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Ganso: pra que tanto ódio? |
Miralles: intimidade com gol, e nenhuma com a dança |
Ganso: pra que tanto ódio? |
Miralles: intimidade com gol, e nenhuma com a dança |
Era uma vez um meio-campista, ídolo de um grande clube paulista. Por desavenças e/ou descontentamentos, resolveu mudar de time, num processo que se arrastou sob polêmica e muito desgaste com a torcida que estava abandonando. Já com a nova camisa, surgiu a oportunidade de calar tudo e todos: o primeiro clássico contra o ex-clube. E, diante da expectativa geral por uma vingança de mestre (ou melhor, de craque) contra aqueles que o ofenderam,... ele nada fez. Pior, seu novo time foi derrotado pelo antigo.
Paulo Henrique Ganso? Não apenas. Estou me referindo, também, a Marcelinho Carioca e sua conturbada saída do Corinthians, em 2001, depois de brigar com o meia Ricardinho e com o técnico Vanderlei Luxemburgo. Ao assinar com o Santos, despertou a fúria da torcida corintiana, que, até então, o tinha como um de seus maiores ídolos. No dia 28 de outubro daquele ano, pelo Campeonato Brasileiro, o Peixe recebeu o Corinthians na Vila Belmiro. Todo mundo esperava um "cala-boca" de Marcelinho no ex-clube.
Não aconteceu. O camisa 7 até tentou um gol de calcanhar, após passe de Robert, mas o goleiro Dida pegou. No final, Luizão (de pênalti) e o zagueiro santista Galván (contra) selaram os 2 a 0 para o Corinthians, em plena Vila Belmiro. Ricardinho, em campo, e Luxemburgo, no banco, riram por último.
Em setembro de 2012, depois de longa "novela", o São Paulo acertou a contratação de Paulo Henrique Ganso. Fiquei feliz, claro. Mas, logo em seguida, no início de outubro, o meia Alex anunciou sua saída do Fenerbahçe, da Turquia, e avisou que voltaria ao Brasil. Fiquei chateado. Porque, com a contratação de Ganso, dificilmente o meu time se meteria no "leilão" por mais um grande jogador da posição. E porque, apesar do ex-santista ser muito jovem e ainda poder jogar muito mais tempo (e possivelmente dar grande retorno financeiro quando sair do clube), eu prefiro Alex. Sim: na minha seleção brasileira, o veterano meia, que encantou palmeirenses, cruzeirenses e turcos, seria titular absoluto. Mesmo ao 35 anos.
Neste sábado liguei a TV para ver sua reestréia no Coritiba, clube que o revelou, em um amistoso contra o argentino Colón. O jogo foi fraco e nem teve nada de amistoso: cinco expulsões. O Coxa perdia até os 47 da segunda etapa, quando Deivid cabeceou para definir o 1 a 1. Mas Alex, mesmo desentrosado, mostrou a velha categoria. Armou jogadas, ajudou a marcação e cadenciou o meio-campo com uma propriedade raramente vista em colegas brasileiros da posição. E ainda acertou duas bolas na trave, em cobranças de falta, e fez um incrível gol olímpico - que foi anulado (justamente) porque a bola fez a curva por fora da linha de fundo. Craque! É uma pena que mais esse veterano não terá uma passagem pelo São Paulo.
Mais uma vez, devo iniciar uma análise de jogo do São Paulo com "guardadas as devidas considerações sobre a fragilidade do adversário". Ainda assim, a convincente goleada de 5 a 0 sobre o Bolívar, no Morumbi, pelo jogo de ida da pré-Libertadores, teve diversos "heróis". Ney Franco, muito corajoso ao botar Paulo Henrique Ganso no banco e apostar (certeiramente) em Aloísio na ponta-direita; Luís Fabiano, que voltou a ser convocado pela seleção brasileira e marcou dois gols (apesar de mais um cartão amarelo bobo no fim do jogo); o agora quarentão Rogério Ceni, com três belas defesas e um gol; Jadson, que está voando baixo nesse início de temporada, com dois gols em dois jogos. Mas o melhor em campo, sem dúvida alguma, foi Osvaldo. Com a saída de Lucas, ele agora é "o cara" no ataque do São Paulo.
