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quinta-feira, novembro 11, 2010

Cachaça para a China

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Até esta sexta-feira, 12, os chineses serão assediados por empresas de alimentação de todo o mundo. Do Brasil, a novidade é a investida da cachaça para os conterrâneos de Hu Jintao – tudo para o preparo de caipirinha. É que desde quarta-feira, 10, acontece a feira Comida e Hospitalidade na China (FHC, na sigla em inglês).

Não confunda Food and Hospitality com um ex-presidente da República brasileira. As siglas são mera coincidência.

A história está no Terra. Claro que entre os expositores há empresas como a Brasil Foods, de olho na exportação de frango e porco para o país asiático, Bauducco, querendo exportar bolacha e, quiçá, panetones, entre outras.

Mas aqui, o que interessa é que a Velho Barreiro está lá para representar a produção da aguardente de cana-de-açúcar. A melhor amiga do limão, pertencente à indústria Tatuzinho, honra a FHC com a cachaça. É a única do segmento.

Há ainda a preseça do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), que se não é cachaça, tampouco é "água não".

Nenhuma empresa do setor de açúcar tem posto marcado na feira. No máximo, está lá uma empresa de apicultura. Nada de limão taiti, tampouco, de modo que a confecção de caipirinha precisará de mais tempo para ser massificada por lá. Pelo menos se a estratégia foi respeitar a receita original.

Outros países também querem vender goró para os chineses. A Espanha leva uma lista de 12 bodegas de vinho, e outros países fazem o mesmo. São 25 empresas

segunda-feira, outubro 25, 2010

Do vinho e da verdade

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Nas últimas semanas, estive absorvido na elaboração de um livro sobre a pianista Cristina Ortiz, uma das maiores solistas do mundo. Fui visitá-la em sua casa de veraneio na região de Bordeaux, na França, e, em mais de 20 horas de entrevistas, gravadas neste computador, tive o privilégio de compartilhar com ela reflexões sobre tudo o que envolve a arte musical de concerto.

Seria muito tratá-la como um Pelé do piano, mas sem dúvida é algo assim como um Zico. Ou seja, alguém que, como muito poucos, conheceu cada detalhe de sua arte, magnetizou grandes plateias, venceu os maiores concursos, tocou ao lado das mais reputadas orquestras e dos melhores regentes nas principais salas de espetáculo dos cinco continentes. Suas palavras têm o lastro de quem esteve lá, viu, viveu, venceu, e nunca abriu concessões naquilo que é a razão de sua vida: a música.

Essa breve introdução é apenas um pano de fundo, que talvez explique a mim mesmo o quão sensível estive, durante aqueles dias na França, à verdade das coisas. Um elemento indispensável participou de minha intelecção: vinho farto e excelente. Conversávamos regados a vinho local, e quando uma garrafa chegava ao fim, quase que imediatamente eu era interpelado: “Acabou? Qual você quer abrir? Tem este de um chateau a dois quilômetros daqui, este outro quem faz é um amigo que me deu quando toquei lá em etc. etc.”. Tive a oportunidade rara de viver uma imersão no vinho, coisa que, pela tradição latina, é o mesmo que uma imersão na verdade. In vino veritas, diz o bordão. A verdade do próprio vinho, a verdade das coisas que o vinho traz à tona.

Pude, pela primeira vez, acompanhar com minha própria língua a abertura de um vinho. Há vinhos que abrem. Tem gente que prefere esperar que ele se abra antes de começar a degustá-lo. Mas eu, desavisado e ignorante, servi e logo dei minha talagada. Um amargor sanguíneo atiçou as regiões embaixo da língua, fez-me pensar em uma textura áspera. A luz da tarde incidia sobre a velha casa com delicadeza, estava linda, o que aumentava o contraste com meu paladar. Fui caminhando pelo gramado, sentindo a bebida afetar cada parte de meu corpo à medida que seu aroma se revelava com nitidez e ganhava espessura ao redor de mim.

Algo aconteceu. Não era ainda que eu o conhecia, mas sim uma sensação comparável a quando de repente se toca a pele da mulher que começa a se envolver no jogo de sedução. Como se o vinho, depois de apresentado a mim, me oferecesse algo que naquele momento era só nosso, e que me capturava para dentro dele.

Sorvi devagar, contornando a casa pelo jardim, e ao encher a boca e depois o peito, um sabor frutado e doce foi brotando de dentro do sangue. Eu, cada vez mais envolvido, vivendo o paradoxal sentimento de pisar mais firme sobre a terra e, a um só tempo, transcender a pele das coisas, me percebi amando o vinho, que se abria cada vez mais surpreendente, com um sabor claro, impactante e nuançado. Este encontro erótico durou ainda alguns minutos.


