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quarta-feira, novembro 01, 2006

Vida de mesário - segundo turno

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A mãe sai da seção com o filho de uns sete anos de idade. Hoje é comum as crianças irem "votar" com os pais, cabendo a elas a gloriosa tarefa de apertar o número dos candidatos. O guri olha pra mãe e pergunta:
- A gente votou no Lula, né, mãe?
- Que, Lula, menino! - responde sem paciência.
- Mas, mãe, a gente tinha que ter votado no Lula!
- Fica quieto!
Já puxando a mãe de volta pra seção, o moleque começa a gritar:
- Mãe, vamos voltar! A gente tem que votar no Lula! A gente tem que votar no Lula!
O garoto é arrastado escada abaixo. De longe, ainda é possível ouvir seus berros. "Cala a boca, menino. Está todo mundo olhando", grita a mulher deseperada.

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A mesária libera a urna para um homem negro, tipo armário dois por dois, ir votar. Ele entra na cabine e senta na cadeira. É possível ver suas mãos entrelaçadas. Fica ali, um, dois minutos. Imóvel. E nada de teclar seu voto.
Em dado momento, coloca a cabeça pra fora da cabine e pergunta: "qual o número dos candidatos?". Informado, começa a repetir para si mesmo: " é treze, é treze, é treze", como se estivesse em transe.
Vota e sai da cabine, como que aliviado. Mira uma das mesárias e destila seu ensinamento:
- Precisamos de proteção divina, o Brasil precisa disso. Você, que é um espírito que veio de cima, sabe do que estou falando.
Diz isso e sai. A mesária, perplexa, tenta se compeender como um "espírito que veio de cima."

4 comentários:

Edu Maretti disse...

Excelentes essas crônicas de um mesário enfadado. Não tem mais?

Anselmo disse...

Sensacional. Isso porque teve lei seca.

Glauco disse...

O segundo turno foi mais tranquilo, mas se você não viu o post do primeiro turno, segue o link:
http://www.blogger.com/comment.g?blogID=28843408&postID=115979487052873329

Marcão disse...

As crianças são surpreendentes. Lá em casa, não temos costume de falar de política na frente da Liz, mas de vez em quando acontece. Mesmo assim, nunca dissemos o que é Lula, PT, PSDB ou qualquer outra coisa - e ela nunca perguntou.

Mas outro dia a Isabella foi recebê-la na volta da escola e viu a Liz fazendo careta e mostrando a língua pra outra menininha, que estava dentro da perua escolar. Perguntou o motivo e a Liz respondeu: "Ela falou que o Lula é bandido. É nada! O 'Alckimi' que é bandido! Careca, feio, chato!".

Nunca (repito: nunca mesmo) eu ou a Isabella falamos qualquer coisa sobre os dois candidatos pra ela. Juro por tudo que é mais sagrado! Vendo mais essa historinha que o Glauco presenciou em São Vicente, vejo que essas crianças de hoje são muito mais ligadas do que a gente pensa...