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Do corintiano Marcelo Peron, uma colaboração extraordinária ao Futepoca. Ele conta como um sarrista reacende o corintiano.
O Palmeiras e a perua
No zoológico do futebol, Palmeiras é porco. Para mim, contudo, a imagem verde vem todo dia, de segunda a sexta, pelas mãos de uma perua. Explico. O senhor que conduz minhas filhas à escola é palmeirense, e do tipo profissional: corre toda a imprensa esportiva, ouve rádio, assiste ao primeiro, segundo e terceiro tempos etc.
Minha prole escolar, três meninas, ajuda pouco nas contendas. A evidência talvez estatística: a mais velha tem dezesseis anos e todas são sãopaulinas.
Ocorre a mim, por outro lado, ser tão corintiano quanto católico: não comungo, não confesso, nem vou à igreja. Como ninguém fica livre de recair em comportamentos juvenis – especialmente caras que insistem em se manterem comunistas aos 46 anos –, tem sido mais fácil ser ateu do que abandonar o Timão. Tem coisas que parecem estar mesmo no sangue, como ser filho da D. Marilice e do seu Nelson (será que um dia a engenharia genética vai descobrir, finalmente, que a opção por um determinado time é uma predisposição dos cromossomos?)
Bem, seja lá como for, o fato é que uma pantomima futebolística colore todas as minhas manhãs, e evidentemente com as mais cruéis sutilezas desportivas:
– Seu Marcelo, se for para viajar na segunda, deixa o e-mail. Sabe como é, vai ter Palmeiras e Corinthians, e a coisa tá mesmo preta pro seu lado...
– Seu Marcelo, o trânsito na Raposo Tavares anda à corintiana: não passa da segunda....
Até recentemente vinha levando essa "pendenga" na maciota. De tanto o palmeirense falar, contudo, acho que acabou reacendendo o velho ímpeto. É até mesmo provável que todas velhas paixões se animem em flash-backs, como a gente vê nas soluções clichês do cinema. Saudosismo kitch à parte, o fato é que me lembrei de que o Corinthians era, lá pela década de 70 do século passado, uma opção por estar à margem, por sofrer o exílio dos títulos e das consagrações, uma afinidade com a galera que, além do futebol, sofria por conta de sua cor, da condição econômico-social, e que tinha fome de liberdade. Aquele era na verdade o meu Corinthians: um outro Brasil.
Na minha latência futebolística talvez não tenha percebido que aqui, neste novo mundo, o Corinthians continua significando muito do meu verbete inconformidade. Um Brasil de outro jeito, a proposta anarco-etílica da democracia corintiana, a pretensão de reinventar a nação. Nem tudo andou, mas é bom reencontrar a velha paixão.
Para o palmeirense da perua, portanto, um recado: acabou a moleza...
4 comentários:
Caro Anselmo:
eu não sei quem é o novo presidente do Corinthians, não sei quem são os jogadores; não sei quem é o técnico; só sei que sou corintiana desde que me entendo por gente. É uma coisa, tipo assim, de alma. minha alma é 'malokera". Eu sou do timão.
Neide.
Grande texto do Marcelo Peron. Me fez lembrar os anos 70, quando o dom Paulo Evaristo Arns (que escreveu o livro "corintiano graças a deus" e que foi até ao papa falar da importância do são Jorge para a Fiel), enfim, o Dom Paulo, sempre que tinha jogo do Timão, aproveitava pra fazer a sua liturgia do sofrimento do povo diante da opressão da ditadura e da miséria material. Dizia que o Corinthians encarnava esse sofrimento do povo brasileiro. E os militares ouviam, quietinhos. Dom Paulo, um esquerdista dentro da Igreja, passava o seu recado. Depois, veio a "Democracia Corintiana" (com Sócrates, Casagrande, Vladimir) que encarnou o que o Futepoca também encarna: futebol, política e cachaça...
Sem palavras, belo texto. Quero saber a continuação com as respostas ao perueiro!
Lindo texto.
CHUPA PIRUERO ANTICORINTIANO
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