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terça-feira, abril 01, 2014

José Serra, sempre pé quente...

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segunda-feira, março 31, 2014

Futebol: um termômetro da sociedade?

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O texto abaixo é de autoria de Paulo Reis, foi publicado no Trilha da Rua, e faz parte da campanha Futebol sem Racismo. 

Os recentes casos de racismo do futebol nos mostram uma coisa muito importante: devemos abandonar essa expressão racismo no futebol, como se esse fosse apartado da sociedade, com sua própria maneira de funcionar e independente dos valores compartilhados pela sociedade.

Não comentaremos apenas os casos de racismo, há outros itens que demonstram a intolerância e as diferenças simbólicas que o futebol carrega. Tentaremos de maneira bem corrida traçar algumas características do futebol hoje que parecem correspondentes à sociedade.

Embora falar apenas dos casos de racismo não seja o foco desse post, vamos apenas situar os mais recentes. Vai vendo. No dia 16 de fevereiro, no jogo entre Real Garcilaso e Cruzeiro pela Libertadores, o volante Tinga do time brasileiro foi alvo de provocações racistas: a cada instante em que Tinga pegava na bola, a torcida imitava o som de um macaco. Dentro algumas declarações, Tinga disse que “Trocaria um título pela igualdade entre raças e classes e respeito” e que “as pessoas [falaram] do que aconteceu lá, mas isso tem todo dia. No nosso país tem muito, não só (preconceito) racial, mas social, que acho que é até maior”.

No último dia 6 de março, após apitar o jogo entre Esportivo e Veranópolis pelo Campeonato Gaúcho, o arbitro Márcio Chagas da Silva encontrou bananas no seu carro e as portas amassadas. O arbitro disse que também ouviu xingamentos e ofensas como “macaco”, “teu lugar é na selva” e “volta para o circo” na entrada do gramado do jogo e durante o intervalo.

futebol_preconceito2

Na goleada do Santos contra o Mogi Mirim por 5 a 2 pelo Campeonato Paulista, o volante Arouca do Peixe foi chamado de macaco pelos torcedores do Mogi. Em nota, o atleta disse: “Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de ‘macaco’ que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.”

Esses casos são sintomáticos. É incrível como pode haver um preconceito tão violento. Não devemos aceitar esse quadro, ainda mais porque houve discriminação nos limiares do futebol também. O futebol brasileiro iniciou-se quando o brasileiro de ascendência inglesa Charles Miller, que inclusive batiza a praça do lado do Estádio do Pacaembu, trouxe uma bola para cá e introduziu o “football” aqui. De lá para cá, o futebol passou por uma série de transformações. E não apenas em táticas, uniformes e tecnologia. O futebol era um esporte praticado pela elite brasileira. Caberia aqui tratarmos da fundação dos times mais tradicionais desse Brasilzão, mas isso seria interessante em um outro post.

Quem praticava o futebol eram homens, brancos e proprietários. Não haviam pobres, ainda mais negros nos times. O primeiro mulato a se destacar foi Arthur Friedenreich, chamado de El Tigre, no Paulistano. Em alguns times, houve resistência a inclusão de negros. O Fluminense tinha um jogador negro, mas ele tinha que passar pó de arroz antes dos jogos. A torcida começou a reparar, já que ele suava e podia-se ver o pó saindo de seu rosto. Não é consenso qual o primeiro time a aceitar negros.

Há quem diga que foi o Vasco da Gama, em 1923, sagrando-se campeão carioca com um time talentoso. Há quem diga que foi a Ponte Preta, que teve Miguel do Carmo, um dos fundadores da Ponte, como jogador da mesma no ano seguinte à fundação (1901). Em seguida, na década de 30 houve a profissionalização do futebol e consequentemente uma maior abertura para que os jovens talentos do Brasil, independentemente de sua origem e cor, pudesse ter chance de ser um jogador de futebol. Muitas limitações ainda permanecem no futebol. Não podemos esquecer que no Sudeste/Sul, os times de futebol têm mais estrutura e mais recursos. O que corresponde a força econômica de alguns estados brasileiros. O que, por sua vez, corresponde a condição dos jovens tentarem a vida nesse esporte. Disso podemos dizer que há uma elitização no futebol, no sentido de que os times considerados grandes entram numa competição com muito mais vantagens que os times considerados menores.

Mas e hoje? Analisando de modo até amador da minha parte, a profissionalização não quebrou muito com esse quadro de preconceito. Há uma série de itens que correspondem à lógicas de pensamento e valores que estão introjetados na nossa sociedade e até são sutilizados. Todo o jornalismo esportivo criticou os casos recentes de racismo, colocando-o como abomináveis e algo que não deve existir em nosso tempo. Seguindo uma lógica que preza pela igualdade entre as raças, é certo condenar o racismo mesmo. Mas o racismo que é condenado aí é o explicito. É curioso que na grande imprensa brasileira (quase) não se tenha jornalistas esportivos negros. É curioso contarmos nos dedos os repórteres e âncoras negros, não apenas do jornalismo esportivo, mas dele como um todo. Ou seja, o racismo é condenável, mas ainda vivemos em uma sociedade considerada racista, onde modos implícitos e sutis de preconceito racial estão diluídos no nosso cotidiano.

futebol_preconceito1

Um segundo movimento disso tudo foi uma mobilização por parte da Federação Paulista de Futebol contra o racismo. Mais especificamente no jogo Corinthians x São Paulo, onde havia uma faixa dizendo “O Futebol Paulista repudia o racismo”, a torcida corinthiana provocava a torcida tricolor chamando o goleiro Rogério de “bicha”, além das provocações já de praxe com apelo sexual. Não é contraditório? A partir do momento que a orientação sexual passa a ser objeto de chacota/desgosto/ódio, independente de quem for o objeto de “xingamento” (aqui com todas as aspas possíveis), o discurso contra o preconceito foi pro beleleu. Sejamos contra o preconceito racial, mas não contra o preconceito de orientação sexual. Só um adendo: isso é uma “sutileza” em termos de preconceito homofóbico no futebol. Vale ressaltar outros itens aqui. O jogador Richarlyson, quando jogava no São Paulo, foi chamado, de modo sutil, de homossexual por um cartola do Palmeiras. Depois de todo um embrólio, o caso foi parar no tribunal, onde foi arquivado pelo juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, já que, nas palavras dele, o futebol é “jogo viril, varonil e não homossexual”. Além também de Cassano, na Eurocopa de 2012, onde o jogador italiano, perguntado sobre a possibilidade de haver um jogador gay no selecionado italiano, disse que “Se eles são “frocio” (termo vulgar em italiano para se referir a gays), o problema é deles. Eu espero que não exista qualquer “frocio” na seleção. Mas se eles são isso, é com eles. Não sei se existe alguém. Deixo assim, caso contrário, já sabem, virão os ataques de todas as partes”. Isso foi em junho. Em abril daquele ano, o técnico da seleção italiana Cesare Prandelli colocou que “No futebol e no esporte ainda existe um tabu sobre a homossexualidade, quando as pessoas deveriam viver livres de acordo com seus próprios desejos e sentimentos. Quando falamos de amor e sentimentos, o povo deveria poder amar quem quisesse”.

