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quarta-feira, dezembro 23, 2015

Bicuda na canela

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Mas com toda a elegância. Quando Chico Buarque foi importunado por filhinhos-de-papai num restaurante do Leblon, no Rio de Janeiro (entre eles, Alvarinho, filho do empresário Álvaro Garnero), que se sentiram no direito de criticar seu apoio ao PT, o artista rebateu: "Acho que o PSDB é bandido, e agora? Procure se informar mais, porque com base na revista ‘Veja’ você não vai chegar muito longe". E depois, passado o bate-boca, Chico faz, sutil e magistralmente, a seguinte postagem numa rede social:


Afinal, o partido é dos trabalhadores. E, falando nisso (trabalho), voltemos ao Chico, num vídeo em que conta o seu despertar político (e que, por isso mesmo, explica totalmente suas escolhas políticas): "Pra mim, o lixeiro era o sujeito que mais trabalhava, era a pior profissão do mundo. E uma das melhores profissões do mundo, que eu achava muito folgada, era a profissão do meu pai, que ficava lá no escritório batendo a máquina, clec-clec-clec-clec. Isso é moleza. Duro é ser lixeiro. Como é que meu pai, que ficava sentado, [fazendo] clec-clec-clec-clec, pôde se casar, e ter sete filhos, e o lixeiro, que trabalha muito mais, carregando aquelas latas e se sujando todo, não tem dinheiro para constituir família? Aí, foi a primeira revolta, assim. [Pensei:] Esse mundo é injusto". Confira:


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sexta-feira, outubro 02, 2015

Numa cervejaria, Machado de Assis barrou o boêmio Emílio de Meneses para a Academia Brasileira de Letras

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Livro sobre 'o último boêmio'
Nascido em Curitiba, em 1866, o jornalista Emílio de Meneses era considerado, já no início do século passado, o principal poeta satírico brasileiro depois de Gregório de Matos, o "Boca do Inferno". Mas também era visto como "um boêmio desregrado, que vivia na calaçaria [vagabundagem] dos cafés e botequins e se tornou célebre por sua maledicência". Tal (má) fama fez com que sua entrada na Academia Brasileira de Letras (ABL) fosse adiada por nove anos - e, apesar de aprovada, nunca concretizada de fato, também pelos "maus bofes" do bebum paranaense. Não por acaso, em sua primeira candidatura para ser um "imortal", em 1905, Emílio de Meneses teve como um de seus maiores opositores Machado de Assis, principal idealizador da Academia e seu primeiro presidente.

O 4º volume da biografia "Machado de Assis - Vida e obra", intitulado "Apogeu", de autoria de R. Magalhães Júnior (Editora Record, 2008), narra o episódio. "Vamos ter eleição nova para a vaga do [José do] Patrocínio", escrevia Machado, em junho de 1905, numa carta para o colega Joaquim Nabuco, recém-chegado aos Estados Unidos, onde era o embaixador do Brasil. "Até agora só há dois candidatos, o padre Severiano de Resende e Domingos Olímpio", adiantava o Bruxo do Cosme Velho. Acontece que, segundo Magalhães Jr, ambas as candidaturas "tinham pouca repercussão nos círculos acadêmicos". "Como último recurso", prossegue a biografia, "Machado suscitou, então, a candidatura de Mário de Alencar, autor apenas de dois magros livros de versos (...) Seu maior merecimento era o de ser filho de José de Alencar e de ter, como funcionário, que então era, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, ajudado a obter com o ministro José Joaquim Seabra uma ala do Silogeu Brasileiro, para a instalação da Academia [que até então não tinha sede própria]".

Machado em pintura feita em 1905
Só que havia um bêbado no meio do caminho, no meio do caminho havia um bêbado... "O empenho de Machado em eleger para a Academia o filho de José de Alencar ia quase tropeçando num obstáculo imprevisto: alguns acadêmicos se inclinavam pela eleição de Emílio de Meneses - muito ligado a Olavo Bilac e a Guimarães Passos (...). Mas Machado usou de ardiloso expediente para exprimir sua desaprovação tácita a essa manobra eleitoral". Outro membro da ABL, Rodrigo Otávio, recordaria o imbroglio em suas "Memórias dos outros" (o grifo é meu): "Por esse tempo, alguns dos nossos colegas andavam procurando criar no ânimo de Machado uma ambiência favorável à aceitação da candidatura de certo poeta, de notório talento, mas de temperamento desabusado e assinalado sucesso em rodas de boêmios".

"Nesse dia", continua Otávio, "o nome do poeta veio à tona; a controvérsia fora acalorada. Machado não interveio nela; mas, quando o levamos para o bonde, na Avenida, ao chegar ao canto da Rua da Assembleia, ele nos convidou a que o seguíssemos por essa rua e, a dois passos, nos fez entrar em uma cervejaria, deserta nesse momento. Não sabendo de todo o que aquilo significava, nós o acompanhamos sem dizer palavras, e vimo-lo deter-se no meio da sala, entre mesinhas e cadeiras de ferro e, também sem dizer palavra, estender o braço, mostrando ao alto de uma parede um quadro, a cores vivas, em que, meio retrato, meio caricatura, era representado em busto, quase do tamanho natural, grandes bigodes retorcidos, cabelo revolto na testa, carão vermelho e bochechudo, o poeta, cuja entrada no grêmio da imortalidade se pleiteava, sugestivamente empunhando, qual novo Gambrinus, um formidável vaso de cerveja... A cena causou em todos profunda impressão, e tal era o respeito por Machado que, em vida dele, não se falou mais na candidatura de Emílio".

Meneses: 'raios sobre a iniquidade'
De fato, a figura do manguaça paranaense não inspirava a seriedade a qual a ABL se arvorava. Mendes Fradique, no Prefácio de "Mortalha - Os deuses em ceroulas", descreve: "Os que conheceram Emílio de Menezes ainda estão a vê-lo, com aquela bigodeira à Vercingectórix e aquele amplo chapéu, ora brandindo o bengalão retorcido, a expedir raios sobre a iniquidade dos pigmeus que o irritavam; ora sufocado num riso apopléctico de intenso gozo mental, rematando uma sátira com que, destro, arrasava a empáfia dos potentados e a impertinência dos presunçosos; ora bonacheirão, carinhoso, entalando uma fatia de pão de ló na boca de um de seus fiéis cães de raça; ora ainda transfigurado, olímpico, dizendo, com inspiração extraterrena, 'Os Três Olhares de Maria' ou o 'Ibiseus Mutabilis'."

Preterido por Mário de Alencar, somente em 1914, seis anos após a morte de Machado de Assis, é que Emílio de Meneses entraria para a ABL. Porém, pra variar, sob muito polêmica. "Na versão oficial", diz a página sobre o poeta na Wikipedia, "Emílio deixara de tomar posse por conta da sua teimosia em manter críticas [ao escritor recém-falecido que iria substituir] no discurso para a ocasião: 'Emílio compôs um discurso de posse, em que revelava nada compreender de Salvador de Mendonça, nem na expressão da atuação política e diplomática, nem na superioridade de sua realização intelectual de poeta, ficcionista e crítico. Além disso, continha trechos arguidos, pela Mesa da Academia, de 'aberrantes das praxes acadêmicas'. A Mesa não permitiu a leitura do discurso e o sujeitou a algumas emendas. Emílio protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira' (do sítio da Academia)". Provavelmente sem saber do episódio da cervejaria, o bebum se vingava...

