Destaques

quinta-feira, agosto 06, 2015

"Até nas 'trompa' de lata de cerveja"

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Mick Jagger, Marianne Faithfull, Anita Palenberg e Keith Richards no Brasil, em 1968
Relendo "Vida", a autobiografia de Keith Richards (já citada neste post aqui), cheguei ao trecho em que o guitarrista fala sobre a viagem que fez ao Brasil, em dezembro de 1968, acompanhado por Mick Jagger e pelas namoradas Anita Pallenberg e Marianne Faithfull, esta última com o filho pequeno Nicholas. Foi durante a viagem de navio que fizeram de Lisboa ao Rio de Janeiro que os dois rolling stones adotaram o apelido de Glimmer Twins. Havia uma passageira, aristocrática, que eles chamavam de "Mulher-Aranha". Tanto ela como os outros ricos a bordo começaram a fazer perguntas para tentar descobrir quem eles eram. "Nunca respondemos, e um dia a Mulher-Aranha deu um passo à frente e pediu: 'Oh, nos deem uma pista, nos deem um vislumbre [a glimmer]'. Mick se virou para mim e disse: 'Somos os Gêmeos Vislumbre'", lembra Keith. "Batizados no Equador, os Gêmeos Vislumbre [Glimmer Twins] foi o nome que mais tarde usamos como produtores de nossos discos".

Os Glimmer Twins desembarcando no Rio de Janeiro, 16 dias após o decreto do AI-5
Segundo o jornal "O Estado de S.Paulo" (leia aqui), o grupo desembarcou no porto do Rio de Janeiro no dia 29 de dezembro de 1968, apenas 18 dias depois de terem gravado, em Londres, o malfadado - e abandonado por 27 anos - filme "Rock and Roll Circus", com John Lennon, Yoko Ono, The Who, Eric Clapton, Taj Mahal e Jethro Tull. E exatamente 16 dias após o decreto, pelos ditadores militares, do nefasto Ato Institucional nº 5. Naquele exato momento, ali, na capital do então Estado da Guanabara, por conta exatamente do AI-5, os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam presos num quartel da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, depois de terem sido detidos, dois dias antes, na cidade de São Paulo. Alheios a tudo isso, os dois rolling stones e suas acompanhantes se instalaram no tradicional Copacabana Palace. Não demorou para que a imprensa os descobrisse e começasse o assédio - do qual eles queriam exatamente fugir naquelas "férias".

Mick, Keith e suas namoradas são flagrados na beira da piscina do Copacabana Palace
Hotel Jaraguá, na década de 1960
No Rio, Anita Pallenberg tratou de folhear uma lista telefônica em busca de um médico e, assim, confirmou suas suspeitas: estava grávida de Marlon, o primeiro filho dela e de Keith Richards, que nasceria em agosto de 1969. Depois de passarem o Ano Novo no Rio, assistindo os fogos em Copacabana, os cinco seguiram de carro para São Paulo, onde se hospedaram no Hotel Jaraguá, no Centro. Mas ficaram pouco tempo, pois havia outro destino planejado: a Fazenda Boa Vista, do amigo e banqueiro Walter Moreira Salles, em Matão, no interior paulista. "Ficamos alguns dias numa fazenda, onde Mick e eu compusemos 'Country honk', sentados numa varanda como caubóis, pés no parapeito, fazendo de conta que estávamos no Texas. Era a versão country do que se transformou no single 'Honky tonk women' quando voltamos à civilização", esculhamba Keith, em sua autobiografia. Confira a"Country honk" original:


Rara foto de Mick e Keith em Matão
Os 15 dias que passaram naquela região viraram folclore e renderam, em 2013, o documentário "Aliens 69: Quando os Rolling Stones invadiram Matão" (clique aqui para assistir), produzido por Diego Gibertoni, Fernanda Vilela, Gianfrancesco Barian, Matheus Carvalho e Rafael Zocco como trabalho de conclusão do curso de jornalismo na Uniara, em Araraquara (SP). Nos arredores do casarão da Fazenda Boa Vista, Keith Richards e Mick Jagger não só compuseram o que seria "Honky tonk women" como zanzaram pelados pelo meio do mato, espalharam dezenas de pires de papelão boiando com velas coloridas na piscina, soltaram todo o estoque de fogos de artifício que compraram em uma lojinha local e improvisaram uma festa junina, com fogueira, sanfona, crianças (!) e, lógico, regada a muitas substâncias - lícitas e ilícitas. E entre as lícitas, uma absoluta novidade em terras brasileiras: cerveja em lata.

Latas de cerveja: novidade que os Glimmer Twins trouxeram ('até nas trompa') ao Brasil
"Do nada, à tardinha, chega uma Land Rover, aquelas peruona monstro, 'até nas trompa' de lata de cerveja, de tudo que cê pensar", narra, em fluente "caipirês", no documentário "Aliens 69", Wanderley Zanoni, o funcionário da fazenda encarregado de atender os convidados famosos e supri-los, diariamente, com jornais. Ele lembra que a maior bebedeira aconteceu na tal festa junina improvisada em pleno janeiro, ao som de um sanfoneiro de 12 anos de idade. O menino emprestou o instrumento a Mick e Keith e diz que eles souberam tocá-lo. "Tomaro a noite interinha, sortaro todos os fogos que cê pensar", diverte-se Zanoni. "O que bebêro foi brincadêra aquela noite", acrescenta, no dialeto que eu, caipira de Taquaritinga, cidade vizinha a Matão, também "cunhêço dimais da conta". No fim do documentário dos estudantes, Zanoni garante que, depois que os rock stars foram embora, havia em um dos quartos ocupados por eles rastros de sapato que iam do chão até o alto da parede, como se alguém tivesse tentado andar no teto (!). "Ô, povo loco!", espanta-se.

O caipira de Matão fala sobre os Rolling Stones à EPTV, retransmissora regional da Globo
Na Plaza San Martin, em Lima
Mas a loucura não terminou em Matão. "Marianne voltou para a Inglaterra para tratar do filho, Nicholas, que tinha adoecido no navio e passado a maior parte da viagem na cabine. Assim, Mick, Anita e eu pegamos o caminho de Lima, no Peru, e daí para Cusco", relata Keith, em seu livro. No hotel, como a descarga não estava funcionando, a (gestante) Anita Pallenberg sentou-se na pia do banheiro para urinar. Prossegue Richards: "No meio da mijada, a pia desabou, caiu no chão e a água começou a jorrar de um cano enorme. Uma verdadeira comédia dos irmãos Marx". Depois de viverem mais aventuras mascando folhas de coca e assistindo o namorado gay do cônsul britânico se contorcendo em uma estranha dança no chão da casa do diplomata, Keith e Mick foram até Urubamba, uma aldeia próxima a Machu Picchu, típico "fim de mundo no meio do nada" (o blog "Andarilhos do Mundo" registraria, já em 2013: "A estação de Urubamba é bem fora de mão para a maioria das pessoas"). Segundo o relato de Keith, em janeiro de 1969 a aldeia não estava nos mapas de turismo nem dispunha de um hotel.

À imprensa peruana, os stones disseram: 'Viemos ver o efeito destruidor da cultura europeia'
Livro sobre a vinda dos Stones ao Brasil
"Conseguimos achar um bar e tivemos uma boa refeição", narra Richards, sobre um local em que, compreenderam rapidamente, ninguém fazia a menor ideia de quem eles eram. "E agora, alguma chance de dormir um pouco? No princípio, ouviu-se na sala uma porção de nãos, mas eles notaram que tínhamos um violão conosco. Cantamos para eles por cerca de uma hora, tentando apresentar qualquer coisa antiga que a gente lembrasse. Parecia que tínhamos de obter o voto da maioria para sermos convidados a dormir no local. (...) Toquei alguns trechos de 'Malagueña' e mais umas coisas que pareciam ter um tom vagamente espanhol (...) Finalmente, o senhorio avisou que podíamos ficar em dois quartos no andar de cima. Foi a única vez que Mick e eu cantamos em troca de hospedagem". Do Peru de volta para a Inglaterra, depois de tantas aventuras e desventuras, Richards e Jagger gravaram o álbum "Let it bleed" - "Deixa sangrar", sacanagem com "Let it be" ("Deixa estar"), dos Beatles -, que incluiu a versão roqueira de "Honky tonk women".

