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sexta-feira, março 07, 2008

Um sem-teto nas eleições municipais de Paris

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Embora muitos candidatos a cargos públicos no Brasil e no resto do mundo gostem de dizer que passaram dificuldades e estão próximos do povo que mais precisa, provavelmente nenhum faz disso uma verdade tão crua quanto Jean-Marc Restoux. O sem-teto de 54 anos é candidato à presidência da Junta de Freguesia do Quartier Latin, uma das regiões mais luxuosas da capital francesa.

O Quartier Latin engloba dois bairros, o quinto e o sexto, e ali pode-se encontrar uma série de monumentos históricos, restaurantes e hotéis luxuosos, além de uma das universidades símbolo da França, a Sorbonne. E é nesse ambiente, mais especificamente no sexto bairro, que Restoux concentra sua campanha.

Há mais de 30 anos ele vive nas ruas e pede dinheiro aos transeuntes em uma esquina ao lado de um quiosque de jornais, acompanhado do seu "melhor amigo", o cão Júnior. Hoje, ao invés de dormir sob as arcadas do museu de Orsay, onde passou boa parte das noites de sua vida, mora no acampamento Dom Quixotte e passou a ter um endereço, requisito essencial para qualquer eleitor. Votará pela primeira vez nas eleições deste ano.

Rejeita o auxílio de assessores e sondagens de institutos de pesquisa e não mede palavras para atacar seus adversários políticos. Ideologicamente, Restaux afirma que não é "nem de direita nem de esquerda, mas aberto a todos os partidos" e tem como objetivo defender "o direito à habitação, a luta contra a pobreza e contra a criminalidade no bairro". "O atual presidente da junta transformou este bairro, em tempos um bastião da esquerda, num gueto para ricos com preços exorbitantes que foram afastando as pessoas com menos recursos", acusou em entrevista concedida ao Diário de Notícias de Portugal.

A grande dificuldade da campanha é que, no fim de fevereiro, ele contava com um orçamento de 60 euros, e precisaria de 1600 para mandar imprimir os folhetos de campanha. Mas ainda assim segue confiante: "Minha força é minha notoriedade", declarou à WMagazine, que apurou a popularidade do candidato: conhecia pelo nome metade dos freqüentadores da região.

O blogue de apoio ao candidato é Votez Jean Marc, que ostenta o slogan "Um outro som de sino".

9 comentários:

Anselmo disse...

Sensacional.

no blogue dele tem um monte de vídeos. o cara é articulado...

Olavo Soares disse...

O cara tá há 30 anos acompanhado pelo cão Júnior? Sensacional! Esse cachorro é um exemplo único de longevidade canina!

Glauco disse...

Pô, Olavo, há mais de 30 anos ele vive nas ruas... O cachorro não é o Highlander

Anselmo disse...

glauco, é bom saber que o destino do cão não é ser degolado.

agora, 30 anos na rua... e depois dizem que na europa o estado funciona.

Marcão disse...

O slogan "Um outro som de sino" me lembrou uma historinha que ouvi outro dia no buteco. Consta que Inglaterra, até início do século 19, havia uma doença que provocava desfalecimento por um certo período, um tipo de "morte temporária". Quando perceberam que muita gente tinha sido enterrada viva, virou costume deixar o caixão e a cova aberta por 24 horas, com um sininho pendurado na lápide e amarrado por uma cordinha ao pé do "morto". Se ele acordasse ou revivesse, o sino avisava. Daí surgiu a expressão "save by the bell", que em português traduziram para "salvo pelo gongo".

Anônimo disse...

O velho Ulises e seu cão estão de volta. So que a guerra agora é pelo osso. Tem meu voto via postagem.

Glauco disse...

Marcão, origem de expressão é sempre algo complexo e controverso. A justificativa mais comum para essa expressão vem do boxe. Quando o lutador cai, abre-se a contagem e, às vezes, o gongo toca dando o final do assalto e o juiz não pode prosseguir na contagem. Foi , literalmente, salvo pelo gongo, embora hoje algumas federações admitam que o juiz continue contando, mesmo que o gongo tenha soado.

Mas achei uma explicação mais estapafúrdia ainda. Dizem (dizem...) que os gladiadores romanos usavam gongos - hoje conhecidos como escudos - para se defenderem em lutas e daí teria surgido a expressão "salvo pelo gongo". Reza a lenda, inclusive, que Napoleão Bonaparte teria sido salvo três vezes pelo gongo em combate.

Vai saber...

Anônimo disse...

Ouvi outro dia no bar que Gongo é uma entidade poderosa da mitologia africana dedicado a salvar os prejudicados na hora do Deus me acuda. Daí a expressão "salvo pelo Gongo". Saravá Gongo!

maurício disse...

Olha, até onde eu sei, o Quartier Latin corresponde apenas ao 5º bairro, justamente por ser onde ficam a Sorbonne, a abadia de Cluny e o Pantéon, ou seja, onde desde o final da Idade Média se concentravam estudantes que freqüentavam aulas em latim. O 6º é onde fica o Jardim de Luxemburgo e é realmente um dos bairros mais caros de Paris.
Mas esse slogan merece pesquisa.