Albuquerque ameaçou apagar a luz
Afrânio Peixoto, que por muitos anos presidiu a ABL, relembrou que a postura de Meneses fez até com que ameaçassem apagar a luz se ele insistisse em atacar os colegas (!): "Emílio de Meneses quisera descompor a Oliveira Lima, ao que se opôs Medeiros e Albuquerque, que então presidia [a Academia], ordenando a supressão dos tópicos alusivos e ofensivos: à insistência do neófito, em dizê-los, ameaçou-o com o comutador da luz elétrica, desde aí ao alcance da mão do presidente. Não foi preciso usar deste obscuro meio coercitivo, porque o acadêmico recalcitrante não chegou a ser recebido, e seu discurso apenas tardiamente publicado nos jornais, razão por que não figura na coleção da Academia". Hoje presente no sítio da ABL, o discurso registra, também, a mágoa de Meneses com Machado de Assis.

"Quando começou a haver uma quase certeza da minha eleição, os inimigos rancorosos, muitos dos quais só o são por coisas cuja paternidade me foi emprestada, redobraram de esforços demolidores", dizia o poeta. E desabafava, defendendo-se das acusações: "Boêmio e desregrado... Boêmio e desregrado porque, nos momentos decisivos, faz o que qualquer homem medianamente digno tem obrigação de fazer. Boêmio e desregrado, que nunca foi visto em espeluncas. Boêmio e desregrado que, com mais de trinta anos de residência no Rio, não sabe o que seja um desses celebrizados bailes carnavalescos onde o mulherio se excita de jogo e condimenta de álcool. Boêmio e desregrado, por fazer sua hora à mesa de um café ou de uma confeitaria, trocando ideias, dizendo ou ouvindo versos e frases de espírito, como faziam e fazem ainda alguns dos que muito brilho emprestaram e emprestam às cadeiras que entre vós ocupam. Posso garantir-vos serem alegres confabulações literárias, apesar da dose de whisky ou da água de um coco ou de ambos juntos".

Emílio seguia desancando os desafetos, que, logicamente, não permitiram a leitura do discurso - e o novo eleito para a ABL nunca tomou posse. Mas, falando em "alegres confabulações" e em "dose de whisky", não poderiam faltar, na obra de Meneses, odes poéticas ao goró. Uma delas tem como personagens um bêbado e um médico: 


ALCOOLISMO

A leitura do tópico tremendo
À lembrança me trouxe uma anedota
Velha, tão velha quanto aquela bota
Que era toda o Larousse do remendo.

Certo alcoolista, um sábio artigo lendo
De um médico alemão de grande nota
Contra o álcool, diz em compulsão devota:
"Como ele prova quanto o vício é horrendo!"

E acrescenta: "A verdade em mim desperta!
Eu não quero pelo álcool cair morto,
Vou dizê-lo bem alto e de alma aberta!"

Tal leitura me traz tanto conforto,
Que vou beber saudando a descoberta
Três garrafas de bom vinho do Porto!...


Curioso é que conheço uma piada (ou anedota) que vai na mesma linha do soneto de Meneses: "Um bêbado ia passando em frente a um prédio e leu, ali, um cartaz anunciando a palestra de um médico sobre 'Os malefícios do álcool'. Resolveu entrar, pra ver se aquilo o convenceria a parar de beber. Sob aplausos, o médico entrou no palco e disse: 'Antes da palestra, quero fazer uma demonstranção'. Colocou dois copos em cima de uma mesa, ambos contendo líquidos transparentes e, depois, mostrou à plateia um bichinho de goiaba, vivo, que andava na palma de sua mão. Primeiro, jogou o verme em um dos copos. Ele continuou se mexendo. 'Viram? Isso é água'. Então, pegou o bicho e jogou no outro copo. Ele morreu na hora e afundou. Sorridente, o médico informou: 'É cachaça'. E perguntou: 'O que vocês concluem?' O bêbado levantou a mão e gritou: 'Quem bebe não tem verme!'...".

Sim, reconheço, é infame. Por isso, voltemos ao Emílio de Meneses, que, dando continuidade ao primeiro soneto sobre o alcoolismo, ironiza o fato de um jornal (a 'severíssima' Gazeta) publicar artigo contra esse vício e, na mesma edição, ostentar propaganda (reclame) de cerveja (clara, escura, mista e preta):


ALCOOLISMO (II)

Viram? O caso até parece peta!
Quem leu acaso, ao lado, o outro soneto,
Vê que, comigo, está fazendo um dueto
A séria e severíssima GAZETA.

Se, de um lado, lhe veio hoje à veneta
Mostrar do vício o fúnebre esboceto,
De outro lado vai dando, em tom faceto,
"Reclame" à clara, à escura, à mista, à preta!

É que não tem razão a velha rixa
De quem, às claras, bebe por capricho,
Com quem, ocultamente, escorropicha:

Do barril de bom chope, ao claro esguicho,
Depois de salgadíssima salsicha,
Deixem lá que é bem bom matar o bicho!...


É, Emílio, se pensarmos no verme que o médico jogou no copo de cachaça, é mesmo bom "matar o bicho". E é melhor ser caricato na cervejaria do que imortal na Academia!


terça-feira, setembro 22, 2015

Merece reprodução na íntegra

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Como já pisamos e repisamos neste blogue, nosso propósito é evitar ao máximo reproduções integrais de conteúdos de qualquer natureza. Mas esse aqui merece (ah, se merece!):


Aquele DESESPERO que bate quando se está caminhando SOZINHA, as DEZ HORAS DA NOITE, por uma RUA DESERTA e vê um homem atrás do poste.

Minhas reações:
1) primeiro, eu reduzo a velocidade do passo, para dar tempo do cara acabar de mijar;

2) depois, deduzo que ele não está mijando, já que está olhando imóvel na minha direção;

3) penso na hipótese de ser um assaltante "já era! vou ter que desenrolar pra não perder". Afinal, carioca não reage a assalto, carioca vê se tem desenrolo;

(enquanto cada vez chego mais perto)

4) chego a uns 5 metros, descarto todos os pensamentos anteriores e admito a certeza que é uma assombração (!) já que está todo de branco e sorrindo na minha direção
(Fu***, porque com assombração não tem desenrolo)

5) mais ou menos uns 2 metros do tal "mijão-assaltante-assombração", percebo que é SÓ (e somente só) um poster do Felipe Massa, tamanho real
(clique na foto para ver melhor).


- Postagem em rede social feita pela carioca Aline Rocha - que não conheço, mas que receba meus parabéns. Situações como essa engrandecem quem as confessam.

sexta-feira, agosto 28, 2015

Feijoada, rabada com agrião, cerveja e caipirinha

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Das coisas que mais gosto no Rio de Janeiro, desde que descobri aquela cidade, há uns cinco anos, estão os tradicionais butecos de bairro. Butecos mesmo, na acepção da palavra, daqueles que têm o mesmo dono há décadas e que acaba, com o tempo, agregando uma fauna de figuras e clientes fiéis. Algo como o nosso lendário (e saudoso) Bar do Vavá, aqui em São Paulo, ou o Mosca Feliz, meu buteco predileto lá em "Botafurca", região de confluência entre os bairros de Botafogo e Urca no Rio, próxima à Praia Vermelha. Pois foi exatamente num buteco desses, na Tijuca, que o ex-presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, se enfiou na manhã de ontem.

Segundo notícia do portal "Pragmatismo Político", Mujica, que está no Rio para uma homenagem e evento com estudantes da Universidade Estadual (Uerj), pediu "feijoada, rabada com agrião, cerveja e caipirinha" no Bar do José, na Zona Norte carioca. Melhor ainda: "ao som de Amado Batista". “Escolhi a trilha sonora porque gosto e deu um clima mais legal pro almoço. Nunca imaginei ter um presidente aqui”, contou José Alves Ferreira, o cearense que comanda o referido buteco há 14 anos. “Te falar? Político brasileiro é muito cheio de frescura. Aqui é só rabada, feijoada, mocotó…”, opinou.

