenarrável proeza de encontrar um time interessado nele: o Vitória, da Bahia. Assim, assinou sua rescisão com o São Paulo e não vai mais permanecer até o fim do contrato, que seria em dezembro. HALELUIA! Deus existe! E desculpa aê, Vitória...

segunda-feira, agosto 26, 2013

Tire suas conclusões

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"Inaugurado no começo de 1995, o único hospital de Arrais, um município muito pobre com apenas 12.000 habitantes fincado no Estado do Tocantins, teve de permanecer fechado por quatro anos. O motivo não poderia ser mais bizarro. Faltavam médicos que quisessem aventurar-se por aquele fim de mundo. O que o hospital oferecia não era desprezível: salário inicial de 2.000 reais e ajuda para moradia. Só há onze meses o hospital foi finalmente reaberto. O milagre veio de Cuba. Enfim, Arrais conseguiu importar cinco médicos da ilha de Fidel e, assim, abrir as portas do hospital. Não é um caso isolado. Outros hospitais de cidades que nem no mapa podem ser identificadas, como Augustinópolis, Dianópolis e Miracema, todas no Tocantins, também ficaram anos fechados e só foram reabertos após o desembarque da tropa vestida de branco de Cuba. Hoje, já existem 166 médicos cubanos espalhados por favelas de grandes cidades e nos mais distantes municípios de Estados como Roraima, Pernambuco e Acre. A maior concentração, com 56 médicos, fica no Tocantins."

Texto de Leonel Rocha (imagem acima), revista Veja, 20 de outubro de 1999.
Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

"Deixar o programa do Partido dos Trabalhadores comandar a política externa dá nisso. O governo brasileiro se vê obrigado a pôr os interesses nacionais em segundo lugar. Foi assim nas relações com o governo boliviano, conivente com o tráfico de drogas para o Brasil, nos aplausos ao autoritarismo venezuelano e nos milhões de reais emprestados pelo BNDES com juros camaradas à ditadura cubana, a maior pane para a reforma do Porto de Mariel. Não há sinal de que a subserviência aos planos aloprados do partido vá diminuir. Nunca os efeitos dessa afinidade entre o PT e a ditadura caribenha foram tão claramente contrários aos interesses dos cidadãos brasileiros quanto na decisão de importar 6.000 médicos cubanos. O anúncio foi feito na semana passada pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, durante uma reunião com o chanceler castrista Bruno Rodríguez, em Brasília. Pelo projeto, os 'médicos' atenderão brasileiros em hospitais de regiões pobres ou distantes das grandes cidades. A medida terá no mínimo, dois efeitos negativos. Primeiro, vai pôr em risco a saúde dos pacientes. Segundo, inundará o interiorzão do Brasil com agentes de uma nação estrangeira politicamente arcaica."

Texto de Nathalia Watkins, revista Veja, 13 de maio de 2013.
Governo da presidenta Dilma Rousseff (PT).

domingo, agosto 25, 2013

Gylmar dos Santos Neves, muralha do tempo em que éramos reis

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Morreu neste domingo talvez o maior goleiro da história do Brasil, certamente um dos maiores do mundo, único arqueiro bicampeão mundial como titular por uma seleção. Gylmar do Santos Neves, 83 anos completados no último dia 22 de agosto, não resistiu a um infarto e uma infecção urinária que debilitaram o seu estado de saúde já frágil. Com parte do corpo paralisado e dificuldades de fala desde um derrame cerebral ocorrido em junho de 2000, Gilmar estava internado no Hospital Sírio Libanês desde 8 de agosto. Deixa uma vida e uma trajetória repletas de feitos e títulos.

O blogue Tardes de Pacaembu lembra o início da trajetória do ídolo, nascido em 22 de agosto de 1930 em Santos. Em sua terra natal, jogou no time de várzea Vila Hayden FC quando jovem e, sem poder treinar no time do Peixe por conta de outros goleiros que estavam lá à época, foi atuar no Portuários, time amador da Companhia Docas de Santos. Arnaldo de Oliveira, o Papa, trabalhava no Jabaquara e chamou o arqueiro para fazer testes na equipe. Aprovado nos testes, começou entre os aspirantes em 1947 e, em 1950, estreou no time titular em função de uma contusão do titular Mauro. Mesmo com a goleada sofrida contra o São Paulo, 5 a 1, o goleiro agradou.

Boa parte da história de Gilmar pode ser conferida no belo livro Goleiros (Alameda Editorial), de Paulo Guilherme. Uma de suas maiores inspirações foi o palmeirense Oberdan Cattani. Quando ainda atuava no Jabaquara, em 1951, em uma vitória palmeirense por 2 a 0 sobre o time da Caneleira (então era do Macuco, bairro onde nasceu Gilmar), o ídolo palestrino atravessou o campo para cumprimentá-lo e profetizar: “Muito bem, garoto. Continue assim que você vai vencer”.

Sendo o goleiro menos vazado daquele ano, foi contratado como contrapeso pelo Corinthians na negociação que levou o meia Ciciá ao Parque São Jorge. Tendo acima dele Bino e Cabeção, revezava na posição de titular com o segundo quando veio um jogo em que o Timão foi derrotado por 7 a 3 pela Portuguesa, em novembro de 1951. Acusaram-no de ter amolecido e acabou afastado por seis meses. Só voltou em 1952, quanto atuou em uma excursão do time na Turquia, se destacando com grandes apresentações. Contra a seleção da Dinamarca, defendeu três pênaltis, um feito, como lembra Odir Cunha no livro Times dos Sonhos (Códex).

