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sexta-feira, junho 13, 2014

Futebol ainda - e infelizmente - com racismo

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Em 2007, cerca de dois meses antes de o Brasil ser escolhido como sede da Copa de 2014, o meio-campista Hugo, então no São Paulo, foi suspenso por 120 dias pelo STJD por ter cuspido em um adversário durante uma partida contra o Paraná, no Morumbi. Até aí, nada de extraordinário. A punição foi justa porque, além da cuspida, constou na súmula do árbitro Elmo Resende que Hugo xingou e humilhou o oponente nos seguintes termos: "Porra, seu merdinha, joga a sua bolinha, fraquinho".

Hugo, ex-meia do São Paulo: 'Negros têm sempre de andar reto'
Hugo errou (feio) e admitiu sua culpa em uma entrevista coletiva. Mas o que procurei destacar na época, em post aqui neste blog, foi exatamente um trecho dessa coletiva, em que o jogador chorou e fez uma revelação incômoda: "Meu pai disse que, por sermos negros, temos sempre de andar reto, porque as coisas repercutem mais". O resumo do meu comentário, no post, foi: "Dizem que errar é humano. Mas ao negro, no Brasil, isso não é permitido. E eles sabem disso". Infelizmente.

O lateral Marcelo, após seu gol contra marcado a favor da Croácia
Ontem, no jogo de abertura da Copa, o placar foi aberto pela Croácia com um gol contra do lateral-esquerdo brasileiro Marcelo. O mesmo jogador que, em fevereiro deste ano, foi alvo de racismo, junto com o filho Enzo, de apenas 4 anos, após clássico de seu time, o Real, contra o Atlético de Madrid. Alguns torcedores do Atlético que ainda permaneciam no estádio começaram a xingar e ofender o brasileiro, que estava no gramado. Os boçais gritavam: "Marcelo é um macaco". E o filho dele ouviu isso. Infelizmente.


Hoje, abro minha página na rede social Facebook e vejo a imagem acima, reprodução do comentário de algum(a) outro(a) boçal que muitos internautas, estarrecidos com a frase, compartilharam e geraram (justa) indignação coletiva. Esse é o futebol ainda - e infelizmente - com racismo. Para os boçais, Marcelo, assim como Hugo, não pode, não tem o direito de errar. Triste. E mais triste é saber que, se o gol contra tivesse sido marcado pelo zagueiro David Luiz, que tem corte de cabelo semelhante ao de Marcelo, dificilmente tal frase (estúpida, racista, hedionda) teria sido publicada. Porque David tem pele, cabelos e olhos claros. E, provavelmente, nunca foi - ou será - alvo de racismo.

Marcelo e David: cabelos parecidos, mas cor da pele condiciona ofensa 'cabelo ruim'

sexta-feira, junho 06, 2014

Futepoca ajuda a trazer belgas para a Copa

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A belga Antje (à esquerda) e dois colegas: campanha para irem à Copa no Brasil
Na estação ferroviária de Bruges (cidade histórica europeia, Meca da cerveja, citada em outro post aqui deste blog), formos abordados por algumas garotas vestidas com o uniforme da seleção belga, meiões e chuteiras. Como não falamos francês e o inglês de ambas as partes não era particularmente favorável, foi com certa dificuldade que compreendemos que elas participavam de uma espécie de campanha para levar torcedores belgas à Copa no Brasil. Consistia basicamente em coletar 150 mil assinaturas, com caneta piloto, em painéis de lona espalhados por diversos lugares do país, como a tal estação de Bruges.

Patricia tira onda das 'mulatas' rumbeiras e do 'samba' Buena Vista Social Club
O engraçado é que, para aquele local, eles levaram uma banda pretensamente brasileira para tocar um som pretensamente chamado de "samba" - mas os músicos só tocavam mambo e Buena Vista Social Club e as pretensas "mulatas" estavam vestidas como rumbeiras. O que levou minha esposa Patricia a alertá-los de que, ali, os únicos brasileiros legítimos éramos nós. No folder de campanha que nos deram, aliás, há uma foto do jogador brasileiro naturalizado belga Igor de Camargo, sob uma chuva de confetes, e empunhando... maracas!

Igor chacoalha maracas sob chuva de confetes, mas recomenda a caipirinha
Igor, que chegou a jogar pela seleção da Bélgica, mas não foi convocado para a Copa, parece ter esquecido do samba, do pandeiro, do tamborim... Mas, além do futebol, não esqueceu o principal: a cachaça! O folder da campanha diz que "nosso belgo-brasileiro preferido, Igor de Camargo, os aconselha a se preparar para o refrescante coquetel". O texto ainda observa: "A cerveja é a bebida preferida dos belgas, mas no Brasil os torcedores preferem caipirinha, coquetel preparado à base de limão, cachaça, gelo moído e açúcar".

Foto da nossa tradicional coxinha no folder: sonho de consumo entre os gringos
Para nossa surpresa, outra recomendação imprescindível aos belgas que se aventurarem no Brasil é a.... coxinha! Sim, a nossa tradicional iguaria de buteco, raríssima em terras europeias, é sonho de consumo de dez entre dez gringos. Em Amsterdã, nos hospedamos na casa de uma moça que morou brevemente em São Paulo, há 20 anos, e ela diz que chega a sonhar que está comendo coxinha. Taí, se já falamos de futebol e cachaça, podemos acrescentar a tag Política neste post, em alusão aos "coxinhas" que deturpam muitas das manifestações de rua no Brasil...

Contribuindo para a campanha que pretendia reunir 150 mil assinaturas em painéis
Enfim, pra encurtar o causo, não só assinamos nosso nome no painel, para ajudar os simpáticos belgas a conhecerem o "país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza" (e, por tabela, a caipirinha e a coxinha - com ou sem maracas), como também registramos, para a posteridade, o nome do glorioso Futepoca entre os colaboradores. Só falta o time de Courtois, Hazard & Cia. aprontar pra cima da equipe brasileira, nessa Copa! Daí, quem vai sair tocando maracas, vestido de rumbeiro, sou eu! Mas brindando com as incontáveis e divinas cervejas belgas! SANTÈ!

Nosso glorioso blog imortalizado em Bruges, Meca dos cervejeiros de todo o planeta

quarta-feira, junho 04, 2014

A Copa dos técnicos gringos

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Mundial de 2014 deve contar com 15 seleções comandadas por treinadores nascidos em outros país


O alemão Klinsmann, que dirige os EUA
Se não houver mudanças de comando técnico nas seleções que vão participar da Copa de 2014, a competição deve igualar o recorde do Mundial de 2006, ocasião em que 15 equipes foram dirigidas por técnicos nascidos em outro país. Algumas trazem treinadores de fora para aprimorar o futebol jogado e não fazer tão feio, outras pretendem repetir o feito de Gus Hiddink, o holandês que levou a Coreia do Sul a um incrível quarto lugar em 2002. O fato é que uma escrita ainda não foi quebrada: nenhum “pofexô” foi campeão treinando uma seleção que não fosse de seu país natal.

Neste ano, Alemanha e Colômbia são os que fornecem mais comandantes para os times que chegam ao Brasil daqui a alguns dias. Conterrâneos de Shakira estão à frente da Costa Rica, com Jorge Luis Pinto, e de Honduras, com Luis Fernando Suárez. O técnico colombiano que por enquanto está desenvolvendo o trabalho mais chamativo é Reinaldo Rueda, um dos responsáveis pelo bom futebol jogado pelo Equador, aquela seleção que empatou com a Holanda no último final de semana. Curiosamente, o treinador da Colômbia é também um estrangeiro: o argentino José Pékerman. No país vizinho, parece que também vale o ditado “santo de casa não faz milagre”.

