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terça-feira, dezembro 25, 2012

Nós estávamos todos lá

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Não podia haver melhor oportunidade para a inauguração do novo estádio do Corinthians, ao extremo leste de São Paulo. Parece que foi ontem... ou foi ontem? Foi ontem mesmo, eu estava lá, junto com mais de 30 milhões de gaviões, na maior lotação de um estádio da história da humanidade. Antes, já tinham lotado o terminal, com samba, suor e cerveja, para ir ao jogo. Depois, a vitória magra sobre o Al Ahly foi uma dose de má cachaça na fuça dos jogadores – ou mesmo a derrota pros reservas do São Paulo. A final seria em casa, mas contra o perigosíssimo São Caetano. 

Corinthians e São Caetano jogam parecido, diz-se, mas se o primeiro é tido como uma equipe sem estrelas, o segundo tem craques de várias seleções, como a inglesa ou a brasileira. O Azulão chegou ao mundial armando uma retranca furiosa contra o invencível Barcelona. O Corinthians venceu o tradicional papão Boca Juniors com um gol urdido por seu maior símbolo, o imortal Sócrates. 

Pouca gente conhece essa história. Quando o Corinthians foi fundado, em 1910, um palmeirense muito poderoso leu o futuro nas tripas de um porco morto na segunda lua minguante do ano (uma segunda-feira), e proferiu a seguinte maldição: “Só um grande líder grego levará os Corintos a dominarem o continente. Ele terá a sua chance, se falhar, legará as trevas aos seus descendentes”. Quando Sócrates chegou ao clube, os conhecedores da profecia sabiam que ele era o ungido. Sócrates lançou sua luz muito além dos gramados, falou a todos de seu tempo e ganhou o Brasil com uma mensagem de igualdade e democracia. Conquistou um lugar único na história do país, mas não um título nacional. 

Os anciãos corintianos não tinham dúvida: o tempo passara. Não podiam dizer isso aos mais novos, mas o Corinthians jamais seria campeão da América. A morte de Sócrates antes mesmo da partida final do Brasileiro de 2011 veio como um luto profundo para toda a nação.

Naquela noite sonhei com um dos profetas corintianos mais poderosos que conheci: o velho Diógenes Budney me apareceu com o seu sorriso calmo, fumava um cigarro feito a mão, ergueu a sobrancelha e apontou com o nariz para um lugar atrás de mim, voltei-me, e vi o Magrão aquecendo, cabeceando a bola que um companheiro lhe lançava. Um sentimento de paz onírica me tomou. Corta para o profeta Diógenes, que pronuncia “um simples estrogonofe não atingiria o Doutor”. Acordei angustiado. 

O Timão levou o título nacional e qualificou-se para a Libertadores 2012. Os jogos foram se sucedendo sem que o time perdesse. Era questão de tempo. O time esteve a ponto de cair diante do Vasco e do Santos, mas ultrapassou todos os adversários e enfrentaria o grande carrasco dos times brasileiros, o terrível Boca. Na Bombonera, o menino Romarinho marcou em jogada que passou pelos pés de Paulinho e Emerson, o Sheik, e o resultado foi um empate. No Pacaembu, bastava tomar um gol para o sonho acabar, e ele fatalmente viria. 

Até que surgiu uma falta próxima da lateral direita no ataque corintiano. Parecia ser uma jogada ensaiada: Alex bateu na cabeça de Jorge Henrique, que pelo jeito deveria cabecear pra trás, jogando a bola no centro da área. Foi quando aconteceu o milagre. JH até que cabeceou direitinho, mas a bola estranhamente subiu demais, saiu da tela, atraída por flagrante antigravidade. Dá pra ver no vídeo que um facho de luz desceu junto com a pelota, desviando a parábola, ela foi parar fora da pequena área. Danilo se viu obrigado a buscar a bola de costas para a meta boquense, mas naquele momento ele já era apenas um veículo, um cavalo para que o gênio de Sócrates se manifestasse uma última vez, deu o calcanhar perfeito que colocou na cara do gol o Emerson (até esse momento eu não tinha reparado como ele é a cara do Casagrande), que pôs pra dentro. 

Ele estava lá, e se manifestou para nós. 

Um arrepio correu meu corpo, revi o sorriso do velho Budney, tudo ficou claro: Sócrates precisou morrer para poder jogar a final da Libertadores. A maldição está quebrada, o Corinthians é campeão da América. 

Os profetas corintianos que consultei não souberam ou não quiseram ou não podiam me dizer nada sobre a final do Mundial contra o São Caetano. A opção estratégica de Tite foi clara: remontar o time da final da Libertadores. Um time guerreiro, coeso, que dificilmente toma gols e que é capaz de atropelar qualquer adversário. Mais que isso, um time iluminado, que teria ao seu lado 86.767 mães e pais de santo, além de padres, pastores, pajés, sacerdotes de todos os credos. Em campo, o Timão faria uma parte, mas de nada valeria sem a adequada configuração astral, sem o alinhamento dos planetas, o mesmo que segundo profetas de outros setores reconhecidamente levaria ao propalado fim do mundo. A maneira de evocar essas forças seria recolocar as peças em consonância com as estrelas: sim, Jorge Henrique tinha que entrar. 

Apesar de disputar em igualdade o território, o São Caetano criava chances muito mais perigosas que o Corinthians. Cássio foi o salvador, muito por suas qualidades de goleiro, mas muito também por sorte, pois alguns tiros, se desferidos sem nervosismo, fatalmente entrariam. 

Foi o calcanhar de Paulinho que evocou o Doutor dessa vez, novamente a cabeça de Jorge Henrique toca a bola, Paulinho cruz a área, Danilo toma a bola e chuta mascado, ela sobra para a cabeça de Paolo Guerrero. Um gol do Peru, um gol de Natal, um gol presente, gol de renovação.  

Em noite de São Jorge, gol do Guerrero. 

Gol de São Jorge.  

O Corinthians é bicampeão do mundo. Desta vez, foi campeão passando pela Libertadores. 

Um mundo acabou ali. O próximo mundo, que começou agora, é corintiano.  

quinta-feira, julho 05, 2012

Vai, Corinthians! Campeão invicto da Libertadores 2012

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São 2h26 e as buzinas não param de tocar. Meu irmão manda uma mensagem, amigo liga de Junqueirópolis. Na Augusta, o grito ecoa, como ecoou o dia inteiro. Inescapável. Em todo lugar se ouviam os rojões e a inevitável frase. Vai, Corinthians.

E viemos. Invictos por um longo caminho, que passou pelo golaço de Ralph na estreia. Pelo gol de Paulinho (monstro!) e pela defesa de Cássio contra o Vasco. E pelo campeão anterior, que conta com o melhor jogador do hemisfério. Perdeu em casa, com direito a golaço.

Em todas as etapas, novo desafio. "O desastre do Tolima", "O trauma das oitavas", "nunca venceu um campeão de Libertadores", "nunca venceu um tricampeão da Libertadores", "nunca venceu um hexacampeão da Libertadores". É.

Corinthians tem dessas. Minha mãe sempre fala: "Corinthians, quando só precisa do empate é que perde". Pois nessa, como em outras, foi sempre o patinho feio. Favorito, só contra o Emelec. Melhor assim, pelo jeito. Pessoal gosta mesmo é de subverter expectativas.

Meu maior medo era o Santos, confesso. Ou ainda, Neymar, em uma equipe com mais organiação coletiva que no ano passado.

No dia, a caminho do almoço, um amigo palmeirense perguntou para o companheiro Glauco e eu "como estava a ansiedade". Os dois concordamos: "estou tentando não pensar no jogo, para poder pensar em outra coisa". Foi quase impossível, no entanto.

Aqui, minhas críticas constantes ao estilo retranqueiro do time comandado por Adenor Tite já tinham ido para o espaço. A partir do primeiro jogo contra o Santos, a imagem que melhor descrevia meu espírito nerd-alvinegro era o discurso do rei Theoden, no terceiro episódio do Senhor dos Anéis:

"Levantem-se! 
Levantem-se Cavaleiros de Theoden! 


Lanças se agitarão, escudos se partirão! Um dia de espadas! Um dia vermelho até que o sol nasça!


Cavalguem... Cavalguem... Cavalguem! Cavalguem pela ruína e pelo fim do mundo!


Morte! Morte!"

Aqui, amigos, era guerra. Até o fim do mundo.

Na Vila, um primeiro tempo impecável, sem deixar o anfitrião ver a bola. Coroado com o golaço de Sheik, homem para se contar nas horas difíceis. Na volta, empate e classificação.

E vencemos, pois. Aquele que é de fato - ainda que não mais de direito - o melhor time das Américas.

