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Kleiton Lima inventou demais no Mundial? |
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É claro que vão fazer de tudo pra não dar em nada, mas não custa registrar: o promotor eleitoral Eduardo Rheingantz apresentou parecer favorável à ação em que Marta Suplicy (PT) pede a impugnação da candidatura de Gilberto Kassab (DEM), com quem disputa a Prefeitura de São Paulo. Em solenidade na quarta-feira passada, dia 15, o atual prefeito repassou R$ 198 milhões ao governo do Estado para investimentos em obras do metrô. No ato, em que recebeu uma réplica de um cheque de 1 metro e meio das mãos de Kassab, o governador José Serra (PSDB) exaltou a parceria com o prefeito. O parecer do procurador é levado em conta pelo juiz eleitoral no momento de proferir a decisão final no processo. A representação ainda será julgada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da capital paulista e Kassab só tem a candidatura cassada caso a decisão seja confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pergunta que não quer calar: por que, em vez de dar dinheiro ao metrô, a Prefeitura de São Paulo não faz o dever de casa e resolve os problemas do trânsito que são de sua própria alçada?
O TRE deve julgar o pedido nos próximos dias. O TSE anunciou que vai acelerar o julgamento dos recursos de impugnação de candidaturas para que não haja atraso até a posse dos eleitos. A representação foi protocolada no último dia 17 por Marta, que acusa - corretamente - Kassab de utilizar a máquina na campanha à reeleição. A foto com Serra e o cheque foi veiculada no site do candidato. "Com efeito, os representados - especialmente o presidente do Metrô e o candidato Kassab, que são agentes públicos - usaram bens públicos móveis e imóveis para fins eleitorais", diz o procurador, no parecer. "De fato, fosse uma mera cerimônia administrativa de repasse de recursos, -como sustentam os representados -não precisava ser um espetáculo, que contou inclusive com artifícios visuais", completou o procurador, que defende que a representação deve ser julgada procedente.
Cinicamente, a assessoria do candidato do DEM alega que a cerimônia foi realizada respeitando-se a legislação eleitoral. A mídia finge que acredita e todo mundo fica feliz. Ah, se fosse a Marta a fazer um negócio desses...
Ps.: Visite o blogue coletivo clicando aqui e veja outros motivos para apostar na virada de Marta Suplicy no segundo turno.
Atualização:
• Só multa: "Justiça" eleitoral premia crimes
• Kassab e Marta vão recorrer de decisão sobre "checão do metrô"
Morei por 26,5 dos meus quase 27 anos no Campo Limpo, bairro da Zona Sul da Capital. Por andar de ônibus desde pequena, se tem uma coisa que eu conheço em São Paulo é o sistema de ônibus. Minha vida pode ser resumida assim:
escola em Santo Amaro = 10 quilômetros = 1h30 no ônibus, em pé.
cursinho na Paulista = 20 quilômetros = 2h no ônibus, em pé
faculdade no Butantã = 13 quilômetros = vontade louca de ter um carro para gastar menos com gasolina do que com passagem
Além disso, tinha o transporte clandestino. Quantas e quantas vezes tive que pegar uma kombi caindo aos pedaços e sentar atrás do banco (ou ficar em pé numa postura de corcunda) para poder chegar a tempo onde precisava?
Vida fácil, né?
Quando a Marta assumiu, as coisas foram mudando. No final do mandato dela, andar de ônibus era outra coisa.
No meu caminho, ela construiu o corredor de ônibus da Francisco Morato/Rebouças/Consolação. Isso, somado ao Bilhete Único, foi o que bastou para a mudança. Os trajetos pela Francisco Morato passaram a demorar muito menos. Até aos domingos, quando não havia trânsito, o ônibus chegava mais cedo que antes.
Passei a acompanhar de perto os problemas dos transportes logo depois de Kassab assumir a Prefeitura de São Paulo, assumindo a vaga deixada pelo Serra. Era claro que os corredores estavam sendo deixados de lado. Descobri, por exemplo, que há pouco menos de dois anos as duas horas do Bilhete Único não eram mais suficientes para alguém que pegava ônibus no extremo da Zona Sul fazer uma baldeação no Centro.