Outro ponto é talvez o menos sensível às pessoas. Quando se fala do próprio racismo, ou mais recentemente de entrega de jogo, o discurso segue a mesma tônica: “somos homens, temos caráter, somos honestos!”. Percebam que esse discurso, de modo inconsciente, provavelmente, associa caráter e honestidade ao fato de ser homem. Não fica explicito que uma mulher não seja assim, mas fica implícito que são valores compartilhados entre os homens. Pode até parecer viagem, mas é incrível como o uso da palavra em determinado discurso exclui/inclui as pessoas. Vale ressaltar que a mulher vem ganhando uma presença cada vez maior na vida política, econômica, social e esportiva da sociedade. Embora não haja tanto destaque midiático, o futebol feminino vem crescendo muito. Vez ou outra podemos ver jogos das seleções, mas os jogos de clubes não. Em nome da tradição, ainda estamos muito presos ao calendário do futebol masculino. Soma-se a isso o fato dos patrocinadores primarem mais pela modalidade considerada oficial. Além também da presença da mulher na arbitragem, no jornalismo esportivo e em outras esferas. Elas também manjam muito. Não deve haver o determinismo que diz que por ser mulher não deve saber de futebol. Se pá elas manjam de futebol, NHL, UFC e Hokey muito mais que você que é homem e tá lendo isso.

Enfim, a questão é que, embora algumas dessas coisas pareçam que só são explícitas, brincadeira pra provocar rival, entre outros, são formas de preconceitos, mas são sutis. Ao rebater o racismo não devemos usar o argumento do que o maior jogador de todos os tempos era negro. Porque mesmo se fosse bisonho, grosso, péssimo jogador, Pelé mereceria respeito simplesmente por ser uma pessoa. Ao nos declarar contra o preconceito, devemos perceber como gestos e práticas legitimam ainda mais a diferenciação entre as pessoas. Disso fica a resposta da pergunta: o futebol é um termômetro da sociedade. Tudo que foi dito não faz parte de casos isolados, mas sim de toda uma lógica e uma estrutura de pensamento e de vida.

Fontes: http://globoesporte.globo.com/platb/memoriaec/2011/03/23/a-contribuicao-do-vasco-para-o-integracao-racial-e-social-no-futebol/

http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,arouca-e-chamado-de-macaco-apos-goleada-do-santos-em-mogi-mirim,1138189,0.htm

http://globoesporte.globo.com/futebol/eurocopa/noticia/2012/06/cassano-aquece-polemica-sobre-jogadores-gays-na-selecao-italiana.html

'Tudo é possível'

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Veículo da Folha incendiado: acusado de transportar presos políticos
Risível, para não dizer desaforado, o editorial da Folha de S.Paulo no domingo, 30 de março. O embaraço ao fazer um mea culpa nos 50 anos do golpe militar começa logo pelo título: "1964" - apenas o ano do acontecimento, tentando uma "neutralidade" que beira (ou alcança) o tucanismo. Todo esse cuidado, esse pisar nas pontas dos pés, sobre ovos, se reflete ainda mais na linha fina que apresenta o texto (o grifo é nosso): "Aos olhos de hoje, apoiar a ditadura militar foi um erro, mas as opções de então se deram em condições bem mais adversas que as atuais". Ou seja: sim, nós apoiamos os militares; e sim, isso foi ruim; mas, "veja bem, não é o que você está pensando, sejamos razoáveis..."

Depois das necessárias - ainda que tardias - críticas à ditadura, nos quatro primeiros parágrafos, pra tentar "ganhar" a simpatia daqueles que a condenam, a Folha desliza na argumentação (o grifo é nosso): "Parte da esquerda forçou os limites da legalidade na urgência de realizar, no começo dos anos 60, reformas que tinham muito de demagógico". Como assim?!? "Forçou os limites da legalidade"?!? O governo de João Goulart não teve tempo - nem força - para tomar uma medida sequer, legal ou "ilegal", a favor ou contra qualquer coisa. Pelo contrário: assim que Jânio Quadros renunciou, Jango sofreu o primeiro golpe, ao ser obrigado a aceitar um regime temporário de parlamentarismo. Isso sim "forçou os limites da legalidade". Aliás, quando os militares tentaram impedir a posse LEGAL de Jango como presidente, o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, conseguiu garanti-la justamente com uma campanha de resistência batizada de "Corrente da Legalidade".

Jornal chama ditadura de 'ditabranda' e gera protesto popular
Mas o editorial da Folha omite tudo isso e prossegue derrapando: "Logo após 1964, quando a ditadura militar se continha em certas balizas, grupos militarizados desencadearam uma luta armada dedicada a instalar, precisamente como eram acusados pelos adversários, uma ditadura comunista no país". Ah, mas que boazinha essa ditadura! Que esforço ela fazia para se conter, coitada! Tanto que, ANTES de qualquer pessoa pegar em armas contra ela, os militares cassaram centenas de políticos democraticamente eleitos, prenderam arbitrariamente milhares de pessoas, institucionalizaram a tortura, proibiram eleições, alçaram a "linha dura" ao poder, censuraram a imprensa, amordaçaram o Congresso e "estupraram" o país ao impor o AI-5. Isso é ser "contida"?

Pois foi justamente por toda essa violência que muitos (ainda que equivocadamente) partiram para a luta armada. Não contente, porém, o editoral emenda cinco parágrafos de exaltação ao "milagre econômico" do início dos anos 1970, como sendo o lado "benéfico" e "justificável" do golpe militar. E aí vem o grand finale, quando o jornal assume o apoio que deu ao regime de exceção - e procura nos convencer de que, na época, foi uma atitude "correta": "Às vezes se cobra, desta Folha, ter apoiado a ditadura durante a primeira metade de sua vigência, tornando-se um dos veículos mais críticos na metade seguinte. Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi um erro". Somente "aos olhos de hoje"?!?? Vá dizer isso a alguém que foi barbaramente torturado naqueles tempos! E que talvez, como registram várias denúncias, tenha sido transportado para cárceres clandestinos em veículos da própria Folha de S.Paulo. A mesma Folha que já chamou a ditadura de "ditabranda"...

Abril de 1964: Folha defende o 'regime'
É isso, minha gente. O jornal que insuflou o golpe em quase todo o período do curto - mas legítimo - governo João Goulart, e que saudou a tomada de poder pelos militares como a salvação do país, diz agora que "errou", mas termina o editorial em tom de "sermão" contra possíveis detratores. Só que tem um lance curioso: quando pensei em fazer esse post, imaginei os comentários que faria para encerrá-lo. Mas foi aí que eu reparei em outros três textos publicados na mesma página 2 da Folha de domingo (assinados por Eliane Cantanhêde, Henrique Mirelles e Carlos Heitor Cony) e notei que, por uma "coincidência semiótica", os títulos de cada um resumiam - ou comentavam - o descarado editorial: 'Desastres nada naturais', 'O que não foi feito' e 'Tudo é possível'. Impressionante como, sem querer, qualquer um desses títulos poderia nominar o editorial, em vez do anódino "1964". Por isso, me sinto à vontade para terminar o texto com uma definição do Dicionário Informal: "CARA DE PAU: Pessoa descarada, sem vergonha. Atrevido. Sinônimos: atrevido, sem vergonha, safado, mentiroso, descarado, sem escrúpulos, cara lisa". Sem mais. 

sexta-feira, março 28, 2014

JUSTO

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Som na caixa, manguaça! - Volume 76

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NA BATUCADA DA VIDA
(Ary Barroso / Luís Peixoto)

CARMEN MIRANDA

No dia em que apareci no mundo
Juntou uma porção de vagabundo da orgia
De noite teve choro e batucada
Que acabou de madrugada em grossa pancadaria

Depois do meu batismo de fumaça
Mamei um litro e meio de cachaça, bem puxado
E fui adormecer como um despacho
Deitadinha no capacho na porta dos 'Injeitados'

Cresci olhando a vida sem malícia
Quando um cabo de polícia
Despertou meu coração
Mas como eu fui pra ele muito boa
Me soltou na rua à toa
Desprezada como um cão

Agora, que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
E por Deus fui esquecida
Irei cada vez mais me 'esmulambando'
Seguirei sempre cantando na batucada da vida


(Gravação em 78 R.P.M., RCA Victor, 1934)



quinta-feira, março 27, 2014

'É que Narciso acha feio o que não é espelho...'

