Destaques

sábado, dezembro 28, 2013

A Moralidade, o Direito e a Portuguesa

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O operador do direito não pode objetivar a aplicação fria da Lei, desvinculando-se dos fatores externos que rodeiam a questão que se decide

Por Dimas Ramalho e Flavio Barbarulo Borgheresi



“E aí repousa, ao mesmo tempo, a força e a fragilidade da moralidade em face do direito. É possível implantar um direito à margem ou até contra a exigência moral de justiça. Aí está a fragilidade. Mas é impossível evitar-lhe a manifesta percepção da injustiça e a consequente perda de sentido. Aí está a força.” (Tércio Sampaio Ferraz Jr.)

Ainda nas primeiras aulas de direito, nos é ensinado que direito, moral e justiça, embora intrinsecamente ligados, eram conceitos distintos. A aplicação fria do direito traz sempre uma justiça formal, que não se prende ao senso comum, e não necessariamente responde aos anseios da sociedade que representa. Mas qual o sentido do direito para uma sociedade quando sua aplicação é questionada sob o enfoque da moralidade, despertando incandescente sentimento de injustiça?

O recente julgamento da equipe de futebol da Portuguesa pelo STJD, num país que respira futebol 24 horas por dia, trouxe à tona essa discussão, expondo claramente até para os cidadãos mais simples, a diferença entre os conceitos de direito, justiça e moral. Óbvio, o que se discute aqui é sentimento, e o sentimento de justiça moral não depende de qualquer conhecimento técnico.

O operador do direito não pode objetivar a aplicação fria da Lei, desvinculando-se dos fatores externos que rodeiam a questão que se decide. Se assim fosse, poderíamos criar programas de computador que elaborassem sentenças judiciais a partir do mero processamento dos dados sobre o caso concreto. A figura humana é imprescindível na aplicação do direito exatamente porque ele é indissociável do sentimento social, do sentimento moral, do sentimento de justiça. Portanto, a aplicação da norma não pode estar desvinculada desta percepção ética instintiva.

E vamos ao caso concreto. Não há dúvidas que a Portuguesa desconhecia o resultado do julgamento que puniu um de seus jogadores com suspensão por duas partidas. O advogado, indicado pela própria CBF, confirmou o equívoco ao passar a informação para a equipe, e o site da CBF não disponibilizou a informação em tempo hábil. Além disso, não é crível que um time de futebol profissional, estando ciente da punição, colocasse em campo um jogador suspenso pelo STJD, aos 30 e poucos minutos da etapa final de uma partida que já não tinha importância nenhuma para a equipe. Não, não é piada de português!

No futebol o jogo é jogado, essa é a regra. Nem mesmo erros de arbitragem, por mais escandalosos que sejam, interferem no resultado das partidas.

Ora, se a escalação irregular – mas não dolosa – do jogador em nada interferiu no resultado da partida, porque a aplicação fria da norma pode interferir no resultado do campeonato inteiro?

O julgamento do recurso nesta sexta feira pelo pleno do STJD, mantendo a decisão que decretou o rebaixamento da Portuguesa, reacendeu discussão sobre o significado da Justiça.

Com o devido respeito a opinião dos demais juristas envolvidos, esse negócio de “regras claras não precisam de interpretação” não serve de argumento para o bom direito. Diante de um caso concreto a solução nunca está apenas nos artigos da Lei, mas no que se espera dela, já que a aplicação do direito não pode ser um fim em si mesmo, porque o direito sem justiça moral é um direito sem sentido, “um direito cínico”.

Dimas Ramalho, foi promotor de justiça, Deputado Federal e atualmente é Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado.
Flavio Barbarulo Borgheresi, é procurador do município de São Paulo.

(Artigo recebido via e-mail)

quarta-feira, dezembro 25, 2013

Efeito retardado OU Resultado premonitório

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Só agora, 20 dias depois, é que me toquei: ao conhecer o Maracanã, em setembro deste ano, assisti com meu pai justamente um confronto entre Fluminense e Portuguesa. E os cariocas venceram. DE VIRADA...

Mais um da série 'Butecos aprazíveis'...

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


quarta-feira, dezembro 18, 2013

100 anos de perdão

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Biggs, na época do crime famoso
Morreu hoje na Inglaterra o ladrão confesso Ronald Biggs, que participou com 16 comparsas do célebre "assalto ao trem pagador", há 50 anos. Tratava-se de um trem postal que fazia o trajeto entre Glasgow, na Escócia, e Londres. Naquele 8 de agosto de 1963, exatamente o dia em que Biggs completou 34 anos, a quadrilha dividiu um butim de 2,6 milhões de libras, uma montanha de 120 sacolas com 2,5 toneladas de dinheiro em espécie. Dizem que o valor nunca foi recuperado, mas isso tem toda pinta de ser aquela conversinha clássica da polícia... Além do roubo, Biggs era acusado de ter ferido gravemente o maquinista Jack Mills, que morreria seis anos depois. Concluído o assalto, os bandidos se reuniram em seu esconderijo, uma fazenda, para dividir a grana e planejar o futuro.

Tabuleiro que está no museu
Lá, eles comemoraram o sucesso e o aniversário de Biggs com charutos, bebidas e uma partida de Banco Imobiliário com as notas recém-roubadas. Mas os caras deixaram uma "brecha" comparável com a da Portuguesa no Brasileirão de 2013 (que escalou jogador irregular e, por isso, pode ir pra Série B): na manhã seguinte, deixaram o local após pagarem 28 mil libras a um cúmplice, para que limpasse qualquer vestígio, mas o manguaça fez um serviço beeeem porco. Assim, a polícia encontrou digitais de quase todos eles nas peças do jogo, em revistas e talheres utilizados no local (o tabuleiro do Banco Imobiliário usado por eles virou peça de arte no Museu Thames Valley Police). Preso rapidamente e condenado a 30 anos de reclusão, Biggs escapou do presídio de Wandsworth em 1965, ao pular o muro com uma corda de pano e fugir em uma caminhonete. Depois, fugiu para Paris, comprou um passaporte falso e fez uma cirurgia plástica - o que indica explicitamente que, para conseguir fazer tudo isso, ele ainda detinha (boa) parte do dinheiro roubado e meios para movimentá-lo.

Biggs e Mike, o filho brasileiro
Dizem que, nesse meio tempo, passou ainda por Bélgica e Panamá. Em 1970, mudou-se para Adelaide, na Austrália, com a família que havia formado antes do assalto - mulher e três filhos. Tranquilamente, trabalhou na montagem de cenários no Channel 10, até que um repórter o reconheceu. Daí, fugiu para Melbourne, permanecendo ali por algum tempo antes de escapulir para o Brasil no mesmo ano - e deixando toda a família para trás (em 1971, seu filho Nicholas, de 10 anos, morreria em um acidente de carro). Em 1974, Biggs foi flagrado por um repórter do jornal Daily Express no Rio de Janeiro, a partir de informações da Scotland Yard. Porém, não havia compromissos ou tratados de extradição firmados entre Brasil e Inglaterra e a então namorada do assaltante, Raimunda de Castro, estava grávida, situação que impedia a expulsão, segundo nossa legislação. O filho brasileiro, Michael, ficaria famoso no início da década seguinte como Mike, um dos integrantes do grupo musical infantil Balão Mágico, junto com Simony, Tob e Jairzinho.

