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domingo, abril 26, 2015

Por que não ver a final do campeonato paulista pela Globo

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chupagloboguilhermedioniziogazeta Em meio a manifestações nas ruas e também no meio virtual contra a Rede Globo, Santos e Palmeiras fazem hoje a final do campeonato paulista de futebol. Coincidentemente, são dois dos grandes clubes de São Paulo que têm menos exibição de jogos na grade da emissora, que detém os direitos de transmissão da competição. Por conta dessa baixa exposição, que prejudica comercialmente ambas as equipes, a Vênus Platinada tem sido alvo constante de xingamentos e protestos de torcedores nos estádios.

No último domingo (19), por exemplo, a torcida santista comemorou a classificação para a final do campeonato paulista com o coro: “Chupa Rede Globo/É o Santos na final de novo”. Mas xingamentos à emissora têm sido uma constante em partidas do clube alvinegro. Nas quartas de final contra o XV de Piracicaba, um domingo antes, a emissora preferiu transmitir o jogo do Corinthians e Ponte Preta no sábado e deixar o dia livre para cobrir as manifestações contra o governo Dilma. A decisão se mostrou equivocada em termos de audiência: o jogo do sábado chegou a 15 pontos no Ibope e o filme Homem-Aranha derrubou a média da emissora no horário nobre do futebol, a tarde dominical.

A torcida do Palmeiras também tem se manifestado, em especial nas redes sociais, contra a emissora, a qual parte dos alviverdes se refere apenas pelas suas iniciais, RGT. Em especial por conta da postura global de não dizer o nome do estádio do clube, Allianz Parque, o que mais uma vez prejudica o planejamento do clube em termos de exposição da marca. Além disso, em 2014, os palmeirenses viram sua equipe na TV aberta em treze ocasiões, contra 14 do Santos, 29 do São Paulo e 33 do Corinthians.

Neste ano, Santos e Palmeiras tiveram seu clássico televisionado no Campeonato Paulista, partida que rendeu uma média superior ou igual à de três partidas da Libertadores transmitidas até então: um dos jogos entre Corinthians e San Lorenzo e outro contra o Once Caldas, e a partida entre São Paulo e Danúbio, do Uruguai. A justificativa de que jogos de Corinthians e também do São Paulo têm preferência em relação aos outros por conta exclusivamente dos pontos no Ibope motiva a publicação de matérias/profecias furadas como esta do Uol, que antes do clássico preconizava que sua transmissão era “um risco” para a Globo.

De acordo com levantamento do jornalista Cosme Rímoli, a média de audiência dos jogos do Corinthians na Rede Globo em 2010 foi de 23,8 pontos; caindo para 22,6 pontos em 2011; 21,9 em 2012; 19,9 pontos em 2013 e 17,5 em 2014. Já a média dos jogos do Santos não ficou distante, chegando a superar o desempenho corintiano em 2011. Em 2010, por exemplo, ela foi de 21,2 pontos; 24,2 em 2011, 21 em 2012; 18,7 em 2013 e 17,2 em 2014. A média santista sobe também em função justamente de poucas partidas transmitidas, com os clássicos sendo destacados. Mas não é só isso que justifica. Em 2011 e 2012, por exemplo, a equipe contava com Neymar e tinha um ótimo desempenho em campo, o que evidencia que o torcedor em geral gosta de ver jogos que valham em termos de competição mas que também sejam promessas de bons espetáculos, com grandes jogadores atuando. No entanto, isso não é tão levado em consideração pela detentora dos direitos de transmissão.

Mas por que a Globo age assim se pode até mesmo perder ou deixar de ganhar audiência com isso? Parte da resposta é o cachimbo que entorta a boca. Como monopolista que é, a Globo é de fato avessa a riscos. Tanto que muitas vezes prefere pagar salários milionários a um funcionário seu fora do ar, posto na “geladeira”, a vê-lo em outra concorrente. No caso do futebol, colocar sempre o time de maior torcida local, como Corinthians e Flamengo, minimiza as chances de uma surpresa, ainda que às vezes ela pudesse ser positiva.

Há ainda um outro fator nebuloso, e este seria político. Em 2011, época em que a Record fez uma proposta superior à da emissora carioca ao Clube dos Treze, uma associação que reunia os maiores times brasileiros e era a responsável pela negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, executivos da emissora fluminense articularam com dirigentes de equipes para implodir a possibilidade de acordo. Antes, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia derrubado uma cláusula preferencial no contrato assinado pela entidade com emissora dos Marinho, que na prática inviabilizava a concorrência com outras emissoras. A reação global foi negociar individualmente com os clubes, com o Corinthians sendo o primeiro a se desligar do Clube dos Treze. A negociação aprofundou a diferença paga entre os 12 clubes de maior torcida, especialmente Corinthians e Flamengo, e os demais. Na dança, os clubes médios e pequenos foram ainda mais penalizados com a discrepância estabelecida.

Como a Globo ajuda a implodir o futebol brasileiro

Embora à primeira vista possa parecer que haja ganhadores nessa disputa entre clubes pelos recursos da televisão para o futebol, trata-se de um jogo que tem só um vencedor: a própria Globo, que se aproveita da cega desunião entre os times para lucrar, sem se importar com a crescente depreciação do esporte nacional. Como dito nesta matéria, a repetição exaustiva dos mesmos clubes na grade televisiva vai cansando o telespectador: “A transmissão excessiva de jogos de clubes mais populares, em especial Flamengo e Corinthians, para a maioria das praças, contribuiu para a desvalorização do futebol como um todo e, embora possa parecer que seja mais benéfico para ambos, o que geraria vantagens desportivas mais adiante, trata-se de um jogo em que todos perdem porque o esporte em si se desgasta e cansa o telespectador. Um exemplo é que foi justamente a transmissão de uma partida do Corinthians, contra o Coritiba, no dia 3 de agosto, a pior audiência da emissora em jogos do Campeonato Brasileiro em 2014. O que parece bom a curto prazo, não se sustenta ao longo do tempo.”

Muitos campeonatos de futebol pelo mundo se protegem em relação à exposição excessiva e à distribuição desigual extrema de recursos entre os clubes. A Premier League, divisão principal do campeonato inglês, é um exemplo. A fórmula de remuneração pelos direitos televisivos estabelece que 50% do volume distribuído seja fixo, enquanto 25% são direcionados de acordo com o desempenho do clube na competição e outros 25% segundo o número de jogos transmitidos. Cada clube tem também um número mínimo de partidas televisadas, impedindo a abissal discrepância que acontece no Brasil.

Na Inglaterra, os clubes pensam, juntos, primeiro na valorização do próprio futebol, para assim conseguirem se capacitar economicamente e manter espetáculos interessantes para o público. Não interessa uma desigualdade enorme entre o maior e o menor. No Brasil, a Globo é a verdadeira “organizadora” da modalidade, submetendo a CBF, federações e clubes e impondo um modelo que é bom apenas para ela, direcionando datas e horários de partidas e decidindo a seu bel prazer quem vai e quem não vai ser televisionado. O que torna o futebol brasileiro razoavelmente equilibrado é a incompetência de dirigentes, que conseguem torrar fortunas sem um desempenho equivalente a sua capacidade financeira em campo. Mas os jogos ficam ruins de se assistir. E o público já percebeu isso.

