Santos e Palmeiras
disputam amanhã o chamado “clássico da saudade”, referência ao
confronto que era um dos maiores do país na Era de Ouro do futebol
nacional, a década de 60. E, pelos desfalques de cada um e pelo que
os times vêm jogando, deve sobrar saudades mesmo. O Santos não vai
poder contar com Neymar e Montillo, em suas respectivas seleções,
além de Emerson Palmieri, Patito Rodríguez, Marcos Assunção e
Felipe Anderson. Do outro lado, o técnico Gilson Kleina do Verdão
não vai contar com Henrique, Vilson, Leandro Amaro, Souza, Valdivia,
Maikon Leite e Kleber.
Mas o clássico tem história, e é nela
que se pode confiar para que um bom jogo aconteça amanhã. A
primeira partida entre os dois data de 3 de outubro de 1915 e foi
realizada no Velódromo de São Paulo. Goleada alvinegra sobre o
então Palestra Itália por 7 a 0, com três gols de Ary Patusca,
dois de Anacleto Ferramenta, um de Aranha e outro de Arnaldo Silveira, autor do primeiro gol oficial da história do Santos. O
Verdão devolveria a humilhante goleada em 1932, com um 8 a 0 em uma
peleja na qual o Peixe terminou com nove jogadores, com dois gols de
Romeu Pelliciari, dois de Imparato III, além de anotações de Lara,
Sandro, Avelino e Golliardo.
Desde aqueles idos
tempos, foram diversos jogos entre os dois, alguns eliminatórios e
muitos que decidiram títulos mas que não eram finais propriamente
ditas, com exceção das partidas extras que definiram o chamado
supercampeonato paulista de 1959, com vitória do Palmeiras (ver
abaixo).
Abaixo, algumas das
partidas memoráveis desses dois gigantes do futebol:
Santos 7 X 6
Palmeiras (Rio-São Paulo de 1958)
Talvez a partida mais
emocionante entre os dois clubes e uma das maiores da história.
Dizem que cinco infartos ocorreram por conta daquela peleja, com três
reviravoltas no placar. No Pacaembu, 43.068 viram Urias marcar o
primeiro tento do jogo aos 18 minutos. A reação peixeira não
tardou e o menino Pelé, 17 anos, empatou para Pagão virar, aos 25.
Nardo empatou somente um minuto depois e o que se viu a partir daí
foi um atropelo santista até o final do primeiro tempo.
O time palmeirense era
inferior tecnicamente a uma equipe que tinha uma linha ofensiva
espetacular: Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe,
responsáveis pela histórica marca de gols no campeonato paulista de
1958. Foram 143 tentos em 30 partidas, 58 só do adolescente Pelé.
Após o empate, Dorval, Pepe e Pagão fizeram 5 a 2 ainda nos
primeiros 45 minutos.
Nesta matéria
do Esporte Espetacular, Zito conta que desceu para o vestiário
dizendo que eles tinham que marcar o maior escore da história, e
Pepe conta que o bicho, pago à época com o dinheiro da renda da
partida, já estava sendo separado para os atletas santistas. Mazzola
recorda que o goleiro Edgar chegou chorando ao vestiário, se
recusando a voltar para a etapa final. Oswaldo Brandão colocou Vitor
e o Palmeiras voltou outro depois do intervalo.
E em 18 minutos, um
motivado Verdão virou a partida pra cima do Peixe com Paulinho, de
pênalti, aos 16; Mazzola, aos 20 e aos 28, e Urias, aos 34. Um 6 a 5
que parecia sacramentar uma reação impossível, mas o impossível
não queria descansar naquela peleja. Pepe voltou a empatar aos 38,
de cabeça, e, aos 43, consolidou a última virada da partida.
