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Após 11 jogos, o Corinthians perdeu a invencibilidade na Série B do Brasileiro, na partida contra o Bahia. A derrota por 0 a 1 (o jogo foi no Pacaembu) tem muitos motivos e pelo menos um culpado: o goleiro Felipe, cuja aura de heroísmo, conquistada com boas atuações no ano passado, já acabou.
Convém analisar o fenômeno Felipe. Ele chega ao clube em 2007, numa leva de jogadores do Bragantino que incluía Everton Santos, Moradei e Zelão. Com boas atuações e uma série de milagres, ajuda a retardar o trágico desfecho da participação corintiana, mas não consegue evitar o rebaixamento. Mas ganha a posição e a aura de ídolo, ou quase isso. Eu mesmo cheguei a escrever que ele tinha tudo para entrar para a história do Timão, se ficasse um tempo no time.
No entanto, mesmo nesse bom momento, Felipe pisava na bola quando decidia falar. Tem uma postura um tanto arrogante e mais de uma vez jogou a responsabilidade por derrotas nos companheiros.
E mesmo em suas atuações já se percebiam falhas: problemas ao sair do gol e, principalmente, a mania de rebater bolas para dentro da área. Alguns dos milagres protagonizados por ele só existiram porque o próprio goleiro criou a situação trágica, ao rebater nos pés do adversário bolas chutadas de longe. No frigir dos ovos, Felipe tem muita agilidade e excelentes reflexos, mas pecava em alguns fundamentos. Coisa que se corrige com treinamentos, se você souber onde estão os erros, assumi-los e trabalhar neles.
No início deste ano, quando o time começa a se remontar, uma das prioridades era segurar Felipe e Finazzi (pra você ver o nível do time no ano passado). O goleiro e seu empresário armaram um salseiro no negócio, ajudados pelo dublê de manager Antonio Carlos. Justa ou injustamente, o goleiro levou a fama de mercenário e gastou de uma vez só quase toda a moral adquirida no ano anterior.
Depois disso, foi pro jogo, e continuou tendo boas atuações e tomando gols evitáveis. Caiu de produção e foi para o banco após a derrota para o Sport na Copa do Brasil (em atitude controversa de Mano Menezes, que o inocentou num dia e rifou no outro). Voltou e fez boa partida, depois da qual sua mãe declarou à TV Bandeirantes que tinha aconselhado o jogador a ficar no clube no início do ano e que agora daria o conselho inverso.
Nisso tudo, em meio a boas e más atuações, ser chamado de ídolo e de mercenário, a única coisa inabalável foi o ego de Felipe. É um caso impressionante de auto-estima bem construída. Depois da final contra o Sport, disse sem pestanejar que quem o acusa de haver falhado não era treinador de goleiros para avaliar. Contra o Bahia, pediu desculpas no momento do gol, mas disse que tinha sido sorte de quem cobrou a falta. Nada abala o ego do rapaz.
Autoconfiança é muito importante para qualquer pessoa, ainda mais um goleiro, posição mais solitária do futebol, segundo o poeta. Mas ela deve vir acompanhada de uma boa dose de autocrítica para que o cabra perceba os erros e trabalhe para corrigi-los. Felipe é bom goleiro e tem potencial para ser ainda melhor, mas precisa descer do pedestal e ir trabalhar.
Achei que aquela temporada de banco tinha servido para baixar a bola do rapaz. Mas temo que esse ego inabalável e imponderado do rapaz tenha abortado o processo. Felipe precisa treinar fundamentos, melhorar seu senso de colocação e sua saída do gol. Principalmente, precisa aprender a receber críticas e tentar aprender com elas. Não pode achar que é intocável em lugar nenhum, ainda mais num time grande e com uma torcida apaixonada (e como tal, nem sempre racional) como o Corinthians.
Mas e o resto?
Felipe não é, obviamente, o único respondsável pela derrota. O pessoal do ataque e meio-campo corintiano tem deixado a desejar. Uma série de desfalques demonstraram que faltam peças de reposiçaõ ao time, especialmente no meio. Douglas, Diogo Rincón, Fabinho e Nilton deixaram saudades, já que Lulinha não é meia (e o que ele é mesmo?) e Elias não consegue carregar o setor sozinho. Douglas volta contra o Ceará, junto com Dentinho e Chicão. E Diogo Rincón já está na última etapa de sua recuperação, o que pode ajudar.
Por fim, mais uma conseqüência importante dessa derrota foi que meu pai terá que pagar uma dúzia de cervejas para um amigo, com quem havia apostado que o Corinthians não perderia nenhuma partida na Série B. Pelo menos o anti-corintiano passou 11 rodadas sofrendo com o assunto.