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quinta-feira, dezembro 09, 2010

O estandarte do sanatório geral (vai passar)

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No intervalo entre quatro estações do metrô de São Paulo, escuto alguns trechos curiosos de conversas entre passageiros que embarcam ou desembarcam:

"-Ele não tinha dinheiro, daí acabou fazendo no cemitério."

"-A primeira coisa que eu preciso fazer é mudar o som da minha risada."

"-Se você começa a investigar, vai ver que ele fuça a vida de todo mundo."


E eu ainda nem tinha bebido. Mas providenciei.

sexta-feira, maio 21, 2010

Orelhadas de bar (4)

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O nome do buteco é Seja Cerveja, em Jaú, interior de São Paulo.

- Minha vizinha cansou de fazer o serviço de casa mas não quer contratar empregada.

- Ué, e tem outro jeito?

- Ela diz que não quer explorar ninguém, mas mora sozinha.

- Como explorar? Não vai pagar?

- Ela é do movimento das mulheres, é feminista. Não quer subjugar outra mulher.

- Que besteira. Cada uma com sua função, é só tratar como igual.


Um cachorro entra no recinto. Um velho pica fumo e dá uma escarrada. O dono do bar espanta moscas com um pano imundo.

- Mas se a moça mora sozinha, será que não dá conta do serviço?

- Ela bebe muito. Disse que tomou uma garrafa de vinho e foi lavar roupa, vomitou tudo em cima, encheu o tanque de comida.

- Sério? Que foda...

- É, e outro dia jogou um balde d'água no chão de taco, pra lavar. Estragou tudo.

- Então ela deve estar querendo empregada pra poder beber em paz.

- Pode ser. Mas ela é doida.


O dono do bar aparece e oferece fatias de queijo mineiro. Uma mulher de seios fartos passa rebolando e tira a atenção dos manguaças. A tarde cai e o frio aumenta. Está na hora de uma dose de conhaque com mel e limão.

quarta-feira, março 31, 2010

Orelhadas de bar (1)

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Nove da noite de sexta-feira. A moça pede para eu esperar no buteco enquanto vai ao apartamento dar comida para o cachorro. Peço uísque. E minha antena auricular capta os primeiros sinais da mesa ao lado:

- Pede mais uma, larga a mão de ser chato.

- Pode ser. Mas me fala uma coisa, você continua casado?

- Há 24 anos. Casei em 85.

- Tá tudo bem em casa?

- Olha, vou te contar uma coisa... De Reinaldo pra Reinaldo: é foda.

- É. Eu sei. (...)


Baixa um silêncio sepulcral. Passa uma gostosa fazendo cooper. Um ônibus vira a esquina e derruba o cone da parada de táxi. Uma criança aparece vendendo chicletes. O papo anexo reflui.

- Mas você ainda tá jogando tênis?

- Só enganando. Hoje eu ia, mas fui ver meu sogro. Tá em coma.

- Ih, rapaz, nem fale. O meu sogro também tá ruim, teve um AVC.

- É foda.

- O véio não dura seis meses. Mas você já vai? Senta aí!

- Preciso ir. Minha mulher ligou duas vezes.

- Fica aí, rapaz!

- Não dá. Dessa vez não dá, meu irmão.

- Vou pedir a última.


Minha moça volta ao bar. Com o cachorro. A antena se distrai por um momento da frequência alheia. A moça vai ao banheiro e me deixa segurando o cão pela coleira. Tento sintonizar o fim da conversa vizinha. Só silêncio. Resta um na mesa. Calado. O outro Reinaldo arribou.

Sem beber a saideira.