Mas o pior corredor entre todos que estavam em funcionamento era mesmo o da Francisco Morato. O asfalto ficava meses todo esburacado, só recebia vez por outra um tapa-buraco, que não resolvia o problema. Além disso, os ônibus intermunicipais, que servem os moradores de Embu, Itapecerica da Serra e Taboão da Serra, deixaram de usar a avenida paralela e entraram no corredor. Como dois corpos ainda não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço, o resultado foi trânsito no corredor. Todo o tempo de viagem que havia diminuído voltou a aumentar, sem que uma explicação plausível fosse dada para isso. Além disso, o plano de transportes da gestão, que previa a construção de vários terminais para diminuir o número de coletivos no Centro, foi abandonado. E nada foi colocado no lugar.
O único corredor construído pela gestão Serra/Kassab foi o Expresso Tiradentes. E só porque quiseram fazer algo com as ruínas do Fura-Fila deixadas pelo Pitta.
De resto, a única coisa que a Prefeitura fez nos últimos quatro anos foi aumentar a passagem de ônibus sem necessidade antes da eleição, para agora fazer um populismo básico, e obrigar os empresários a comprar novos ônibus. Isso não me parece um plano. Como a diminuição do trânsito em São Paulo passa necessariamente pela ordenação do sistema de ônibus (que colocaria os veículos no lugar certo e mais gente dentro do ônibus), acho que vamos viver nesse inferno por muito tempo, se Kassab se reeleger. Afinal, em suas propostas está prevista a aplicação de R$ 0 (isso, zero), nos corredores.
Ah, sim, Kassab "dá" dinheiro para metrô. Ele não conseguiu explicar ainda o motivo disso, já que sua responsabilidade são os ônibus, que não estão bem. Mas ok, deve ser porque ninguém perguntou.
No buteco, sempre comento que o "fenômeno" Gilberto Kassab, que superou Marta Suplicy no 1º turno na cidade de São Paulo, não foi nenhum fenômeno para mim. O fato de ele ter começado a campanha tão atrás da candidata petista só me fez desconfiar mais ainda das pesquisas - que davam como certa a vitória petista, mesmo que por um ou dois pontos. Furo n'água. Sempre achei que Kassab disputaria de igual para igual com quem quer que fosse no segundo turno. E não digo isso considerando apenas a fritura pública de Alckmin pelo próprio PSDB (ou melhor, pelo José Serra). Pensem comigo: além de nunca ter disputado uma eleição sequer - e, conseqüentemente, nunca ter "apanhado" de fato como Marta, Geraldo Alckmin e Paulo Maluf já "apanharam" na vida -, Kassab tem a máquina municipal e estadual a seu favor e, vantagem das vantagens em qualquer disputa eleitoral, a mídia todinha ao seu lado.
Prova disso é que, na edição do último domingo da Folha de S.Paulo, o próprio ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, criticou a berrante diferença de tratamento para os dois candidatos neste 2º turno. "Marta Suplicy recebeu nestes cinco dias uma carga de matérias negativas absolutamente desproporcional em relação a seu adversário", disparou Silva, sem rodeios. "Por exemplo, ela foi alvo de oito textos opinativos críticos; Kassab, de nenhum. Das 19 cartas publicadas, 15 foram contra Marta. Registre-se que o 'Painel do Leitor' recebeu 224 cartas contra ela e 55 a favor. Mas para o ombudsman, a relação foi inversa: 36 pró e 8 contra a ex-prefeita", prosseguiu. E, no desfecho, além de criticar a postura da Folha, ainda esculachou a concorrência: "(...) o jornal abriu mão de fomentar o debate sadio. Ele nunca deveria se prestar ao trabalho sujo que outros veículos fazem com muito prazer e competência."
Pois é: apesar de eu não ser nenhum entusiasta da função de ombudsman (e muito menos da Folha de S.Paulo), ele disse pouco, mas disse tudo. Só que essa - previsível e explícita - fuzilaria contra Marta pode ser um tiro no pé, uma percepção que talvez tenha motivado a bronca de Carlos Silva nos colegas de redação. O povo não é bobo. Vamos pra virada, Marta!