Mas faria todo sentido, ao menos pra eles, se tivessem incluído no disco a valsa tradicional "Saudades de Matão", música de João Galati e letra de Pedro Perches de Aguiar (que, quando a escreveu, residia na minha cidade natal - leia aqui). Encerro o post, abaixo, com a clássica versão gravada por Tonico e Tinoco. I know, it's only moda de viola, but I like it.



P.S.: No livro "Magical Mystery Tour" (Editora Seoman, 2005), Tony Bramwell, um dos assessores do Beatles, dá um motivo diferente para a viagem de Jagger e Richards ao Brasil. Segundo ele, a dupla estava fugindo das artimanhas do empresário Alen Klein, que já os havia enganado (e que, muito tempo depois, seria preso por crimes contra a receita federal nos Estados Unidos). Um ano após a aventura na América do Sul, quando souberam que Klein estava tentando se tornar o empresário dos Beatles, os Stones correram para alertar John Lennon. "Fiquem longe dele. Ele sacaneou a gente, cara", disse Mick Jagger, segundo Bramwell. "Tivemos que fugir para a porra de Matão para escapar", frisou Keith Richards. Bramwell conta que o guitarrista prosseguiu (os grifos são meus): "Foi lá que surgiu Honky Tonky Women. Estávamos em uma fazenda no meio do inferno em Matão, no Brasil, e havia mais caubóis do que no Texas. Eu e Mick estávamos em frente à varanda fazendo aquelas coisas de fazenda que adoro fazer. Seguimos a linha Hank Williams, bebendo caixas de Jack Black e cerveja e usando os trajes. Toquei para ele uma coisa que chamei de 'Country Honk'. Tocamos bem devagar e trabalhamos nela até que dissemos, meu Deus! Não podemos mostrar isso para os Stones. Vão rir de nós. O quê? Charlie? Bill? Nunca! Eles vão largar os instrumentos e correr para o bar. Mas mostramos. Arriscamos e talvez tenham sido as palavras, sei lá, mas eles gostaram da batida e ela ficou mais alta, mas ainda era country". Foi então que Jagger fez uma observação para Lennon que guarda muita relação com o preconceito sofrido pela música caipira em terras brasileiras: "Mas só nos Estados Unidos entenderam. Eles não se importavam. Aceitaram a música e gostaram, mas se fosse na Inglaterra, se dissesse que estava fazendo uma música country, ririam na sua cara. Ainda riem". Tony Bramwell completa: "É engraçado, mas eu ainda adoro essa música. Escrita pelos dois talentos de Dartford Kent [Mick & Keith] enquanto bebiam e brincavam de serem vaqueiros no fim do mundo, em fuckin' Matão. Este é o mundo da música".


terça-feira, agosto 04, 2015

'Podia ter um bar por aqui...'

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No programa "Espelho", apresentado pelo ator Lázaro Ramos no Canal Brasil, o mítico Luis Carlos Miele é entrevistado em um bar (veja aqui, se tiver senha de assinante) e conta sobre a época em que estava ensaiando a peça de teatro "Ménage à trois", com Rogéria e Chico Caruso, e vários de seus amigos morreram naquela época, em sequência, como Millôr Fernandes, Ivan Lessa e Chico Anysio. A série trágica fez até com que o nome da tal peça teatral mudasse para "Homenagem à trois". E, numa dessas (muitas) idas e vindas ao Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Miele encontrou o cartunista Jaguar - que, como ele, é um pé-de-cana "profissional" e "militante":

- Ô, Jaguar, a gente tá vindo tanto aqui que devia montar um bar do outro lado da rua e já ficar sentado lá, esperando o próximo enterro!

- Boa ideia, Miele! A gente abre conta e paga por mês.

- Pois é. E quando chegar nossa hora, é só atravessar a rua!

- Isso! E eu já tenho até o nome do bar.

- Qual é, Jaguar?

- SAIDEIRA.


sexta-feira, julho 31, 2015

'Crise' ou 'bonança' no noticiário econômico depende do preço

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Já tô com os pacová cheio dessa conversinha sobre "crise econômica" no Brasil, principalmente depois de viajar a Portugal e testemunhar hordas e hordas de milhares, quiçá milhões, de brasileiros passeando, comendo e bebendo do bom e do melhor e gastando "os tubos", sem limite ou preocupação com o dia de amanhã. Vários portugueses e espanhóis comentaram, de forma agradecida (e sem que eu perguntasse nada), que somos nós que estamos salvando a economia deles. Um amigo que trabalha com emissão de passagens aéreas diz que, todo dia, na primeira hora de expediente, seus colegas fazem mutirão para dar conta da demanda. Conheço dezenas de pessoas (inclusive familiares) que, nos últimos meses, trocaram de carro (para modelos caríssimos), compraram imóvel ou fizeram viagem ao exterior. Fora os (altos e permanentes) gastos com cães e gatos, salões de beleza, roupas caras, almoçar e jantar fora, cervejas importadas, comidas gourmet, academias de ginástica etc etc etc. Quanto mais os supermercados aumentam os preços, mais eles gastam; e quanto mais eles gastam, mais aumentam os preços. Realmente, essa "crise" até a Grécia quer... Mas eu sei, a onda é "fora, Dilma", "morra, Lula", "petrolão", "crise", "inflação", bla-bla-bla-blá. Se deu no Jornal Nacional ou na Veja, é "fato". Será?

Em 16 de maio do ano passado, o camarada D.Sartorato alertou em uma rede social: "O alvo agora é o Brasil, e já está rolando com toda força o festival de más notícias na mídia internacional (na nossa aqui não precisa nem comentar, nada mudou), com o objetivo de criar receio entre os investidores internacionais (...) A Petrobras já está na mira dos parasitas". E agora, 14 meses depois, leio notícia do Portal Fórum sobre desenvestimento na Petrobras por pressão internacional... Mas voltando lá atrás, em 22/05/2014, sob o comentário "começou a baixaria", Sartorato fazia novo post na rede social com a seguinte nota do blog de Fábio Alves, do caderno "Economia & Negócios", do Estadão: "Dólar sobe se Dilma vencer e cai se ela perder, diz consultoria". "A palavra-chave dessa história é confiança e o mercado financeiro hoje não tem mais confiança na presidente", opinava ao jornal Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências - ou, mais apropriadamente, TENDENCIOSA, pois sempre esteve alinhada ao PSDB (veja aqui, aqui, aqui e mais aqui).

Pois bem: lendo o interessante "1929 - Quebra da Bolsa de Nova York, a história real do que viveram um dos eventos mais impactantes do século", de Ivan Sant'Anna (Editora Objetiva, 2014), cheguei à conclusão de que o autor batizou o capítulo 19 de "Espertos e otários" referindo-se, exata e respectivamente, aos meios de comunicação e aos leitores. Antes, no capítulo 5, Sant'Anna explica que, nos negócios na Bolsa, grandes especuladores se unem para fazer pools de compra de ações, enganando todo mundo e lucrando horrores. Explica ele (e o grifo é meu): "Poderíamos definir como 'puxadas', vários corretores se reuniam, adquiriam grandes lotes de determinado papel e começavam a espalhar notícias favoráveis a respeito dele, inclusive subornando jornalistas. Isso atraía levas de compradores gananciosos, em busca de um lucro fácil. Os preços então subiam e os integrantes do pool se desfaziam de maneira ordenada de seus títulos, deixando para a manada de investidores que vinha atrás o prejuízo quando sobreviesse a inevitável baixa, numa espécie de jogo das cadeiras". Manada de investidores = manada de leitores crédulos.