Nos números de audiência de dois dos grandes de São Paulo citados acima, percebe-se que ambos tiveram queda de audiência entre 2010 e 2014. O Corinthians perdeu 26,4%, enquanto Santos, São Paulo e Palmeiras perderam 20%, mesmo índice de decréscimo do Campeonato Brasileiro. O Campeonato Paulista perdeu, no mesmo período, 23%, e a Copa do Brasil, 32%. A Globo já estudaria diminuir o número de partidas transmitidas em sua grade. Claro, sem consultar os clubes ou se preocupar com o futuro do futebol.

A emissora também estaria de olho no futebol europeu, já que a partida entre Barcelona e Paris Saint-Germain exibida na tarde desta terça-feira rendeu à Globo 16 pontos, um alto índice para o horário. Fecha-se assim um ciclo cruel: quem é em parte responsável pela derrocada do futebol brasileiro e pela manutenção da distância entre a qualidade da bola jogada aqui e no Velho Mundo pode ser o primeiro a dar as costas para seus parceiros.

Por todo esse contexto, um bom protesto do torcedor neste domingo seria não assistir à final do campeonato paulista pela Globo. O boicote não só é um instrumento legítimo de protesto contra a emissora em um dia em que estão programadas diversas manifestações pelo país em “descomemoração” de seu aniversário, como seria também um alerta para os dirigentes de futebol de que é preciso pensar em alternativas ao monopólio global, que vem colaborando para a decadência do futebol nacional como um todo. Na disputa entre os clubes alimentada pela emissora, no final, todos podem sair perdendo. E perceber isso mais à frente pode ser tarde demais.

quarta-feira, abril 22, 2015

'Até que era bom!'

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Voltando de táxi para casa, comentei no celular alguma coisa sobre Taquaritinga, cidade paulista onde nasci. O taxista reagiu de imediato, para meu espanto:

- Taquaritinga?!? Eu conheço. Peguei um trem pra lá quando eu era mendigo.

Reparem na informação adicional (o grifo é meu): "quando eu era mendigo". O que me levou, inevitavelmente, a dar corda na conversa:

- Perdão, como é o nome do senhor?

- Juraci. Mas todo mundo me conhece como Pai Velho.

- O senhor foi mendigo?

- Ah, eu morava na fazenda do meu pai, em Mato Grosso, e me juntei com uma mulher, tive filhos. Daí eu larguei ela e meu pai ficou bravo, me xingou, me esculhambou, disse um monte de coisa na minha cabeça. Fiquei doido com isso e fugi de lá, me mandei aqui pra São Paulo, sem dinheiro nenhum. Procurei trabalho, mas não arranjei. Daí, fui morar na rua.

- E o trem que o senhor pegou para Taquaritinga?

- Naquela época, isso tem uns 20 anos ou bem mais, o governo deixava os mendigos pegar um trem pro interior do Estado, sem pagar. Eu peguei o trem na Estação da Luz e desci lá em Taquaritinga. Botaram a gente numa cocheira. Era Natal, daí, à noite, levaram pra gente um monte de carne assada, um monte de comida. Foi aquela fartura!

- O senhor passou muito tempo lá?

- Tentei arrumar trabalho, mas também não consegui. Daí, fui a pé pra Jaboticabal, a cidade ao lado. Cheguei lá com uma fome lascada. Quando tava subindo uma ladeira, uma mulher me parou e perguntou se eu tava com fome. Respondi que sim e ela falou que a prefeitura dava comida para os bóias-frias, numa praça. Fui correndo. E tinha aqueles tarmborzões, cheios de comida. Deram leite, um monte de coisa. Depois fui a pé pra Araraquara.

- Nossa! É muito mais estrada do que de Taquaritinga pra Jaboticabal.

- É, sim. Fui me embrenhando por uma estrada de terra, no meio das fazendas. Lembro que tava com uma sede danada, de madrugada, e pulei uma cerca pra ir beber água numa lagoa. Veio um cachorro bravo e saiu correndo atrás de mim. Eu pulei a cerca de volta e quase fui atropelado por um carro. O cachorro fugiu e o motorista me deu carona só por um pedacinho, depois voltei a andar até Araraquara. Mas lá, de novo, não arrumei emprego. Tentei pegar o trem de passageiro de volta pra São Paulo e não deixaram. Porque o governo dava passagem de graça pros mendigos irem pro interior, mas pra voltar não dava, não! Aí, tentei subir escondido num trem de carga, mas me pegaram. Só quando consegui arrumar dinheiro, pedindo, paguei e consegui voltar pra São Paulo. E voltei a morar na rua.

- Que história... E aqui na capital, morava onde?

- Era maloqueiro, muito doido (risos). Morava lá no centrão, no Parque Dom Pedro II, debaixo das passarelas, viadutos. Fiquei oito anos nessa vida.

- Não era muito perigoso?

- Às vezes, sim. Uma vez eu tava meio dormindo e notei que um outro vinha chegando devagar pro meu lado, pra tentar roubar meu garrafão de pinga. Dei uma carreira nele e voltei a cochilar. Dali a pouco, acho que foi por Jesus, abri um pouco o olho e vi o cara voltando, com uma baita de uma pedra pra jogar na minha cabeça. Só tive tempo de virar a cabeça e a pedra afundou no chão. Corri atrás do infeliz e quebrei ele no cacete. Mas tive que ir dormir em outro lugar. Só que, na maior parte do tempo, é tranquilo. Você fica lá, dormindo e bebendo. De vez em quando vem médico perguntar como é que você tá. E todo mundo dá comida. São Paulo tem esse monte de maloqueiro porque aqui dão muita comida.

- E como o senhor saiu daquela vida?

- Um dia contei minha história pra um policial e ele me ajudou. Conseguir tirar meus documentos de novo e fui procurar emprego. Entrei em contato com a família, meu pai me deu uma bronca. 'Tu é muito doido, meu filho! Pra quê fazer isso?' Eu sou muito doido, mesmo (risos). Meu pai morreu e deixou um dinheiro, que a família dividiu. Com minha parte comprei esse carro pra trabalhar de taxista e um apartamentozinho. Moro lá com uma mulher que conheci na rua, era mendiga também. Meus irmãos ainda tocam a fazenda que era do meu pai, lá no Mato Grosso, e uma vez por ano me mandam um dinheirinho. Daí eu paro de trabalhar e passo uns dois meses só tomando cachaça! (risos) Minha mulher fica louca da vida! Bebo o dia inteiro, uns dois meses, e depois volto a trabalhar no táxi.

- É, sua vida progrediu. Nem eu tenho casa própria ou automóvel (risos). Hoje o senhor está bem melhor do que quando morava na rua, não?

- Olha, até que era bom! (o grifo, mais uma vez, é meu)

- Viver na rua? Era bom?!? Como assim?

- Eu não tinha preocupação com nada, não tava nem aí. Só dormia e bebia minha cachaça. Não gastava pra comer. Não tinha conta pra pagar, não tinha IPTU, não tinha televisão, não tinha internet, não tinha documento, não tinha telefone, não tinha nada dessas porcarias. Não tinha perturbação, azucrinação, de lado nenhum. Era só paz e sossego. De vez em quando me dá até uma saudade (risos). Mas eu também não tô nem aí pra nada, não. Quando quero, paro de trabalhar e bebo muita cachaça. Eu sou doido! Quem já morou na rua não liga pra mais nada, não dá importância pra nada nesse mundo.

- É justo.