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Narciso ontem, no Morumbi: histórico
O sentido dos versos de Caetano Veloso que dão título ao post não tem nada a ver com o que vou relatar, mas é irônico que eles estejam numa canção chamada "Sampa", porque citam o nome do grande carrasco do time homônimo na partida disputada ontem à noite no Morumbi. Sim, o ex-jogador Narciso fez história como treinador ao impor um vexame incontestável ao São Paulo, em pleno Morumbi, e sacramentar a maior façanha do Penapolense em toda a sua existência, a classificação para a semifinal do Campeonato Paulista. Mais do que isso: foi uma (justa) vingança.

No dia 25 de janeiro de 2010, no Pacaembu, Santos e São Paulo decidiram a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Narciso era o técnico do Peixe. No fim do primeiro tempo, os santistas já venciam por 1 x 0 quando partiram num contra-ataque fulminante, para sacramentar o título. Mas o goleiro Richard, do São Paulo, parou o atacante adversário com uma falta feia. Para perplexidade geral, e principalmente de Narciso, o juiz marcou a falta mas só deu cartão amarelo para o goleiro, que deveria ter sido expulso. O lance foi capital, pois, se ficasse com um a menos, dificilmente o Tricolor reverteria a derrota.

Em 2010, Narciso reclamou e foi expulso na decisão da Copinha
Por isso, depois que os sãopaulinos igualaram o placar no segundo tempo e o juiz apitou o fim do jogo, provocando a disputa de pênaltis, Narciso partiu pra cima da arbitragem, completamente fora de si. Tanto gritou e reclamou sobre a não expulsão de Richard no primeiro tempo que o técnico santista acabou expulso, deixando os garotos sob seu comando visivelmente nervosos. Prova disso é que erraram os três pênaltis que bateram. E o goleiro Richard, o mesmo que foi poupado do cartão vermelho, defendeu as cobranças e foi o herói do título do São Paulo na Copinha.

Richard deveria ter sido expulso
Narciso engoliu aquilo quieto. Ontem, exatamente 50 meses depois daquela injustiça, o técnico estava no comando do Penapolense, como "azarão" ou franco-atirador no confronto das quartas-de-final do Paulistão, em jogo único. De forma brilhante, armou um esquema de marcação que anulou todos os meias e atacantes do São Paulo - e deixou o tempo passar. Depois de "cozinhar" o time de Muricy Ramalho no primeiro tempo, em "banho-maria", Narciso soltou a equipe de Penápolis no contra-ataque na etapa final e por pouco não liquidou a fatura no tempo normal.

Mas a vingança tem requinte de detalhes: a decisão seria, como na decisão da Copinha de 2010, por pênaltis. Dessa vez, mesmo tendo assistido um jogador seu ser supostamente derrubado na área do adversário durante o segundo tempo, num lance em que a arbitragem não marcou pênalti, Narciso, mais maduro e experiente, manteve-se calmo e não reclamou. Provavelmente, deve ter dito ao seu time: "A pressão está em cima deles. A obrigação de se classificar é deles. Vão lá e acertem as cobranças, sem medo. Eles vão se complicar sozinhos". Não sei se foi assim. Mas foi o exatamente o que ocorreu, para glória máxima do treinador.

Narciso consola o derrotado Rogério Ceni: vingança, 4 anos depois
Por fim, outras duas curiosidades. Como técnico, Narciso vai enfrentar, na partida única da semifinal, o Santos, time que o projetou como jogador de futebol, que o amparou completamente quando ele enfrentou um tipo raro de leucemia e que permitiu que ele iniciasse a carreira de treinador em suas categorias de base. E o Penapolense foi o único time que conseguiu golear os santistas neste campeonato (4 a 1) - justo eles, que estão impondo aos adversários seguidas goleadas, como a de ontem (4 x 0), na Ponte Preta. Seja como for, estar na semifinal já é um título para Narciso.

Não, Rodrigo Caio não é o culpado
Sobre o São Paulo, o curioso é que caiu na mesma situação do Corinthians. Não adianta culpar Rodrigo Caio, que desperdiçou sua cobrança de pênalti, pois a eliminação é responsabilidade única e exclusiva do time inteiro, que não jogou absolutamente nada ontem. Assim como os corintianos não podem culpar ninguém, pois a não classificação para a reta final foi resultado daquilo que não jogaram no início da competição. Mas não custa lembrar que, ao sugerir que o São Paulo tinha "entregado o jogo" para o Ituano, para desclassificar o Corinthians, o técnico alvinegro Mano Menezes disse que os deuses do futebol puniriam tal atitude. Que língua! Deus me livre de praga de corintiano! (rsrs) E meu consolo, no momento, é que, jogando mal desse jeito, o São Paulo foi poupado de passar vexame maior ao sofrer uma sonora goleada na Vila Belmiro, como a que o Corinthians sofreu na primeira fase.

quarta-feira, março 26, 2014

Leônidas da Silva, negro diamante - Futebol Sem Racismo

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"A alma não tem cor", diz a canção de André Abujamra. A alma brasileira está colada no futebol. E a alma do futebol brasileiro é multicolor. Na campanha por Futebol Sem Racismo, cujo pontapé inicial já foi dado e que avança pela meia cancha, a gente não se cansa de lembrar talentos negros. O primeiro é Leônidas da Silva, o Diamante Negro.

Criador do gol de bicicleta e apontado como "maior do que Pelé" pelo adversário e goleiro Oberdan Cattani, Leônidas da Silva foi o Diamante Negro. Símbolo de um povo, mágico com a bola nos pés, encantou os europeus nas Copas do Mundo de que participou. Nascido em 1913, jogou entre 1923 e 1951. Atuou por Flamengo e Botafogo, além de protagonizar uma das primeiras transações milionárias do futebol brasileiro, ao ser transferido para o São Paulo.

Era considerado temperamental, de pavio curto. Porém tal traço parece ter atrapalhado mais sua trajetória como treinador do que como jogador. Talvez o talento com os pés tenha tenha sido mais eficaz para cessar a sanha dos críticos do que os resultados como comandante. Tampouco impediu uma bem sucedida corrida como comentarista esportivo.

Outro Estigma que recai sobre a biografia do gênio é o de ter sido ausente, por contusão, na partida semifinal da Copa de 1938, quando o Brasil perdeu da Itália. Nos anos 1950, ele chegou a ser acusado de ter recebido suborno do regime de Benito Mussolini para "amarelar". Não era verdade.

O apelido "Diamante Negro" foi talhado pela imprensa francesa durante aquele mundial. O que envolve o fato de ter marcado 7 gols (foram 8, mas a Fifa tirou-lhe a autoria de um), incluindo o sexto do 6 a 5 contra a Polônia, na prorrogação da decisão de terceiro lugar.

Foto: Reprodução de Globo Sportivo, ao lado de Zizinho

A alcunha batizou o chocolate, vendido até hoje no mercado brasileiro. Por causa dos US$ 3 mil pagos a Leônidas pela fabricante, o jogador é visto como precursor do marketing esportivo. O fato de ter namorado figuras como a cantora Elizeth Cardoso contribuíram para um lado "celebridade" do atleta, visto como primeiro ídolo do futebol brasileiro e um dos responsáveis pelo crescimento da popularidade do Flamengo.