Compacto dos Pistols gravado no Brasil
Até 2001, Biggs viveu incólume em terras brasileiras, até que, aos 72 anos, resolveu viajar voluntariamente à Inglaterra e se entregar à polícia (dizem que estava gravemente doente e não tinha recursos para se tratar). Porém, nos 30 anos de exílio em nosso país, o ex-assaltante se tornou uma "celebridade", temperando ainda mais sua biografia digna de enredo fictício. Proibido de trabalhar legalmente, ganhava a vida no Rio, nos anos 1970, vendendo xícaras e camisetas com sua foto e cobrando alguns dólares para almoçar e bater papo com turistas. Em 1978, foi visitado por dois dos Sex Pistols, Steve Jones e Paul Cook, que gravaram aqui uma música com letra e vocais de Biggs, a hilária "No one is innocent" - "Ninguém é inocente". O vídeo abaixo mostra os punks ingleses batendo na porta do famoso assaltante, no Rio, que sai da casa sem camisa e com uma garrafa na mão. Na sequência, sempre enchendo a cara, eles vão ao Cristo Redentor, a um bar, ao estúdio de gravação, à praia e a um baile repleto de mulatas seminuas sambando:


Bebendo, no clipe dos alemães
Mas nem tudo foi farra: em 1981, Biggs foi sequestrado e levado até Barbados por um grupo que esperava alguma recompensa da polícia britânica. Porém, o assaltante fez uso de artifícios na lei para ser mandado de volta ao Brasil. Voltou à vida de "artista", formou uma banda e gravou o disco "Mailbag Blues" (novo sarcasmo: "Blues da Mala Postal") e participou ainda, em 1991, da gravação da faixa "Carnival In Rio (Punk Was)", da banda alemã Die Toten Hosen. No vídeo abaixo, também gravado no Rio de Janeiro, Biggs canta e, no final, aparece rapidamente tomando cerveja (o inglês era manguaça!). Além de aproveitar muito bem a boa vida tupiniquim, o inglês também defendeu uns trocos no livro que conta a história do assalto, autorizado mediante pagamento pelos criminosos, "The great train robbery", e com seu próprio livro, "Odd man out" - "Um estranho no ninho".


Drake: 'queridinho' da realeza
OSSOS DO ORIFÍCIO - Apesar da vida fantástica e inacreditável, Ronnie Biggs foi um criminoso e, como tal, não deve ser louvado. Mas é engraçado que tenha sido uma das maiores e mais famosas pedras no sapato da polícia inglesa. Sua prisão era vista como "justiçamento moral". E é engraçado porque a própria Inglaterra, no século 16, adotou oficialmente uma política que incentivava a pirataria marítima (invasão, roubo e pilhagem) para engordar suas divisas, tendo como principais vítimas os espanhóis - que, aliás, saqueavam os índios e as terras latino-americanas. Naquele tempo, o roubo (o grifo é nosso) de navios, com incentivo oficial da rainha Elizabeth I, era prática corriqueira. Francis Drake, o pirata mais famoso, ganhou da realeza os títulos de capitão e vice-almirante, depois de saques espetaculares, violentos e muito lucrativos. Por essa ótica, visto como um inglês entre os ingleses, Ronald Biggs poderia até justificar o dito popular de que "ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão". Ou, no mínimo, como diz o título de sua música gravada com os Sex Pistols, "ninguém é inocente"...


Jogadores do bi-mundial sãopaulino, 20 anos depois

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Para comemorar os 20 anos da conquista do bicampeonato mundial de clubes pelo São Paulo, contra Barcelona e Milan, dez jogadores que integraram o elenco comandado por Telê Santana entre 1992 e 1993 se reencontraram no início desta semana, em um shopping da capital paulista. Alguns ainda estão em forma, e outros, muitas vezes mais novos, estão bem longe disso. Entre eles, titulares daquela época como Zetti, Raí, Ronaldão, Vítor e Ronaldo Luís e reservas como Guilherme, Jura, Jamelli, Juninho Paulista e um tal de Vaguinho, que, por mais que me esforce, não me lembro sequer de ter existido. Abaixo, fotos do reencontro e, por último, do tempo em que eles jogaram pelo São Paulo - menos Vaguinho, impossível de ser localizado em rápida pesquisa sobre o elenco sãopaulino naqueles dois anos...

Em pé: Guilherme, Jura, Vaguinho (?!), Zetti e Raí. Sentado: Renê, filho de Telê
Em pé: Ronaldão, Jamelli, Vítor e Ronaldo Luís. Sentado: Juninho Paulista

Primeira fila, no alto: Guilherme, Jura e Zetti
Segunda fila, no meio: Raí, Ronaldão e Jamelli
Terceira e última fila: Vítor, Juninho e Ronaldo Luís

Campeões de 1992, contra o Barcelona - Em pé: Adílson, Zetti, Ronaldão, Vítor,
Pintado, Ronaldo Luís e Toninho Cerezzo. Agachados: Muller, Palhinha, Cafu e Raí

Bicampeões de 1993, contra o Milan - Em pé: Zetti, Dinho, Ronaldão, Cafu,
Leonardo e Cerezzo. Agachados: Muller, Doriva, Válber, Palhinha e André Luiz

Som na caixa, manguaça! - Volume 74

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

TAMANCO MALANDRINHO

(Composição: Tom e Dito)

TOM & DITO

Vista sua mortalha azul-turquesa
Mais bonita que a beleza
Mais humana que o perdão
Calce seu tamanco malandrinho
Pintado de azul-marinho
Que é a cor da solidão
Transe,
Carnaval são só três dias
DE CACHAÇA E DE FOLIA
De alegria e emoção
Chore,
Quando chegar a terça-feira
Peito estoura de saudade
Estraçalha o coração
Que eu quero ver

Eu quero ver
Meu bloco na avenida sete
Encontrar você
Eu quero ver, eu quero ver
Na arquibancada da vida
Você se perder

Transe,
Carnaval são só três dias
DE CACHAÇA E DE FOLIA
De alegria e emoção
Chore quando chegar a terça-feira
Peito estoura de saudade

Dilacera o coração

(Do LP "Se Mandar M'imbora eu Fico" - Som Livre/1974)
* Música finalista do Festival Abertura, de 1974 , incluída no LP "Festival da Nova Música Brasileira - As Finalistas da Abertura".



terça-feira, dezembro 17, 2013

E no Santo Tribunal Jesuíta de Descobrimentos (STJD)...

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


'No céu não tem jogo nem bebida'

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Na TV, Tarcísio Meira atuou como o Capitão
Hoje, 17 de dezembro, o escritor gaúcho Érico Veríssimo estaria completando 108 anos. Em outros posts (como aqui e também aqui), já destaquei trechos de seus livros, mas gostaria de homenageá-lo com uma das passagens mais brilhantes de sua literatura - uma aula sobre política, religião, hipocrisia e falso moralismo em forma de diálogos esparsos entre os personagens Capitão Rodrigo e Padre Lara, na saga "O Tempo e o Vento". Li isso quando tinha uns 14 anos e, pelos anos seguintes, reli muitas vezes. 'Buenas e me espalho', vamos direto ao que interessa:

