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quarta-feira, outubro 14, 2015

'Nenhum trabalhador pode baixar a guarda'

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Armínio queria mínimo ainda mais mínimo
Há exatamente um ano e meio, no início da campanha para eleição presidencial, fiz um post aqui no Futepoca intitulado "Projeto principal da oposição: contra os trabalhadores". Na época, o (nefasto) Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central nos tempos bicudos de FHC e escolhido pelo candidato tucano à presidente Aécio Neves como seu provável ministro da Fazenda, escancarava: "O salário mínimo está muito alto" (relembre clicando aqui). Emir Sader denunciaria, mais tarde (leia aqui), que esse era apenas um dos pontos de um "plano terrorista" que teria como objetivo, também, "implementar uma forte política de corte de salários, tanto do setor público, como pressionando as negociações no setor privado" e "promover o desemprego para favorecer as condições de negociações dos empresários com os trabalhadores e os sindicatos".

Campos não via como aumentar empregos
"O único projeto nítido, coeso e concreto da oposição brasileira: desmerecer, desacreditar e destruir toda e qualquer política voltada para os trabalhadores", eu escrevia, em abril de 2014, ao citar, junto com a declaração de Armínio Fraga sobre o salário mínimo, a afirmação de Eduardo Campos, durante um evento em São Paulo (leia aqui), de que "não tem mais como crescer pela quantidade [de empregos] no mercado de trabalho". E relembrava, ainda, um post do camarada Glauco (leia aqui) sobre um comentário do Merval Pereira durante as manifestações de 2013 (o grifo é meu): "As reivindicações eram coisas muito específicas da classe trabalhadora". "Ou seja", concluiu o Glauco, "como o trabalhador, pelo silogismo mervaliano, não é 'povo', suas bandeiras não interessam ao resto da sociedade".

Joaquim Levy, 'arauto' do temível ajuste fiscal
Por tudo isso, eu encerrava meu post alertando: "Se você é trabalhador, já entendeu o que está em jogo". Pois bem: Dilma Rousseff se reelegeu e enfrenta uma das piores tempestades políticas da História de nossa República, com forte ameaça de ser apeada do cargo. É óbvio que, além dos opositores, muitos de seus próprios eleitores não estão contentes com o governo e nem com disposição alguma para defendê-lo. Afinal, diante das intempéries econômicas e da pressão dos adversários, Dilma deu passos para trás nomeando Joaquim Levy ministro da Fazenda e dando "carta branca" ao temível "ajuste fiscal". Por isso mesmo, não é à toa que o 12º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (Concut), realizado este mês em São Paulo, tem como lema "Educação, Trabalho e Democracia. Direito não se reduz, se amplia". 

Dilma, no Concut, falando pra quem interessa
Mas foi justamente na abertura desse evento que a presidenta Dilma fez um de seus discursos mais agressivos. E observou que, para além das falhas e omissões de seu governo, sua queda seria um desastre para os verdadeiros "inimigos" da oposição (os grifos são meus): "O desejo de retrocesso, eu tenho consciência, não é contra mim. É contra este novo país que construímos juntos, nas lutas das forças progressistas, dos trabalhadores, na força da CUT, dos sem-terra, dos sem-teto, dos estudantes, dos movimentos sociais, de toda sociedade, organizada ou não. (...) Eu represento as conquistas históricas do governo Lula. (...) Que fizeram com que o Brasil se tornasse um país que hoje olha para os seus trabalhadores e trabalhadoras. (...) Faço um apelo a todos vocês: ninguém deve se iludir. Nenhum trabalhador pode baixar a guarda".

Trabalhador é o inimigo da oposição e seria principal vítima do golpe
Dilma arrematou: "Sei que também a CUT continuará lutando as lutas que nós todos defendemos ao longo da nossa história. (...) Acerta a CUT quando diz, no lema deste 12º Concut: direito não se reduz, se amplia. Permito-me, vou me permitir, vocês me desculpem, também acrescentar: democracia não se reduz, se amplia" (leia a íntegra aqui). Agora ouvi conversa! Sim, sim: concordo que ela demorou muito para chamar para a luta quem realmente interessa (ou antes, quem seria a principal vítima do golpe). E concordo, também, que seu governo tem muito de indefensável. Mas, como o discurso de ontem insinua, o mais importante, agora, não é criticar Dilma como pessoa ou "linchá-la" como governante. Esse acerto de contas faremos depois. Mas faremos nós, não o adversário! É preciso, primeiro, "manter a posse de bola", não entregá-la (pois dificilmente a retomaremos!). Não é defesa de Dilma, do governo Dilma, do PT ou do que seja. É muito mais do que isso: é defesa dos trabalhadores, de nossas conquistas, dos programas sociais, da liberdade, do futuro. Por tudo isso, à luta!


domingo, outubro 06, 2013

Adesão de Marina a Campos é pior para Aécio do que para Dilma

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Marina Silva e Eduardo Campos: opção programática? (José Cruz/ABr)
Ex-senadora, que abraçou a tese da "perseguição política" para justificar entrada pragmática no PSB, dificulta a realização de um 2º turno ao não sair como candidata à presidência

Qual a diferença se for Aécio Neves, Eduardo Campos ou a Dilma? Tem diferença em relação ao modelo de desenvolvimento? Me parece que até agora todos estão no mesmo diapasão.” Era essa a opinião da então pré-candidata à presidência da República Marina Silva em entrevista concedida ao Estadão, em 23 de março deste ano. Em visita a Pernambuco, em maio, ela respondeu, ao ser indagada se haveria identificação programática com o PSB: "Vocês já perguntaram a ele (Campos) se ele tem identificação programática com a Rede?".