Voltando ao capítulo 19, o autor do livro narra uma dessas maracutaias, digo, um desses pools feito em março de 1929, às vésperas da quebra da Bolsa de Nova York, para "alavancar" ações da RCA, e detalha: "Restava (...) aos puxadores o mais difícil em qualquer pool: vender seus papéis para uma nova onda de compradores. (...) Tal mágica só era possível porque Michael Meehan, Tom Bragg, Ben Smith e seus parceiros [do pool] tinham a seu soldo uma equipe de jornalistas conceituados. Conceituados aos olhos do público, que era o que interessava". A seguir, lista alguns jornalistas da época que escreviam para os "otários": Richard Edmondson, do Wall Street Journal; William Gomber, do Financial America; Charles Murphy, do New York Evening Mail; J. F. Lowther, do New York Herald Tribune; William White, do New York Evening Post e W. F. Walmsley, do The New York Times. Segundo Sant'Anna, todos eles "aceitavam suborno para divulgar notícias falsas a respeito da empresa que os participantes de pools queriam puxar ou derrubar".

O livro conta que "as notícias foram tão exageradas que em 13 de março, graças a um artigo do Wall Street Journal, a [ação da] RCA fechou a 94 dólares" e que em 16 de março o valor subiu para 109 dólares, quando, "embora ninguém soubesse, a não ser seus integrantes, o pool se livrou de suas últimas ações". Restou aos "otários" que acreditaram nos jornais arcar com o rombo em 23 de março, quando o preço da mesma ação da RCA despencou para 87 dólares. E os "espertos" faturaram alto: "O lucro líquido do pool concebido por Michael Meehan foi de 4.924.078,68,00 de dólares", diz o livro. Mas Ivan Sant'Anna lembra-se de uma honrosa exceção na classe jornalística, Alexander Noyes, editor financeiro do The New York Times, que "continuava convicto de que a alta da Bolsa se aproximava do fim e o dizia abertamente em seus comentários no jornal". "Derrotista é o que ele é. O jornal deveria despedi-lo", acusavam seus detratores. Algo como destacar aspectos econômicos favoráveis do governo Dilma (aos assalariados ou aos mais pobres, por exemplo) em meio à tormenta - o que pode render não só bate-boca como violência física, hoje em dia, no Brasil.


terça-feira, julho 28, 2015

Pra fazer a economia (ou a cabeça) girar

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segunda-feira, julho 27, 2015

Pato emPata com Paulo Lumumba

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Lumumba também fez 29 gols pelo São Paulo
Informação "relevante": com a confirmação de que o gol da vitória do São Paulo sobre o Cruzeiro ontem foi mesmo de Alexandre Pato (depois de o 4º árbitro ter apontado Carlinhos como autor e voltado atrás), o atacante chegou a 29 tentos marcados com a camisa do Tricolor e empatou, na 80ª posição do ranking histórico dos artilheiros do clube, com Paulo Lumumba. Para quem nunca ouviu falar nesse jogador (o que é mais do que provável), o gaúcho Paulo Otacílio de Souza (1936-2010) jogou pelo time do Morumbi nas temporadas de 1960 e 1961 e também atuou por Grêmio e Fluminense. Assim como Pato (até agora), Lumumba não ganhou título algum pelo Tricolor.

Bicampeão brasileiro, Hugo hoje está sem clube
Atleta pertencente ao Corinthians, Alexandre Pato está emprestado ao São Paulo até dezembro deste ano e, assim, pode alcançar outros jogadores que passaram pelo clube recentemente no ranking dos artilheiros do Tricolor: Hugo, bicampeão brasileiro em 2007 e 2009, e que está livre no mercado depois de passagem pelo Vitória, fez 31 pelo time do Morumbi, e está logo a frente, em 79º lugar. Lucas, atualmente no Paris Saint Germain, fez 33 e está empatado com o hoje comentarista Caio Ribeiro na 75ª colocação. Outra figurinha carimbada, Souza, campeão paulista, da Libertadores, Mundial e tri-brasileiro na década passada, e que também está sem clube após abandonar o Caxias-RS, marcou 35 gols pelo São Paulo é o 67º no ranking.

Reinaldo, que estava no Inter de Lages
Em atividade tem ainda o hoje corintiano Danilo, com 36 gols pelo São Paulo (63º colocado no ranking do clube), o Hernanes, da Internazionale de Milão, que, assim como Dario Pereyra, marcou 38 vezes pelo time do Morumbi (ambos estão na 58ª posição), o Diego Tardelli, que está na China, e o Grafite, que voltou agora ao Santa Cruz, ambos com 39 gols (empatados com Cafu no 55º lugar), e Reinaldo, ex-Santos e Internacional, que jogou pelo Inter de Lages-SC no 1º semestre, com 41 gols com a camisa sãopaulina (52º lugar). Um pouco mais a frente tem Kaká (que passou pelo São Paulo em 2014, a caminho do Orlando City) e Marcelinho Paraíba (Joinville), ambos com 51 gols pelo São Paulo, na 39º colocação; o Borges, da Ponte Preta, com 55 gols (32º); e o Dagoberto, do Vasco, com 61 (30º lugar).

Rogério Ceni: mais 7 gols para alcançar Maurinho
E dois jogadores que estão fechando o ciclo no São Paulo ainda podem avançar nesse ranking até o fim do ano. O primeiro é Rogério Ceni, que fez 129 gols e é o 10º maior goleador da história do clube - e, com muita sorte, poderia alcançar Maurinho (1933-1995), que fez 136, ou o lendário Leônidas da Silva (1913-2004), que marcou 144 vezes. O segundo é Luis Fabiano, atual 3º colocado no ranking, com 205 gols, e que - muito dificilmente - alcançará o 2º, Gino Orlando (1929-2003), que fez 233 gols, ou o artilheiro máximo do São Paulo, Serginho Chulapa, que fez 242. Como hoje é muito raro um jogador - que não seja goleiro - passar dez temporadas no mesmo clube, como Chulapa, é bem provável que sua marca se eternize. Afinal, Luis Fabiano "subiu no telhado"...

DA SÉRIE 'MAS... JÁ VAI?' - Depois de ir e não ir, o atacante Jonathan Cafu acabou "fondo" para o portentoso Ludogorets, da Bulgária, numa transação em que o São Paulo ficará com menos da metade do valor apurado. A debandada de atletas do Morumbi neste meio de ano reflete a crise financeira enfrentada pelo clube e sugere que todos no elenco, de titulares a reservas, estão acionando seus empresários para tentarem pular fora do "barco furado". No entanto, para além da falta de grana, a saída do Cafu (genérico) é mais um exemplo inegável das "cabecices" da diretoria quando tenta reforçar o ataque da equipe. Além de Jonathan Cafu, que fez apenas 12 jogos (e 1 gol), o clube acabou de emprestar o prata-da-casa Ewandro (que jogou só 22 vezes e fez 2 gols pelo profissional do São Paulo) e, no ano passado, teve passagem-relâmpago de Pabón (18 jogos e 2 gols). Agora a aposta é em Wilder Guisao, que estava encostado no mexicano Toluca. Ou seja: nada de novo no front...


quarta-feira, julho 22, 2015

É o que tem pra hoje

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Notícias "alvissareiras" do São Paulo Futebol Clube:





Como diria o camarada De Faria...