Palmeiras 2 X 1
Santos (Campeonato Paulista de 1959)
O campeão Américo delira com o peixe (Palestrinos)
Como as duas equipes
haviam empatado na liderança ao fim do campeonato, foi necessário
decidir o título em uma melhor de quatro pontos. A série foi
iniciada em janeiro de 1960 e, depois de dois empates no Pacaembu nos
quais o time da Vila não contou com Jair e Pagão, no terceiro
confronto no mesmo estádio o Verdão faturou a taça. O jogo teria o
recorde de renda da história do Paulista até ali, com mais de três
milhões de cruzeiros arrecadados.
O 2 a 1 alviverde teve
gols de Pelé, Julinho e Romeiro e o Verdão saía de uma fila de
quase nove anos sem conquistar títulos, algo que incomodava a
torcida à época. O destaque do jogo foi o meia Chinesinho, que
havia chegado ao Palestra em 1958, vindo do Internacional, em uma
das transações mais caras do futebol de então. Mais tarde, foi
vendido ao Modena, da Itália.
Santos 2 X 2
Palmeiras (Copa do Brasil 1998)
O Santos não
conquistava títulos importantes desde 1984, mas vinha batendo na
trave após recuperar a sua autoestima no Brasileiro de 1995. Aquele
ano confirmaria o retorno santista às disputas de título, com o
time do técnico Emerson Leão terminando em terceiro lugar em três
competições: Brasileiro, Rio-São Paulo e Paulista, além de ter
vencido a Copa Conmebol.
A conquista que geraria outra
Já o Palmeiras de
Felipão era um time moldado à sua feição, com a dupla Paulo Nunes
e Oséas à frente e Alex e Zinho no meio, guardados por Galeano e
Rogério “Pedalada”. Após um empate em 1 a 1 no Parque
Antárctica, o Verdão passou à final contra o Cruzeiro com um 2 a 2
na Vila Belmiro, se classificando pelo critério de gols marcados
fora de casa. Marcaram para o Santos, que saiu da competição
invicto, Viola e Argel; para o Palmeiras, Oséas e o ex-santista
Darci. O título daquele torneio assegurou aos palmeirenses a vaga
na Libertadores do ano seguinte, quando se sagraram campeões
pela primeira vez.
Palmeiras 2 X 3
Santos (Campeonato Paulista de 2000)
Gol não tão bonito, mas precioso
Sem chegar a uma final
de Paulista havia 16 anos, o Santos disputava a segunda partida da
semifinal no Pacaembu contra o forte Palmeiras. Na primeira peleja,
no Morumbi, o Verdão chegou mais perto da vitória, mas um então
jovem Fábio Costa evitou que a partida saísse do zero a zero.
A segunda partida
também foi no estádio da Zona Sul e o Alviverde, que tinha a
vantagem do empate, conseguiu se impor ao marcar com Argel, aos 32 do
primeiro tempo, e Euller, aos 8 da etapa final. Aquela partida
disputada pela manhã, contudo, se tornaria histórica para os
santistas.
Com uma bela
finalização, Eduardo Marques diminuiu para o Peixe aos 23 e
Anderson Luiz empatou aos 32. O Palmeiras recuou buscando manter o
empate que lhe bastava e o Santos partiu para cima, sem muita tática
ou técnica. E, após um cruzamento de Robert, Claudiomiro dividiu
com Marcos e cabeceou para o gol, com a bola ficando limpa para Dodô,
caído, marcar o gol da virada. O Peixe do técnico Giba chegava à
final, a qual perderia para o São Paulo.
Santos 2 X 1
Palmeiras (Campeonato Paulista de 2009)
Fez a diferença o baixinho (Nilton Fukuda/AE)
O Palmeiras era
favorito nas semifinais do Paulista, havia feito a melhor campanha na
primeira fase, e o Santos era uma equipe em formação. Vágner
Mancini já aproveitava Paulo Henrique Ganso como titular e tinha
promovido naquela competição a estreia de Neymar como profissional.