Marina respondeu ontem (6) a seu próprio questionamento de poucos meses atrás, após ver durante a semana o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, ser negado pelo TSE. Ela anunciou sua adesão ao PSB e à candidatura Campos ao Planalto em 2014, ainda sem dizer se seria vice ou candidata a algum outro cargo pelo partido.

Em seu discurso, por mais de uma vez fez referência às forças que impediram que seu partido fosse oficializado como tal, ainda que não nominasse quem seriam tais opositores, deixando à mídia tradicional tal papel. Mesmo quando houve uma pergunta direta de Kennedy Alencar sobre a frase atribuída a ela de que queria combater o “chavismo” representado pelo PT no poder, ela se esquivou.

Atribuir a culpa de uma estratégia equivocada às “forças ocultas” não é algo exatamente novo na política brasileira. Basta lembrar de Jânio Quadros. Culpar o juiz é uma tática velha também no futebol, quando jogadores, técnicos ou dirigentes querem desviar a atenção dos próprios erros e achar um inimigo externo. Mas a intenção de Marina ao ocupar boa parte do seu discurso com queixas sobre perseguição política é também justificar a entrada no PSB, um partido que tem vícios e virtudes semelhantes a quase todos os que compõem o quadro partidário brasileiro.

O problema é que toda a trajetória da ex-senadora até aqui, desde que saiu do PV, é fazer a crítica de cunho moral aos partidos. Suas atitudes conduzem a uma interpretação de que o cenário institucional brasileiro pode ser avaliado pela divisão simplista entre “bons” e “maus”, colocando em um plano secundário, por exemplo, uma reforma política discutida com a sociedade civil, que poderia sanar parte das falhas gritantes do sistema político-eleitoral. A formação da Rede era a reafirmação desse tipo de pensamento, de que seria possível jogar o jogo dentro das regras que estão aí, contanto que se juntassem os “bons”.

Frustrada sua expectativa, Marina teve que jogar o jogo sem se juntar necessariamente aos que achava serem os “bons”. E justificou isso com o discurso da perseguição, como se fosse quase uma legítima defesa. Citou em sua fala o poeta Thiago de Mello, mas poderia ter feito referência a Raul Seixas: 'A arapuca está armada/E não adianta de fora protestar/Quando se quer entrar em buraco de rato/De rato você tem que transar”. Afinal, uma adesão "programática" não se decide em uma madrugada, a não ser que o "programa" seja algo frágil.

Com a união, levará parte de seus apoiadores para Campos, ainda desconhecido de parte do eleitorado. Contudo, verá alguns deles migrarem para Dilma, perdendo também a confiança de outros que optarão pelo branco/nulo, já que acreditaram que ela seria “diferente”, não entrando na peleja a qualquer custo. O fato de abrir mão da candidatura à presidência para exercer um papel teoricamente menor não é apenas uma questão de abdicação ideológica, como tenta sugerir, mas cálculo político pragmático, já que as outras opções acarretariam vários riscos com arranhões ainda maiores à imagem (caso de filiação ao PPS, linha auxiliar tucana, por exemplo) ou absoluta falta de estrutura para uma empreitada do tamanho de uma candidatura presidencial, se a escolha fosse pelo PEN ou PHS. A Marina de 2013 sabe que não pode sustentar uma campanha apenas “sonhática” pela internet, já que os 20% de votos válidos alcançados em 2010 a fizeram sentir de perto a possibilidade de chegar ao poder.

No cenário de 2014, obviamente o principal beneficiário é Eduardo Campos, que ganha visibilidade com um fato político grandioso e tem chances de avançar em um segmento, o dos jovens que estão nas redes e não necessariamente na Rede, simpatizantes de Marina. No entanto, o maior perdedor é Aécio Neves. Para ele, seria melhor que a ex-senadora saísse como candidata a presidente, reproduzindo um cenário semelhante ao de 2002, no qual quatro candidaturas fortes levaram a eleição para o segundo turno, algo que se repetiu, com diferenças, em 2006. Em 2010, ainda que fossem apenas três os candidatos competitivos, o segundo turno foi possível porque não havia possibilidade de reeleição para o então presidente Lula, o que criava dificuldades para sua candidata, Dilma Rousseff.