A trajetória brilhante, mas conturbada, de Gilmar no Corinthians ainda envolveria uma contusão em outubro de 1953 que o afastou dos gramados por 8 meses, tirando suas chances de ir à Copa de 1954. Àquela altura, já havia sido convocado para a seleção pela primeira vez, jogando contra a Bolívia pela Copa América e chegando a defender um pênalti.

Ao se recuperar, havia outro treinador no Parque São Jorge. Oswaldo Brandão tinha sido justamente o técnico luso naquele 7 a 3 e o jogo seguinte era contra a Portuguesa. Cabeção foi sacado da equipe e pediu para ir embora, com Gilmar se firmando após aquela “revanche” contra a Lusa e sendo um dos melhores jogadores da conquista corintiana do campeonato paulista de 1954, do IV Centenário. Assumiu como arqueiro titular da seleção em 1956, colocando na reserva Castilho, que havia sucedido Barbosa. E reconhecia, em entrevista ao Jornal da Tarde no ano de 1987, passagem retratada em Goleiros, a ajuda do colega que ficou como suplente. “Eu nunca conheci um jogador de tão bom caráter. Castilho não demonstrou o menor recalque da reserva. Ao contrário, sempre me orientou, tratando-me com toda a dignidade.” Diferente de muitos ídolos do mundo da bola, Gilmar sempre foi humilde e sabia reconhecer méritos de colegas e rivais.

Gilmar afaga o emocionado garoto Pelé, após o título de 1958
Herói brasileiro como o primeiro goleiro campeão mundial em 1958, Gilmar inspirou toda uma geração de “Gilmares”, já que diversos pais resolveram batizar seus filhos com seu nome, ainda que o seu seja grafado com “y” na certidão de nascimento. Outro goleiro de seleção, o hoje empresário Gilmar Rinaldi, ex-Flamengo, São Paulo e outros, foi batizado assim em janeiro de 1959 justamente por conta do então arqueiro corintiano.

Gilmar no time dos sonhos

Com o início do jejum de títulos corintiano, vários jogadores foram pressionados no clube. Gilmar foi um deles. Após ficar fora de algumas partidas por conta de uma lesão no braço, com o médico do clube dizendo que se tratava de “corpo mole”, o goleiro caiu de mau jeito em um treino e, sem camisa, foi mostrar o braço inchado ao presidente do clube, Wadih Helou. “Olha aqui o corpo mole. Mas não se preocupe que eu vou operar por conta própria”, disse, segundo o livro Goleiros.

Assim o fez, e o clube negociou Gilmar em 1962. De acordo com o Almanaque do Corinthians, de Celso Unzelte, foram 395 jogos dele entre 1951 e 1961, 243 vitórias, 75 empates e 77 derrotas. O clube brasileiro interessado no arqueiro era o Santos, que não tinha recursos para contratá-lo, mas conseguiu um empréstimo da Federação Paulista de Futebol e uma doação do empresário José Ermírio de Moraes, como destaca o livro Time dos Sonhos. Gilmar não levou nada na negociação e recusou outro convite de time campeão para ir à Vila.

Gilmar, trajetória vitoriosa no Peixe
“O Peñarol ofereceu uns 12 milhões para o Corinthians, mais uma fortuna na minha mão, mas resolvi não ir. Não queria dar mais nenhum tostão para o Corinthians. Eles me judiaram demais”, disse. “No Santos, recuperei a alegria de jogar. Me senti rejuvenescido”, admitiu em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Substituiu Agenor Gomes, Manga, campeão paulista de 1955, 1956 e 1958, e estreou em 7 de janeiro, na goleada contra o Barcelona de Guayaquil, amistoso disputado no Equador, um 6 a 2 com Coutinho marcando quatro gols e Zito e Pepe um cada. Na partida, revezou posição com Laércio. Naquele ano, foi campeão mundial duas vezes como jogador santista. Pela seleção, na Copa do Mundo do Chile, e pelo Peixe, no estádio da Luz, contra o Benfica.

Foi na Copa de 1962, aliás, que Gilmar fez a defesa que considerava a mais importante da sua vida. Na última partida da primeira fase, contra a Espanha, os rivais venciam por 1 a 0 na metade do segundo tempo quando Gento, do mítico Real Madri, avançou pela esquerda e cruzou para Puskas, que disputou a bola com Mauro. O goleiro se antecipou aos dois e tirou a pelota, caindo após o choque triplo. No rebote, Peiró chutou de primeira, com força, para um gol aparentemente vazio. Mas Gilmar se desvencilhou do zagueiro e do atacante rival e defendeu o petardo. “Para se ter uma ideia, foi uma jogada tão importante que os próprios espanhóis justificaram sua eliminação naquela defesa”, disse. O Brasil venceu de virada por 2 a 1.
No Alvinegro Praiano, formou com outros craques o time considerado por muitos o maior detodos os tempos e colecionou uma série de títulos. Em uma de suas partidas mais famosas, brilhou na final da Libertadores de 1963contra o Boca Juniors, assegurando a épica vitória santista na Bombonera por 2 a 1. “Era a pedra de segurança de uma equipe que encantava o mundo, me fascinava”, como conta Antero Greco nesse post.

O tal tempo, implacável até com os maiores, também chegou para Gilmar. Em 1966, não foi bem nas finais da Taça Brasil contra o Cruzeiro, sofrendo seis gols na primeira partida. Na Copa do Mundo, com dores no joelho, atuou no jogo de estreia contra a Bulgária e contra a Hungria, sendo sacado para a entrada de Aílton Corrêa Arruda, Manga, na peleja contra Portugal.

