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Para Walt Disney – ou pelo menos para seu roteirista – o samba flui a partir da cachaça. Isso fica evidente em dois dos episódios de Zé Carioca, o personagem brasileiro criado nos anos 40 por um dos maiores representantes da indústria cultural estadunidense. Em ambos, o pássado é ladeado por Pato Donald. E ambos são do período da política de boa vizinhança com a América Latina.
Muita gente já escreveu sobre a influência de Disney na evolução do americanismo a partir da década de 30 na América Latina. A mais antiestados unidos delas é Para ler o Pato Donald, de Ariel Dorfman e Armand Mattelart. Tudo bem que uma parte da análise diz respeito aos padrões de família não convencional, em que não existem pais, mas apenas tios e sobrinhos... Mas faltou atribuir à cachaça a centralidade que Disney atribuiu. Ou que pelo menos eu vi.
Da cachaça pinta o samba
No primeiro, parte de "Alô, amigos", de 1942, lá pelos cinco minutos e, Zé Carioca leva o amigo pato para o Cachaça, um bar para tomar uminha. A danada está mais para rum, porque é vermelha, mas deixa o botafoguense Pato Donald acabado, bêbado de soluçar ("assim não é samba", avisa o Carioca ao sacar uma caixa de fósforo para completar o ritmo brasileiro).
Então, surge um pincel que acompanhou o episódio desde o início. Ele é mergulhado na garrafa de mé, e sai a desenhar os instrumentos musicais que produzem o samba. O chocalho, o pandeiro, a cuica... Olhe só:
Ficou alguma dúvida? Alguém já pensou o Donald dançando nessa intimidade toda com a Margarida?
Mas melhora.
Caipirinha também dá samba
O segundo desenho, de 1948, consegue parecer ainda mais sob efeitos de entorpecentes pesados. Em "A culpa é do o samba", a mesma dupla está acabada (de ressaca?) e recebe de um garçom-galo o "estímulo" do samba para acordar do estado de zumbi.
Depois de literalmente balançar o quadril em partituras musicais, o galo prepara uma caipirinha gigante que, mais do que servida aos protagonistas, tem neles parte de seus ingredientes. Devidamente preparado o copo da bebida verde, todos três terminam mergulhados numa viagem alucinógena com a participação da organista estadunidense Ethel Smith, que tocava com Carmem Miranda. Existe algum instrumento mais afeito ao samba-no-pé do que o órgão? Só vendo.
A história em detalhes é mais bem contada por aqui.
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