O cenário atual pode remeter à eleição de 1998, quando FHC venceu ainda no primeiro turno, enquanto Lula, mesmo com 31,6% dos votos, não conseguiu levar a eleição à segunda volta porque havia somente mais um postulante competitivo, Ciro Gomes, com 10% ao final. A diferença é que, agora, com dois candidatos que nunca disputaram a presidência antes, as dificuldades são maiores para a oposição, com um grande risco de parte do eleitorado, cansado da polaridade entre PT e PSDB, optar pela terceira via de Eduardo Campos. Como Dilma tem mais popularidade e votos do que os rivais na atual situação, o quadro se torna sombrio para Aécio, que teria uma tarefa dupla: forçar um segundo turno e bater um candidato que, até certo ponto, tem um perfil parecido com o seu, agora fortalecido pela adesão da ex-senadora.

Se Marina agiu com o fígado, como pensam alguns, ao embarcar na canoa de Campos para tentar atingir Dilma, pode ter ferido de morte as pretensões de Aécio.

Publicado originalmente na revista Fórum.

terça-feira, agosto 20, 2013

Desdobramento

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Abdalla e Cunha: chapa de oposição no SPFC
A oposição ao tirânico (e "Eterno!", segundo os adversários) Juvenal Juvêncio começa a tomar fôlego no São Paulo. E, ironicamente, isso ocorre como reação às besteiras do próprio presidente do clube. Em 10 de junho, escrevi aqui sobre os berros que Juvenal dirigiu ao diretor jurídico Kalil Abdalla antes da partida contra o Goiás, por este ter posado para uma foto postada em uma rede social junto com o vereador Marco Aurélio Cunha - principal oponente da atual gestão sãopaulina. Consta que Abdalla respondeu no mesmo tom e, com isso, rachou a base de "cardeais" do São Paulo, onde tem força. Hoje, veio a confirmação: Abdalla renunciou ao cargo de diretor jurídico para se candidatar à presidência do clube em 2014. E o vice, nessa chapa, será ninguém menos que Marco Aurélio Cunha. Sinceramente, não saberia dizer se a dupla representa algo de "muito bom" ou "positivo", até porque ambos fizeram parte por muito tempo do séquito de Juvenal Juvêncio. Mas já é um bom sinal saber que o atual presidente, responsável direto pela crise sem precedentes do São Paulo, dentro e fora de campo, está vendo seu poder "soberano" se esvaindo dia a dia. Só espero que, consolidada sua saída (ou melhor, a queda de seu grupo), os novos mandatários não tenham que reconstruir o clube a partir da Série B...

sexta-feira, novembro 26, 2010

Serra não larga o osso e Aécio rosna

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O beijo do Judas

Quando o derrotado José Serra apareceu no Congresso Nacional em Brasília, anteontem, a irritação dos tucanos que são aliados do senador eleito Aécio Neves foi visível. Sem compromissos programados, Serra deu as caras "aparentemente em busca de espaço na mídia", conforme o jornal Valor Econômico. Depois das eleições presidenciais, como era de se esperar, o racha no PSDB se aprofundou ainda mais. Os aliados de Serra e de Aécio trocam farpas publicamente. Quando Aécio criticou a hegemonia paulista e propôs uma "refundação" do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa de Serra, ao negar que o PSDB seja "muito avenida Paulista" ou precise ser refundado. Agora, a proposta de recriação da CPMF cava um novo abismo entre as duas facções tucanas.

Há três anos, quando a CPMF foi derrubada no Congresso, o partido já havia se dividido. Serra liderava a ala dos governadores tucanos favoráveis à continuidade da CPMF, enquanto senadores do PSDB e do DEM a combatiam. No cenário atual, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, defende a volta da CPMF. Já Serra, agora sem cargos e de olho apenas na oposição, apelou para que o PSDB marche em bloco contra a volta do imposto, sob o risco de "quebrar" o partido. Para um dos principais deputados aliados a Aécio, Serra tenta, de forma "autoritária" e "à base de cotoveladas", liderar a fragilizada oposição. Até a serrista Folha de S.Paulo considerou a "visita-supresa" ao Congresso como o "primeiro passo do ex-governador de São Paulo para tentar ocupar a presidência do PSDB a partir de 2011".

O Valor Econômico publicou que "a postura de Serra, subindo o tom das críticas a Lula, foi interpretada pelos companheiros de partido como manifestação da intenção de comandar a oposição. Os tucanos que o acompanharam no Congresso dão como certo que Serra tentará disputar a Presidência da República novamente — projeto que não encontra entusiasmo no partido". Nisso, o deputado aecista Nárcio Rodrigues, presidente do PSDB mineiro, mandou um recado aos tucanos paulistas: "Vão ter que nos engolir. Fomos extremamente respeitosos à fila, concordando que em 2006 era a vez de Geraldo Alckmin e, em 2010, de Serra. Agora é a nossa vez". Das duas, uma: ou Aécio atropela Serra no PSDB ou sai e funda outro partido. Façam suas apostas.

quinta-feira, novembro 04, 2010

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.