No Santos, foi campeão mundial (1962/1963), da Libertadores (1962/1963), brasileiro (1962/1963/1964/1965/1968), do Torneio Rio-São Paulo (1963/1964/1966), paulista (1962/1964/1965/1967/1968), da Recopa Sul-Americana (1968) e da Recopa Mundial (1968). Sua última participação no time foi no dia 5 de outubro de1969, em uma derrota contra o Cruzeiro por 3 a 2, partida válida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no Morumbi. Pelo Peixe, foram 330 partidas, o que faz de Gilmar o quarto arqueiro que mais vestiu a camisa alvinegra, mas, para muitos, foi o maior dentre todos.

Lendas: Yashin e Gilmar
Despediu-se da seleção em em 12 de junho de 1969, aos 39 anos, dois meses e 20 dias, um amistoso com a Inglaterra no qual se tornou o goleiro mais velho a vestir a camisa canarinha. Fez 103 jogos pelo Brasil, sendo o terceiro goleiro com mais partidas pela equipe (fica atrás de Taffarel, 108, e Leão, 107) com 104 gols sofridos. Foi eleito pela revista francesa Paris Match como o melhor goleiro da história e um contemporâneo seu, o lendário Lev Yashin, o Aranha Negra, também o tinha como o melhor de todos os tempos.

Talvez por aguardar a Gazeta Esportiva na segunda-feira só pra ver as fotos de Oberdan, Gilmar fez da elegância uma marca. Suas famosas pontes, plásticas, são lembradas com saudades por aqueles que o viram jogar e viraram uma grife sua, influenciando gerações que vieram depois. De novo é Antero Greco quem o define à frente daquele Santos dos anos 1960. “Lembro de Gilmar todo de preto, cotovelos e laterais do calção acolchoados. Uma segurança extraordinária no gol de um time temível, que rodava o mundo deixando rivais felizes e honrados com as surras que levavam. Lá atrás, estava o grande Gilmar, que crescia, ficava enorme na frente dos atacantes, e parecia não fazer força nenhuma na hora de defesas memoráveis.”
Vai mais um herói do tempo em que nós, brasileiros, no futebol, éramos reis.

Vitória no Brasileirão, depois de quase três meses

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Diante de 55 mil torcedores, o São Paulo enfim conseguiu vencer uma partida no Campeonato Brasileiro, 2 x 1 sobre o Fluminense, com gols de Luís Fabiano e Reinaldo (Eduardo descontou). O jejum de 12 jogos sem vencer na competição vinha desde 29 de maio, quando goleou o Vasco também no Morumbi. A partir de então, empatou com Atlético-MG, Grêmio, Corinthians, Atlético-PR e Flamengo e perdeu para Goiás, Santos, Bahia, Vitória, Internacional, Cruzeiro e Portuguesa.

No jogo da redenção, ponto positivo para Paulo Henrique Ganso, que deu belo passe para o primeiro gol, e para o lateral-esquerdo Reinaldo, que, a exemplo de Aloísio, compensa a pouca qualidade com vontade de mostrar serviço e finalizações no ataque. É claro que o Fluminense de Vanderlei Luxemburgo também não vai muito bem das pernas, mas o que importam são os 3 pontos e a moral que uma vitória dá para o grupo, mostrando que é possível reagir e sair da zona de rebaixamento.

As três recentes contratações - os zagueiros Antonio Carlos (ex-Botafogo) e Roger Carvalho (ex-Bologna) e o atacante Welliton (ex-Grêmio) - dão uma certa injeção de ânimo. Falta, agora, um lateral-direito. Se Paulo Miranda voltar ao time titular e Negueba oferecer opção no ataque, o técnico Paulo Autuori terá algo de mais substancial para buscar uma reação. Ganso também parece estar reagindo e, se Luís Fabiano continuar se entendendo com ele, tanto melhor. Oremos!


Um mês depois de Djalma Santos, morre De Sordi

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Início, no XV de Piracicaba
O ex-lateral direito Nilton de Sordi morreu neste sábado, 24 de agosto, exatamente um mês e um dia após a morte do também ex-lateral direito Djalma Santos. Ambos foram campeões mundiais na Copa da Suécia, em 1958, com De Sordi titular em todos os jogos da campanha, menos na decisão, quando se contundiu e deu lugar exatamente para Djalma. Homem de confiança do técnico Vicente Feola, com quem tinha trabalhado no São Paulo, De Sordi era mais marcador que apoiador, mais obediente às ordens táticas de guardar posição (ao contrário de Djalma Santos). Prova disso é que disputou 536 partidas pelo time do Morumbi, entre 1952 e 1965, e não marcou um gol sequer.

Treze anos pelo São Paulo
De Sordi começou a carreira no XV de Piracicaba, de sua cidade natal, e depois foi para o São Paulo, onde ganhou os Campeonatos Paulistas de 1953 e 1957. No final da carreira, jogou pelo União Bandeirante, do Paraná, onde se aposentou, em 1966. E foi justamente no município paranaense de Bandeirantes, onde residia, que veio a falecer. De Sordi sofria do Mal de Parkinson. Em junho de 2008, esteve com outros veteranos na solenidade de homenagem aos 50 anos da conquista na Suécia, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Morreu de falência múltipla dos órgãos. No dia seguinte, a seleção de 1958 teria mais um desfalque, com a morte do legendário goleiro Gylmar dos Santos Neves.