Foi a última coisa que eu disse, antes de pagar, descer e me despedir. E ainda está ecoando nos meus ouvidos: "Até que era bom!" Realmente, nada funciona e tudo está fora de controle. E o sentido da vida é mesmo arrumar encrenca... pra tentar fugir dela!


sexta-feira, abril 17, 2015

Cerveja do Japão rejuvenesce a pele

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Boa pra pele: 5% de álcool é jogo!
Nos tempos em que os gastos dos brasileiros com beleza beiram os R$ 60 bilhões (comprovando que a crise econômica está mesmo assolando o país), uma notícia alvissareira para os que se preocupam com a pele, as rugas e os pés-de-galinha: a empresa Suntory, do Japão, criou uma cerveja que rejuvenesce a pele. De acordo com materinha do site Correio - O que a Bahia quer saber, cada latinha dessa breja oriental, batizada "Precious" ("Preciosa"), possui 5% de concentração alcoólica e - supostamente - tem 2 gramas de colágeno purificado. Prossegue o texto: "O colágeno é uma proteína que a pele usa para fornecer ‘estrutura’, firmeza e textura. Quanto mais jovem, mais colágeno uma pessoa tem. Ao envelhecer, as taxas vão diminuindo e aparecem as primeiras rugas" - e o bom desse blogue, como diriam os camaradas Anselmo e Glauco, é que a gente aprende. Para os interessados (e interessadas) mais afoitos, a notícia adverte que a cerveja antirruga está sendo vendida apenas  na cidade japonesa de Hokkaido. E o mais importante: a Suntory ainda não divulgou detalhes sobre a eficácia do produto e a absorção da proteína pelo corpo. Veja o vídeo da cerveja (em japonês):



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quinta-feira, abril 16, 2015

Tipos de cerveja 81 - As Lambic-Unblended

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Pode ser considerado como o tipo mais "puro" das Lambic (afinal, se blend é "mistura", unblended é "sem mistura"). Raramente comercializadas, sua degustação só é possível junto dos produtores de Lambics, que realizam provas de cervejas e visitas guiadas às suas explorações. "Um dos poucos casos que conheço de uma Unblended comercializada vem da firma Cantillon. E que excelente exemplar: a Cantillon 1900 Bruocsella Grand Cru", afirma Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo. As Unblended são muito suscetíveis e, por isso, suas características podem variar de barril para barril (mesmo que estejam lado a lado!). Também são envelhecidas, para reduzir a sua natural acidez. Há produtores que gostam de misturar frutas, para as tornarem mais apetecíveis - algo que o camarada Glauco repele com veemência. Assim, algumas Lambic-Unblendeds ficam com sabores próximos das cidras e do vinho branco, sendo quase nula a presença de lúpulo. Podem variar entre 3% e 6% de teor alcoólico. Se alguém conseguir a proeza de encontrar algumas delas para experimentar, ficam as sugestões da Cantillon Jonge Lambic Cognac, Iron Hill Lambic e De Cam Oude Lambiek (foto).


terça-feira, abril 14, 2015

Pra 'roubar' técnico alheio, que fosse Marcelo Oliveira

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Sabella, como jogador do Grêmio-RS
Enquanto Carlos Miguel Aidar prossegue soltando bravatas (vide episódio "peixada") e aguarda resposta de Alejandro Sabella até sexta-feira pra definir o novo técnico do São Paulo, o auxiliar e treinador interino Milton Cruz simboliza a improvisação e a falta de planejamento da atual diretoria sãopaulina. Caso o argentino recuse a proposta, Cruz será efetivado no cargo mesmo contra sua vontade, na base do "se não tem tu, vai tu mesmo". Sabella, que nos anos 1980 foi jogador do Grêmio-RS, trabalhou como auxiliar de Daniel Passarella em sua malfadada passagem no Corinthians, em 2005, e treinou a Argentina na Copa de 2014. Como técnico, venceu a Libertadores de 2009 com o Estudiantes de La Plata. Mas de concreto sobre a troca de comando no Morumbi, até o momento, apenas o descarte de dois nomes que têm compromisso com outros clubes: Vanderlei Luxemburgo, técnico do Flamengo, e Abel Braga, indicado por Muricy Ramalho, que diz ter acordo com um time árabe.

Ainda bem. Fora o fato de ser totalmente condenável assediar funcionários alheios, nem o "pofexô" nem Abelão me pareciam dignos de uma transação tão desesperada. Se fosse pra investir alto, pagar multa e sofrer a pecha de "roubar" técnico de outro time, na minha opinião, que fosse logo o Marcelo Oliveira! Óbvio que o bicampeão brasileiro nem de longe pensa em abandonar tudo o que construiu no Cruzeiro, mas, já que "sonhar não custa nada", que fosse ele em vez de Luxa ou Abel. Oliveira é, para mim, um dos dois melhores técnicos brasileiros, ao lado de Tite - e ambos poderiam muito bem estar treinando nossa seleção.

Milton Cruz em figurinha de 1978
Enquanto nada se decide, o auxiliar e treinador-tampão Milton Cruz se vê na - nem um pouco invejável - "sinuca de bico" de ter que classificar o São Paulo para a próxima fase da Libertadores e, logo em seguida, enfrentar o "indigesto" Santos na semifinal do Paulistão (no alçapão da Vila Belmiro e em jogo único eliminatório). A primeira "pedreira" será contra o Danubio, amanhã, em Montevidéu, com obrigação de vitória. E um detalhe curioso: pesquisando na inFernet sobre Milton Cruz, descobri que foi lá, no Uruguai, há mais de três décadas, que seu destino cruzou justamente com o do citado Marcelo Oliveira. Lá, os brasileiros jogaram juntos.

Nascido em Cubatão, Milton foi um centroavante que começou jogando em um time chamado Comercial, em Santos (cidade onde enfrentará a segunda "pedreira" desta semana, no próximo domingo). Depois de passar pelo Aliança, de São Bernardo, chegou ao juvenil do São Paulo em 1975, aos 18 anos. Na temporada seguinte, foi o artilheiro do Campeonato Paulista de Aspirantes, com oito gols, o que o credenciou a subir para o time profissional. Logo de cara, integrou o elenco tricolor que conquistou o Brasileirão de 1977, derrotando, na decisão, o Atlético-MG - onde jogava Marcelo.

Marcelo, como atacante do Atlético-MG
Mas a grande chance de Milton surgiu quando Serginho Chulapa, o maior artilheiro da História do São Paulo, pegou um ano de suspensão após ter chutado a canela de um bandeirinha. O garoto de 20 anos entrou em seu lugar e marcou 14 gols no Brasileirão de 1978. Mas Chulapa voltou no ano seguinte e Milton foi emprestado ao Dallas, dos Estados Unidos, e ao Guadalajara, do México, antes de desembarcar no Nacional do Uruguai, onde jogou entre 1980 e 1983. E foi lá que, no penúltimo ano de sua passagem, partilhou a linha de ataque com o Marcelo, dois anos mais velho. Foi jogando pelo Nacional, aliás, que os dois começaram a ser chamados como Cruz e Oliveira, pois os uruguaios costumam tratar os jogadores pelo sobrenome (veja seus nomes na reprodução de um pôster logo abaixo).

Mineiro de Pedro Leopoldo, Marcelo chegou ao Atlético-MG aos 14 anos, em 1969, e foi efetivado como profissional três anos depois pelo técnico Telê Santana, que havia levado o Galo ao título do Brasileirão de 71. O jovem atacante disputou os Jogos Pan-Americanos de 1975 e a Copa América, além das eliminatórias para a Copa da Argentina. Em 1977, era titular do Atlético-MG invicto que, nos pênaltis, perdeu a decisão do Campeonato Brasileiro para o São Paulo no Mineirão. Depois de ser vendido ao Botafogo-RJ em 1979, Marcelo comprou seu passe o alugou para o Nacional do Uruguai, em 1982 - onde jogou com Milton.

