Destaques

terça-feira, outubro 08, 2013

Drink Rolando (2)

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 Já tem muita gente dando como favas contadas que o caneco desse ano vai pra Toca da Raposa, inclusive este que vos escreve. Com o melhor ataque com 58 gols (13 à frente do segundo, Atlético Paranaense), e a segunda melhor defesa (só atrás do Corinthians, que em compensação tem certa dificuldade de fazer gol), o Cruzeiro tem um saldo de 37 gols, 26 a mais que o Grêmio. Não à toa os azuis abriram 11 pontos do segundo colocado, a 12 partidas do final. Muita coisa teria que acontecer pra ameaçar esse título e nem o Cruzeiro está dando brecha nem há qualquer outro time com ímpeto pra fazer esse sprint espetacular.

Por conta disso, acabamos fazendo uma sequência mineira na série Drink Rolando. O primeiro foi o Galibertas, o rabo de galo do Atlético campeão da Libertadores. Clique aqui para conhecer esse drinque e aprender a fazer.

Agora, para homenagear o quase certo vencedor do Brasileirão 2013, o mestre Leandro Nagata criou com o Sangue Azul, um coquetel leve, como é leve o futebol de toques rápidos dessa equipe. É também refrescante e aromático, características que casam bem com futebol bonito e eficiente. O gengibre ralado dá toques picantes, sem agredir o paladar, e por ser jogado ao final lembra estrelas flutuando no céu de anil.


Tudo isso combina muito bem com uma feijoada daquelas, mas como a feijoada já tem par (o rival Galibertas!), um bom conselho é combinar com uma deliciosa rabada com polenta: o entrosamento é perfeito, e a refrescância da bebida é realçada pela suculência do prato.  


Sangue Azul

O coquetel do Cruzeiro, virtual Campeão Brasileiro 2013, com enorme antecipação.


INGREDIENTES

50 ml cachaça
25ml de Curaçau Blue
10 ml de suco de limão
soda limonada pra completar

gengibre ralado a gosto

MODO DE PREPARO

Em copo long drink (300ml) adicione gelo até a borda coloque a cachaça o curaçau blue , o suco de limão complete com a soda e solte o gengibre por cima do coquetel com uma colher longa mexa bem.
Saúde! 

segunda-feira, outubro 07, 2013

Sobre Vladimir, Claudinei e Dalai-Lama

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Existem múltiplas e diferentes formas de emoções e de dores negativas, como a vaidade, a arrogância, a inveja, a ambição, a cobiça, a pusilanimidade etc.
Mas, entre todas, o ódio e a cólera são considerados os mais funestos, porque representam os maiores obstáculos ao desenvolvimento da compaixão e do altruísmo e porque destroem a virtude e a tranquilidade do espírito.
Claudinei não gostou. Nem eu (Ivan Storti/Santos FC)
Era esse ensinamento que o Dalai-Lama vertia em seu livro Todos os dias – 365 meditações diárias era o recomendado para o leitor no dia 6 de setembro. E foi com sua lembrança em mente que olhei para o rosto do arqueiro reserva Vladimir, desolado após mais uma finalização lusa quando o jogo estava três a zero contra o Santos. Tinha atribuído ao atleta alcunhas pouco generosas, adjetivos algo chulos, palavras que não se pronunciam nas homilias. Afinal, ele falhou nos três gols tomados e passava uma sensação de morte iminente no torcedor toda vez que a bola chegava perto da área.
Tudo bem, não jogava desde 2011, pensei, o desculpando com toda postura zen que consegui manter. Mas tem goleiro que passa tempos sem atuar e faz papel melhor. Mas ele não teve uma proteção decente, foi prejudicado por uma péssima atuação defensiva do lateral Cicinho e do capitão Edu Dracena que, não satisfeito com sua bela performance, entregou os pontos ao dizer que o Santos tinha que pensar em 2014. Sinceridade demais no momento errado.
E era preciso ser meditabundo, quase sorumbático, para compreender Claudinei Oliveira. O treinador é jovem, tem um belo futuro pela frente, mas oscila demais junto com seu time. Não possui em mãos um elenco brilhante ou mesmo numeroso, mas inventa em excesso quando não é necessário e altera a equipe com substituições que vão da superlotação de volantes à abundância de atacantes em menos de 90 minutos. Em geral, sempre sem ligação no meio de campo, fazendo a equipe piorar quando já não está bem. Difícil obter padrão assim.
É necessário ter paciência com o time em transição. Mas nem sempre vai ser fácil segurar a língua. O fato é que os dois últimos resultados mostraram o cenário atual do Brasileirão: o Santos é mais arrumado que o São Paulo, e menos que a Portuguesa, bem armado por Guto Ferreira, treinador que fez trabalhos interessantes também na Ponte em 2013 e no Mogi em 2012. Durante a peleja, deu um “prestenção” (verbal) em Claudinei, que reclamava da arbitragem. O santista, ao que parece, resmungou se calou. Eu também. E desisti ali. 