Já doente, na homenagem do presidente Lula aos 50 anos do título na Suécia

sábado, agosto 24, 2013

Gabriel estreia como titular, brilha novamente, e Santos supera o Vitória

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Gabriel, de novo, o nome do jogo (Foto Santosfc)
Gabriel, 16, 17 só daqui a seis dias. Entrou contra o Grêmio na etapa final e fez o gol que garantiu uma estreita vantagem para o Santos na Copa do Brasil. Hoje, contra o Vitória, começou como titular e mais uma vez mostrou frieza incomum para alguém da sua idade. Seu segundo gol como profissional facilitou e muito a vida do Alvinegro contra o Vitória.

O tento do jovem, aos 8 minutos, decorreu de uma boa troca de passes que envolveu meias e atacantes santistas, contando também com a falha do goleiro Wilson. Tranquilo, o Peixe não foi ameaçado em todo o primeiro tempo, e armou uma estratégia para deixar o Vitória com a posse de bola, roubando bolas no meio e armando contra-ataques rápidos. Poderia ter saído com uma vantagem maior para o intervalo, mas faltou precisão.

No segundo tempo, mais uma vez não houve tempo para o Vitória tentar pressionar os donos da casa. Aos 10, Cícero trocou passes com Montillo e serviu Gabriel. O atacante peixeiro sofreu pênalti, mas o árbitro deixou a jogada seguir e Cícero fez. A partir daí, os santistas trataram de tocar mais a bola, irritando em alguns momentos a torcida, que queria mais agressividade. O Vitória teve duas oportunidades com Dinei, mas continuou com um nível de jogo abaixo do rival.



Impressionou mais uma vez a vontade dos jogadores alvinegros, com uma aplicação tática e na marcação que acabam compensando a afobação dos mais novos e mesmo a falta de qualidade de um ou outro. Com Montillo mantendo um bom jogo, Thiago Ribeiro se adaptando e Gabriel despontando bem, o Santos pode resolver um problema já tratado aqui, no qual o excesso de preocupação com a defesa acabava minando o ímpeto ofensivo da equipe. E o garoto que joga com a onze mostrou, com mais tempo em campo, que tem bola, sabe virar o jogo, tocar rápido, e finalizar. Caso Alisson, que hoje foi titular, e Alan Santos, seu suplente, treinem mais para aprimorar o passe, o torcedor pode ter mais esperanças de termos uma equipe competitiva em breve.

Com 19 pontos, mas tendo ainda dois jogos a menos que a maioria dos concorrentes, o Santos tem 45% de aproveitamento, o que o posiciona mais próximo de uma eventual briga pelo G-4 – o quarto colocado, Corinthians, tem 56% – do que da zona da degola – o Criciúma, time mais próximo de sair do grupo, tem 31%. Mas é preciso engatar uma sequência para dar mais tranquilidade aos garotos e também ao treinador Claudinei Oliveira, que também é um iniciante, poder ousar um pouco mais.

sexta-feira, agosto 23, 2013

Ainda sobre homofobia

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Reproduzo trecho de notícia publicada hoje pelo site do Estadão:

Ônibus da frota de transporte coletivo de São Paulo vão exibir nos próximos dias um vídeo institucional para lembrar o Dia da Visibilidade Lésbica, comemorado anualmente no dia 29 de agosto. A exibição terá duração de oito dias, com início previsto para este sábado, 24. Vai envolver mil ônibus. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Coordenação de Políticas LGBT, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, e a SPTrans, da Prefeitura de São Paulo. O vídeo, de 30 segundos, foi produzido com a participação de ativistas. Sem áudio, apresenta mulheres exibindo cartazes nos quais se lê: “Sou mulher. Sou lésbica. Sou bissexual. Sou cidadã. Sou filha. Sou mãe. Trabalho. Estudo. Tenho direitos e quero respeito.” Ao final, aparece a mensagem que norteia essa e outras campanhas que devem vir por aí: ”Na São Paulo que a gente quer não cabe homofobia.”


Iniciativa mais do que bem vinda (e necessária) se levarmos em conta que, segundo uma pesquisa divulgada ano passado pela Secretaria de Estado da Saúde, nada menos que 70% dos homossexuais da capital paulista já sofreram algum tipo de agressão. E a discussão sobre homofobia e decorrente enfrentamento (em todos os setores da sociedade) parecer ser uma pauta que, tomara, veio pra ficar.

quarta-feira, agosto 21, 2013

Especial: É hora de discutir a homofobia no futebol

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Corintianos protestam contra beijo de Sheik
O selinho do jogador corintiano Emerson Sheik no amigo Isaac Azar trouxe à tona a questão da homofobia no futebol em função da reação agressiva de torcedores do clube que protestaram contra a atitude do herói da Libertadores de 2012.

Mas não é uma questão nova, ainda que não tenha merecido a atenção devida nem dos dirigentes esportivos da CBF e das federações, tampouco das equipes profissionais. “Os clubes de futebol, a imprensa esportiva e outros atores envolvidos com o futebol legitimam a homofobia ao silenciarem sua existência. Ao não serem citados, os xingamentos homofóbicos acabam sendo naturalizados”, acredita Gustavo Andrada Bandeira, pedagogo e autor da dissertação intitulada Eu canto, bebo e brigo... alegria do meu coração: currículo de masculinidades nos estádios de futebol. “Os nossos grandes clubes possuem origens e histórias mais ou menos semelhantes. Não vejo, neste momento, condições para que um clube de futebol brasileiro levante qualquer bandeira política que o diferencie dos demais.”

