Compartilhe no Facebook
Por Moriti Neto
Ao contrário do que algumas vozes baseadas em chances de gols não convertidas defendem desde o jogo de domingo, contra a Portuguesa, o azar é o menor problema no São Paulo. Aloísio colocar a mão numa bola que entrava no gol, não é azar. É burrice. Como também é o que faz Paulo Autuori insistir na escalação de Douglas, que não consegue acertar três passes durante os noventa minutos.Idem a ausência de senso crítico de Rogério Ceni. Se a condição do capitão embaixo das traves não é das melhores, mas inexiste substituto no momento, ele ao menos deveria reconhecer as dificuldades nos fundamentos que tão bem praticava e transferir funções, como reposição do esférico, além das batidas de faltas e pênaltis (o erro de domingo, contra a Lusa, foi só mais um entre cobranças ruins, inclusive de tiros de meta).
Já disse, neste Futepoca, que não considero o elenco do São Paulo entre os piores do Campeonato Brasileiro, competição ruim de dar dó, em que times horrorosos, a exemplo de Vasco, Bahia e Vitória, têm muito mais pontos que o Tricolor. Assim, a realidade aponta dois motivos maiores que a questão técnica para a péssima fase são-paulina: um ambiente degradado internamente e a falta de confiança que passa a abater os jogadores/comissão técnica ao passo que os resultados positivos não vêm. Nessas situações, alguns pontos merecem destaque.
Ídolo sim. Infalível, não |
Certo: jogador histórico, ídolo. Um dos maiores da trajetória do clube. No entanto, tem personalidade difícil, é fato. Enquanto vivia momentos técnicos e de conquistas inquestionáveis, a importantíssima liderança não era contestada abertamente. Hoje, tem sérias limitações dentro do campo, mas segue na arrogância de semideus que outrora foi. Hora de assumir a mortalidade, sair da postura de dono do clube (que combina bem com o estilo nefasto de Juvenal Juvêncio e, talvez por isso, faça a relação deles tão boa) e deixar que outros floresçam como líderes técnicos e carismáticos.
Autuori
Dizer que Autuori é um enganador, treinador medíocre, é mostrar certo desconhecimento da história recente do futebol nacional. Foi campeão brasileiro, conquistou duas Libertadores, um Mundial de Clubes, fora títulos menores.
O problema é que o sujeito não faz um trabalho que preste há muito. Insiste num 4-4-2 antiquado, extremamente vulnerável nas invertidas de bola do adversário, e possui míseros 13 por cento de aproveitamento na atual passagem no São Paulo. São oito derrotas, um empate e uma (!!!) vitória. Pelo momento, não era a opção para encarar o desafio de comandar o time.
Vontade ou burrice?
O futebol tem dessas coisas. Há jogadores limitados tecnicamente, mas que se superam na força física e, principalmente, mental. Com alguma capacidade de inteligência e concentração, são capazes de usar disposição, movimentação e ocupar espaços fundamentais do campo.
Entretanto, há certos atletas que, além das dificuldades técnicas, tem na ausência de inteligência o maior problema. Exemplo disso é o atacante Aloisio. O lance bizarro (alguém aqui já viu um jogador impedir o gol do próprio time como ele fez ontem, aos 42 do segundo tempo, numa jogada que daria o empate ao São Paulo?), foi típico de alguém incapaz de controlar elementos básicos das funções que exerce. Não é à toa que vive lesionado. Já se contundiu várias vezes por ser atabalhoado. Entra errado nas divididas, não sabe cair e confunde vontade com afobação.
O pior é que esse tipo de jogador engana. Não que seja ato pensado, mas a falsa imagem de “guerreiro” induz o torcedor. Confere ao atleta “autoridade moral”, o que disfarça os erros e a grossura. Aloisio perde gols incríveis por ruindade e excesso de individualismo. Fominha, conclui de forma precipitada e, invariavelmente, inócua. A mão na bola que tirou o gol de Ganso contra a Portuguesa seria, em minha opinião, o limite.