terça-feira, julho 21, 2015

Tipos de cerveja 82 - As Mead/ Hidromel

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Tal como as cider, as mead não  são exatamente cervejas, apesar de também passarem por um processo de fermentação. De caráter forte e alcoólico, utilizam o mel para ajudar a fermentar e o seu sabor. Será que viria daí a folclórica expressão - ou mézis - do São Mussum? Pois prestem atenção no que nos conta Bruno Aquino, do site parceiro Cervejas do Mundo (o grifo é nosso): "Extremamente antiga, é bem provável que a sua produção e consumo se fizessem num período onde ainda não existisse vinho e, de uma forma mais certa, cerveja. (..) Constata-se que várias civilizações conheciam e apreciavam este néctar, nomeadamente os gregos, que a chamavam melikraton, os romanos, que a designavam por água mulsum (apesar de, neste caso, poder ser igualmente uma variante feita com vinho de uva adocicado com mel) e mesmo os maias, que tinham uma bebida em tudo similar".  Mulsum? Bebida feita de "mé"? Muita coincidência... Mas prossegue o camarada Aquino: "A primeira menção histórica ao hidromel foi feita num dos hinos do Rigveda, o documento mais antigo da literatura hindu, escrito por volta de 1700-1100 a.C. Também Aristóteles, na Metereologica, e 'Plínio, o Velho', na sua História Natural, relatam fatos relacionados com esta bebida". E completa: "No entanto, os maiores apreciadores de hidromel eram os povos nórdicos e eslavos, sendo que para a mitologia dos primeiros, esta bebida aparecia como a favorita dos deuses. Outras culturas antigas consumidoras desta beberagem foram os celtas, saxões e vikings" - e o bom desse blog, como diriam os futepoquenses, é que a gente aprende. Buenas, com tanta tradição, até que bate curiosidade. Pra quem quiser se arriscar (e conseguir encontrar algum lugar que venda), o site Cervejas do Mundo recomenda marcas como a Apis Poltorak Jadwiga, a Dansk Mjod Vikingernes Mjod (foto) ou ainda a Triumph Honeymoon Braggot.


sexta-feira, julho 17, 2015

Coincidência macabra: Ghiggia morre num 16 de julho

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O adeus do último atleta que entrou em campo em 16/07/1950
Se 52 milhões de brasileiros choraram no dia 16 de julho de 1950 (principalmente os 200 mil que estavam no recém-inaugurado estádio do Maracanã), quando sua seleção de futebol perdeu a Copa do Mundo em casa, de virada, dependendo de um mero empate para ser campeã, 3,5 milhões de uruguaios também choraram ontem, exatos 65 anos após a inacreditável conquista de sua seleção no Brasil, com a morte daquele que fez o gol consagrador da vitória na ocasião: Alcides Edgardo Ghiggia, o herói do "Maracanazzo". A coincidência macabra leva muitos céticos a reconsiderarem seu desprezo pelo tal "destino". Foi num 16 de julho que Ghiggia, 23 anos, virou celebridade eterna do futebol mundial; e foi na mesma data, aos 88 anos, que morreu. E morreu, simbolicamente, de ataque cardíaco. Quantos brasileiros devem ter sofrido esse mesmo colapso no momento do segundo gol uruguaio, aos 34 minutos do segundo tempo, naquela decisão no Maracanã?

Um chute forte, de perna direita, e a bola passou entre Barbosa e a trave: 'Maracanazzo'

Mais simbologia: Ghiggia, justamente o protagonista, era o último atleta vivo dos 22 que entraram em campo naquela fatídica decisão. Além dele, o Uruguai jogou com o goleiro Máspoli (morto em 2004), Andrade (1985), Gonzalez (2010), Tejera (2002), Gambetta (1991), Obdulio Varela (1996), Julio Pérez (2002), Schiaffino (2002), Míguez (2006) e Morán (1978). Pelo Brasil, os infortunados que disputaram a partida foram o - mais infortunado de todos - goleiro Barbosa (morto em 2000), Augusto (2004), Juvenal (2009), Bigode (2003), Bauer (2007), Danilo Alvim (1996), Zizinho (2002), Jair Rosa Pinto (2005), Friaça (2009), Ademir de Menezes (1996) e Chico (1997). O regulamento da época não permitia substituições, portanto só estes jogadores pisaram o gramado naquele jogo.

A Roma indispôs Ghiggia com o Uruguai
O que muita gente não sabe é que, apesar de herói máximo do título uruguaio de 1950, Ghiggia fez a última partida pela seleção de sua pátria logo em seguida, em 1952, aos 25 anos. É que naquele ano ele se transferiu para a Roma, da Itália, e, para a Copa de 1954, a Associação Uruguaia o chamou, mas, surpreendentemente, o clube italiano não o liberou - mesmo o Mundial sendo disputado na vizinha Suiça. Apesar da responsabilidade ter sido do clube, o episódio fechou as portas para Ghiggia na seleção de seu país. Por isso, aproveitando sua ascendência italiana (a pronúncia original de seu sobrenome é "Guídja", ao contrário de "Jíjia"), decidiu jogar pela Squadra Azzurra. Curiosamente, como companheiro, teria o outro uruguaio que também marcou gol na decisão de 1950: Schiaffino, que fez sua última partida pelo Uruguai na Copa da Suiça, transferiu-se para Milan e Roma e também decidiu atuar pela seleção italiana. Porém, mesmo com ambos na linha de ataque, a Itália não conseguiu se classificar para a Copa da Suécia, em 1958.

Vã esperança: imprensa tupiniquim tentou forçar um 'tapetão' pra anular título uruguaio

Polêmica: uruguaio ou argentino? - Outra coisa que caiu no esquecimento foi a tentativa da mídia esportiva brasileira (ah, a mídia esportiva brasileira!) de usar Ghiggia e outro uruguaio campeão, Morán, para "anular" a partida que decidiu a Copa de 1950. Três dias após a tragédia brasileira no Maracanã, o Jornal dos Sports, do jornalista Mário Filho (que depois daria nome ao estádio), insinuou que os dois atletas, na verdade, teriam nascido na Argentina - o que tornaria irregulares suas atuações pelo Uruguai.  "Ontem as últimas horas da tarde”, dizia o jornal, “foi divulgado que o encontro Brasil x Uruguai seria anulado, em virtude de não ser uruguaio o ponteiro direito Ghiggia, por sinal fator preponderante na vitória dos 'celestes'. Segundo as aludidas versões, Ghiggia seria argentino de nascimento e estaria portanto em situação irregular na seleção oriental. O mesmo se daria com Morán, seu companheiro da ponta oposta." Como MUITAS coisas publicadas ainda hoje pela imprensa tupiniquim, comprovou-se depois que nada disso era verdade.

Frame do vídeo no exato momento da mentira
Talvez para se vingar, Ghiggia acabaria topando, em 2013, uma brincadeira proposta por uma editora uruguaia e levada a cabo por quatro jornalistas locais: publicar que Obdulio Varela, o mítico capitão da conquista no Maracanã, era na verdade brasileiro. "Quatro meses, milhares de reuniões e mais de milhares de cervejas depois, o livro estava pronto. E o título também: 'Obdulio era brasileiro'. Impactante", conta Héctor Mateo, no texto de contratapa do livro "Obdulio era brasilero – Cuentos de fútbol". Para sua surpresa e de todos os envolvidos, ao entrevistarem Ghiggia e contarem sobre a molecagem, o herói de 1950 topou na hora - e gravou um vídeo atestando categoricamente a mentira sobre Obdulio, que, postado na internet, gerou repercussão avassaladora. "Foi uma loucura. Diário, canais de televisão, rádios, ATÉ A GLOBO, sabe a alegria que tinha minha mãe quando saímos na Globo? Éramos maiores que o Rei do Gado!". Temerosos das consequências, os mentores da brincadeira teriam ainda mais uma surpresa."Teríamos que saber até quando aguentaria Ghiggia sem nos mandar à prisão. Ligaram quinhentas vezes ao velho. E quinhentas vezes mais também. E bancou a história. Bancou como um duque", acrescenta Héctor Mateo.