Se 45 pontos salvam, faltam 5 vitórias (ou 4 e 3 empates)

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Embalado, Cruzeiro deve atropelar o Tricolor
Na luta contra o rebaixamento na Série A do Brasileirão, a gangorra entre São Paulo e Vasco promete alternar novamente as posições dos dois clubes na próxima rodada. Na última quarta-feira o Tricolor perdeu para o Santos e caiu para a 17ª posição, a primeira na zona da degola, e o Vasco tomou o salvador 16º lugar ao derrotar o Internacional. Mas, no final de semana, o time de Muricy Ramalho conseguiu superar dramaticamente o Vitória, com gol polêmico no fim do jogo, e empurrou o Vasco, que empatou com o Flamengo, de volta para o chamado Z-4. Porém, neste meio de semana, os cruzmaltinos enfrentarão o Fluminense, com possibilidade de vitória (afinal, os tricolores cariocas perderam para o combalido Internacional), e o São Paulo vai para o "abatedouro" no Mineirão, contra o embalado - e virtual campeão - Cruzeiro. Depois, no fim de semana, o Tricolor terá mais uma pedreira, o rival Corinthians, contra quem não conseguiu uma única vitória nos cinco clássicos disputados neste ano, e o Vasco tem condições de somar pelo menos um ponto contra o Criciúma, que também está na zona de rebaixamento, fora de casa. Portanto, a situação dos sãopaulinos não é muito favorável, a curto prazo.

Entre 6 times, só o Flu perdeu no Morumbi
Mas, se a previsão dos matemáticos de que 45 pontos salvam da Série B estiver correta, o São Paulo, com 30 pontos, precisaria de mais 5 vitórias nas 12 partidas restantes - ou 4 vitórias e 3 empates (no limite, 3 vitórias e 6 empates). Dos 6 jogos que fará dentro de casa, 3 são bem "indigestos" (o já citado Corinthians, a embalada Portuguesa e o imprevisível Botafogo), 2 podem dar qualquer coisa (o irregular Flamengo e o desesperado Coritiba) e 1 TEM QUE ser vitória, de qualquer jeito (Náutico). Vamos supor que o time de Muricy vença 3 (Flamengo, Coritiba e Náutico) e empate 2 (Corinthians e Botafogo). Seriam 11 pontos, faltando mais 4 para a "salvação". Que teriam que ser conquistados nos 6 outros jogos fora de casa: Cruzeiro, Bahia, Internacional, Atlético-PR, Fluminense e Criciúma. Só que o São Paulo foi derrotado em casa por 5 deles (só venceu os cariocas). Se vencer 1 desses jogos e empatar outro, teríamos os 4 pontos necessários para somar 45, o que garantira permanência na Série A. Mas o time do São Paulo é tão irregular que não dá pra prever...

