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Meu pai tem birra da
imprensa esportiva paulistana porque acha que, desde os anos 1950,
ela menospreza o Santos por não ser da capital. De acordo com seo
Orlando, uma das coisas que mais lhe irritava em tempos idos era
quando o Peixe vencia alguém de forma inapelável e os jornais
paulistanos estampavam: Pelé 5, 6, 7 ou 8 X tal time zero. Não que
o Rei do futebol tivesse marcado todos os gols, mas tudo se resumia à
atuação do Dez alvinegro.
É óbvio que, muitas
vezes, o Rei monopolizava a atenção e talvez até justificasse uma
ou outra manchete. Mas ele, quase sempre, na Vila Belmiro, contou com
companheiros preciosos, talentosos, dos maiores que o futebol pôs os
olhos. Não fosse entrar em uma equipe campeão e já entrosada,
talvez não chegasse à Copa de 1958 e sabe-se lá o que seria da
seleção. Mas o destino foi bom com ele, com o Santos e com o
Brasil, e o resto da história todo mundo sabe.
Toda essa introdução
é para justificar o título acima. Neymar não conta hoje, em seu
clube, com companheiros próximos ao seu talento. Digo “próximos”
porque, à altura, nem na seleção ele tem. Tem a seu lado um André
que parece pesado, um Patito Rodríguez, habilidoso mas ainda perdido
em boa parte do tempo; Gerson Magrão, talvez o mais lúcido na meia,
mas... é Gerson Magrão. E Juan, no seu lado canhoto, o predileto,
que também dispensa comentários.
É o salvador em uma época de
transição na qual o time do Santos busca uma nova cara, com a saída
de diversos jogadores como Elano, Borges, Alan Kardec, Ibson (tá,
esse não faz grande falta), e, fatalmente, o volúvel e inconstante
Ganso. Ainda não conta com o calejado Léo na maior parte do tempo,
tampouco com o contundido – e vital – para a defesa, Edu Dracena,
além de outros no departamento médico. O Alvinegro não consegue
repetir a mesma formação (hoje não contou com um recém-contundido
Adriano, além de Felipe Anderson e Durval). Sem um conjunto formado
para ajudar, Neymar carrega a responsabilidade, mas não é fácil
seu jogo encaixar.
Mais um gol de placa para a coleção de Neymar |
Na primeira etapa isso
ficou patente. Pra variar, o Santos tomou um tento dentro dos 15
primeiros minutos. Também nada incomum, tomou um gol de um
ex-jogador, Deivid. O Coritiba marcava bem, atacava pelos lados e
levava perigo nas bolas aéreas, ponto fraquíssimo dos zagueiros que
estavam em campo, principalmente de Bruno Rodrigo. Já no segundo
tempo, o posicionamento nas ditas bolas paradas foi bem melhor, e o
Coritiba pouco ameaçou o Santos, que muitas vezes oferecia o campo
para o contragolpe dos donos da casa.
Mas os peixeiros também
não chegavam. Desde o primeiro tempo, os torcedores xingavam Neymar.
Quando as ofensas subiram o volume, o atacante quase marcou de cabeça
na primeira etapa. E quase desapareceu depois. No entanto, Muricy
teve um ímpeto ofensivo e trocou Ewerthon Páscoa por Bernardo.
Patito recuou mais para vir de trás, e o Peixe começou a ganhar
terreno. Começava a se desenhar um cenário mais favorável à
atuação de Neymar.
E, aos 26, veio o
encanto. Neymar passou por cinco rivais (ou seis, conforme a conta),
incluindo o arqueiro rival. Contou com a sorte, como todo craque, e
fez um gol de placa. Um tento genial. E a virada chegou depois de uma
finalização de Patito Rodríguez, que sobrou para Neymar
complementar com a tranquilidade dos que sabem do que a bola gosta.
Infelizmente, por conta de uma suposta provocação à torcida
adversária que o xingou quase o tempo todo, tomou o terceiro amarelo
e não pega a Portuguesa. Azar do Santos e de quem gosta de futebol.
Números de Neymar
Com Neymar em campo, o
Peixe tem um aproveitamento de líder: 20 de 26 pontos disputados, ou
76,9%. Fluminense e Atlético-MG tem menos de 71%. Mais um motivo
para o torcedor não simpatizar nem um pouco com Mano Menezes e a sua
seleção brasileira. O garoto chega a oito gols em nove partidas no
Brasileiro (sim, ele não participou de mais de 60% dos jogos do
Santos, boa parte deles em função do Brasil, e não é a CBF que
paga o seu salário). Neste ano, em 52 partidas, fez 44 gols, sendo
que, pelo Santos, foram 38 jogos e 36 tentos. Sua impressionante
performance soma ainda 27 assistências no ano, 17 pelo Alvinegro e
dez pela seleção. É top 5 de qualquer lista de artilheiro ou meia que dá passe para gol.
E ainda tem quem duvide
do garoto.