A equipe de Vanderlei
Luxemburgo havia perdido a primeira
na Vila por 2 a 1 e saiu perdendo também no Parque Antarctica
logo aos 17, com Madson, um dos destaques daquela noite, marcando
para os santistas. No segundo tempo, Mauricio Ramos fez pênalti em
Neymar, sendo expulso, algo não muito incomum para o atleta. Kléber
Pereira converteu e a vantagem peixeira se ampliou.
O Verdão ainda
respiraria com um gol de Pierre, uma
falha monumental de Fábio Costa. A peleja teria ainda a
inusitada confusão entre Diego
Souza e Domingos, resultando na expulsão dos dois. O Santos foi
à final, mas perdeu a decisão para o Corinthians.
Santos 3 X 4
Palmeiras (Campeonato Paulista de 2010)
O coreógrafo Pablo Armero
Esse jogo já foi tema
de post aqui
e aqui.
O Santos vinha embalado com o belo futebol jogado pelo time de
Dorival Junior. Antes desdenhados pelo antigo técnico Vanderlei
Luxemburgo, Neymar e Ganso começavam a se destacar, ladeados por
Robinho e tendo como coadjuvantes André, Marquinhos e Wesley.
Pará fez o primeiro
aos 10 e Neymar fez aos 30. Dava pinta de que poderia ser uma goleada
alvinegra e o Peixe desperdiçava chances até que o aguerrido
Palmeiras empatou ainda na etapa inicial com dois gols de Robert,
feitos em dois minutos, aos 41 e 42.
No retorno, o Alviverde
conseguiu a virada com um gol de Diego Souza. Madson empatou aos 35
mas, em seguida, o time da casa ficou com um jogador a menos, Neymar
foi expulso depois de falta dura em Léo.
A (re) virada
fantástica palmeirense veio mais uma vez com Robert, que aproveitou
falha no meio de campo de Arouca e definiu a vitória. Mas o destaque
da peleja foi o lateral Pablo Armero dançando o que ficaria
conhecido mais tarde como “Armeration”,
uma resposta aos santistas que comemoravam seus gols com dancinhas à
época.
Na última
partida entre os dois, pelo Brasileiro de 2012, o Santos levou a
melhor: 3 a 1, em noite de homenagem a Joelmir Beting.
Se você é santista e quiser ver só vitórias do Peixe, clique aqui.
Ontem, na TV Bandeirantes, vi uma bem humorada entrevista com os históricos Pepe e Coutinho (foto), em pleno gramado da Vila Belmiro. Eles relembraram "causos" da época em que o Santos dominou o mundo, nos anos 1960. Pepe recordou um clássico com o São Paulo, na Vila, em que cobrou uma falta com a tradicional violência e nocauteou Alfredo, na barreira. "O Alfredo desmaiou e foi retirado de campo. Depois disse que tinha visto borboletas voando", riu o ex-ponta direita. Segundo ele, uma medição de seu chute calculou 122 km/hora nos anos 1960. "Aquela bomba do Roberto Carlos, na França, chegou a 109 km/hora. Daí, você calcula (a potência do meu chute)", disse Pepe, orgulhoso.
Já Coutinho lembrou da guerra que o Santos interrompeu, no Congo Belga, em 1969. "A gente tava tomando banho no vestiário quando o empresário chegou e mandou tomo mundo se apressar, pois o povo de lá tava doido pra recomeçar a guerra. O avião subiu e o tiroteio começou, lá embaixo", contou, às gargalhadas. Ele disse que os defensores do Santos costumavam jogar a bola pra ele gritando a seguinte ordem: "-Joga a carne pro leão" - um sinal de que Pelé estava partindo com tudo para o ataque. "Eu jogava e virava as costas, nem precisava ver. Sempre era gol, já ia me posicionar pra saída de bola". Coutinho revelou também que, quando algum zagueiro batia muito, ele esperava uma cobrança de escanteio pra cabecear as costas ou a cabeça dele. Isso aconteceu com o defensor Valdemar Carabina, do Palmeiras (já falecido).
