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No fim de novembro de 2008, um post do parceiro Bla Bla Gol saudava o tricampeonato brasileiro do São Paulo e, na ocasião, fiz o seguinte comentário:
Mudando um pouco
foco dos comentários sobre arbitragens, não acho o São Paulo o
clube mais bem administrado do mundo. Do Brasil, certamente, mas
pouca coisa acima dos demais. O sucesso tricolor tem nome e
sobrenome: Muricy Ramalho. Não é coincidência ser o único
treinador tricampeão brasileiro (seria tetra, se não fosse o
duvidoso torneio de 2005). O mérito do pessoal do Morumbi é
conseguir mantê-lo à frente do time. Técnico que mantém a
estabilidade e que possui o elenco na mão tende a ganhar quando o
campeonato é por pontos corridos. Mas vamos ver se esse “Super São
Paulo” vai longe na competição que ele mais ama, a Libertadores…
Passaram-se
quase cinco anos e Muricy volta ao Morumbi. O clube, cujo trabalho da
diretoria, basicamente em contratações, estava de fato um pouco
acima dos demais à época, descambou. A embriaguez (opa) do sucesso
e os elogios recorrentes da imprensa mascararam as falhas, sanadas
por um tipo de esquema de jogo, apelidado pelos mais críticos de
“Muricybol” que era eficiente, pois trazia títulos, algo que
qualquer torcedor adora. Mas tinha limites, como acabou evidente nas
competições de mata-mata que o clube disputou.
Tais
limites eram menos culpa de Muricy, que adaptou um sistema àquilo
que tinha na mão, se acomodando com contratações as quais o clube
não pagava pelos direitos federativos, estilo elogiado então. Com a
saída do treinador, que era quem indicava boa parte dos atletas, o
São Paulo nunca mais se achou. A cobertura generosa da imprensa
fazia o torcedor acreditar que cada vinda de jogador era certeza de
sucesso. Assim, escutei na rádio comentarista defendendo Rodrigo
Souto na seleção (!) e elogiando contratações de “jogadores de
peso” como Léo Lima (!!), Marcelinho Paraíba (!!!) e outros
similares que seriam tratados como refugo em qualquer outra equipe.
Mas não no Morumbi...
Desde
a saída de Ramalho, passaram Ricardo Gomes, Sérgio
Baresi, Paulo César Carpegiani, Adilson Batista, Emerson Leão, Ney
Franco, Paulo Autuori e, vez por outra, Milton Cruz. Tirando o
primeiro, que chegou a disputar o título de um Brasileiro quase até
o final, no primeiro ano sem títulos desde 2004. Depois, só a
Sul-Americana de 2012 que, convenhamos, não é aquele título que
faz você colar o poster do time na parede e nem te dá desculpa pra
chegar atrasado no dia seguinte no trabalho. Para o Santos, o seu
similar, a Copa Conmebol, não serviu nem pra tirar o time da fila.
Durante esse período, caiu o mito da diretoria
superior, que contratava bem e dava respaldo ao técnico, sem
trocá-lo por qualquer acidente de percurso. Muricy, por sua vez, foi
campeão brasileiro pelo Fluminense, da Libertadores pelo Santos, e
bi paulista na Vila, passando a impressão de que, de fato, o São
Paulo havia se precipitado ao demiti-lo em 2009, ainda que a apatia
da equipe que caiu na Libertadores daquele ano fosse um sinal de
desgaste do treinador.
Agora, o ato de desespero de uma diretoria que negou Muricy há pouco mais de
dois meses é a velha tática de quem perdeu o rumo, jogando-se toda a
responsabilidade nas costas de um técnico. Que aceita. Mesmo assim, olhando para as glórias que vêm do passado
conjunto de treinador e clube, o torcedor pode ficar esperançoso. Até
porque o time tem que conseguir nove vitórias nos dezenove jogos que
lhe restam, um aproveitamento aceitável para um clube do tamanho do
São Paulo.
O porém da escolha é que nem Muricy e nem o clube são os mesmos de cinco anos
atrás. O Dom Sebastião do Morumbi saiu da Vila Belmiro como uma
quase unanimidade negativa, por sua apatia na reta final de sua
passagem e também por não conseguir dar padrão de jogo ao Santos
durante meses, sempre dependendo de um lance genial de Neymar para
salvar o time. O comandante também não vai contar com diretores que lhe garantam tranquilidade nos gramados, tornando o desafio um pouco mais penoso.
Uma mostra da atual fase de Muricy é o próprio
comportamento do técnico. Não se repetiu agora o estilo de
negociação arrastada que marcou suas idas para Palmeiras,
Fluminense e Santos. O treinador, que sempre bateu no peito para
dizer que não negociava com clube que tinha técnico, fechou no
mesmo dia em que foi anunciada a saída de Autuori do Morumbi. E dois
dias depois de declarar que provavelmente não
comandaria nenhum time na atual temporada. “Neste momento não
vai aparecer coisa boa. Fico pelo menos dois, três anos em cada time
que passo." E ainda falou, sobre o fato de não ter ido para o
São Paulo quando Ney Franco foi demitido. “Eu sei bem o que
aconteceu, estou no futebol há muito tempo e não preciso especular.
Mas não fiquei aborrecido. Às vezes também não era bom eu ir para
lá, não ia me dar bem com algumas pessoas.”
Futebol é dinâmico mesmo.