"- Capitão...
Rodrigo voltou os olhos para o padre.
- Vosmecê é um soldado, não é?
- E vosmecê é um padre...
- Espere, estou falando sério. Como militar vosmecê sabe que num batalhão tem de haver disciplina, o soldado tem de obedecer ao seu superior.
- Naturalmente.
- Desde que o mundo é mundo sempre houve os que mandam e os que obedecem, um servo e um senhor. O mais moço obedece ao mais velho...
- Isso depende...
- Deixe-me terminar. O filho obedece ao pai, a mulher obedece ao marido. Se as coisas não fossem assim o mundo seria uma desordem...
- Mas quem foi que lhe disse que o mundo  não é uma desordem?
(...)
- Capitão, vosmecê não é religioso?
- Não. Religião nunca me fez falta.
- Há pessoas que só se lembram da Virgem quando troveja.
- Quando troveja me lembro do meu poncho.
(...)
- Vosmecê já pensou no que lhe pode acontecer depois da morte?
- Não.
- Não tem medo de ir para o inferno?
Rodrigo cruzou as pernas, atirou o busto para trás e recostou-se contra a porta da capela.
- Padre, ouvi dizer que no céu não tem jogo nem bebida nem carreiras nem baile nem mulher. Se é assim, prefiro ir pro inferno. Além disso, as tais pessoas que todo mundo diz que vão pro céu por serem direitas e sem pecado são a gente mais aborrecida que tenho encontrado em toda a minha vida. Tenho conhecido muito patife simpático, muito pecador bom companheiro. Se eles vão para o inferno, é para lá mesmo que eu quero ir.
(...)
- Mas vosmecê nunca pensa em Deus?
- Uma vez que outra.
- Não reconhece que Ele fez o mundo e todas as pessoas que há no mundo?
- Se Deus fez o mundo e as pessoas, Ele já nos largou, arrependido.
- Não diga tamanho absurdo! Se Ele tivesse largado, tudo andava de pernas para o ar.
- E não anda?
(...)
- Nunca aprendi nenhuma reza nem me habituei a ir à igreja.
- Mas ainda tem tempo. Nunca é tarde, meu filho.
- Qual! Há certas coisas que a gente ou aprende quando é menino ou nunca mais. Mas, pra lê ser franco, não tenho sentido falta de igreja nem de reza nem de santo.
- Nem na hora do perigo?
- Pois na hora do perigo mesmo é que não penso nessas coisas.
- Paciência. Pode ser que um dia vosmecê mude. Deus é grande.
- E o mato é maior, padre. É o que esses caboclos aprendem na luta dura desde pequeninos. Não podem confiar em Deus e ficar parados. Quem fizer isso acaba degolado ou furado de bala. Às vezes o melhor recurso é ganhar o mato. A gente não pode estranhar que essa gente pense assim. Foi a vida que ensinou...
- Deus escreve direito por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve.
(...)
Rodrigo apanhou um seixo, fez pontaria numa árvore e arremessou-o, errando o alvo.
- Se eu fosse dono do mundo, fazia algumas mudanças...
- Por exemplo... - pediu o padre.
- Acabava com essa história de trabalhar...
- Sim, e depois?
- Fazia os filhos virem ao mundo de outro jeito. Eu vi o que a Bibiana sofreu. É medonho.
O vigário sorria. Aquelas palavras, partidas dum egoísta, não deixavam de ter seu valor.
- E depois?
- Dividia essas grandes sesmarias de homens como o coronel Amaral.
- Dividia? Como? Pra quê?
- Dividia e dava um pedaço pra cada peão, pra cada índio, pra cada negro.
- Não vá me dizer que ia libertar os escravos...
- E por que não? Acabava com a escravatura imediatamente.
(...)
- Ah! Eu ia m'esquecendo. Pra principiar, fazia o mundo mais pequeno, pra gente poder atravessar todo ele a cavalo, sem levar muito tempo.
- E como é que vosmecê ia se arranjar, indo dum país pra outro sem conhecer outra língua senão a sua?
- Eu acabava com esse negócio de línguas diferentes... Rodrigo fez uma pausa e ficou pensativo.
- Que mais?
- Acabava também com a velhice.
- Acabava?
- Quero dizer, ninguém envelhecia mais...
- Nem morria?
- Morrer... morria. Mas se morria era de desastre, nos duelos, nas guerras.
(...)
Rodrigo desabotoou a camisa e puxou-a para fora das bombachas. Sentia calor. Não havia a menor viração na noite cálida.
- Conheci muitos padres por esse mundo velho que tenho corrido. Eles nunca estão contra o governo.
- A Igreja não é revolucionária - exclamou o vigário. - A Igreja não é lugar de conspirações. Ela representa o poder espiritual, que está acima, muito acima do temporal.
- Não me venha com essas palavras difíceis, padre, que eu não entendo. Fale claro. Temporal pra mim é mau tempo. Mas, falando sério, amigo Lara, cá pra nós, no maior segredo, vosmecês nunca se arriscam a ir contra o governo, não é mesmo?
O padre rosnou alguma coisa ininteligível. Depois sua voz se fez clara e ele murmurou:
- Não é a Igreja que está com o governo. É o governo que está com a Igreja.
- Aha! - e a gargalhada de Rodrigo encheu aquele pedaço da noite que parecia envolver a casa. - Quando nós brigamos com os castelhanos, nossas bandeiras e nossas espadas eram benzidas aqui pelos padres católicos. E os padres católicos lá da Banda Oriental faziam o mesmo com as bandeiras e as espadas dos castelhanos. Como é que se explica isso?
- Isso prova que a Igreja Católica é universal. Está acima das paixões e dos interesses dos homens, que são todos iguais perante Deus.
- Iguais? Até os negros?
O padre teve um levíssimo instante de hesitação - não porque considerasse os negros animais, mas porque lhe passou pela cabeça uma dúvida quanto à maneira como o outro podia usar sua resposta.
- Até os negros, claro.
- Então por que é que vosmecê nunca protestou contra a escravatura?
O padre mexeu-se, tomado de mal-estar. Nessas ocasiões ele sentia mais agudamente que nunca aquele fogo no peito.
- Os escravos nesta província são muito mais bem tratados que em qualquer outra parte do Brasil! Eu queria que vosmecê visse como os senhores de engenho tratam os negros lá no Norte.
- Eu sei, mas vosmecê não respondeu à minha pergunta... Será que Deus não fez os homens iguais?
- Mas tem de haver categorias para haver ordem e respeito. - Usou uma palavra grande para esmagar o outro. - Tem de haver hierarquia. No fim de contas esse foi o mundo que nós encontramos ao nascer, capitão. Não podemos mudar tudo de repente.
Ia acrescentar: 'Um dia essas mudanças hão de fazer-se'. Mas achou melhor calar-se. As paredes tinham ouvidos."

Tipos de cerveja 72 - As Cider

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Certa vez, logo que cheguei na Irlanda, narrei aqui no Futepoca como comprei gato por lebre num supermercado ao levar latas de cider (cidra) em vez de cerveja. Não chega a ser a famigerada Cidra Cereser, imitação barata de champagne, mas é esquisito. Trata-se de alguma coisa que tenta imitar cerveja. "Cider é um horror, mas todo mundo toma essa porcaria por aqui. Não dá pra entender...", comentou, naquela época, a companheira Thalita, que estava na Inglaterra. De fato, o bagulho - do qual eu nunca tinha ouvido falar - também é muito consumido pelos irlandeses. Segundo o site português Cervejas do Mundo, "não sendo propriamente uma cerveja, fazemos aqui referência à cidra por ter um processo de produção muito semelhante. Feita de sumo de maçã fermentado, o seu sabor e aparência variam muito, consoante o local onde são produzidas. As cidras inglesas são secas, frutadas e possuem pouco gás, enquanto as que são elaboradas na Normandia são mais doces e efervescentes". O site acrescenta que, fora da Europa, os Estados Unidos e o Canadá são países onde existe uma boa produção deste tipo de bebida. Mas adverte (o grifo é nosso): "Infelizmente, é relativamente fácil elaborar bebidas parecidas com sidra, mas que pouco ou nada têm a ver com estas, já que possuem muito açúcar e aromas falsos". De qualquer forma, quem gosta de cidra e, aproveitando o clima natalino, quiser fazer uma graça com a família (ou com a "cara metade") e se arriscar a experimentar esse troço, pode procurar nas importadoras algumas marcas mais sofisticadas, como La Face Cachée de la Pomme Frimas Ice Cider, Cidre Dupont Réserve (foto) ou Rubis de Glace. Feliz Natal. E boa sorte!

sábado, dezembro 14, 2013

Como Fernando Haddad enxerga a comunicação

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Abaixo, trechos da entrevista concedida pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a Cristiane Agostine, do jornal Valor Econômico, publicada no dia 12:

Para Haddad, comunicação e publicidade são iguais (Foto Henrique Boney)
Valor: O senhor enfrenta dificuldades para melhorar a aprovação da gestão até mesmo entre os mais carentes, que devem ser beneficiados com o Bilhete Único Mensal e as faixa de ônibus. A que atribui isso?