Sentindo a alma límpida, deixei o copo vazio descansar sobre um tronco e sai a caminhar. Uns passos além do portão e já se margeia os campos de vinhas, que ali estão, sem qualquer proteção de cercas ou muros. Bem próximo de mim, galhos pendiam ao peso dos cachos de uvas pretas de tão maduras. Tomei-as delicadamente nas mãos e constatei o óbvio. Como eu, qualquer um poderia arrancar e deliciar-se com aqueles frutos. No entanto, ninguém o faz, e a prova era aquele cacho em minha mão, frágil, desprotegido. Os vinhedos, que a princípio me pareceram feios e excessivamente disciplinados, com o sol quase horizontal transluziram, como um vitral de igreja ou caleidoscópio, tonalidades de vermelho amarelo e verde.

Devolver as uvas cuidadosamente ao seu lugar foi, para mim, participar do sagrado. E o sagrado, embora experienciado por cada um, só pode ser algo que se compartilha em irmandade. Tive a certeza de que, num lugar onde existe tamanho respeito por aquele elemento mágico que une a todos igualmente em torno de uma mesa para celebrar a comunhão promovida pelo que oferecem generosamente o sol, as chuvas, a terra e seus frutos, as pessoas sem dúvida podem olhar-se nos olhos com simplicidade e dizer o que pensam, sonham e desejam, sem recalcar sua própria casca de convívio num mundo de hipocrisia.

A verdade é, necessariamente, simples.

O olhar direto e cristalino, a palavra clara e o gesto indúbio são coisas que teremos que reconquistar na terra da cachaça, depois do pleito de 2010.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Sumemo, falamemo!

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Durante encontro da cúpula executiva da ONU em um resort austríaco, o manguaça chinês Sha Zukang (foto), subsecretário-geral para Assuntos Econômicos e Sociais da instituição, pegou o microfone lavou a alma contra seu chefe (ah, os chefes!), o coreano Ban Ki Moon, e os estadunidenses (ah, os EUA!):

- O vinho me afetou um pouco, mas eu quero dizer algumas coisas que estão na minha cabeça. Eu sei que você nunca gostou de mim, sr. secretário-geral... Bom, eu também nunca gostei de você. Eu não queria vir para Nova York. Era a última coisa que eu queria fazer. Mas eu comecei a amar a ONU e estou começando a admirar algumas coisas sobre você. Você tem tentado se livrar de mim. Você pode me mandar embora a qualquer hora, pode me demitir hoje. 

Não satisfeito, resolveu falar de outro alto diplomata da ONU, o estadunidense Bob Orr. "Eu realmente não gosto dele: ele é americano e eu realmente não gosto de americanos."

Pronto, virou meu herói!

segunda-feira, maio 24, 2010

Beba moderadamente. Mas beba!

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Mais pesquisa manguaça: estudo de cientistas franceses publicado pelo European Journal of Clinical Nutrition grante que as pessoas que bebem moderadamente são mais saudáveis do que abstêmios. Isso mesmo. Os bebuns ocasionais são menos propensos a problemas do coração, obesidade e depressão do que os que evitam totalmente o álcool. "O consumo moderado de álcool é um poderoso marcador de nível social, de saúde e ainda diminui os riscos de se desenvolver uma doença cardiovascular", garantiu Boris Hansel, do Hospital Pitié-Salpêtrière, de Paris.Os pesquisadores analisaram os prontuários de 150 mil pessoas da capital francesa, que se submeteram a exames médicos entre 1999 e 2005. Os voluntários foram divididos em quatro grupos: pessoas que não bebem, pessoas que bebem pouco, pessoas que bebem moderadamente e pessoas que bebem muito. Além de reduzir as chances de se desenvolver doenças do coração e depressão, o álcool moderado tende a diminuir os níveis de colesterol e os níveis de açúcar no sangue, sugere a pesquisa francesa. Os especialistas ainda descobriram que a quantidade moderada de álcool está associada ao crescimento socioeconômico e ao hábito de praticar exercícios físicos. Apesar disso, o estudo não defendeu o uso medicinal de vinho ou de outras bebidas alcoólicas.

segunda-feira, maio 17, 2010

No Paraná, padre bêbado dirige de cueca e propõe dinheiro e sexo oral para os guardas

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Mais uma de padre manguaça, só que desta vez aqui em terras tupiniquins. Na madrugada de domingo, em Ibiporã (PR), o padre Silvio Andrei Rodrigues dirigia um Fiat Idea alugado, apenas de camisa e cueca, com uma garrafa de cachaça no colo. A batina estava no banco traseiro. Abordado por dois policiais militares, Rodrigues ofereceu R$ 490 que tinha na carteira para não ser preso. Depois disso, teria proposto sexo oral a um dos guardas. O advogado do bebum, José Adalberto Cunha, alegou que o padre só tirou a batina porque "passou mal e vomitou". Segundo Cunha, depois de celebrar o casamento, Rodrigues teve um surto e se perdeu quando se dirigia para a casa de familiares. "Ele toma antidepressivos e bebeu vinho no casamento, perdeu a memória, passou mal e vomitou, por isso tirou a batina" (essa desculpinha é velha, né, Vanucci? Né, Lúcia Hippolito?). A "justificativa" surtiu efeito e levou o juiz Sérgio Aziz Neme a acatar o pedido de liberdade provisória ao padre, que é acusado de ato obsceno, corrupção ativa e embriaguez ao volante. Porém, o delegado chefe de Ibiporã, Marcos Belinati, garantiu que não foram encontrados "indícios de vômito" na batina apreendida.