'Pepe' Mujica manda brasa na rabada e nas cervejas do Bar do José, no Rio de Janeiro

O dono do buteco disse ainda que “não conhecia muito bem” o uruguaio, o que fica evidente quando revela que votou em Aécio Neves (PSDB) em 2014 e que é a favor da saída de Dilma Rousseff (PT) do governo federal. Com certeza, ele desconhece o apoio incondicional de Mujica à Dilma, que o levou a criticar a criminalização da presidente do Brasil, de Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores em seu programa de rádio, no dia 14 de julho deste ano. "Esse ranço capitalista do Brasil imperial não pode aceitar a liderança de homens e mulheres que não são de sua entranha, mas definitivamente tendem a ser e representar as imensas maiorias”, criticou Mujica, na ocasião.

“Tirar 40 milhões de cidadãos da miséria. É isso o que significou o governo do PT e principalmente o impulso de Lula, assinando talvez em termos quantitativos a maior façanha da história econômica da América Latina, se por façanha se entende como vivem as pessoas e não simplesmente números, papéis”, acrescentou o ex-presidente do Uruguai. Ontem, ao ouvir os gritos de “não vai ter golpe” dos estudantes da Uerj, Mujica comentou: “Golpe de Estado, por favor! Este filme já vimos muitas vezes na América Latina. Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la”. E fim de papo (de bar).


domingo, agosto 16, 2015

Velório carioca

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Blanc: compositor, vascaíno, bebum e,antes de tudo, carioca
No prefácio de "Brasil passado a sujo" (Geração Editorial, 1993), Sérgio Cabral diz que o autor, o vascaíno Aldir Blanc, é um dos expoentes da chamada "literatura carioca", com tipos, personagens, subúrbios, bares e situações na linha de Nelson Rodrigues e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. "O Rio de Janeiro é isso que está nestas páginas; é a cabeça e o coração desse extraordinário Aldir Blanc", resume Cabral. De fato, a obra é uma ode à carioquice, com tudo de "bom" que a esculhambação local possui - e aqui rememoro a resposta do também carioca Tom Jobim quando perguntaram por que, morando nos EUA, ele passava a maior parte do tempo em sua cidade natal: "Estados Unidos é bom, mas é uma merda. E o Brasil é uma merda, mas é bom!". No livro de  seu conterrâneo Aldir Blanc, um dos capítulos, "Até Morrer", fala especificamente sobre futebol. "Hei de torcer", explica o vascaíno nesse texto, "porque conheci um bebum que apelidou a própria amásia de Paulo Isidoro: 'Ela dormia na ponta, mas embolava pelo meio'." E prossegue:
O Lindolfo havia morrido. Vó Noêmia fez uns trinta sanduíches de carne assada, os homens encheram vidros vazios de eparema com traçado e partimos pro velório. Na saída, alguém lembrou:
- Cadê o rádio? Hoje tem Vasco x Botafogo.
Mas, aparentemente, ninguém se atreveu a levar. A mulher do Lindolfo, Dona Marcelina, era tão séria que já estava de luto muitos dias antes da morte do marido. Amanheceu um domingo de comemorar com batida de maracujá.
Naquele tempo, o jogo começava às três e quinze da tarde. Os enterros saíam por volta das cinco. No Caju, a viúva parecia de granito. Luto fechado, um buço que deve ter influenciado o Sarney, cabelos cinzentos cobertos por um lenço negro, leque também negro fechado nas mãos em garra, uma viúva de Lorca.
Waldir Iapetec, com seu faro inigualável, descobriu um buteco nas imediações com rabada e cervejotas superlampoticamente geladas. Mandaram arrebite. Mais ou menos na hora da peleja começar, Ceceu Rico, cheio de goró, lavando a cabeça com azeite Galo e botando aristolino na maionese, sacou um radinho do bolso das acumuladas. O Iapetec riu:
- Sabia que tu não ia aguentar.
- Tenho minha reputação. Não quero que digam que Ceceu Rico deu balda com medo de viúva.
O pessoal ficou ouvindo o jogo no tal buteco. De vez em quando, um batedor partia pro front do velório. E tome chá-de-macaco. O clima de jogo aumentava a vontade de biritar. Um zero a zero cheio de lances dramáticos. Faltando uns quinze minutos pro fim do segundo tempo, pressão do Vasco, meu avô Aguiar apareceu, deu um tapa de bagaceira nos beiços, e avisou, com toda cortesia de seus quase dois metros de cutucro nascido em Póvoa de Varzim:
- Vamo pagar a conta que o palhaço de saias chegou pra encomendar o corpo. Ceceu, enfia o rádio na ombreira do paletó e finge que tá com torcicolo, meningite, um troço desses.
Provavelmente sentindo a exuberância dos bafos, a viúva lançou a todos um olhar assassino. O padre, com a batina salpicada de proverbial caspa, começou a arenga:
- Nosso irmão Lindolfo já não está no estádio, digo, no mundo. Encontra-se na Glória!
O Iapetec sussurrou:
- Provavelmente na taberna. Ele adorava.
Olhar rambo-rocky da viúva em nossa direção. Vários gulps e pigarros.
- Bem aventurados aqueles...
Nesse instante, Ceceu captou no radinho uma investida vascaína:
- Lá vai o Vasco! Bola pra Walter Marciano na entrada da área! Driblou o primeiro, driblou o segundo, vai marcar...
O desgraçado do radinho ficou mudo. Desesperado, Ceceu catucou os botões pra baixo e pra cima. Nada. Teria sido a pilha? Ceceu sentou a porrada no spika, método quase infalível para engenhocas enguiçadas, e uma palavra, altíssima, como que irradiada pela sublime voz do Todo-Poderoso, elevou-se na capela:
- PÊNALTI!
Ceceu baixou de um golpe todo o volume. Um silêncio aterrador. Possessa, a viúva urrou:
- Contra quem? Pênalti contra quem? Aumenta, babaca!
À beira de uma de suas famosas crises de asma, Ceceu estertorou:
- Pênalti contra o Botafogo.
A viúva tava comandando o tradicional corinho de "casaca, casaca, casaca - saca-saca...", quando o padre abandonou o recinto.
Meu avô gritou:
- Hei, seu padre! Volta aqui! Futebol enlouquece qualquer um! Não foi desrespeito, não.
Sintam a resposta do padreco:
- Aqui, ó! Eu sei que não foi desrespeito. Foi roubo no duro! Tô farto de ver o Vasco vencer com gol de pênalti no último minuto. Vão todos pros quintos dos infernos. Ladrões!
Mas seu protestos foram abafados pelos gritos de gol e pelo espetacular choro da viúva. De alegria.

quinta-feira, agosto 06, 2015

"Até nas 'trompa' de lata de cerveja"

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Mick Jagger, Marianne Faithfull, Anita Palenberg e Keith Richards no Brasil, em 1968
Relendo "Vida", a autobiografia de Keith Richards (já citada neste post aqui), cheguei ao trecho em que o guitarrista fala sobre a viagem que fez ao Brasil, em dezembro de 1968, acompanhado por Mick Jagger e pelas namoradas Anita Pallenberg e Marianne Faithfull, esta última com o filho pequeno Nicholas. Foi durante a viagem de navio que fizeram de Lisboa ao Rio de Janeiro que os dois rolling stones adotaram o apelido de Glimmer Twins. Havia uma passageira, aristocrática, que eles chamavam de "Mulher-Aranha". Tanto ela como os outros ricos a bordo começaram a fazer perguntas para tentar descobrir quem eles eram. "Nunca respondemos, e um dia a Mulher-Aranha deu um passo à frente e pediu: 'Oh, nos deem uma pista, nos deem um vislumbre [a glimmer]'. Mick se virou para mim e disse: 'Somos os Gêmeos Vislumbre'", lembra Keith. "Batizados no Equador, os Gêmeos Vislumbre [Glimmer Twins] foi o nome que mais tarde usamos como produtores de nossos discos".