Fernando Haddad: Jornalista se preocupa muito com pesquisa. Governante tem um outro tempo. O meu tempo é de quadrianual. Peço menos ansiedade.

Valor: Mas as pesquisas mostram que suas ações não têm se refletido em apoio, nem entre os que estão sendo beneficiados...

Haddad: E as campanhas de desinformação que foram feitas? Tem gente em Guaianases [zona leste] achando que o IPTU vai aumentar 200%. É muita desinformação, sobretudo sobre temas polêmicos como o IPTU. Vi programas de rádio dizendo que o IPTU ia aumentar 200%, sendo que na periferia vai cair.

Valor: O senhor vai mudar a comunicação da prefeitura?

Haddad: Sou contra gastar rios de dinheiro com publicidade
[Grifo nosso]

Na pergunta direita feita a respeito da comunicação da prefeitura de São Paulo, a sucinta resposta do prefeito equipara comunicação à publicidade. Se Haddad realmente tem essa visão, explica-se em parte o porquê de sua popularidade estar no nível que está.

Seria bom se ele lesse a entrevista do coordenador de seu programa de governo, Aldo Fornazieri, à Rede Brasil Atual. Aqui. Talvez mude um pouco o seu ponto de vista.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

"Eu sou Série B, caralho!"

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

O torcedor do Paraná Clube no vídeo abaixo queria só uma coisa: assistir ao jogo do Paraná Clube na Série B. Mas Caroline, a atendente da NET, não conseguia resolver o problema do assinante. E dá-lhe irritação.



Em tempo: apesar de ser um fanático paranista, o bravo homem fala em frente a um cooler do Santos. Vai entender...

E alô, torcida do Vasco. Lembrem de trocar o pacote da Net para 2014 desde já, assim evita-se a irritação verificada acima.

(Via Não Salvo)

quinta-feira, dezembro 12, 2013

Telê não ouviu o conselho do João

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Selo do compacto que tocou horrores em 1982
Tempos atrás, relembrei aqui no Futepoca a época em que o samba ainda dominava as ondas do rádio, pouco antes da explosão do chamado "Rock Brasil" e de centenas de bandas pop, em 1982, detonada pelo lançamento de "Você não soube me amar", da trupe carioca Blitz. Naquele mesmo ano, um dos sucessos mais tocados tinha sido "Meu canarinho", de Luiz Ayrão, composto especialmente para a Copa da Espanha. Curioso é que, recentemente, li "Meus ídolos e eu", livro que compila causos bem humorados escritos por Ayrão sobre colegas de música - e, entre eles, um ocorrido no período de disputa daquele mundial de futebol. Diz o autor:

João Gilberto: bronca
Fagner: ligação fatídica
"Apaixonado por futebol, meu amigo Fagner resolveu ir à Espanha torcer in loco pela Seleção Brasileira de 82. Exatamente, no dia de viajar, mais precisamente na hora de sair para o aeroporto, recebeu um telefonema. Mal disse alô, a voz do outro lado apresentou-se em tom grave e solene: 'Fagner, é João Gilberto!' João, àquela hora e daquele jeito? Logo a seguir veio aquele pedido inusitado e quase que premonitório: 'Diga ao Telê pra não colocar no time nem Valdir Peres nem Serginho Chulapa, tá bom? Boa viagem!' E, simplesmente, desligou.
Como todos sabemos de cor e salteado, passados os três jogos [sic] cheios de euforia, veio o desastre diante da Itália. Fagner permaneceu uns dias na Espanha, e depois foi dar um giro pela Europa na esperança de curar a ressaca. Ao retornar, quase um mês depois, chegou em casa, arriou as malas, abriu as cortinas e o telefone tocou. Mal disse alô, e de novo aquela voz grave, solene, triste, mas peremptória: 'Fagner, você não falou com o Telê!!!' E, simplesmente, desligou."

Fagner, Sócrates e Telê, na Espanha: o cantor teve oportunidade para dar o recado
Figurinha da Copa de 1982
Realmente, se não podem ser apontados como responsáveis pela derrota, o goleiro Waldir Peres (a grafia correta de seu nome é com W) e o centroavante Serginho Chulapa, que compunham o trio de sãopaulinos titulares da seleção com o zagueiro Oscar, não fizeram nada que justificasse suas convocações e escalações. Como comentou comigo o camarada Frédi, se Waldir não chegou a falhar ou "frangar", também não fez uma partida ou uma defesa digna de lembrança. E, quando o time vai mal, sempre se espera que o goleiro salve a situação - Barbosa que o diga! Waldir não conseguiu parar Paolo Rossi. E hoje, três décadas depois, pode parecer absurda a opção de Telê por ele, numa época em que jogavam Raul (Flamengo), João Leite (Atlético-MG), Marola (Santos), Leão (Grêmio) e mesmo os reservas naquela Copa, Carlos (Ponte Preta) e Paulo Sérgio (Botafogo). Acontece que o treinador tirou suas últimas dúvidas e "fechou" o grupo em 1981, quando Waldir estava, provavelmente, na melhor fase de sua carreira. E teve uma oportunidade a qual, literalmente, agarrou com as mãos.

João Leite durante o Mundialito
Telê testou outros goleiros. Em janeiro de 1981, o titular no Mundialito do Uruguai foi João Leite - mas o Brasil perdeu a decisão justamente para os donos da casa. Logo depois, em fevereiro, o goleiro do Atlético-MG atuou pela última vez em um amistoso contra a Colômbia, em Bogotá (empate em 1 x 1), e Telê Santana decidiu apostar em Waldir Peres para a disputa das Eliminatórias da Copa da Espanha. O sãopaulino tinha se destacado na conquista do Paulistão de 1980 e seria bi naquele ano, além de vice do Brasileirão. Deu sorte: foram cinco vitórias seguidas do Brasil nas Eliminatórias e mais uma num amistoso contra o Chile, em março. Mas a confirmação de Waldir como titular viria em maio, quando a seleção viajou para fazer três importantes e difíceis amistosos na Europa. Ali, o "futebol arte" do time de Telê começou a encantar o mundo, com vitórias sobre a Inglaterra, em Wembley (1 x 0), a França, em Paris (3 x 1), e a Alemanha, em Stuttgart (2 x 1). Nesta última partida, em 19 de maio, o goleiro do São Paulo viveu, talvez, o seu momento máximo no futebol.

O cabeludo Breitner, da Alemanha
Os brasileiros já venciam por 2 x 1 quando o zagueiro Luizinho, do Atlético-MG, cortou um cruzamento de Rummenigge com mão e o juiz inglês Clive Withe marcou pênalti (esse mesmo defensor cometeria duas penalidades não marcadas pela arbitragem na partida de estreia do Brasil na Copa da Espanha, contra a União Soviética). O lateral-esquerdo alemão Paul Breitner, campeão mundial em 1974, foi para a cobrança. E Waldir Peres defendeu! Porém, o árbitro mandou voltar, alegando que o goleiro tinha se adiantado. Na segunda tentativa, o alemão trocou de lado. E Waldir pegou mais uma vez, garantindo a vitória brasileira! (clique aqui para ver reportagem sobre esse jogo - e repare no manguaça alemão que dá entrevista em português, segurando uma garrafa de cerveja). Breitner ficou atônito. A torcida alemã também. E Telê Santana "bateu o martelo" sobre o goleiro titular na Copa de 1982.

