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domingo, agosto 16, 2015

Velório carioca

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Blanc: compositor, vascaíno, bebum e,antes de tudo, carioca
No prefácio de "Brasil passado a sujo" (Geração Editorial, 1993), Sérgio Cabral diz que o autor, o vascaíno Aldir Blanc, é um dos expoentes da chamada "literatura carioca", com tipos, personagens, subúrbios, bares e situações na linha de Nelson Rodrigues e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. "O Rio de Janeiro é isso que está nestas páginas; é a cabeça e o coração desse extraordinário Aldir Blanc", resume Cabral. De fato, a obra é uma ode à carioquice, com tudo de "bom" que a esculhambação local possui - e aqui rememoro a resposta do também carioca Tom Jobim quando perguntaram por que, morando nos EUA, ele passava a maior parte do tempo em sua cidade natal: "Estados Unidos é bom, mas é uma merda. E o Brasil é uma merda, mas é bom!". No livro de  seu conterrâneo Aldir Blanc, um dos capítulos, "Até Morrer", fala especificamente sobre futebol. "Hei de torcer", explica o vascaíno nesse texto, "porque conheci um bebum que apelidou a própria amásia de Paulo Isidoro: 'Ela dormia na ponta, mas embolava pelo meio'." E prossegue:
O Lindolfo havia morrido. Vó Noêmia fez uns trinta sanduíches de carne assada, os homens encheram vidros vazios de eparema com traçado e partimos pro velório. Na saída, alguém lembrou:
- Cadê o rádio? Hoje tem Vasco x Botafogo.
Mas, aparentemente, ninguém se atreveu a levar. A mulher do Lindolfo, Dona Marcelina, era tão séria que já estava de luto muitos dias antes da morte do marido. Amanheceu um domingo de comemorar com batida de maracujá.
Naquele tempo, o jogo começava às três e quinze da tarde. Os enterros saíam por volta das cinco. No Caju, a viúva parecia de granito. Luto fechado, um buço que deve ter influenciado o Sarney, cabelos cinzentos cobertos por um lenço negro, leque também negro fechado nas mãos em garra, uma viúva de Lorca.
Waldir Iapetec, com seu faro inigualável, descobriu um buteco nas imediações com rabada e cervejotas superlampoticamente geladas. Mandaram arrebite. Mais ou menos na hora da peleja começar, Ceceu Rico, cheio de goró, lavando a cabeça com azeite Galo e botando aristolino na maionese, sacou um radinho do bolso das acumuladas. O Iapetec riu:
- Sabia que tu não ia aguentar.
- Tenho minha reputação. Não quero que digam que Ceceu Rico deu balda com medo de viúva.
O pessoal ficou ouvindo o jogo no tal buteco. De vez em quando, um batedor partia pro front do velório. E tome chá-de-macaco. O clima de jogo aumentava a vontade de biritar. Um zero a zero cheio de lances dramáticos. Faltando uns quinze minutos pro fim do segundo tempo, pressão do Vasco, meu avô Aguiar apareceu, deu um tapa de bagaceira nos beiços, e avisou, com toda cortesia de seus quase dois metros de cutucro nascido em Póvoa de Varzim:
- Vamo pagar a conta que o palhaço de saias chegou pra encomendar o corpo. Ceceu, enfia o rádio na ombreira do paletó e finge que tá com torcicolo, meningite, um troço desses.
Provavelmente sentindo a exuberância dos bafos, a viúva lançou a todos um olhar assassino. O padre, com a batina salpicada de proverbial caspa, começou a arenga:
- Nosso irmão Lindolfo já não está no estádio, digo, no mundo. Encontra-se na Glória!
O Iapetec sussurrou:
- Provavelmente na taberna. Ele adorava.
Olhar rambo-rocky da viúva em nossa direção. Vários gulps e pigarros.
- Bem aventurados aqueles...
Nesse instante, Ceceu captou no radinho uma investida vascaína:
- Lá vai o Vasco! Bola pra Walter Marciano na entrada da área! Driblou o primeiro, driblou o segundo, vai marcar...
O desgraçado do radinho ficou mudo. Desesperado, Ceceu catucou os botões pra baixo e pra cima. Nada. Teria sido a pilha? Ceceu sentou a porrada no spika, método quase infalível para engenhocas enguiçadas, e uma palavra, altíssima, como que irradiada pela sublime voz do Todo-Poderoso, elevou-se na capela:
- PÊNALTI!
Ceceu baixou de um golpe todo o volume. Um silêncio aterrador. Possessa, a viúva urrou:
- Contra quem? Pênalti contra quem? Aumenta, babaca!
À beira de uma de suas famosas crises de asma, Ceceu estertorou:
- Pênalti contra o Botafogo.
A viúva tava comandando o tradicional corinho de "casaca, casaca, casaca - saca-saca...", quando o padre abandonou o recinto.
Meu avô gritou:
- Hei, seu padre! Volta aqui! Futebol enlouquece qualquer um! Não foi desrespeito, não.
Sintam a resposta do padreco:
- Aqui, ó! Eu sei que não foi desrespeito. Foi roubo no duro! Tô farto de ver o Vasco vencer com gol de pênalti no último minuto. Vão todos pros quintos dos infernos. Ladrões!
Mas seu protestos foram abafados pelos gritos de gol e pelo espetacular choro da viúva. De alegria.

quarta-feira, novembro 14, 2012

R.I.P. Alex Alves

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Rápido, habilidoso, Alex Alves era um pouco do que se podia chamar antigamente de “ponta”, quando seu futebol apareceu no surpreendente Vitória vice-campeão de 1993, time que chegou à final depois de sair de um grupo com Flamengo, Corinthians e Santos. Além do jovem atacante, recém-profissionalizado, a equipe contava com o “canhão” de Roberto Cavalo, as defesas do promissor goleiro Dida e a técnica do meia Paulo Isidoro.

A partir de 1:17, o golaço de Alex Alves, que passa por três corintianos desde o meio de campo e marca. A partida marcou a quebra da invencibilidade de 15 jogos do Alvinegro de Mário Sérgio.

No ano seguinte, em 1994, foi para o Palmeiras, à época pródigo em contratações graças à parceria com a Parmalat. Depois de uma fugaz passagem pelo Juventude, outra equipe apoiada pela empresa de laticínios, voltou a brilhar com intensidade na fantástica Portuguesa (não confundir com esse Alex Alves), vice-campeã brasileira de 1996, quando mais uma vez teve ao lado jovens que viriam a fazer sucesso no futebol como Zé Roberto e Rodrigo Fabri.

Na vitória sobre o Cruzeiro, por 3 a 0, válida pelas quartas de final do Brasileirão, Alex Alves marcou duas vezes, destaque para o terceiro gol luso, um belo passe de Zé Roberto, a partir de 0:36.


A partir de 1:35, o segundo da Lusa no empate contra o Atlético-MG, válido pelas semifinais do Brasileiro de 1996. Alex Alves também fez na vitória contra o Galo por 1 a 0, em São Paulo.

O atacante passaria ainda pelo Cruzeiro (1998 e 1999) e iria para a Europa, onde ficou por cinco anos no Hertha Berlin (1999 a 2003). Voltou ao Brasil onde atuou pelo Atlético-MG (2003), Vasco (2004), Vitória (2005 e 2006), Boa Vista-RJ (2007 e 2008), Fortaleza (2008),e Kavala-Grécia (2008).

Em 30 de dezembro, Alex Alves completaria 38 anos, mas a leucemia vitimou o atleta,que estava internado em Jaú, interior de São Paulo.