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Destaques
sexta-feira, agosto 29, 2014
A marvada cerva que me atrapaia
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sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Antes que eles te façam correr
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Folheando "Vida", do Keith Richards (com James Fox), da editora Globo, 2010 (foto), li uma parte em que ele conta sobre a gravação da música "Before they make me run", do álbum "Some girls", de 1978, dos Rolling Stones, na cidade de Paris. "Aquela música, na qual estou fazendo o vocal, veio do coração, mas foi cansativa como nenhuma outra. Eu fiquei direto sem sair do estúdio por cinco dias", conta o músico, que cita um trecho (manguacístico) da letra:
Já trabalhei em todos os bares e shows no centro da cidade
Nada como um multidão para fazer você se sentir totalmente só
E a coisa já começou a fazer efeito
Bebidas, pílulas e pós, você pode escolher seu remédio
Bem, aqui vai o adeus para mais um bom amigo
Depois de tudo dito e feito
Tenho que me mexer enquanto ainda é divertido
Deixe-me andar antes que eles me façam correr
E Richards prossegue: "(...) Fiquei gravando cinco dias direto. Nós todos estávamos cheios de olheiras quando terminamos de gravar a música (...). Quando finalmente terminamos, eu apaguei sob a mesa, embaixo do equipamento de gravação. De repente acordei, não sei quantas horas depois, nunca contei, e lá estava a banda da polícia parisiense. Uma porra de uma banda marcial! Foi isso que me acordou. Eles estavam ouvindo uma faixa que tinham acabado de gravar e não sabiam que eu estava ali. (...) E me pergunto: 'Quando devo sair daqui? Estou morrendo de vontade de mijar, meu veneno [heroína] está todo comigo, agulhas e a porra toda, e estou cercado de policiais que não fazem a menor ideia de que estou aqui'. Esperei um pouco e pensei: 'Eu vou ser bem britânico', e então rolei para fora da mesa e disse: 'Ai, meu Deus, me desculpem', e antes de eles perceberem eu já tinha me mandado, deixando 76 tiras se perguntando que porra tinha acontecido". Ou seja, como a música previa, eles o fizeram - literalmente - correr.
quarta-feira, fevereiro 03, 2010
Dinheiro na mão (do manguaça) é vendaval
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Porque, por exemplo, quando me recordo da nota de 1 cruzeiro da minha infância (à direita), lembro do Bar do Anésio, onde eu ia procurar meu pai - a mando de minha mãe. Cercado por violões, boêmios, tigelas de tira-gosto e garrafas, ele nunca tinha pressa de voltar para casa. Por isso, me dava uma meia-dúzia dessas cédulas para eu me esbaldar com salgados e refrigerantes, enquanto ele terminava os trabalhos do fórum adequado. Foi o Bar do Anésio, uma casa simples de telhas antigas, sem forro, que me tornou um "butequeiro". Aquele bando de gente falando alto, rindo, cantando e manguaçando era (e é) um programa muito melhor do que ficar em casa assistindo TV.
Mas eu só teria permissão para iniciar minha própria boemia bem mais tarde, aos 12 ou 13 anos, quando o dinheiro nacional já era o cruzado. Lembro bem da nota de mil com o Machado de Assis (à esquerda), a quota que minha mãe separava para eu passar o final de semana. Eu ainda bebia com muita moderação e o dinheiro me permitia manguaçar nas noites de sexta e sábado, nos bailes do clube local, sem passar vontade. Me parece que na época cerveja custava mais barato e, na falta dela, sempre tinha uma dose de menta azulada que completava o tanque e fornecia a necessária cara-de-pau para tirar as meninas pra dançar - e salvar a auto-estima quando ouvia um "não".
Pouco depois, o Fernando Collor assumiu a presidência da República e retornou nossa moeda para cruzeiro. Foi uma época em que eu já conseguia defender uns pixulés fazendo pequenos serviços e me aventurava em expedições etílicas e "mulherísticas" por outras cidades. Nesse período de transição as cédulas de cruzado continuavam circulando, com carimbos mostrando o novo valor em cruzeiros (acima). Me recordo que o dinheiro estava tão desvalorizado que ninguém usava moedas pra nada. No bar, o valor do goró mudava a todo momento. Foi aí que desenvolvi o hábito (conservado até hoje) de converter o valor de qualquer coisa em cerveja, para avaliar se é barato ou caro. Se a coisa ou serviço custa o equivalente a até meia-dúzia de cervejas, não é tão extorsivo. Mais que isso é roubo!
Outra cédula estranha que me lembro de ter manuseado foi a de cruzeiro real (à esquerda). Sim, meus jovens, antes do real tivemos essa moeda híbrida que durou bem pouco, acho que só o primeiro ano do governo Itamar Franco. Eu estava na faculdade e trabalhava vendendo (ou tentando vender) títulos de sócio do (talvez nunca concluído) clube de campo Águas de Atibaia. Meu bar preferido era o 1 + 1, que tinha pagode ao vivo - não sou fã, mas esses recintos costumam atrair a mulherada. Foi nesse buteco mítico que eu fiquei devendo 182 cervejas no mês e tive que rifar um contrabaixo para pagar parte da pendura. Sorte minha que o bar faliu e não paguei o resto.