Waldir voa para agarrar o pênalti batido por Breitner e assegurar a vitória do Brasil
Chulapa, que 'entrou numa fria'
Já Serginho Chulapa era apenas um "Plano B", que virou "A" por acaso. Prova disso é que foi reserva durante todo o Mundialito, em janeiro de 1981, e nem entrou na decisão contra o Uruguai. Chegou a ser testado como titular na estreia das Eliminatórias, mas logo em seguida perdeu a vaga para Reinaldo, do Atlético-MG. Serginho não esteve nos três amistosos disputados em maio na Europa e nem nos quatro outros disputados até o fim daquele ano. Mesmo assim, sob a promessa de que se comportaria em campo, evitando confusões e expulsões (o que realmente cumpriu), terminou sendo incluído no grupo que disputou a Copa de 1982. “Na verdade, o Serginho entrou numa fria. A seleção brasileira formada pelo Telê era muito técnica. O time foi montado para jogar com o Careca ou com o Reinaldo como centroavante. O Careca sofreu uma contusão e o Telê não quis levar o Reinaldo. Aí, o time teve de se moldar ao estilo do Serginho. E o estilo dele não tinha nada a ver com o resto da Seleção. Serginho era um atacante finalizador, de choque. Por isso que digo que, para ele, a seleção de 82 foi uma fria”, resumiu o Doutor Sócrates, em depoimento para o livro "O artilheiro indomável - As incríveis histórias de Serginho Chulapa", escrito por Wladimir Miranda.

Jorge Mendonça: desafeto de Telê
Buenas, seja como for, a bronca do vascaíno João Gilberto, que já morava no Rio de Janeiro naquela época (assim como Fagner, torcedor do Fluminense mas amigo íntimo de Zico), tem muito a ver com a rixa bairrista entre cariocas e paulistas. O Vasco tinha o centroavante Roberto Dinamite, que foi reserva na Copa. No Flamengo, que seria bicampeão brasileiro em 1982 e que tinha conquistado a Libertadores e o Mundial de Clubes no ano anterior, jogavam o já citado goleiro Raul Plassman e o centroavante Nunes, ambos em grande fase - e nenhum foi convocado sequer para a reserva na Copa de 1982 (se bem que a seleção já tinha como titulares os flamenguistas Leandro, Júnior e Zico). Fora a briga Rio x São Paulo, Emerson Leão, goleiro titular nas Copas da Alemanha e da Argentina, tinha sido um dos destaques do Grêmio campeão brasileiro de 1981. Mas era um dos desafetos declarados de Telê, após passagem do treinador pelo Palmeiras entre 1978 e 1980. Assim como o centroavante Jorge Mendonça, que "comeu a bola" jogando pelo Guarani em 81 (foi o artilheiro do Paulistão, com espantosos 38 gols), fazendo dupla exatamente com o jovem Careca. Ou seja, mais um bom goleiro e um ótimo centroavante que haviam sido preteridos por Telê. Por isso, mesmo antes da Copa, Waldir Peres e Serginho Chulapa já eram questionados por grande parte da torcida brasileira. Incluindo João Gilberto.

Waldir e Paolo Rossi, em 1982: mesmo sem culpa, goleiro ficou marcado pela eliminação

terça-feira, dezembro 10, 2013

Não é pelos 20 centavos. Não mesmo!

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook


Num outro post aqui do Futepoca, em abril, já tínhamos comentado sobre o público-alvo a quem a revista Veja se dirige: a classe média/alta conservadora, tacanha e egoísta. Principalmente a partir do início do governo Lula, em 2003, ficou explícito, de forma gritante, o direcionamento do discurso pretensamente "jornalístico". Não só na publicação da família Civita; quase todos fazem isso. Na imagem acima, com edições regionais direcionadas ao público paulistano de duas revistas - Veja SP (de novembro de 2010) e Época SP (de dezembro de 2013) -, vemos mais um exemplo didático da priorização do interesse dos ricos frente ao dos pobres. Três anos atrás, a Veja SP celebrava o sucesso de um empresário que vendia "um carro a cada três minutos", sem se importar se isso ia entupir as vias urbanas e inviabilizar o trânsito. Já na edição atual da Época SP, o prefeito Fernando Haddad (não por acaso, do PT) é achincalhado por ter reservado mais faixas exclusivas para os ônibus, priorizando o transporte coletivo e a maioria da população, que depende dele - mas "prejudicando", segundo a ótica da revista, os que possuem automóveis. 

Notem os dogmas do discurso elitista: o empresário está correto ao desovar milhares de carros nas ruas/ o prefeito (petista) está errado ao favorecer o transporte coletivo; as pessoas que compram carros são prioridade/ os que andam de ônibus que se danem. Curiosamente, essas mesmas publicações, dirigidas ao povo paulista, quase nada dizem sobre o metrô e os trens urbanos, superlotados, insuficientes, com falhas frequentes e sob suspeita de corrupção. Também evitam falar sobre os preços aviltantes dos pedágios nas estradas estaduais. A lógica da classe média/alta (e, por extensão, das publicações direcionadas a ela) é a da exclusão - como sendo algo positivo e almejado. Ninguém reclama dos pedágios porque eles mantêm os pobres longe do caminho dos "bem nascidos" nas rodovias. E os mesmos "bem nascidos" gritam e esperneiam quando se defrontam com os aeroportos lotados pelos pobres, que hoje têm condição econômica (e o direito!) de frequentá-los. Por isso, imaginem o ódio desses "bem nascidos" quando os ônibus recebem - com justiça - mais espaço nas ruas e avenidas da metrópole. É esse ódio (de classe) que vende essas revistas.

segunda-feira, dezembro 09, 2013

E o São Paulo salvou Criciúma e Coritiba

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Por incrível que pareça, o São Paulo, que iniciou o 2º turno do Campeonato Brasileiro na 18º colocação, precisando de pelo menos dez vitórias para conseguir escapar da Série B, livrou-se da ameaça com quatro rodadas de antecedência e terminou a competição como uma espécie de "Papai Noel", "presenteando" três pontos tanto para o Criciúma quanto para o Coritiba, o que foi decisivo para se salvarem. O time de Muricy Ramalho perdeu para os dois pelo mesmo placar de 1 x 0 e da mesma forma, sem demonstrar qualquer vontade de reagir. Nas duas ocasiões, depois de tomar o gol logo no início do primeiro tempo, "parou" de jogar, como se os jogadores sãopaulinos dissessem aos adversários: "Já está bom pra vocês? Tudo certinho? Assim resolve? Beleza, então vamos aguardar o apito final". E assim foi feito.

Com isso, caíram dois cariocas. E olha que o São Paulo, depois de livrar-se da Série B, ajudou primeiro o Fluminense, ao colocar um time reserva para o jogar no Maracanã e tomar um gol do zagueiro Gum no fim do segundo tempo. Não adiantou nada: o time de Dorival Júnior perderia para o Santos e empataria com o Atlético-MG nas rodadas seguintes e complicaria de vez suas chances de permanência na Série A. O rebaixamento do campeão brasileiro de 2012 dá ao torcedor sãopaulino a real noção de como o abismo esteve próximo este ano. Escapamos por quatro míseros pontos! A diferença entre São Paulo e Fluminense foi que o (incompetente) Juvenal Juvêncio teve um surto de consciência e trocou de técnico logo após o fim do 1º turno, enquanto a Unimed insistiu mais tempo com Vanderlei Luxemburgo.

Ali, naquele momento, o Fluminense estava na 15ª posição, com 22 pontos - apenas quatro a mais que o tricolor paulista. A diretoria achou que dava pé mantendo tudo como estava. Depois de uma derrota para o Corinthians, que completou sequência de nove jogos sem vitória, Luxemburgo foi demitido. Com apenas cinco jogos pela frente, Dorival assumiu com duas vitórias e deu esperança à torcida. Talvez, se tivesse assumido o time uns cinco jogos antes, teria tido melhor sorte. Talvez. Assim como o Vasco, que demorou muito para contratar Adilson Baptista - e também caiu. Agora, teremos no Brasileirão de 2014 três clubes de Santa Catarina (Criciúma, Chapecoense e Figueirense) e apenas dois cariocas (Botafogo e Flamengo). Com a queda da Ponte Preta e a volta do Palmeiras, os paulistas permanecerão com cinco times.





sábado, dezembro 07, 2013

Em primeira fase cheia de "reprises", Argentina tem caminho "fácil" para as semifinais

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Se o destaque do sorteio da Copa do Mundo ontem foi o fácil grupo que o Brasil, mas com um possível caminho rumo à final muito mais difícil na fase eliminatória, quem deve estar rindo à toa é Alejandro Sabella, técnico da Argentina. Além de um grupo tranquilo que conta com Irã, Bósnia e Nigéria, o caminho até as semis não deve ser pedregoso como o brasileiro, caso os portenhos confirmem seu favoritismo e terminem na primeira posição.