Os Glimmer Twins desembarcando no Rio de Janeiro, 16 dias após o decreto do AI-5
Segundo o jornal "O Estado de S.Paulo" (leia aqui), o grupo desembarcou no porto do Rio de Janeiro no dia 29 de dezembro de 1968, apenas 18 dias depois de terem gravado, em Londres, o malfadado - e abandonado por 27 anos - filme "Rock and Roll Circus", com John Lennon, Yoko Ono, The Who, Eric Clapton, Taj Mahal e Jethro Tull. E exatamente 16 dias após o decreto, pelos ditadores militares, do nefasto Ato Institucional nº 5. Naquele exato momento, ali, na capital do então Estado da Guanabara, por conta exatamente do AI-5, os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam presos num quartel da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, depois de terem sido detidos, dois dias antes, na cidade de São Paulo. Alheios a tudo isso, os dois rolling stones e suas acompanhantes se instalaram no tradicional Copacabana Palace. Não demorou para que a imprensa os descobrisse e começasse o assédio - do qual eles queriam exatamente fugir naquelas "férias".

Mick, Keith e suas namoradas são flagrados na beira da piscina do Copacabana Palace
Hotel Jaraguá, na década de 1960
No Rio, Anita Pallenberg tratou de folhear uma lista telefônica em busca de um médico e, assim, confirmou suas suspeitas: estava grávida de Marlon, o primeiro filho dela e de Keith Richards, que nasceria em agosto de 1969. Depois de passarem o Ano Novo no Rio, assistindo os fogos em Copacabana, os cinco seguiram de carro para São Paulo, onde se hospedaram no Hotel Jaraguá, no Centro. Mas ficaram pouco tempo, pois havia outro destino planejado: a Fazenda Boa Vista, do amigo e banqueiro Walter Moreira Salles, em Matão, no interior paulista. "Ficamos alguns dias numa fazenda, onde Mick e eu compusemos 'Country honk', sentados numa varanda como caubóis, pés no parapeito, fazendo de conta que estávamos no Texas. Era a versão country do que se transformou no single 'Honky tonk women' quando voltamos à civilização", esculhamba Keith, em sua autobiografia. Confira a"Country honk" original:


Rara foto de Mick e Keith em Matão
Os 15 dias que passaram naquela região viraram folclore e renderam, em 2013, o documentário "Aliens 69: Quando os Rolling Stones invadiram Matão" (clique aqui para assistir), produzido por Diego Gibertoni, Fernanda Vilela, Gianfrancesco Barian, Matheus Carvalho e Rafael Zocco como trabalho de conclusão do curso de jornalismo na Uniara, em Araraquara (SP). Nos arredores do casarão da Fazenda Boa Vista, Keith Richards e Mick Jagger não só compuseram o que seria "Honky tonk women" como zanzaram pelados pelo meio do mato, espalharam dezenas de pires de papelão boiando com velas coloridas na piscina, soltaram todo o estoque de fogos de artifício que compraram em uma lojinha local e improvisaram uma festa junina, com fogueira, sanfona, crianças (!) e, lógico, regada a muitas substâncias - lícitas e ilícitas. E entre as lícitas, uma absoluta novidade em terras brasileiras: cerveja em lata.

Latas de cerveja: novidade que os Glimmer Twins trouxeram ('até nas trompa') ao Brasil
"Do nada, à tardinha, chega uma Land Rover, aquelas peruona monstro, 'até nas trompa' de lata de cerveja, de tudo que cê pensar", narra, em fluente "caipirês", no documentário "Aliens 69", Wanderley Zanoni, o funcionário da fazenda encarregado de atender os convidados famosos e supri-los, diariamente, com jornais. Ele lembra que a maior bebedeira aconteceu na tal festa junina improvisada em pleno janeiro, ao som de um sanfoneiro de 12 anos de idade. O menino emprestou o instrumento a Mick e Keith e diz que eles souberam tocá-lo. "Tomaro a noite interinha, sortaro todos os fogos que cê pensar", diverte-se Zanoni. "O que bebêro foi brincadêra aquela noite", acrescenta, no dialeto que eu, caipira de Taquaritinga, cidade vizinha a Matão, também "cunhêço dimais da conta". No fim do documentário dos estudantes, Zanoni garante que, depois que os rock stars foram embora, havia em um dos quartos ocupados por eles rastros de sapato que iam do chão até o alto da parede, como se alguém tivesse tentado andar no teto (!). "Ô, povo loco!", espanta-se.

O caipira de Matão fala sobre os Rolling Stones à EPTV, retransmissora regional da Globo
Na Plaza San Martin, em Lima
Mas a loucura não terminou em Matão. "Marianne voltou para a Inglaterra para tratar do filho, Nicholas, que tinha adoecido no navio e passado a maior parte da viagem na cabine. Assim, Mick, Anita e eu pegamos o caminho de Lima, no Peru, e daí para Cusco", relata Keith, em seu livro. No hotel, como a descarga não estava funcionando, a (gestante) Anita Pallenberg sentou-se na pia do banheiro para urinar. Prossegue Richards: "No meio da mijada, a pia desabou, caiu no chão e a água começou a jorrar de um cano enorme. Uma verdadeira comédia dos irmãos Marx". Depois de viverem mais aventuras mascando folhas de coca e assistindo o namorado gay do cônsul britânico se contorcendo em uma estranha dança no chão da casa do diplomata, Keith e Mick foram até Urubamba, uma aldeia próxima a Machu Picchu, típico "fim de mundo no meio do nada" (o blog "Andarilhos do Mundo" registraria, já em 2013: "A estação de Urubamba é bem fora de mão para a maioria das pessoas"). Segundo o relato de Keith, em janeiro de 1969 a aldeia não estava nos mapas de turismo nem dispunha de um hotel.

À imprensa peruana, os stones disseram: 'Viemos ver o efeito destruidor da cultura europeia'
Livro sobre a vinda dos Stones ao Brasil
"Conseguimos achar um bar e tivemos uma boa refeição", narra Richards, sobre um local em que, compreenderam rapidamente, ninguém fazia a menor ideia de quem eles eram. "E agora, alguma chance de dormir um pouco? No princípio, ouviu-se na sala uma porção de nãos, mas eles notaram que tínhamos um violão conosco. Cantamos para eles por cerca de uma hora, tentando apresentar qualquer coisa antiga que a gente lembrasse. Parecia que tínhamos de obter o voto da maioria para sermos convidados a dormir no local. (...) Toquei alguns trechos de 'Malagueña' e mais umas coisas que pareciam ter um tom vagamente espanhol (...) Finalmente, o senhorio avisou que podíamos ficar em dois quartos no andar de cima. Foi a única vez que Mick e eu cantamos em troca de hospedagem". Do Peru de volta para a Inglaterra, depois de tantas aventuras e desventuras, Richards e Jagger gravaram o álbum "Let it bleed" - "Deixa sangrar", sacanagem com "Let it be" ("Deixa estar"), dos Beatles -, que incluiu a versão roqueira de "Honky tonk women".

Mas faria todo sentido, ao menos pra eles, se tivessem incluído no disco a valsa tradicional "Saudades de Matão", música de João Galati e letra de Pedro Perches de Aguiar (que, quando a escreveu, residia na minha cidade natal - leia aqui). Encerro o post, abaixo, com a clássica versão gravada por Tonico e Tinoco. I know, it's only moda de viola, but I like it.



