Destaques

Mostrando postagens com marcador anencefalia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador anencefalia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, abril 11, 2012

O show obscurantista de Heloisa Helena

Compartilhe no Twitter
Compartilhe no Facebook

Durante o julgamento do STF sobre o aborto de anencéfalos, a ex-candidata à presidência da República Heloisa Helena resolveu manifestar sua opinião a respeito. As posições a favor e contra o mérito da questão (que, atenção, era sobre o aborto de anencéfalos e não sobre o direito ao aborto, para o tema, recomendo a leitura aqui) que estava sendo julgada no Supremo tiveram argumentos aos montes nas redes sociais durante todo o dia, mas a ex-senadora resolveu ir além do que já vinha sendo dito.

Primeiro, apelou para o lado emocional, ao citar o caso de uma criança de dois anos que foi levada pelos pais ao STF para sensibilizar os juízes. Mas, lendo a matéria, há um detalhe no segundo parágrafo:

Apesar do diagnóstico de anencefalia, Vitória nasceu com um resquício de cérebro e couro cabeludo (acrania), conforme especialistas ouvidos pelo G1.

Ou seja, a menina que teria anencefalia diagnosticada na gravidez, não é anencéfala. Um especialista explica mais à frente: A anencefalia não tem membrana por cima, não tem calota, não tem couro cabeludo, não tem crânio, não tem encéfalo, tem apenas tronco cerebral que mantém apenas os impulsos para batimento cardíaco e movimentos respiratórios. Não há cognição.

Heloisa Helena referendou e divulgou um exemplo que não exemplificava nada para justificar sua posição. Se tivesse lido essa matéria do Terra, ela saberia definir melhor. Segue esse trecho:

Cinquenta por cento das mortes em casos de anencefalia são provocadas ainda na vida intrauterina. Dos que nascem com vida, 99% morrem logo após o parto e o restante pode sobreviver por dias, ou poucos meses. "Os que sobrevivem, conseguem fazer o movimento involuntário de engolir, respirar e manter os batimentos cardíacos, já que essas funções são controladas pelo tronco cerebral, a região que não é atingida pela anomalia. Alguns não precisam do auxílio de aparelhos e chegam até a serem levados para casa, mas vivem em estado vegetativo, sem a parte da consciência, que é de responsabilidade do cérebro.

Mas Heloisa Helena precisava continuar. Em uma sequência argumentativa que pode ser lida em seu Twitter, solta a pérola: Claro q Mulher tem Direito ao seu Corpo..pode fazer Plástica, pintar Cabelo de Roxo..mas ñ Matar uma Criança!



E, pra completar, diz:

Alguém acha q/é Fácil ser Mãe de Autista, Portador Sofrimento Mental, Problemas Neurológicos Gravíssimos... Cuidado Eugenia! #anencefalia

Eugenia??? O que mais perturba nesse tuíte, na verdade, é a comparação absurda e que leva a interpretações preconceituosas de todo tipo quando se iguala um anencéfalo a um autista ou portador de doença mental. A ex-senadora, que é formada em Enfermagem, deveria saber a diferença e perceber que esse tipo de discurso utilizado para estruturar seu indisfarçável proselitismo religioso é muito ofensivo para quem tem um autista ou portador de doença mental na família.

Embora a definição mesma de autismo, por exemplo, ainda seja controversa, é inegável que um autista tem cognição, além de uma expectativa de vida normal o que, como deveria saber Helena, não ocorre com um anencéfalo. Alimentar tal confusão e sustentar esse obscurantismo é ir além de defender uma posição, é alimentar estigmas e esteriótipos negativos que pessoas lutam durante anos para mudar.