45 pontos não salvaram o Coritiba em 2009
Pra piorar, o próprio "teto mínimo" de 45 pontos é discutível. Em 2009, o Coritiba caiu exatamente com esta pontuação (e o Fluminense escapou somando 46). No ano seguinte, o nível de  corte foi mais generoso: Flamengo (44 pontos), Avaí (43) e Atlético-GO (42) escaparam. O que ocorreu novamente em 2011, quando o Cruzeiro, com 43 pontos, se salvou - e o Atlético-PR, com 41, caiu. Porém, em 2012, o teto de 45 pontos voltou a ser necessário para salvar a Portuguesa, e o Sport caiu com 41. Ou seja, tudo é muito relativo - e ainda mais num campeonato em que, faltando 12 partidas para o fim, o Vasco, primeiro na zona de rebaixamento, com 29 pontos, está a míseras 2 vitórias de superar os primeiros SETE clubes que estão à sua frente no momento: São Paulo (30 pontos), Coritiba (31), Bahia (33), Goiás, Flamengo, Fluminense e Portuguesa (todos os quatro com 34). Isso mesmo: com 2 vitórias seguidas, o Vasco se igualaria ao Corinthians, com 35 pontos, na 9ª posição. O que significa dizer que, além do Náutico e da Ponte Preta, os mais ameaçados de cair, neste momento (com 17 e 23 pontos, respectivamente), as outras duas vagas para a Série B têm pelo menos 10 "candidatos"! Ou seja, tudo é possível.

Criciúma empata fora com Goiás: reação?
Resumo da "ópera" (bufa): nas duas próximas rodadas o São Paulo deve perder para o Cruzeiro e tentar não perder para o Corinthians, para engatar a reação contra Náutico e Bahia, nos compromissos imediatamente seguintes. Se passar desses quatro jogos com 6 ou 7 pontos, será literalmente meio caminho andado para buscar mais 8 ou 9 pontos na reta final de 8 jogos. Agora, se tropeçar novamente com 2 ou 3 derrotas seguidas, aí vai ficar muito difícil. Porque, além do Vasco, Criciúma e Ponte Preta ainda não jogaram a toalha, e podem engatar reações semelhantes à da Portuguesa (por que não?). Chegar aos 6 jogos finais posicionado na zona da degola favoreceria aquele velho filme de nervosismo, pressão, crise e desespero que provocam erros infantis e derrotas em jogos teoricamente tranquilos, numa espiral inevitável que já vimos o próprio Vasco, o Botafogo, Atlético-MG, Palmeiras e Corinthians serem tragados, sem possibilidade de reação. No sábado, Muricy Ramalho finalmente reconheceu que o elenco do São Paulo é fraco e incompatível com uma competição tão disputada quanto esta. Ainda bem! Alguma lucidez no império "soberano" de Juvenal Juvêncio. O consolo é que outros elencos de times "grandes" também beiram o sofrível. Por isso, resta a fé. Vamo, São Paulo!


domingo, outubro 06, 2013

Recitação Abrideira

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Por Elvis Campêllo, Maurício Ayer e Vinicius Reis.

Com contribuições de Deusdete Nunes, Evelyn Inocêncio, Fernanda Kurebayashi, Gilson Rosa, José Marcio Fernandez Cunha e Leandro Nagata.

Sob a batuta do maestro Jairo Martins da Silva.


Senhoras, senhores, bem-vindos sejam
A esta casa aberta e generosa
Que nos recebe a todos pra uma prosa,
Saberes e sabores aqui vicejam.
Agora vou pedir vossa licença
Para falar da nossa água benta
O bálsamo sagrado em nossa crença
E o que não se souber a gente inventa.
Peço atenção ao relato que se abriu:
Cachaça é a alma do Brasil.

Zarpou de sua costa o lusitano
No Atlântico traçou uma diagonal
E lá do outro lado do oceano
Sagrou-se grande líder mundial
E nos porões das suas caravelas
Trazia os alambiques de barro
Mudas de cana verde e amarela
Assim começa a história que vos narro
Da aguardente que aqui surgiu
Cachaça é o destilado do Brasil.