P.S.: No livro "Magical Mystery Tour" (Editora Seoman, 2005), Tony Bramwell, um dos assessores do Beatles, dá um motivo diferente para a viagem de Jagger e Richards ao Brasil. Segundo ele, a dupla estava fugindo das artimanhas do empresário Alen Klein, que já os havia enganado (e que, muito tempo depois, seria preso por crimes contra a receita federal nos Estados Unidos). Um ano após a aventura na América do Sul, quando souberam que Klein estava tentando se tornar o empresário dos Beatles, os Stones correram para alertar John Lennon. "Fiquem longe dele. Ele sacaneou a gente, cara", disse Mick Jagger, segundo Bramwell. "Tivemos que fugir para a porra de Matão para escapar", frisou Keith Richards. Bramwell conta que o guitarrista prosseguiu (os grifos são meus): "Foi lá que surgiu Honky Tonky Women. Estávamos em uma fazenda no meio do inferno em Matão, no Brasil, e havia mais caubóis do que no Texas. Eu e Mick estávamos em frente à varanda fazendo aquelas coisas de fazenda que adoro fazer. Seguimos a linha Hank Williams, bebendo caixas de Jack Black e cerveja e usando os trajes. Toquei para ele uma coisa que chamei de 'Country Honk'. Tocamos bem devagar e trabalhamos nela até que dissemos, meu Deus! Não podemos mostrar isso para os Stones. Vão rir de nós. O quê? Charlie? Bill? Nunca! Eles vão largar os instrumentos e correr para o bar. Mas mostramos. Arriscamos e talvez tenham sido as palavras, sei lá, mas eles gostaram da batida e ela ficou mais alta, mas ainda era country". Foi então que Jagger fez uma observação para Lennon que guarda muita relação com o preconceito sofrido pela música caipira em terras brasileiras: "Mas só nos Estados Unidos entenderam. Eles não se importavam. Aceitaram a música e gostaram, mas se fosse na Inglaterra, se dissesse que estava fazendo uma música country, ririam na sua cara. Ainda riem". Tony Bramwell completa: "É engraçado, mas eu ainda adoro essa música. Escrita pelos dois talentos de Dartford Kent [Mick & Keith] enquanto bebiam e brincavam de serem vaqueiros no fim do mundo, em fuckin' Matão. Este é o mundo da música".


terça-feira, agosto 04, 2015

'Podia ter um bar por aqui...'

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No programa "Espelho", apresentado pelo ator Lázaro Ramos no Canal Brasil, o mítico Luis Carlos Miele é entrevistado em um bar (veja aqui, se tiver senha de assinante) e conta sobre a época em que estava ensaiando a peça de teatro "Ménage à trois", com Rogéria e Chico Caruso, e vários de seus amigos morreram naquela época, em sequência, como Millôr Fernandes, Ivan Lessa e Chico Anysio. A série trágica fez até com que o nome da tal peça teatral mudasse para "Homenagem à trois". E, numa dessas (muitas) idas e vindas ao Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio de Janeiro, Miele encontrou o cartunista Jaguar - que, como ele, é um pé-de-cana "profissional" e "militante":

- Ô, Jaguar, a gente tá vindo tanto aqui que devia montar um bar do outro lado da rua e já ficar sentado lá, esperando o próximo enterro!

- Boa ideia, Miele! A gente abre conta e paga por mês.

- Pois é. E quando chegar nossa hora, é só atravessar a rua!

- Isso! E eu já tenho até o nome do bar.

- Qual é, Jaguar?

- SAIDEIRA.


segunda-feira, novembro 17, 2014

Revolta da Cachaça: nosso primeiro exercício de democracia

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A revolta virou até peça de teatro
No dia 8 de novembro foram completos 354 anos do estopim da Revolta da Cachaça, que o jornalista/escritor Pedro Doria considera como "o primeiro exercício de democracia do Brasil" (leia aqui). Durante cinco meses, entre novembro de 1660 e abril de 1661, o Rio de Janeiro foi governado pelos próprios nativos. Apesar de pouco lembrada ou valorizada, essa insurreição ocorreu 24 anos antes da Revolta de Beckman, no Maranhão, uma das primeiras registradas no período colonial brasileiro (leia aqui). E é extremamente sintomático que uma das primeiras revoltas brasileiras, senão a primeira, tenha sido motivada pela "marvada" cachaça...
Para ser mais preciso, o estopim foi a quebra de um acordo que envolvia a permissão da venda de cachaça. Esse acordo havia sido feito Salvador Correia de Sá e Benevides, governador do Rio naquela época, pertencente à terceira geração da família Sá no comando do território, desde o fundador da cidade, em 1565, Estácio de Sá. No início de 1659, visando obter mais recursos para reaparelhar suas tropas coloniais, Salvador instituiu uma nova taxa sobre as posses dos habitantes. Como a economia local estava em crise e a população não podia arcar com mais esse imposto, os vereadores sugeriram que, em troca, o comércio de cachaça fosse liberado.

Salvador Correia de Sá e Benevides
Assim, os cariocas teriam um novo canal de subsistência e de geração de renda. Salvador de Sá aceitou e liberou esse comércio por decreto, em 31 de janeiro de 1660. Porém, desde o ano anterior, o governo português havia proscrito a cachaça no Brasil, determinando, inclusive, que fossem destruídos todos os alambiques da Colônia, inclusive os navios que transportassem o produto. Tal medida visava proteger a produção portuguesa de vinho e de bagaceira (cachaça ibérica), que começavam a perder mercado para a "branquinha" brasileira. Portanto, ao liberar o comércio da cachaça no Rio, Salvador de Sá estava contrariando uma determinação do rei.
Rapidamente, a Companhia Geral do Comércio do Brasil forçou a revogação do decreto e a venda de cachaça voltou a ser proibida. Acontece que o governo do Rio de Janeiro não deixou de cobrar a nova taxa criada - e que só tinha sido aprovada pelos vereadores se houvesse a contrapartida da liberação do "mé". Tal situação provocou um clima geral de rebeldia na cidade (tanto pelo aumento dos impostos quanto, presumo, pela vedação do acesso à pinga). Aproveitando a insatisfação popular, os senhores de engenho do Norte da Baía da Guanabara, atuais municípios de São Gonçalo e Niterói, começaram a fazer reuniões e conspirar contra o governo de Salvador de Sá.

Cidade do Rio de Janeiro, no século XVII
A oportunidade de uma ação concreta viria no início de novembro de 1660, quando o governador do Rio fez uma viagem à São Paulo - e deixou em seu lugar um tio, Tomé de Sousa Alvarenga, encarregado expressamente da cobrança de taxas, mesmo que à força. Na madrugada de 8 de novembro, liderados pelo fazendeiro Jerônimo Barbalho Bezerra, os revoltosos atravessaram a Baía de Guanabara e, sob o toque de sinos, convocaram o povo a se reunir em frente à Câmara. Prenderam Alvarenga, saquearam as casas da família Correia de Sá e enviaram uma carta à Portugal com uma série de reclamações e acusações contra a família que mandava no Rio há décadas.

Nesse curto período, os revoltosos governaram com total apoio popular. Mas Salvador de Sá, o governador destituído que continuava em São Paulo, ainda tinha o comando da frota da Companhia Geral do Comércio. Ele aguardou que estes navios retornassem de Portugal ao Rio, para a regular coleta de produtos da Colônia, em 6 de abril de 1661, e atacou a cidade com uma tropa de índios tupis. Pegos de surpresa, os rebeldes não opuseram resistência. Muitos foram presos e enviados a Lisboa para serem julgados. O líder, Jerônimo Barbalho Bezerra, foi decapitado e sua cabeça exposta em praça pública. Salvador de Sá parecia ter retomado o poder. Só parecia...

