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Segue mais uma colaboração do convidado do Futepoca, Marcelo Peron, aquele que não quer mais dar moleza ao perueiro.
Peron escreveu agora sobre outra paixão, o cinema e a mídia.
Aí vai:
Cidadão Kane: fakes & remakes
Uma das questões mais interessantes sugeridas pela sociologia da arte pode ser formulada do seguinte modo: quem pode sonhar sonhos novos? A resposta parece emergir do universo paralelo que é Minas Gerais, à moda Beto Guedes, talvez: "recusar o poder". O esoterismo mineiro, contudo, anda a par com o pragmatismo dos tropeiros: ora, e quem acalenta sonhos velhos? Muitos e inúmeros, mas para nós da terrinha é delicioso observar como editores de semanários, gestores de portais e afins aninham sonhos que só são seus, na medida em que reproduzem os cacuetes de Charles Foster Kane, no antológico Cidadão Kane, de Orson Wells. Bem lida, contudo, a fábula que perpassa o filme não trata do domínio da realidade, mas de sua instituição. Portanto, notícia e ficção, verdade e mentira, análise e estratégia, matéria e propaganda são, a rigor, uma única e mesma coisa, fundidas que estão por uma ânsia de poder total. Esse sonho, obviamente, só pode ser sonhado em uma época como a do capital monopólico, concentrado, em que as escalas são imensas e descomunais, desproporcionais, a rigor, ao pequenino do homem. Mais ainda: em um momento em que a produto dileto do capitalismo é a própria produção da realidade, a partir da estetização do real – razão pela qual a indústria do entretenimento e a mídia são as jóias da coroa, na empresa capitalista contemporânea. Como se combate em um era de poderes totais? Foucault, Deleuze, Walter Benjamin indicaram um caminho promissor: a pequena luta, a guerrilha, inclusive no campo simbólico e artístico. O cinema acrescentou a essa tese um personagem exemplar: Carlitos. Para vencer é preciso aceitar a condição insólita do marginal e do palhaço, opor-se ao imenso nessa pequenas escala, que é a do corpo humano. É provável que assim a vitória seja total. Em tempo: o personagem pândego de Chaplin, que aceita ser patético, excêntrico e extemporâneo, é um espelho que reflete não o seu próprio ridículo, mas a natureza patética de toda vitória que se baseia na desproporção. E não é sempre esse o caso quando intervém o capital como poder concentrado? Como máquina midiática?
Outras dicas de links do Peron:
Lux: censura a PHAmorim atenta contra a democracia
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Rovai: Um editorial “tucano” de Caio Túlio no IG
O medo de amar e o medo de ser livre (Beto Guedes)
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