No outro jogo, disputavam Universidade de Chile, de seguidas participações positivas no torneio, sempre exaltado por seu futebol ofensivo e efetivo, e ninguém menos que o famigerado Boca Juniors. O temido Boca, morador da abissal Bombonera, senhor das terras de América durante a maior parte dos últimos anos, hexacampeão do torneio, ansioso por destronar seu compatriota Independiente e sagrar-se campeão absoluto do certame.

Meu cerérebro via uma disputa equilibrada. De resto, não havia em mim nenhuma sombra de dúvida de que nosso adversário na final seria o Boca.

Primeiro jogo na temida Mordor dos times brasileiros, que já havia tragado Palmeiras, Grêmio e Santos na final do campeonato continental. La Bombonera.

Um jogo pegado (Morte!) e sem grandes chances para nenhum dos lados, com um Corinthians errando passes demais. Num escanteio, o medo. O único momento em que o Corinthians esteve eliminado no torneio. Um a zero Boca, e as sombras se estendiam.

Mas rapidamente, eis que surge um jovem vindo do banco de reservas. Romarinho, nome ilustre, recebe passe de Emerson, o Sheik, e não pisca. Toquezinho de leve por cima do goleiro. Herói improvável. A batalha final será em casa.

Passo a semana inteira tentando manter afastado o jogo. Até chegar ao dia, à fatídica quarta-feira. Já de manhã, fogos estão no ar, cada pipoco lembrando o que virá de noite. O colega Valdemar, porteiro do prédio, manda um "é hoje". Subindo a rua, as camisas vão surgindo, ocupando a paisagem.

Chegamos então ao começo desse texto.

Era inescapável. Pela janela do trabalho, pela internet, na hora do almoço. O grito estava lá. "Nossa bandeira vai cobrir toda a cidade", disse a Gaviões. Acertou. A cidade era nossa.

No fim do dia, voltando para casa, as camisas estão em todos os lados. O grito, sempre ele, surge de sabe lá onde. Uma bomba explode na descida da Augusta e um corintiano manda lá o grito, complementado por um "susto da porra!" Quem soltou a dita bomba, diga-se, foram quatro outros alvinegros.

Não há como manter a mesma tensão, o mesmo preparo das semifinais. Dane-se que é o Boca. Aqui, o estádio é nosso, a torcida é nossa. A cidade é nossa.

Controlo a sensação, espanto o "já ganhou". Mas a vida na cidade é linda demais para se ignorar. Liga meu pai: "se tudo der errado, essa festa já está maravilhosa".

"Neste dia, nós lutamos!", resumiu Aragorn, na batalha final do supracitado Senhor dos Anéis. E lutamos. Com menos erros de passe que na Argentina, não deixando grande espaços para o Boca e controlamos o jogo.

Dias antes, um amigo havia dito: "Não quero emoção! 1 a 0 no primeiro tempo, 2 a 0 no segundo e a gent comemora!" Não aconteceu. Primeiro tempo em branco, e começo a pensar em prorrogação, em pênaltis.

Então, eis que surge, já na segunda etapa, Emerson, o Sheik, o Saladino. Recebe passe de calcanhar de Danilo (salve, Doutor!) e chuta para o gol. Gol. A quantidade de palavrões que a leitura labial permite não expressa minha sensação.

O segundo vem de bola roubada, também por ele, este salteador dos desertos. Roubou, correu e meteu no canto. 2 a 0. Em cima do Boca. Na final da Libertadores.

.......

São 4h21 da manhã e as buzinas não param. O grito, inescapável, não pára, não pára, não pára. "Vai, Corinthians!", grita toda São Paulo. De Mauá, meu pai liga: "Ver esse time ganhar é muito bom, porque não só eu fico feliz, mas toda essa gente fica feliz". Meu Timão nunca parou de lutar e venceu.

"América, bem vinda à favela", disse faixa levada pela torcida. Nada mais justo.

PS.: Merece destaque aqui a impresionante mostra de convivência pacífica e democracia dada pela minha amada santista Débora, com quem assisti aos dois jogos das semifinais. Sem zombaria, sem xingar jogador do adversário, sem gritar gol na cara do outro. Episódio para guardar.

PPS.: Agradecemos a compreensão pelo misticismo exacerbado do último período. Valeu a pena, vá!



* Foto do pessoal do Impedimento, tem outras muito boas aqui.

quinta-feira, junho 28, 2012

Só para secadores: sete motivos para acreditar e torcer para o Boca

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O primeiro jogo da final da Libertadores da América ocorreu na quarta-feira, 27, com um empate de 1 a 1 para o Corinthians diante do Boca Juniors, em plena La Bombonera. O resultado traz importante vantagem para a equipe alvinegra que se aproxima, como nunca, de uma conquista inédita.

Os corintianos do Futepoca alegam, provavelmente com razão, motivações místicas para não se pronunciar. Todo mundo aqui respeita. Mas também se aproveita.

Em um cenário em que o Itaquerão é erguido para a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, a equipe paulistana pode ver cair por terra dois dos principais motivos de gozação por parte dos rivais. Para secadores de plantão, mesmo os mais céticos quanto ao potencial do escrete auriazul de Riquelme e cia, vislumbrar o time sem estádio e sem Libertadores com uma arena e caneco nas mãos em um intervalo de dois anos vai demandar ampla criatividade para tirar sarro.

Então, como a esperança de secador é a única que morre, para manter a coerência de quem já fez isso antes e porque troça boa é troça feita, ainda há uma semana para:

Sete motivos para (ainda) torcer para o Boca Juniors.

Secadores do Brasil estão mobilizados

1) Porque não há plano B
A semana pode ser a última do Corinthians sem Libertadores. A gravidade do momento não permite dúvidas: é preciso secar. E agir com afinco. Vale mandinga, pé de coelho, folha de arruda, vela para o santo... Vale superstição barata, elaborada, requintada, metafísica... Pode até se programar para assistir jogo no bar do Minhoca para ver se o retrospecto rende.

2) Porque o Boca conta com a maioria dos torcedores brasileiros
Por mais que a torcida corintiana se vanglorie de sera segunda maior do país, a maioria da população brasileira torce para outros times. E, por consequência, seca o Corinthians nesta empreitada

3) Porque o Boca quase nem é argentino
Santistas, palmeirenses, são-paulinos, colorados, gremistas, flamenguistas, vascaínos, botafoguenses e apaixonados torcedores de todas as colorações, naturalidades, crenças e raças já estiveram antes ao lado do Boca Juniors. Até os corintianos já quiseram bem ao time argentino, em 2000 e 2001, por exemplo, quando Riquelme desbaratou o Palmeiras ou em 2004, quando o Santos foi a vítima. Então, se tanta gente brasileira está torcendo ou já quis bem à agremiação radicada na pátria de Cristina Kirchner e Diego Armando Maradona, ela nem é tão argentina assim. É quase verde amarela, oras!

4) Porque não daria para trabalhar no dia seguinte
Uma eventual vitória do Corinthians no segundo jogo da final vai tornar todos os ambientes de trabalho, de estudo, de convívio insuportável. Onde houver corintiano, habitará um sorriso e uma felicidade jamais vista na história da República. E tudo isso para uma minoria da população (já que a maioria torce para outros times)! O governo brasileiro tem feito das tripas coração (e da arrecadação de impostos, isenção) para fazer a economia crescer e reagir, no segundo semestre, ao desaquecimento global. Se a maioria não vai conseguir trabalhar, como é que o país poderá produzir riqueza e renda para crescer? É um risco grande demais para o país.

5) Porque a Libertadores perderia o sentido
Muitos corintianos disseram e repetira, nos últimos 20 anos -- desde que o São Paulo faturou a competição -- que o campeonato continental só existia para o Corinthians vencê-lo um dia. O egocentrismo ímpar não tem razão de ser, mas guarda uma pontinha de sentido se considerado que a graça da disputa vai diminuir. Celebrar presença em uma competição tinha um gosto de poder descascar um rival que ainda não tinha a conquista no currículo. Se isso mudar, diminuem as motivações.

6) Porque Tite será alçado ao estatuto de maior técnico da história do Corinthians
Virou jargão da crônica esportiva dizer que se trata "do jogo mais importante da história do Corinthians em seus 102 anos de história. Em tempos de supervalorização de treinadores, o "responsável" pelo feito vai acabar recaindo sobre o "professor". O homem no banco de reservas vai receber todos os louros de uma eventual vitória (toc, toc, toc, batam na madeira, por favor). Uma equipe que já foi comandada por Formiga, Mário Travaglini, Rubens Minelli e tantos outros, terá em Tite o maior expoente na galeria de treinadores. Até um ano atrás, muito corintiano não tolerava ouvir falar no nome do moço. Agora, terá de conviver com ele no hall da fama, como "O" maior. Durmir-se-á com um barulho desses?