Quem primeiro fez a aguardente?
Foi aqui no litoral, em São Vicente?
Ou foi na Ilha de Itamaracá
De onde começou a se espalhar?
Ou na Bahia, em Porto Seguro,
Com um destilador de barro escuro?
Inspirado na bagaceira ibérica,
Foi o primeiro espírito da América,
Que a nação brasílica serviu,
Cachaça deu origem ao Brasil.

Pois disse o mestre Câmara Cascudo
“Mói o engenho, destila o alambique”
Açúcar é do mé irmão em tudo
E só Gilberto Freyre que me explique.
Em casa de coser méis fazia o negro
A água mineral dos coronéis
Guardava em tonéis e pelo emprego
Não recebia nem tostões nem réis.
Sal do suor e o sangue do gentio,
Cachaça conta a história do Brasil.

Plantar as mudas na estação chuvosa
Ver se desenvolver cana frondosa
Pra colher quando bate a estiagem
E antes de levar para a moagem
Tirar a palha e lavar a areia,
Garapa corre para a dorna cheia
Onde irá trabalhar a levedura
Então vai pro alambique e a prata pura
Desliza docemente pro barril.
Cachaça vem da terra do Brasil.

Ipê, louro-canela, araribá,
Bálsamo, umburana, castanheira,
Carvalho, amendoim, jequitibá,
Grápia, sassafrás e cerejeira,
É tanta madeira e tanto aroma,
Que não dá pra entender essa redoma
Que o mundo fez em torno do carvalho,
Qual fosse única carta no baralho,
Perdendo a distinção a mais sutil.
Cachaça é múltipla como o Brasil.

Cheguei para beber no bar da praça
O garçom logo anotou “um uísque?”
Falei “esse pedido você risque
Que o que eu quero é uma boa cachaça”.
Talvez um coquetel, rabo de galo?
Que tal uma caipirinha bem gelada
Acompanhando uma feijoada?
E com caju, então, eu nem te falo!
Com torresminho ou carne de pernil,
Cachaça põe a mesa do Brasil.

Mas gente, a responsabilidade
É nossa com guris de pouca idade
Ao beberrão lembrar que tem Lei Seca
Não pega em direção quem está zureta
Seja no campo ou seja na cidade
Pois morrerá de morte violenta
E assim jogar no lixo a mocidade
Também com a vida alheia ele atenta.
Cumprimos nossa obrigação civil,
Cachaça tem que cuidar do Brasil.

Desde pequeno eu via o meu véi’
Meu avô com o copinho a apreciar
Sempre antes e depois de trabalhar.
Na idade certa, eu também provei,
Aprendi: não se bebe em martelada
Seja quente ou fria, pura ou casada,
Cachaça feita com o coração,
A cauda não dá rasteira não
Nem a cabeça ataca o corpanzil,
Cachaça é um ensinamento do Brasil.

Minha amiga está gripada, coitadinha?
Não perca tempo, tome uma caipirinha,
Ponha num copo mel, limão e alho,
Misture tudo com o santo remédio
– Sem vodca ou saquê, isso é sacrilégio! –
Amanhã, eu lhe afirmo e não falho,
Você levantará animadinha
Exibindo um sorriso de rainha
E um brilho no olhar primaveril.
Cachaça é a saúde do Brasil.

Mas pra quem passa dessa pra melhor
O inferno não há de ser nenhuma desgraça
Pois dizem que no céu não tem cachaça
Que graça vai ter lá, nosso Senhor?
Ou será que o avesso é que acontece
Os anjos de verdade à Terra descem
E na sala das dornas vêm buscar
Sua parte da marvada pra provar?
Eu trago junto ao peito o meu cantil,
Cachaça é a religião do Brasil.