sexta-feira, março 26, 2010

Tudo desculpa pra beber

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No livro "1808", de Laurentino Gomes (Editora Planeta, 2007), que narra a vinda e a permanência de Dom João VI por 13 anos no Brasil, uma descrição interessante das condições de viagem de navio da Europa até aqui, pelo Oceano Atlântico, há 200 anos:

A dieta de bordo era composta de biscoitos, lentilha, azeite, repolho azedo e carne salgada de porco ou bacalhau. No calor sufocante das zonas tropicais, ratos, baratas e camundongos infestavam os depósitos de mantimentos. A água apodrecia logo, contaminada por bactérias e fungos. Por isso, a bebida regular nos navios britânicos era a cerveja. Nos portugueses, espanhóis e franceses, bebia-se vinho.

Taí, já dá pra entender o que impulsionou as navegações...

terça-feira, março 16, 2010

A ditadura da felicidade

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Uma amiga volta do almoço dizendo que foi a uma padaria onde havia uma placa advertindo: "Você está sendo monitorado por 12 câmeras". Assustador, mas não deixaram de acrescentar abaixo: "Sorria!". Na hora, me lembrei da letra de "Um sorriso nos lábios", do Gonzaguinha: "Ou então acha graça/ É tão pouca a desgraça/ Mas no fim do mês/ Lembra de pagar a prestação/ Desse sorriso nos lábios" (no final da gravação original ele imita um guarda e ordena: "Põe um sorriso aí, cidadão! Põe esse sorriso aí!"). Mas, em seguida, recordei outra letra, "Menina, amanhã de manhã", do Tom Zé:

Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens


É isso: essa ordem para sorrir, essa felicidade desabando sem piedade sobre nós. Exagero? Pois vejam o que o site Mundo do Marketing observou sobre a "mania feliz" que também está empesteando as propagandas:


"Vem ser feliz", "A escolha feliz", "Lugar de gente feliz", "Você feliz", "A TV mais feliz". Quanta felicidade, valha-me Deus! Que inferno! Quem aguenta isso? Preciso beber. Nada mais apropriado que um vinho Santa Felicidade...

Ah, e só pra você não esquecer: SORRIA!

sexta-feira, março 12, 2010

Para Incor, manguaçar não é vício, é 'estilo de vida'

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Ó, se até eles estão dizendo, não sou quem vai disconcordar: o Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), que está recrutando homens para uma pesquisa sobre "efeitos benéficos do vinho", observa que "podem se inscrever homens que bebem vinho tinto regularmente, como parte de seu estilo de vida". Pronto, descobri que sempre fui um homem "de estilo"!

Em tempo: os interessados em participar da pesquisa devem ter idade entre 50 e 75 anos, bebe vinho regularmente ou serem abstêmios. É oferecido um check-up cardiológico aos participantes, como parte do estudo. Informações e inscrições: (11) 3069-5510.

terça-feira, março 09, 2010

Mulher que bebe engorda menos

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Lu Wang, epidemiologista do Hospital das Mulheres em Boston, Estados Unidos, comprovou em uma pesquisa que as mulheres que bebem de um a dois drinques por dia são 30% menos propensas a ganhar peso. O universo de estudo foi considerável: 19.200 mulheres a partir de 39 anos, que responderam sobre seus hábitos de bebida e o ganho de peso nos últimos 13 anos. Em média, apesar de todas terem engordado à medida que envelheciam, as mulheres que ganharam mais peso foram as que nada bebiam. E o total de quilos adquiridos diminuía de acordo com o consumo alcoólico de cada uma. "Aquelas que consomem uma quantidade moderada de álcool costumam ter uma ingestão calórica menor de outras fontes não-alcoólicas, particularmente de carboidratos", diz Wang. "Por outro lado, a ingestão de álcool tende a acelerar o metabolismo das mulheres, significando um maior gasto calórico", acrescenta.

Na pesquisa, cerca de 38% das mulheres (7,3 mil) afirmaram que não bebiam álcool, enquanto quase 6% bebiam moderadamente - ou seja, duas taças de 150 ml de vinho por dia. Outras 3% bebiam mais do que isso, cerca de 30 gramas de álcool por dia. Os pesquisadores afirmam que os resultados estavam associados a quatro tipos de bebidas: vinho tinto, vinho branco, cerveja e licor. O estudo afirma ainda que a melhor relação entre peso e consumo de álcool ocorreu com as mulheres que bebiam vinho tinto. Não vou deixar passar o grito de guerra: - Bora beber, mulherada!