7) Porque os maias não podem estar certos
Segundo o calendário maia, em 2012 o sol entra em nova fase. Para muitos, é sinal de que o fim dos tempos está próximo no planeta Terra. Para outros, sinal de que o mundo entra em nova fase. Teve até filme sobre isso. Como ninguém aqui anda muito disposto a pensar em arrebatamento, cataclismos e outros ciclos viciosos de destruição planetária, é melhor torcer para que o maior número de coisas aconteça como em anos anteriores. Isso aplica-se, é claro, ao futebol e à Libertadores da América, né não?

Tranquila, só Yaya

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Esposa do amigo e grande músico Peter Pas, a harpista Soledad Yaya é a única campeã antecipada da América: torce pro Boca e pro Corinthians. Só ela tem paz em casa.

sexta-feira, junho 22, 2012

Dois estranhos em duas finais normais

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A semana teve duas definições de finalistas em competições diferentes. Na quarta-feira, 20, o Corinthians, ao empatar em 1 a 1 com o Santos, classificou-se para a última eliminatória da Copa Libertadores da América pela primeira vez nos 102 anos de existência. Quinta-feira, 21, o Palmeiras conseguiu também uma igualdade com o Grêmio em um gol se segue na Copa do Brasil.

Além de paulistas, as semelhanças seguem. Se o Timão está em condição inédita, tanto de conquistar a competição continental, como de simplesmente disputar a final, o Palmeiras está desacostumado. Desde 2008 a equipe não chega à última etapa de um campeonato eliminatório. Desde 2009 não disputa títulos com time competitivo. A última conquista relevante foi a Libertadores da América de 1999. Depois, um estadual.

A coisa melhora ao se analisar os adversários. O Coritiba repete o feito de 2011, quando havia desembarcado na final, contra o Vasco. Terminou derrotado, mas chegar a duas finais de campeonato em duas temporadas consecutivas é um feito de respeito e mostra méritos. Depois de vencer o São Paulo, a equipe da capital paranaense assegurou uma presença de pelo menos um alviverde na Libertadores do ano que vem.

O Boca Juniors, por sua vez, é habitué de disputas decisivas de Libertadores. Depois de bater o Universidad de Chile, os auriazuis acumulam seis canecos do continental. Em quatro dessas ocasiões -- 1977, 2000, 2003 e 2007 -- contra brasileiors -- Cruzeiro, Palmeiras, Santos e Grêmio, respectivamente. Apenas em 1963 um brasileiro bateu a equipe argentina (foi o Santos o responsável pelo feito). Depois, só em 2008 é que o Fluminense, em semifinal, conseguiu livrar-se do tabu.

A comparação entre a condição de Corinthians e Palmeiras termina por aí. Enquanto o time de Tite chega com a esperança difusa entre os 12 jogadores (incluindo a torcida), principalmente Ralf e Paulinho, aliada à compactação do esquema tático, os palmeirenses sonham com um segundo raio no mesmo lugar, com a capacidade de manter um ferrolho contra o Coritiba e achar um gol em algum momento.

Palpites à mesa. De bar.

sexta-feira, maio 25, 2012

Libertadores 2012: semifinal, teu nome é Léo

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A partida valia pelas oitavas de final da Libertadores de 2003. O Santos havia saído na frente na Vila Belmiro, contra o Nacional de Montevidéu, mas sofrera o empate aos 38 do primeiro tempo. Três minutos depois, uma falta pelo lado direito do ataque uruguaio, daquelas que pedem um chuveirinho na área. Mas O'Neill chuta direto e Fábio Costa falha. Silêncio na torcida. O arqueiro peixeiro, minutos depois do lance, ainda sente e permanece estático, semi-ajoelhado no gramado. Quando a bola pára, o lateral esquerdo Léo vê a cena, atravessa o campo, estende as mãos para o goleiro (que, diga-se, não costumava ter atitude similar com companheiros de time) e o ergue, incentivando o atleta a voltar à partida. A torcida vai junto com Léo, carrega o goleiro no colo e, na decisão por penalidades, Fábio Costa, que nunca foi pegador de pênaltis, defende três e o Peixe se classifica para as quartas.

A História vai dizer que Léo foi coadjuvante nessa peleja, mas a cena dele apoiando seu companheiro nunca me saiu da cabeça. Não é só o atleta, é o tal do caráter, aquela coisa de você olhar a atitude do cara e pensar que poderia ter alguém assim do lado quando pisou na bola naquela vez... E justamente ele, que penou pra chegar lá, foi dispensado por Felipão no Palmeiras em 1999. O técnico não aprovaria um atleta de 1,66 m de altura e Léo, por destino, fez carreira no Alvinegro a partir do ano 2000.

Tornou-se campeão brasileiro pelo Santos em 2002, fez o gol de empate do time contra o São Paulo, na segunda partida das quartas de final, e marcou o tento da vitória contra o Corinthians, na peleja derradeira da finalíssima. E de pé direito. Foi para a seleção brasileira, venceu a Copa das Confederações de 2005 e partiu para o Benfica. Voltou em 2009. Guerreiro, para a torcida. Deus, para o amigo Olavo. Quem diria que seria o personagem decisivo da vitória peixeira contra o Vélez Sarsfield, na partida desta quinta, siando da reserva.

Os três e os do fundo eram um só (Foto Santosfc)

Quando Muricy substituiu Juan por Léo, já havia colocado em campo o semi-atacante Rentería, o único disponível na suplência, já que a outra opção, Borges, se contundiu antes do jogo. Precisando furar a retranca dos argentinos, que se protegiam com as famosas duas linhas de quatro (ainda mais postadas no fundo depois da expulsão de seu goleiro no fim do primeiro tempo), o treinador resolver investir nos lados do campo. A retranca era das mais eficientes, mas o ataque portenho pouco produzia. Rafael só viu a bola ser finalizada ao seu gol nas cobranças de pênaltis.

Ganso fazia um pouco mais do que fez no jogo de ida, mas ainda assim era muito pouco. Neymar se mexia de lá pra cá, buscava a bola, chamava a responsabilidade. Conseguiu expulsar o arqueiro rival no fim da primeira etapa. Na segunda, em um lance, atravessou o campo de lado a lado e conseguiu criar uma oportunidade para o time. Mas o gol não saía. E voltamos à entrada de Léo, que, como mostraram as imagens, logo em sua entrada motivou os companheiros a buscar o resultado.

O lateral entrou para fazer a diagonal, para se aproximar da área, algo que Juan não estava conseguindo fazer. E foi em um desses lances que ele tocou para Ganso, que devolveu – um dos únicos passes certos do meia que não foram de lado ou pra trás. E Léo, mesmo caindo, conseguiu assistir Alan Kardec, que finalizou de primeira para o gol. Indefensável. O atacante, que quase entrou pra súmula da partida como o Diego Souza da vez ao perder um gol quase feito minutos antes, se redimiu. Segundo ele, o “profeta” Neymar o avisou que marcaria o gol, depois que perdeu a outra oportunidade. Acertou.

Com 1 a 0, decisão por pênaltis. O Santos já havia passado por outras duas em Libertadores. Aquela, contra o Nacional, em 2003; e contra a LDU, em 2004. Venceu as duas, sem desperdiçar nenhum pênalti. E ontem, não foi diferente.

Coube a Léo, como por destino, fazer o gol da classificação alvinegra, após Canteros – que entrou só para as penalidades – finalizar pra fora, e Rafael defender outro pênalti. Classificação sofrida, mas que a ela pode-se atribuir um nome. Às vezes, o futebol faz justiça.

Adendo

E para o tonto do assessor do Vélez que quis fazer galhofa com a morte do mestre Chico Formiga:



quinta-feira, maio 24, 2012

Quando alguns segundos valem mais que o jogo inteiro

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A expressão “jogo de xadrez” costuma ser muita usada para definir uma partida disputada, pegada, na qual fica difícil fazer algum prognóstico com a bola rolando. Mas poucas partidas de xadrez de alto nível são decididas em um lapso, em um lance impetuoso ou com voluntarismo e pitadas de sorte. Ontem, nas duas partidas da Libertadores, com cenários totalmente distintos, foram necessários poucos segundos para que fossem definidos os dois primeiros semifinalistas do torneio.



Na que abriu a noite, entre Fluminense e Boca Juniors, os argentinos foram subjugados na maior parte dos 90 minutos da peleja. A marcação do Fluminense, em especial de Edinho, sobre Riquelme, fez com que o craque portenho sumisse durante quase todo o jogo. Quase. Uma folguinha dada ao craque adversário, daquelas que acontecem no fim do jogo, como a que permitiu que Maradona fizesse seu único lance contra a seleção brasileira, na Copa de 1990, foi suficiente. Riquelme respirou e pôde tocar para Rivero, que finalizou, resultando no gol de Santiago Silva, o grosso artilheiro que faz as vezes que Palermo já fez um dia.