Ficha técnica de Leônidas da Silva

N° da camisa que consagrou: 9
Clubes em que atuou: Flamengo, Botafogo e São Paulo
Partidas na seleção: 37, com 37 gols marcados
Copas do mundo: 1934 e 1938
Marca registrada: O principal divulgador da bicicleta e ser considerado "Maior do que Pelé"
Estigma: o de ser temperamental e o de não ter conquistado Mundial de futebol em 1938, chegando a ter sido acusado de ter recebido suborno da ditadura de Mussolini

Leia também:
O mesmo estádio, o mesmo clássico, o mesmo placar. Mas o uniforme do São Paulo, quanta diferença...
O homem que colocou o São Paulo entre os grandes

terça-feira, março 25, 2014

Pelo Futebol Sem Racismo, uma campanha

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Está no ar a campanha Futebol Sem Racismo, uma iniciativa do Futepoca e do Blog do Santinha. Após os episódios envolvendo jogadores, como Tinga e Arouca, árbitros, como Márcio Chagas, "humoristas"... a iniciativa quer fazer uma corrente pra frente para parar com o racismo dentro dos gramados.

Precisamos e queremos parceiros. Entre em contato.

Sobre o Futebol Sem Racismo




A pátria em chuteiras, na expressão consagrada por Nelson Rodrigues, é uma das definições mais bem resolvidas de tudo o que o futebol representa para o brasileiro. Pés de todas as cores foram, são e serão calçados para fazer do país uma fonte de craques. O racismo não pode ter espaço nem dentro do gramado, nem nas arquibancadas. Muito menos na Copa do Mundo de 2014.

Manifestações recentes de intolerância contra jogadores, árbitros e torcedores negros são o ponto de partida desta campanha, movida por pessoas, torcedores, blogueiros, jornalistas, cidadãos... Gente que quer o espetáculo da bola entre jogadores, independentemente da cor da pele.

Se a conversa começa com o Futepoca e o Blog do Santinha, ela avança com apoio de todos.
Primeiro, vamos jogar o racismo para escanteio. Depois, vamos tirar o tema da retranca e contra-atacar: construir ações para clubes, jogadores, torcedores, poder público... para cada um assumir sua posição no time do Futebol Sem Racismo.

Como participar

Há muitas formas de participar da campanha. Curtir a página no Facebook, compartilhar os conteúdos produzidos, espalhar o selo, ajudar a difundir... Confira:

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Reproduza e divulgue tudo o que gostar.

Produza, remixe
Escreva biografias de jogadores negros, indígenas, brancos, cafusos, mulatos... Conte histórias de igualdade, denuncie casos de racismo (de hoje e do passado). Se você tem um blogue, escreva sobre a campanha, e torne pública sua adesão.

Vista a camisa
Se você tem um blogue, escreva sobre a campanha, por que você apóia, por que o assunto é importante... Publique um dos selos com link apontado para a página do Facebook. Altere seu avatar nas redes sociais com o escudo.

Proponha
Ajude a desenhar ações, peças e medidas concretas.

Redes
GMAIL: futebolsemracismo@gmail.com
FACEBOOK: facebook.com/pages/Futebol-Sem-Racismo/132206113621217
TWITTER: twitter.com/futebolsracismo


'Imponderável de Almeida' beneficiou Muricy e Ceni

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Muricy e Ceni: sucesso no São Paulo
Se existe um ano decisivo para dois dos maiores ídolos do São Paulo (e que ainda trabalham juntos no clube), este foi 1992. E o curioso é que a ascensão de ambos contou com a ajuda do "Imponderável de Almeida", personagem criado pelo jornalista e teatrólogo Nélson Rodrigues, em suas crônicas esportivas, quando queria narrar algo inesperado ou inimaginável - personagem que também foi chamado muitas vezes por ele de "Sobrenatural de Almeida". Bom, seja o que for, o que importa nessa história é que, no fim de 1991, nem Muricy Ramalho nem Rogério Ceni enxergavam alguma remota chance de, a curto ou médio prazo, emplacarem carreiras profissionais significativas como treinador e goleiro, respectivamente.

Muricy no Atibaiense (1988)
Muricy havia se aposentado precocemente como jogador em 1985, aos 30 anos, no América-RJ, por conta de seguidas e graves contusões no joelho. Tornou-se dono de uma rede de farmácias com seus irmãos mas, em 1988, aceitou o convite do modesto Grêmio Esportivo Atibaiense para ganhar mais alguns trocos como jogador disputando a mambembe 3ª Divisão do Campeonato Paulista. Não deu: depois de dois jogos os combalidos joelhos o obrigaram a abandonar de vez a ideia de jogar bola. Porém, o Atibaiense insistiu em contar com sua ajuda e, para justificar os dois salários mínimos que recebia, Muricy aceitou assumir o comando do time (de amadores) quando seu técnico foi demitido. Foram apenas 10 jogos. Mas ele pegou gosto...

Oscar e Moraci Sant'Anna (1991)
Dois anos depois, faria um curso de treinador no Puebla, do México, onde havia jogado entre 1979 e 1984. No ano seguinte, conseguiu cavar uma vaguinha como treinador nas categorias de base do São Paulo, clube onde havia se formado e despontado como jogador. Mas o emprego não dava qualquer garantia de prosseguimento futuro no time profissional. Prova disso é que, justamente em 1991, outro ex-jogador do clube, o zagueiro Oscar Bernardi (titular da seleção brasileira na Copa da Espanha), foi contratado para ser o auxiliar do técnico Telê Santana. E o combinado era que Oscar assumiria o comando assim que Telê saísse, pois o treinador já falava em aposentadoria. Só que aí apareceu o "Imponderável": Telê começou a ganhar tudo e (lógico) não quis mais sair.

Muricy como auxiliar de Telê: acaso
Depois de treinar o time júnior do São Paulo na Copinha de 1992, Oscar percebeu que seria auxiliar ainda por muito tempo. E se irritou: “Se houvesse uma garantia, por escrito, de que daqui a seis meses eu seria o técnico, eu ficaria”, afirmou ao jornal Notícias Populares, em fevereiro. “Acho melhor desligar-me. Ficar no São Paulo só para dizer que estou no São Paulo, eu não quero.” O jornal ironizou, dizendo que Oscar saiu do clube "chiando" e que "passaram o conto do auxiliar-técnico nele" (reprodução abaixo). A verdade é que a reclamação do ex-zagueiro não tinha o menor fundamento: Telê, que já havia ganho o Brasileiro e o Paulista em 1991, seria bi-paulista, bi da Libertadores e bi do Mundial entre 1992 e 1993, entre outros títulos.


Oscar Bernardi no Cruzeiro (1997)
Surpresa pela atitude de Oscar, a diretoria do São Paulo improvisou Muricy, das categorias de base, como auxiliar de Telê. E foi assim, por acaso, que aquele que ganharia quatro títulos pelo clube (Conmebol em 1994 e Brasileirão de 2006, 2007 e 2008) e que o dirige atualmente ganhou sua grande chance para pavimentar uma carreira como treinador profissional. Fora o São Paulo, Muricy ganhou títulos na China, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, além de conquistar uma Libertadores com o Santos, em 2011. E Oscar? Bem, o ex-zagueiro deixou o posto de auxiliar no São Paulo para treinar a Inter de Limeira e o Guarani. Chegou a treinar o Cruzeiro. Nunca ganhou nada. E encerrou a aventura como técnico em 1998.

Alexandre: sucessor natural de Zetti
Assim como a surpreendente saída de Oscar e a inesperada efetivação de Muricy como auxiliar-técnico no São Paulo, a segunda parte dessa história também ocorreu em 1992. Na época, o paranaense Rogério Ceni, que havia completado 19 anos em janeiro, morava em um alojamento no estádio do Morumbio e ocupava a posição de 4º goleiro do clube, sem qualquer esperança de, tão cedo, treinar com os profissionais. Zetti era o titular absoluto, com o pernambucano Gilberto como reserva. E o 3º goleiro era a jovem promessa Alexandre, de 20 anos, que muitos diziam ter vaga assegurada no time profissional, já naquela temporada de 1992. Essa certeza veio na Libertadores, a primeira conquistada pelo São Paulo.