Crise
O ambiente no São Paulo, independentemente de critérios técnicos, é o retrato de uma crise muito mais de princípios e valores. E o é, pois, afora um presidente coronelista, o clima ruim é criado por profissionais sem autocrítica, algo que não gera espaços a soluções, mas propicia largamente falsas esperanças.
6 comentários:
Não vou falar nada, senão vai parecer até que eu estou torcendo pro São Paulo cair.
Imagina, Demarcelo, isso nunca passaria pela minha cabeça. rs
Concordo com vc, Moriti, que o elenco do SP é melhor que o de muito time no campeonato, número mais que suficiente para que ele deixe de lado preocupações com a degola. Esses pepinos de valores que vc identifica têm que se manter em alta por muito tempo para o teima correr risco efetivo. Time grande sempre tem que se esforçar muito pra cair.
Concordo com quase tudo, Moriti. E principalmente com essa tua observação sobre o Juvenal Juvêncio ter dado ao Rogério Ceni o poder que hoje tem. Hoje me parece mais do que certo que o goleiro pediu a cabeça de Ney Franco. E é sintomático que Adalberto Baptista tenha perdido a queda de braço com Ceni e sido obrigado a sair. O Ney Franco ter citado a preocupação maior do goleiro com "marcas pessoais" do que com o time também tem muito a ver, pois ele está disputando sua última temporada como profissional e faltam 27 jogos para superar Pelé como o jogador que tenha atuado mais por um clube. Enfim, no meio de tanta coisa errada, mais ingredientes para temperar a crise sãopaulina...
Só nos resta fé, muita fé. E muita cachaça! - rsrsrsrs
Abraços.
Ps.: Pra não dizer que no meu pessimismo crônico só vejo desgraça, tô gostando do tal Gustavo, filho do Sócrates, ter assumido a gerência de futebol. Ele trouxe de volta o Milton Cruz para direcionar as contratações, como era feito nos tempos do Marco Aurélio Cunha, e os dois já se mexeram pra buscar dois zagueiros, Roger Carvalho, ex-figueirense, e Antonio Carlos, do Botafogo-RJ. Sim, não são nenhuma Brastemp, mas qualquer coisa é melhor que Tolói, Edson Silva, Lucas Silva ou Rodrigo Caio (improvisado). E eu ainda acho que o Paulo Miranda pode ser aproveitado no setor - pois, apesar de fraco, joga sério e tem mais noção de posicionamento e antecipação. Resta agora, contratar um lateral-direito decente e de ofício (coisa que não temos desde a saída do capenga Cicinho, em 2010), um volante que saiba sair jogando (Wellington é péssimo e Denilson, Fabrício e Rodrigo Caio não sabem fazer isso) e mais um atacante que seja bom finalizador. Podem ser todos medianos, não importa. O São Paulo tem que montar um time "brigador", pois o projeto é não cair. Em outras palavras: tem que montar um time com cara - e pegada - de Série B para não ser rebaixado à Série B.
Enquadraram o Ceni bem na hora que ele tá parecendo um alce.
Você está certo, Nicolau, mas o São Paulo parece que está se esforçando muito pra cair. E a crise, com a presença do Juvenal, dá a impressão de que não tem hora pra acabar.
Marcão, o poder do Ceni no clube é absurdo pra um jogador. Sabemos de muitos casos em que atletas têm privilégios em treinos, horários e etc, mas o poder do cara é, inclusive, político.
Sobre o Gustavo, parece uma das poucas boas notícias dos últimos tempos. Vamos ver se aguenta o clima, o rojão e, de quebra, traz reforços (o que você acha do Bruno Rangel, da Chapecoense, artilheiro da Série B?).
Abraços e muita, mas muita cachaça mesmo, companheiros!
Postar um comentário