O Boca precisou jogar um pouco mais que o Fluminense por alguns minutos, na parte derradeira da partida, para eliminar os cariocas. Se jogando mal eles ganham, imagine jogando bem?, refletem os argentinos. E os brasileiros deitam no divã.

Na peleja seguinte, Diego Souza, que leva consigo a fama de desaparecer em decisões, apareceu. Sozinho como nunca havia acontecido com o Corinthians de Tite, do meio de campo até a área. Mas tremeu diante de Cássio, arqueiro que parecia pedir pra tomar gol, performance coroada com o passeio para a caça de borboletas no último lance vascaíno da partida. Goleiro tem que ter sorte também, diria o filósofo. E não se perdoa quem perde um gol desses. A bola pune, como diria outro pensador.



Puniu justamente naquele tipo de lance de fim de jogo, quando os marcadores já não aguentam mais marcar. Porque foram quase 180 minutos em que a marcação foi a tônica, de lado a lado. O cerco vacilou, Paulinho fez. Diego Souza, não. E essa foi quase toda a diferença.

domingo, maio 20, 2012

Borges vacila, e Santos B não sai do zero com o Bahia

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O Santos entrou em campo (debaixo de muita chuva) com o time reserva, sendo que cinco jogadores fizeram sua estreia com a camisa alvinegra. No caso, com o terceiro uniforme, a camisa azul. Gerson Magrão e Bernardo já estão na Vila há tempos, mas só agora puderam jogar. Galhardo e David Braz, que vieram do Flamengo na negociação com Ibson, e Ewerton Páscoa, que no fim de semana passado enfrentava o Peixe jogando pelo Guarani, foram os outros debutantes.
Mesmo com a esperada falta de entrosamento, o Santos fez rodar a bola e trocou muitos passes, mantendo a redonda sob seu domínio a maior parte do tempo. Felipe Anderson exerceu uma nova função, revezando na ala direita com Galhardo, um expediente que Muricy Ramalho usou bastante no São Paulo em outros tempos. Tanto um quanto o outro levaram perigo no apoio na primeira etapa, mas também sofreram com as investidas de Lulinha por aquele setor.
Bernardo levou perigo nas cobranças de escanteio. Em duas delas, quase saiu o tento santista. Borges chamou a atenção pela disposição. Correu, marcou, desarmou, deu opção ao ataque saindo pelos lados... Mas quando a bola esteve na zona onde tem o atacante tem conforto, na área, ele não conseguiu conferir por duas vezes na etapa inicial.
Já na segunda etapa, o Bahia voltou com mais disposição, pegando mais no meio de campo e explorando também o lado esquerdo da intermediária peixeira. E começaram as baixas do visitante. David Braz já havia saído no primeiro tempo com lesão, e Galhardo também pediu para sair antes da metade do segundo tempo. Os donos da casa fizeram uma blitz durante quase dez minutos, logo depois dos 22, mas não furaram a defesa alvinegra. Na frente, Borges, e principalmente Renteria, não seguravam a bola na frente e eram presa fácil dos zagueiros da Boa Terra.
As oportunidades peixeiras, enfim, surgiram quando a partida também começou a pesar para os tricolores. E aí apareceu Borges. Por duas vezes ele teve a chance de dar a vitória ao time B, ambas na cara do goleiro, mas desperdiçou as duas. Em que pese todo seu esforço na peleja, mostrou o porquê de estar na reserva.

Léo, mesmo cansado, aguentou o ritmo da jogo até o fim (Santos FC)
É preciso destacar também a atuação de Gerson Magrão, que jogou na meia e foi bem na cobertura pelo lado esquerdo, além de mostrar lucidez e aparecendo bem dando apoio ao ataque. Levando-se em consideração que não jogava desde agosto, por problemas contratuais com seu ex-clube, o Dinamo de Kiev, mostrou que pode ser útil no restante da temporada. Bernardo se esforçou, mas não conseguiu ser efetivo, a não ser em uma outra bola parada.
Ao fim, o zero a zero marcou um rodada de estreia em que os paulistas não venceram. Dadas as circunstâncias, para os visitantes o resultado não foi tão ruim. Mas se Borges tivesse caprichado um pouco mais...


Pra não dizer que não falei de Vélez e Santos


Com algum atraso, um breve comentário sobre a peleja em que a equipe argentina bateu o Santos em Buenos Aires, por 1 a 0. O Alvinegro jogou mal, foi dominado pela marcação portenha e não teve criatividade para criar no ataque. Embora a imprensa hermana tenha exaltado a partida feita por Peruzzi, ele foi só um dos marcadores de Neymar. Como explicou Ricardo Gareca, o garoto recebeu marcação dupla, com rodízio de atletas, e, ainda que não tenha brilhado como de costume, conseguiu cavar algumas faltas, tentou resolver sozinho mas não teve companhia de ninguém ao seu lado, exceção feita a Juan que vez ou outra o apoiava, e de Ganso, em um lance isolado e desperdiçado.
Aliás, o camisa dez peixeiro fez uma das suas piores atuações com o manto. Vez ou outra um craque não estar inspirado faz parte, mas o meia falhou na disposição tática também, e isso compromete o resto do time. Se Neymar é bem marcado, algum espaço sobra para um meia que chega, mas ele não chegou. Para os alvinegros superaram a marcação feita em seu próprio campo, o dez também teria que buscar mais a bola para aliviar a defesa, mas não o fez. Quando Ganso participa da marcação, aliás, também possibilita o avanço com bola de Arouca, que pouco pôde fazer à frente.
O distanciamento da defesa e do meio de campo santista foram fatais, mas o prejuízo não foi maior pela ineficiência ofensiva do Vélez, que marca bem, mas não é um time dos mais imaginativos na frente. O Santos deve penar na Vila Belmiro para superar os argentinos, mas, descansados, os peixeiros devem fazer um papel bem melhor do que o desempenhado na Argentina. Vai ser preciso mais aproximação e marcação mais forte o meio de campo – evitando principalmente as chegadas do volante Cerro – com velocidade de saída para o ataque. Neymar, obviamente, pode decidir, mas Ganso vai ser fundamental.

domingo, maio 13, 2012

Os testes de Tite

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Ele tem o controle do time, mas...
O Corinthians não teve qualquer dificuldade em vencer o Emelec no Pacaembu, assim como não tinha tido para empatar sem gols no jogo de ida. Desarmada a jogada aérea e a conclusão de Figueroa, o time equatoriano mostra-se bem menos capaz de ameaçar o gol adversário do que se poderia supor. 3 x 0 é um placar confortável, e o Corinthians ainda chegou muito mais, meteu bola na trave e poderia ter ampliado.

A briga fica realmente feia a partir de agora. Não dá pra brincar com o Vasco de Juninho Pernambucano, e se passarmos deles provavelmente cruzaremos com o Santos do iluminado Neymar, que já engatou uma terceira e acelera na pista da genialidade. Todos times entrosados e sedentos do título. E passando isso tudo virá uma final, talvez até com o Flu, o que significaria uma Libertadores doméstica a partir de agora. 

Time em campo, o que mais marcou, acho eu, foi a segunda metade do primeiro tempo: com um perigoso 1 a 0, o Corinthians recuou e deixou o Emelec jogar, sem contudo deixá-lo construir qualquer ameaça mais contundente. Ao contrário, Tite recuou até Willian, que supostamente faria a vez de centro-avante, e chegou até mesmo a abrir mão do contra-ataque! Era como se em três minutos mais acabaria o campeonato e tínhamos que segurar o resultado a qualquer custo, sem nem mesmo pensar em fazer mais um gol.

Fica parecendo que Tite quer exercitar a disciplina dos seus soldados, propondo uma ordem absurda como maneira de assegurar que lhe obedecerão em qualquer situação: estamos dominando o jogo mas a ordem é não atacar, ninguém mais ataca. O técnico tem o time na mão e, verdade seja dita, não é fácil fazer gol no Corinthians. Mas bem que ele podia querer mais gols... seria melhor pra todos. Sempre pode aparecer outra macaca no caminho, com um contra-ataque surpreendente e muita sorte, e num lapso de tempo que não permita reação colocar tudo a perder. 

Vamos meu Timão, não para de lutar!

(Abstenho-me de explicar o atraso em publicar este post, pois senão teria de mencionar todos os posts não escritos, tudo o que diz respeito ao Corinthians e que vem passando em branco no Futepoca. É a vida. O único jeito de voltar escrever é não me sentir em dívida!)

quinta-feira, maio 10, 2012

Teve volta! Santos 8 X 0 Bolívar

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“Vai ter volta”. Era assim, com raiva, que Neymar falava aos repórteres depois da derrota do Santos para o Bolívar em que ele recebeu banana, mexerica, pedra e demais objetos, além de ter sido caçado em campo. O que os bolivianos não previam é que o regresso pudesse ser tão, mas tão amargo.

