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quinta-feira, novembro 16, 2006

Por que protegemos os outros esportes?

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Estou assistindo ao Jornal Nacional. Acabou de passar uma reportagem sobre o Mundial de Vôlei. A chamada, antes do comercial, era positiva: "a seleção brasileira conquista a prata no campeonato mundial de vôlei feminino". Na hora de anunciar a notícia, Bonner e Fátima sorriram para a câmera e falaram sobre a "fatalidade" que vitimou a seleção. A reportagem em si seguia uma linha parecida, com Tadeu Schmidt destacando a "garra e fibra das meninas, que por pouco não conquistaram o título", e blablabla.

Guardadas as proporções, também apareceram, à época, muitos elogios à "campanha honrosa" da seleção feminina de basquete, que "conquistou" o quarto lugar no Campeonato Mundial jogado aqui no Brasil há alguns meses.

Eu não consigo entender essas coisas. Fosse o futebol, conquistando o vice da maneira que viesse (por exemplo, fomos vice em 1998, com o melhor jogador do time tendo uma convulsão), o time seria certamente malhado. Pipoqueiro seria o mínimo que os jogadores ouviriam.

"Ah, mas o futebol é o esporte mais rico, que envolve mais dinheiro, em que os jogadores mais ganham...". Sim, eu sei. E isso é tão óbvio que nem precisa ser dito. Acontece que a seleção feminina de vôlei não é a seleção brasileira de pólo aquático, hóquei na grama ou curling. É de um esporte já consagrado, com uma boa estrutura administrativa, atletas bem remuneradas (não tanto quando do futebol, mas também não se pode dizer que são amadoras que passam fome),l patrocínios polpudos e etc..

Sem contar que era a atual campeã do Grand Prix, equivalente feminino à Liga Mundial dos homens. Ou seja, um time de excelência no cenário mundial e que deve ser cobrado como tal.

Por tudo isso é estranho - pra não dizer condenável - essa "absolvição" da mídia esportiva a casos como esse, que ocorrem repetidamente: quem não se lembra da festa feita à seleção feminina de basquete, então campeã mundial, que foi medalha de prata na Olimpíada de 1996, tomando um belo cacete dos EUA na final e mesmo assim ovacionada?

Minha explicação para esse fenômeno é até que simples. Já vi gente dizendo que isso se deve à presença de dinheiro público nesses esportes - na forma de patrocínio - mas eu aponto outra causa. É desconhecimento mesmo. A grande maioria dos jornalistas (na qual eu me incluo) não entende porcaria nenhuma de vôlei, basquete ou afins. É só no futebol mesmo e olhe lá. Então sentem um certo medo de tecerem comentários agressivos e parecerem carrascos com os pobres esportistas. A saída, no caso, é despejar o chavão de elogios reconfortantes.

Em tempo: tô esperando alguém ler esse texto ou ver outras críticas semelhantes à minha e vomitar o irritante "só no Brasil ninguém reconhece o vice". Daqui a pouco aparece.

4 comentários:

Anselmo disse...

sobre a patacoada do "só no Brasil ninguém reconhece o vice", eu realmente gostaria de saber como é isso em outros países. Realmente queria saber se os vices são tão valorizados. Nos EUA, a cultura de repúdio ao "loser" não é um bom começo de referência.
Agora, ser vice mundial é um resultado expressivo pra vc incluir na proposta de patrocínio a apresentar daqui pra frente. Sob a promessa de, com mais grana e recursos, fazer mais bonito.

Anônimo disse...

concordo em todas as letras. pipocou e ponto. abraços, Fê Rossini - www.fhrossini.zip.net

Marcão disse...

Só no Brasil ninguém reconhece o vice.

Glauco disse...

Há casos e casos, como diria o conselheiro Acácio. No basquete feminino, perder na final pros EUA, disparado o melhor time do mundo, não é tão ruim assim. Mas no vôlei feminino, em que o Brasil entra como favorito e perde a partida sendo que no set decisivo estava 13 a 11 pras brasileiras, a coisa é diferente. Quanto ao futebol, a gente cobra mais porque se envolve mais, acho bastante natural.