Bom, aí veio o real, com o congelamento de salários por dez anos e o aumento gradual mas recorrente do preço da bebida - o que não nos impediu de seguir militando pela nobre causa. Em bares de Fortaleza, Sobral, Santo André, São Paulo e mundo afora. Às vezes com um trocado melhor no bolso, às vezes desempregado, às vezes marcando na conta (obrigado, saudoso Vavá!), às vezes dependendo dos camaradas. Mas sempre molhando a palavra. E, a partir de agora, com essas novas cédulas - que um dia, espero, também puxarão outras memórias, de outros bares e bebedeiras. Saúde! E paga uma!
segunda-feira, junho 15, 2009
Cerveja australiana na jarra e polonesa na garrafa
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Dando sequência a série que o camarada Anselmo batizou amigavelmente de ¨Eu e minhas cervejas¨, fui outro dia com dois amigos a um pub que vende a australiana Foster's em jarras de 2 litros, o que dá um pouco mais de três pints, o copo padrão dos pubs. Sai por 10 euros. Como o companheiro DeMarcelo já observou em um comentário, a Foster's é muito consumida aqui na Grã-Bretanha. Trata-se de uma cerveja clara mas encorpada, com gosto distinto de cereais e malte. Até perguntei mais detalhes para a garçonete piauiense Adriane, mas ela não sabia. No site da cerveja australiana consta que a versão lager possui 5% de teor alcoólico, mas parece que é a envasada em lata - e não sei se há diferença para a que é tirada no balcão do pub para onde nos dirigimos. Mas, enfim, foi uma boa escolha.
Assim como a polonesa Tyskies, que tomei em meu último dia no hostel Isaac´s, com direito a churrasco (barbecue ou BBK, como eles abreviam) de hamburguer, som ao vivo, gente do mundo inteiro e bagunça até mais de meia-noite. Conheci uma velhinha irlandesa bem simpática - e bêbada, como não poderia deixar de ser - chamada Margareth, que cantou pra nós 27 hinos do tradicional cancioneiro de bar de Dublin. Ela pediu segredo sobre seu nome e nos instruiu a chamá-la de Linda, pois, pelo pouco o que entendi, havia um galanteador querendo rastrear sua vida (pelos únicos três dentes que ela tinha na boca, acho mais provável tratar-se de delirium tremens). Mas foi depois que a velhinha sumiu e que nos aproximamos de uma mesa com sete polonesas e dois caras meio manguaçados que provei a tal Tyskie. É amarelo escura, forte (5,6% de teor alcoólico) e bem amarga. Gostei. Antes havia bebido uma cerveja francesa, mas essa já será outra história. Salut!
sábado, fevereiro 28, 2009
Em busca do marafo perdido – Capítulo 4
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MARCÃO PALHARES
Nevoeiro. Denso, cerrado, intransponível. Saio da neblina e entro numa casa. Tudo difuso, vago. Não enxergo claramente. Há um vulto, uma mulher sorrindo – ou algo do tipo. Me oferece uma garrafa esverdeada. Tento alcançar, mas a distância aumenta. Ela começa a gargalhar. A garrafa cai no chão e se estilhaça. Eu grito. E desperto do sono profundo...
Sol na cara, muito forte. Os olhos embaçados não suportam a claridade excessiva. Deve ser meio-dia ou perto disso. Estou deitado num beco, dentro de uma lixeira. Os lábios doem. A cabeça lateja. O corpo está moído. A boca seca guarda um gosto horrível de bebida fermentada, areia e sangue. Acho que arrumei briga. E acho que apanhei muito.
Tento levantar, zonzo. O sol desnorteia as ideias. Quando comecei a beber, chovia e fazia frio. Deve ter sido há muitos dias. O clima agora é exatamente inverso. Calor, sede, tontura. Alguma coisa está errada, alguma costela fora do lugar. Ponho os pés no chão – e desabo. Calça suja, pés descalços, camisa rasgada e repleta de sangue seco. Um cheiro azedo de cerveja.
Levanto, caio novamente. Rastejo e me apóio na parede. Vou cambaleando, meio louco de dor, tremedeira e uma vontade apavorante de morrer. Preciso beber alguma coisa. Chego na porta do bar e ele está fechado. Tudo bem: não tenho mais dinheiro, mesmo. Nem carteira, nem documentos, nem nome, nem futuro, nem alma, nem nada. Tanto faz.
Deito na calçada, meio morto. Passa uma nuvem e a sombra alivia um pouco os olhos doloridos. Tento ficar sentado. Chega uma senhora e me atira umas moedas. Os dedos trêmulos fazem um esforço desumano até conseguir reuni-las. Dois contos e vinte e cinco centavos. Acho que está na hora de voltar a beber. E retirar o lucro líquido de uma vida bruta. Salute!
quarta-feira, março 05, 2008
Beber todo dia é mais comum que fumar
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É isso aí, bando de manguaças: levantamento da Secretaria de Estado da Saúde aponta que 28% dos que já experimentaram álcool fazem uso diário da substância. O Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), órgão da pasta, entrevistou 339 pessoas na capital paulista em 2007 (acho que fui entrevistado, mas tava bêbado e não lembro). Do total, 250 (73,7%) afirmaram já terem feito uso de álcool na vida, e 28% dessas pessoas disseram que tomaram bebidas alcoólicas diariamente ou quase todos os dias nos três meses anteriores. Já dos 66,3% que já experimentaram cigarros ou derivados de tabaco, 12,4% afirmaram que fumam diariamente. Ainda bem que sou uma pessoa sem vícios: só fumo quando bebo. Todo dia...