Marilene e a medalha da Libertadores
No primeiro jogo contra o Nacional do Uruguai, em Montevidéu, pelas oitavas-de-final, Zetti foi expulso no segundo tempo. Alexandre entrou e segurou a apertada vitória por 1 a 0. No Morumbi, na partida de volta, o jovem goleiro foi titular e teve uma elogiada atuação na vitória por 2 a 0, classificando o São Paulo para as quartas-de-final. Depois de levantar o troféu, com Alexandre no banco de reservas, Zetti foi sondado por um clube europeu - e a diretoria sãopaulina estava prestes a fechar o negócio. "O Zetti ia mudar para um time da Alemanha, não me recordo o nome, em 92. Estava tudo certo. O Alexandre seria titular", contou Marilene Escobar, mãe de Alexandre, ao Globo Esporte, em 2012. Aí, o "Imponderável de Almeida" deu as caras outra vez - dessa vez, de forma cruel.

Rogério Ceni campeão no Japão (1993)
No dia 18 de julho de 1992, um mês e um dia após conquistar a Libertadores pelo São Paulo, Alexandre, que tinha acabado de ficar noivo e de comprar um carro (sinal de que a a venda de Zetti e ascensão do jovem ao time titular de Telê pode mesmo ter algum fundo de verdade) foi a um churrasco com alguns jogadores do clube na capital paulista. Na volta, sozinho, bateu o veículo em uma mureta na rodovia Castello Branco. E morreu na hora. "Alexandre era muito melhor do que eu. Velocidade incrível de movimentos, excelente chute. Telê Santana adorava! (...) Minha carreira, com certeza, seria completamente diferente caso Alexandre não tivesse partido. Ele era apenas um ano mais velho do que eu. Ocuparia a sua posição por muito tempo. Quem sabe até hoje", reconhece Rogério Ceni, no livro "Maioridade Penal – 18 anos de histórias inéditas da marca da cal".

Notícia da morte do jovem goleiro: foi socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos
Ceni e Muricy no São Paulo (1996)
De acordo com a mãe de Alexandre, sua morte trágica fez com que o São Paulo desistisse de vender Zetti. No ano seguinte, Rogério Ceni estreou no time profissional, em uma excursão à Espanha. E garantiu seu posto no banco de reservas nas conquistas da Libertadores e do Mundial de 1993. No ano seguinte, sua trajetória começaria a se confundir com a de Muricy Ramalho. Como auxiliar de Telê, o jovem técnico foi incumbido de comandar o "Expressinho" do Tricolor, um "catado" de reservas e de atletas da base que disputava as competições que o time principal, por conflito de datas, não podia disputar. E foi com Rogério no gol que Muricy ganhou seu primeiro troféu, da Copa Conmebol.

Rogério Ceni comemora seu 1º gol
No início de 1996, outra fatalidade: Telê sofreu uma isquemia e se afastou definitivamente do futebol. Mais uma vez, sem esperar, Muricy acabou como técnico, de fato, do São Paulo. Depois de um curto período de volta ao posto de auxiliar, no Brasileirão daquele ano, quando o time foi comandado por Carlos Alberto Parreira, Muricy tornou-se técnico efetivo do São Paulo. E iniciou a temporada de 1997 com Rogério Ceni como titular, após a venda de Zetti. Ali, o técnico tomou uma atitude ousada: como o goleiro era o que mais treinava cobrança de faltas nos treinos, permitiu que ele fosse o cobrador oficial nas partidas. Em 15 de fevereiro de 1997, sob o comando de Muricy, Ceni marcou de falta o primeiro dos 114 gols que marcou até hoje, como maior goleiro-artilheiro do mundo.

Dá a impressão, portanto, que técnico e goleiro estavam fadados a fazer história no São Paulo. Pelo menos pela "forcinha" que o "Imponderável - ou Sobrenatural - de Almeida" deu para que assim fosse, naquele fatídico ano de 1992...

quarta-feira, março 12, 2014

'Danonezinho'

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Aloísio, Muricy e Milton Cruz durante treino do São Paulo em Maceió
Que o Muricy Ramalho gosta de "molhar a palavra", não resta dúvida (vide episódio da caipirinha no seu acerto com o Santos ou o da cerveja durante as férias compulsórias após sair daquele clube). Por isso mesmo, o treinador vai aproveitar a passagem por Maceió, onde o São Paulo enfrenta o CSA hoje, em sua estreia na Copa do Brasil, para dar mais um tapa na goela. E seu companheiro de copo, dessa vez, será o folclórico centroavante Aloísio Chulapa, que apareceu no treino de ontem do Tricolor, na capital alagoana, para reencontrar o "patrão" Rogério Ceni e os ex-comandantes Muricy e Milton Cruz. Quem relata é o repórter Bruno Quaresma, do jornal Lance!:

Conversou com o Muricy?
Aloísio Chulapa - Quando saí [do São Paulo], ele me falou foi que quando viesse para Alagoas queria tomar um "danonezinho", que é cerveja com colarinho. Graças a Deus chegou essa oportunidade.


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Rogério Ceni, um fã e a placa do Bolsa Família: parecia propaganda
POST SCRIPTUM - Ainda sobre Aloísio Chulapa e a viagem do São Paulo à Alagoas, vi depois de fazer esse post que ele levou o Rogério Ceni para sua cidade natal, Atalaia, a 68 quilômetros de Maceió, para inaugurar uma escolinha de futebol. O curioso foi ver que, involuntariamente (óbvio!), o goleiro sãopaulino, que nutre notória e pública admiração pelo PSDB e por José Serra, posou para uma foto com uma placa gigante do Bolsa Família ao fundo. Para refrescar a memória, reproduzo declarações de Ceni e do político tucano sobre o programa do governo federal (que injetou R$ 2,1 bilhões na economia brasileira em fevereiro deste ano e que recentemente foi considerado "exemplo de erradicação de pobreza" pela ONU):

"A pessoa raciocina assim: eu tenho o Bolsa Família, o Bolsa Escola, isso me dá cento e tantos reais, então eu prefiro ficar em casa do que arriscar, do que ter que trabalhar. (...) Eu vejo isso como um fator determinante para o não crescimento do nosso país." (entrevista de Rogério Ceni ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 30/10/2006)

"Bolsa Família não é a solução. Ele estaciona. Para a pessoa subir na vida precisa mais do que isso. Não se fez inovação nenhuma." (entrevista de Serra à Rádio Metrópole, de Salvador, em 06/08/2013)

terça-feira, março 11, 2014

O mesmo estádio, o mesmo clássico, o mesmo placar. Mas o uniforme do São Paulo, quanta diferença...

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Há 73 anos, Aníbal, King e Iracino - e o estranho uniforme
No dia 25 de agosto de 1940, o São Paulo enfrentou o Corinthians no estádio do Pacaembu, pelo Campeonato Paulista. Assim como anteontem, venceu por 3 a 2. Curioso, porém, foi o uniforme utilizado pelo Tricolor naquela partida disputada há 73 anos: uma versão alternativa da camisa listrada, sem as usuais listras vermelhas, apenas as pretas e brancas. Consta que a iniciativa teria sido uma homenagem ao Clube Atlético Estudante Paulista, agremiação fundada em junho de 1937 que conquistou o surpreendente 4º lugar no Paulistão daquele ano mas que, afundada em dívidas (e lesada por um empresário que fugiu com a renda obtida em uma excursão ao Peru), encerrou suas atividades e fundiu-se com o São Paulo Futebol Clube em 12 de setembro de 1938. Seu uniforme era listrado em preto e branco.