E o samba quando soa o que é que pede?
Despacho de macumba ou de umbanda?
Depois da capoeira o que se bebe?
No futebol ou quando passa a banda?
Se nasce o filho com quê bebemora?
Se morre, bebe o morto e com quê chora?
Se fica no estrangeiro muito tempo
Procura a sinuosa e toma um alento,
Que volta o remelexo pro quadril,
Cachaça está no sangue do Brasil.

E vamos pôr bagaço na caldeira
Que a branca corajosa brasileira
Vai conquistar o povo da Alemanha,
Japão, Estados Unidos e Espanha.
Nossas colunas a todo vapor
Levaremos ao mundo o teu calor
Para todos os lugares, bares, lares,
Colombo, abre a porta dos teus mares
Para mostrar nossa força mercantil,
Cachaça é a riqueza do Brasil.

Nosso povo há de deixar o preconceito
E junto com a branquinha tomar jeito.
O néctar destilado pelo cobre
O que já foi o cobertor de pobre,
Realiza o lindo milagre da cana
No copo do povão e do bacana
Recebe a mesma deferência nobre,
Quem aprecia acerta, não se engana
Me diga quem viu fado mais gentil,
Cachaça é o orgulho do Brasil.

Pois bem, meus senhores, minhas senhoras
Vamos deixá-los degustar da boa
Enquanto vem o almoço em boa hora
E a sua melodia à língua entoa.
Nosso país foi feito de três líquidos
Suor, sangue e cachaça, tenho dito,
Nas raças somos sim um povo híbrido,
Que escolheu o futuro mais bonito.
Nas matas verdes, sob o céu de anil,
Cachaça é a pátria do Brasil.

Os Cachaceiros da Távola Redonda. 


Esta “Recitação Abrideira” foi composta especialmente para o evento de encerramento da primeira turma do curso de Formação de Sommelier: Cachaças, promovido pelo Senac em seu campus Campos do Jordão. Tive o prazer de ser o enviado especial do Futepoca nessa complexa e árdua missão.

Adesão de Marina a Campos é pior para Aécio do que para Dilma

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Marina Silva e Eduardo Campos: opção programática? (José Cruz/ABr)
Ex-senadora, que abraçou a tese da "perseguição política" para justificar entrada pragmática no PSB, dificulta a realização de um 2º turno ao não sair como candidata à presidência

Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão.” Era essa a opinião da então pré-candidata à presidência da República Marina Silva em entrevista concedida ao Estadão, em 23 de março deste ano. Em visita a Pernambuco, em maio, ela respondeu, ao ser indagada se haveria identificação programática com o PSB: "Vocês já perguntaram a ele (Campos) se ele tem identificação programática com a Rede?".

Marina respondeu ontem (6) a seu próprio questionamento de poucos meses atrás, após ver durante a semana o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, ser negado pelo TSE. Ela anunciou sua adesão ao PSB e à candidatura Campos ao Planalto em 2014, ainda sem dizer se seria vice ou candidata a algum outro cargo pelo partido.

Em seu discurso, por mais de uma vez fez referência às forças que impediram que seu partido fosse oficializado como tal, ainda que não nominasse quem seriam tais opositores, deixando à mídia tradicional tal papel. Mesmo quando houve uma pergunta direta de Kennedy Alencar sobre a frase atribuída a ela de que queria combater o “chavismo” representado pelo PT no poder, ela se esquivou.

Atribuir a culpa de uma estratégia equivocada às “forças ocultas” não é algo exatamente novo na política brasileira. Basta lembrar de Jânio Quadros. Culpar o juiz é uma tática velha também no futebol, quando jogadores, técnicos ou dirigentes querem desviar a atenção dos próprios erros e achar um inimigo externo. Mas a intenção de Marina ao ocupar boa parte do seu discurso com queixas sobre perseguição política é também justificar a entrada no PSB, um partido que tem vícios e virtudes semelhantes a quase todos os que compõem o quadro partidário brasileiro.

