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Por Luciana Nepomuceno
Tem duas coisas que torcedores (ou eu, torcedora, e digo que é todo mundo pra não me sentir tão só) adoram e detestam: chamar o treinador de burro e comentar o péssimo desempenho individual de algum jogador. Adoramos porque é uma descarga emocional, uma catarse. Detestamos porque isso geralmente acontece quando o time perde. É bem o meu caso hoje. Eu tinha planejado um post diferente, convidei um amigo vascaíno e ele comentaria as coisas positivas do meu time e eu tentaria louvar o que visse de positivo no Vasco. Mas ele sumiu na comemoração e me deixou aqui ruminando o gol perdido do Deivid e a previsível teimosia do Joel.Quando vi a escalação, já antecipei o doer: coisa boa não podia vir de um meio de campo com Williams, Renato e Airton. E a insistência no Deivid, tendo o veloz e bem disposto Negueba ali, rasinho, no banco? Sofrimento. O jogo começou e, confirmando uma antiga ideia minha (a maior parte dos melhores lances são sem bola), Ronaldinho faz um lindo movimento de corpo, leva a marcação e o Love faz um gol daqueles que a gente esquece que está preocupado e grita até acordar os vizinhos. Pausa pra um gole de cerveja. Segue a partida e aí tudo é justinho como se espera: além da escalação retranqueira, o Joel dispôs o time todo do meio de campo pra trás. O Vasco deitou e rolou e o Flamengo ficou ali, acuado, dependendo da correria do Vagner Love, de um passe genial do Ronaldinho ou de uma jogada do sobrecarregado Leonardo Moura. Daí o Flamengo levou o gol que o posicionamento estava pedindo, perdeu a bola na boa marcação vascaína, Juninho deu um chute preciso, Felipe bateu roupa e ploft, empatado o jogo. Respira, respira. No segundo tempo, o Vasco fez mais um gol em outro rebote do Felipe.
E, claro, eles ainda tinham o Dedé. O cara da partida quase perfeita. Zagueiro. Nenhuma falta. Dezesseis desarmes diretos. Outras tantas interceptações. Fungando no cangote do Love. Do Ronaldinho. Sombra constante em qualquer um que se atrevesse a chegar perto da linha da grande área.
E nós? Tínhamos o rodrigueano Deivid. Se a cena do gol perdido não sai da minha cabeça, nem sei quantas noites irá assombrá-lo, senão pela (pouca) importância do jogo, pelo que foi em si mesma. Um atacante. O cara que vive de fazer gol. Gol de cabeça, de calcanhar, de voleio, pegando rebote, invadindo a área, chutando firme, gol, gol, gol. Esse cara, de frente para as traves convidativas, livre, sem marcação, sem goleiro, os ouvidos antecipam a celebração da multidão, corre aquele frêmito de se saber herói e, aí, o erro. Não um pequeno equívoco. Não um desacerto qualquer. Um Erro, maiúsculo e inesquecível. Acertar a trave é um luxo que nenhum jogador podia se permitir naquela situação. Nossa torcida muda. Calada pelo grotesco da situação. E a torcida adversária, toda, cantando o nome dele. Nenhuma redenção possível. Anti-herói. Tragédia minha. Nossa.
Perdemos. Acontece. Dá aquele travo na boca e uma coceira danada nos olhos. Mas passa, é do jogo. O que não passa é a angústia de ouvir o treinador dizer que não foi uma má partida, que o time jogou de forma “equilibrada e consciente” (palavras dele na coletiva após o jogo). O que não passa é a angústia de saber que é uma opção, não só a escolha de jogadores de técnica duvidosa (fecha os olhos e pensa no gol que o Deivid perdeu. Ou em um domínio de bola qualquer do Renato. Ou em um lançamento do Williams. I rest my case), mas também a definição da postura acuada em campo.
O que não passa é a certeza de pequenas vitórias e significativas derrotas nos jogos subsequentes e a sensação de que serão muitas as horas falando mal de um ou outro jogador e xingando o técnico de burro. E porque se insiste em torcer? Porque torcer é um amor. Um prazer que nos mata suavemente.
Ah, meu Flamengo, strumming my pain with his fingers
Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos
8 comentários:
Para tirar de uma vez o assunto da frente: o que foi aquele gol perdido pelo Deivid? Lamentável, sem mais.
Pela descrição, Joel sofre da mesma doença de Tite, de recuar demais o time quando abre o placar. Além da predileção quase obsessiva por volantes, essa adotada pela grande maioria de nossos professores.
Um gol só poderia ser perdido assim se ainda houvesse um Nelson para transformá-lo em texto.
Mas não sejamos injustos com o Joel, ele não recua o time quando está na frente do placar...ele o faz em QUALQUER situação.
Eu concordo com as palavras do Nicolau, mas, Lu, como o Flamengo pode esperar um passe genial de Ronaldinho?!
Que palavra melhor o descreveria senão "Omisso"?!
Felipe continua com o mesmo caráter autoindulgente de sua época corinthiana!
E, o Flamengo continua sem presidência, e seus torcedores (a grande maioria) continua a sofrer de um patológico fantasiar acerca da potencialidade de seu time. Deivid é a pura representação da realidade do Clube de Regatas.
Ah, Luciana, você nasceu pro futepoca! ;)
Bom, eu espero passes fantásticos do Ronaldinho porque eu sei que ele pode. E, no fim das contas, mal e mal, ele tem levado esse time nas costas junto com o Léo. Mas se espera demasiado dele e se oferece muito pouco como companhia. Vai trocar passes com Airton? arrumar bola pro Deivid?
No mais, não costumo me iludir não, faz muito tempo que digo que o Deivid não te qualidade técnica o bastante. E mais tempo ainda que sonho com meu time de garotos.
kkkkk
Bem dito.
Mas eu acho que a teimosa é tu... esperar que o Joel seja uma pessoa que ele não é é teimosia das grandes. O time vai jogar assim, retrancado sempre e vai ganhar a maioria das vezes. E pode até pintar título, mas sempre assim... feiinho hehehehe
O segundo tempo foi bem melhor para nós, com franco domínio de boa parte do tempo.
Agora, o que matou a partida foi o Deivid... meu Pai, o que foi aquilo?
Resta saber se ele tem cara de não vestir a camisa do inacreditável futebol clube...
Só pra palpitar de fora, concordo com a Luciana sobre o Ronaldinho. O cara não é mais o gênio que era, mas é claramente o lampejo de lucidez no Flamengo, isso desde o ano passado. Lembro dele no começo de 2011: recebia a bola na meia, passav apo rum, prendia, segurava e nada do lateral (acho que na época era o Egidio) passar - e a jogada morria. Quando passava, ele enfiava certinho e o rapaz isolava - e a jogada morria. Não dá pra culpar o cara por tudo.
Belo post, Luciana.
Sobre Deivid: mostrou ser bom jogador, matador mesmo, em Santos, Corinthians e Cruzeiro. Ganhou títulos em todos, isso não é pouco. O que teria ocorrido com ele? Idade? O baixo nível do futebol turco o afetou e "puxou pra baixo"?
Ronaldinho Gaúcho: tem momentos razoáveis, enfia uma ou outra bola boa, bate um ou outro escanteio/falta bem, parece um Beckham piorado. Só não digo que é ridículo ele estar na Seleção, pois a camisa amarela faz tempo não é parâmetro pra dizer quem é bom ou ruim (até a década de 80, era legal estufar o peito e dizer "meu time teve mais convocações que o seu").
Sobre Dedé: monstro. Joga muito.
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