Aliás, foi justamente a fusão com o Estudantes o primeiro degrau para que o São Paulo voltasse a ser "gente grande" no futebol paulista. Durante o primeiro período de sua existência, entre 1930 e 1935, o clube era forte. Produto da fusão entre o tradicional Clube Atlético Paulistano (11 vezes campeão paulista) e a Associação Atlética das Palmeiras (tricampeã estadual), que encerraram suas atividades no futebol em 1929, o primeiro São Paulo Futebol Clube - que já tinha o mesmo nome e uniformes usados até hoje - ganhou o Paulistão de 1931 e foi vice em 1930, 1932, 1933 e 1934. Como mandava seus jogos no campo da Chácara da Floresta, na beira do rio Tietê, de propriedade da Associação Atlética das Palmeiras, o time passaria para a história com o nome informal de São Paulo da Floresta.

O campo da Chácara da Floresta, na beira do rio Tietê, ainda existe
Porém, dificuldades financeiras provocaram a fusão do São Paulo com o Clube de Regatas Tietê, em maio de 1935, e a consequente desistência do futebol. Inconformados com isso, alguns sócios do primeiro Tricolor se juntaram em dezembro do mesmo ano para refundar o clube. Só que a nova fase não seria de glórias, pelo contrário. Diz trecho da "História do São Paulo Futebol Clube": "Nessa época o clube não possuía sócios, fonte de renda e sequer patrimônio. Treinava e jogava onde deixavam. Não havia nem lugar para fazer a concentração, que tinha que ser improvisada com metade do elenco na casa do presidente Frederico Menzen e outra metade nos beliches que havia na torre da igreja da Consolação, paróquia do Monsenhor Bastos, ilustre sãopaulino.

Para mandar seus jogos, o clube alugava o Estádio Antonio Alonso, na Mooca, de propriedade da Companhia Antarctica Paulista, fabricante de bebidas. "Os treinos eram por vezes realizados no pátio da própria igreja [da Consolação] junto ao local onde os congregados marianos jogavam basquete. Quando havia disponibilidade o time treinava no campo da Várzea do Glicério, mas com a condição de desocupar o local assim que os times, donos do campo, chegassem", diz o texto da "História do SPFC". Estrutura tão mambembe fez com que, nesses primeiros anos, o clube fosse ironizado pelas outras torcidas como "time de pobretões". Não bastasse isso, a própria imprensa esportiva incorporava a gozação, tratando o clube pelos apelidos de "Júnior", "Clube n.º 2" e "São-Paulinho".

O antigo estádio Antonio Alonso, da cervejaria Antarctica, na Mooca
Não era pra menos: o novo time, fraco, fazia a festa dos adversários. Terminou o Paulistão de 1936 em 8º lugar, num torneio disputado com 12 clubes, e o do ano seguinte em 7º, entre dez participantes. Não era páreo nem para a Portuguesa Santista (3ª colocada tanto em 1936 como em 1937) ou Juventus (5º e 6º colocado naquelas edições, respectivamente). Quando enfrentava os "grandes", então, era só tristeza: até setembro de 1938, foram seis derrotas do São Paulo (dois empates e uma vitória) contra o Corinthians, quatro derrotas (e um empate) contra o Palmeiras e quatro derrotas (três goleadas) contra o Santos. A luz no fim do túnel, como registrei logo no início do post, só viria na fusão com o Estudantes.

Porque do extinto clube vieram vários bons jogadores para incrementar o time e também o jovem técnico Vicente Feola, que faria história no São Paulo e na seleção brasileira. A prova de que os tempos de chacota haviam passado foi o vice-campeonato conquistado logo no Paulistão de 1938, que foi disputado até abril do ano seguinte. E o resultado poderia ter sido ainda melhor, pois, na decisão contra o Corinthians, o São Paulo vencia por 1 x 0 - e abocanhava o título - até que um gol aparentemente irregular deu a taça ao adversário. "Parece que o ponto corinthiano, obtido por Carlito, aos 20 minutos da phase complementar, foi proveniente de um toque [de mão], o que provocou tantos e tantos protestos e até a interrupção do prélio por cinco minutos", relatava o jornal Folha da Manhã em 26/04/1939.

O técnico Feola (à esquerda) e o São Paulo vice do Paulistão em 1938
Mesmo com a perda do título, o São Paulo já mostrava que podia brigar novamente entre os "grandes" do futebol paulista. Se a fusão com o Estudantes foi o primeiro passo para isso, o segundo seria dado em 1942, com a compra do artilheiro Leônidas da Silva. Sob seu comando, o time sãopaulino ganharia cinco títulos paulistas na década de 1940, ganhando o apelido de "Esquadrão". E a "maioridade" do Tricolor, por assim dizer, se completaria em 1944, com a compra do Estádio do Canindé. Com a declaração de guerra do Brasil contra a Alemanha, o Deutsch Sportive, clube da colônia germânica que era proprietário do estádio, temia que ele fosse confiscado e, por isso, o vendeu ao São Paulo (que mais tarde o repassaria à Portuguesa, a quem ainda pertence). Ia longe o tempo das concentrações na Igreja da Consolação...

Mas, voltando ao clássico disputado em agosto de 1940, com vitória do São Paulo por 3 x 2 sobre o Corinthians, há uma outra hipótese para a utilização do estranho uniforme com listras pretas e brancas, que seria abandonado definitivamente a partir de então. Em abril daquele ano, a inauguração do estádio municipal do Pacaembu contou com a presença do ditador Getúlio Vargas, odiado pelos paulistas desde a derrota da rebelião de 1932. Para provocá-lo, a população ficou em pé e passou a gritar "São Paulo! São Paulo! São Paulo!", numa referência ao Estado, assim que a delegação de jogadores do Tricolor entrou para desfilar no novo estádio. Por esse motivo, o clube ficaria conhecido como "O mais querido".

Como o uniforme com listras pretas e brancas lembra a bandeira do Estado de São Paulo (ainda mais porque a gola e as mangas, vermelhas, remetem ao detalhe do retângulo no canto alto do pavilhão, à esquerda), teria sido uma forma de o time retribuir o gesto da torcida na inauguração do Pacaembu. Mas nem o clube guardou registro sobre isso e, se foi homenagem ao Estudante, ao povo paulista ou nenhum dos dois, jamais saberemos. Fica o registro do inusitado uniforme e o relato das fusões - e confusões - na origem do São Paulo Futebol Clube.

Publicação da época mostra outro jogador com o efêmero uniforme

O programa 'social' que nossa elite escravocrata apoia:

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sexta-feira, março 07, 2014

Arouca, sobre as ofensas racistas: "Não quero que minha filha passe por isso no futuro"

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quinta-feira, março 06, 2014

A excursão que 'peneirou' Hernanes no São Paulo

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Hernanes (à esquerda) e Marco Antônio (direita) na embaixada brasileira na Índia
"À Índia fui em férias passear
Tornar realidade um sonho meu
Jamais eu poderia imaginar
E explicar o que me aconteceu..."

Os versos iniciais de "Férias na Índia" (sucesso radiofônico do brega/jovem guarda Nilton César, há mais de quatro décadas) caem como uma luva para fundo musical da excursão internacional que o São Paulo fez no início de 2007 - e que bifurcou a carreira de vários jovens jogadores. Alguns deles, como Marco Antônio e principalmente Hernanes e Jean Raphael, "tornaram o sonho realidade", como diz a música, e se firmaram no cenário futebolístico profissional de primeiro nível. Mas os outros participantes daquela aventura, como Carlinhos, Gustavo Cazão, Chumbinho, Francisco Alex, Caiuby, Paulo Matos, Flávio Donizete e Mazola, não sabem até hoje "explicar o que aconteceu". Muitos se perderam nos caminhos da bola, viraram "ciganos" do futebol ou praticamente sumiram, sem deixar saudade.