Já os alemães estão no comando das seleções de Camarões, com Volker Finke, e da Suíça, que se tornou cabeça de chave do Mundial com Ottmar Hitzfeld. Mas quem deve sofrer é Jürgen Klinsmann, treinador da seleção do seu país em 2006 numa campanha que levantou a autoestima do torcedor germânico, hoje à frente dos Estados Unidos. Logo na primeira fase ele irá enfrentar a equipe de seu país natal, mas um fato mostra que o profissionalismo deve falar mais alto. Em sua lista de pré-convocados está Julian Green, revelação de 18 anos do Bayern de Munique que ainda não havia decidido se iria defender Estados Unidos ou Alemanha.

Cadê os brasileiros?

Mesmo com 15 comandantes gringos na Copa, nenhum deles é brasileiro. E olha que o país tem história nesse quesito, uma trajetória iniciada com Otto Glória, que dirigiu Portugal em sua melhor campanha em mundiais, em 1966, e que teve seu capítulo mais recente com Carlos Alberto Parreira, um dos responsáveis pela pior jornada de uma equipe dona da casa na História, com a África do Sul em 2010.

O atual coordenador técnico da seleção, aliás, é recordista, junto com o sérvio Bora Milutinovic, em número de equipes diferentes treinadas em Copas. Parreira comandou o Kuwait, em 1982; Emirados Árabes Unidos, em 1990; Brasil, em 1994 e 2006; Arábia Saudita, em 1998; e a já citada África do Sul, em 2010.
Bora, no entanto, é mais “internacional”, já que nunca treinou a seleção de seu país e tem uma distribuição geográfica mais vasta em relação aos times que dirigiu. Trabalho com o México, em 1986; Costa Rica, em 1990; Estados Unidos, em 1994; Nigéria, em 1998, e China, em 2002. Só com o time asiático, que fazia sua primeira – e única até agora – participação em mundiais, o sérvio não levou a equipe para além da primeira fase.

Para os supersticiosos, vale lembrar que, desde 1982, esta é a terceira vez que nenhum brasileiro vai comandar uma seleção estrangeira. As outras duas vezes em que isso aconteceu foi em 1994 e 2002, quando o Brasil levou o título. Se este Mundial seguir a tendência, pode preparar o champanhe (ou a cachaça) para a final...
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quarta-feira, maio 21, 2014

Brasileiros que vestem a camisa. Dos outros

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Confira quem são os jogadores nascidos no Brasil que vêm ao Mundial de 2014 defendendo outras seleções e relembre outros brazucas que já disputaram Copas por outros países

Um dos efeitos da diáspora de jogadores brasileiros pelo mundo é a naturalização de alguns atletas que, sem chances de disputar uma vaga na seleção brasileira ou em função de gratidão (emocional e/ou financeira) aos países que os acolhem, vestem a camisa de outras nações. Logo na estreia da seleção brasileira, contra a Croácia, no dia 12 de junho, poderemos ter dois jogadores relacionados que exemplificam essa situação, já que a lista dos 30 pré-convocados da Croácia tem Eduardo da Silva, que atua no Shakhtar Donetsk, e o meia-atacante baiano Sammir, do espanhol Getafe.
Jogadores nascidos em um país e vestindo camisa de outro, aliás, não será algo incomum nesse Mundial. Com base nas pré-listas divulgadas até agora, 11,1% dos atletas chamados até agora são naturalizados, sendo os franceses os maiores fornecedores de “pés-de-obra”: 33 boleiros que atuarão em seleções como as da Argentina, Camarões, Portugal e, principalmente, Argélia, que conta com 21 conterrâneos de Ribéry. A Alemanha vem em seguida, com 15 jogadores e o Brasil tem 8. Somente a seleção brasileira, Colômbia, Rússia, Honduras e Coreia do Sul não possuem naturalizados em suas fileiras.
Thiago Motta, da Azzurra
O caso mais emblemático entre os brasileiros de outras seleções é, sem dúvida, o do sergipano Diego Costa, do Atlético de Madri. Convocado por Felipão para as partidas amistosas contra Itália e Rússia, em 2013, chegou a atuar 35 minutos em ambas as pelejas. Preterido nas convocações seguintes, acabou chegando a um acordo com a Fifa e obteve autorização para defender a Espanha, tendo possibilidades de ser titular na Copa. O atacante teria a companhia de Thiago Alcântara, filho do tetracampeão Mazinho que atua no Bayern de Munique, mas uma lesão o deixará de fora do torneio.
A seleção italiana tem uma dupla brasileira entre os seus. O volante da Internazionale Thiago Motta já é veterano em convocações, fazendo parte das listas da equipe de Cesare Prandelli desde 2011 e com um vice-campeonato da Eurocopa (2012) no currículo. Pode vir ao seu país de origem com outro volante, Rômulo, vice-campeão paulista pelo Santo André em 2010 e ex-atleta do Cruzeiro, que hoje atua no Verona e também faz parte do rol chamado pelo comandante italiano.
Além destes, há o zagueiro Pepe, que já defendeu a seleção de Portugal em 2010, à época, junto com outros brasileiros naturalizados, o meia Deco, hoje aposentado, e o atacante Liédson. Outro zagueiro, Marcos Gonzáles, ex-Flamengo e atual Unión Espanhola, veste a camisa do Chile.
O arrependimento de Mazzola
Já houve uma época em que jogadores de futebol, mesmo já tendo defendido uma seleção em Copa do Mundo, podiam se naturalizar e atuar por outro país. Foi o caso de José Altafini, o Mazzola, campeão pelo Brasil em 1958. Aos 19 anos, jogou duas partidas e marcou dois gols na campanha da seleção em solo sueco, quando a equipe canarinha se livrou do “complexo de vira-latas”, obtendo seu primeiro título.
Logo após o Mundial, o Palmeiras vendeu seu passe para o Milan e, por sua ascendência italiana, foi convidado a se naturalizar pelo país. Atuou em três das seis partidas da Azzurra na Copa de 1962 mas a Fifa determinou logo depois que um jogador não podia mais atuar por duas seleções diferentes. Como a norma retroagia, Mazzola, ou Altafini como era conhecido na Itália, encerrou sua carreira em seleções aos 24 anos, como conta o livro Futebol Exportação – a seleção expatriada (Senac Rio Editora), de Claudia Silva Jacobs e Fernando Duarte.
“Cometi um erro muito grande e me arrependo de ter aceitado o convite da Federação Italiana. Mas eu era muito novo, não entendia muito bem o que estava fazendo. Senti-me muito pressionado a dizer sim para os dirigentes. Fico achando que perdi a chance de ter sido tricampeão mundial com o Brasil. Tinha condições de ter chegado até 1970, de jogar ao lado de Pelé”, avalia o ex-atleta, que jogou até os 42 anos, no livro.
Ao lado de Mazzola, atuou também na Copa de 1962 o ex-santista Angelo Sormani, nascido em Jaú. E, bem antes dos dois, o ex-ponta-direita de Paulistano, Portuguesa e Corinthians Filó havia atuado pela seleção italiana em 1934, tornando-se o primeiro atleta nascido no Brasil a ser campeão mundial de futebol.
Mais recentemente, outros boleiros nascidos no Brasil vestiram a camisa de outras seleções como Alexandre Guimarães, que jogou pela Costa Rica em 1990; Zaguinho, que em 1994 e 1998 defendeu o México; Clayton, que atuou pela Tunísia em 1998 e 2002, e Francileudo Santos, atacante também da seleção tunisiana em 2006. No Japão, Wagner Lopes (1998), Alex (2002 e 2006) e Túlio Tanaka (2010) seguiram a trilha do meia Ruy Ramos, ídolo nipônico e pioneiro brasileiro no futebol local.
Outros dois brasileiros poderiam disputar o Mundial de 2014, mas acabaram de fora. O meia Edinho não foi convocado pelo treinador lusitano Carlos Queiroz para a seleção do Irã. O alemão Jurgen Klinsmann também não chamou o volante carioca Benny Feilhaber, que disputou a Copa de 2010 pelos EUA, para jogar na seleção dos EUA.
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terça-feira, maio 20, 2014