"Num clássico, ele tinha me dado duas entradas violentas. Eu disse pra ele parar e ele perguntou se eu era valente. Eu disse que ele não ia jogar mais. Num escanteio, eu subi e cabeceei com força a cabeça dele, que caiu, ensanguentado. Quando ele ia sendo retirado de campo, eu cheguei e disse: '-Tá vendo, eu não disse que você não ia jogar mais?'. Mas depois eu encontrei ele na Praia Grande e fomos tomar cerveja", relembrou Coutinho, rindo.
“Ah, não falei? Esse time é só firula”. Provavelmente o torcedor do Santos ou aquele que elogia o futebol dos garotos da Vila vai escutar ou já escutou isso a essa altura do campeonato. Claro, boa parte dos que falam isso diriam a mesma coisa se o Alvinegro perdesse daqui a dez rodadas, estavam só na torcida pela óbvia contagem regressiva. Normal, até porque, se o futebol peixeiro encanta, também causa uma certa raiva em muita gente por motivos freudianos. Tanto que tem até corintiano comemorando a vitória do Palmeiras, quem diria... Mas o resultado do clássico, que para muitos apaga a série invicta (ou talvez fosse um desejo que se apagasse) e, mais que isso, obscurece as exibições dos meninos da Vila, vai ensejar uma série de meias-verdades ou teses questionáveis que vão pulular nas mesas de boteco ou mesas redondas da TV (o que é quase a mesma coisa). A algumas:
– A molecada “sentiu” o jogo – isso é um lugar comum curioso. Qualquer time, em determinados momentos de uma partida, pode “sentir” quando toma um gol ou o resultado é adverso. Os veteranos do Corinthians, por exemplo, perderam as estribeiras com os santistas. Já Ricardinho e Rogério Ceni, nas semifinais do Brasileiro de 2002, também acreditavam na instabilidade daqueles meninos. A fórmula era simples: marcar um gol logo de cara para fazê-los perder a linha na segunda partida. Fizeram o tal gol rápido e perderam mesmo assim. Ou seja, não é porque são "meninos" que vão tremer. No clássico do fim de semana, o Santos, depois de sofrer o baque da virada, passou a jogar mais que o Palmeiras, que recuou e sofreu pressão. Tanto que tomou o empate e só fez o gol quando tinha um a mais, contando com uma falha da defesa peixeira. Perder é do jogo, o futebol cansa de mostrar isso.
– Quando está ganhando, o Santos menospreza o rival – essa foi a reclamação do sensato e controlado Diego Souza, depois do jogo. Curioso é que, mesmo perdendo, Ganso deu chapéu e matou bola no peito, e Neymar pedalou e deu uma assistência para Zé Eduardo quase marcar o gol de empate. Se isso for “menosprezo”, talvez o Alvinegro menospreze o rival até quando está perdendo. Segundo, claro, o critério do sensato e controlado Diego Souza, que encontra respaldo em muita gente que acha agressão verbal pior que física.
– O Santos vai “perder o encanto” e o Palmeiras vai “desencantar” - partidas difíceis virão para o time da Vila e nem sempre vai ser possível dar show, como alertou Dorival Junior após a goleada contra o Naviraiense, embora o time, mesmo quando não encante, empolgue, como disse Mauro Beting. Isso porque sempre joga ofensivamente e produz jogadas bonitas mesmo quando a jornada não é perfeita. Já o Palmeiras faz da sua força algo que vem desde a época de Muricy Ramalho: bola alçada na área, como em dois gols que saíram contra o Peixe. Um pouco de raça, apostando no erro do adversário, mas é mais do mesmo. No ano passado, venceu o Santos na Vila e se achou campeão brasileiro. Deu no que deu. Precisa mais para se classificar no G-4.