O surgimento das torcidas queer, que combatem a homofobia nas redes sociais, teve o mérito de tirar esse tema da invisibilidade. Mas, mesmo ganhando inúmeros adeptos e o apoio de outros tantos, reconhecem dificuldades para fazerem coisas simples, como manifestar o amor pelo seu time em um estádio de forma coletiva.

Frequentamos o estádio e temos sim esse objetivo [de comparecer como organizada]. Mas queremos fazer tudo com calma e no momento certo, é preciso garantir a integridade física de todos os participantes. Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil fazer protestos no estádio. Estamos pensando na melhor forma de fazer isto”, diz Milena Franco, da Galo Queer, torcida considerada precursora do movimento atual.

Algumas torcidas já tentaram ir aos estádios levando a temática LGBT. Muito antes da internet e das redes sociais, em 1977, surgiu a primeira organizada gay do Brasil, a Coligay,  fundada por Volmar Santos, então dono da boate Coliseu, para apoiar o Grêmio. Hostilizada pelos próprios torcedores do clube, foi extinta na década de 1980. Outro exemplo que também não foi adiante é a FlaGay, fundada pelo carnavalesco botafoguense Clóvis Bornay e que teve idas e vindas entre o final da década de 1970 e os anos 1990. 

Quanto ao comparecimento em estádios, a Bambi Tricolor enfrenta a mesma dificuldade da Galo Queer, mas em um nível talvez pior, já que são-paulinos são muitas vezes alvo de ofensas homofóbicas por parte dos rivais. “Há uma forte resistência entre os torcedores, agravada, inclusive, pela escolha do nome Bambi Tricolor. E embora a maioria que se manifesta tenha consciência de que as provocações e ofensas contra os são-paulinos tem um forte caráter homofóbico, não é muito clara a ideia de que a reação da torcida, de modo geral, tende a reforçar a homofobia”, conta Aline, representante da Torcida.

Confira nos links abaixo as três entrevistas feitas pelo Futepoca em abril e maio deste ano sobre a homofobia no futebol brasileiro.



Entrevista com Gustavo Andrada Bandeira, pedagogo e autor da dissertação intitulada Eu canto, bebo e brigo... alegria do meu coração: currículo de masculinidades nos estádios de futebol. 


Entrevista com Aline, representante da Bambi Tricolor

"A rivalidade faz parte do futebol, mas a homofobia não”

Entrevista com Milena Franco, da Galo Queer.

(Texto com contribuições de Glauco Faria, Marcão Palhares e Nicolau Soares)

Gustavo Bandeira: “Nossa cultura ainda é muito permissiva em relação à homofobia”

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Entrevista com Gustavo Andrada Bandeira, pedagogo e autor da dissertação intitulada Eu canto, bebo e brigo... alegria do meu coração: currículo de masculinidades nos estádios de futebol

Por Glauco Faria

Futepoca – Por que, no seu entendimento, o estádio de futebol é um espaço tão marcante para afirmações de masculinidade e práticas homofóbicas? Isso tem mais a ver com a cultura do futebol ou com a cultura do próprio país?
Gustavo Andrada BandeiraDesde a perspectiva teórica que me aproprio, as diferentes instâncias da cultura trabalham na produção dos gêneros e das sexualidades. Os esportes modernos, em geral, são locais da cultura em que as construções de masculinidades ocupam um lugar privilegiado. Os confrontos são próprios das construções culturais do masculino. Na cultura brasileira, e não apenas nela, a homofobia tem se constituído em um importante conteúdo das construções mais tradicionais de masculinidade que, de alguma forma, ainda ocupam um espaço preponderante nas disputas por significado nos estádios de futebol.

Futepoca – Como você avalia o surgimento de torcidas que combatem a homofobia, como a Galo Queer, considerada pioneira? Você acha que elas poderão sair doa internet e se manifestar nos estádios sem causar desentendimentos com outras organizadas do próprio time?
Bandeira – O surgimento das torcidas queer obedece uma lógica muito interessante. Elas se aproximam do próprio surgimento do que poderia se chamar de "movimento queer" que pretendia positivar um termo que historicamente era utilizado para desqualificar os sujeitos não heterossexuais. A colocação dessa pauta na ordem do futebol brasileira é altamente positiva, conquanto tenhamos que esperar um pouco para vermos a reação a essas manifestações. Corremos o risco do surgimento de movimentos reacionários nas redes sociais ou nos estádios como contraponto a essas torcidas. Temos exemplos de torcidas gays no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul que acabaram na década de 1970 sumindo a partir da relação com as outras torcidas. O torcer nos estádios possui uma constante disputa por legitimidade. Não saberia precisar se a relação das torcidas organizadas com as torcidas queer seria muito diferente da relação das torcidas organizadas com as demais torcidas.

Futepoca – Qual a responsabilidade dos clubes de futebol no Brasil em relação ao fomento da homofobia? Acredita que existirão aqui exemplos como o do clube alemão St Pauli, que tem uma luta objetiva contra a intolerância?
Bandeira –
(Do Facebook do IHU)
Os clubes de futebol, a imprensa esportiva e outros atores envolvidos com o futebol legitimam a homofobia ao silenciarem sua existência. Ao não serem citados, os xingamentos homofóbicos acabam sendo naturalizados. Os nossos grandes clubes possuem origens e histórias mais ou menos semelhantes. Não vejo, neste momento, condições para que um clube de futebol brasileiro levante qualquer bandeira política que o diferencie dos demais.