O porquê dos apelidos das 32 seleções da Copa

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Fennecs, Charrúas e guerreiros de diversos tipos disputarão a Copa no Brasil. Veja a lista de apelidos de cada seleção e não confunda na hora de torcer - ou secar

Apelido é uma forma carinhosa (ou jocosa) de tratamento. No caso de uma seleção nacional de futebol, a alcunha tem elementos históricos. Confira como a mídia ou os torcedores tratam cada uma das seleções.

Alemanha: Mannschaft ou Nationalmannschaft
O quê: literalmente "equipe" ou "equipe nacional"
Por quê: É que… é uma equipe nacional. Né?

Argentina: Albiceleste
O quê: branca e azul-celeste
Por quê: Pelas cores da bandeira e da camisa, estúpido!

1280px-TA_ZOO_orna_Pict0224.jpgArgélia: Fennec, ou Les Guerriers du Désert
O quê: Feneco, ou Raposas-do-Deserto ou Guerreiros do Deserto
Por quê: Consta que 80% do território argelino é coberto pelo deserto do Saara. O Feneco é uma espécie de raposa típica do deserto e um símbolo do norte da África. Já os guerreiros são símbolos autoexplicativos em se tratando de competições esportivas. O difícil é imaginar que um feneco fofo como o da foto possa um dia vir a ser um temível guerreiro. (Foto: Ladypine/Wikipedia-CC BY-SA 3.0)

Austrália: Socceroos
800px-Kaenguru_Hinterfuss-drawing.jpg O quê: trocadilho de "Soccer" com "Kangaroos", ou "futebol" e "cangurus", em inglês.
Por quê: O esporte mais popular do país é o críquete. O futebol corre por fora (Foto: Wikicommons).

Bélgica: Le Diable Rouge
O quê: Os Diabos Vermelhos
Por quê: Alcunha conferida ainda em 1906, quando o diabo era mais temido do que atualmente (#sqn), após uma vitória estrondosa sobre a seleção da Holanda em um jogo amistoso. Considere-se que Bélgica e Holanda, ambas nações dos países baixos, possuem alguma rivalidade correlata a um Brasil e Uruguai.

Bósnia e Herzegovina: Plavo-žuti ou žuto-plavi
O quê: Azul e amarelos ou Amarelo e azuis
Por quê: Porque assim a gente aprende pelo menos duas palavras em sérvio. Falta conhecer o restante do idioma dos Balcãs para poder fazer turismo. A remição às cores dispensa mais explicações.

Brasil: Canarinha, Verde-amarela
800px-Gelber_Kanarienvogel.JPG O quê: Referência à cor da camisa e da bandeira
Por quê: Até 1950, o time jogava de branco; depois disso, em um concurso cultura, foi escolhido amarelo-ouro para exorcizar o Maracanazzo. A cor foi associada pelo radialista Geraldo José de Almeida, da Rádio Globo, ao simpático passarinho que, muito antes de uma certa rede social, piava por aí. Se fosse hoje, a depender do topete da vez adotado como penteado pelo Neymar, alguém talvez associasse a calopsitas. Melhor não dar ideias (Foto: Wikicommons).

Camarões: Les Lions Indomptables
O quê: Os Leões Indomáveis
Por quê: Leões são parte da fauna nativa camaronesa. E, exceto pelos que integram elencos circenses, a maioria dessa espécie de felinos não está domada (Foto: Severin Meyer/Flickr).

Coreia do Sul: Os Tigres Asiáticos ou Guerreiros de Taegeuk
Flag_of_South_Korea.svg.png O quê: referência a um animal símbolo do continente asiático ou a defensores do símbolo que consta na bandeira sul-coreana.
Por quê: tigres são bravos. Asiáticos, o continente. Vale lembrar que a associação também se fazia no âmbito econômico para designar, nos anos 1980 e 1990, países do continente que cresciam à reboque da economia do Japão, até a crise de 1998. Já o Taegeuk pede explicações bem mais sofisticadas, tipo yin-yang, origem das coisas e um papo que não cabe em dois tweets (Foto: Wikicommons).

Costa do Marfim: Les Elephants
O quê: Os Elefantes
Por quê: O marfim é material nobre e nada ecológico, produzido a partir das presas dos elefantes. Na África, poucos países tiveram sua economia tão marcada pelo material -- e pela caça aos pobres paquidermes. No bullying infantil (infantilizado) elefante pode remeter a alguém muito pesado. Na fala do lugar comum, à memória. O símbolo do país, porém, tem relação com potência e força de grupo. Fato é que se recomenda evitar ficar na frente de uma manada de elefantes em movimento.

Chile: La Roja ou El Equipo de Todos
O quê: A vermelha ou a equipe de todos.
Por quê: Referência à camisa vermelha usada pelo país. O Chile comumente gosta de jogar ofensivamente. Isso fez da seleção ser benquista por torcedores de outros países em competições internacionais. Diferentemente de uruguaios e argentinos, o time do país de Michelle Bachelet joga pra frente. E se acha bem visto por isso.

Colômbia: Los Cafeteros, La Tricolor
O quê: Os "cafeicultores", em traduçaõ aproximada, ou a tricolor
Por quê: Referência a um dos principais produtos do país, o café. Pela centralidade até geográfica que o grão possui na economia e na vida nacionais, o termo “cafetero” é aplicado ao futebol em diferentes aspectos. Mas o “Craque-Café” é brasileiro. A tricolor, naturalmente, diz respeito à bandeira.

Costa Rica: Ticos ou La Sele
O quê: Os garotos ou “Selê”
Por quê: Os costa-riquenhos se chamam de ticos e de ticas. A extensão à seleção nacional é natural. Segundo uns, é porque todo diminutivo por lá termina em “tico”, em vez de “ito”. Mas, como isso também acontece no castelhano falado no restante da América Central, a origem remeteria a “hermanitico” (em vez de “hermanitos"), usado em episódios específicos da história. Resta saber se o tamanho da bola apresentada pelo país será “una pelotica” ou um bolão.

Croácia: Vatreni
O quê: Ardente
Por quê: Apesar de usar uma camisa que, por vezes remete a toalha de cantina italiana, a seleção nacional se entende raçuda. Uma pegada meio “Vai, Corinthians!”, mas com chamas.

Equador: La Tri
O quê: A tri(color)
Por quê: Curiosamente é a terceira copa com participação do país de Rafael Corrêa. Mas o apelido tem a ver com as três as cores da bandeira equatoriana, amarelo, vermelho e azul. "Tri", de "tricolor", vai no gênero feminino, diferentemente dos mexicanos, que usam o masculino.

