André: bem de amigo (Ricardo Saibun/ Santosfc.com.br)
Um passe de calcanhar
errado que aparentava mais displicência do que técnica. Uma bola
mal dominada, outro passe errado, um carrinho à toa que o torcedor
prevê que vai acontecer quando o jogador começa a correr. Cartão
amarelo. Tudo indicava que a escolha de Muricy em colocar André ao
lado de Neymar era um erro.
Só que Neymar é amigo de
André. E deu um presente ao parceiro, uma assistência precisa para
o avante que, mesmo caindo, finalizou em frente ao goleiro Marcelo,
aos 25. Prometeu retribuir o passe para o companheiro, que está esperando até agora. Neymar, em 14 jogos pelo Paulista, marcou doze gols e fez seis assistências.
Àquela altura, a partida estava movimentada, com domínio
peixeiro, e o time da Vila não sofria pressão do rival, que
precisava ganhar para assegurar seu alugar no G-8 sem depender de
ninguém. Tal vantagem técnica foi consolidada com o segundo tento
alvinegro, do vice-artilheiro da equipe Cícero, em posição pra lá
de irregular, três minutos após o primeiro gol.
Mas, pra variar, o que
se vislumbrava como um jogo fácil, ficou menos simples. O
Penapolense voltou para a segunda etapa explorando os lados do campo.
Galhardo, que já havia sofrido com Silvinho e Rodrigo Biro caindo do
seu lado, ficou mais preso atrás, com Arouca fazendo as vezes do
lado direito do ataque. A mudança só evidenciou como o Santos acaba
jogando com seus atletas estáticos durante boa parte do tempo: quem
ataca, ataca; quem defende, defende; cada um confinado no seu setor. Acontece
com muitas equipes no Brasil, mas tem acontecido demais com o Santos.
E Galhardo, o Nelinho por cinco segundos, acabou desviando uma bola que ia para fora e
marcou o gol que foi atribuído a Guaru. Os visitantes ainda buscaram
a vitória e se arriscaram nos contra-ataques que o Santos não
converteu em gol, com Neymar errando bastante. Perto do fim, o gol do
Mirassol contra o Linense aliviou a equipe de Pintado, que pega o São
Paulo nas quartas de final. Já o Peixe enfrenta o Palmeiras, no dito
“clássico da saudade”.
Santos e Palmeiras
disputam amanhã o chamado “clássico da saudade”, referência ao
confronto que era um dos maiores do país na Era de Ouro do futebol
nacional, a década de 60. E, pelos desfalques de cada um e pelo que
os times vêm jogando, deve sobrar saudades mesmo. O Santos não vai
poder contar com Neymar e Montillo, em suas respectivas seleções,
além de Emerson Palmieri, Patito Rodríguez, Marcos Assunção e
Felipe Anderson. Do outro lado, o técnico Gilson Kleina do Verdão
não vai contar com Henrique, Vilson, Leandro Amaro, Souza, Valdivia,
Maikon Leite e Kleber.
Mas o clássico tem história, e é nela
que se pode confiar para que um bom jogo aconteça amanhã. A
primeira partida entre os dois data de 3 de outubro de 1915 e foi
realizada no Velódromo de São Paulo. Goleada alvinegra sobre o
então Palestra Itália por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca,
dois de Anacleto Ferramenta, um de Aranha e outro de Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol oficial da história do Santos. O
Verdão devolveria a humilhante goleada em 1932, com um 8 a 0 em uma
peleja na qual o Peixe terminou com nove jogadores, com dois gols de
Romeu Pelliciari, dois de Imparato III, além de anotações de Lara,
Sandro, Avelino e Golliardo.
Desde aqueles idos
tempos, foram diversos jogos entre os dois, alguns eliminatórios e
muitos que decidiram títulos mas que não eram finais propriamente
ditas, com exceção das partidas extras que definiram o chamado
supercampeonato paulista de 1959, com vitória do Palmeiras (ver
abaixo).