Futepoca – De que forma esse comportamento homofóbico das torcidas afeta os próprios jogadores, obrigados muitas vezes a reprimir ou ocultar sua orientação sexual?
Bandeira – O comportamento homofóbico é tão naturalizado, os homossexuais são tão marcados como desviantes que a própria violência é entendida como natural. O "caso Michael" do vôlei é emblemático. O jogador afirmava que os xingamentos eram normais. Aos jogadores de futebol não parece possível assumir uma identidade homossexual. Mesmo que suas práticas sexuais ocorram com pessoas do mesmo sexo, a identidade homossexual dificilmente será assumida.

Futepoca – Você estudou o comportamento das torcidas dos principais times gaúchos. Acha que essa afirmação de masculinidade é pior no futebol do estado por conta da cultura esportiva que foi desenvolvida?
Bandeira – As torcidas de futebol do Rio Grande do Sul possuem um comportamento aproximado das torcidas platinas (Uruguai e Argentina). As representações da torcida brasileira em geral (especialmente como é entendida pelos estrangeiros) são mais carnavalescas. E o carnaval é uma festa importante em que existe um deslocamento entre o permitido e o proibido na ordem cotidiana, incluindo a de gênero. A ausência dessa característica pode ampliar a fixação de uma representação de masculinidade. A rivalidade é outro ingrediente fundamental no Rio Grande do Sul. Torcedores de Internacional e Grêmio são muito parecidos entre si, portanto, é necessário utilizar elementos compartilhadamente ofensivos. A sexualidade acaba ocupando este lugar.

Futepoca – É possível estabelecer uma relação entre as práticas homofóbicas com outros tipos de violência praticados em estádios de futebol, como o preconceito étnico ou social e às agressões físicas de uma forma geral?
Bandeira – Sim e não. Sim, porque a homofobia também é uma violência e impede que sujeitos não heterossexuais se entendam como possíveis nesse espaço. Não, porque outras manifestações violentas (como os enfrentamentos físicos) tendem a ser transgressivas, procuram fugir da ordem estabelecida. Infelizmente, a homofobia está totalmente dentro da ordem da masculinidade e do universo futebolístico.

Futepoca – Que tipo de campanhas e e ações de conscientização você acha que seria possível promover para combater a homofobia em estádios e no futebol em geral. E qual a responsabilidade da mídia dinate desse panorama?
Bandeira – Não tenho uma receita de como combater esta situação. É inegável que a situação das mulheres nos estádios foi alterada drasticamente nos últimos 15, 20 anos. Estamos vivendo um momento único na história do futebol brasileiro com a construção das novas Arenas. O comportamento das torcidas deverá ser alterado, mas não temos como saber de que forma. A mídia é responsável pela espetacularização do futebol. Enquanto as espetacularidades continuarem muito baseadas no confronto e nas metáforas bélicas, não acredito em mudanças significativas (ao menos não no que concerne a essa espetacularização). Entender que a homofobia é uma violência, que foge do ordinário e que é digna de ser narrada pode ser um primeiro passo.

Futepoca – Há casos de algumas torcidas que assumiram apelidos pejorativos e preconceituosos como a do Inter fez com "macaco", a do Palmeiras com o "porco" e a do Santos com o "peixe" (referência à origem socio-econômica dos "peixeiros", torcedores do clube do litoral). A torcida anti-homofobia do São Paulo adotou o nome de "Bambi Tricolor", mas já recebeu várias manifestações de torcedores são-paulinos contra a atitude. Por que é tão mais difícil assumir apelidos que dizem respeito a ofensas homofóbicas?
Bandeira – Nossa cultura ainda é muito permissiva em relação à homofobia. As pessoas não tem muita tranquilidade para manifestarem ódio racial ou de classe no espaço público. O ódio aos desviantes sexuais ainda aparece como um imperativo, especialmente para os homens.

Bambi Tricolor: “Em questões que envolvem violência, todo silêncio é, na verdade, uma omissão”

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Entrevista com Aline, representante da Bambi Tricolor.

Por Glauco Faria

Futepoca – Como surgiu a ideia de fundar a São Paulo Livre?
Aline – Pra começar, o nome da página não é São Paulo Livre e sim Bambi Tricolor. A escolha do nome, aliás, é o que tem gerado mais críticas e, ao mesmo tempo, apoio. Até agora, publicamos três posts para falar quase exclusivamente sobre a escolha do nome e suas implicações, uma delas, inclusive, responde diretamente a pergunta "Por que Bambi Tricolor e não SPFC Livre?"

A ideia de fundar a página Bambi Tricolor veio por inspiração da Galo Queer, que realmente foi corajosa e pioneira nesse sentido. E a página também foi uma espécie de desdobramento de conversas que nós tínhamos sobre a homofobia no futebol. Somos um grupo de amigos que, desde antes desse movimento de torcidas anti-homofobia, dizíamos que os são-paulinos deveriam adotar o apelido Bambi por todos os motivos já explicitados na página.

Futepoca – Existe uma articulação com torcidas de outros times que também têm como objetivo o combate à homofobia?
Aline – Não. Pelo menos nada além do que se vê publicamente. Nós apoiamos todas as manifestações das outras torcidas, assim como recebemos apoio de várias delas. São torcidas que atuam em confluência, mas não necessariamente articuladas.