– Neymar precisa ser mais “equilibrado” - todo craque já foi expulso de campo uma ou tantas vezes (com exceção de José Macia, o Pepe) e pernas de pau então, mais ainda, ainda que alguns sejam protegidos por árbitros sabe-se lá por que. Há ainda os que têm uma lista considerável de expulsões, nada "interpretativas", e outros que têm uma ou duas em momentos cruciais e são salvos por resultados. É só lembrar de Leonardo na Copa de 94 ou Ronaldinho Gaúcho na Copa de 2002. Ou ainda Garrincha, na Copa de 62. Neymar fez uma falta sem bola, como Pierre fez em Marquinhos com menos de um minuto de partida. Como tantas que o menino sofreu e, nem por isso, os seus marcadores tomaram o vermelho. Por isso a indignação do atacante ao ser expulso. Neymar tem a cabeça no lugar tanto quanto qualquer outro jogador brasileiro ou até mais que a média.
Mesmo com a derrota, continuo me guardando pra quando o carnaval chegar. E é bom saber que ele pode vir em qualquer partida e não só em uma final. Pra quem gosta de bola bem jogada.
No encarte especial "Paixão alvinegra", do Lance! de hoje, o eterno Pepe, "Canhão da Vila", descreve os bastidores do romance com sua esposa Lélia:
"O clássico mais especial que eu disputei em Santos e Corinthians aconteceu no dia 7/12/1958, na Vila Belmiro. Nós goleamos por 6 a 1 e eu marquei um dos gols. Fiquei tão empolgado com a vitória e com o meu gol que depois da partida eu estava passeando em São Vicente e criei coragem para ir falar pela primeira vez com a Lélia. Hoje estamos casados há 45 anos e a nossa primeira troca de palavras aconteceu naquela noite, mais precisamente na Biquinha (local famoso de São Vicente). Eu sempre fui muito tímido e a Lélia sempre passava em frente à mercearia que o meu pai tinha. Existia aquela troca de olhares, porém eu nunca tinha coragem de puxar papo. Aquela vitória contra o Corinthians eu diria que foi o pontapé inicial para o meu relacionamento. Por isso tenho certeza que aquele clássico é o mais importante que disputei."
O mais curioso é que o Corinthians também interferiu na aproximação de Pelé com sua primeira esposa, Rosemeri. Ambos assistiam a um jogo de basquete e o jogador abordou a moça, que revelou ser corintiana e perguntou se ele tinha bronca do clube, pois sempre marcava gols pelo Santos nesse clássico.
Depois do carnaval, a bola. Não que ela não tenha rolado, principalmente no sábado, quando o Resende superou um perturbado Flamengo, que teve dois jogadores expulsos e ficou de fora da semifinal da Taça Guanabara. Trocadalhos dos mais previsíveis possíveis foram feitos em profusão para falar da façanha do time, mas quando a decisão é em um partida só e, ainda por cima, em fim de semana de carnaval, zebras assim podem aparecer mesmo...
Já o Paulistão terminou o fim de semana da forma mais previsível possível. Com os quatro grandes no G-4 e a Lusa em quinto. Claro que o andamento de competições paralelas como a Copa do Brasil e a Libertadores podem alterar o quadro, mas o estadual promete ser isso que está aí. De se destacar, apenas o grande público que compareceu ao Pacaembu para ver Santos e Botafogo em pleno domingo de carnaval: quase 21 mil pagantes, mais que o dobro do clássico (ou semiclássico?) entre Lusa e Palmeiras. Mas o Eterno ainda resiste a fazer o Peixe jogar mais em São Paulo, atendo-se às superstições e ao provicianismo de sempre, embora acene com a possibilidade de a partida contra o Rio Branco ser realizada na capital. Ao santista paulistano, mais fiel que o da Baixada (e olha que sou de lá), restam as sobras...