Espanha: La Fúria
O quê: A fúria
Por quê: Há referências que associam os espanhóis a atributos furiosos desde o saque de Antuérpia, na Bélgica, um episódio de 1576 em que a Espanha promoveu a união territorial com os países baixos. Foi um pouco antes de existir futebol. No contexto do ludopédio, a primeira aplicação teve a ver com a Olimpíada de 1920, justamente na referida cidade belga, quando os ibéricos ficaram com a medalha de prata, mostrando força e agressividade.

Estados Unidos: The Star and Stripes
O quê: Time das Estrelas e Listras
Por quê: Na bandeira estadunidense há estrelas e listras. Como, em termos de popularidade, o beisebol e o futebol americano estão muito na frente do nosso soccer, sobraram para o futebol os marqueteiros mais fraquinhos pra dar apelido.

França: Le Bleu
O quê: Os Azuis
Por quê: É a cor da camisa. E se aplica a qualquer esporte que use uniforme. Como ensina a trilogia de Krzysztof Kieslowski, a bandeira francesa tem também as cores vermelha e branca. Mas a estas os conterrâneos de Asterix e Obelix não dão muita trela.

Gana: Nsoroma Tuntum
O quê: No idioma Akan, quer dizer Estrelas Negras
Por quê: No centro da bandeira nacional, há uma estrela negra. Que, na bandeira, representa os 98% de negros que compõem a nação. A aula de Akan é cortesia da casa.

Grécia: Piratiko
O quê: Navio Pirata
Por quê: Por causa do desempenho como azarão na Euro 2004, por uma piada de um comentarista grego de TV. Se ele tivesse alguma vivência futebolística no Brasil, teria falado em zebra. Mas a afinidade com os helenos ficaria bem pouco clara.

Holanda: Oranje ou Clockwork Orange
O quê: Laranjas (em holandês) ou Laranja Mecânica
Por quê: A cor da camisa é laranja. A "mecânica" é referência à seleção de 1974 e 1978, em que Cruyff e cia. encantaram o mundo com o "futebol total", aplicado apenas três anos depois do lançamento do filme homônimo, dirigido por Stanley Kubrick.

Honduras: La Bicolor ou Los Catrachos
O quê: a bicolor e os Catrachos
Por quê: Referência ao general Florencio Xatruch, aplicada também a qualquer hondurenho, enquanto seguidores do militar. O termo "catracho" é uma corruptela do nome do herói pátrio.

Inglaterra: Three lions
O quê: Os Três Leões
Por quê: No brasão da associação de futebol e no do exército real há três simpáticos leõezinhos.

Irã: فدراسیون فوتبال ایران, príncipes da pérsia, leões da pérsia
O quê: Seleção do povo ou da nação (Team melli, em uma transliteração do farsi para o inglês).
Por quê: Os caracteres árabes usados na escrita farsi correspondem ao termo para “seleção nacional”. Alusões aos persas apareceram da Copa da Ásia de 2011 em diante, em frases-lema adotadas para cada seleção. Vê-se que não inventaram a moda no Brasil.

Itália: Azzurra, Gli Azzurri
O quê: A Azul, Os Azuis
Por quê: A cor da camisa é azul, embora a bandeira seja verde, branca e vermelha, escolhida em homenagem aos Savoia, família real responsável pela unificação no século XIX.Curioso é que, no bicampeonato de 1938, usaram uniforme inteirinho em preto, por ordem de Benito Mussolini. Tudo ficou azul de novo, já em 1950.

Japão: サムライ・ブルー
O quê: Os Samurais Azuis
Por quê: Samurais eram os soldados aristocratas do Japão pré-industrial. Guerreiros são legais. E porque não haveriam de escolher "lutadores de sumô" como símbolo -- embora certos craques brasileiros pudessem merecer essa alcunha. Ah, e a camisa é azul.

México: El Tri, La Verde
O quê: O Tri, A Verde
Por quê: De "tricolor", por causa da bandeira. Diferentemente dos equatorianos,o apelido vai no gênero masculino. La Verde vincula-se à cor da camisa. E não à pimenta jalapeño.

Nigéria: Super Eagles
O quê: As Superáguias
Por quê: A águia está no brasão da associação de futebol nigeriana. O "super" é pela hipérbole.

Portugal: Seleção de Quinas, Os Navegadores
O quê: Símbolos nacionais
Por quê: O brasão da bandeira e da federação de futebol remete à união do cinco reinos promovida por Affonso I, nos idos de 1143, e inclui cinco escudos -- ou quinas. Assim como o da Portuguesa de Desportos, clube brasileiro tradicional de São Paulo.

Rússia: Сборная
O quê: Equipe, em russo
Por quê: Antes, na época da URSS, eram os soviéticos. Agora, só uma equipe. Melhor do que "Seguidores de Putin", vá?

Suíça: Schweizer Nati pelos germanófilos, La Nati pelos francófonos e Squadra nazionale ou Rossocrociati pelos italófilos
O quê: Seleção Nacional ou “da cruz vermelha”
Por quê: A cruz vermelha está na bandeira. E, poliglotas, os suíços chamam o time no idioma que mais falam. Pelo jeito, Alpes, bancos e chocolates não ficariam bem como apelidos.

Uruguai: La Celeste ou Los Charrúas
Charrúas, indígenas do Uruguai O quê:A Celeste ou Charrúas
Por quê: Cor da camisa é azul-celeste. E charrúas a etnia principal de indígenas que habitavam aquelas pradarias, do Rio Grande do Sul brasileiro ao Uruguai. Os nativos foram exterminados em 1831 no massacre de Salsipuedes (saia se puderes), por tropas de Bernabé Rivera, sobrinho do primeiro presiente uruguaio. Mesmo assim, a garra dos indígenas orgulha os conterrâneos de Pepe Mujica. (Foto: Wikicommons)

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sexta-feira, maio 16, 2014

#VaiTerCachaça na Copa

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Se vai ter Copa, pode ainda haver controvérsia. Mas haverá cachaça.

Parte da cultura brasileira, a xambirra será valorizada durante o Mundial de futebol. Com recursos do Ministério da Cultura, liberados por meio da categoria Gastronomia de edital Cultura 2014, o divertido Mapa da Cachaça promete levar informação sobre a marvada para cada uma das cidades-sede do Mundial.



Ao que parece, eles não vão precisar levar cachaça. É que, pelo enraizamento do goró pelo território nacional, costuma ter caninha em praticamente qualquer canto de virtualmente qualquer cidade brasileira.

O Mapa das Cachaças promete ações de conteúdo como publicação de receitas, promoção de eventos e gravações de vídeos com chefs, mixologistas, especialistas e pesquisadores.

Se precisarem levar um apreciador, ou um par de amigos da cachaça, os sóbrios autores do Futepoca estão à disposição para visitar as cidades-sede da Copa. Politicamente, a gente se voluntaria a propagar o Manguaça Cidadão pelo mundo.

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quinta-feira, maio 15, 2014

Em Copas, Brasil anda com "apito amigo" do lado

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A seleção brasileira é penta e ninguém contesta. Porém, uma olhada mais atenta para alguns erros de arbitragem que beneficiaram o time canarinho ao longo da história em Copas não deixa dúvidas: uma fração das nossas glórias se deve à ajuda de juízes míopes. Abaixo, sete dos equívocos que nos ajudaram a ganhar (ou não) um título.

1 – Pênalti não marcado e gol da Espanha anulado (Brasil x Espanha, 1962)

Combo pró-Brasil nesse jogo. Nilton Santos comete pênalti, percebe que está dentro da área e dá dois passos para fora. O lance é tão ostensivo que parece jogo de criança de pré-escola. Mas o árbitro cai no truque e marca apenas falta. A essa altura a Espanha já ganhava por 1 a 0.
Na cobrança da falta, Puskas marca um golaço de bicicleta, mas bandeira vê um impedimento que nem Arnaldo marcaria, e anula a jogada.