Ataque do Nacional em 1982, com Milton (centro) e Marcelo (à direita)

Depois do Nacional, Marcelo Oliveira jogou ainda por Desportiva-ES e América-MG, onde encerrou a carreira, aos 30 anos, em 1985. Como treinador, iniciou nas categorias de base do Atlético-MG, e passou por CRB, Atlético-MG, Ipatinga, Paraná, Coritiba, Vasco e, desde 2013, Cruzeiro. Já Milton Cruz jogou pelo Internacional-RS, pelos pernambucanos Sport, Catuense e Náutico, pelos japoneses Yomiuri e Nissan e pelo Botafogo-RJ, onde encerrou a carreira em 1989, aos 32 anos, como campeão carioca - título que encerrou um jejum de 21 anos do time da estrela solitária. Em 1997, Milton Cruz assumiu o posto de auxiliar técnico no São Paulo. De lá pra cá, assumiu o comando da equipe principal em 27 oportunidades - sempre como "tampão", entre um técnico e outro. Foram 13 vitórias, 6 empates e 8 derrotas. Seus maiores feitos foram um empate em 1 x 1 com o Universidad, no Chile, durante a campanha vitoriosa da Libertadores de 2005, e a vitória por 3 x 0 sobre o Red Bull Brasil, anteontem, que botou o São Paulo na semifinal do Paulistão. O futuro, a Deus pertence...

Marcelo e Milton, em 1982: 'bola dividida' dos atuais técnicos do Cruzeiro e do São Paulo

segunda-feira, abril 13, 2015

Vamos conversar? (mas não conta pra ninguém!)

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quarta-feira, abril 08, 2015

Conhecendo os dois, terminou em cachaça...

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Em foto postada há pouco na página oficial de Lula no Feicibúqui, o time de deputados constituintes de 1988 antes de uma pelada em Brasília. Aécio Neves está agachado bem em frente ao Barba, que, de braços levantados, sinaliza o número de caixas de cerveja necessárias para o pós-arranca-toco.


Som na caixa, manguaça! - Volume 85

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LÁ SE VAI O CAMPEONATO


Domingo, chegou o grande dia
Meu time nas finais, uma tarde de alegria
No boteco, com os camaradas
A cerveja lidera a invasão da arquibancada!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

Nossa torcida cumpre seu papel
Cantamos e cantamos, nosso time lá no céu
A defesa é como uma muralha
Nosso ataque corta como uma navalha!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O jogo segue empatado
O adversário luta e por isso é respeitado
E então um pênalti é marcado
Vamos ao deliro, chacoalhamos o estádio!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

A tensão congela nossas almas
E o nosso atacante corre para a bola
O nervosismo estampado nos seus olhos
O chute muito alto e a bola vai pra fora!

Olê!Olê!Olê!Olê!......

O empate não é nosso resultado
Um pênalti perdido, lá se vai o campeonato!
A raiva nos toma o coração
Queremos quebrar tudo, mas beber é a opção

Olê!Olê!Olê!Olê!.....

Cantando, vamos para o bar
Lembrar as nossas glórias, a mágoa afogar
Apesar da alegria, ninguém pôde esquecer
Que o maldito campeonato, acabamos de perder!

(Do CD "Canções de batalha", gravadora TRREB, 2004)




terça-feira, abril 07, 2015

Problema de saúde, identificação com o clube, possível volta, até logo, até breve (Parte II)

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"Infelizmente, tem um problema com meu irmão em São Paulo, tá adoentado e o ano passado eu perdi minha mãe, que cuidava dele. (...) Eu acho que é um até logo, porque isso aqui é minha casa, né. Um dia eu devo voltar pra cá." - Muricy Ramalho, em 30/06/2002, logo após sagrar-se bicampeão pernambucano e despedir-se do comando do Náutico (veja vídeo abaixo, a partir de 02:41).


"Já comecei o ano com um problema sério, né. Acho que nem ficaria até agora. Fiquei, realmente, porque é o São Paulo, é o time que eu realmente me identifico. (...) Pode acontecer de eu estar voltando aqui, como não? Com certeza, foi por isso que eu disse um 'até breve'. Porque a gente ainda tem a esperança de, quem sabe, um dia, voltar ao clube." - Muricy Ramalho, em 07/04/2015, ao se despedir do comando do São Paulo pela terceira vez (veja vídeo abaixo, a partir de 01:36).




segunda-feira, abril 06, 2015

Muricy não completará 500 jogos como técnico do SPFC

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Desânimo: para Muricy, já deu a hora
A derrota por 2 a 0 para o Botafogo de Ribeirão Preto marcou o 474º jogo de Muricy Ramalho como treinador do São Paulo, em sua terceira passagem pelo clube (segundo levantamento divulgado pela TV Bandeirantes). Restariam, portanto, 58 jogos para igualar Vicente Feola, o recordista, que treinou a equipe 532 vezes. Mas isso dificilmente vai ocorrer. Aliás, nem perto dos 500 jogos Muricy deverá chegar, mesmo tendo contrato até dezembro deste ano. Depois da entrevista que o desanimado, desolado e irreversivelmente abatido treinador concedeu após a derrota de ontem, parece claro que seus dias - ou melhor, jogos - estão contados no São Paulo: "A gente se sente envergonhado (...) Já estou bem arrebentado com minha saúde, não aguento mais" (leia clicando aqui). Esse "não aguento mais" parece um desabafo de milhões de sãopaulinos que escapou pela garganta de Muricy, involuntariamente. E eu estou entre aqueles que nem colocam a culpa nele, pois o buraco é (muito) mais embaixo. Mas seu prazo de validade, sem dúvida, já expirou.

Se der a lógica futebolística, o Red Bull eliminará o São Paulo nas quartas-de-final do Paulistão, no próximo fim de semana. O time de Campinas vem embalado e, recentemente, derrotou o Palmeiras e empatou com o Corinthians - rivais que superaram o Tricolor sem fazer muito esforço. E a polêmica sobre jogar ou não no Morumbi nem faz diferença, pois ano passado a eliminação no estadual, para o Penapolense, ocorreu justamente diante da própria torcida. Na Libertadores, tendo que decidir a "vida" contra o Corinthians, melhor nem falar nada... O problema nem é esse. Tirando o exercício de "palpitologia", o que me faz visualizar a guilhotina caindo sobre o São Paulo e, consequentemente, sobre Muricy, é a "falta de tudo" no time da capital. Falta de esquema tático, de padrão de jogo, de entrosamento, de jogadas ensaiadas, de sistema defensivo, de saída de bola, de laterais, de armadores, de atacantes, de líderes, de finalizações objetivas, de técnica, de ânimo, de garra. Falta de tudo, mesmo. Este início de temporada está perigosamente semelhante ao de 2013, quando o clube afundou em crise aguda e quase foi rebaixado no Brasileirão.

