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Fosse no futebol, estariam reclamando de arbitragem frouxa com tanto cai-cai. Nem Valdívia, nem Neymar, pra citar dois dos comumente acusados de simular faltas excessivamente vão tanto ao solo como os ministros do governo da presidenta Dilma Rousseff.
A comparação é ruim, no entanto, porque embora a zaga seja formada por um grupo de jogadores sem muita classe, daqueles pesados, truculentos e sem jogo de cintura, quem cai não é quem simula. Os ministros vão embora reclamando que as denúncias nem sempre ou quase nunca incluem provas. Mesmo assim, terminam enterrados.
A mídia convencional (conservadora e velha) "derrubou" nesta quarta-feira, 26, Orlando Silva, ministro do Esporte. Houve quem negasse a barriga, que seria a quinta. A confirmação se ele vai ou se fica deve vir no fim da tarde.
Por um tantinho assim que não caí... (Elza Fiúza/ABr) |
A partir de Antonio Palocci (Casa Civil), em junho, seguindo Alfredo Nascimento (senador do PR-AM), em julho, de Wagner Rossi (PMDB), da Agricultura, em agosto, e Pedro Novais (deputado federal do PMDB-MA), do Turismo, uma troca tem sido motivada por mês por suspeita de corrupção. Além deles, agosto "bisou" em fritada de ministro, já que Nelson Jobim, também do PMDB – embora da suposta "cota pessoal" da presidenta –, deixou a Defesa por desgaste político e críticas patéticas a colegas. Repetiu dança de cadeiras também junho, quando mudaram de posição os titulares da Secretaria de Relações Institucionais e do Ministério da Pesca, com Ideli Salvatti terminando no primeiro e Luiz Sérgio, no segundo.
De todas as quedas, apenas Palocci é do PT. Os demais são de partidos aliados, a coalizão que deu a Dilma a maior base de apoio no Congresso da história da República... Uma base que, de tão coesa, impôs a primeira derrota ao final do quinto mês de mandato, com a emenda 164 do Código Florestal.
A turma de tuiteiros e blogueiros anda monotemática reclamando de o governo Dilma só reagir à pancadaria mandando ministro embora. Eles demandam mais respostas em outras frentes, o que passaria por contrariar os conglomerados de mídia em temas como regulamentação do setor um Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) mais efetivo e mais público.
Jorge Bastos Moreno, da Rádio Globo, sintetizou de um modo interessante: "Se Orlando é culpado ou inocente, não importa. Nós criamos uma jurisprudência da acusação desqualificada e sem prova. É um marco na mídia."
O sempre brilhante e ebriamente inspirado Xico Sá, fez uma alusão literária para dizer que o esporte nacional não é o futebol, mas a rasteira – torpedo de sabedoria de Graciliano Ramos, que até foi preso em 1935, na Era Vargas, por ser comunista.
Como o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ex-Código Florestal, ex-candidato a ministro do TCU mas ainda comunista segundo filiação, é um dos nomes mais cotados. Ele talvez tivesse mais apoio da bancada ruralista, mas se isso não garantiu sequer a vitória sobre Ana Arraes na disputa no tribunal auxiliar ao Legislativo, dificilmente o pouparia de algum bombardeio de denúncias.
Ao desistir de manter Orlando Silva sem abrir mão da pasta, o PCdoB frita um cacique para manter a estrutura. Taticamente, pode ser uma escolha compreensível que mantém o partido bem posicionado em uma área com visibilidade em um cenário pré-Copa do Mundo de 2014 e pré-Olimpíada de 2016. Ao mesmo tempo, livra Dilma da pressão de encontrar uma manchete a cada novo dia com revelações sobre "mal-feitos", como ela própria gosta de designar, em sua gestão.
Não muda a dinâmica nem o mecanismo de derrubada de ministro. Um por mês a partir de uma acusação. Mesmo que a denúncia inicial recorra a aspectos um pouco cinematográficos ou inverossímeis, a estratégia é de apontar uma perdiz na certeza de que, naquela direção, voa um elefante voador que com certeza será alvejado com o disparo.
Quando a coisa vinga, é porque tinha coisa errada naquela direção, mesmo que dinheiro nenhum tenha circulado em estacionamento. Mas dá ânimo para se continuar a manter o governo nas cordas e na defensiva, com a pecha de corrupto. Aliado à aposta (torcida?) de que a crise externa se agrave e afete a economia brasileira, pode criar um cenário ruim para o PT na eleição de 2012 e sabe-se lá o que haveria em 2014.