Abaixo, algumas das
partidas memoráveis desses dois gigantes do futebol:
Santos 7 X 6
Palmeiras (Rio-São Paulo de 1958)
Talvez a partida mais
emocionante entre os dois clubes e uma das maiores da história.
Dizem que cinco infartos ocorreram por conta daquela peleja, com três
reviravoltas no placar. No Pacaembu, 43.068 viram Urias marcar o
primeiro tento do jogo aos 18 minutos. A reação peixeira não
tardou e o menino Pelé, 17 anos, empatou para Pagão virar, aos 25.
Nardo empatou somente um minuto depois e o que se viu a partir daí
foi um atropelo santista até o final do primeiro tempo.
O time palmeirense era
inferior tecnicamente a uma equipe que tinha uma linha ofensiva
espetacular: Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe,
responsáveis pela histórica marca de gols no campeonato paulista de
1958. Foram 143 tentos em 30 partidas, 58 só do adolescente Pelé.
Após o empate, Dorval, Pepe e Pagão fizeram 5 a 2 ainda nos
primeiros 45 minutos.
Nesta matéria
do Esporte Espetacular, Zito conta que desceu para o vestiário
dizendo que eles tinham que marcar o maior escore da história, e
Pepe conta que o bicho, pago à época com o dinheiro da renda da
partida, já estava sendo separado para os atletas santistas. Mazzola
recorda que o goleiro Edgar chegou chorando ao vestiário, se
recusando a voltar para a etapa final. Oswaldo Brandão colocou Vitor
e o Palmeiras voltou outro depois do intervalo.
E em 18 minutos, um
motivado Verdão virou a partida pra cima do Peixe com Paulinho, de
pênalti, aos 16; Mazzola, aos 20 e aos 28, e Urias, aos 34. Um 6 a 5
que parecia sacramentar uma reação impossível, mas o impossível
não queria descansar naquela peleja. Pepe voltou a empatar aos 38,
de cabeça, e, aos 43, consolidou a última virada da partida.
Palmeiras 2 X 1
Santos (Campeonato Paulista de 1959)
O campeão Américo delira com o peixe (Palestrinos)
Como as duas equipes
haviam empatado na liderança ao fim do campeonato, foi necessário
decidir o título em uma melhor de quatro pontos. A série foi
iniciada em janeiro de 1960 e, depois de dois empates no Pacaembu nos
quais o time da Vila não contou com Jair e Pagão, no terceiro
confronto no mesmo estádio o Verdão faturou a taça. O jogo teria o
recorde de renda da história do Paulista até ali, com mais de três
milhões de cruzeiros arrecadados.
O 2 a 1 alviverde teve
gols de Pelé, Julinho e Romeiro e o Verdão saía de uma fila de
quase nove anos sem conquistar títulos, algo que incomodava a
torcida à época. O destaque do jogo foi o meia Chinesinho, que
havia chegado ao Palestra em 1958, vindo do Internacional, em uma
das transações mais caras do futebol de então. Mais tarde, foi
vendido ao Modena, da Itália.
Santos 2 X 2
Palmeiras (Copa do Brasil 1998)
O Santos não
conquistava títulos importantes desde 1984, mas vinha batendo na
trave após recuperar a sua autoestima no Brasileiro de 1995. Aquele
ano confirmaria o retorno santista às disputas de título, com o
time do técnico Emerson Leão terminando em terceiro lugar em três
competições: Brasileiro, Rio-São Paulo e Paulista, além de ter
vencido a Copa Conmebol.
A conquista que geraria outra
Já o Palmeiras de
Felipão era um time moldado à sua feição, com a dupla Paulo Nunes
e Oséas à frente e Alex e Zinho no meio, guardados por Galeano e
Rogério “Pedalada”. Após um empate em 1 a 1 no Parque
Antárctica, o Verdão passou à final contra o Cruzeiro com um 2 a 2
na Vila Belmiro, se classificando pelo critério de gols marcados
fora de casa. Marcaram para o Santos, que saiu da competição
invicto, Viola e Argel; para o Palmeiras, Oséas e o ex-santista
Darci. O título daquele torneio assegurou aos palmeirenses a vaga
na Libertadores do ano seguinte, quando se sagraram campeões
pela primeira vez.