O ponta-artilheiro
Garrincha, Canhoteiro, Julinho Botelho, Zagallo... Nenhum deles chegou perto da fantástica marca de Pepe, segundo maior artilheiro da história do Santos com 405 gols. É o maior ponta artilheiro do país, e com tal marca supera os goleadores máximos de clubes como Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Fluminense etc etc etc. Hoje, ele faz 74 anos. Parabéns, Canhão!
Barrichello e Danica Patrick juntos?
Invado aqui o espaço do inigualável Chico Silva para falar de automobilismo. Ou quase isso. Após penar na sofrível e hoje falida Honda, Rubens Barrichello está prestes a se aposentar de maneira forçada. Mas o descanso pode durar apenas um ano. A USF1, equipe estadunidense lançada na terça-feira e que estreará na Fórmula-1 em 2010, declarou publicamente o interesse em contar com o brasileiro já que, em seu primeiro ano na categoria, precisaria contar com um piloto rodado (no bom sentido). "Rubens Barrichello seria bom, pois experimentou dois anos ruins na Honda, o que seria uma coisa muito útil para nossa operação. Mas ele é quase o único dos pilotos que potencialmente preencheriam o papel de piloto experiente", disse Peter Windsor, diretor esportivo da agremiação.
Fotos comportadas porque esse é um blogue de família.
E, para acompanhar Barrichello na equipe, uma das apostas é Danica Patrick, que hoje disputa a F-Indy. Hoje ela integra a equipe Andretti-Green se destacou por ser a primeira mulher a vencer uma prova na categoria, no Japão em 2008. Certamente, como se sê nas fotos da moça, seria também uma bela jogada de marketing, podendo ajudar a combalida F-1, tão afetada pela crise econômica mundial.
Outro dia abri um livro dos tempos de adolescência e, como marcador de página, estava o canhoto do ingresso da primeira partida que assisti no Morumbi. Hoje faz exatamente 22 anos que isso aconteceu: em 4 de fevereiro de 1987, meu pai me levou ao estádio para assistir a vitória do São Paulo por 3 a 0 sobre a Internacional de Limeira, na segunda partida decisiva das oitavas-de-final do Campeonato Brasileiro de 1986. Vencemos com um gol do Careca e dois do Silas (foto). Que timaço! O técnico do Tricolor era Pepe, que havia levado a mesma Internacional de Limeira, no ano anterior, a ser o primeiro clube do interior a conquistar o Campeonato Paulista, numa decisão contra o Palmeiras. E Pepe venceria o Brasileirão com o São Paulo, derrotando o Guarani na emocionante final. Nesse jogo que presenciei no Morumbi, vejam só, o técnico da Inter de Limeira era ninguém menos que Nelsinho Baptista...
Mas aquela quarta-feira ficará marcada não só pela partida do São Paulo. Eu tinha 13 anos e não conhecia a capital, de onde havia saído aos três anos e posto os pés, pela última vez, aos sete. Meu pai estava reunindo a documentação para a aposentadoria e, nos tempos pré-internet, isso tinha que ser feito diretamente nas empresas (pois a carteira de trabalho dele havia sido roubada). Pra mim, capiau de Taquaritinga, tudo era novidade: foi a primeira vez que vi uma Pepsi na vida e também uma loja do McDonald's, onde meu pai teve a sabedoria de não me levar. Conheci o centrão de São Paulo, os camelôs, o trânsito infernal. Comprei dois discos dos Beatles que não fazia a menor ideia de que existiam. Quando bateu o cansaço, meu pai me levou ao metrô para dormir em várias viagens de uma estação final à outra da linha azul. No final da tarde, pegamos um ônibus que levou mais de uma hora até chegar ao estádio. Aquele jogo atraiu um público pagante de 34 mil pessoas. Infelizmente, só pudemos assitir o primeiro tempo (e o primeiro gol, acho), pois tínhamos que pegar o último ônibus no Terminal Tietê. Mas não me esqueço daquela aventura - e está aqui o post para comprovar.