Acreditar que a economia vai expiar os pecados pintados pela mídia como capitais pode envolver um risco. Uma coisa é o efeito que uns dez anos de crescimento mais ou menos constante (com dois repiques, em 2004 e 2009) depois de 20 de recessão. Outra é achar que crescer – e ainda menos do que antes – depois de uma década movimentada tem o mesmo efeito. Optar por só apanhar e ceder, com certeza não resolve.
11 comentários:
Pois é...
Eu não concordo com a troca, se houvesse alguma prova, mas sem prova é ridículo!
Parece coisa de criança que faz manha em público e os pais, por terem vergonha do escândalo, cedem...
Até entendo o medo e o desgaste diário do governo por conta de tantas acusações, mas sei lá...
Pois é, se é só acusar que cai um ministro, não vejo os caras parando de atirar. Em algum momento, a presidenta vai ter que mudar o rumo da prosa.
Mas, no mínimo, o temo suscitou boas metáforas. Não gostei da futebolística do começo do post, Anselmo, mas a de errar a perdiz e acertar o elefante voador foi inusitada e esclarecedora. E a Karin matou a pau com a comparação do governo com os pais intimidados pela criança birrenta.
A intimidação perante a mídia é uma sensação, mas a Dilma parece aceitar as saídas dos caras com muita facilidade. Talvez seja prudente esperar pra ver como será com quem substituir as peças que caíram. Se o comportamento se repetir, os erros nas escolhas se mostrarão menos calculados do que se pode esperar.
Quem sabe ela é uma tremenda estrategista? Estou torcendo por isso! Mas é complicado porque ceder a essa galera do mal da imprensa brasileira não está saíndo nada barato... a coisa não tem mais fim.
Se demitir o Orlando agora, momento em que não há nenhuma prova, e em que ele vem sendo acusado por um bandido por meio de uma revista bandida, a Dilma assinará atestado de que está aplicando o princípio "Na dúvida, pró-bandidos".
Com o perdão do exemplo chulo, já passou da hora dela perceber que, quando mais se abaixa as calças, mais as nádegas aparecem.
E já estão atacando o interino... eita!
Também não entendo bem o que a Dilma pretende. Ela parece bastante tranquila e segura do que vem fazendo. Que tática é essa de entregar a cabeça ao primeiro apontar de dedo? Isso só fortalece os jornalões. Aquilo que o Lula fazia de resistir e ganhar na urna e que foi desmoralizando completamente a atitude criminosa desses jornais está retrocedendo, é como se os jornais fossem de novo ganhando fôlego. E ganham fôlego com atitudes sujas. É bem antieducativo.
Parece que tem um lado aí dela querer aproveitar as brechas que tem pra comprar brigas com a base aliada. A mídia joga alguma coisa no ventilador e ela usa o motivo pra se livrar de alguém ou algum grupo que a incomodava, sem com isso assumir o ônus de botar o povo na rua. O tiro erra a perdiz e o elefante, mas ela aproveita e bota os ois pra fora do quintal.
Eu acho bem arriscado, pelos motivos levantados por todos, mas especialmente pelo Maurício. Não convém dar moral pra bandido e, além disso, é deseducativo democraticamente rifar pessoas sem provas. Ajuda a embalar um clima de "todo político é corrupto" que afasta as pessoas da política.
Mas, assumindo que ela seja uma baita estrategista, como disse a Karin, se ela realmente conseguir desfazer esquemas estabelecidos no governo federal, pode ser interessante. Só não sei também se adianta mudar os nomes e não mudar o jeito de fazer política, que abre muita brecha para relações promíscuas entre público e privado.
"quanto mais se abaixa as calças, mais as nádegas aparecem."
Não dá pra discordar. Só fiquei com saudades de quando as metáforas eram esporte nacional do mandatário da nação.
Perfeita a metáfora das nádegas.
Agora, ao que me parece, a Dilma nunca gostou muito do Orlando e ele acabou ficando mais no governo por sei lá o quê.
Mas com esse bateu-a-Dilma-cede, com certeza ela está beneficiando os bandidos.
Quem será o próximo?
Sei lá, mas não duvido nada que depois de uma dúzia de ex-ministros e com a eleição se aproximando o alvo passe a ser a própria presidenta.
Aí ela vai se demitir?
Ahaha!!
Será que ela vai se demitir se for o próximo alvo? Bom, seguindo o pensamento aqui e sendo uma boa estrategista, só se ela quiser se livrar de si mesma, hehe!
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