2
2 – Cotovelada de Pelé (Brasil x Uruguai, 1970)

Ok, era revide de outro lance não marcado, um pisão de Fontes no Rei. E, convenhamos, foi uma demonstração da arte da vingança. Mas isso não muda o fato de que Pelé deu com vontade na cara do rival. Deveria ter sido expulso e, consequentemente, perdido a final de 1970. Obrigada, deuses da bola. A História não teria sido escrita se o juiz não. tivesse perdido esse lance.



3 – Gol anulado da Espanha (Brasil x Espanha, 1986)

A Espanha não tem mesmo sorte contra o Brasil. Depois de ser garfada em 62, voltou a ser prejudicada em 86. No início do segundo tempo, com o placar ainda no zero, Francisco chuta da entrada da área, a bola bate na trave, bate dentro do gol e sai. Árbitro e bandeira não viram e placar seguiu inalterado. Brasil vence por 1 a 0. A partir de 3:04. O vídeo vale também por conta da pré-história do tira-teima.



4 – Falta de Branco não marcada (Brasil x Holanda, 1994)

O vídeo é cristalino. Branco meteu a mão no rosto e no pescoço do Overmars, seu marcador, antes de ser derrubado. O lance deu origem ao histórico gol de falta do próprio Branco. Mas, justiça seja feita, a miopia não foi seletiva. Depois de ser derrubado, o lateral esquerdo (que só atuou porque o titular Leonardo foi expulso após cotovelada criminosa desferida na partida contra os EUA) leva um chute de Koeman, aparentemente nas partes baixas, e ficou por isso mesmo. A partir de 0:56.



5 – Pênalti mal marcado para o Brasil (Brasil x Turquia, 2002)

A Copa de 2002 tem na conta grandes vergonhas por parte da arbitragem. Dois desses lances favoreceram o Brasil. No primeiro, a seleção ganhou um pênalti de presente na tensa estreia naquele Mundial. Aos 40 minutos, com o placar em 1 a 1, Luizão sofre falta fora da área e mergulha com vontade, tentando cavar o pênalti. Conseguiu convencer o árbitro, que ainda expulsa Ozalan. A partir de 3:52.

Também nessa partida, Rivaldo protagoniza papelão ao simular uma bolada no rosto. Enquanto esperava o time brasileiro posicionar-se para o escanteio, ele leva uma bolada no braço, desferida por um jogador da Turquia. Já era suficiente para que o adversário fosse expulso, mas ele resolveu fingir que havia sido atingido no rosto. Unsal foi de fato expulso, mas o teatro passou despercebido pela arbitragem. Rivaldo chegou a ir a julgamento pelo lance, mas levou apenas uma multa. A partir de 5:10.

 

6 – Gol anulado da Bélgica (Brasil x Bélgica, 2002)

O segundo lance que beneficia o Brasil aconteceu nas oitavas de final. O placar ainda estava no zero e a Bélgica jogava melhor. Aos 35 minutos, Wilmots sobe mais que Roque Júnior e cabeceia para o gol. Árbitro benevolente viu falta – que só ele e o Arnaldo viram, aliás. A partir de 1:40.



7 – Gol ilegal validado (Brasil x Costa do Marfim, 2010)

Esse lance pode não ter mudado o rumo do jogo, mas já está na história como um daqueles erros escandalosos. A partida já estava 1 a 0 para o Brasil quando Luís Fabiano dominou a bola com o braço duas vezes antes de meter para o gol. A partida terminou com 3 a 1 para o Brasil. A partir de 1:40.



Bônus – Juiz some com súmula (Brasil x Inglaterra, 1962)

Nas quartas de final do Mundial de 62, contra a Inglaterra, Garrincha foi expulso e desfalcaria o Brasil na semi contra o Chile. Desfalcaria, porque o craque brasileiro não apenas jogou como marcou 2 gols na semifinal. O motivo? O árbitro peruano Arturo Yamasaki sumiu. Não entrgou a súmula a tempo da realização do julgamento do brasileiro, que foi liberado para brilhar na partida seguinte. Curioso, não?

Confira outros posts sobre a Copa 2014 no Copa na Rede

segunda-feira, maio 12, 2014

Jogos da Copa que quase ninguém viu

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Muito antes dos mundiais se tornarem grandes fenômenos comerciais e televisivos, algumas partidas contaram com públicos dignos de campeonatos estaduais

Estima-se que o Mundial de 2014 deva ter uma audiência de 3,2 bilhões de espectadores em todo o planeta. A última edição, de 2010, teve uma média de público de 49.674 torcedores em cada uma das 64 pelejas disputadas na África do Sul. São números grandiosos, mas bem distintos do que acontecia nos primórdios do evento.
Laurent, autor do 1º gol das Copas
Entre os cinco piores públicos de uma partida disputada em Copa, dois aconteceram no primeiro Mundial, em 1930, no Uruguai. Ambas as pelejas aconteceram em Pocitos, um estádio de Montevidéu que tinha capacidade para 8 mil pessoas – o Centenário, que podia abrigar mais de dez vezes este número de pessoas, só ficou pronto para estrear cinco dias depois do início do torneio.
Assim, o campeão negativo de público em Copas foi a peleja Romênia 3 X 1 Peru, que contou com 2.549 espectadores, de acordo com a Fifa. O quinto jogo menos assistido in loco foi justamente a partida de abertura do torneio. Somente 4.444 torcedores viram, no dia 13 de julho de 1930, o francês Lucien Laurent marcar o primeiro tento da história dos mundiais, aos 19 minutos do primeiro tempo. A França bateu o México por 4 a 1.
Em 1958, País de Gales e Hungria terminaram empatados em pontos no Grupo 3 e jogaram uma partida-desempate, como previa o regulamento à época. O jogo entre os galeses, três empates na competição, e os húngaros, uma vitória (que valia dois e não três pontos), um empate e uma derrota, não atraiu os suecos. Compareceram ao Rasunda Stadium 2.823 pessoas, segundo pior público em Copas.
A terceira pior marca ocorreu na Copa de 1950, disputada no Brasil. A Suíça bateu o México por 2 a 1 no Parque dos Eucaliptos, em Porto Alegre. Inaugurado em 1931, o estádio era a sede do Internacional e, para o Mundial, foi construído um pavilhão de concreto com dinheiro arrecadado junto à torcida colorada. O clube também recebeu uma ajuda financeira da administração municipal da capital gaúcha e 5% da renda bruta dos dois jogos realizados lá (o outro foi México e Iugoslávia).
Como os dois times já estavam eliminados do torneio quando disputaram a partida, os gaúchos não se empolgaram e 3.580 pessoas foram ao estádio. Quem não foi, perdeu a chance de ver um fato, no mínimo, curioso. Como ambas as equipes entraram em campo com uniformes vermelhos – então vestuário preferido dos mexicanos –, a esquadra dos hermanos atuou com um jogo de camisas emprestado do Cruzeiro-RS.
O quarto pior público da história dos mundiais aconteceu na Copa de 1954, disputada na Suíça, e foi uma tremenda goleada. A Turquia superou a Coreia do Sul por 7 a 0 e conseguiu o direito de disputar um jogo-desempate do grupo contra a Alemanha, no qual foi também goleada por 7 a 2. Para o embate contra os turcos, aliás, os sul-coreanos trocaram oito jogadores em relação ao jogo de estreia, quando foram derrotados por nada singelos 9 a 0 para a Hungria. A chuva de tentos foi vista por 4 mil torcedores.
Todas as cinco partidas acima tiveram um público mais baixo que a média do campeonato paulista de 2014, de 5.675 pagantes. Para aqueles que penam ao tentar obter um ingresso de jogo da Copa de 2014, deve bater um certo saudosismo destes tempos idos...

domingo, maio 11, 2014

Os piores frangos em Copa do Mundo

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O post abaixo faz parte da parceria do Futepoca com a Rede Brasil Atual no Copa da Rede

Desde tempos imemoriais, nos estádios de futebol ou no mais surrado terrão, quando um goleiro falha clamorosamente a reação é uma só: "Que frango!"