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Evite refrigerantes!

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No portal Terra, Claudio Pucci dá sete dicas para evitar ressaca nesse Carnaval. Na segunda delas, faz uma importante advertência: evite refrigerantes!

1) Não é verdade que, para curar a ressaca, você tem de beber pela manhã um copo da mesma bebida. Ressaca não tem cura e, sim, prevenção. Você pode tratar os sintomas, mas às vezes a solução é pior que o problema, já que, para passar a dor de cabeça, você vai tomar algum remédio que irá irritar ainda mais seu estômago já estragado.

2) A péssima sensação do dia seguinte varia de pessoa para pessoa, mas é melhor comer bem antes. A comida no estômago vai fazer com que a absorção do álcool seja mais lenta. Além disso, alterne bebida alcoólica com água (ou suco natural), já que seu corpo vai sofrendo desidratação. Evite bebidas com cafeína, como refrigerantes.

3) Café não cura ressaca, nem faz ficar sóbrio. Ele não só pode piorar a desidratação como pesquisas recentes mostraram que a cafeína dá a sensação de recuperação ao bêbado, mas seus sentidos e reflexos ainda estão bem afetados. Logo, você acredita que pode dirigir e pode se dar muito mal.

4) Pesquisadores do National Institutes of Health dos EUA comprovaram que, quanto mais escuro o drinque, pior a ressaca. Não é só o álcool que afeta o corpo, e sim outros componentes orgânicos, absorvidos em barris de carvalho ou usados para dar cor e textura. Outro estudo provou que ressaca de uísque é duas vezes pior que a de vodca. E já houve especialistas que disseram que o vinho tinto, o rum, o brandy e o uísque são os piores causadores de males do dia seguinte. Uma coisa é certa: nunca misture bebidas, pois o estrago é grande. Em tempo: bons vinhos não dão ressaca.

5) Doces não ajudam. Alimentos com alta concentração de açúcares podem dar alívio momentâneo, mas os sintomas voltam depois piores do que estavam. O nível de glicose no corpo deve subir gradualmente e devagar.

6) Tamanho pode ser documento. Reza a lenda que quanto maior e mais gorda for uma pessoa, mais álcool consegue aguentar. Isso pode ser verdadeiro em alguns casos, mas a teoria está mais relacionada à quantidade de água no corpo (que influenciará na concentração de álcool) do que à gordura em si. E essa quantidade de água no corpo é parcialmente ligada ao peso individual e não inteiramente. O que se sabe é que pelos homens possuírem mais água que as mulheres, conseguem aguentar mais doses.

7) O tempo em que seu corpo vai voltar totalmente ao normal, se parar de beber, é de até 24 horas depois da farra. O maior tempo de ressaca já registrado em textos médicos ocorreu em 2007, quando a revista especializada Lancet trouxe um caso de um escocês que ainda apresentava efeitos de ressaca após quatro semanas da bebedeira.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Som na caixa, manguaça! Volume 49

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LENDA DO CARMO
(Composição: Ivan Lins / Vitor Martins)

Ivan Lins

O mestre bandoleiro invade a cidade
Pega da espada e muda o rumo da manhã
E o povo corre pra igreja
Pra se esconder do mal
Os santos milagreiros, mulheres e homens
Bebiam juntos o vinho e repartiam o pão
Era a folia, era o milagre
Do vinagre e sal

O mestre bandoleiro deixando a cidade
Quebra a espada e muda o rumo da manhã
Cinzenta e fatal
Imortal
Os santos e as pessoas invadem a cidade
Tocando sinos, cantando hinos de procissão
Era a folia, era a alegria
Era um Carnaval

Na mesma taça, o sangue e o vinho da igreja
A água benta, a cerveja e o suor
A mesma dança, uma vingança
Um negro ritual
O povo sem cerveja, os santos sem milagres
A igreja só e não muda o rumo da manhã
Virgem Santa! Quanta solidão! Perdição!

(Do LP "Chama acesa", RCA, 1975)

sexta-feira, janeiro 29, 2010

'Bebida amarga' não era metáfora em 'Cálice'

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Aliando meus vícios em música e livros, uma das coisas que mais gosto é fuçar o processo de criação das canções e os "causos" por trás disso. Um exemplo: o músico e compositor Leoni (ex-Kid Abelha e Heróis da Resistência) entrevistou certa vez o líder da Legião Urbana, Renato Russo, e este revelou que, quando a banda de Brasília foi gravar seu primeiro disco, a EMI Odeon tentou meter o bedelho e mudar tudo o que eles queriam fazer. Daí, Renato compôs uma canção diretamente para a gravadora: "Tire suas mãos de mim/ Eu não pertenço a você/ Não é me dominando assim/ Que você vai me entender". Quem imaginaria isso?

