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quarta-feira, setembro 03, 2008

Um estrogonofe manguaça contra a padronização dos gostos

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Em pleno fim de semana, me vi convocado a produzir um stronoff caseiro. E de camarão. Tudo por esses motivos que podem ser resumidos como "porque bateu a vontade". Mal sabia eu que aquele corriqueiro almoço de sabadão transformar-se-ia em uma verdadeira batalha pela desconstrução dos insumos industriais e por sua reconfecção caseira. Praticamente uma batalha gastronômico-política contra a padronização alimentar.

Por isso, peço licença a Marcos Xinef, para narrar minha empreitada.

Foto: Edgardo Balduccio/Flickr


É que fui à geladeira e não encontrei catchup (nem ketchup), a arma mais baixa para a confecção do referido prato, já que contém todos os temperos que poderiam funcionar.

Puxei de memória, então, os ingredientes do referido preparado: molho de tomate, açúcar (ou algum xarope de milho), vinagre e molho inglês. Vai também alho e cebola em pó e outros condimentos.

Foto: Jonathan Chard/Flickr
Tomate, eu tinha. Molho inglês não. Então a lista agora era a dos itens necessários para produzir o condimento britânico. Tudo de memória: molho de soja (shoyo), vinagre, sal, pimenta do reino, noz moscada, cravo, sal e mais um monte de temperos.

Joguei cebola e alho picados na frigideira. Depois de dourados, uns tomates. Devidamente murchos, foi a vez de incluir mais ou menos meio copo de molho de soja e um pouco menos de vinagre balsâmico. Deixei apurar e juntei tudo quanto foi tempero. Sal, pimenta do reino branca, jamaicana, noz moscada, páprica e não lembro mais o quê.

Quando tudo já estava mais seco, lembrei que o camarão estava congelado num caldo de tempero caseiro que eu mesmo tinha juntado na semana anterior. Resolvi incluir o gelo que envolvia os crustáceos semi-cozidos e deixar secar mais. Apelei para uma mostarda escura e uma caixa de creme de leite. Depois vieram os camarões.

Essa apelação era uma forma de esconder o que estava na cara. A insegurança era grande. Era muita invencionice junta, muita aventura gastronômica. Alguma coisa ia acabar errada. Como eu poderia, sem sequer recorrer ao Google ou à receita de molhos industriais vendidos prontos para reconstituir um prato tão comum e de nome tão afrescalhado? Definitivamente eu precisava de ajuda.

Lancei 300 ml de cachaça na frigideira. Depois de incorporado, direto ao prato.

Ficou bom.

Nunca mais coloco ketchup no estrogonofe. Nem compro molho inglês.

8 comentários:

Marcão disse...

Impressionante: o manguaça não tem catchup e molho inglês em casa, mas, em contrapartida, armazena produtos triviais e corriqueiros como cebola em pó, molho de soja, noz moscada, cravo, vinagre balsâmico, pimenta do reino branca, jamaicana, noz moscada, páprica e "mais um monte de temperos".

Desconfio que a ressaca braba o impediu de ir até o mercadinho da esquina buscar o catchup e o molho inglês...

Nicolau disse...

Bela aventura, Glauco, mas acho que continuarei comprando o tal do catchup. Gostaria da avaliação do companhairo Xinef sobre o improviso do rapaz.

Marcão disse...

Glauco?!?? Bebendo a essa hora, Nivaldo?

Nicolau disse...

Nossa, que viagem! Confundi os autores da façanha. Atribuo o erro à abstinência, não à manguaça. Mal aê, Anselmo!

Thalita disse...

a primeira observação do Marcão é muito pertinente.

Anselmo disse...

cebola em pó eu não tenho em casa. o que eu tinha era cebola fresca que foi devidamente picada e refogada.

os demais temperos eu tenho mesmo.

um mínimo de espírito aventureiro é necessário pra ir pra cozinha. tem horas que precisa recorrer a cachaça pra dar coragem, mas é assim...

Glauco disse...

Nego ser autor da façanha como acusado acima, mas parabenizo e louvo toda ousadia gastronômica.

Maurício Ayer disse...

bonita é a moral da história: a cachaça salva os mais desesperados!