Com Jairzinho, 'Furacão da Copa' de 1970: 'Amo o Brasil e torço pelo país', disse Ghiggia

Credencial de Ghiggia para a Copa de 2014
De toda forma, mesmo tendo sido o "carrasco" da maior tragédia futebolística brasileira, Ghiggia dizia ter apreço pelo país vizinho. "Amo o Brasil e torço pelo país. Se o Uruguai não puder ganhar, quero que ganhe o Brasil. Depois do que fiz, sou 'hincha' (torcedor) brasileiro. É uma terra linda, abençoada", comentou, ao jornal Lance!, às vésperas da classificação da Celeste para a Copa de 2014. "Sou sempre muito bem tratado e penso: se tratam assim quem lhes fez mal, imagine como tratam quem lhes fez bem?", completou. Ano passado, por ocasião da Copa, Ghiggia veio ao Rio de Janeiro como um dos convidados de honra da inauguração da Casa Coca-Cola, instalada ao lado do estádio do Maracanã. Junto dele, o ex-atacante da seleção brasileira Jairzinho, tricampeão em 1970. Na coletiva de imprensa, Ghiggia declarou: "Ganhamos, eu e meus companheiros, aquela Copa e demos alegria ao nosso país. Mas lamento que tenha deixado o Brasil inteiro triste". Uma grandeza que permite que nós, brasileiros, também fiquemos tristes, agora, com a morte dessa lenda do futebol.


quinta-feira, julho 16, 2015

O último desejo da falecida...

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...deve ter sido que a família enviasse um texto pra seção de obituário com sacanagem contra o próprio jornal nas iniciais de cada parágrafo:


Ps.: Pra quem duvida, as mesmas iniciais de cada parágrafo estão aqui na versão da internet.


quinta-feira, julho 02, 2015

É hora, é hora, é hora... de cerveja!

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Ps.1: Indagaria, não sem razão, o sr. De Massad: "Mas quem é que aguenta esperar meia hora pela próxima rodada de cerveja?";

Ps.2: Clique no nome do mitológico estabelecimento para saber mais: PONTO CHIC.


segunda-feira, junho 29, 2015

Um gol para cada mês de atraso de grana. Coincidência?

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Leandro Pereira chuta; Souza, Dória e Rogério Ceni 'assistem'; 1 x 0
Opinião de um torcedor do São Paulo: se o time do Palmeiras fosse pouca coisa melhor e não tivesse jogado apenas no contra-ataque, esperando as (quatro) falhas do oponente, o clássico de ontem teria sido um atropelo da magnitude dos 7 a 1 que a Alemanha enfiou no Brasil ano passado. O fraco, inoperante e inofensivo time (time?!?) de Juan Carlos Osorio foi à casa do adversário sem sistema - ou qualquer tipo de planejamento - defensivo. E sem zagueiros, se considerarmos que nem Dória nem Rafael Tolói merecem a alcunha. Pior: o São Paulo jogou - mais uma vez - com um a menos, pois Paulo Henrique Ganso, como diria o Padre Quevedo, "non ecziste" (ou dois a menos, se considerarmos a participação "efetiva" de Luís Fabiano). Repito: se o time do Palmeiras tivesse se empolgado e "partido pra cima", com sua torcida empurrando, teria feito 7 ou 8 gols, fácil fácil.

Victor Ramos sobe sozinho e comemora após testar para a rede: 2 x 0
Mas os sonoros 4 a 0 - que se estendem para 7 a 0 se considerado o Choque-Rei anterior - já servem para a torcida alviverde gargalhar por um bom tempo, e para os ingênuos que ainda bravateiam o tal "forte elenco do São Paulo, um dos melhores do Brasil" pararem de acreditar em Papai Noel, digo, na mídia esportiva (ah, a mídia esportiva!). Nem vou fazer comentários sobre o técnico colombiano, suas (polêmicas) anotações em caderninhos, escalações, substituições ou expulsão no clássico de ontem, pois considero que nem José Mourinho, nem Pepe Guardiola e nem Jesus Cristo conseguiriam transformar esse catado do São Paulo em uma equipe realmente competitiva. Enquanto a diretoria forçar as escalações de Ganso, Luís Fabiano e Pato, sonhando com futuras (e improváveis) transações, a torcida tricolor terá que se conformar com derrotas e vexames.

Rafael Marques faz 3º - no jogo e dele sobre Rogério Ceni neste ano
E não só esses três: quando vi a dupla de zaga ontem, Dória e Tolói, já previ uma tarde de pesadelo. Aliás, eu sempre considerei o (mediano e esforçado) Paulo Miranda melhor do que o (abaixo de mediano e entregador de rapadura) Tolói. Isso se confirmou com a venda do primeiro (que, bem ou mal, tinha alguém interessado nele), enquanto ninguém quer o segundo. Dória é uma enganação, e é melhor que vá embora. O superestimado Souza, idem. Os laterais Bruno e Carlinhos, "reforços" deste ano (ha!ha!ha!, riem os adversários), são ótimos para o banco de reservas - onde já "residem" outros três recém-contratados,Thiago Mendes, Centurión e Johnatan Cafu. E quem sobra? Michel Bastos. Que não é nenhuma Brastemp. E Rogério Ceni, em - triste e constrangedor - fim de carreira. Osorio já deve estar se dando conta da roubada em que se meteu...

Cristaldo cabeceia livre e completa o 'chocolate' do Palmeiras: 4 x 0
E se o time (time?!?!??) do São Paulo oferece "tantas" "opções" e "tantos" "talentos" para o técnico, ou qualquer técnico, seja ele quem for, quem é responsável? A diretoria, lógico. A mesma que, em certos nichos da mídia esportiva (ah, a mídia esportiva...), é elogiada como "moderna", "eficiente". A mesma que alardeou a venda de Rodrigo Caio para o Valencia... SÓ QUE NÃO! (clique aqui para ler sobre o fiasco) A mesma que, nesta segunda-feira de gozação palmeirense e cabeça inchada sãopaulina, nos proporciona mais uma prova de sua "eficiência" e "modernidade": a notícia de que o "São Paulo não vai pagar elenco no dia 10; serão quatro meses de atraso". Não é curioso? QUATRO meses: o mesmo número de gols sofridos ontem no estádio do Palmeiras. Imagine o que teria acontecido no jogo se a diretoria estivesse devendo nove ou dez meses de grana!

PS.: E o técnico do Palmeiras nos 4 x 0 era Marcelo Oliveira. AQUELE MESMO.


sexta-feira, maio 22, 2015

Nossa irrestrita solidariedade ao Araújo

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Segura na mão de Deus... Mas serve uma com a outra mão, por favor.


quarta-feira, maio 13, 2015

O risco de Marcelo Fernandes se tornar Claudinei Oliveira

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O empate entre Avaí e Santos mostrou, como no segundo jogo da final do Paulista contra o Palmeiras, o Santos caindo de produção e de intensidade no segundo tempo. Com a vantagem, conseguida na etapa inicial pelo gol de Robinho, o Alvinegro mais uma vez mostrou uma certa acomodação e aceitou a mudança de postura do adversário sem reagir, mesmo tomando o empate.

Na partida decisiva do estadual, Oswaldo de Oliveira colocou Cleiton Xavier em campo após perder Dudu expulso, passando a explorar as laterais do campo. O Peixe, que teve Geuvânio punido com o cartão vermelho, não conseguiu acertar sua marcação pelos lados, lembrando que o onze santista era responsável por barrar o avanço do lateral adversário pelo lado direito. Resultado da inação santista: Ricardo Oliveira estava na marcação do lateral Lucas no tento do adversário, mostrando que a equipe demorou a responder à mudança do rival.