Luísa de Gusmão liberou geral
O Conselho Ultramarino decidiu acatar muitas das denúncias dos rebeldes derrotados e destituiu Salvador de Sá definitivamente do governo do Rio. Ele teve que ir a Portugal para explicar seus excessos e a família Sá perdeu todo o prestígio e o poder político que mantinha desde a fundação da cidade. Os revoltosos condenados foram libertados. Mais que isso: ainda em 1661, a regente Luísa de Gusmão liberou a produção da cachaça no Brasil. A medida impulsionou o tráfico com Angola e a economia carioca. O comércio local continuava vedado, mas a repressão era nula. Prova disso é que João da Silva e Sousa, que governou o Rio de 1670 a 75, era o principal contrabandista.




quarta-feira, setembro 10, 2014

O maior bolo do mundo

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No próximo dia 30 serão completos 46 anos da morte do genial Sérgio Porto, cronista, escritor, radialista e compositor mais conhecido por seu pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Esses dias, tava folheando o primeiro volume de seu clássico "Febeapá - Festival de Besteira que Assola o País", publicado em 1966 (teria ainda mais dois volumes, até 1968), e me deparei com a seguinte pérola:
Era o IV Centenário do Rio e, apesar da penúria, o Governo da Guanabara ia oferecer à plebe ignara o maior bolo do mundo. Sugestão do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando soube que o bolo ia ter 5 metros de altura, 5 toneladas, 250 quilos de açúcar, 4 mil ovos e 12 litros de rum: “Bota mais rum”.

Ps.: Outra passagem magistral do livro está na crônica "A conspiração", em que Sérgio Porto resume, com fino humor carioca, como a ditadura militar tratava seus opositores:

O importante é que veio a denúncia de que havia conspiração no domicílio do Coronel. Logo uma viatura [da polícia] partiu para colocar os conspiradores a par de que o regime é de liberdade...

(A íntegra desses e de outros textos pode ser acessada clicando aqui. Evoé, Stanislaw!)


terça-feira, abril 22, 2014

Mesa de bar, encontro casual entre dois bambas. Assim nasceu um dos maiores clássicos da MPB

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Recorte do jornal 'Luta Democrática' de julho de 1976

Por CHICO NETO*

Sempre digo aos amigos que a música "Juízo Final", imortalizada na voz de Clara Nunes (veja o vídeo e a letra abaixo), não é de autoria apenas de Nelson Cavaquinho, mas sim parceria dele com um poeta desses que não receberam o devido reconhecimento da História. O poeta se chama “Seu” Élcio Soares, e frequentei muito a casa dele quando eu era criança, de uns 10 a 13 anos.

Era muito amigo do filho dele e passávamos horas brincando no quintal de "Seu" Élcio, em Sepetiba, RJ. Na época, eu não tinha a mínima ideia de que ele era da mesma cepa de craques como Cartola, Nelson Cavaquinho e outros ícones do samba e da MPB. Anos depois, já morando em São Paulo, descobri esse fato e fiquei emocionado por saber que ouvi tantas histórias desse senhor bonachão, que, se minha memória não falha, foi quem me apresentou um torresmo de porco.

Com a globalização da internet, pude retomar o contato com Naélcio, filho do "Seu" Élcio, e recebi dele o recorte de jornal que está no início deste post. Entre outras curiosidades, "Seu" Élcio diz na entrevista que "Juízo Final" nasceu de um encontro casual entre ele e Nelson Cavaquinho, no Centro do Rio de Janeiro, no final dos anos 1960.

Os dois sentaram em um bar e compuseram a música a pedido de Nelson, que já tinha a melodia na cabeça. Fico feliz de poder fazer esse registro, pois sempre considerei uma covardia só ver "Juízo Final" creditada ao grande Nelson. Fica aqui minha homenagem a "Seu" Élcio Soares, um dos grandes.

* Chico Neto, 49 (por muito pouco tempo!), é jornalista formado, publicitário por acaso, bebum, torcedor de F1 (Sennista) e, acima de tudo, Flamenguista que viu Zico, Adílio, Júnior e todo aquele timaço de 1981 jogar no Maracanã!



JUÍZO FINAL
(Nelson Cavaquinho e Élcio Soares)

O sol... há de brilhar mais uma vez
A luz... há de chegar aos corações
Do mal... será queimada a semente
O amor... será eterno novamente

É o Juízo Final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer

O amor... será eterno novamente


terça-feira, setembro 17, 2013

O melhor do Maracanã: CERVEJA!

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Novo Maracanã: a visão geral, na saída do túnel para a arquibancada, é inesquecível
Apesar do calor, a brisa gostosa do sábado, no Rio de Janeiro, convidava para um passeio noturno. Meus pais, Chico e Nair, haviam acabado de desembarcar pela primeira vez em terras cariocas. No reformulado Maracanã, jogariam Fluminense e Portuguesa pelo Brasileirão, às 21 horas. Convidei meu pai, Chico Palhares, para conhecer o estádio - onde eu também nunca tinha ido. É claro que o convite foi aceito no mesmo segundo, afinal, além de ser fanático por esportes, S.Chico é desenhista profissional e já projetou um estádio de futebol, o Taquarão, em minha cidade natal (escrevi sobre isso neste post aqui). Sua curiosidade era ver como ficou o novo Maracanã para a Copa de 2014.

Chico Palhares na frente do estádio
Chegamos em cima da hora e, quando íamos à bilheteria, três cambistas nos abordaram com aquela velha lábia de "evitar fila". Chequei os bilhetes, vi que não eram falsos (há marca d'água em alumínio e outros detalhes difíceis de reproduzir), paguei R$ 30 cada um e entramos. Olhando com atenção, notei que eram entradas "exclusivas" para sócios-torcedores do Fluminense, pelo preço unitário de R$ 10. Tudo bem, eles lucraram, nós pagamos um preço considerado justo (eu esperava pagar bem mais) e entramos rápido no estádio. Ali, S.Chico já se admirou da altura das arquibancadas e da extensa - e larga - passarela que nos levou ao nível 2, atrás do gol, onde ficaria a torcida tricolor. Havia bom público: 19 mil pessoas e 15 mil pagantes.

Na saída da passarela há bons e modernos banheiro e lanchonete. O impacto da visão geral do Maracanã, ao sair do túnel e chegar à arquibancada, é inesquecível. Não sei como era antes, mas o novo estádio impressiona, de fato. S.Chico elogiou a cobertura e os refletores. Há quatro telões gigantescos, que transmitem a partida ao vivo (mas não há replay de lances nem tempo de jogo). S.Chico só criticou o "arremate" da obra: muretas visivelmente tortas, falta de acabamento nos pequenos detalhes, enfim, resumo de um estádio reconstruído às pressas. Meu pai tem 81 anos e é do tempo em que, como ele comentou, "se é pra fazer, tem que fazer direito". Ele também reclamou da nova cadeira, dobrável - muito resistente, mas que dá dor nas costas. Após 90 minutos, também senti o incômodo.

Um dos quatro gigantescos telões
De qualquer forma, a visão do campo (e do jogo) é muito boa e, com a bola rolando, dá pra notar que a moldura do Maracanã melhora qualquer partida, por mais sofrível que seja. Nem foi o caso do jogo de sábado, no qual a Lusa partiu pra cima nos 20 primeiros minutos e, depois, o Fluminense inverteu e passou a pressionar. Quando o gol carioca parecia questão de tempo, uma bola foi alçada na área pelos paulistas e encontrou a cabeça de Diogo: Portuguesa 1 x 0. Eu e meu pai queríamos um empate, o melhor resultado para o nosso São Paulo, e por isso nossos xingamentos na hora do gol ajudaram os torcedores do Flu que nos rodeavam a pensar que torcíamos para o time deles...