Juvenal levou clube ao fundo do poço
Naquela época, Muricy retornou e, inegavelmente, foi quem salvou o São Paulo da degola. Porém, aquele alívio imediato camuflou um mau sinal: técnico que começa a ser chamado pra salvar time de rebaixamento raramente retorna ao patamar dos que brigam por título. Pior: não dá pra brigar por título, a curto prazo, em um clube totalmente desestruturado, que precisa recomeçar do zero. O fundo do poço onde o São Paulo chegou em 2013, resultado da gestão desastrosa de Juvenal Juvêncio, foi um aviso aos sãopaulinos mais conscientes de que ainda vai levar muito tempo para a equipe voltar a brigar de igual pra igual com os grandes. Essa conversa fiada da diretoria de "melhor elenco do Brasil" e de que há "obrigação de ganhar título" é, mais do que delírio e prepotência, um grande engodo. É má fé. Coitado de quem acredita nisso. Carlos Miguel Aidar e Ataíde Gil Guerreiro são dois embusteiros, que vivem de bravatas ridículas, num estilo parecido ao do Juvenal. Acorda, torcedor! O clube não tem patrocinador master há quase um ano! Já  começou a atrasar salários! A torcida sumiu do estádio! A diretoria está rachada e nem consegue chegar a um acordo para reformar o (anacrônico) Morumbi! Estamos f*! Essa é a realidade.

Vejam o desnível em relação aos dois outros rivais da capital, que ostentam arenas novas e modernas, capazes de atrair todo tipo de evento e de patrocínio, e lotam as arquibancadas todos os jogos. Fora os milhões de reias da Caixa, para o Corinthians, e da Crefisa, para o Palmeiras. O São Paulo não chega nem perto (e nem longe) de vislumbrar algo parecido e, quanto mais o tempo passa, mais a situação se agrava. E isso, lógico, tem reflexo em campo. Dá a impressão de que, quando a maionese começa a desandar, não tem quem segure. Muricy até tentou tomar alguma iniciativa. Pediu e recebeu dois laterais, Bruno e Carlinhos, com quem trabalhou no Fluminense. Considerei positivo, pois são posições-chave para o sucesso de qualquer esquema tático e, há anos, o clube não acerta nessas contratações. Não por acaso, os dois chegaram e já assumiram a titularidade. Só que, péssimos, foram parar no banco de reservas. Muricy pediu zagueiro. Veio Dória, e só por seis meses. Tirando a contusão que o deixou quase dois meses fora, também não disse ao que veio.

Souza não está jogando porcaria nenhuma
Muricy pediu Dudu para o ataque. Veio Johnathan Cafu. Pediu um volante ofensivo. Veio Thiago Mendes. Nenhum deles é titular, longe disso. E os que já estavam no elenco, e que fizeram um bom segundo turno no Brasileirão do ano passado, "sumiram" em campo - comprovando que Kaká foi, realmente, o grande responsável pelo rendimento coletivo da equipe naquela época. Atualmente, creio que a maioria da torcida não se importaria nem um pouco se fossem afastados do time titular - ou negociados definitivamente - Souza, Ganso ou Pato. Sim, Souza! Foi pra seleção mas não tá jogando nada, nada, nada. O "maestro" (!) Ganso, para mim, não serve nem para ficar no banco de reservas. Nem Alan Kardec e Luís Fabiano, que, contundidos, já vão ser desfalques para o treinador, de qualquer maneira. Duvido que alguém gostaria de ter, em seus times, algum dos zagueiros do São Paulo: Rafael Toloi, Lucão, Edson Silva ou Paulo Miranda (Dória já vai sair e Breno é mistério). E os laterais? Horríveis. Sobra vaga até para o mediano Hudson jogar improvisado. Os volantes são fracos, sofríveis. Em resumo: com que limões Muricy faria uma limonada?

Com nenhum. Por isso o treinador troca peças, incentiva novatos, improvisa esquemas, treina jogadas e... nada! Nada. O time do São Paulo, hoje, é isso: nada vezes nada. E o técnico, pra (não) variar, vai pagar o pato. O Pato, o Ganso e toda a turma de "estrelas" improdutivas e inúteis. Que, na minha opinião, a diretoria força para que estejam sempre em campo. Não tem técnico que aguente, mesmo. Se Muricy cair após prováveis fracassos no Paulistão e na Libertadores, antecipo aqui meu muito obrigado. É injusto que, após tantas vitórias e alegrias que deu para o São Paulo, seja responsabilizado por tanto vexame.


POST SCRIPTUM:

Duas horas e 15 minutos após a publicação do texto acima, caiu a notícia:




quarta-feira, abril 01, 2015

'Liberdade é ter na mente, eternamente, éter na mente'

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Realmente, muitos confundem o meu comportamento brincalhão, as minhas maluquices, com o consumo de drogas ou coisas semelhantes. É uma tremenda bobeira. Não consumo drogas e o que gosto mesmo é de uma cachaça. Aliás, o baiano, de modo geral, gosta de uma boa birita. Creia, malandro: é birita, mesmo.”
Raul Seixas, em entrevista ao jornalista Reynivaldo Brito, publicada pelo jornal A Tarde, da Bahia, em 10 de outubro de 1978

P.S.: Há controvérsias (sobre ser "só" birita). Em seu blog, Reynivaldo revelou, em 2010: "Encontrei o Raul Seixas numa manhã no início do mês de outubro de 1978 num dos apartamentos do Salvador Praia Hotel, em Ondina. (..) Quando chegamos ao hotel, ele mandou que eu e o fotógrafo fóssemos até o apartamento onde se hospedara. Lá chegando, o encontramos envolto em um longo lençol branco a fazer caretas e poses estranhas. Estava tomado pelo vício e, ao lado, pude ver uma garrafa vazia de éter".

ÉTER: foto feita por Lázaro Torres no dia da entrevista de Reynivaldo Brito

CIRROSE: no 'retiro' baiano, Raul 'meditava' em frente ao Elevador Lacerda

* A frase que dá título ao post estava pichada num muro em Sobral (CE), em 2003.






terça-feira, março 31, 2015

Tipos de cerveja 80 - As Lambic-Gueuze

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De acordo com o site português (e parceiro) Cervejas do Mundo, a Gueuze é uma lambic tradicional, feita a partir da mistura de lambics novas com velhas e sem a adição de fruta. As mais velhas têm um caráter refinado, o que ajuda a retirar alguma aspereza às lambics novas, assegurando também que não se irá sentir nenhum sabor indesejado, fruto da fermentação espontânea característica desse tipo de cerveja. Na sua maioria são filtradas e algumas chegam a ser pasteurizadas. Após o engarrafamento, podem passar por um período de envelhecimento que, em algumas marcas, chega a até 3 anos. "Acima de tudo, as Gueuze são estruturalmente muito complexas, secas e únicas, podendo os melhores exemplos deste estilo ombrear com um bom champanhe sem qualquer tipo de vergonha!", garante Bruno Aquino, responsável pelo site Cervejas do Mundo. Para experimentar, ele recomenda a Oud Beersel Oude Geuze, a Drie Fonteinen Oude Geuze (foto) ou a Cantillon Goldackerl Gueuze.

segunda-feira, março 30, 2015

A inesgotável criatividade nordestina

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'Ão, ão, ão, Caça-Rato é seleção!'
Depois que o atacante Flávio Caça-Rato foi apelidado como CR 7 pela torcida do Santa Cruz, pois, além de ter as mesmas iniciais, também usava o número de camisa do atual melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, os nordestinos voltaram a aplicar sua inesgotável criatividade no futebol. No fim de semana, foram definidos os semifinalistas da Copa do Nordeste: o Bahia enfrentará o Sport, e o Ceará, o Vitória. Mas o melhor é que esse torneio, habitualmente conhecido como Nordestão, foi apelidado agora, pelos torcedores, de Lampions League (Liga do Lampião), que brinca com o nome da principal competição europeia.