Mais uma vez a lateral foi o calcanhar de Aquiles peixeiro na etapa final. Desta vez, no segundo tempo Gilson Kleina colocou Roberto, que atuou no lado esquerdo da defesa santista, forçando a jogada individual e fazendo com que os donos da casa por vezes tivessem superioridade numérica no setor. A pressão era evidente e, mais uma vez, o Santos pouco fez para responder à alteração tática do Avaí. 

É pelos lados o mapa da mina. Do Santos e do adversário

Marcelo Fernandes precisa treinar para que o Peixe possa sair dessa situação de jogo. Treinadores adversários já perceberam que o potencial ofensivo santista depende da subida de seus laterais/alas, que apoiam o ataque dando opções para os meias e os homens de frente. Quando o técnico adversário ocupa esse setor, prega na defesa Victor Ferraz e Chiquinho. Com uma deficiência quase crônica dos dois volantes de fazerem a cobertura pelos lados – defeito em especial de Valencia – a pressão se intensifica e o gol passa a ser questão de tempo.

Para voar mais alto no Brasileirão, Peixe precisa ter ousadia
Uma alternativa para ser utilizada nesse tipo de cenário é justamente explorar as costas da defesa rival pelos lados. E aí entra a coragem e a vontade de vencer do treinador. Ontem, por exemplo, o Alvinegro usou pouco os lados na etapa final, mesmo quando um jogador chegava ao ataque, Robinho, por exemplo, fechava no meio em vez de abrir pela ponta esquerda. Atuava assim também porque não adiantaria ele fazer a jogada pela ponta com apenas Ricardo Oliveira na área contra dois ou mais defensores. Sem a chegada dos homens do meio ou do lateral, a jogada pelo lado, em um campo de grandes dimensões, tem grandes chances de não dar em nada, daí a tentativa do Rei das
Pedaladas de jogar perto do centroavante.

Sobre Ricardo Oliveira, aliás, outro pecado do técnico. Ele jogou mal o tempo todo, mesmo assim atuou até o final da partida. Perdeu lances preciosos, chegou a travar contra-ataques matando errado a bola. Estava em um dia ruim, até aí, todos nós temos os nossos. Mas não foi sacado. Fernandes preferiu abrir mão de Geuvânio, que também não tinha boa atuação, e colocar Gabriel fora de seu habitat natural, a área. A alteração foi inócua, ainda mais por ter sido feita aos 34, como tem sido o costume do técnico. Sempre um pouco tarde demais.

Quanto Claudinei Oliveira assumiu o Santos depois da saída de Muricy Ramalho em 2013, dirigia um time que sentia a falta de Neymar. Conseguiu arrumar o sistema defensivo alvinegro, a equipe jogou bem algumas partidas e chegou quase perto de brigar pelo G4. Mas, quando teve oportunidades de ganhar partidas que poderiam mudar a situação do clube na tabela, preferiu não ousar e se satisfazer muitas vezes com um empate, não tentando vencer. Achou que assim, com um desempenho mediano, conseguiria manter o cargo. Não percebeu que um técnico novato precisa na verdade mostrar mais do que os “medalhões”, sendo diferente. E, por que não, ousado.

Marcelo Fernandes não pode repetir o erro de Claudinei. Como já dito aqui, tem um elenco acima dos que o Peixe possuía nos últimos dois anos e, com o relativo enfraquecimento de alguns adversários no Brasileiro, sonhar com o G4 não é nenhum absurdo ainda mais se vierem alguns reforços. Mas precisa saber que deve ter coragem em determinados momentos e situações de jogo. Arroz com feijão não seguram um treinador em início de carreira no banco.

No final das contas, foi o Avaí, que perdeu dois gols inacreditáveis na etapa final, quem deixou de vencer. Não pode ser assim contra um candidato ao rebaixamento.

Gustavo Henrique e Vladimir

Desnecessário dizer que Gustavo Henrique, que entrou no lugar de Werley, dono da imagem do jogo, teve uma atuação ruim. Fez a falta desnecessária que gerou o gol de Marquinhos, ex-Santos, e, ao cometer outra falta similar, tomou o segundo amarelo e foi expulso. Mas é preciso destacar também que, nas duas ocasiões, estava bem longe da área, e só teve essa atitude por conta da inação santista com a blitz que o Avaí promoveu no lado canhoto da intermediária do time. Entrou em uma fria e não foi bem. Mas a culpa não é só dele.

Já Vladimir tomou um gol em uma cobrança de falta bem feita por Marquinhos. Não, não era uma bola indefensável. Além disso, repôs mal a bola em mais de uma ocasião, colocando em risco a defesa ao despachar a redonda no próprio campo. Na partida contra o Palmeiras, ensaiou o erro que cometeu contra o Maringá, ao tentar encaixar a bola e soltá-la em duas ocasiões. É um goleiro que tem um reflexo apurado, fazendo defesas à queima-roupa, mas não adianta ter essa virtude se falha em outros fundamentos.

sexta-feira, maio 08, 2015

Loja oficial do Palmeiras tem seu favorito para o Brasileirão: o Santos

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Tudo bem, foi uma gafe mas não deixa de ser curioso. Freud – ou um santista como responsável por uma rede social – explica.

A gafe, noticiada pela Nagila Luz no Torcedores.com, aconteceu no fim da tarde desta sexta-feira. Bom, a imagem abaixo diz tudo:


Torcedores palmeirenses ficaram evidentemente revoltados com o tuíte, mas o perfil da loja manteve o bom humor. "Pessoal, como vocês perceberam, tínhamos um santista entre nós.
Tínhamos", postaram. E, em seguida: "A gente tá bem triste e queria pedir desculpas a todos vocês que nos ofenderam como se não houvesse amanhã". 

Acontece. Mas vale a troça.

quarta-feira, abril 29, 2015

Antônio Abujamra (1932-2015), aquele que não se acostumou

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"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas em redor. E porque não tem vista, a gente logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado, porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado, sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir, no telefone, '- Hoje eu não posso ir'. A sorrir paras as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar e a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro. Para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais. Pra não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber. Vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está  contaminada, a gente molha só os pés. E sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo. E ainda fica satisfeito, porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma pra não se ralar na aspereza. Para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos. Para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta. Que se gasta de tanto se acostumar. E se perde de si mesma."

Antônio Abujamra recitando - magistral e perturbadoramente - o texto "Eu sei, mas não devia", de Marina Colasanti, no programa "Provocações", da TV Cultura. Assista: 



Em TEMPO:

Sobre a desvalorização do tempo e da vida: "Trato a depressão como um sintoma social, e o principal fator contemporâneo que produz o aumento da depressão é o aumento da velocidade com que a gente vive nosso tempo. Eu mesma estou aqui contando os minutos (daqui a pouco tenho de atender). É como se a gente tivesse uma urgência temporal que faz com que a vida perca completamente o valor. O tempo da experiência, da reflexão, todo o tempo da chamada vida subjetiva está sendo atropelado pelo tempo do capitalismo. Esse é o primeiro fator da depressão, essa desvalorização do tempo como tempo de vida. Como diz o professor Antonio Candido: 'O capitalismo se considera o senhor do tempo. Essa idéia do ‘tempo é dinheiro’ que rege a nossa vida é uma brutalidade. O tempo é o tecido da nossa vida'. Então, se você negocia a matéria-prima da sua vida, valendo dinheiro, a vida se desvaloriza. Se a vida se desvaloriza, para que viver? A depressão tem um pouco a ver com isso." - Maria Rita Kehl, psicanalista (leia íntegra clicando aqui).



segunda-feira, abril 27, 2015

Obdulio Varela uniu o time campeão mundial de 1950 em bar uruguaio - e se arrependeu em bares brasileiros

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No cartaz do filme, o chute de Ghiggia
Ontem assisti, finalmente, o documentário "Maracanã" (ou "Maracaná", como grafam e pronunciam os uruguaios), sobre a Copa do Mundo de 1950, de autoria de Sebastián Bednarik e Andrés Varela. Foi uma revelação, para mim, descobrir o quanto Obdulio Varela, capitão da Celeste, foi absolutamente determinante em toda a campanha vitoriosa dos portenhos, da fase preparatória ao título. Até então, eu achava que ele tinha sido fundamental apenas na partida decisiva, considerada uma das maiores "zebras" da história do futebol mundial em todos os tempos, quando comandou como um leão raivoso seus companheiros a uma virada absurdamente improvável. Mas o documentário narra uma responsabilidade muito mais significante e abrangente desse mulato, filho de uma lavadeira negra, na maior conquista futebolística (e, por que não, patriótica) do Uruguai.

