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Por Gabriel Victal
Diante dos fatos e experiências vividas na noite de 13 de junho de 2013, das conversas com os amigos, e do acompanhamentos dos relatos e vídeos que circularam pelas redes sociais, não posso deixar de dar minha contribuição e reflexão pessoal:
Saí de casa para ir a
manifestação às 18h30 já sabendo que 50 manifestantes haviam sido
presos na concentração. Entre eles o jornalista da Carta Capital
pelo “porte” de vinagre. Não consegui chegar à manifestação.
O que vi foi a Paulista
ser fechada por policias armados enquanto a manifestação era
bloqueada na praça Roosevelt. Vi também sete camburões do choque
descerem a Augusta e desembarcarem as tropas assustando a população
que filmava a cena de demonstração de poder. Ouvi as bombas
explodirem e pessoas correndo dos tiros. Pessoas que filmavam as
cenas, assustadas, agora abrigavam-se nos bares e comércios que
ainda estavam abertos. Ficamos circulando entre as ruas Augusta, Frei
Caneca, Herculano e Peixoto Gomide. A sensação era de estado de
sítio. Estávamos cercados em cima e embaixo, impedidos de ir para
casa. Repito não cheguei na manifestação. Conseguimos nos abrigar
na casa de um casal de amigos.
A polícia cercava os
manifestantes pra onde quer que eles corressem. Não foi uma
estratégia de dispersar a manifestação, pois para isso era
necessário deixar vias de escape, para que as pessoas fugissem.
Era uma estratégia de
minar a integridade física dos manifestantes: o objetivo essencial
era que todos nós voltássemos pra casa sob o cheiro de gás
lacrimogênio, com os olhos ardendo do gás de pimenta e hematomas de
bala de borracha. Também era essencial que a população que não
participava dos protestos fosse coagida a entrar para as suas casas e
não ficassem nas ruas registrando com suas câmeras e celulares. Era
essencial que o jornalista da Carta Capital não portasse vinagre.
Foi a estratégia do medo.
O que está em jogo não
é apenas os R$ 0,20 centavos. O que está em jogo tem a ver também
com as outras lutas e movimentos: a Marcha das Vadias, a Parada do
Orgulho LGBT, a Marcha da Maconha. O que está em jogo é esse
pensamento fascista que ainda resiste na corporação e no nome da
polícia militar, mas também nos corações e mentes daqueles que
consideram manifestantes como baderneiros e arruaceiros. Daqueles que
preferem proteger o patrimônio público à integridade física e
psicológica dos indivíduos. Daqueles que não conseguem ver a clara
desproporção entre homens armados com bombas - protegidos por
capacetes e escudos, coordenados, organizados em viaturas, camburões
e motocicletas - e uma massa plural de indivíduos cantando e
gritando palavras de ordem, e que, vez ou outra, precisa reagir à
violência que sofre com o que tem na mão. Daqueles que acham que
política se faz somente nas urnas de quatro em quatro anos e de
preferência com o voto naquele candidato que é amigo do pai.
O que está em jogo é
a persistência daquele sentimento de medo quando encontramos um
grupo de cinco pessoas reunidas na praça, pois fomos ensinados, por um golpe militar 50 anos atrás, que reunião em espaço público é formação de
quadrilha. Depois de quinta-feira ficou claro que o que ainda está
em jogo é o direito de ir e vir, sendo quem somos, com autonomia
sobre nossos corpos e nossas ideias.
Tudo isso foi
desrespeitado. E mesmo assim saímos vencendo. Saímos vencendo
porque a verdade não está mais só nas mãos de poucos. Porque as
muitas verdades foram registradas, porque hoje tive contato com as
histórias registradas de diversas pessoas que estavam na
manifestação e que também não estavam, mas sentiram seus efeitos
e compartilharam a informação. Saímos vencendo porque os jornais
tiveram de se dobrar aos fatos, já que os rostos dos seus
jornalistas feridos não poderiam ser escondidos dentro das redações,
já que haviam sido compartilhados por milhares.
O poder de registrar e
compartilhar informação nunca foi tão grande. E frente a isso os
antigos poderes reagem da única forma que sabem: com truculência e
brutalidade.
Saímos vencendo porque
nossas histórias estão sendo contadas por nós mesmos. Registrem,
fotografem, filmem e escrevam. Nossa maior arma é a verdade.
*Gabriel é artista plástico e designer
*Gabriel é artista plástico e designer