Pois então, no livro "Gil - Todas as letras", organizado por Carlos Rennó em 1996 (Companhia das Letras), descubro uma história fantástica sobre "Cálice", parceria de Gilberto Gil com Chico Buarque (foto). A polêmica letra, que cutuca a ditadura militar e faz trocadilho com "Cale-se!", fez com que a música fosse censurada e o microfone de Chico cortado no festival Phono 73. Aliás, foi esse show que motivou a criação da música. "A Polygram queria fazer um grande evento com todos os seus artistas no formato de encontros, e foi dada a mim e ao Chico a tarefa de compor e cantar uma música em dupla", conta Gil.

"Era Semana Santa e nós marcamos um encontro no sábado no apartamento dele, na Rodrigo de Freitas (a lagoa referida, aliás, por ele na letra)", prossegue o baiano. E está lá, no final da segunda estrofe: "Na arquibancada pra a qualquer momento/ Ver emergir o monstro da lagoa". Gil observa que, como era Sexta-Feira da Paixão, foi seduzido pela ideia do calvário e do cálice de Cristo, de onde saiu o emblemático refrão: "Pai, afasta de mim esse cálice". E como Páscoa é sinônimo de vinho, tomou umas e completou: "De vinho tinto de sangue". Mas o melhor foi o surgimento da primeira estrofe, outra daquelas inspirações que ninguém conseguiria supor.

"Comecei lembrando de uma bebida amarga chamada Fernet, italiana, de que o Chico gostava e que ele me oferecia sempre que eu ia à sua casa. No sábado não foi diferente: ele me trouxe um pouco da bebida". É plausível imaginar que Gil, ainda ressaqueado pelo vinho da véspera, tenha escrito de uma só canetada as frases da primeira estrofe: "Como beber dessa bebida amarga/ Tragar a dor, engolir a labuta". E essa sensação etílica permeou a terceira estrofe, também escrita pelo baiano, que diz: "Esse pileque homérico no mundo/ De que adianta ter boa vontade/ Mesmo calado o peito, resta a cuca/ Dos bêbados do centro da cidade".

Engraçado é que, desde que foi lançada, "Cálice" ficou marcada pela conotação política dada por Chico Buarque - como a citação da morte de Stuart Angel Jones, filho de sua amiga Zuzu Angel, torturado pelos militares com a boca enfiada no escapamento de um automóvel que acelarava: "Quero cheirar fumaça de óleo diesel/ Me embriagar até que alguém me esqueça". Esse final com "me embriagar" sugere o teor alcoólico inspirador da clássica parceria, que acabou evaporando junto com a ressaca de Gilberto Gil.


quarta-feira, janeiro 27, 2010

Meneghetti, o ladrão que não roubava pobres nem gostava de futebol. Já de vinho...

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Nesta quinta-feira, 28, o geógrafo, jornalista, saciólogo e cachaceiro (aquele que bebe, não aquele que produz cachaça) Mouzar Benedito lança Meneghetti, o gato dos telhados, biografia do anti-heroi italiano que virou lenda em São Paulo.

Foto: Polícia de São Paulo/"Nosso Século"da Editora Abril - 1910-1930, página 269

Preso, foi fichado com e sem disfarce pela polícia

Parte da coleção “Pauliceia”, a obra conta com o tradicional tom bem-humorado de Mouzar. E inclui um gibi de Luiz Gê, datado de 1976, sobre as desventuras do gatuno, que jurava roubar apenas as joias dos ricos, “bens supérfluos que só servem para alimentar a vaidade”.

Gino Amleto Meneghetti nasceu em Pisa, na Itália, mas fez fama em São Paulo, onde morreu com 97 anos, em 1976. Foi tema de curta-metragem, livro, e muita conversa de bar.

Foto: Polícia de São Paulo/"Nosso Século"
Muitas dessas histórias estão no livro. Mas a pedido do Futepoca, Mouzar separou quatro trechos da obra relacionados aos temas tão bem quistos por aqui: futebol, política e cachaça. Aí vão:

Ele não gostava de futebol:

“Vem um sujeito de calcinha, dá um pontapé numa pelota e fica milionário. Isto é absurdo. O outro fica rico dando murro na cara do outro. São espetáculos que para mim (...) o governo apoia, uma nova política para distrair o povo, como em Roma.”
Mas em compensação...
“Isto [vinho] faz bem para a alma, para a barriga e para o cérebro.”
E política? Bem... Ele tinha um filho chamado Lenine e outro Spartaco. E dizia:
“Tanto na Itália como na Inglaterra, como em todos os países burgueses, a maioria das pessoas é pobre, vive na miséria.”

“Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para alimentar a vaidade.”