O problema é que toda a trajetória da ex-senadora até aqui, desde que saiu do PV, é fazer a crítica de cunho moral aos partidos. Suas atitudes conduzem a uma interpretação de que o cenário institucional brasileiro pode ser avaliado pela divisão simplista entre “bons” e “maus”, colocando em um plano secundário, por exemplo, uma reforma política discutida com a sociedade civil, que poderia sanar parte das falhas gritantes do sistema político-eleitoral. A formação da Rede era a reafirmação desse tipo de pensamento, de que seria possível jogar o jogo dentro das regras que estão aí, contanto que se juntassem os “bons”.

Frustrada sua expectativa, Marina teve que jogar o jogo sem se juntar necessariamente aos que achava serem os “bons”. E justificou isso com o discurso da perseguição, como se fosse quase uma legítima defesa. Citou em sua fala o poeta Thiago de Mello, mas poderia ter feito referência a Raul Seixas: 'A arapuca está armada/E não adianta de fora protestar/Quando se quer entrar em buraco de rato/De rato você tem que transar”. Afinal, uma adesão "programática" não se decide em uma madrugada, a não ser que o "programa" seja algo frágil.

Com a união, levará parte de seus apoiadores para Campos, ainda desconhecido de parte do eleitorado. Contudo, verá alguns deles migrarem para Dilma, perdendo também a confiança de outros que optarão pelo branco/nulo, já que acreditaram que ela seria “diferente”, não entrando na peleja a qualquer custo. O fato de abrir mão da candidatura à presidência para exercer um papel teoricamente menor não é apenas uma questão de abdicação ideológica, como tenta sugerir, mas cálculo político pragmático, já que as outras opções acarretariam vários riscos com arranhões ainda maiores à imagem (caso de filiação ao PPS, linha auxiliar tucana, por exemplo) ou absoluta falta de estrutura para uma empreitada do tamanho de uma candidatura presidencial, se a escolha fosse pelo PEN ou PHS. A Marina de 2013 sabe que não pode sustentar uma campanha apenas “sonhática” pela internet, já que os 20% de votos válidos alcançados em 2010 a fizeram sentir de perto a possibilidade de chegar ao poder.

No cenário de 2014, obviamente o principal beneficiário é Eduardo Campos, que ganha visibilidade com um fato político grandioso e tem chances de avançar em um segmento, o dos jovens que estão nas redes e não necessariamente na Rede, simpatizantes de Marina. No entanto, o maior perdedor é Aécio Neves. Para ele, seria melhor que a ex-senadora saísse como candidata a presidente, reproduzindo um cenário semelhante ao de 2002, no qual quatro candidaturas fortes levaram a eleição para o segundo turno, algo que se repetiu, com diferenças, em 2006. Em 2010, ainda que fossem apenas três os candidatos competitivos, o segundo turno foi possível porque não havia possibilidade de reeleição para o então presidente Lula, o que criava dificuldades para sua candidata, Dilma Rousseff.

O cenário atual pode remeter à eleição de 1998, quando FHC venceu ainda no primeiro turno, enquanto Lula, mesmo com 31,6% dos votos, não conseguiu levar a eleição à segunda volta porque havia somente mais um postulante competitivo, Ciro Gomes, com 10% ao final. A diferença é que, agora, com dois candidatos que nunca disputaram a presidência antes, as dificuldades são maiores para a oposição, com um grande risco de parte do eleitorado, cansado da polaridade entre PT e PSDB, optar pela terceira via de Eduardo Campos. Como Dilma tem mais popularidade e votos do que os rivais na atual situação, o quadro se torna sombrio para Aécio, que teria uma tarefa dupla: forçar um segundo turno e bater um candidato que, até certo ponto, tem um perfil parecido com o seu, agora fortalecido pela adesão da ex-senadora.

Se Marina agiu com o fígado, como pensam alguns, ao embarcar na canoa de Campos para tentar atingir Dilma, pode ter ferido de morte as pretensões de Aécio.

Publicado originalmente na revista Fórum.