Começou aos 4 minutos, com uma finalização com efeito de Elano, que pegou o arqueiro Arguello, que tem pinta de cantor de tango, no contrapé. O Bolívar tinha vindo à Vila Belmiro com esperanças. Afinal, era o primeiro clube boliviano a chegar na fase de mata-mata da Libertadores, tendo vencido uma peleja na fase de classificação fora de La Paz. E chegava com a vantagem conquistada na partida de ida. Seu treinador, Ángel Guillermo Royos, comandou o Barcelona B e se diz “descobridor” de Messi. Mas o Bolívar sentiu o golpe. Aos 8 e aos 9, teve dois amarelos contra si e o descontrole já era evidente.

Como numa luta de boxe, em que um mina a confiança do rival com golpes, mas também psicologicamente, o Peixe já havia deixado o Bolívar mais qeu abatido. E os adversários ficaram ainda mais com o pênalti cometido pelo argentino Arguello, que empurrou Edu Dracena na área. Aos 22, Neymar não perdoou e se tornou o maior artilheiro da Era pós-Pelé, de forma isolada, com um gol a mais que Serginho Chulapa e João Paulo.

O golpe fatal viria aos 27. Neymar dá um passe de trivela, simplesmente genial, e Ganso se ajeita na área para marcar de letra. Antológico. Ali, se fosse de fato uma luta de boxe, o árbitro teria dado nocaute técnico e parado a luta. Mas no futebol isso não é possível. Virou um massacre.

Majestade
Elano, Ganso e Neymar marcariam mais uma vez cada um; Alan Kardec faria o seu e Borges, que entrou em seu lugar, também anotou. Um 8 a 0 que é a maior goleada da Libertadores de 2012. Sem lances duvidosos a favor do Alvinegro, com ambos os times com onze jogadores até o final. Inconteste. Ficou barato, diante das circunstâncias, para os visitantes.

E Ángel Arroyo, que disse, brincando, não conhecer Neymar, hoje o 16º maior artilheiro da história alvinegra, talvez tenha visto que a provocação (em todos os níveis) do jogo de ida não tenha sido uma ideia brilhante. Em um só jogo, tomou a mesma quantidade de gols que sofreu nas outras sete partidas da Libertadores.

E a história segue sendo escrita.

quinta-feira, abril 26, 2012

Na altitude, uma derrota santista não tão doída

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O histórico recente doSantos contra times bolivianos já avisava. A partida contra o Bolívar não ia ser fácil. Mas os bolivianos não se classificaram com dez pontos (dois a mais que o Internacional), vencendo só na altitude de La Paz. Perderam uma lá em cima e ganharam fora de casa. O time é melhor que o The Strongest, que também bateu o Alvinegro em seus domínios na primeira fase, mas na partida de ida das oitavas mostrou a mesma característica de toda equipe que atua no alto: imprimir um ritmo de jogo forte e finalizando muito de fora da área, aproveitando a velocidade da bola no ar rarefeito.

Contudo, os bolivianos só chegaram ao gol em dois lances de bola parada. Na primeira etapa, a um minuto, em cobrança de falta de Campos, que bateu na trave e nas costas de Rafael. E no segundo tempo, aos 28, de novo com Campos, em nova cobrança, bem feita, e que contou com uma relativa lentidão do arqueiro alvinegro. A primeira falta, aliás, pra lá de desnecessária, com um afoito Adriano que ainda não recuperou a forma de 2011, quando foi “moldado” pelo treinador santista e melhorou seu futebol bem precário.

Jogo de "pega Neymar"
O gol peixeiro, de empate, saiu aos 28 do tempo inicial. Elano cobrou falta sofrida por Neymar e o goleiro argentino Arguello defendeu, a bola tocou a trave e retornou para Maranhão concluir. O lateral, que foi inscrito na Libertadores no lugar de Pará e só jogou porque Fucile e o antes improvisado Henrique estão contundidos, marcou seu segundo tento na segunda peleja seguida.

Gol importante, ainda mais por ter sido feito fora de casa. Ao Peixe, basta a vitória por 1 a 0, mas foi possível perceber a diferença técnica entre os dois. O Bolívar pode até ser perigoso, mas um Santos comprometido não pode temer os bolivianos. O destaque negativo do jogo foi a atuação de Ganso. Irreconhecível, pareceu sentir mais a altitude. Chegou atrasado e com receio em divididas e errou inúmeros passes, dos mais simples àqueles que poderiam ter sido fundamentais para o triunfo da equipe. Neymar apareceu mais, sofreu oito das 17 faltas recebidas pela equipe, com a anuência do árbitro (ah, se fosse na Liga dos Campeões...). Atingido também por objetos arremessados por torcedores, saiu irritado, o que pode não ser bom para os rivais...



Aliás, pro torcedor alvinegro, que já viu seu estádio ser interditado por sandálias Havaianas arremessadas no gramado (alguns pela torcida adversária, diga-se), é duro ver algo que virou rotina em competições do continente e que não geram qualquer punição para os mandantes. Que o santista se inspire no seu ídolo para responder no grito e não com as mãos.

quinta-feira, abril 19, 2012

Alan Kardec acorda o Santos, que vence o The Strongest

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Vila lotada, um time fraco como adversário e uma excelente apresentação na última rodada do Paulista. Tudo indicava que o Peixe fosse ganhar bem do The Strongest, clube que só tinha conseguido ganhar pontos até então na altitude de La Paz. Mas nada foi como se esperava. A agonia peixeira durou até os 40 minutos do segundo tempo, quando Alan Kardec fez o primeiro dos dois gols da vitória sobre os bolivianos hoje.

Grande parte da dificuldade alvinegra se deveu ao meio de campo. Elano, no lugar de Ibson, é uma troca que vale pelas bolas paradas, mas que muda o jeito do Peixe atacar. Ibson, por mais que erre – e erra – já fez gols entrando na área e se apresentando quando o ataque do time é marcado, fazendo as vezes de elemento surpresa que vez ou outra resolve. Já Elano, por mais raça que tente apresentar até para fazer jus ao carinho da torcida, não se movimenta da mesma forma. Pelo esquema de Muricy, o herói de outrora ainda não mostrou porque mereceria a vaga de titular, conquistada há duas partidas.

Já Adriano, com exceção de uma bola incomum que meteu pra Neymar perder um gol incrível, não foi bem. O fato de ter permanecido até o fim da partida só pode ser entendido se a intenção do técnico for fazer com que o atleta recupere o ritmo de jogo após meses parado. Já o craque Ganso não buscou tanto a bola como em outros jogos, chamou também menos a responsabilidade, errou em demasia e mesmo quando ameaçou brilhar, pecou no final.

Restou ao torcedor ver lances isolados de Neymar, que só fez o dele aos 43 do segundo tempo. Ele driblou, deu assistência, perdeu uma grande oportunidade, mas foi redimido pelo belo passe de Borges, que o deixou na cara do goleiro Vaca. Ali, não jogou fora a chance. Continuou assim sua saga aritimética na trajetória do clube que mais fez gols na História. Empatou com Coutinho como terceiro maior artilheiro alvinegro na Libertadores, com 11 gols pela competição, e, com seu 98º gol pela camisa praiana, ultrapassou Gradim (1936-1944) e Rui Gomide (1937-1947) e é de forma isolada o 22º artilheiro da história do Santos, a três gols de Juary.

É bom ressaltar também o papel de Alan Kardec, aquele santinho que Muricy beija e pede o milagre quando a coisa está feia. Se o toque de bola, as jogadas de efeito e os lances sofisticados não dão certo, o técnico chama o atleta que resolve a questão de forma simples. Em geral, de cabeça, como fez hoje, depois de entrar no lugar do lateral direito improvisado Henrique. Mesmo na reserva, já se sabe que pode ser decisivo. Bom para o Santos que pode contar com ele.

quinta-feira, abril 05, 2012

Último a sair, apague a luz

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Por Luciana Nepomuceno

Lanterna. E naquela situação que só quem gosta é narrador e comentarista da Globo, com ênfase no Galvão: “se ganhar por um gol e tiver empate no outro jogo”, “se a bolsa de Tóquio oscilar e o Ronaldinho marcar de calcanhar”, “se fizer um gol no primeiro tempo e no outro jogo o juiz começar a brincar de amarelinha”. E, claro, alguém faz um gol aos 3 minutos de jogo e as contas todas recomeçam.