O companheiro Marcão, nesse post, contou a versão de Feola sobre a escalação de Zagallo na ponta-esquerda na Copa de 58, preterindo José Macia, o Pepe (foto), que ficou na reserva. O ponta santista, em entrevista da qual participei para a revista Fórum, não contradiz totalmente os argumentos de Feola, mas relata de forma mais completa como ocorreu a decisão do técnico entre escolher Zagallo, Pepe ou Canhoteiro. Ele também não descarta uma certa pressão para que Pelé e Garrincha fossem escalados. Eis a versão do "Canhão da Vila":
Convocação
Em época de Copa sou muito entrevistado e realmente me aborreço muito porque não joguei nem em 1958, nem em 1962. Antes da Copa de 1958 fizeram exames médicos mais rigorosos na Seleção e me pegaram com um problema na gengiva e nos dentes. Tive de fazer algumas extrações e perdi tempo, fiquei sem treinar por uns dez dias e o Zagallo começou a ganhar a posição.
A dúvida do Feola [Vicente, técnico da Seleção] era se ia cortar eu ou o Canhoteiro. E, no jogo contra a Bulgária, Feola optou por ele. Quando estava 1 a 1 e faltavam 20 minutos para acabar o jogo, eu entrei e mandei uma bomba no peito do goleiro. No rebote, o Pelé fez 2 a 1 e eu fiz o terceiro. Os jornais diziam que eu tinha assinado o passaporte para a Suécia.
Amistosos e contusão
Depois, teve um jogo de “desagravo” contra o Corinthians, porque Luizinho não havia sido convocado e a torcida não aceitava. Ganhamos de 5 a 0 e já joguei de titular e marquei 2 gols. Viajamos para a Europa e fomos enfrentar a Fiorentina, ganhamos de 4 a 0 e fiz um gol. O fatídico jogo foi contra a Inter de Milão, o último amistoso antes de embarcarmos para a Suécia.
Estávamos ganhando de 2 a 0, quando parti com a bola dominada e um italiano me deu uma no tornozelo direito que cheguei a virar o pé. Desembarquei na Suécia de chinelo com o pé muito inchado. Com o tratamento, fiquei bom só na quarta rodada e o Zagallo já estava jogando com o time embalado.
A Copa do Chile
Em 1962, pensava “agora é comigo mesmo”. Depois de 1958, fui titular em 1959, 1960 e 1961 e aí veio a Copa. No Chile, tive novamente problema de contusão, estava treinando e de repente cresceu uma bola na minha perna. Fiquei fazendo tratamento e não consegui me recuperar.
Naquela época, o tratamento era toalha quente, água quente, raios-X e infravermelho. Falei para o Mário Américo: “doutor, preciso ficar bom, preciso jogar. Lá no Santos, quando tem um problema muito sério, a gente toma uma infiltração e em três, quatro dias fica bom”. Aí ele me deu a injeção. No dia seguinte, teve uma missa e eu apareci agarrado em dois jogadores, nem podia andar por causa da reação que deu na perna. Não sei se houve imperícia da parte dele porque não estava acostumado a dar injeção, sei que perdi de vez o foco da Copa, não tive mais chance alguma de jogar. Vim para o Brasil e o médico do Santos me examinou e perguntou: “o que fizeram com você?” Estava com queimadura de terceiro grau no joelho.
O papel dos líderes em 1958
Eu fazia o meu papel e jogava, não participava de nenhum tipo de reunião com a comissão técnica. Pode ter acontecido com o Nílton Santos, com o Didi, o Bellini, jogadores mais experientes, que tenham pedido a presença do Garrincha e do Pelé. Não participei de nenhuma reunião, mas acho que houve. Estava saltando aos olhos que estávamos precisando do Pelé e do Garrincha, embora a gente não pudesse prever que um menino de 17 anos fizesse aquele estrago todo.