Ao escapar das mãos do goleiro ou ao passar por baixo de suas pernas, a bola faz as vezes de galináceo que fugiu da granja para não servir de almoço. No galinheiro, a vítima normalmente mostra ginga e malemolência para se livrar do algoz. Nos gramados, faz rir e chorar.

Em tempos de avícolas industrializadas, a cena imaginada vai ficando até menos comum – para desespero dos trabalhadores e dos defensores de direitos dos animais. Mas, em épocas de Copa do Mundo, falhas acontecem. O Futepoca consolida o melhor de três listas de frangos históricos em mundiais de futebol. As imagens, espalhadas por diferentes canais do YouTube, são de dar pena.
As referências para os interessados nos domínios galináceos do ludopédio são Esporte Fino, Oba, Oba e o Planeta que Rola.

Robert Green - Inglaterra x Estados Unidos, 2010 

Uma falha terrível contra os Estados Unidos na Copa da África do Sul foi o primeiro frango (ou peru dado o seu tamanho) daquela edição. Também o maior.



Chaouchi - Argélia x Eslovênia, 2010 

Outro frango de 2010, desta vez do arqueiro argelino Chaouchi, contra a Eslovênia. Ele quase foi bem.



Zubizarreta - Espanha x Nigéria, 1998

Na Copa da França, o goleiro espanhol ajudou a ceder o empate, que culminaria em virada dos africanos. Nem todo cruzamento fácil é fácil para um goleiro (a partir de 1m5s).



Kopke - Alemanha x Iugoslávia, 1990

O goleiro alemão campeão do mundo em 1990 teve seu momento de frangueiro naquela edição contra a Iugoslávia (a partir de 51s).



Nery Pumpido - Argentina x Camarões, 1990

O país africano foi o azarão da Copa da Itália. Apesar do nome ser de um crustáceo, o time verde de Roger Milla fez fama de criar frangueiros. O primeiro foi logo na estreia: Pumpido, da Argentina, daria lugar a Goycochea (goleiro da seleção dos melhores do Mundial) – a partir de 45s.



René Higuita - Colômbia x Camarões, 1990

Nas oitavas da mesma Copa da Itália, há mérito do atacante Milla. Embora não seja um frango na acepção do termo, a lambança do colombiano René Higuita merece a menção na lista pelas qualidades cômicas.



Waldir Peres - Brasil x Rússia, 1982 

Exímio pegador de pênaltis, questionado por ter sido preferido por Telê Santana em uma época em que Leão era quase um apelo nacional, o então goleiro do São Paulo protagonizou uma cena patética na estreia contra a União Soviética.



Hellström - Suécia x Itália, 1970

Permitam-me citar Max Gehringer em "A grande história dos mundiais. 1962, 1966, 1970" (à pág. 80): "Aos 11', o goleiro Hellström engoliu o maior frango da Copa, num chute rasteiro e fraco de Domenghini de fora da área, pela meia esquerda. Helström saltou certo, junto à trave direita, mas a bola passou sob seu corpo" (a partir de 24s).



Lev Yashin - URSS 2 x 2 Inglaterra, 1958

O mítico Aranha Negra salta como uma aranha bêbada no cruzamento inglês. Ou um voo de galinha. A lenda soviética, do Dínamo de Moscou, podia até ser capaz de milagres. Mas também protagonizou seu momento de frangueiro (em 32s).



(Foto: Liz West/Flickr-CC-BY)

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sábado, maio 10, 2014

Copa na Rede: Futepoca e Rede Brasil Atual repetem parceria na cobertura do Mundial 2014

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A Rede Brasil Atual e o Futepoca realizam a cobertura da reta final dos preparativos e do Mundial de futebol 2014, sediado no Brasil. A exemplo da Copa do Mundo de 2010 e da Copa das Confederações de 2013, os veículos promovem uma ação na Web sobre o evento que mobilizará a pátria em chuteiras de 12 de junho a 13 de julho.

Iniciada em 7 de maio, com a convocação da Seleção Brasileira pelo técnico Luiz Felipe Scolari, a parceria envolve a produção de conteúdo exclusivo para um blogue estruturado dentro da Rede Brasil Atual. Elaborado pelos mesmos autores do Futepoca, a cobertura apostando no bom humor e na busca por recortes diferenciados sobre a competição.

Interessou? Acompanhe www.redebrasilatual.com.br/blogs/copa-na-rede

segunda-feira, abril 28, 2014

O motivo para João Paulo II ser canonizado

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Em 1984, o Papa polonês realizou seu maior feito: uniu, em Roma, os sãopaulinos - e desafetos - Marco Aurélio Cunha e Juvenal Juvêncio (à direita). MILAGRE!!!


Futebol 'mesa branca' (e 'mala preta'): Alan Kardec mata esperança do Palmeiras e quer reencarnar no São Paulo

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Kardec pediu mais cincão; Nobre não deu
Não, não foi pelos 20 centavos. Foi por 5 mil reais. Quando Alan Kardec pai deu um ultimato ao Palmeiras sobre o salário do Alan Kardec filho, dizendo que fechava contrato por 220 mil reais mensais, o diretor-executivo José Carlos Brunoro e o gerente de futebol Omar Feitosa garantiram que o negócio estava acertado. Mas o presidente alviverde, Paulo Pobre, digo, Nobre, mandou avisar que encerrava a conversa por 215 mil reais. Alan Kardec pai, que é empresário do filho boleiro, perdeu a paciência: "R$ 5 mil a menos, o que é muito pouco no futebol. Parece que queria pisar, humilhar, brincar... Chateou muito".

Pelo o que parece, depois da "desfeita" da cartolagem palmeirense, o pai-empresário abriu um "leilão" e o São Paulo cobriu todas as ofertas com 300 mil reais mensais para o jogador e um "chorinho" de 500 mil euros a mais para o detentor de seu passe, o Benfica (consta que o Palmeiras, que tinha preferência, pagaria 4 milhões de euros para comprá-lo, mas o clube do Morumbi pagará aos portugueses 4,5 milhões). No capitalismo é assim: quem pode mais, chora menos. No passado, o mesmo Palmeiras, turbinado pela Parmalat, tirou Cafu e Antônio Carlos do Tricolor, usando outros clubes como "pontes". Mais tarde, o Tricolor "roubou" o lateral Ilsinho.

Aidar ainda deu 500 mil a mais pro Benfica
Mas é curioso que o novo/velho presidente do São Paulo seja o mesmo Carlos Miguel Aidar que idealizou o Clube do 13 e sempre pregou a "união" entre os quatro "grandes" clubes paulistas. Essa "tungagem" no caso Alan Kardec azedou de vez a relação do Tricolor com os chamados "co-irmãos" (só se for o mesmo tipo de irmandade que Abel tinha com Caim!). No passado recente, Corinthians e Palmeiras já haviam desistido de mandar jogos no Morumbi, o que enfraqueceu sobremaneira os cofres sãopaulinos, e o alvinegro de Parque São Jorge foi ainda além e acabou com o acordo de negociar os direitos de TV em bloco. Tudo reflexo da gestão "soberana" de Juvenal Juvêncio, que elegeu o sucessor Aidar.