Obdulio usava sobrenome materno
Aliás, o orgulho que o jogador tinha de sua mãe e do sacrifício que ela fez em sua infância miserável era tão grande que ele não usava o sobrenome do pai, Muiños, mas o materno, Varela. Criado nas ruas de Montevidéu, Obdulio tinha um temperamento "chucro", zangado e determinado, com cara "de poucos amigos", que impunha temor e respeito. Caráter determinante para que liderasse, em 1948, uma inédita greve dos jogadores de futebol no Uruguai, que durou mais de sete meses, até que os clubes concedessem as reivindicações que extinguiram um regime profissional quase que escravocrata imposto até então. Porém, como era de se esperar, o líder grevista Obdulio ficou marcado - e foi afastado da seleção. Só que, às vésperas do Mundial do Brasil, a Celeste estava muito mal, com jogadores fora de forma, desunidos, sem comando e sem dinheiro. A ressaca da greve de 1948 era forte - e eles iam passar vexame.

O então presidente Luis Batlle Berres
Todos imploraram para que Obdulio voltasse à seleção, mas, orgulhoso, ele negou. Foi preciso que o próprio presidente do Uruguai na época, Luis Batlle Berres, fosse atrás dele para convencê-lo. "Tenho 36 anos e não tenho nada. Só peço um emprego", impôs Varela. "Terá", garantiu Batlle. E a primeira tarefa do "jefe" (chefe), como era chamado, foi extinguir de uma vez por todas as desavenças no elenco que iria à Copa. Muitos dos atletas tinha furado a greve de 1948, e eram desprezados e evitados pelos outros. Um deles era Matías Gonzales, o zagueiro que seria peça crucial e considerado um dos melhores jogadores do torneio. Obdulio Varela chamou todo mundo para um bar, em Montevideu, e, no meio dos "inimigos", sentenciou: "Chega disso. Nós somos todos uruguaios e vamos ganhar a Copa juntos. Agora, cerveja pra todos, amigos". O grupo se uniu e criou um vínculo patriótico ali.

Diário do Rio: 'O Brasil vencerá!'
O resto é mais ou menos conhecido. Obdulio comandou reações "impossíveis" como o empate em 2 x 2 com a forte Espanha e a virada heróica na vitória por 3 a 2 sobre a Suécia (ambos os jogos no Pacaembu), e praticamente "obrigou" seus colegas a virarem o jogo contra o Brasil no Maracanã lotado com mais de 200 mil pessoas, sendo que o anfitrião tinha a vantagem do empate e abriu o placar. Na véspera da decisão, o jornal carioca Diário de Notícias havia estampado um pôster da seleção brasileira com o título: "Eis os campeões do mundo!" No local onde estavam hospedados, os jogadores uruguaios aguardavam a partida já com uma sensação de dever cumprido, de que "fomos longe demais, está muito bom; se o Brasil ganhar será apenas a lógica". Obdulio abriu a porta do quarto onde estavam e jogou o jornal violentamente contra a parede. "Leiam!", ordenou.

Augusto (à esquerda) e Obdulio Varela
Naquele momento, os defensores da Celeste ficaram "com o sangue nos olhos", como se diz atualmente. Aliás, dizem que, segundos antes de começar o jogo, ao cumprimentar o capitão brasileiro, Augusto, e notar seu sorriso de "campeão", Obdulio teria dito a ele, rangendo os dentes: "Vais llorar lágrimas de sangre"" ("[Você] Vai chorar lágrimas de sangue!"). Depois que o Brasil fez 1 x 0 no início do segundo tempo, com o atacante Friaça, o capitão uruguaio resolveu intervir diretamente. Berrou aos companheiros: "Nós, uruguaios, entramos em campo para ganhar ou ganhar!" Até ali, o lateral-esquerdo brasileiro Bigode vinha fazendo marcação implacável sobre os atacantes da Celeste que caíam pelo seu setor, com entradas duras. Depois de mais uma delas, recebeu um "tapinha" intimidador de Obdulio, que vociferou em sua cara, com os olhos faiscando: "Calma, muchacho!"

Bigode levou 'tapinha' e murchou no jogo
Bigode murchou completamente e Ghiggia passou voando por ele duas vezes, primeiro para dar a assistência ao empate uruguaio, num chute forte de Schiaffino, e depois para marcar o gol que ficará entalado eternamente na garganta e na alma de toda uma nação. A vitória uruguaia era tão estapafúrdia e inacreditável que o presidente da Fifa (e idealizador das Copas do Mundo), Jules Rimet, ficou parado com a taça na mão, no meio do campo, sem saber o que estava acontecendo nem o que fazer. Quando ele deixou as tribunas para pegar o túnel que o levaria ao gramado, o Brasil vencia o jogo e a multidão brasileira urrava em delírio. Ao subir para a premiação, viu jogadores do Uruguai pulando, brasileiros chorando e os 200 mil torcedores em absoluto - e assustador - silêncio. O documentário mostra Obdulio literalmente arrancando a taça das mãos de Rimet, que permaneceu mudo e abestalhado. Nada daquilo estava no script.

Tragédia: brasileira chorando no Maracanã
Sem dinheiro e abandonados (porque, prevendo derrota, metade dos dirigentes da seleção uruguaia tinha embarcado de volta ao seu país antes da decisão!), os heróis da Celeste não tiveram direito nem a um jantar da vitória. Precisaram fazer uma "vaquinha" do próprio bolso para comprar salgadinhos e cervejas para a modesta comemoração em um quarto de hotel. Mas houve uma ausência: de temperamento completamente diferente dos companheiros, Obdulio Varela saiu pela noite do Rio de Janeiro, sem ser reconhecido, para tomar cerveja sozinho nos bares cariocas. Conforme relataria em seu país, ficou assombrado com o tamanho do desespero dos brasileiros que afogavam as mágoas naquela noite. Porque, para ele, tinha sido apenas um jogo de futebol, e haveria outros, para possível desforra. "Se eu soubesse a dor que causaria a essa gente tão boa, não teria ganhado o jogo", diria mais tarde, ao recordar que, em muitos bares, abraçou bêbados e chorou junto com eles.

ASSISTA O DOCUMENTÁRIO:

 


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domingo, abril 26, 2015

Por que não ver a final do campeonato paulista pela Globo

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chupagloboguilhermedioniziogazeta Em meio a manifestações nas ruas e também no meio virtual contra a Rede Globo, Santos e Palmeiras fazem hoje a final do campeonato paulista de futebol. Coincidentemente, são dois dos grandes clubes de São Paulo que têm menos exibição de jogos na grade da emissora, que detém os direitos de transmissão da competição. Por conta dessa baixa exposição, que prejudica comercialmente ambas as equipes, a Vênus Platinada tem sido alvo constante de xingamentos e protestos de torcedores nos estádios.

No último domingo (19), por exemplo, a torcida santista comemorou a classificação para a final do campeonato paulista com o coro: “Chupa Rede Globo/É o Santos na final de novo”. Mas xingamentos à emissora têm sido uma constante em partidas do clube alvinegro. Nas quartas de final contra o XV de Piracicaba, um domingo antes, a emissora preferiu transmitir o jogo do Corinthians e Ponte Preta no sábado e deixar o dia livre para cobrir as manifestações contra o governo Dilma. A decisão se mostrou equivocada em termos de audiência: o jogo do sábado chegou a 15 pontos no Ibope e o filme Homem-Aranha derrubou a média da emissora no horário nobre do futebol, a tarde dominical.