Messi tem chance de birlhar
Nas oitavas, a Argentina pega o segundo colocado do grupo E, que tem Suíça, França, Honduras e Equador. Não parece ser das missões mais ingratas. Nas quartas, caso avance, pega o vencedor do duelo entre o primeiro do grupo H, que tem Bélgica, Argélia, Rússia e Coreia do Sul, e o 2º do G, com Alemanha, Portugal, Gana e Estados Unidos. Na hipótese mais provável, um campeão do mundo só entraria no caminho do time de Messi nas semis. Claro, tudo isso contando com uma relativa lógica que o futebol adora contrariar...

Os argentinos também devem viajar distâncias menores que outras seleções. Na primeira fase, jogam no Rio, Belo Horizonte e Brasília. Fechando como líder, o caminho até a final tem São Paulo, Brasília e São Paulo de novo. Sendo que a equipe vai ficar em BH, nada que doa muito aos hermanos, ainda mais se comparando com os Estados Unidos, que na fase de grupos se deslocará por 5.609 quilômetros no período de dez dias.

Vendo as possibilidades do Brasil na fase eliminatória, percebe-se a diferença para nossos vizinhos. Os comandados de Felipão devem pegar Espanha ou Holanda, campeão e vice da última Copa, logo nas oitavas. Se passar, nas quartas a seleção enfrenta o vencedor da peleja entre o 1º colocado do equilibrado (por baixo) grupo C, com Colômbia, Grécia, Costa do Marfim e Japão, e o 2º do “grupo da morte”, com Uruguai, Inglaterra, Itália e Costa Rica. Se chegar às semis, pode pegar Alemanha ou França. Ou seja, pode ser um caminho no qual vai enfrentar somente campeões mundiais. Mas desde já aposto no Chile como zebraça no grupo B.

Show de reprises

Outro ponto que chamou a atenção no sorteio foi o elevado número de “duelos-reprises”, com partidas que já aconteceram em fases de grupo de outros Mundiais. O Brasil, aliás, pega um adversário na estreia, a Croácia, que já enfrentou como primeiro rival em outra oportunidade. Na Copa de 2006, Kaká marcou o gol da vitória por 1 a 0 contra os croatas. A seleção também enfrentou Camarões na primeira fase do Mundial de 1994, quando os comandados de Carlos Alberto Parreira bateram os africanos por 3 a 0, gols de Romário, Márcio Santos e Bebeto.



Em Copas, o México é freguês antigo, tendo sofrido goleadas nas primeiras fases da Copa de 1950, 4 a 0 com gols de Ademir (2), Baltazar e Jair, e em 1954, um 5 a 0 com tentos marcados por Pinga (2), Didi, Baltazar e Julinho. Na Copa de 1962, a seleção bateu os mexicanos por 2 a 0, gols de Zagallo.

No grupo B, Espanha e Chile já haviam se enfrentado na primeira fase da última Copa, de 2010 vitória espanhola por 2 a 1. Aquele grupo, a propósito, tinha Honduras e Suíça, que vão duelar novamente no Mundial de 2014 pelo grupo E. Os suíços também encontrarão outro velho conhecido, a França, que terminou em segundo lugar no grupo G da Copa de 2006, atrás do país dos relógios e chocolates.


No grupo F, Argentina e Nigéria repetem um jogo que já aconteceu na Copa de 2002, de triste lembrança para ambos. No “grupo da morte” da ocasião, os dois foram eliminados de cara, superados por Suécia, primeira colocada, e Inglaterra, que hoje integra outro grupo complicado, o D. Nele, Itália e Uruguai vão reviver um duelo disputado na fase de grupos da Copa de 1970, quando ambos avançaram, terminando entre os quatro melhores do torneio. Na ocasião, houve empate em 0 a 0, mesmo resultado de partida válida pela primeira fase da Copa de 1966 entre ingleses e uruguaios, que também se encontram mais uma vez em Mundiais.


quinta-feira, dezembro 05, 2013

Robledo, jogador chileno que inspirou garotinho inglês

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Cidade de Liverpool, em 1952
Antes dos Beatles surgirem, a cidade portuária de Liverpool era mais conhecida, na Inglaterra, pela sua profusão de comediantes e pelo fanatismo de sua classe operária (formada principalmente pela massa de descendentes de irlandeses) por futebol. Cada vitória dos clubes Liverpool e Everton representava um "cala boca" dos nortistas sobre os habitantes do resto do país, especialmente os arrogantes londrinos, que os desprezavam como "caipiras" e provincianos. Muitas vezes, a defesa desse orgulho do "povo do Norte" ultrapassava fronteiras e fazia com que os scouses (apelido dos operários liverpudianos) torcessem para qualquer clube da região - como o Blackpool e o Leeds United, entre outros - contra os times de Londres, como o Chelsea, o West Ham etc.

'George' Robledo, herói do título
Foi o que aconteceu na decisão da Taça da Inglaterra, em 1952. O poderoso Arsenal, da capital, enfrentaria o Newcastle, campeão da edição anterior. Como a cidade de Newcastle upon Tyne fica no extremo Norte do país, perto da fronteira com a Escócia, os torcedores de Liverpool ficaram naturalmente a favor do time local. A partida disputada no dia 3 de maio daquele ano, no lendário Estádio de Wembley, paralisou todos os ingleses fanáticos por futebol. Mas foi um chileno o protagonista do jogo: aos 39 minutos do segundo tempo, Jorge "George" Robledo Oliver marcou de cabeça o gol do título para o Newcastle, levando o "povo do Norte" à loucura (clique aqui e veja vídeo sobre a conquista histórica).

O garotinho John, aos 11 anos
Em Liverpool, um garotinho talentoso de 11 anos, que gostava muito de ler, escrever e desenhar, ouviu a partida épica pelo rádio e também se entusiasmou. Neto de um irlandês legítimo e muito orgulhoso por ser um scouse, John Winston Lennon morava com os tios Mimi e George, pois seus pais não puderam criá-lo. É possível que, menos por gostar de futebol do que por defender a honra do "povo do Norte" contra os odiados londrinos do Sul, ele tenha decidido exaltar o grande feito do Newcastle em um desenho. E talvez este enraizado sentimento bairrista possa ter ressurgido 22 anos depois, em 1974, quando, já como um famoso ex-beatle, John Lennon escolheu o mesmo desenho para ilustrar a capa de um de seus discos.

O ex-beatle Lennon, em 1974
"Walls and bridges" ("Muros e pontes") traz, como sucessos, as músicas "Whatever gets you thru the night" e "#9 Dream". Foi um dos três trabalhos que Lennon gravou no período de um ano e meio em que esteve separado de sua segunda esposa, Yoko Ono. A ilustração na capa do disco mostra dois jogadores de futebol com camisas listradas preto e branco, à direita, disputando a bola com um defensor de uniforme vermelho e branco e um goleiro com camisa azul. Está escrito: "John Lennon, junho de 1952, idade 11, futebol". Ou seja, um mês após a vitória do Newcastle sobre o Arsenal. E o desenho mostra o gol do chileno Robledo, que decidiu a Taça da Inglaterra. Vejam:

Desenho que ilustra o disco "Walls and Bridges", de 1974, feito 22 anos antes
Lance do gol de Robledo, que é observado pelo colega Jackie Milburn (camisa 9)
Estátua do 'herói' Milburn
Notem que, assim como na foto, Lennon fez questão de preservar destaque para o camisa 9 do Newcastle, o lendário Jackie Milburn, que observava o gol do colega Robledo. Isso tinha um conteúdo simbólico para John: ele nasceu no dia 9 de outubro e considerava este como seu número de sorte, o que o levou a batizar canções com títulos como "Revolution 9" e a já citada "#9 Dream". E vejam que coincidência: John Edward Thompson "Jackie" Milburn, o tal camisa 9, que era idolatrado no Norte da Inglaterra como "Wor Jackie" (algo como "Nosso Jackie", no dialeto local), faleceria justamente num dia 9 de outubro, em 1988, quase oito anos depois de Lennon ter sido assassinado. Assim como John na música, Milburn foi um "Herói da classe operária" ("Working class hero", título de outra canção do ex-beatle) no futebol.