Muito se discute sobre o verdadeiro papel dos técnicos na formação de um time. A mim, parece que a importância deles é superestimada, muito por conta da falta de ídolos que tratem bem a pelota nos gramados, o que desvia o foco para o banco. Vídeos circulam por aí com preleções que parecem verdadeiras palestras de neurolingüística de segundo nível, que fariam muita gente segurar o riso pra não deixar o “comandante” chateado. No entanto, às vezes não dá pra deixar de rir com nossos treinadores.
Uma situação dessas é contada por José Macia, o lendário ponta-esquerda santista Pepe. Em 1998, o atacante Luís Muller, revelado pelo São Paulo em 1977 e campeão paulista pelo Tricolor em 1980 e pelo Bragantino em 1990, estava na Ponte Preta, que disputava o acesso para a primeira divisão de São Paulo. No banco, o artilheiro via sua equipe tomar um vareio da União Barbarense no quadrangular final. A Macaca perdia por 3 a 0 e, aos 30 minutos do segundo tempo, o técnico Celso Teixeira, hoje no Sampaio Côrrea, chamou o veterano.
- Muller, vai lá bem na frente, explora a descida dos laterais dele, entra pelo meio com velocidade e em diagonal, ajuda na marcação e arremata sempre de qualquer distância.
Após ouvir as orientações do chefe, Muller, que jogaria 15 minutos, sorriu ironicamente e perguntou:
- Professor, o senhor quer que eu só empate ou tenho autorização para virar esse jogo?
A Ponte ainda tomaria mais um gol, perdendo por 4 a 0. Jogadores com personalidade e senso de humor fazem falta...
No post que fiz outro dia sobre três senhoras linhas de ataque de 1958, o Glauco observou em um comentário que a linha santista daquele ano, Dorval, Jair Rosa Pinto, Pagão, Pelé e Pepe, teria sido tão boa (ou melhor) que a formada pelo alvinegro praiano alguns anos depois, com a entrada do meia Mengálvio e do atacante Coutinho. O fato é que, além de terem atuado por mais tempo e conquistado o bicampeonato da Libertadores e do Mundial Interclubes (os maiores títulos do Santos), a excepcional linha de ataque Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe chegou a representar como titular a seleção brasileira. Confira as fotos de 1963, o auge do quinteto:
No Brasil, no Santos e atualmente (abaixo): Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe
Primeiro foi Pelé, segundo a coluna "De Prima", do "Lance!". "É bom tomar cuidado com a Ponte, que tem tudo para surpreender".
Entende?
Por mais que eu torça pra ele estar errado, é bom dizer que é mentira que o Rei do Futebol só dê bola fora nos palpites. Ele tinha um mau-pressentimento no jogo entre Brasil e França nas quartas-de-final de 2002, e disse que a parceria do Corinthians com a MSI não ia dar certo.
Depois o Pepe: "Olha, com todo o respeito ao Palmeiras, eu torço para que a Ponte possa beliscar esse título, como aconteceu com a Internacional há 22 anos", declarou o ex-técnico da Internacional de Limeira. "Vai ser difícil, o Palmeiras tem uma grande equipe, um bom treinador e até pode ser considerado favorito. Mas confio na Ponte Preta".
O atual supervisor de futebol da Itapirense, de Itapira (SP), na Série A-3 do Paulistão, foi o técnico vencedor em 1986, contra o Palmeiras.
Depois da derrota foi que eu descobri, aos seis anos de vida, entre lágrimas e uma tristeza sem fim, que eu era parmerista mesmo... Antes, eu nem sabia direito o que era torcer.
Natural que se seque o time grande numa decisão contra um do interior. Até o presidente Lula recebeu camisa da Ponte.
Reprodução: GloboEsporte
São Marcos salve o Palmeiras de tanta torcida contra.