Na Índia: Jean Raphael, hoje no Fluminense, é o 4º agachado, a partir da esquerda
A excursão à Índia foi a forma que o São Paulo encontrou para fazer um último teste com jogadores que havia trazido para o elenco mas que não tiveram chance ou não se firmaram no time principal. Não era a primeira vez: viagem semelhante do Tricolor àquele país havia ocorrido em 1989. Mesclados com garotos da base e comandados pelo técnico Silva, o "mistão" de "renegados" sãopaulinos partiu em janeiro de 2007 para cinco amistosos num prazo de apenas 15 dias. O clube venceu todas as partidas que disputou, marcou 17 gols e não sofreu nenhum - reflexo da fragilidade do futebol indiano, sem qualquer tradição histórica no esporte. Por isso mesmo, o bom desempenho não significou que o clube fosse aproveitar todos os "turistas".


27/01 - 3 x 0 KF East Bengal - Gols: Carlinhos, Paulo Matos e Jean Raphael
31/01 - 6 x 0 Mohammedan Sporting - Gols: Hernanes (2), Francisco Alex (2), André e Pablo
04/02 - 2 x 0 Mohun Bagan - Gols: Marco Antônio e Flávio Donizete
07/02 - 3 x 0 Kerala XI - Gols: Marco Antônio, Chumbinho e Hernanes
11/02 - 3 x 0 JCT Mills - Gols: Francisco Alex (2) e Cazão

Marco Antônio: capitão do 'mistão'
Os meias Hernanes e Marco Antônio, que haviam subido para o profissional e disputado alguns jogos em 2005 (o segundo foi campeão paulista e da Libertadores), foram emprestados no ano seguinte ao Santo André. Voltando da Índia, Hernanes foi reintegrado ao São Paulo e atingiu o estrelato, sendo peça fundamental dos títulos brasileiros de 2007 e 2008, que o alçaram à seleção brasileira (tem grande chance de disputar a Copa no Brasil este ano). Saiu do clube em 2010 para o futebol italiano, onde se destacou na Lazio e chegou prestigiado, neste início de 2014, à Internazionale. Marco Antônio, ao voltar, perambulou por América-SP, Criciúma e Vitória antes de se destacar pela Portuguesa, em 2009, e chamar a atenção do Grêmio. Atualmente, está no Atlético-PR.

O terceiro que se destacaria daquele grupo seria o volante/lateral-direito Jean Raphael. Quando retornou da Índia, foi emprestado ao Marília e, depois, ao português Penafiel. Sua grande chance pelo São Paulo viria na reta final do Campeonato Brasileiro de 2008, quando participou da arrancada para o terceiro título seguido. Mais tarde, seria repassado ao Fluminense, onde venceu o Brasileirão de 2012. E naquele mesmo ano, curiosamente, chegaria à seleção brasileira quando o ex-companheiro de São Paulo Hernanes foi cortado por trauma no crânio. Porém, em 2013, os dois se reencontrariam na conquista da Copa das Confederações. Só que aqui acaba a "parte feliz" do que aconteceu após a viagem sãopaulina às terras indianas. Porque hoje quase ninguém ouve falar o nome - ou sequer se lembra - dos outros participantes daquela excursão.

Francisco e Caiuby: sonho efêmero
Se a Índia não tem tradição no futebol, pode-se dizer o mesmo do município de Diadema, no ABC paulista. O principal clube da cidade, o Água Santa, tem pouco mais de três décadas de vida e só disputou o primeiro campeonato profissional, a temível 2ª Divisão paulista (na prática, junção das extintas 4ª e 5ª Divisões), em 2013. Logo de cara, porém, conseguiu o acesso à Série A-3. Pois o Água Santa é justamente o novo time do meio-campista Francisco Alex, que pediu dispensa do Marília recentemente. No auge de sua carreira, chegou ao São Paulo junto com o atacante Caiuby, ambos destaques da Ferroviária campeã da Copa Federação Paulista de Futebol em 2006. Mas, ao contrário do atacante Borges e do meia Hugo, que foram apresentados junto com a dupla, tiveram que seguir para a "peneira" indiana assim que pisaram o Morumbi.

Apesar da expectativa, nenhum dos dois vingou: ao voltarem da excursão, os dois foram preteridos da disputa da Libertadores. Caiuby seguiu para o Guaratinguetá e o São Caetano, antes de ir para a Alemanha jogar no Wolfsburg e sumir do noticiário quando se transferiu para o Duisburg e o Ingolstadt. Já Francisco Alex, que foi o artilheiro na excursão à Índia, conseguiria até marcar um gol na última rodada do Brasileirão de 2007, pelo campeão antecipado São Paulo. Mas nunca foi levado a sério e, nos anos seguintes, foi despencando do Sport Recife para o Paulista, Rio Branco, Mogi Mirim, Itapirense, São Bernardo, São José-RS, Juventude, Botafogo-SP, Catanduvense, Atibaia, Marília e, agora, o "portentoso" Água Santa.

Flávio Donizete no Japão, em 2005
Na viagem à Índia também estavam dois zagueiros que figuraram no time titular do São Paulo entre 2005 e 2006: Flávio Donizete, que integrou o elenco campeão mundial de clubes no Japão, e Carlinhos, aproveitado em jogos da campanha do título brasileiro de 2006. Na volta da viagem internacional, ambos foram para o América de São José do Rio Preto, junto com o já citado Marco Antônio. Flávio rumou de lá para o Alagoinhas, da Bahia. A última notícia que encontrei foi de que jogou pelo Nacional, do Amazonas, em 2009. Já Carlinhos peregrinaria pelo Votoraty, Paraná Clube, São Bento, Ferroviária e Itapirense antes de acertar com a Matonense, onde disputa a Série A-3 do Paulista - competição em que poderá rever Francisco Alex.

Os outros "renegados" que viajaram à Índia foram promessas que ficaram no papel. Cria das categorias de base, o meia Chumbinho já tinha passado pelo Kashima Antlers e pelo Náutico antes da excursão. Ao voltar da viagem, integrou o "bonde" de sãopaulinos que desembarcaram no América-SP. De lá, passou por Rio Claro, Coritiba, Ponte Preta e o próprio São Paulo antes de ir fazer extensa carreira na Grécia, jogando pelo Ethnikos Piraeus, Olympiacos (onde se destacou), Panserraikos, Creta, Levadiakos e Atromitos. Hoje, está no quase impronunciável Qarabağ, do Azerbaijão. Do meu conterrâneo Gustavo Cazão, zagueiro, só consegui descobrir que esteve no Cotia em 2013. Parece também que jogou pelo Clube Atlético Taquaritinga, de nossa terra natal, em 2004, e que se envolveu em disputa judicial no Noroeste.

Paulo Matos no São Paulo
Paulo Matos, que marcou um gol pelo São Paulo em 2005 e fez outro na partida de estreia da excursão indiana, defendeu na sequência Náutico, Criciúma, Gama-DF e Paraná. No gúgou, encontrei link para um vídeo postado mês passado por uma firma de advocacia com lances do ex-atacante sãopaulino (que não sei por onde anda). Já o meio-campista Vélber, destaque do Paysandu  no início dos anos 2000 que foi contratado pelo São Paulo e teve várias chances como titular entre 2004 e 2005, também esteve naquela viagem à Índia, depois de ser emprestado para Fortaleza e Ponte Preta no ano anterior. Ao voltar, seguiu para o América-SP junto com Marco Antônio, Carlinhos, Flávio Donizete e Chumbinho. E depois "excursionou" por Remo, Itumbiara, Paysandu, América-RN, Luverdense e São Raimundo. Em 2013, estava na equipe paranaense do Cametá que foi goleada por 7 a 0 pelo Atlético-GO na Copa do Brasil. "Triste fim de Policarpo Quaresma"...