Palmeiras 2 X 3
Santos (Campeonato Paulista de 2000)
Gol não tão bonito, mas precioso
Sem chegar a uma final
de Paulista havia 16 anos, o Santos disputava a segunda partida da
semifinal no Pacaembu contra o forte Palmeiras. Na primeira peleja,
no Morumbi, o Verdão chegou mais perto da vitória, mas um então
jovem Fábio Costa evitou que a partida saísse do zero a zero.
A segunda partida
também foi no estádio da Zona Sul e o Alviverde, que tinha a
vantagem do empate, conseguiu se impor ao marcar com Argel, aos 32 do
primeiro tempo, e Euller, aos 8 da etapa final. Aquela partida
disputada pela manhã, contudo, se tornaria histórica para os
santistas.
Com uma bela
finalização, Eduardo Marques diminuiu para o Peixe aos 23 e
Anderson Luiz empatou aos 32. O Palmeiras recuou buscando manter o
empate que lhe bastava e o Santos partiu para cima, sem muita tática
ou técnica. E, após um cruzamento de Robert, Claudiomiro dividiu
com Marcos e cabeceou para o gol, com a bola ficando limpa para Dodô,
caído, marcar o gol da virada. O Peixe do técnico Giba chegava à
final, a qual perderia para o São Paulo.
Santos 2 X 1
Palmeiras (Campeonato Paulista de 2009)
Fez a diferença o baixinho (Nilton Fukuda/AE)
O Palmeiras era
favorito nas semifinais do Paulista, havia feito a melhor campanha na
primeira fase, e o Santos era uma equipe em formação. Vágner
Mancini já aproveitava Paulo Henrique Ganso como titular e tinha
promovido naquela competição a estreia de Neymar como profissional.
A equipe de Vanderlei
Luxemburgo havia perdido a primeira
na Vila por 2 a 1 e saiu perdendo também no Parque Antarctica
logo aos 17, com Madson, um dos destaques daquela noite, marcando
para os santistas. No segundo tempo, Mauricio Ramos fez pênalti em
Neymar, sendo expulso, algo não muito incomum para o atleta. Kléber
Pereira converteu e a vantagem peixeira se ampliou.
O Verdão ainda
respiraria com um gol de Pierre, uma
falha monumental de Fábio Costa. A peleja teria ainda a
inusitada confusão entre Diego
Souza e Domingos, resultando na expulsão dos dois. O Santos foi
à final, mas perdeu a decisão para o Corinthians.
Santos 3 X 4
Palmeiras (Campeonato Paulista de 2010)
O coreógrafo Pablo Armero
Esse jogo já foi tema
de post aqui
e aqui.
O Santos vinha embalado com o belo futebol jogado pelo time de
Dorival Junior. Antes desdenhados pelo antigo técnico Vanderlei
Luxemburgo, Neymar e Ganso começavam a se destacar, ladeados por
Robinho e tendo como coadjuvantes André, Marquinhos e Wesley.
Pará fez o primeiro
aos 10 e Neymar fez aos 30. Dava pinta de que poderia ser uma goleada
alvinegra e o Peixe desperdiçava chances até que o aguerrido
Palmeiras empatou ainda na etapa inicial com dois gols de Robert,
feitos em dois minutos, aos 41 e 42.
No retorno, o Alviverde
conseguiu a virada com um gol de Diego Souza. Madson empatou aos 35
mas, em seguida, o time da casa ficou com um jogador a menos, Neymar
foi expulso depois de falta dura em Léo.
A (re) virada
fantástica palmeirense veio mais uma vez com Robert, que aproveitou
falha no meio de campo de Arouca e definiu a vitória. Mas o destaque
da peleja foi o lateral Pablo Armero dançando o que ficaria
conhecido mais tarde como “Armeration”,
uma resposta aos santistas que comemoravam seus gols com dancinhas à
época.
Na última
partida entre os dois, pelo Brasileiro de 2012, o Santos levou a
melhor: 3 a 1, em noite de homenagem a Joelmir Beting.
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