Lampião, o 'Rei do Cangaço'
A frescagem repercutiu lá fora e, numa reportagem do correspondente Tales Azzoni para a Associated Press, os estrangeiros foram informados que o apelido do torneio nordestino faz "referência a Lampião, um conhecido e popular herói local da década de 1920, que permanece simbólico à região". Ao lado do cearense Padre Cícero e do pernambucano Luiz Gonzaga, o também pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, completa a tríade de nordestinos míticos. Considerado o "Rei do Cangaço", seu apelido deriva da lenda espalhada por seus comandados de que ele era capaz de atirar tão rápido que o cano da espingarda se "iluminava", de tão aquecido.

Camiseta criada pelos torcedores
Voltando à Copa do Nordeste, o apelido Lampions League pegou de tal forma que, além do gibão de couro na cabeça, muitos torcedores estão indo ao estádio com camisetas ostentando o nome fictício da competição. E, para completar a (maravilhosa) "esculhambação", foi composto e gravado até um tema para a "Liga", com típicos instrumentos nordestinos, cuja versão emenda o hino oficial da competição Europeia. Até me lembrei da paródia de "Quero voltar pra Bahia", de Paulo Diniz, que um cunhado meu cantava nos anos 1970: "Eu já falei pra minha tia/ Eu vou jogar de beque no Bahia". Bahia que pode conquistar a sensacional Lampion's League.


OUÇA O 'HINO' DA LAMPIONS LEAGUE:




sexta-feira, março 27, 2015

Imprensa tucana (até no exterior!)

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FHC: fomos surpreendidos novamente!
O constrangedor episódio em que a sucursal brasileira da agência de notícias britânica Reuters deixou escapar, no meio de um texto publicado na internet, um recado do editor para alguém, consultando se uma informação desfavorável a Fernando Henrique Cardoso deveria ser suprimida (veja reprodução do texto publicado no fim desse post), confirmou aquilo que todos - pelo menos todos os jornalistas - já sabiam: o dedo do PSDB pesa na pauta, no conteúdo e na edição final do que é produzido por muitos meios de comunicação. Não, não é delírio de petista, mania de perseguição ou teoria da conspiração. Pra começar, o dito texto é uma entrevista com o citado morto-vivo FHC, que nada influi na política nacional (e nem mesmo em seu partido) desde que saiu da presidência da República para o lixo da História - e a publicação de (dispensáveis e inúteis) declarações suas na imprensa corrobora a influência tucana sobre a mídia. Segundo, a tal entrevista foi feita por Brian Winter, coautor de um livro exatamente com o entrevistado (!). E, por fim, o vazamento do comentário, que dá ideia do nível de vassalagem de nossa mídia ao PSDB e que atinge até (financeiramente?) uma sucursal de agência estrangeira. Delírio? Paranoia? Mistificação?

Goebbels: 'mentor' da mídia tucana
Com 21 anos de profissão, ao bater o olho no recado esquecido no meio da entrevista ("Podemos tirar, se achar melhor"), referindo-se a possível e "apropriado" corte da informação de que "o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997, no governo tucano [de FHC]", me pareceu um caso clássico de "acordo" em matéria "encomendada". Comecemos assim: um veículo de comunicação toma a iniciativa ou é pautado por "instâncias superiores" (PSDB?) a publicar textos/reportagens/entrevistas/notícias/notinhas maldosas/entrevistas insinuando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (provável e temido candidato em 2018) é o principal responsável pela roubalheira na Petrobras. A ordem é bater nessa tecla diariamente, por meses (ou anos) a fio, até que se concretize a máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda no regime nazista de Adolph Hitler, de que "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Para estrear a série, fica acertada uma entrevista com FHC - até porque, inativo e pouco lembrado em seu ostracismo eterno, ele está sempre a postos e disponível para se prestar a esse tipo de coisa (disparar acusações sem provas). Mas há condições pré-combinadas num "negócio" desses.

Livro de Winter, 'submetido' a FHC
Uma delas é a escolha, a dedo, do entrevistador. Nada mais garantido, amigável e confortável do que um jornalista que escreveu, em coautoria com FHC, um (obviamente favorável!) livro sobre as memórias do ex-presidente tucano. Aliás, o método de produção dessa obra nos remete diretamente ao episódio grotesco do recado que escapou na edição da Reuters (o grifo é meu): "O autor da versão original, Brian Winter, entrevistou, pesquisou e submeteu o texto a Fernando Henrique" - de acordo com revelador texto de David Hulak, da Revista Será, que tem o mais do que sugestivo slogan "Penso, logo duvido". Então retornemos ao que eu disse sobre "acordo" em matéria "encomendada". É simples: você ouve o "cliente", digo, o entrevistado, e se compromete a só publicar o texto depois que ele leia a versão editada, ordene alterações ou não, e autorize a publicação. Nas redações, num código informal entre os profissionais, isso é totalmente proibido e, caso aconteça e seja flagrado, geralmente causa a demissão do jornalista. Porém, se os proprietários do veículo de comunicação têm interesse no "negócio" e autorizam tal "acordo" (tucanamente falando), resta apenas aos subordinados o cumprimento das ordens. Mas sem vazar recadinhos, de preferência!

PSDB manda e desmanda na mídia
A empresa britância tentou justificar dizendo que a frase, "publicada acidentalmente", é uma "pergunta" de um dos editores do serviço brasileiro da agência "ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês". Não convence ninguém - pelo menos entre os que têm décadas de experiência em redações. Porém, mesmo aceitando essa desculpa, o procedimento continua sendo aviltante e injustificável. Porque a consulta (seja lá de quem pra quem) é se uma informação negativa e comprometedora contra FHC e o PSDB deve ser suprimida da versão publicada para o leitor. E, não por acaso, a única informação ruim contra os tucanos num texto que detona o Lula e o PT pela mesmíssima denúncia da Petrobras. Agora, pra encerrar, deixo minha opinião: o tom do recado, com o verbo no plural ("Podemos tirar"), e com o destinatário no singular ("se [você] achar melhor"), me sugere fortemente que os editores finais do "trabalho sujo", digo, da entrevista, estavam cumprindo o acordo de submeter o texto ao "cliente" - FHC ou alguém do PSDB incumbido de resolver o assunto. Assim como Brian Winter, como observei no parágrafo acima, "submeteu o texto [do livro sobre FHC] a Fernando Henique". A gafe da Reuters taí, pra que não restem quaisquer dúvidas.

Mas, como diria Rita Lee, "quando a gente fala mal/ a turma toda cai de pau/ dizendo que esse papo é besteira". No que Raul Seixas complementaria: "eu não preciso ler jornais/ mentir sozinho sou capaz/ não quero ir de encontro ao azar". Nem eu!

P.S.: Antes que alguém me acuse de "paranoia, delírio e mistificação", adianto que as imagens acima não foram publicadas à direita por acaso, nem por mera coincidência.


A 'prova do crime': editores consultam alguém (FHC? PSDB?) sobre informação negativa e comprometedora

Som na caixa, manguaça! - Volume 84

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 PRECISO DE ALGUÉM

 (Composição: Evaldo Gouveia e Fagner)


FAGNER


Quando fiquei só
Tudo ao meu redor
Foi perdendo a graça pra mim
Claro que sofri
Quase enlouqueci
Nunca me senti assim

Mas depois passou, tudo se acalmou
Foi só um momento ruim
Essas fases más, de falta de paz
De insônia e de botequim
Mas cansei de vagar, fiquei farto de bar
De perfume vulgar, cigarro e gin


Eu não tenho ninguém, mas preciso de alguém
Pra evitar o meu fim
Eu não posso ocultar o que o amor me fez
Eu não quero passar por tudo outra vez
Pra sofrer e chorar mais uma ilusão
Eu me ajeito com a solidão

Mas cansei de ficar completamente só
Essa falta de amar também já sei de cór
Só me resta esperar que a chama da paixão
Volte ao meu coração


(Do CD "Fortaleza", Som Livre, 2007)


quinta-feira, março 19, 2015

O bom da Wikipedia é que a gente 'aprende'

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Na versão espanhola da Wikipedia, a definição de "Café frio":



Tradução: "O café frio é uma variante fria do café bebido normalmente quente."