“O comerciante é um ladrão que tem paciência.”
Ladrão? Assim lhe disse seu avô:
“Muitos dos homens bem colocados que você vê aqui em Pisa são ladrões refinados, mas roubam dentro da legalidade. São ladrões da pátria, ladrões de salão. Roubam e a lei ainda lhes presta honras, porque depende deles para aumentos, nomeações e outras coisas. Durante sua vida você vai ver muitos destes, vá em que país for, porque o mundo está cheio deles. São vigaristas e ladrões, mas vigaristas e ladrões bem sucedidos. Roubam milhões e nada acontece.”

Meneghetti, o gato dos telhados
de Mouzar Benedito
Com história em quadrinhos de Luiz Gê
Pesquisa: Marcel Gomes e Antonio Biondi
Boitempo Editorial
Lançamento dia 28 de janeiro, 19h, Livraria da Vila, r. Fradique Coutinho, 915,
Vl. Madalena, São Paulo-SP

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Festa portuguesa no sábado e no domingo

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Bom, como o camarada Moriti está demorando muito pra analisar mais uma derrota do São Paulo e a Thalita nem deve estar muito chateada, pois também torce pra Lusa, vou cumprir aqui o sacrificante papel de sãopaulino de plantão. Não vi o jogo, só o golaço do Marcelinho Paraíba (que aparece com a bola na foto). Reestreou com gol, chegou a 47 com a camisa tricolor. Mas, voltando à partida, fiquei sabendo que o Rogério Ceni perdeu um pênalti e o Washington um gol mais do que feito (pra variar...), depois de uma linha burra bem burra dos defensores lusitanos. E o castigo veio a galope: no segundo tempo, o estabanado Richarlyson fez um pênalti bobo e a Lusa empatou. Logo em seguida, o ex-sãopaulino Marco Antônio virou o placar. Também pra variar, Dagoberto arrumou mais uma expulsão (e a gente ainda fala mal do Domingos, que riu por último). Tranquila, a Portuguesa teve tempo de fechar em 3 a 1 a derrota do Tricolor em pleno Morumbi. Curioso é que no sábado eu fui a uma festa de casamento na Vila Leopoldina em que o noivo era sãopaulino e a família da noiva, toda de portugueses. Foi uma festa "portuguesa com certeza", com banda típica, música, dança, vestes, comida e muito vinho. Devia ter desconfiado de que era prenúncio de alguma coisa: o São Paulo bailou o vira na estreia do Paulistão. Ora pois pois, Ricardo Gomes!

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Baby boom

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Pode ser exagero, mas estimo que quase metade das pessoas que conheço faz aniversário em janeiro. Quando eu era adolescente, fazíamos todo ano um churrasco dos nascidos especificamente em janeiro de 1974 e acho que eram mais de 20 pessoas. Tinha gente do dia 2, do 3, do 5, do 7, do 8, do 10, enfim, ia intercalando até uma menina que era do dia 29. Em Campinas, na faculdade, era a mesma coisa. Em Fortaleza, onde morei por um tempo, idem. E aqui em São Paulo não é diferente: de hoje até domingo são cinco festas, churrascos e cervejadas de amigos e agregados. Hoje eu conversava com um deles, Fernando, que no dia 16 vai comemorar 28 anos fazendo um churrasco na laje, lá em Guaianases, em homenagem aos 30 anos da prisão do Paul McCartney por porte de maconha, no Japão (!!). Vai daí, ele me perguntou:

- O que será que acontece em abril pra nascer tanta gente em janeiro?

- Feriado de Páscoa, respondi.

- Ué, mas tem feriado o ano inteiro, ele rebateu.

- Pois é, mas neste as pessoas enchem a cara de vinho e enforcam o Judas!

terça-feira, dezembro 22, 2009

Cerveja está liberada para a ceia, diz ambientalista

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A cerveja está liberada para a ceia de natal e ano novo. A análise é de Adalberto Marcondes, jornalista especializado em temas ambientais, quando questionado sobre formas de se garantir uma ceia sustentável, quiçá carbono-neutro.

Foto: Alexandre Jaeger Vendruscolo/Sxc.hu
A principal recomendação são atitudes e consumo preocupados com o ambiente sem "perder de vista que qualidade de vida também é ter acesso a algumas coisas que dão prazer".

Tudo o que emite muito gás de efeito estufa vale a pena ser evitado. Isso inclui vinhos europeus, porque o transporte – especialmente o aéreo – emite muito carbono para alcançar mais de 800 quilômetros por hora em velocidade de cruzeiro. O melhor seriam vinhos orgânicos produzidos o mais perto possível. Mas se não rolar, no máximo chilenos ou argentinos.

Refrigerantes podem ser abolidos. Em seu lugar, a receita são sucos de fruta, porque a produção do "suco negro do capitalismo" usa muito carbono. Pelo jeito, nem água com gás nem tônica se salvam.

No caso da cerveja, vale a mesma máxima do vinho: preferência por marcas orgânicas e produzidas em regiões próximas. A questão é que a gelada não tem jeito de ser substituída à altura. Então, já para a mesa.