Futepoca – Os torcedores são-paulinos não raro são estigmatizados com ofensas homofóbicas por rivais. Nesse caso, é mais difícil trazer a discussão sobre homofobia pelo fato de boa parte dos torcedores do São Paulo rejeitar a associação feita por adversários?
Aline – Sim. Há uma forte resistência entre os torcedores, agravada, inclusive, pela escolha do nome Bambi Tricolor. E embora a maioria que se manifesta tenha consciência de que as provocações e ofensas contra os são-paulinos tem um forte caráter homofóbico, não é muito clara a ideia de que a reação da torcida, de modo geral, tende a reforçar a homofobia. Parece mais fácil dirigir-se à torcida e dizer que certos apelidos e certas ofensas são homofóbicas. No máximo, você será acusado de ser chato ou defensor do politicamente correto. Mas quando nós dizemos "vamos assumir o Bambi" pensando em mudar os termos dessa discussão, quando dizemos que o estigma da homossexualidade não pode, em si, ser recebido como ofensa por mais que seja formulado e proferido como tal, somos acusados de todo o tipo de coisa, que vai de ingenuidade, a estupidez, a sermos rivais humilhando e desrespeitando o clube. Uma das coisas que nos foram ditas é que se tivéssemos escolhido o nome SPFC Livre, nós receberíamos mais apoio e adesões. O que, para nós, aponta a ambiguidade da situação dos são-paulinos diante da homofobia. Como defender a causa LGBT sem "piorar" o estigma de sermos uma torcida gay, ou torcedores de um time gay? A própria configuração desse "impasse" já expõe o quanto nós, como sociedade, não temos clareza sobre o problema, e quão naturalizada é a homofobia.

Mas é preciso ponderar uma coisa: se, por um lado, os torcedores contrários à página são refratários aos nossos argumentos, os favoráveis já chegam com uma elaboração própria e muito interessante sobre a homofobia no futebol e, mais especificamente, da homofobia de que os são-paulinos são vítimas e compactuantes. Isto é, há mais resistência, por um lado, mas há também uma recepção muito estimulante, de outro. Sinais de que essa é uma boa conversa.

Futepoca – Como foi/está sendo a reação de organizadas do São Paulo que, a exemplo de inúmeras de diversos clubes brasileiros, em muitas ocasiões se mostram homofóbicas?
Aline – Nós não recebemos nenhum contato, seja positivo ou negativo, oficialmente, das organizadas. Muitas pessoas, homens em sua extrema maioria, chegam e dão pistas de que pertencem a alguma das organizadas, mas nada além disso. Estes são os que com mais agressividade se manifestaram. Recebemos muitas ofensas, mensagens cheias de irritação, perplexidade, muitos pedidos ou exigências para deletarmos a página ou mudarmos o nome. E recebemos umas poucas ameaças.

Futepoca – A Bambi Tricolor é uma iniciativa relacionada mais às redes sociais ou pretende também pretende marcar presença nos estádios?
Aline – A Bambi Tricolor, como "organização", por assim dizer, é uma tentativa de debate. Ele se dá, hoje, mais eficientemente, nas redes sociais.

Nós, pessoas que idealizamos e administramos a página, frequentamos o estádio como torcedores comuns, nós estamos lá sempre que possível. Por enquanto, não é possível fazer nenhuma manifestação física que se aproprie do apelido Bambi, ainda mais no estádio. Se, pela internet, as reações contrárias foram tão intensas, imagine na arquibancada, quando o sangue está ainda mais quente. Qualquer coisa que pareça ofensiva ou provocativa pode despertar reações violentas, então é preciso ter cautela aqui.

Futepoca – Quais são os próximos passos planejados pela Bambi Tricolor?
Aline – Não sabemos ainda. A página Bambi Tricolor não é resultado de um planejamento, ela foi uma manifestação imediata, espontânea, inspirada pela ocasião. A Galo Queer foi um acontecimento e veio ao encontro de demandas nossas, expectativas nossas em relação ao futebol, à política, ao mundo. Nós sabemos que o hype sobre as páginas de torcidas anti-homofobia vai, mais cedo ou mais tarde, diminuir e minguar. Nossa ideia, contudo, é pelo menos manter a página como mais uma referência, um lugar de debate sobre homofobia e/no futebol. Se algo maior advier daí, beleza. Estaremos dispostos.

Futepoca – Na sua opinião, os clubes brasileiros, a CBF e as federações não tratam da forma devida o combate à homofobia no futebol?
Aline – Claro que não. Nem os clubes nem a CBF se posicionam publicamente, ou seja, eles não tratam de forma nenhuma. Em questões que envolvem violência, todo silêncio é, na verdade, uma omissão. Na melhor das hipóteses, os clubes e a entidade responsável pelo esporte são omissos diante de uma causa que só cresce e reivindica direitos, conscientização, transformações sociais. Na melhor das hipóteses. Pois é virtualmente impossível que a homofobia seja tão naturalizada no meio sem que as instituições, em suas estruturas de poder e formação, contribuam diretamente para isso.

Às vezes, sinais mais claros dessa homofobia emergem, como aconteceu quando o cartola do Palmeiras, José Cyrillo Jr, mencionou o Richarlyson num programa de televisão quando questionado sobre um suposto jogador que assumiria sua homossexualidade. Ou o vídeo comemorativo do Corinthians que exibia um veado como símbolo do São Paulo. Infelizmente, esses casos são tratados como gafes, deslizes pontuais que ocorreram por falta de cuidado ou avaliação correta. E, até certo ponto, essa descrição leviana não deixa de ser reveladora. Numa cultura machista como a nossa, pode soar natural que num ambiente tão masculino a homossexualidade seja um tabu e uma piada. Mas sabe-se também que não é apenas isso (uma piada). Quando o assunto é seriamente abordado, os relatos que chegam até o público indicam uma força repressiva que torna a homossexualidade um obstáculo, talvez até um impedimento para as carreiras dos jogadores. Não por acaso, não há jogadores homossexuais assumidos. Não se pode creditar esse "grande armário" apenas à rejeição da torcida e à cultura machista, as instituições são uma parte importante dessa equação aí.