A torcida do Palmeiras também tem se manifestado, em especial nas redes sociais, contra a emissora, a qual parte dos alviverdes se refere apenas pelas suas iniciais, RGT. Em especial por conta da postura global de não dizer o nome do estádio do clube, Allianz Parque, o que mais uma vez prejudica o planejamento do clube em termos de exposição da marca. Além disso, em 2014, os palmeirenses viram sua equipe na TV aberta em treze ocasiões, contra 14 do Santos, 29 do São Paulo e 33 do Corinthians.

Neste ano, Santos e Palmeiras tiveram seu clássico televisionado no Campeonato Paulista, partida que rendeu uma média superior ou igual à de três partidas da Libertadores transmitidas até então: um dos jogos entre Corinthians e San Lorenzo e outro contra o Once Caldas, e a partida entre São Paulo e Danúbio, do Uruguai. A justificativa de que jogos de Corinthians e também do São Paulo têm preferência em relação aos outros por conta exclusivamente dos pontos no Ibope motiva a publicação de matérias/profecias furadas como esta do Uol, que antes do clássico preconizava que sua transmissão era “um risco” para a Globo.

De acordo com levantamento do jornalista Cosme Rímoli, a média de audiência dos jogos do Corinthians na Rede Globo em 2010 foi de 23,8 pontos; caindo para 22,6 pontos em 2011; 21,9 em 2012; 19,9 pontos em 2013 e 17,5 em 2014. Já a média dos jogos do Santos não ficou distante, chegando a superar o desempenho corintiano em 2011. Em 2010, por exemplo, ela foi de 21,2 pontos; 24,2 em 2011, 21 em 2012; 18,7 em 2013 e 17,2 em 2014. A média santista sobe também em função justamente de poucas partidas transmitidas, com os clássicos sendo destacados. Mas não é só isso que justifica. Em 2011 e 2012, por exemplo, a equipe contava com Neymar e tinha um ótimo desempenho em campo, o que evidencia que o torcedor em geral gosta de ver jogos que valham em termos de competição mas que também sejam promessas de bons espetáculos, com grandes jogadores atuando. No entanto, isso não é tão levado em consideração pela detentora dos direitos de transmissão.

Mas por que a Globo age assim se pode até mesmo perder ou deixar de ganhar audiência com isso? Parte da resposta é o cachimbo que entorta a boca. Como monopolista que é, a Globo é de fato avessa a riscos. Tanto que muitas vezes prefere pagar salários milionários a um funcionário seu fora do ar, posto na “geladeira”, a vê-lo em outra concorrente. No caso do futebol, colocar sempre o time de maior torcida local, como Corinthians e Flamengo, minimiza as chances de uma surpresa, ainda que às vezes ela pudesse ser positiva.

Há ainda um outro fator nebuloso, e este seria político. Em 2011, época em que a Record fez uma proposta superior à da emissora carioca ao Clube dos Treze, uma associação que reunia os maiores times brasileiros e era a responsável pela negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, executivos da emissora fluminense articularam com dirigentes de equipes para implodir a possibilidade de acordo. Antes, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia derrubado uma cláusula preferencial no contrato assinado pela entidade com emissora dos Marinho, que na prática inviabilizava a concorrência com outras emissoras. A reação global foi negociar individualmente com os clubes, com o Corinthians sendo o primeiro a se desligar do Clube dos Treze. A negociação aprofundou a diferença paga entre os 12 clubes de maior torcida, especialmente Corinthians e Flamengo, e os demais. Na dança, os clubes médios e pequenos foram ainda mais penalizados com a discrepância estabelecida.

Como a Globo ajuda a implodir o futebol brasileiro

Embora à primeira vista possa parecer que haja ganhadores nessa disputa entre clubes pelos recursos da televisão para o futebol, trata-se de um jogo que tem só um vencedor: a própria Globo, que se aproveita da cega desunião entre os times para lucrar, sem se importar com a crescente depreciação do esporte nacional. Como dito nesta matéria, a repetição exaustiva dos mesmos clubes na grade televisiva vai cansando o telespectador: “A transmissão excessiva de jogos de clubes mais populares, em especial Flamengo e Corinthians, para a maioria das praças, contribuiu para a desvalorização do futebol como um todo e, embora possa parecer que seja mais benéfico para ambos, o que geraria vantagens desportivas mais adiante, trata-se de um jogo em que todos perdem porque o esporte em si se desgasta e cansa o telespectador. Um exemplo é que foi justamente a transmissão de uma partida do Corinthians, contra o Coritiba, no dia 3 de agosto, a pior audiência da emissora em jogos do Campeonato Brasileiro em 2014. O que parece bom a curto prazo, não se sustenta ao longo do tempo.”

Muitos campeonatos de futebol pelo mundo se protegem em relação à exposição excessiva e à distribuição desigual extrema de recursos entre os clubes. A Premier League, divisão principal do campeonato inglês, é um exemplo. A fórmula de remuneração pelos direitos televisivos estabelece que 50% do volume distribuído seja fixo, enquanto 25% são direcionados de acordo com o desempenho do clube na competição e outros 25% segundo o número de jogos transmitidos. Cada clube tem também um número mínimo de partidas televisadas, impedindo a abissal discrepância que acontece no Brasil.

Na Inglaterra, os clubes pensam, juntos, primeiro na valorização do próprio futebol, para assim conseguirem se capacitar economicamente e manter espetáculos interessantes para o público. Não interessa uma desigualdade enorme entre o maior e o menor. No Brasil, a Globo é a verdadeira “organizadora” da modalidade, submetendo a CBF, federações e clubes e impondo um modelo que é bom apenas para ela, direcionando datas e horários de partidas e decidindo a seu bel prazer quem vai e quem não vai ser televisionado. O que torna o futebol brasileiro razoavelmente equilibrado é a incompetência de dirigentes, que conseguem torrar fortunas sem um desempenho equivalente a sua capacidade financeira em campo. Mas os jogos ficam ruins de se assistir. E o público já percebeu isso.

Nos números de audiência de dois dos grandes de São Paulo citados acima, percebe-se que ambos tiveram queda de audiência entre 2010 e 2014. O Corinthians perdeu 26,4%, enquanto Santos, São Paulo e Palmeiras perderam 20%, mesmo índice de decréscimo do Campeonato Brasileiro. O Campeonato Paulista perdeu, no mesmo período, 23%, e a Copa do Brasil, 32%. A Globo já estudaria diminuir o número de partidas transmitidas em sua grade. Claro, sem consultar os clubes ou se preocupar com o futuro do futebol.

A emissora também estaria de olho no futebol europeu, já que a partida entre Barcelona e Paris Saint-Germain exibida na tarde desta terça-feira rendeu à Globo 16 pontos, um alto índice para o horário. Fecha-se assim um ciclo cruel: quem é em parte responsável pela derrocada do futebol brasileiro e pela manutenção da distância entre a qualidade da bola jogada aqui e no Velho Mundo pode ser o primeiro a dar as costas para seus parceiros.

Por todo esse contexto, um bom protesto do torcedor neste domingo seria não assistir à final do campeonato paulista pela Globo. O boicote não só é um instrumento legítimo de protesto contra a emissora em um dia em que estão programadas diversas manifestações pelo país em “descomemoração” de seu aniversário, como seria também um alerta para os dirigentes de futebol de que é preciso pensar em alternativas ao monopólio global, que vem colaborando para a decadência do futebol nacional como um todo. Na disputa entre os clubes alimentada pela emissora, no final, todos podem sair perdendo. E perceber isso mais à frente pode ser tarde demais.