Todas as recomendações, incluindo misturas, entradas e acompanhamentos, estão na reportagem de Suzana Vier.

quarta-feira, novembro 25, 2009

Belluzzo: 'Vamos matar os bambi!'

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Antes mesmo de ter ameaçado dar uns tapas no juiz Carlos Eugênio Simon e ser suspenso pelo STJD, o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzo, já havia demonstrado seu "instinto selvagem". Um vídeo que circula pela internet mostra o dirigente numa festa de uma das torcidas organizadas do alviverde paulistano, em 17 de outubro, gritando ofensas contra o São Paulo:

- Vamos matar os bambi (sic)! Eles já morreram hoje! (veja o vídeo aqui)

Na época, o Palmeiras era líder, com 54 pontos, e o time do Morumbi estava cinco atrás. No dia seguinte, porém, o time de Belluzzo perdeu para o Flamengo por 2 a 0 em pleno Palestra Itália e, depois disso, degringolou. Hoje, ocupa o quarto lugar, três pontos atrás do líder...São Paulo.

Sou contra esse tipo de policiamento, mas que ele morreu pela boca, morreu. Talvez tenha sido empolgação de cachaça, que sempre rola forte nessas festas de torcidas organizadas. Ele até justificou, mas nem precisava. Deixa o homem, pô! Mas curiosa foi a reação parcimoniosa do superintendente de futebol sãopaulino, Marco Aurélio Cunha:

- Se fosse qualquer outra pessoa, todo mundo estaria descendo a lenha, mas o Belluzzo tem crédito. Cometeu este deslize, mas com o tempo vai aprender e não fará mais isso. Comentei com um amigo: é como vinho, para ficar bom tem de envelhecer. No futebol é assim, a experiência vem com o tempo.

Como se Marco Aurélio, com mais de uma década de cartolagem, não dissesse ou fizesse besteiras similares com vexaminosa frequência...

sexta-feira, junho 19, 2009

Irlandeses preferem vinho em casa

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Deu hoje no Herald.am., o jornalzinho gratuito distribuíido nas ruas centrais de Dublin: 80% dos entrevistados em uma pesquisa bebem vinho em casa. O uísque (spirits) é consumido por 70% deles e 65% também enxugam cerveja, lager e cidra no aconchego do lar (interessante diferenciarem lager de cerveja).

O estudo foi encomendado pelo Aislinn Centre, de Co Kilkenny, um local de reabilitação gratuita para jovens alcoólatras de 15 a 21 anos. O jornal decidiu pegar outro gancho para abrir a noticia, chamando a atenção para o fato de 76% dos adultos entrevistados concordarem que adolescentes entre 15 e 18 anos que bebem estão mais propensos a experimentarem outros tipos de droga.

O grande problema, segundo o Aislinn Centre, é o fato de 90% dos adultos consultados terem admitido que estocam bebidas alcoólicas em casa. "Agindo assim, os pais estão oferecendo às criancas um caminho para as drogas", opina Declan Jones, do centro de recuperação. "Manter garrafas de vinho ou spirits ou cerveja em casa é deixar essas bebidas nas mãos dos adolescentes", acrescentou.

segunda-feira, maio 25, 2009

Embebede-se!

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Bernardo Soares é um dos heterônimos do escritor português Fernando Pessoa (os outros são Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Miguel Campos). Porém, o próprio autor o considerava um "semi-heterónimo", ao explicar que "não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afetividade". Como Soares, Pessoa escreveu o "Livro do Desassossego", considerado uma das maiores obras da ficção portuguesa no século passado. Bernardo Soares é, dentro da ficção de seu próprio livro, um simples ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. E recomenda:

"Se um homem escreve bem só quando está bêbado, dir-lhe-ei: embebede-se. E se ele me disser que seu fígado sofre com isso, respondo: o que é o seu fígado? é uma coisa morta que vive enquanto você vive, e os poemas que escrever vivem sem enquanto".

O escritor (ou "os escritores") bebendo vinho em Lisboa, na década de 1920; no verso, por também gostar de um belo trocadalho, ele escreveu a seguinte dedicatória à amada Ofélia Queiroz: "Fernando Pessoa em flagrante deLitro"

quinta-feira, maio 07, 2009

O bom Corinthians - e o bom corintiano

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Mais uma vez, Ronaldo Nazário calou a boca dos críticos e classificou o Corinthians para as quartas-de-final da Copa do Brasil, marcando os dois gols da vitória sobre o Atlético-PR. Mas o post não é sobre a partida, deixemos a função com o Nivaldo e o DeMarcelo. Narro aqui a forma como vi (ou quase) o jogo. Eram sete e meia da noite quando a fome bateu, pois não tinha almoçado, e resolvi gastar meus únicos dez reais num salgado ou cachorro quente. Quando me encaminhava para a porta, o dono do apartamento entrou, esbaforido, e intimou:

- E aí, véio pinguço, vamo bebê? - e já foi sacando uma garrafa de vinho.