Flamengo jogou (jogou?) ontem com o Emelec em Guayaquil, e perdeu para o time equatoriano que, com toda gentileza, pode ser considerado limitado. O Mengo conseguiu o feito de ficar em vantagem duas vezes e terminar o jogo com derrota. O placar final foi bem mais do que um 2X3 dolorido. Foi a certeza de que a impressão de que pode haver uma luz no fim do túnel pode ser trocada pela absoluta convicção que isso não é um túnel, mas um poço.

O Flamengo tem camisa, tem preparo e tem jogadores que podiam ter vencido o jogo. Mas não tem comando, norte, padrão de jogo nem vontade de ganhar. Tem só aquele vergonhoso ímpeto de recuar sempre que obtém uma pequena vantagem. Displicência. É só ver o primeiro gol do Emelec. Sete jogadores do Flamengo dentro da pequena área marcando... absolutamente ninguém. É só ver os lampejos do Ronaldinho que continuam me convencendo que, se houvesse vontade... mas não há. Nem dele nem do comando do time e do clube de colocar alguma ordem no pagode. E os torcedores tolos, que nem eu, que dancem.

Eu não tenho nada contra perder jogos. Acontece. Quem está na chuva é pra se molhar e, por vezes, o time adversário apresenta competência tática ou primor técnico ou mesmo aquele sangue no olho que a gente adivinha: ops, hoje não vai rolar. Mas há derrotas que são amargas não apenas por elas mesmas e sim pelo que representam. A derrota de ontem foi uma delas. O Flamengo está perdido. Não sabe lidar com seu medalhão, não sabe tratar seus jogadores novos. O Joel já saiu em defesa de si mesmo culpando Luxemburgo e os novatos. Como se Muralha, Diego Maurício, Negueba não fossem o que de último suspiro nos restasse. A diretoria está perdida, na janela, vendo a banda passar. Não se trata de pedir a cabeça (oi?) do técnico, mas de reconhecer: não há time. O Flamengo, hoje, não tem perspectiva maior que buscar classificação para a final da Taça Rio e, aí, quem sabe, pensar em disputar o Campeonato Carioca. Eu até gosto dos estaduais, mas é pouco, muito pouco. Uma mentalidade decadente, autorreferente e mesquinha. Só isso explica a covardia de colocar o time todo na retranca jogando contra, sem querer ofender, o fraquíssimo Emelec. E não é arrogância, é só pensar: o Emelec tinha feito apenas um gol em quatro jogos. Eu disse UM. Pois é. As mudanças no Flamengo chamaram o Emelec pra dança. Joel colocou um zagueiro no lugar de um atacante – isso aí, bora recuar – em uma formação que não foi treinada nenhuma vez na semana. Ne-nhu-ma-zi-nha. Nem de brincadeira. O que esperar? O que aconteceu: o Emelec deitou e rolou, sambou na cara dos rubro-negros a quem só resta balançar a cabeça inchada e resmungar: até quando, papai Joel?


Confesso que tristeza em mim é mato

Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos

Peixe domina, mas Muriel salva Internacional da derrota

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Após o passeio dado sem mãos dadas na Vila Belmiro, era de se esperar que o Internacional viesse pra cima do Santos. Mesmo com desfalques importantes, os gaúchos tiveram desde o início da partida uma postura distinta daquela da primeira peleja entre os dois na Libertadores. E o Colorado não tardou a chegar ao gol, em cobrança de falta – bem feita sim – de Nei, na qual Rafael fez um golpe de vista algo questionável para um arqueiro de nível como ele.

Mas Rafael só apareceria novamente aos 26 da segunda etapa, em uma finalização de Jajá. Não fez qualquer defesa importante antes ou depois disso e deixou para o rival Muriel o cargo de estrela do jogo que marcou o aniversário do Inter, 103 anos. Foi ele que evitou a derrota gaúcha, com importantes intervenções que evitaram com que Neymar, em várias belas jogadas, saísse consagrado no Beira-Rio.

Em um jogo de futebol, ainda mais em um campeonato como a Libertadores, às vezes a confiança diz mais que a técnica. E se um se junta ao outro, vixe... Na primeira etapa, quando foi possível observar dois lances em que defensores do Inter isolaram a bola sem necessidade, só ao perceber a presença de Neymar a alguns metros, mesmo os mais apaixonados torcedores do time da casa já sentiram que o churrasco passava do ponto (com todo respeito ao lugar comum e ao estereótipo). E não era só o Joia da Vila, mas sim a equipe litorânea que impunha seu jogo e mantinha a posse de bola, tocando e tocando a dita cuja com a paciência dos matadores que só esperam o momento certo pra dar cabo da sua missão.

Mas o tal momento só veio na segunda etapa, quando Muricy ousou e colocou Alan Kardec no lugar do hesitante Fucile. Um lateral por um atacante, um ímpeto ofensivo recompensado dois minutos após a troca, quando Neymar serviu Juan, lateral que até então vinha mal, cruzar para o amuleto santista fazer o gol de empate.


O Inter ainda teria um jogador expulso, Rodrigo Moledo, que sofreu com Neymar no primeiro jogo e cometeu duas infrações no moleque que lhe valeram cartões amarelos. Aliás, os donos da casa fizeram 24 faltas, enquanto o Santos fez dez, o mesmo número de infrações sofridas só pelo 11 peixeiro. Significa. Como também significa a posse de bola alvinegra, quase 62% contra 38%, mesmo jogando em domínio alheio.

Ao peixeiro, pareceu uma vitória que escapou, embora a classificação esteja encaminhada. O Alvinegro tem dez pontos, o Inter, oito, e o The Strongest, que enfrenta o Juan Aurich fora de casa, tem sete. Os belos lances, o domínio da bola e a altivez mesmo fora de casa valeram a noite para o torcedor santista. Ah, sim, parabéns a Muriel, já que, em um jogo no qual atuaram três atacantes já convocados pra seleção, ele fez a diferença.

sexta-feira, março 23, 2012

Em jornada épica (dos torcedores), Santos vence Juan Aurich

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Caiu água no Pacaembu... (Foto Futura Press)
Pelo jogo de ida, parecia que ia ser fácil. Claro que o Juan Aurich viria mais fechado do que jogou em casa, mas a superioridade do Santos ficara evidente na partida de ida. O que não estava no roteiro era o temporal que caiu em São Paulo durante as mais de duas horas da partida (sim, com um intervalo de 45 minutos entre os dois tempos...). O time até que não sofreu tanto para conseguir o resultado: um 2 a 0 em que Rafael não foi ameaçado em nenhum momento. Já o torcedor...

Ser sócio facilita a vida para comprar ingresso, mas o torcedor comum pena. No Pacaembu, geralmente são abertos poucos guichês (às vezes um só), o que vira uma verdadeira festa para os cambistas que conquistam os espectadores que não têm tempo para passar duas, três, quatro horas em uma fila. Mesmo com a limitação de três ingressos por pessoa, tendo que se registrar o CPF de cada um, segue sendo um mistério como os “vendedores de rua” conseguem a sua carga.

Já no estádio, o santista se depara com a chuva que se inicia antes dos dez do primeiro tempo. E chove, como chove. Capas plásticas disputadas quase a tapa, daquelas que custam um real, vendidas por dez em função da velha lei da oferta e da procura (ah, o capitalismo...). No gramado, o time peruano, com três zagueiros e quatro volantes, marca o tempo todo atrás da linha da bola. O Santos tenta encurralar, vai todo à frente, troca passes como tem sido sua característica (o que muitas vezes faz o torcedor gritar o tradicional “chuta” pra qualquer um que aparece perto da grande área). Aciona pouco o lado direito, joga mais pela esquerda com a apoio de Juan e Neymar, que se movimenta pelos lados e no meio. Mas centraliza muito o jogo e erra passes demais por conta disso. E o Juan Aurich bate.

O gol sai em um escanteio cobrado pela esquerda. Edu Dracena, após cabeçada de Ganso que Penny não conseguiu segurar. Na primeira etapa, ficaria nisso. As poças já começavam a aparecer no gramado do Pacaembu e o intervalo foi premiado com um aumento do temporal. Os 15 minutos mais longos que eu já tinha visto em um estádio. Enquanto isso, uma marca de cerveja era responsável por jogar brindes aos torcedores por meio de uma “bazuca” (mas nada de bebida no estádio, ah, os bons hábitos...) que circulava no estádio. E o locutor pedia pra torcida “agitar”, como se todos estivessem num programa de auditório. A chuva sem cessar, e o cara não parava de falar. Até que a torcida se impacientou e iniciou o tradicional e flexível grito: “hei, bazuca, vai tomar...”.