Robledo, pelo Chile, na Copa de 50
Mas o jogador mais festejado, naquela conquista do Newcastle, foi mesmo "George" Robledo. Nascido em Iquique, no Chile, em abril de 1926, era filho de um chileno e uma inglesa. Por problemas políticos, a família emigrou para a Inglaterra quando ele tinha 5 anos. Foram morar em Brampton, cidade famosa pelas minas de carvão. Robledo trabalhava exatamente como mineiro quando começou a jogar futebol. Chegou ao time do Newcastle em 1949 e se destacou a ponto de ser convocado pela seleção chilena para a Copa de 1950, no Brasil, mesmo sem saber falar espanhol. Jogou apenas a terceira e última partida do Chile naquele Mundial, 5 a 2 contra os Estados Unidos, em Recife (clique aqui e veja o vídeo) - e foi Jorge Robledo quem abriu o placar. Mas os chilenos já haviam perdido para a Espanha e justamente para a Inglaterra e foram eliminados.

Robledo (à direita) escora a bola e abre o placar contra os Estados Unidos, em Recife

John em 1961, rumo à glória
Em 1953, um ano depois de marcar o gol que deu o título da Taça da Inglaterra ao Newcastle, Robledo voltou para o Chile, para jogar no Colo-Colo. Mais tarde, em 1959, passou para o Club Deportivo O'Higgins, onde encerrou a carreira dois anos depois. Naquele momento, lá no Norte da Inglaterra, uma banda de rock'n'roll formada por quatro scouses liverpudianos começava a trilhar sua trajetória rumo à glória mundial, os Beatles (trocadilho entre beat, batida, e beetles, besouros). E o líder e fundador do grupo era ninguém menos que John Lennon, o garotinho que havia orgulhosamente registrado em desenho o gol do título do Newcastle de 1952. Domingo agora, 8 de dezembro, completam-se 33 anos de sua morte. Já Robledo morreu em abril de 1989, no Chile, seis meses depois do ex-colega de equipe Jackie Milburn.


quarta-feira, dezembro 04, 2013

Tipos de cerveja 71 - As Chile Beer

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Segundo o site parceiro Cervejas do Mundo, as Chile Beer são outro tipo moderno de cerveja - e em franca expansão. Podem ser ales ou lagers, com adição de algum elemento picante. Por exemplo, pimentas malaguetas (Opa! Agora o camarada Glauco ouviu conversa!). O mais comum é a utilização do jalapeño, ingrediente muito utilizado na cozinha mexicana (e bem ardido). Porém, o parceiro Bruno Aquino, do site português, alerta que, "apesar de divertidas, é raro encontrarmos um resultado final que seja satisfatório, isto se pensarmos em termos de qualidade da cerveja". Buenas, quem quiser arriscar mesmo assim pode procurar pela Rogue Chipotle Ale, a Winkoop Patty's Chile Beer (foto) ou a Rock Bottom Cinco de Mayo.  

terça-feira, dezembro 03, 2013

Adiós, 'El Verdugo'

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Com a camisa do São Paulo: 393 jogos e 119 gols
O ano de 2013 ficará marcado pela perda de jogadores de futebol geniais, verdadeiras lendas do esporte bretão. Depois de Djalma Santos, Gylmar dos Santos Neves e Nilton Santos, faleceu ontem, em São Paulo, Pedro Virgilio Rocha Franchetti - ou simplesmente Pedro Rocha, considerado "um dos cinco melhores jogadores do mundo" por Pelé, nos anos 1960. O uruguaio, que completaria 71 anos justamente hoje, sofria de atrofia do mesencéfalo, doença degenerativa que o impedia de andar e falar, além de prejudicar a visão, e que se agravou nos últimos anos. Peñarol e São Paulo, os times onde se destacou, chegaram a conversar sobre um amistoso que seria realizado em janeiro, para reverter a renda ao ex-jogador, mas não deu tempo. Ultimamente, vivia na capital paulista, junto com a mulher Mabel.

Conhecido como "El Verdugo", por ser "carrasco" das defesas adversárias, Pedro Rocha era um meia-atacante artilheiro, na "escola" de Pelé (foi o goleador do Brasileirão de 1972, por exemplo). Despontou no Peñarol aos 17 anos e, entre 1959 e 1968, conquistou oito títulos uruguaios, três Libertadores da América e dois Mundiais de Clubes - em 1966, com duas vitórias sobre o poderoso Real Madrid, Rocha fez um dos gols no jogo decisivo, da volta, na Espanha. Disputou quatro Copas seguidas pelo Uruguai, entre 1962 e 1974. Chegou ao São Paulo em 1970, onde seria campeão paulista em 1971 e 1975 e brasileiro em 1977. Ao todo, disputou 393 jogos pelo Tricolor do Morumbi e marcou 119 gols (é o 12º maior artilheiro do clube). Fez uma Libertadores brilhante em 1974, mas não conseguiu o título. Foi um dos que mais choraram a derrota para o Independiente.

Antes de pendurar as chuteiras, ainda passou pelo Coritiba (campeão paranaense em 1978), Palmeiras, Bangu e futebol mexicano (Deportivo Neza e Monterrey), até encerrar a carreira no Al Nassr, da Arábia Saudita. Tornou-se treinador e, a partir de 1981, dirigiu vários times do interior paulista, até chegar à Portuguesa, em 1988, e de lá foi para o português Sporting. Voltou para treinar o Internacional de Porto Alegre, em 1996, esteve no Japão (Kyoto Purple Sanga) no ano seguinte e depois passou por Ponte Preta, Ituano, Caldense e XV de Piracicaba, até se aposentar definitivamente, em 2000. "A mágica e a mística de Pedro Rocha estarão para sempre nas páginas de ouro da trajetória do São Paulo Futebol Clube", diz nota oficial emitida pelo clube paulistano. Adiós, "El Verdugo", descanse merecidamente. E muito obrigado!




'In elementis mé pra quem é amistosis'

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Alguém que gosta muito de "molhar a palavra" deve ter sido demitido da Imprensa Oficial do Estado de Alagoas. Para espanto de muitos, constrangimento do governo local e felicidade geral da Nação, o Diário Oficial alagoano publicou momentaneamente, ontem, a seguinte nota:

Mussum ipsum cacilds, vidis litro abertis. Consetis adipiscings elitis. Pra lá, depois divoltis porris, paradis. Paisis, filhis, espiritis santis. Mé faiz elementum girarzis, nisi eros vermeio, in elementis mé pra quem é amistosis quis leo. Manduma pindureta quium dia nois paga. Sapien in monti palavris qui num significa nadis i pareci latim. Interessantiss quisso pudia ce receita de bolis, mais bolis eu num gostis. Suco de cevadiss, é um leite divinis, qui tem lupuliz, matis, aguis e fermentis. Interagi no mé, cursus quis, vehicula ac nisi.

E foi assim que nosso Mestre Mussum (que Deus o conserve em tonel de bálsamo!) tornou-se o "pivô" dessa inacreditável "saia justis". A assessoria de comunicação da Secretaria da Fazenda alagoana apressou-se em repassar o abacaxi, dizendo que "a publicação foi uma falha ocorrida na Imprensa Oficial".