Por último, o atacante Mazola foi emprestado ao paranaense Toledo, Paulista de Jundiaí e Guarani antes de retornar ao São Paulo, em 2011, quando teve chance como titular com o técnico Paulo César Carpegiani. Pouco depois, porém, foi emprestado ao Urawa Red Diamonds (da Coreia) e, em seguida, ao Zhejiang Lücheng e Greentown Hangzhou (ambos da China). Visitou os companheiros do São Paulo em 2013. Dos outros que participaram daquela excursão à Índia (Mateus, Tiago, Pablo, Davi Oliveira, Fabrício, André e Arthur), não consegui descobrir nem pista do que o futuro os reservou a partir de então. Veja, no vídeo a seguir, cenas daquela fatídica - e inusitada - viagem feita pelo São Paulo entre janeiro e fevereiro de 2007:




domingo, março 02, 2014

Futebol é coisa de macho

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Por Laura Gaelx Montero, original em La Marea

Em 2 de maio de 1998 Justin Fashanu, primeiro jogador de futebol que reconheceu publicamente sua homossexualidade, tirava a própria vida. A falsa acusação de abuso sexual de um garoto de 17 anos e a sentença da opinião pública contra foram a última gota de um copo que havia começado a encher oito anos antes. À época, em pleno apogeu de sua carreira na Premier League, concedeu uma entrevista exclusiva que o tabloide sensacionalista The Sun deu como título: “estrela do futebol de 1 milhão de libras: SOU GAY”.

Quinze anos depois desta trágica morte, os jogadores abertamente homossexuais das primeira ligas europeias se reduzem a um: Thomas Hitzlsperger, meio campista alemão que saiu do armário em janeiro de 2014, quatro meses depois de se aposentar. Ampliando o alcance para clubes de fora da divisão principal, chega-se a três ou quatro nomes. E nenhum deles está na ativa.

As federações oficiais de países como Inglaterra, França ou Alemanha têm realizado esforços mais ou menos contundentes para atacar a homofobia nos gramados. Contudo, os resultados têm sido totalmente estéreis. Manuel Neur, goleiro do Bayern de Munique na Bundesliga e da seleção alemã desde 2009, tem sido vítima de insultos homofóbicos devido ao fato de há três anos ter incentivado companheiros seus que seriam gays a saírem do armário. Em sua bem intencionada e um tanto inocente opinião, “os torcedores se acostumariam rapidamente. O que é importante para eles é o rendimento em campo dos jogadores, não suas preferências sexuais”.

A diversidade sexual sim tem importância para muitos torcedores. Ao menos para os que integram a rede europeia de clubes LGBT Quer Football Fan Clubs (QFF), criada em 2006 na Alemanha. Além da paixão pelas cores de sua equipe, o que os une é acabar com a homofobia no futebol. Segundo reconhecia em uma entrevista o porta-voz da QFF, Dirk Brüllau, o problema, mais do que nos gramados, está nas arquibancadas dos estádios. “Se vou como torcedor gay de St. Pauli a Rostock (estádio desta equipe alemã), significa que ficarei com três dentes a menos”, assinala.
Comemorando a data de nascimento de Fashanu, o dia 19 de fevereiro foi escolhido por associações LGBT como dia contra a homofobia no esporte, ressaltando que o futebol não é a única modalidade esportiva sobre a qual pesa o véu da invisibilidade da diversidade sexual.

A Felgtb, especificamente, reclama ao governo da Espanha que a lei 19/2007 contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte incorpora explicitamente a discriminação por orientação sexual entre os males a erradicar. Além disso, se uniu à ação convocada pelas associações Arcópoli e Halegatos na Puerta del Sol de Madri no último domingo (23) para reivindicar a igualdade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais no esporte.

sábado, março 01, 2014

Vinho de lei

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Já vi muita gente fazer promessa usando uma longa fase sóbria, sem beber, em retribuição à ajuda metafísica ou transcedental na busca por causas impossíveis. Só de um caso tive notícia de quem tivesse prometido passar uma temporada sem comer uvas.

E a tentação veio aos cachos, quando lhe ofereceram uma taça de vinho.

– Vinho é uva? – perguntava-se angustiado o incauto fiel. – Poderei tomar sem quebrar a promessa?

Fosse hoje, pela lei dos homens, a resposta seria sim.

Relativamente 

Deu no Diário Oficial da União de segunda-feira, 24. Foi publicado decreto nº 8.198/2014, que regulamenta a lei do vinho, a nº 7.678/1988. E vinho não é uva.

Vinho é a bebida feita a partir de um fermentado de mosto de uva sã, fresca e madura. Mosto é sinônimo de um preparado para fermentação. Pode ser simples, concentrado, sulfitado ou cozido. No caso, sumo de uva com casca macerada ou "corrigido", repleto de açúcares naturais (ou adicionados, no caso dos exemplares menos nobres), pronta para a ação de micro-organismos anaeróbios. Ao crescerem e se multiplicarem, essas bactérias do bem convertem os açúcares em álcool.

Dias antes da publicação, a presidenta Dilma Rousseff havia antecipado a medida em Caxias do Sul (RS), na festa da uva de um dos polos produtores no país (há concentrações assim em 10 estados). Ela disse ser "uma parceira do setor" – quase igual à afinidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com temas afetos.

Vinho e derivados

O Brasil consome 1,26 litro de vinho por ano. O Vaticano, 74Franceses tomam 57. Apesar da diferença proporcional, o crescimento do interesse dos brasileiros vem aumentando fortemente, e dobrou em 10 anos.

Foram 25 anos de espera para delimitar o que pode receber a alcunha da bebida que remonta à antiguidade e até aos tempos e textos bíblicos. Quem está envolvido com a produção envase e comercialização do produto terá 180 dias para se adequar. A legislação define quem compõe a cadeia produtiva da bebida, o papel do Ministério da Agricultura e Pecuária e as divisões do estabelecimento, com finalidade de traçar regras sanitárias e de padronização.

Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no vale do São Francisco, são polos produtores de uva e de vinho. No país, o Ministério da Agricultura reconhece que há esse tipo de concentração em 10 estados

Derivados como jeropiga, conhaque, bagaceira e grappa estão também no texto do decreto. Vinagre de vinho e espumantes (e seus tipos sec, demi-sec, brut e extra-brut) figuram pelas páginas do texto.

Mesmo as regras de fiscalização aduaneira e de testes de amostragem sobre produtos que desembarcam no país foram redefinidos. Vinhos de "excepcional qualidade", por exemplo, podem não precisar ser submetidos a verificações laboratoriais, a exemplo dos exemplares destinados a concursos e degustações.

Lei sóbria

A cachaça, a cerveja e destilados em geral também têm leis ou regulamentações específicas.

Isso facilita a organização de empresas que desejam produzir, distribuir e vender esse tipo de produto, porque regra clara facilita o bom andamento do jogo.

Ao prever que adulteração do vinho ou das etapas de produção são infrações que ensejam responsabilização e punição, o ministério cria instrumentos para fiscalização. A rigor, a redação de um decreto assim é importante e atende a interesses dos produtores, embora terminologias como "reserva" e "gran reserva" ainda dependam de instruções normativas específicas. Não chega a compor uma política pública, apenas o regramento.

Fica longe do Manguaça Cidadão. Mas pode ser um passo.