Galo Queer: “A rivalidade faz parte do futebol, mas a homofobia não”

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Entrevista com Milena Franco, da Galo Queer.

Por Nicolau Soares

Futepoca – Como surgiu o movimento? Quais suas motivações?
Milena Franco – Sou atleticana desde sempre, mas recentemente comecei a estudar gênero e teoria feminista e, por isso, da última vez que fui ao estádio, fui com um outro olhar, e fiquei muito incomodada com a homofobia e o machismo generalizados e naturalizados por todos, mesmo por parte de pessoas que, fora do estádio, têm uma postura política de respeito à diversidade. Dessa angústia surgiu a ideia de fazer um movimento e várias pessoas gostaram da ideia e se juntaram a ele. Agora o movimento cresceu e é constituído por muitas pessoas. Somos atleticanos de várias idades, gêneros, profissões e orientações.

Futepoca – A repercussão surpreende? Como está se dando esta repercussão, tanto positiva quanto negativa? 
Milena – A repercussão surpreendeu muito. Nunca imaginei uma repercussão dessa magnitude. Fiz a página apenas para divulgar entre meus amigos, pensando que algum dia poderíamos nos organizar pra fazer algo maior. Mas em três dias a página foi curtida por mais de 3.000 pessoas. Acho que atendemos a uma demanda silenciosa. Pelo visto, muita gente que gosta de futebol já queria dar esse grito contra o machismo, a homofobia e a intolerância e ficamos muito emocionados com todas as manifestações de apoio. Infelizmente, há também muita repercussão negativa, mas isso já era esperado, já que estamos mexendo em um terreno muito machista e conservador, que é o do futebol. O problema são as ameaças que recebemos. As pessoas se oporem ao movimento é totalmente aceitável, mas ameaça não..

Futepoca – Há a ideia de levar isto à direção do Galo? 
Milena – Ainda não recebemos uma resposta do time. Ficamos sabendo, no entanto, através da reportagem do Globo Esporte, que a diretoria é favorável ao movimento e ficamos muito felizes de ver que o nosso time tem essa postura de respeito á diversidade e combate ao preconceito.

Futepoca – Qual a dimensão da homofobia e do sexismo no futebol brasileiro hoje? Qual a importância de se mudar isto?
Milena – Há muito machismo e muita homofobia no futebol e estes são temas totalmente intocados. Enquanto essas arenas de exceção continuarem existindo, arenas onde o preconceito é permitido, o preconceito e a intolerância nunca acabarão. Discutir machismo e homofobia no futebol é uma questão urgente.

Futepoca – Após a repercussão inicial do Galo Queer, uma página similar foi criada levando o nome do Cruzeiro e posteriormente várias outras torcidas de times de todo o Brasil. O que vocês acham disso?
Milena – Achamos as iniciativa muito boas. A rivalidade faz parte do futebol, mas a homofobia não. E é por isso que é importante que haja um movimento amplo de combate à homofobia e ao machismo dentro do futebol. Claro que temos orgulho do pioneirismo, mas é essencial que o movimento se espalhe. Ficamos muito felizes.

Futepoca – Vocês pretendem levar o movimento para o estádio?
Milena – Frequentamos o estádio e temos sim esse objetivo. Mas queremos fazer tudo com calma e no momento certo, é preciso garantir a integridade física de todos os participantes. Infelizmente a intolerância é muito grande e, a julgar pelas ameaças que recebemos na página, sabemos que não será fácil fazer protestos no estádio. Estamos pensando na melhor forma de fazer isto. Mas o legal é que o movimento já começou a ir para o estádio naturalmente, recebemos fotos de torcedores do Galo que foram ao Mineirão no último jogo (contra o Villa) com cartazes de apoio à Galo Queer e repúdio à homofobia. O triste foi saber que os seguranças do estádio não permitiram a entrada dos cartazes, com a justificativa de que "eles não tinham nada a ver com futebol". E depois falam que o "políticamente correto" é que faz censura.

Futepoca – Vocês estão em contato com as outras torcidas anti-homofobia que surgiram após a criação da Galo Queer?
Milena – As outras torcidas anti-homofobia que surgiram entraram em contato com a gente apenas para pedir ajuda na divulgação. Mas estamos dispostos a, no futuro, organizar alguma ação conjunta com as outras torcidas.

Futepoca – O que vocês acham de expressões como "Maria" e "Bambi"?
Milena – Expressões como "bambi" e "Maria" são sim sintomas de uma cultura homofóbica. Se você não é homofóbico nem machista, você simplesmente não usa tais termos para ofender alguém. A rivalidade pode se expressar de várias outras formas que não alimentem uma cultura opressiva. O argumento de que "brincadeiras" desse tipo fazem parte da cultura do futebol não se sustenta, a escravidão também fazia parte da nossa cultura há alguns séculos atrás, mas a cultura é mutável, ainda bem.

Futepoca – Na sua opinião, os clubes brasileiros, a CBF e as federações não tratam da forma devida o combate à homofobia no futebol? E a mídia esportiva?
Milena – Não. Acreditamos que não há nenhum empenho da CBF em combater a homofobia e o machismo no futebol. Em outros lugares do mundo existem iniciativas super interessantes, como a campanha da Holanda, mas no Brasil não há nada parecido. A mídia esportiva parece seguir a mesma linha da CBF, apesar de que ficamos felizes de ver tantas matérias sendo feitas sobre a Galo Queer e as demais torcidas anti-homofobia e antissexismo, parece que as coisas estão começando a mudar.