Buenas, desisti do cachorro quente e busquei o saca rolhas. O manguaça voltava de uma aula particular de latim (estudo necessário para seu trabalho de mestrado) e contou várias coisas interessantes que, posteriormente, pretendo reproduzir aqui no blogue. Mas, como era de se esperar, a garrafa não durou 50 minutos. Resolvemos descer para buscar mais uma "ampôla" e, no caminho, eu tentaria comer um salgado ou o que quer que fosse. Quando saímos do prédio na calçada da Avenida Paulista, porém, uma enxurrada de corintianos descia em direção ao Pacaembu.

- Ê, véio, que zona é essa? Tem jogo hoje? - perguntou o manguaça, que, apesar de ser corintiano, consegue ser mais alheio e desinformado de futebol do que eu.

- Tem sim, palestino. O Corinthians precisa só de um gol pra seguir na Copa do Brasil.

- Ah, então a gente tem que ver esse jogo! E comprar duas garrafas, não uma! Quanto cê tem aí?

Me lembrei do vinho de mesa argentino Santa Ana (foto), honesto, por R$ 9,88, e dei adeus aos projetos alimentícios. Mas fiquei me perguntando em que raio de lugar a gente ia assistir esse jogo, pois não há televisão no apartamento. Ou melhor, tem, mas está enconstada num canto, empoeirada e abandonada há séculos. Não perguntei nada: compramos as garrafas, um maço de cigarro e rumamos pra casa.

- Agora é rezar pra essa porcaria funcionar, senão a gente escuta pelo rádio - comentou o manguaça, dirigindo-se para o desgastado aparelho, que, de tão velho, é daqueles que tinham uma abertura para fita VHS, um videocassete acoplado (como a da foto à direita). Uma relíquia dispensada ali por algum habitante longínquo daquele apartamento, que chamamos hoje de "Lar de Repouso José de Anchieta", acostumados que estamos com nossa decrepitude.

Pensei que a televisão ia explodir assim que fosse ligado na tomada, mas resistiu bem e, ao toque do botão, apareceu uma mancha azulada no centro da tela, o negócio deu três engasgadas e apareceu uma imagem do Pacaembu bem chuviscada, em branco e preto e sem som. Dane-se, já era um milagre! O corintiano ainda tentou melhorar a coisa mas, a cada vez que mexia nos botões de troca de canal, a imagem sumia, o espectro azulado voltava e, dois minutos depois, ressurgia a chuvisqueira. Resolvemos deixar como estava. No mais, tínhamos som "ao vivo", pois a gritaria da torcida, no Pacaembu, chegava até o recinto como se estivesse a uma quadra dali.

Mas não deu nem dez minutos de jogo (ou do que conseguíamos enxergar dele) para que o papo regado a vinho fosse retomado - e a TV, ignorada. O corintiano não tava nem aí pra coisa. Bebemos, fumamos, contamos nossos causos e, quando vimos, o jogo já tava no segundo tempo. Nisso, o manguaça levantou pra ir à cozinha ou ao banheiro e eu pude prestar atenção nuns dois ou três minutos de jogo. Vi o camisa 7 do Atlético-PR perder um gol incrível, na pequena área, e pensei que, se tivesse assistindo o jogo no Minhoca's, a bola teria entrado. Mas, na sequência, o Corinthians engatou um ataque e eu pensei, involuntariamente: "-Vai ser gol. E o palestino nem vai ver". Dito e feito: houve um passe até a entrada da grande área, um jogador corintiano dominou, cortou o zagueiro e bateu no canto. Não dava pra identificá-lo, mas, no momento em que deram um close no Ronaldo comemorando, o manguaça voltou pra sala e perguntou, espantado:

- Foi gol do Timão? Gol do gordo? - repetia, atônito.

- Foi sim. Filhodaputa, esse cara é foda! - respondi, resignado.

O corintiano não gritou, não comemorou e nem esboçou reação. Permanceu abismado, com os olhos esbugalhados, sem dizer palavra. E, pouco depois, o gordo sofreu um pênalti e marcou mais um gol, numa paradinha humilhante. Matei o último copo de vinho, apaguei o último cigarro e me despedi do manguaça.

- Vou dormir, véio. Fica aí com teu time, que tá jogando muito bem, e com o Ronaldo, que é mesmo "o cara".

Foi então que, mesmo antes do apito final, a TV enguiçou, o espectro azulado voltou na tela e o corintiano despertou do transe hipnótico.

- Vai, véio, vai dormir. E vaaaaiiii Curíntiaaaaaaaa!!!

Pois é. Se continuar jogando desse jeito, o Corinthians vai mesmo. Os adversários que se cuidem. E o meu fígado que segure as pontas...