DEPOIS O BÊBADO SOU EU!


Leia também:

Nada é tão óbvio que não possa ser redundante




Sofredores

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Sãopaulino reza, reza, reza...
O torcedor do Corinthians sempre se orgulhou de ser "sofredor", no sentido de que grande parte de sua imensa torcida integra as classes econômicas mais humildes. Mas, de 2009 pra cá, esse adjetivo pode ser aplicado também ao torcedor do São Paulo, só que, desta vez, no sentido futebolístico da expressão. Ser sãopaulino e acompanhar os jogos do Tricolor, nas últimas seis temporadas (contando com esta), é conjugar o verbo sofrer em todas as suas declinações. Tirando uma dúzia de atuações convincentes, contra equipes realmente fortes, nestes últimos seis anos, o resto foi de vitórias contra times mais fracos e sofrimento - muito sofrimento! - em todos os momentos em que o time precisou decidir alguma coisa. Nem na decisão da Copa Sul-Americana de 2012, único título do período, deixamos de sofrer. O adversário argentino (Tigre) recusou-se a voltar para o segundo tempo, sob alegação de que havia sofrido agressões, e os sãopaulinos viveram minutos intermináveis de tensão até o juiz encerrar o jogo e confirmar a vitória brasileira. Sufoco, sempre sufoco...

Sofrer: rotina de 2009 para cá
Aliás, falando em mata-mata, a coleção de decepções é vasta: no Paulistão, três semifinais seguidas perdidas para o Santos (entre 2010 e 2012), duas para o Corinthians (2009 e 2013) e até para o Penapolense (2014)! Na Copa do Brasil, passamos vexame contra Avaí (2011), Coritiba (2012) e Bragantino (em pleno Morumbi, 2014). Aliás, falando em perder jogos decisivos em casa, o São Paulo conseguiu a proeza, também, de ser eliminado da Sul-Americana, diante da própria torcida, pela Ponte Preta (2013) e pelo Atlético Nacional (2014). Na Libertadores, o sofrimento sempre é contra times brasileiros, e isso já há nove anos: perdemos para o Internacional (2006 e 2010), Grêmio (2007), Fluminense (2008), Cruzeiro (2009) e Atlético-MG (2013). Perdemos a Recopa de 2013 para o Corinthians. Já nos pontos corridos, batemos na trave e terminamos como vice do Brasileirão em 2009 e 2014. Nas duas oportunidades, tivemos rodadas ou confrontos diretos em que uma vitória deixaria o título bem encaminhado. Mas perdemos ou empatamos. E morremos na praia.

Tá difícil torcer pro São Paulo
Fora isso, quase fomos rebaixados no Brasileirão de 2013, naquela que talvez tenha sido a pior temporada do São Paulo em 84 anos de existência. Mas o mais grave, e o que mais incomoda, de 2009 pra cá (curiosamente, entre a saída de Muricy Ramalho e sua volta), é a extrema dificuldade de formar um time de verdade. De fazer com que o torcedor saiba de cor e salteado a relação dos 11 titulares. De ter um padrão técnico, tático e estratégico. De ter zagueiros confiáveis, laterais indiscutíveis, volantes marcadores e bons apoiadores, meias efetivos e artilheiros, atacantes unânimes. De cabeça, só consigo me lembrar de dois momentos em que conseguimos ter um time realmente definido: no fim de 2012, quando Ney Franco fixou o esquema com dois pontas e um centroavante (mas Lucas era peça fundamental e, quando saiu, tudo desmoronou); e em 2014, quando Muricy alcançou um estilo de jogo coletivo (mas que dependia de Kaká e, quando ele se foi, tudo desmoronou de novo). Nas outras temporadas, vimos só indefinição, improviso, irregularidade.

Ufa! Só Michel Bastos salva!
Ontem, a vitória contra o San Lorenzo foi outro "show de sofrimento" para a torcida sãopaulina. Como esse time de 2015 sofre para chutar no gol adversário! Sempre que pega adversário forte (Santos, Corinthians, San Lorenzo), a dificuldade de articular jogadas pelo meio ou pelas laterais e de emplacar algum contra-ataque rápido é assustadora. Quando os zagueiros ou os volantes recebem a bola de Rogério Ceni, não sabem o que fazer com ela. Não existe qualquer planejamento para a saída de bola. Invariavelmente, ela bate nos laterais ou nos meias e retorna para a defesa, que dá um chutão e rifa a bola para a frente. Não há qualquer jogada ensaiada para o tradicional "um dois" entre laterais e pontas e deles com os atacantes que caem pelo meio. Aliás, os laterais não têm ideia do que fazer na maior parte do tempo e tanto marcam quanto atacam mal. Ganso joga pessimamente; Luís Fabiano fica só assistindo, sem ação. Para sorte dos sãopaulinos, o clube é o "da fé". E, apelando para o "Muricybol" (20 bolas alçadas na área), só Michel Bastos salva... Ufa! Quanto sofrimento, meu Deus! Até quando? Até quando...



Cerveja sim, mata-mata não!

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Neste país, todo avanço parece estar condicionado a algum retrocesso, e  vice-versa. Vejamos: a comissão de clubes formada recentemente para debater a volta do sistema mata-mata (retrocesso) no Campeonato Brasileiro discutirá também a retomada da venda de cerveja nos estádios (avanço). Assim como, há pouco mais de uma década, tivemos a adoção do sistema de pontos corridos (avanço) e, como contrapartida, a proibição da venda de goró nos estádios (retrocesso). Ou seja, a gente  muda para depois voltar a ser tudo como antes. Bonito isso.


terça-feira, março 17, 2015

Socialismo e anarquismo - para crianças

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Chiados e riscos nostálgicos na estante da sala
Ao embutir uma estante na parede da sala, e instalar, nela, um aparelho de som com toca-discos, passei uma noite inteira deleitando os ouvidos com velhos LPs, observando as artes das capas gastas pelo tempo e curtindo até os nostálgicos chiados e riscos que os CDs eliminaram. Discos bem antigos da Simone, Toquinho & Vinicius, Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Milton Nascimento, trilhas de novelas e de filmes, duplas caipiras, música brega, rockinho brasileiro dos anos 80, coletâneas de tangos e de canções italianas, música andina, blues, jazz, guarânias, mela-cueca, enfim, uma miscelânea anárquica e heterogênea que catei aqui e acolá nos últimos 20 anos. Tem até um LP do (falecido) ator Cláudio Cavalcanti, de 1971, em que ele declama poemas e canta várias canções, como "Let it Be", dos Beatles (!). A última parada foram os discos infantis, para que minha filha Liz, de 12 anos, se familiarizasse - e se divertisse (muito!) - com o manuseio dos anacrônicos vinis e do toca-discos. E conhecesse, por tabela, o som que as crianças consumiam em tempos idos: Patotinhas, Arca de Noé, Pirlimpimpim, Balão Mágico etc etc.