Primeiro, abriu o placar com um golaço de perna esquerda (após belo passe de Jadson), deixando o goleiro boliviano atônito. Depois, no segundo tempo, retribuiu a assistência para Jadson marcar o quarto e sofreu o pênalti que originou o quinto gol, de Rogério Ceni. Atuação perfeita, impecável, nota 10. E o que mais me impressionou foi que, aos 37 minutos do segundo tempo, depois de correr sem parar todo o jogo, Osvaldo ainda estava dando piques de 40 metros atrás de bolas na linha de fundo... Monstro. O preparo físico do camisa 17 salta aos olhos, principalmente se comparado a figuras sonolentas, desatentas e improdutivas como Ganso. Cañete, mais uma vez, entrou na ponta-direita no final e mostrou disposição. Bem como Casemiro, que está com fome de bola. Bons sinais. Que venha o jogo de volta.
Guardadas as devidas considerações sobre a tradicional fragilidade do time do Mirassol, a estreia do São Paulo no Paulistão 2013, no Morumbi, teve como saldo positivo não apenas a vitória por 2 a 0, mas principalmente a boa atuação do meia Jadson, deslocado para o setor direito do ataque, onde antes desfilava Lucas, hoje no Paris Saint Germain. A fracassada negociação com o ponta Eduardo Vargas, do Napoli, que acabou sendo emprestado ao Grêmio de Porto Alegre, abriu espaço para Jadson, que iria para o banco de reservas com a efetivação de Paulo Henrique Ganso como homem de armação no meio-campo.
Durante a fase de preparação para a nova temporada, o técnico Ney Franco chegou a testar um losango com Ganso e Jadson no meio e apenas dois atacantes, Luís Fabiano e Osvaldo. No jogo-treino contra o Red Bull Brasil, dia 16 (vídeo abaixo), o time titular, com essa configuração, não conseguiu produzir nada no ataque e perdeu por 2 a 0 no primeiro tempo, com duas falhas de Rogério Ceni (os reservas sãopaulinos conseguiram empatar e evitar o vexame na segunda etapa). Diante disso, Ney decidiu improvisar Jadson na ponta-direita e manter o esquema 4-3-3 que deu padrão de jogo ao time no segundo semestre de 2012.
POR MORITI NETO
Faz tempo que Ganso está em outra... (Ricardo Saibun/Santos FC) |
Sebastían Pinto, presente da DIS |
Sempre ele. (Santosfc) |
Que pena, Ganso... (Ricardo Saibun / Santosfc.com.br) |
Peixe não nadou na chuva (Santos FC) |
Boas recordações para o santista. Farão igual? (Twitter) |
A partida valia pelas
oitavas de final da Libertadores de 2003. O Santos havia saído na
frente na Vila Belmiro, contra o Nacional de Montevidéu, mas sofrera
o empate aos 38 do primeiro tempo. Três minutos depois, uma falta
pelo lado direito do ataque uruguaio, daquelas que pedem um
chuveirinho na área. Mas O'Neill chuta direto e Fábio Costa falha.
Silêncio na torcida. O arqueiro peixeiro, minutos depois do lance,
ainda sente e permanece estático, semi-ajoelhado no gramado. Quando
a bola pára, o lateral esquerdo Léo vê a cena, atravessa o campo,
estende as mãos para o goleiro (que, diga-se, não costumava ter
atitude similar com companheiros de time) e o ergue, incentivando o
atleta a voltar à partida. A torcida vai junto com Léo, carrega o
goleiro no colo e, na decisão por penalidades, Fábio Costa, que
nunca foi pegador de pênaltis, defende três e o Peixe se classifica
para as quartas.
A História vai dizer
que Léo foi coadjuvante nessa peleja, mas a cena dele apoiando seu
companheiro nunca me saiu da cabeça. Não é só o atleta, é o tal
do caráter, aquela coisa de você olhar a atitude do cara e pensar
que poderia ter alguém assim do lado quando pisou na bola naquela
vez... E justamente ele, que penou pra chegar lá, foi dispensado por
Felipão no Palmeiras em 1999. O técnico não aprovaria um atleta de
1,66 m de altura e Léo, por destino, fez carreira no Alvinegro a
partir do ano 2000.
Tornou-se campeão
brasileiro pelo Santos em 2002, fez o gol de empate do time contra o
São Paulo, na segunda partida das quartas de final, e marcou o tento
da vitória contra o Corinthians, na peleja derradeira da
finalíssima. E de pé direito. Foi para a seleção brasileira,
venceu a Copa das Confederações de 2005 e partiu para o Benfica.
Voltou em 2009. Guerreiro, para a torcida. Deus, para o amigo Olavo.