Juvenal, aliás, foi empregado sintomaticamente como novo comandante das categorias de base do São Paulo. O mesmo setor sãopaulino que vem sendo repudiado constantemente pelos "co-irmãos" e por vários outros clubes do Brasil como "ladrão" de jogadores (muitos ameaçam até boicotar qualquer competição que a garotada de Cotia se inscreva). Buenas, no frigir dos ovos, fica uma dúvida: Alan Kardec vale mesmo toda essa disputa? Só porque fez um bom Campeonato Paulista? Não foi artilheiro nem campeão. Vale 300 mil por mês? Tenho muitas dúvidas. O que sei é que o Palmeiras não quis pagar nem 220 mil. E no futebol, onde ninguém é santo, Alan Kardec renova o espírito - e o bolso - para reencarnar no São Paulo.

domingo, abril 27, 2014

Brasileirão 2014: Empate de Santos e Coritiba acende o sinal de alerta na Vila. Ou deveria acender..

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Em seu segundo jogo no Campeonato Brasileiro, o Santos mais uma vez fez uma atuação ruim, algo que vem acontecendo desde a semifinal do Paulista, quando a equipe suou sangue para derrotar o Penapolense. Mas, naquela ocasião, ainda conseguiu fazer três gols, desempenho que não se repetiu nas quatro pelejas seguintes, quando fez apenas dois tentos em duas partidas, ficando no zero em outras duas.

O que aconteceu com aquele time que marcava gols, era ofensivo e ensaiava promover candidatos a estrelas no cada vez mais pobre tecnicamente futebol brasileiro? Pode-se arriscar algumas explicações, mas a diretoria do clube deve estar atenta para conseguir corrigir o rumo da equipe antes que a vaca afunde de forma célere no brejo dos arredores da Vila famosa.
Gabriel: paciência que ele vai render (Ricardo Saibun/Santos FC)
Gabriel: paciência que ele vai render (Ricardo Saibun/Santos FC)
 
Os jovens sentiram?

Uma explicação bastante recorrente para explicar a queda de rendimento do Santos é o fato de parte dos atletas ser jovem, os ditos novos Meninos da Vila. Geuvânio, Gabriel e outros que costumam frequentar o gramado como Alan Santos, Emerson e Alison. Os homens da frente não têm rendido, em especial Geuvânio, que experimentou o banco de reservas ontem e só entrou no segundo tempo.

É possível que tenham sentido a pressão e/ou se deslumbrado um pouco com o oba-oba da reta final do Paulista. Mas seria injusto colocar a culpa somente nos garotos. Jogadores mais velhos também não corresponderam e têm mostrado dificuldades para liderar ou comandar uma reação. Não é à toa: jogadores experientes que são titulares não estão acostumados a decidir.

Cícero, 29 anos, tem três títulos na carreira: uma Copa do Brasil pelo Fluminense em 2007 e dois triunfos menos expressivos, um estadual de Santa Catarina em 2006 e o título da Sul-americana em 2012, sendo reserva no São Paulo. Thiago Ribeiro era reserva no título mundial tricolor de 2005, e foi escanteado por Muricy Ramalho quando a equipe foi campeã brasileira em 2006. Fora isso, tem os títulos mineiros de 2009 e 2011. Vejam o currículo de outros titulares da equipe e verão que, exceção feita a Arouca, louros importantes são raros.

Não se trata de desmerecer os jogadores mais velhos, mas tentar entender que eles também podem sentir a pressão, como os garotos parecem ter sentido. Ainda que haja diferenças. Thiago Ribeiro tem sempre buscado o jogo, ainda que de forma improdutiva em boa parte dos lances, já Cícero tem sido menos vistoso. Sobre ele, falamos a seguir.
Cícero não pode conduzir a equipe  (Ricardo Saibun/Santos FC)
Cícero não pode conduzir a equipe (Ricardo Saibun/Santos FC)
 
Cícero não pode ser protagonista

Pelo fato de ser um meia e fazer gols, Cícero por vezes é tido pela torcida, e até mesmo por Oswaldo de Oliveira, como solução para decidir pelejas. Mudanças recorrentes do treinador levam sempre o atleta à frente para que possa ser aproveitado seu poder de definição, já que sua finalização de longa distância é muito boa, assim como o cabeceio. Mas quando isso acontece, em geral acaba o fator surpresa daquele volante/meia que vem de trás e pega o sistema defensivo com o calção na mão.

Ontem, faria mais sentido Cícero vir buscar a bola para fazer a transição para o ataque, já que o Santos perdeu o meio de campo para o Coxa e não conseguia levar a redonda à frente. Ao invés disso, ele foi empurrado para jogar junto aos atacantes na segunda etapa. Mudança manjada e que não tem funcionado. E, assim, Cícero vive a paradoxal condição que em geral é vivida por aqueles “centroavantes-centroavantes”: se faz o gol, jogou bem; se não fez, não jogou. Na prática, seus tentos e a bola parada disfarçam o mau desempenho que tem ao exercer algumas funções na meia. Em alguns contextos, também teria que merecer um banco. Como aconteceu com Damião ontem.
Leandro Damião não engatou. Mas não pode ser bode expiatório (Ricardo Saibun/Santos FC)
Não engatou. Mas não pode ser bode expiatório (Ricardo Saibun/Santos FC)
 
O fator Damião

Leandro Damião é a contratação mais cara dentro da história do futebol brasileiro. É mais que natural que seja cobrado e que se espere dele algo diferente. Não tem acontecido. Damião também parece sentir a pressão, ainda mais pelo fato de torcida não ter com ele a paciência que reserva a outros jogadores, até pela expectativa que gerou a sua vinda.

Ter um jogador que atua abaixo do esperado atrapalha, mas atribuir a sua escalação todas as desgraças da equipe é exagero. “Ah, mas o Gabriel jogava melhor quando estava como homem de área.” Pode até ser, mas a média de gols da equipe não caiu com a entrada de Damião, em que pese seus gols perdidos irritarem qualquer um. Aliás, Gabriel também tem desperdiçado, como aconteceu com o Sport e ontem. A questão é que, em muitos aspectos, o ex-centroavante do Internacional tem sido prejudicado com o jeito que o Santos joga. Nos 180 minutos da final do Paulista, recorde-se quantas vezes ele recebeu a bola de costas para a área, com um marcador no cangote, e sem ninguém aproximando para receber. Resultado de uma maldita ligação direta que o Santos tem se habituado a fazer. Aí entra o problema do meio de campo... 

Cadê o substituto do Montillo?

Impossível dizer que o meia argentino teve uma passagem gloriosa pelo Santos, mas o jogador vinha 
crescendo de produção e foi o responsável pelas mais belas jogadas do Alvinegro no segundo semestre de 2013. Foi negociado para o futebol chinês e não houve reposição. Parecia que a providência divina tinha ajudado, com Geuvânio por vezes fazendo a função, compartilhada em algumas ocasiões com Thiago Ribeiro e mesmo Gabriel.
Montillo, mesmo sem ter sido brilhante, ainda faz falta (Ricardo Saibun/Santos FC)
Montillo, mesmo sem ter sido brilhante, ainda faz falta (Ricardo Saibun/Santos FC)

Ou seja, nenhum especialista na função que era do atleta portenho. E, no banco, Oswaldo ainda não achou por bem utilizar o promissor meia Serginho. Se não confia nele, o clube tem que contratar. É no meio de campo que a equipe tem penado. Não há substituto com as características de Arouca, por exemplo. Alison é o volante-volante, mais pegada do que técnica, e Alan Santos é, por enquanto, um volante que acha que pode jogar como meia. Mas não pode.