Capa do vinil lançado no Brasil há 38 anos
Foi aí que encontramos o LP "Os Saltimbancos", de 1977, versão brasileira do musical inspirado no conto "Os Músicos de Bremen", dos Irmãos Grimm, com letras do italiano Sergio Bardotti e músicas do argentino Luis Enríquez Bacalov. Aqui, as letras em português foram feitas por Chico Buarque, e interpretadas, no LP, por Miúcha, Nara Leão, Magro e Ruy (ambos do MPB4). Liz já tinha ouvido essas músicas, mas sem prestar muita atenção. Daí eu expliquei o caráter político do musical, com o personagem Jumento representando a classe trabalhadora, a Gata os artistas e libertários, o Barão a elite conservadora, e daí por diante. A tese central, no enredo que conta a união de quatro animais contra o jugo de seus donos, é marxista: "Todos juntos somos fortes/ Somos flecha e somos arco/ Todos nós no mesmo barco/ Não há nada pra temer" (da música "Todos juntos", sintetizando o que o velho Karl quis dizer com "Trabalhadores do mundo, uni-vos"). Mas eu mesmo nunca tinha atentado para a ousadia do Chico Buarque. Como é que isso passou pela censura da época?

Chico e sua filha Silvia, em 1977: ousadia
Na letra de "Um dia de cão", que apresenta o personagem Cachorro, a provocação aos militares é escancarada: "Lealdade eterna-na/ Não fazer baderna-na/ Entrar na caserna-na/ O rabo entre as pernas-nas". E mais: "Fidelidade à minha farda/ Sempre na guarda do seu portão/ Fidelidade à minha fome/ Sempre mordomo/ E cada vez mais cão". A zombaria (pesada) à obediência canina e nunca questionada dos militares é arrematada com a frase "Sempre estou às ordens, sim, senhor!". Por algo muito semelhante - os versos "Há soldados armados, amados ou não/ Quase todos perdidos de armas na mão/ Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição/ De morrer pela pátria e viver sem razão", de "Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando e cantando)" - o Geraldo Vandré tornou-se o inimigo musical nº 1 dos militares e sofreu forte perseguição. Mas as sutilezas de "Os Saltimbancos" não param por aí. Na música que apresenta a personagem Galinha, Chico Buarque ironiza (os grifos são meus): "Pois um bico a mais/ Só faz mais feliz/ A grande gaiola/ Do meu país". Hoje isso pode parecer uma bobagem sem importância, mas, naqueles tempos bicudos, isso era uma provocação pra lá de temerária. Só que, de alguma forma, passou pela censura.

Raul: anarquia para crianças (na Globo!)
Outro LP revisitado, dessa vez muito menos político, foi o "Plunct, plact, zum", trilha sonora de um especial infantil exibido pela TV Globo em 1983. Tinha no elenco os humoristas José Vasconcelos e Jô Soares, as cantoras Fafá de Belém e Maria Bethânia e os cantores/compositores Eduardo Dusek e Raul Seixas. E foi este último que, pra variar, "carimbou" ali, naquela inocente atração global para crianças, um componente político inusitado. Encarnando o "Carimbador Maluco", Raul compôs uma canção homônima que fez enorme sucesso (tirando-o de um ostracismo de três anos sem gravar) e que botou na boca das crianças - e do povo - os versos iniciais "Tem que ser selado, registrado, carimbado/ Avaliado, rotulado/  Se quiser voar!". Pois isso foi tirado simplesmente de um texto anarquista, "Ser governado", de Pierre-Joseph Proudhon, publicado em 1851 no livro "Idée générale de la révolution au XIX e siècle" ("Ideia geral de revolução no século XIX"). Diz o filósofo e político francês: "Ser governado é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento, notado, registrado, recenseado, tarifado, selado, medido, cotado, avaliado, patenteado, licenceado, autorizado, rotulado, admoestado, impedido, reformado, reenviado, corrigido". Isso mesmo: anarquia para crianças! E na Rede Globo! Grande Raul. A Liz adorou tudo isso.


segunda-feira, março 16, 2015

Tomaram conta

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Bolinha voa sobre Serra: ódio
O triste "espetáculo" que tomou as ruas ontem, em todo o país, confirma que, ao contrário do que comemorava a campanha eleitoral do Partido dos Trabalhadores, a esperança NÃO venceu o ódio quando a presidente Dilma Rousseff foi reeleita. Muito pelo contrário. "Nunca antes", desde que Lula tomou posse, em 2003, este sentimento de ódio irracional e violento esteve tão forte, palpável e amedrontador. Em post escrito em novembro de 2010, comentei: "A campanha de esgoto que o tucano José Serra fez (...) nas eleições presidenciais conseguiu trazer para os holofotes os setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira e acentuou à tensão máxima o ódio, o preconceito e a divisão raivosa entre nós". Me enganei. Não havíamos, na época, chegado à tensão máxima. Aquele clima de "vamos fazer justiça com as próprias mãos, vamos matar e esquartejar esses petistas desgraçados" detonado por Serra - e a "grande" imprensa - com a lamentável e constrangedora farsa da bolinha de papel era apenas o início da escalada do ódio. E, depois de ontem, tenho medo só de imaginar quando a tensão máxima de fato for atingida...

"Deus" e "militares": como em 1964
Esse ódio, que sempre foi insuflado pela elite e a mídia golpistas contra o citado Partido dos Trabalhadores, seus integrantes e militantes, agora passou a um outro nível. Ao receber todos os palanques, holofotes e espaços possíveis, estes "setores mais atrasados, conservadores e extremistas da sociedade brasileira" ultrapassaram a fase de negação (dos "petistas", dos "sem-terra", dos "comunistas", "cubanos", "bolivarianos", "chaviztas" etc etc etc etc) e partiram para a afirmação pública, explícita e orgulhosa de todas as suas bandeiras (as piores possíveis). Depois de ontem, o impeachment ao governo Dilma Rousseff, o ódio ao PT, a Petrobras, a "corrupção generalizada", a "crise" econômica e outros quetais passaram a ser apenas o granulado do bolo. A verdadeira massa deste quitute é o fim da democracia partidária e das eleições diretas, a defesa do retorno à ditadura militar, a criminalização dos trabalhadores organizados, o combate a todo e qualquer movimento dos excluídos, dos negros, dos nordestinos, das mulheres, dos homossexuais.

Janine: ataque aos direitos humanos
Mesmo em minoria (pois perderam as últimas quatro eleições presidenciais), os conservadores e extremistas tomaram conta não apenas das ruas, mas do cenário político e midiático, da internet e de todos os locais onde alguém se atreve a falar sobre algo que eles odeiam. Dá discussão. Dá briga. A sem-cerimônia com que os "líderes" do tal movimento "Revoltados Online" faz propaganda do execrável Jair Bolsonaro (PP) como seu preferido na disputa presidencial de 2018 dá ideia de onde o ódio disseminado pela oposição e pela imprensa irresponsável nos levou. Como bem observou o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor da cadeira de Ética e Filosofia Política da USP, em palestra recente, "A extrema-direita está se distinguindo do restante por um ódio cabal aos direitos humanos. (...) Atacam o homossexual, a igualdade de gênero, os direitos das mulheres. (...) O perigoso no Brasil, de certa forma, é a extrema-direita ir se aproximando da direita e contaminando, a ponto de seu apoio se tornar essencial. (...) Estamos tendo no Brasil uma tolerância, que é grande, com condutas antidemocráticas que deveriam ser tipificadas como criminosas… Pregar a volta dos militares deveria ser crime, deveria levar a pessoa para a cadeia". EXATAMENTE.

Cômico, se não fosse trágico: brincadeira na Internet reflete bem do que se trata o post