No intervalo, acostumado que sou com (a ditadura nos) estádios paulistas, disse ao meu pai que ia buscar refrigerantes. Pouco antes da lanchonete, encontrei um vendedor ambulante cercado por torcedores, que vendia refrigerante e cachorro-quente (estocados em isopor). Ao me aproximar, nem acreditei: havia uma pilha de latas de cerveja! Ah, que maravilha! É incomparável assistir futebol no estádio com uma loira estupidamente gelada na mão! Voltei para perto do S.Chico e ele, franzindo a testa, perguntou: "Que refrigerante carioca é esse, que faz tanta espuma?" Quando percebeu que se tratava do bom e velho "líquido sagrado", abriu um grande sorriso. Pai e filho brindaram a visita ao Rio e ao Maracanã. O melhor do estádio, no final das contas, foi mesmo a cerveja!

É incomparável assistir futebol no estádio com uma loira estupidamente gelada na mão!
Para terminar, Luxemburgo fez duas substituições que tiveram efeito imediato e o Fluminense virou o jogo. Após o apito final, deixamos a arquibancada tranquilamente e chamou minha atenção a atitude de um adolescente tricolor ajudando meu pai a subir as escadas. Havia muitos idosos, mulheres e crianças na torcida do Fluminense, o clima era bem familiar. A dispersão na passarela flui sem problemas. Quando os cariocas começaram a gritar "Neeenseee...", comemorando a vitória de virada, S.Chico observou: "Eles estão me imitando!" E soltou seu grito tradicional para o Clube Atlético Taquaritinga: "Caaaaatêêêê..." (veja nesse post aqui). Os tricolores do Rio não entenderam nada...

Visão do campo é muito boa, mesmo atrás do gol
'CAÔ' NO TAXISTA - Na volta, pegamos um táxi. Minha esposa Patricia, carioca, tinha dito para indicar o caminho e ficar esperto, pois os taxistas costumam esticar o trajeto. Entrei no carro e caprichei no meu (porco) "carioquêisshh": "Belê, mermão? Vamo pra Copa, avenida Nossa Senhora, bem atrás do Palace. Pega Rebouças e Túnel Velho." O motorista estava ouvindo o comentário esportivo no rádio e mandou: "Eaê, foi ver o NOSSO Fluzão vencer?" Meu pai, no banco da frente, não abriu o bico. Eu, atrás, engatei a cara de pau: "Só alegria! Fluzão mandou bem!" Aí o cara animou na conversa e falou bem de uns jogadores, mal de outros - e eu confesso que nunca tinha ouvido falar de muitos deles... Forçando o sotaque carioca, critiquei o Luxemburgo, que devia ter começado o jogo com a formação que terminou, logo de cara, e o lateral Carlinhos (que jogou mal e que é realmente odiado pelos tricolores cariocas que eu conheço). E ainda "intimei": "Aê, amanhã é torcer pro Vasshhco vencer o São Paulo!" O taxista concordou com tudo e, feliz com o passageiro "torcedor" de seu time, seguiu direitinho até o nosso destino. Depois da corrida, S.Chico riu muito.

O filho brindando com o pai, aquele que o ensinou a gostar de futebol: 'Saúde e vida longa!'

segunda-feira, setembro 16, 2013

4-4-2 de emergência e vitória muito importante

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Sem o volante Denílson, expulso no jogo contra a Ponte Preta, Muricy Ramalho passou Rodrigo Caio para o lugar dele e jogou com dois zagueiros na partida de ontem. Mas, dessa vez, preferiu deslocar Paulo Miranda para a lateral-direita e testar Rafael Tolói como companheiro de Antônio Carlos na zaga. O resultado foi que, assim como ocorria nos tempos de Paulo Autuori e Ney Franco, o time tomou sufoco pelas laterais e o ataque não criou a mesma enxurrada de finalizações como havia feito no jogo anterior. Mas, como "se não tem tu, vai tu mesmo", o time acertou a marcação e a saída de bola no meio, com Ganso e Maicon (dupla que vai se firmando) e conquistou o 2 a 0 em bolas paradas, depois de dois escanteios batidos por Jadson.

Aos 30 da primeira etapa, a bola encontrou a cabeça de Rodrigo Caio e morreu nas redes vascaínas; e, aos 24 da etapa final, o goleiro Diogo Silva errou ao rebater para trás e o zagueiro Antônio Carlos só empurrou para o gol. Vale destacar que o escanteio, no segundo gol, saiu de uma finalização errada de Luís Fabiano após excelente contra-ataque puxado por Welliton. Ou seja, além de dar opções táticas (3-5-2 ou 4-4-2) e técnicas (bolas paradas quando o ataque não funciona) ao time, Muricy também recupera atletas para posições carentes, como a lateral-direita (testou Caramelo) e a ponta-esquerda (Welliton). Assim, o São Paulo vai ganhando cara de "time", algo que não ocorria desde dezembro.

Muricy já adiantou que, contra o forte Atlético-MG, no Morumbi, retornará ao 3-5-2 (Denílson volta como volante e Rodrigo Caio vai para a zaga). É correto. A defesa fica mais protegida e o ataque, mais solto. Maicon merece a titularidade.


Bom, no frigir dos ovos, o que importam são os três preciosos pontos trazidos do Rio de Janeiro. Li em algum lugar que, no segundo turno, o São Paulo precisaria de 27 pontos para escapar do rebaixamento - o que, somados aos 18 pontos do primeiro turno, completaria 45 pontos, um limite mais ou menos salvador. Se essa conta for procedente, já matamos seis pontos e precisaríamos ainda de 21: sete vitórias ou, em outra hipótese, seis vitórias e três empates nos 17 jogos restantes (o que deixaria uma boa margem para oito derrotas, quase o mesmo número do primeiro turno). É uma campanha plausível. Porque será difícil evitar derrotas jogando fora de casa contra o líder Cruzeiro, o forte Atlético-PR, Internacional, Goiás e Santos, por exemplo (afinal, todos nos venceram dentro do Morumbi).

Dentro de casa, também, não será uma zebra perder para o Botafogo. Por isso, vou fazer aqui os palpites das seis (possíveis) vitórias e de três (possíveis) empates que poderiam salvar o São Paulo da Série B e consagrar de vez Muricy Ramalho:

Vitórias
São Paulo x Grêmio (29/09)
São Paulo x Vitória (06/10)
São Paulo x Náutico (16/10)
Bahia x São Paulo (20/10)
São Paulo x Portuguesa (03/11)
São Paulo x Flamengo (13/11)

Empates
São Paulo x Corinthians (13/10)
Fluminense x São Paulo (17/11)
Criciúma x São Paulo (01/12)

Sim, o exercício de "futurologia" ou "palpitologia" pode dar completamente errado, com derrotas (e vitórias) inesperadas. Mas não acho que seja uma campanha tão impossível. Sonhar não custa nada... Vamo, São Paulo!