Quem diria que seria o personagem decisivo da vitória peixeira
contra o Vélez Sarsfield, na partida desta quinta, siando da
reserva.
Os três e os do fundo eram um só (Foto Santosfc) |
O Santos entrou em
campo (debaixo de muita chuva) com o time reserva, sendo que cinco
jogadores fizeram sua estreia com a camisa alvinegra. No caso, com o
terceiro uniforme, a camisa azul. Gerson Magrão e Bernardo já estão
na Vila há tempos, mas só agora puderam jogar. Galhardo e David
Braz, que vieram do Flamengo na negociação com Ibson, e Ewerton
Páscoa, que no fim de semana passado enfrentava o Peixe jogando pelo
Guarani, foram os outros debutantes.
Mesmo com a esperada
falta de entrosamento, o Santos fez rodar a bola e trocou muitos
passes, mantendo a redonda sob seu domínio a maior parte do tempo.
Felipe Anderson exerceu uma nova função, revezando na ala direita
com Galhardo, um expediente que Muricy Ramalho usou bastante no São
Paulo em outros tempos. Tanto um quanto o outro levaram perigo no
apoio na primeira etapa, mas também sofreram com as investidas de
Lulinha por aquele setor.
Bernardo levou perigo
nas cobranças de escanteio. Em duas delas, quase saiu o tento
santista. Borges chamou a atenção pela disposição. Correu,
marcou, desarmou, deu opção ao ataque saindo pelos lados... Mas
quando a bola esteve na zona onde tem o atacante tem conforto, na
área, ele não conseguiu conferir por duas vezes na etapa inicial.
Já na segunda etapa, o
Bahia voltou com mais disposição, pegando mais no meio de campo e
explorando também o lado esquerdo da intermediária peixeira. E
começaram as baixas do visitante. David Braz já havia saído no
primeiro tempo com lesão, e Galhardo também pediu para sair antes
da metade do segundo tempo. Os donos da casa fizeram uma blitz
durante quase dez minutos, logo depois dos 22, mas não furaram a
defesa alvinegra. Na frente, Borges, e principalmente Renteria, não
seguravam a bola na frente e eram presa fácil dos zagueiros da Boa
Terra.
As oportunidades
peixeiras, enfim, surgiram quando a partida também começou a pesar
para os tricolores. E aí apareceu Borges. Por duas vezes ele teve a
chance de dar a vitória ao time B, ambas na cara do goleiro, mas
desperdiçou as duas. Em que pese todo seu esforço na peleja,
mostrou o porquê de estar na reserva.
Léo, mesmo cansado, aguentou o ritmo da jogo até o fim (Santos FC) |
Por que um título como o de hoje, um Estadual que muitos dizem desprezar
(embora seja fato que, se seus times ganhassem, a história seria
outra), consegue me emocionar? Não foram dois jogos parelhos na
final, o Santos mostrou sua superioridade técnica diante de um
Guarani valente, brioso, mas inferior. Mas não são só as duas
partidas que contam o que foi esse título. Trata-se de história,
história... O Santos se tornou hoje tricampeão (três vezes campeão
de forma consecutiva) do campeonato estadual mais disputado do país.
Um feito que, da última vez que foi conseguido, os donos da bola
eram Pelé, Edu, Carlos Alberto Torres, Clodoaldo, Lima, Rildo,
Toninho Guerreiro, Ramos Delgado... De lá pra cá, nenhum rival
conseguiu tal feito.
Quando o tri vem, e remete àquele esquadrão sessentista, lembro de Eduardo
Galeano, que disse, em
uma entrevista concedida a mim e ao amigo Nicolau: “Mas
a história é uma senhora que caminha devagar. É preciso ter
paciência. O resultado dessa articulação de vozes não aparece em
um ou nem mesmo em dez anos.” Essa tal de História, que caminha às
vezes em passos muito mais curtos do que desejamos, pesava e chegava
a assombrar quando eu era adolescente e vivia um jejum de títulos.
Mas ela andou, lentamente, deu as caras com aquele Giovanni mágico
de 1995, saiu um pouco mais da penumbra quando saímos da fila com
Diego e Robinho em 2002, e chegou a seu apogeu com esse espetacular
Neymar, que comanda um elenco valoroso que tem em Ganso outra estrela
que brilha de forma irregular, mas que faz sonhar quando traz luz aos
gramados.
Majestade |
Jogo de "pega Neymar" |
Caiu água no Pacaembu... (Foto Futura Press) |