Em nota, afirmou que "o texto publicado não condiz com a resenha enviada pelo Gabinete desta secretaria, na última sexta-feira". AH, BÃOZIS, AINDA BENZIS!

Confiram imagem da "páginis mussunzianis" publicada em Alagoas:

'Sapien in monti palavris qui num significa nadis i pareci latim.' Sensacionalzis!

segunda-feira, dezembro 02, 2013

Cenas que ninguém faz questão de ver OU 'Vem, mon amour, vem fazer Flu-Flu...'

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Tem muita gente urubuzando o Fluminense (principalmente a urubuzada flamenguista) para que o clube, campeão brasileiro de 2012, despenque para a Série B na última rodada do nacional deste ano. Muita dessa "secação" decorre de uma das maiores e mais vergonhosas viradas de mesa do nosso futebol, quando a famigerada Copa João Havelange, que substituiu o Brasileirão no ano 2000, alçou o time das Laranjeiras injustamente para a Série A, quando, como campeão da Série C no ano anterior, deveria mesmo era ter disputado a segundona.

A queda para a Série C em 1998, aliás, ficou marcada por uma promessa do veterano Renato Gaúcho, que garantiu desfilar pelado caso o clube confirmasse o rebaixamento. O time caiu e - felizmente - o jogador não cumpriu com a própria palavra. Pois agora, 15 anos depois, quando o Fluminense está na beira do abismo da Série B, outra "personalidade" faz ameaça idêntica. Sérgio "Vem Fazer Glu Glu" Mallandro decreta: "Se o meu Flusão cair, eu vou andar na orla de Copacabana de fio dental." Acho que agora muita gente vai mudar de ideia e torcer para o Flu escapar...

domingo, dezembro 01, 2013

Santos não amolece de novo e vira sobre o Atlético-PR

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Se o Santos, mesmo sem ter mais nada a fazer no Brasileiro de 2013, não amoleceu contra o Fluminense, empurrando o rival carioca para o Z-4, o Atlético-PR também não teve vida fácil no estádio Benedito Teixeira, em São José do Rio Preto. Mesmo saindo na frente, o Furacão tomou o 2 a 1 e teve frustrado o sonho de se garantir na Libertadores na penúltima rodada.

Santos mantém tabu contra Furacão (Site do Atlético-PR)
O Peixe voltou ao palco do título de 2004, conquistado em um jogo contra o Vasco, justamente em uma disputa particular com o adversário de hoje, vice-campeão à época. Os dois times entraram tentando exercer pressão no campo adversário do outro, com o Alvinegro um pouco melhor, mas esbarrando na forte defesa paranaense. O Atlético-PR, no entanto, equilibrou a partida e Marcelo, revelação do campeonato, atuando contra uma marcação quase solitária de Cicinho, acabou fazendo a diferença e o gol do Furacão, aos 27.

Mesmo com a vantagem, os jogadores da equipe paranaense, e seu técnico Vágner Mancini, demonstravam certo nervosismo, talvez abalados pela perda do título da Copa do Brasil no meio de semana. E não demorou para o Santos empatar. Aos 33, Geuvânio deu belo passe para Cicinho (que quase não entendeu a jogada). O lateral foi à linha de fundo e cruzou para Cícero marcar de cabeça. O 1 a 1 fazia justiça a uma etapa inicial igual, com leve vantagem peixeira.

No segundo tempo, Claudinei acertou a marcação sobre Marcelo e os erros de passe de lado a lado se multiplicaram. Sem Paulo Bayer, o Atlético padecia de falta de criatividade, com lances pouco incisivos. O Santos também não conseguia criar, e desperdiçava oportunidades de chegar no gol adversário nos contra-ataques. O segundo gol nasceu de um lance que poucos esperariam.

Edu Dracena havia dado lugar a Durval, de volta após longo tempo e depois de travar uma discussão pública com o técnico. Dos seus pés saiu um lançamento primoroso que encontrou Cícero. O meia teve habilidade para dominar e tocar por cobertura na saída do goleiro paranaense na enésima tentativa do adversário de fazer a linha de impedimento, que funcionou durante boa parte do tempo, mas foi fatal nesse lance.

A partir daí, só deu Santos, que poderia ter aproveitado o desespero do Atlético para marcar o terceiro, mas pecou pela falta de precisão. Vitória importante que mantém uma escrita: o Peixe nunca perdeu para o rival em casa em Brasileiros. E um resultado que demonstra o profissionalismo do Santos quando neste campeonato, como em quase toda edição de Brasileiro, existem polêmicas sobre “entregas” e quetais.

De quebra, a vitória peixeira força o Atlético-PR a ter que ganhar do Vasco para se garantir na Libertadores. Nessa peleja, em Joinville, não vai ter marmelada...

quinta-feira, novembro 28, 2013

Os Beatles, esses comunistas hipnotizadores!

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

'I wanna hold the sickle and the hammer'
O peculiar apreço por bizarrices literárias já me levou a ler, por exemplo, um dos livros "Universo em Desencanto", da Cultura Racional, que fisgou Tim Maia nos anos 1970. Por ele fiquei sabendo que descemos de uma planície do mundo superior e, quando o sol começou, regredimos para a energia animal, ressurgindo deformados a partir da resina e da goma - ou algo parecido. Como acredito que todas as pessoas são loucas, em maior ou menor grau, explícita ou implicitamente, diferenciadas apenas pelos milhares de tipos de distúrbios conhecidos ou ainda não catalogados, esses delírios publicados com a chancela de "coisa séria" comprovam minha orientação filosófica de que "nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle". Sob o "estandarte do sanatório geral" do Chico Buarque.

Pôster dos quatro rapazes de Leningrado
Por isso, fuçando coisas inúteis, acabei encontrando meu próximo alvo: o livro "Comunismo, hipnotismo e os Beatles" ("Comunism, hypnotism and The Beatles"), do reverendo David A. Noebel, publicado em 1964. O que mais espanta é que o autor classifica sua obra como uma "tese" e desenvolve uma teoria da conspiração absolutamente sincera de sua parte - o que torna tudo ainda mais divertido. Impregnado pela paranoia anti-comunista disseminada nos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial e indignado com a beatlemania que tomava conta do país naquele início dos anos 1960, Noebel afirma que os quatro rapazes de Liverpool foram treinados em um laboratório de "hipnose em massa e neurose artificial" na União Soviética para hipnotizarem os jovens e torná-los histéricos, retardados, rebeldes, promíscuos e... comunistas! Como é que ninguém percebeu?!??

Lembre-se: 'She loves you, yeah,yeah,yeah!'
Deliciem-se com o seguinte trecho do livro: "Os comunistas, através de seus cientistas, educadores e artistas, inventaram uma técnica elaborada, de cálculo e científica, voltada para fazer uma geração de jovens americanos inútil, para, através do nervo óptico, atingir a deterioração e o retardo mental. O plano envolve reflexos condicionados, hipnotismo e certos tipos de música. Os resultados, destinados a destruir a nossa nação, são precisos. Não é de admirar o Kremlin dizer que não vai levantar a bandeira vermelha sobre os norte-americanos, pois eles mesmos irão fazê-lo. Se o seguinte programa científico destinado a fazer os nossos filhos mentalmente doentes não for exposto, os americanos ficarão mesmo mentalmente degenerados". Excelente! Sim, é paranoia, delírio, mistificação e mais um monte de disparates interessantes!

Pra quem quiser me dar um presente de Natal, fica a dica. E EU SOU NORMAL!

'Nada faz sentido e tudo está absolutamente fora de controle'

P.S.: Caso não encontrem essa obra prima, tá valendo essa aqui também, ó:

Elvis não morreu: ele está vendendo incensos em uma tenda no Nepal