quarta-feira, junho 05, 2013

Pinceladas cariocas - O embate RJ x SP no Brasileirão

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por Enrico Castro

Wellington e Carlinhos: fora do Flu?
Chegamos à terceira rodada do Brasileirão e, apesar do campeonato ainda estar em estágio embrionário, seria possível fazer algumas previsões, não fosse a temida janela de transferência para Europa, que, começando por Neymar, já está sacudindo os bastidores de diversas equipes. Só para citar alguns dos clubes que terão suas equipes enfraquecidas, o Fluminense pode ser devastado com as possíveis saídas de Wellington Nem, Carlinhos e Samuel, enquanto o Botafogo pode perder Jefferson e Dória, este para o Cruzeiro. O Atlético-MG já está se despedindo de Bernard, o Corinthians deve negociar Paulinho, Internacional pode vender Damião, e o Grêmio deve ficar sem Fernando. 
Flamengo iniciou 'sequência carioca' em 2009
A verdade é que, mesmo com baixas sensíveis, estas devem ser as equipes que não farão apenas papel de figurantes em 2013. Particularmente, aposto nos times do Rio de Janeiro, que vêm mostrando sua superioridade nos últimos anos, com três títulos contra apenas um de São Paulo. Por falar em quantidade de títulos, abro aqui um parêntesis para dizer que vou restringir a comparação feita nesta dissertação a RJ e SP. Esta área de abrangência faz-se necessária em razão dos demais estados estarem há anos luz de distância no que tange à quantidade de títulos brasileiros. Os únicos que interrompem a dobradinha RJ/SP e fazem alguma graça a cada 10 anos são os times de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com três e cinco títulos, respectivamente. Títulos de times dos demais estados acontecem com menos frequência que a passagem do cometa Halley pela órbita da Terra. 
Jornal paulista noticiando conquista do Santos após disputar 4 jogos
Apesar do RJ levar vantagem recente, historicamente SP leva a melhor. Se considerarmos apenas a era pós 1971, os times de Sampa conquistaram 18 títulos, enquanto os cariocas levantaram 13 canecos (maldito Bangu, que perdeu nos pênaltis a decisão para o Coritiba em 85...). Entretanto, se levarmos em conta a nova regulamentação da CBF, que passou a considerar campeão brasileiro todo e qualquer time que tenha vencido um torneio nacional meia-boca entre 1959 e 1970, onde em algumas ocasiões o “campeão” precisou disputar apenas quatro partidas, a diferença aumenta: SP 28 x 15 RJ. Sejam honestos, “paulistada”! Equiparar um título conquistado no atual formato do Campeonato Brasileiro com os do século passado, listados abaixo, é uma afronta! 
1960 – Palmeiras (quatro jogos, três vitórias e um empate) 
1963 – Santos (quatro jogos, quatro vitórias)
1964 – Santos (seis jogos, cinco vitórias e um empate)
1965 – Santos (quatro jogos, três vitorias e um empate) 
1966 – Cruzeiro (oito jogo, sete vitórias e um empate)
Guarani, primeiro time do interior a vencer o Brasileirão, há 35 anos
Estes torneios deveriam, no máximo, com muita boa vontade, terem a equivalência de uma Copa do Brasil. Se assim fosse, a diferença entre RJ e SP seria reduzida. Placar moral: SP 24 x 15 RJ. No duelo entre capitais, onde seriam descartados os títulos de Santos (8) e Guarani (1), o jogo está empatado: SP 15 x 15 RJ. Confesso que comecei a simpatizar com a visão por este prima. E para ratificar minha aposta nos times do RJ para este ano, apesar de ainda ser cedo, basta olharmos a tabela de classificação. Temos dois cariocas e um paulista no G4, sendo que o Fluminense tem um jogo a menos, tendo portanto a possibilidade de se tornar líder. Enquanto isso, na outra ponta da tabela, temos um paulista e nenhum carioca no Z4. Mero acaso?
Enrico Castro é tricolor (do Rio!), analista de sistemas, servidor público. Entende tanto de futebol que tem certeza que o Dimba (aquele mesmo do Goiás, Botafogo e etc) é um craque e brilharia na Champions League. Não é preciso dizer mais nada.

quarta-feira, maio 22, 2013

Pinceladas cariocas - Sem time, sem estádio ou sem nada

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por Enrico Castro

Prêmio de Fellype foi beijinho de Seedorf
Enquanto diversos estaduais consagravam seus campeões, no Rio de Janeiro, que já havia decidido a fatura há algum tempo, ocorreu a premiação dos melhores (melhores?!?!?) do Cariocão 2013. E o campeão Botafogo, sem surpresa, emplacou 7 jogadores na tal "seleção", entre as 10 indicações que teve. Fellype Gabriel, único dos titulares do alvinegro que não recebeu indicação, ficou revoltadinho e se recusou a comparecer à premiação. A outra ausência “sentida” foi do elenco do Fluminense, que não deu as caras por causa da (retrógrada) concentração para o jogo contra o Olimpia-PAR, válido pela Libertadores. A atitude tricolor motivou o chilique de Rubinho, presidente da FERJ, que em seu discurso fez questão de agradecer 15 dos 16 clubes participantes - e mais tarde, em entrevista, disse que o time de Abel Braga desprestigiou a competição com a utilização de jogadores reservas. 
Abel imita Zagallo: 'Que empate o melhor!'
Pergunta: que clube, em sã consciência, arriscaria a integridade física de seus jogadores titulares (diga-se de passagem já muito dados às lesões musculares) a disputar partidas infames em gramados que mais parecem campos minados, contra times que não fazem frente nem à seleção dos metalúrgicos do ABC, precisando jogar, paralelamente, o torneio mais importante do continente? Aliás, falando em Libertadores, Abel Braga, o "motivador" (técnico é quem treina!) com maior renda mensal que se tem conhecimento no mundo do futebol, soltou mais uma pérola ao comentar o fato do Flu iniciar no Rio de Janeiro a disputa pelas quartas-de-final: "Prefiro empatar em 0x0 em casa do que vencer por 2x1". O que passa na cabeça de uma pessoa dessas? O autor de uma asneira deste tamanho não deveria estar nos campos de futebol, mas sim no Senado Federal 
Vascaínos 'lotaram' estádio para ver o Tupi
Na semana passada, recebi o seguinte e-mail abaixo do amigo Luiz Otávio Filho, leitor da coluna, cruzeirense e morador de Juiz de Fora, cidade onde os clubes cariocas deverão mandar vários de seus jogos nos próximos meses: "(...) Com relação ao amistoso do Vasco contra o todo poderoso Tupi, embora a imprensa carioca tenha noticiado a partida como sucesso de público e renda, superando a média de público do estadual, por aqui o jogo foi tratado como decepção pelos organizadores uma vez que o estádio tinha capacidade para receber 19.000 torcedores e recebeu menos de 9.000. Para o jogo do Flamengo pela Copa do Brasil, o Estádio Municipal Radialista Mário Heleno teve sua capacidade ampliada para 31.000 lugares, já que é jogo de torcida única (desconheço qualquer torcedor do Campinense em JF, aliás, no mundo). As exigências do Corpo de Bombeiros foram atendidas. Filas estão sendo formadas para compra dos ingressos no centro da cidade, mas não acredito que passe dos 15.000 o número de pagantes. Nesse jogo observadores do Fluminense estarão presentes no estádio para verificar as condições do campo e das instalações para que o Flusão mande seus jogos por essas bandas. Já adianto que o campo está em perfeitas condições para receber partidas do mais alto nível de futebol... de praia." Ou seja: uns não têm time, outros não têm estádio, alguns não tem time nem estádio! Que Deus tenha piedade dos cariocas no Brasileirão 2013... 
Neymar: montado no dinheiro
Por fim, em razão do espaço já utilizado nesta coluna, fico impossibilitado de comentar a pesquisa realizada pela Pluri, empresa de consultoria esportiva, que decretou algo que todos já sabíamos: o Neymar sozinho vale mais que o elenco inteiro do Botafogo, e também mais que o do Flamengo, bem como o do Vasco. Pensando bem, melhor não fazer qualquer comentário, mesmo.

Enrico Castro é tricolor (do Rio!), analista de sistemas, servidor público. Entende tanto de futebol que tem certeza que o Dimba (aquele mesmo do Goiás, Botafogo e etc) é um craque e brilharia na Champions League. Não é preciso dizer mais nada.