Os times voltam. E, o intervalo que já era longo pra quem tomava chuva, iria se alongar de verdade. Parte dos refletores apaga, os times vão para os bancos de reservas e, de lá, após alguns minutos, vão para o vestiário. O torcedor fica sem saber o que vai acontecer, nada de o sistema de som do estádio informar algo. Alguns já vão embora, já que o dia seguinte é uma sexta-feira de trabalho. A maioria fica sem saber se vai haver ou não partida. E tome chuva.

Quanto o sistema de som anuncia algo, vem a voz de um locutor que começa a contar a “história do Pacaembu”. A vaia, previsível, o faz se calar. Só depois de algum tempo vem o anúncio de que o jogo continuaria. Os times voltam e o jogo se inicia 45 minutos depois do encerramento do primeiro tempo. E a chuva, que piorou no “intervalão”, fez aparecer muito mais poças no gramado.

Se a grama pesada e a água empoçada atrapalham o time que troca passes e trancam mais o jogo, também é verdade que é fatal para times que têm pouca técnica. Os peruanos conseguiam se defender, muito na base da pancada, que não foi punida pelo árbitro argentino Patricio Losteau, cujos cartões devem ter ficado em algum café de Buenos Aires. Com licença do juiz, o Juan Aurich bateu e não foi punido, mas não conseguiu chegar à meta santista.


(Esse Neymar...)

Ibson, pela direita, e Arouca abriram pelos lados, facilitando o ataque santista. Borges, que perdeu um gol incrível, segue a sina de garçom. Foi dele a jogada que resultou no segundo gol do Santos, marcado por Neymar, aos 13 do segundo tempo. E Neymar... Esse, faça chuva ou faça sol, sempre brinda o amante da bola com lances geniais (confira no vídeo, no 0:43 e no 3:11), mesmo caçado (no vídeo, no 1:05. avaliem que punição merece essa falta). Depois do segundo tento, ninguém ali duvidava da vitória àquela altura, mas a goleada não veio, muito em função da chuva e da pancadaria dos peruanos. Agora, o time lidera o grupo 1 da Libertadores, com nove pontos, dois a mais que The Strongest e Internacional.

Ah, sim, no fim da partida, a chuva parou.

quinta-feira, março 15, 2012

Santos supera gramado sintético e Juan Aurich por 3 a 1

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Foi de virada e com uma grande apresentação de Ganso que o Peixe superou o time peruano do Juan Aurich hoje. O tal gramado sintético, que foi palco de final de Libertadores em 2010, atrapalhou o time alvinegro, que demorou a se encontrar na peleja e só o fez após tomar o gol. Fucile empatou depois de cruzamento de Juan e Ganso cobrou uma falta que assegurou o resultado positivo ainda no primeiro tempo. Uma cobrança ousada, mas que contou com a providencial ajuda do goleiro Diego Penny.

Já a segunda etapa foi toda do Santos. Neymar foi caçado mais que o normal. Os peruanos já estavam dominados quando ficaram com um a menos em função da expulsão de Guadalupe aos 13, depois de falta feia em Arouca. E aí o que andava faltando, aconteceu. Borges, que vinha se movimentando muito e dando opções para a chegada do meio de campo alvinegro, marcou o seu primeiro tento na competição. Mesmo em fase escassa de gols, os dados não mentem: o maior artilheiro do Brasileirão de 2011 jogou 42 vezes pelo Peixe e fez 26 gols, quase dois a cada três partidas.

E se os números nem sempre traduzem o que foi um jogo, não é o caso dessa partida. De acordo com o Ig, Santos teve quase 59% de posse de bola, mesmo com o "apagão de adaptação" do início da partida. Trocou mais que o dobro do número de passes do rival, 305 a 149, ficando quase cinco minutos com a bola nos pés no final do jogo, teve dez finalizações certas e nove erradas contra quatro erradas e duas certas. Mas o que deve motivar os jogadores peixeiros na partida de volta é outro dado: foram 32 faltas peruanas contra 11 brasileiras, uma diferença abissal. Neymar, o mais "atingido" não deve esquecer o adversário...

sexta-feira, março 09, 2012

Meninos, Eu Vi!

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...só que ao contrário.
Pois recuso a vida que não pode ser sonhada.

Por Luciana Nepomuceno



Flamengo 1 X 0 Emelec. Mas não se deixe enganar pelo placar, esse foi um daqueles jogos épicos em que até a rodrigueana moça com narinas de cadáver suspende a expressão e se deixa envolver pela magia. Sigamos a jornada, bem do princípio. O Engenhão estava tendo seu dia, ou ainda, sua noite, de Maracanã. A torcida rubro-negra, empolgada, chegava em grande número. Cantando, mesmo antes dos times entrarem em campo, já apresentava o cenário. Faltavam protagonistas e enredo, eles logo chegaram, com seu sentimento-homenagem feito camisa.

Desde o apito, o time do Flamengo tomou as rédeas do jogo, uma defesa bem posicionada, avançada na marcação, um meio de campo criativo e colaborativo e, claro, a inspiração e precisão de Ronaldinho e Vagner Love. A bola demonstrava claramente suas preferências, deixava-se enrodilhar, mansa, nos pés brasileiros, ignorando os desesperados convites da equipe adversária. A bola e o pé, desenhando, no verde espaço, figuras de geometria incerta, reinventando as belezas da ocidental civilização. Um time misto, onde centauros e poetas se alternavam na construção da impossibilidade para o adversário. Épico, o jogo, disse eu, e confirmo: mesmo com o completo domínio rubro-negro, o destino tinha seus caprichos. Bolas na trave em randômica sucessão. Escanteios. Defesas milagrosas. O gol não se deixava fazer. E, aos 28 minutos, o engenho cede à biologia. Léo Moura, que vinha desfilando na avenida direita do campo, sente um estiramento da coxa. Lágrimas, dele, nossas. Entra o arisco Negueba, improvisado. E isso é só mais uma forma de jogar por música, logo todos percebemos o jazz sendo feito. Ritmo, baby. Irritados, os jogadores do Emelec promovem a caça às pernas dançantes e, assim, De Jesus, após um lance de forte pegada, é expulso. São 47 minutos do primeiro tempo, espetáculo feito, respirações suspensas, olhos cativos, mas nada de gol. Respira-se. E, logo que o jogo recomeça, a pintura. Ronaldinho, artífice, em lento planejamento e em explosiva execução, oferece a bola como se fosse um presente, um mimo, com um passe que só a quem a bola concede o dom pode pleitear. E a perna de Vagner Love, aparentemente autônoma em relação ao corpo, habitada por um portento, realiza o chute. O amor fica no ar, por uns instantes, acompanhando a decisão da bola em se fazer resultado. Gol. Goollll. Gooooolllllllllllll. O canto, místico, aprofunda-se em religioso transe.

Daí pra frente, intervenção dos deuses, pois claro. Ainda a beleza, o élan que ilumina cada jogador vermelho e preto, o suor feito louros, mas os deuses temem que a soberba se espalhe e mantém o ilusório 1 X 0. Que importa? A bola sabe a quem serve. Ao fim do jogo, os jogadores do Emelec traziam a vazia expressão de quem não entende direito o que lhes aconteceu. Não se sabe o que ainda vai acontecer na Libertadores, mas, ontem a noite, via-se a moça grã-fina, de narinas de cadáver, recusando-se a deixar a arquibancada, de pé, aplaudindo o que nem se sabia ser possível ver: a felicidade.


Fronha devidamente babada...

Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos

quinta-feira, março 08, 2012

Um Santos mais organizado e o "imparável" Neymar

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Já de antemão recomendo a leitura dos posts do santista Edu e do colorado Daniel Cassol aqui e aqui. Isto posto, um rápido comentário sobre a peleja da Vila Belmiro ontem, que envolveu cinco títulos da Libertadores, acompanhada pela internet, com narração em espanhol, graças à disputa de monopólios de comunicação que priva a maioria dos torcedores de espetáculos como esta partida.

O show de Neymar pode ofuscar a nova organização tática santista, mas é preciso ressaltar que o time é outro. Conta com um meio de campo mais móvel, colaborativo ofensivamente e na marcação, com Ganso imprimindo o ritmo tanto mais atrás quanto próximo à área. Essa condição física que lhe faltou em 2011 faz com que todos os seus companheiros rendam mais, com Arouca se soltando para conduzir a bola com velocidade e Ibson chegando para finalizar. Henrique também tem se tornado um marcador que não foi no ano passado. Assim, mesmo com uma defesa lenta, o Peixe alcançou sua oitava vitória seguida, mantendo o tabu de nunca ter sido derrotado pelo Internacional na Vila Belmiro.