Sem reforços no meio ou alguma solução caseira de Oswaldo, o time vai continuar dependente de atacantes atuando como meias, o que poderia ser uma alternativa de jogo, e não quase uma obrigação. Com zagueiros que têm uma saída de bola ruim, e laterais/alas que também não costumam fazer essa transição. O Peixe vai continuar rifando a bola e sofrendo com desfalques.

Já era o Brasileiro?

Claro que não. Além do intervalo da Copa do Mundo, que costuma mudar o andar da competição, existe ainda a possibilidade, mencionada acima, de se arrumar a equipe com o que há na base. Algum lateral disputando posição ou mesmo um meia que veio de baixo se tornando titular é uma possibilidade. Mas Oswaldo armou uma equipe que apostava em dar uma condição confortável para que os homens da frente resolvessem, muitas vezes individualmente. Eles não têm resolvido e, ao que parece, um e/ou outro deve ir para a reserva.

Teste de criatividade para Oswaldo. E de paciência para o torcedor.
Oswaldo de Oliveira terá que quebrar a cabeça (Ricardo Saibun/Santos FC)
Oswaldo de Oliveira terá que quebrar a cabeça (Ricardo Saibun/Santos FC)

terça-feira, abril 22, 2014

Mesa de bar, encontro casual entre dois bambas. Assim nasceu um dos maiores clássicos da MPB

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Recorte do jornal 'Luta Democrática' de julho de 1976

Por CHICO NETO*

Sempre digo aos amigos que a música "Juízo Final", imortalizada na voz de Clara Nunes (veja o vídeo e a letra abaixo), não é de autoria apenas de Nelson Cavaquinho, mas sim parceria dele com um poeta desses que não receberam o devido reconhecimento da História. O poeta se chama “Seu” Élcio Soares, e frequentei muito a casa dele quando eu era criança, de uns 10 a 13 anos.

Era muito amigo do filho dele e passávamos horas brincando no quintal de "Seu" Élcio, em Sepetiba, RJ. Na época, eu não tinha a mínima ideia de que ele era da mesma cepa de craques como Cartola, Nelson Cavaquinho e outros ícones do samba e da MPB. Anos depois, já morando em São Paulo, descobri esse fato e fiquei emocionado por saber que ouvi tantas histórias desse senhor bonachão, que, se minha memória não falha, foi quem me apresentou um torresmo de porco.

Com a globalização da internet, pude retomar o contato com Naélcio, filho do "Seu" Élcio, e recebi dele o recorte de jornal que está no início deste post. Entre outras curiosidades, "Seu" Élcio diz na entrevista que "Juízo Final" nasceu de um encontro casual entre ele e Nelson Cavaquinho, no Centro do Rio de Janeiro, no final dos anos 1960.

Os dois sentaram em um bar e compuseram a música a pedido de Nelson, que já tinha a melodia na cabeça. Fico feliz de poder fazer esse registro, pois sempre considerei uma covardia só ver "Juízo Final" creditada ao grande Nelson. Fica aqui minha homenagem a "Seu" Élcio Soares, um dos grandes.

* Chico Neto, 49 (por muito pouco tempo!), é jornalista formado, publicitário por acaso, bebum, torcedor de F1 (Sennista) e, acima de tudo, Flamenguista que viu Zico, Adílio, Júnior e todo aquele timaço de 1981 jogar no Maracanã!



JUÍZO FINAL
(Nelson Cavaquinho e Élcio Soares)

O sol... há de brilhar mais uma vez
A luz... há de chegar aos corações
Do mal... será queimada a semente
O amor... será eterno novamente

É o Juízo Final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer

O amor... será eterno novamente


O apagão de água em São Paulo e a semântica

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“Mas não estamos melhor apenas porque choveu. Não ficamos dependendo apenas da chegada das chuvas. A ajuda do nosso povo foi fundamental, ele aderiu ao racionamento de forma decidida.”

O trecho acima é de um discurso de Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, anunciando o fim do racionamento de energia para março de 2002. Os grifos anteriores são para exemplificar que, à época, o consumidor de energia elétrica no Brasil foi obrigado a economizar seu consumo de energia elétrica e, caso não o fizesse, seria punido ao ter que pagar uma multa de 50% sobre o excesso do limite estabelecido.

Ontem, Geraldo Alckmin anunciou que o governo de São Paulo vai “estabelecer o ônus para quem gastar mais água". Diz notícia do Uol:

Alckmin e a água: nada de apagão, qualquer coisa, a culpa é de São Pedro
Segundo o governador, a partir de maio, os moradores da região metropolitana abastecidos pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) deverão ser multados se aumentarem o consumo de água. Para Alckmin, a medida vem se somar ao desconto de 30% para quem economizar ao menos 20%.

A medida é bastante semelhante a uma das principais adotadas pelo governo FHC à época da crise do apagão. Mas Alckmin é muito melhor em comunicação do que o ex-presidente e só em ato falho utilizaria a palavra “racionamento”. O jargão do governo paulista utiliza palavras como “rodízio” e a multa existe para evitar “desperdício” de água.

Estranha (só que não) a mídia tradicional utilizar o mesmo vocabulário do tucanato de São Paulo. Abaixo, você pode ver como duas manchetes, uma do G1 e outra do Uol compram fácil, fácil, a versão de que o governo quer evitar desperdício de água. Desnecessário listar situações em que existe aumento de consumo de água ou de outro bem e que não envolve necessariamente desperdício. O governador também deve saber, até porque o consumo do Palácio dos Bandeirantes cresceu 22% em janeiro, mês em que ficou evidente a existência da crise hídrica.



Por enquanto, aliás, sabe-se apenas que o “ônus” será de 30%, mas não se diz qual a média que será usada para se fazer o cálculo nem se ele abrange todo tipo de consumidor de água ou é restrito ao residencial. Nas páginas da Sabesp e do governo do estado, muito confete e pouca informação até a manhã desta terça.

Algo pouco discutido até agora são os prejuízos decorrentes do “racionamento voluntário (mas nem tanto)” de água em São Paulo. O do apagão de FHC custou R$ 27 bilhões ao consumidor de forma direta e R$ 18 bilhões ao Tesouro Nacional, e o crescimento do PIB caiu de 4,3% em 2000 para 1,3% em 2001. Quais seriam então os prejuízos para o estado em caso de restrições ao consumo de água?

De acordo com matéria do R7, o presidente da General Motors para a América do Sul, Jaime Ardila, diz que “um racionamento de água em São Paulo teria efeitos mais danosos” sobre a montadora do que de energia: “A situação está ficando difícil e um racionamento de água é um cenário para o qual não temos alternativa”.

Enquanto a crise se desenrola e depois de as ações da Sabesp terem experimentado uma queda superior à dos papeis da Petrobras, seguimos com o jogo de palavras. Quando interessa, a qualquer falha de fornecimento de energia é atribuída a palavra "apagão", estigmatizada pela crise de 2001/2002. Mas nunca se fala em "racionamento" de água "apagão" do sistema hídrico, justamente pela maldição que as palavras carregam. A diferença, sempre, é o destinatário.

Aguarda-se menos preocupação com a semântica e mais contato com a realidade.