
Todo dia, depois de fechar a oficina, comparecia ao bar, jogava sinuca com os vizinhos. O pessoal bebia bem, só cachaça. A diferença é que os colegas de copo moravam a poucos metros do estabelecimento etílico, enquanto Celeste vivia longe dali, sozinho, e tinha de voltar dirigindo.
Quando era hora de ir embora, porque o dono do boteco também precisava voltar para casa, acontecia o previsível. Muito pior do que não acertar a chave na fechadura da porta do carro, era o que o Celeste fazia, que não conseguia passar pela porta aberta. Os outros bêbados é que precisavam ajudar o cidadão a se acomodar no carro.
Mas bastava ele se instalar para uma transformação acontecer. A dificuldade para abrir a porta até para passar por ela ia embora e Celeste despertava, dava partida e logo saía, como se estivesse sóbrio.
Ao ir para casa ou na manhã seguinte no cafezinho da padoca, os outros agora ressaqueados se preocupavam, o que seria do Celeste naquele estado? De tão bêbado, teria chegado inteiro? Rumo ao serviço, passavam em frente a mecânica e lá estava o Celeste debruçado sobre algum carro, nenhum sinal da cachaçada do dia anterior. Ou quase nenhum.
Os poucos que se aventuraram em todos os anos de sinuca a pegar uma carona no Fusca do mecânico saíram enojados. Celeste mal limpava o console do carro com os resultados do excesso de álcool. Nunca ninguém conseguiu explicar como o cara conseguia sobreviver àquela roleta russa, a não ser com a explicação de que ele dirigia melhor bêbado. Até porque, pelo que contavam, não pegava a direção sem estar calibrado. Parece que morreu de enfarte, há uns vinte anos, depois de outros 25 anos de álcool e direção todo dia.
Já vi homem chamado Dagmar, Iraci... mas Celeste, nunca.
ResponderExcluirSe algum dia eu tivesse aprendido a dirigir, não estaria aqui escrevendo essas palavras. Mais de dez colegas morreram ao volante, encachaçados. O último foi o Baiano, depois de um baile, no dia 11 deste mês.
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