Dorival Junior tentou minar o meio de campo/ataque santista ocupando o setor com três volantes. Mas, com todos marcando atrás da linha da bola, propiciou que sua equipe fosse amplamente dominada no primeiro tempo, quando poderia ter ido para o intervalo perdendo não de um, como foi, mas de três. Equilibrou um pouco mais no segundo tempo e, quando ameaçou de fato o time da casa, o Internacional sucumbiu moralmente diante do terceiro gol de Neymar. Quando foi chamado, decidiu.

O atacante marcou seu 90º gol pelo time da Vila Belmiro, e já é o quinto maior artilheiro pós Era Pelé, a quatro do próximo na lista, Robinho, e a 14 de João Paulo e Serginho Chulapa, que estão no topo. Fora os bailes, como o dado no segundo e terceiros gols ontem, que levaram o locutor Pedro Ernesto Denardin, da Rádio Gaúcha, a se curvar diante do talento do menino. Claro, com o devido exagero que caracteriza o narrador gaudério:



"Todas as pessoas aqui na Vila Belmiro deveriam se ajoelhar, estender as mãos ao céu e agradecer ao Senhor que mandou pra Vila Belmiro um jogador dessa categoria. Todos deveriam se ajoelhar e agradecer a Deus. Que jogador extraordinário! 19 minutos, o Inter recém tinha feito o gol e ele escapou pela meia esquerda, ganhou de todo mundo e fez mais um gol como já tinha feito o segundo. Ele é 'imparável', 'imarcável', ele é demais, torcedor! (...) Neymar faz 3 a 1, é ruim para o Inter, mas o futebol... Ah, o futebol! O futebol sabe das valências, o futebol sabe da qualidade, e Neymar dá um show extraordinário de bola"

Exagero, sim, mas que dá gosto de ver... Como dá.

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Timão estreia na Libertadores com resultado favorito de Tite

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Tem males que vêm para bem, diz o ditado. E, às vezes, algumas benesses que trazem embutidos uns problemas. Foi minha sensação quando o nobre treinador Tite anunciou que Jorge Henrique ganhara posição no time que estrearia na Libertadores, contra o Deportivo Tachirá, na Venezuela, mandando Alex para o banco. A avaliação geral é de que se tratou de um prêmio pela boa atuação do baixinho na (fácil, convenhamos) vitória contra o São Paulo, domingo passado.
Para mim, desde o início foi um erro. Com Alex e Danilo, o time ganha poder de criação. São meias de bom passe, que invertem o jogo, se movimentam e acham espaços. Jorge Henrique de fato jogou muito bem contra o São Paulo, mas o time do Morumbi não veio tão fechado. Pelo contrário, a opinião geral foi de que o ponto fraco tricolor foi a lateral direita, ocupada improvisadamente pelo zagueiro João Filipe, o expulso, e foi por ali que JH, Danilo e, pasmem, Fábio Santos deitaram e rolaram.
Pois bem. Na noite desta quarta, o Corinthians enfrentou um Táchira bem fechado, congestionando o campo inteiro, e não teve organização para encontrar uma saída. Tentava sair rápido, mas esbarrava numa muralha de defensores. Danilo, solitário em meio aos volantes, era presa fácil da marcação. Liedson ficou perdido em meio aos zagueiros. O jogo acabou se concentrando na direita, com Paulinho, Alessandro e Emerson. Mas pouco de realmente produtivo saiu dali.
É também verdade que o gol de Júlio César pouco foi ameaçado. E que o gol dos caras saiu numa jogada meio tosca na cobrança de um lateral (um lateral!). Numa sucessão de erros (alguém deixou o cara cabecear para trás, o Chicão chegou atrasado pra cortar, o Júlio Cesar não sabia se ficava ou se saia do gol) e a bola bateu (bateu!) no jogador venezuelano e foi pra dentro do gol. Lamentável.
A falta de criatividade no meio era óbvia e a solução simples era tirar Jorge e botar Alex. Mas Tite, mantendo um padrão histórico, não fez a mudança no intervalo. O time voltou igual, e com os mesmo problemas, e assim ficou até uns 20 minutos, quando entrou Alex e saiu... Emerson. JH, que pouco tinha visto a bola, lá ficou para cumprir seu eterno papel de terceiro volante pela esquerda. Saiu também Liédson para a entrada de Elton, gerando uma situação curiosa: quando tinha dois jogadores abertos (e isolados) nas pontas, o centroavante era um baixinho que prima pela movimentação; quando entrou o grandão cabeceador, o time tinha dois meias.
Alex entrou com raiva e deu mais agudeza às jogadas do time pelo meio, mas chutou demais de fora da área e não tão bem como é de seu costume. Parecia querer resolver o jogo e provar algo para o senhor de cabelos brancos em pé à frente do banco de reservas. Não é a mesma coisa, mas foi dele a bela cobrança de falta que, aos 48 minutos, resultou no gol de cabeça de Ralph.



Um grande alívio e um bom resultado, no frigir dos ovos. Empate fora, na estreia, coisa e tal. Ficou, como é de praxe acontecer, a sensação de que esse grupo de jogadores pode mais do que Tite permite que aconteça. Alex e Danilo eram a escolha óbvia até para ele, que tem usado a dupla como titular na maioria dos jogos do Paulista. A mudança foi um equívoco facilmente explicado pela tendência titeana a rezar pelo empate fora. Com ele, desde que assumiu no final do Brasileirão 2010, é assim: empata fora e ganha de pouco em casa. Com essa conta, fomos campeões brasileiros – passando uma raiva considerável. Metade da equação ele conseguiu ontem.

Uma prancheta sem poesia

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Por Luciana Nepomuceno


Eu sou cearense, nascida e criada. Moro no Nordeste. Só conheci o Maracanã em 2010. Quando me interpelam – e fazem isso com frequência, creiam – sobre minha paixão pelo Flamengo, eu sempre respondo que a origem geográfica de Caravaggio, Nina Simone ou Patativa do Assaré nunca foi pré-requisito para a beleza que eles produziram me comover. Aprendi a torcer como consequência da admiração, do enlevo, do encantamento. Aprendi a torcer pela impressão que abeleza das jogadas em vermelho e preto produziam em mim. Ainda hoje, sou desses seres estranhos que se agradam mais com um jogo bem jogado que com uma vitória sem graça. E, ainda mais esquisita, sou daquelas idealistas que acreditam que estas coisas – bom jogo e vitória – não são excludentes por princípio. Não sou, digo logo, contra um time que joga bem na defesa, ainda lembro a elegância dos desarmes de Juan, o posicionamento inteligente de Junior e só uma pessoa com muita má vontade não reconheceria o engenho de um jogador como Gamarra.

Isto posto, já dá pra imaginar que eu não gostei nada, nada, do empate em 1 a 1 de ontem à noite, contra o argentino Lanus. Sim, blá-blá-blá, casa do adversário, blá-blá-blá, não deixaram jogar, mas o que eu vi em campo foi um time irritantemente aferrolhado. Como listar todas as ofensas? Entrar com Airton, Maldonado, Williams. Ver, jogo após jogo, o Renato Abreu se posicionar mal, perder bola na intermediária, facilitar contra-ataques e ser redimido por um gol qualquer de bola parada. Ouvir, minuto após minuto, condenarem o (fraco, é certo) futebol do Ronaldinho, como se um meia perdido entre quatro volantes e o Deivid (sem comentários) pudesse fazer alguma coisa significativa a não ser por sorte ou fortuita manifestação de talento. Adivinhar que o gol obtido nos últimos minutos do primeiro tempo só pioraria a postura da equipe. Ter que reconhecer que Léo Moura é a única esperança de jogada de ataque. Tentar entender que gosto tem uma vitória magra e mal jogada, tendo Bottineli – não exatamente um craque, mas, pelo menos, capaz de passes precisos com mais de meio metro – disponível no banco. E, claro, colocar o Negueba faltando dois minutos pra acabar o jogo só pode ser deboche.

Desligada a TV, fica a certeza de que o mais discutido (e discutível) foi a imagem obtida pela emissora de televisão da prancheta do Joel. E tudo isso não é o que mais me entristece ou assusta. Sabe o que é pior? Não há nada no passado do Papai Joel que indique uma mudança de rumos. Resta-me lembrar que somos, eu e Joel, transeuntes, e esperar que um tiquinho de criatividade, leveza e empolgação surjam, aqui e ali (mais ali, por favor). Porque, ontem, o Flamengo em campo passou longe de justificar minha resposta, arte e beleza passaram longe e nem mandaram lembrança:



PS: E como é irritante jornalista e narrador comentando Ilariê no meio da transmissão.

Luciana Nepomuceno, flamenguista, é dessas. Dessas que reescrevem tudo, que gostam de ficar na rua vendo a lua virar sol, que riem alto, que borram o batom e que se exaltam. Tem o hábito de ser feliz. Se espalha em alguns blogs, quase sempre no Borboletas nos Olhos