O retrospecto brasileiro contra os chilenos em Copa do Mundo é
amplamente favorável à seleção canarinho. Foram três partidas em
mata-mata, todas com vitória do Brasil, e saldo de oito gols a favor,
com onze tentos anotados e três sofridos. Entre as curiosidades, a força
da jogada aérea. Em todas as pelejas a seleção marcou pelo alto, três
vezes em 1962 e uma vez em 1998 e 2010.
Antes dos Beatles surgirem, a cidade portuária de Liverpool era mais conhecida, na Inglaterra, pela sua profusão de comediantes e pelo fanatismo de sua classe operária (formada principalmente pela massa de descendentes de irlandeses) por futebol. Cada vitória dos clubes Liverpool e Everton representava um "cala boca" dos nortistas sobre os habitantes do resto do país, especialmente os arrogantes londrinos, que os desprezavam como "caipiras" e provincianos. Muitas vezes, a defesa desse orgulho do "povo do Norte" ultrapassava fronteiras e fazia com que os scouses (apelido dos operários liverpudianos) torcessem para qualquer clube da região - como o Blackpool e o Leeds United, entre outros - contra os times de Londres, como o Chelsea, o West Ham etc.
'George' Robledo, herói do título
Foi o que aconteceu na decisão da Taça da Inglaterra, em 1952. O poderoso Arsenal, da capital, enfrentaria o Newcastle, campeão da edição anterior. Como a cidade de Newcastle upon Tyne fica no extremo Norte do país, perto da fronteira com a Escócia, os torcedores de Liverpool ficaram naturalmente a favor do time local. A partida disputada no dia 3 de maio daquele ano, no lendário Estádio de Wembley, paralisou todos os ingleses fanáticos por futebol. Mas foi um chileno o protagonista do jogo: aos 39 minutos do segundo tempo, Jorge "George" Robledo Oliver marcou de cabeça o gol do título para o Newcastle, levando o "povo do Norte" à loucura (clique aqui e veja vídeo sobre a conquista histórica).
O garotinho John, aos 11 anos
Em Liverpool, um garotinho talentoso de 11 anos, que gostava muito de ler, escrever e desenhar, ouviu a partida épica pelo rádio e também se entusiasmou. Neto de um irlandês legítimo e muito orgulhoso por ser um scouse, John Winston Lennon morava com os tios Mimi e George, pois seus pais não puderam criá-lo. É possível que, menos por gostar de futebol do que por defender a honra do "povo do Norte" contra os odiados londrinos do Sul, ele tenha decidido exaltar o grande feito do Newcastle em um desenho. E talvez este enraizado sentimento bairrista possa ter ressurgido 22 anos depois, em 1974, quando, já como um famoso ex-beatle, John Lennon escolheu o mesmo desenho para ilustrar a capa de um de seus discos.
O ex-beatle Lennon, em 1974
"Walls and bridges" ("Muros e pontes") traz, como sucessos, as músicas "Whatever gets you thru the night" e "#9 Dream". Foi um dos três trabalhos que Lennon gravou no período de um ano e meio em que esteve separado de sua segunda esposa, Yoko Ono. A ilustração na capa do disco mostra dois jogadores de futebol com camisas listradas preto e branco, à direita, disputando a bola com um defensor de uniforme vermelho e branco e um goleiro com camisa azul. Está escrito: "John Lennon, junho de 1952, idade 11, futebol". Ou seja, um mês após a vitória do Newcastle sobre o Arsenal. E o desenho mostra o gol do chileno Robledo, que decidiu a Taça da Inglaterra. Vejam:
Desenho que ilustra o disco "Walls and Bridges", de 1974, feito 22 anos antes
Lance do gol de Robledo, que é observado pelo colega Jackie Milburn (camisa 9)
Estátua do 'herói' Milburn
Notem que, assim como na foto, Lennon fez questão de preservar destaque para o camisa 9 do Newcastle, o lendário Jackie Milburn, que observava o gol do colega Robledo. Isso tinha um conteúdo simbólico para John: ele nasceu no dia 9 de outubro e considerava este como seu número de sorte, o que o levou a batizar canções com títulos como "Revolution 9" e a já citada "#9 Dream". E vejam que coincidência: John Edward Thompson "Jackie" Milburn, o tal camisa 9, que era idolatrado no Norte da Inglaterra como "Wor Jackie" (algo como "Nosso Jackie", no dialeto local), faleceria justamente num dia 9 de outubro, em 1988, quase oito anos depois de Lennon ter sido assassinado. Assim como John na música, Milburn foi um "Herói da classe operária" ("Working class hero", título de outra canção do ex-beatle) no futebol.
Robledo, pelo Chile, na Copa de 50
Mas o jogador mais festejado, naquela conquista do Newcastle, foi mesmo "George" Robledo. Nascido em Iquique, no Chile, em abril de 1926, era filho de um chileno e uma inglesa. Por problemas políticos, a família emigrou para a Inglaterra quando ele tinha 5 anos. Foram morar em Brampton, cidade famosa pelas minas de carvão. Robledo trabalhava exatamente como mineiro quando começou a jogar futebol. Chegou ao time do Newcastle em 1949 e se destacou a ponto de ser convocado pela seleção chilena para a Copa de 1950, no Brasil, mesmo sem saber falar espanhol. Jogou apenas a terceira e última partida do Chile naquele Mundial, 5 a 2 contra os Estados Unidos, em Recife (clique aqui e veja o vídeo) - e foi Jorge Robledo quem abriu o placar. Mas os chilenos já haviam perdido para a Espanha e justamente para a Inglaterra e foram eliminados.
Robledo (à direita) escora a bola e abre o placar contra os Estados Unidos, em Recife
John em 1961, rumo à glória
Em 1953, um ano depois de marcar o gol que deu o título da Taça da Inglaterra ao Newcastle, Robledo voltou para o Chile, para jogar no Colo-Colo. Mais tarde, em 1959, passou para o Club Deportivo O'Higgins, onde encerrou a carreira dois anos depois. Naquele momento, lá no Norte da Inglaterra, uma banda de rock'n'roll formada por quatro scouses liverpudianos começava a trilhar sua trajetória rumo à glória mundial, os Beatles (trocadilho entre beat, batida, e beetles, besouros). E o líder e fundador do grupo era ninguém menos que John Lennon, o garotinho que havia orgulhosamente registrado em desenho o gol do título do Newcastle de 1952. Domingo agora, 8 de dezembro, completam-se 33 anos de sua morte. Já Robledo morreu em abril de 1989, no Chile, seis meses depois do ex-colega de equipe Jackie Milburn.
Em um dia 17 de junho como hoje o Brasil defendia seu
primeiro título mundial de futebol, conquistado quatro anos antes na Suécia. A base titular daquela seleção
era praticamente a mesma de 1958, inicialmente, apenas com
duas mudanças: os zagueiros, Mauro e Zózimo,
no lugar de Bellini e Orlando. Nílton Santos, mesmo com 37 anos e já
atuando como zagueiro pelo Botafogo por conta da idade, foi escalado
como titular, barrando Rildo, do Santos, que fazia parte da primeira
lista de 41 convocados mas acabou cortado. Já Coutinho, que vinha
jogando no time de Aymoré Moreira, foi para a reserva e cedeu lugar
para Vavá no Mundial, pois o treinador privilegiou a experiência
dos campeões de 58.
Dos 22 atletas que
foram ao Chile, sete eram do Santos, cinco do Botafogo, três do
Palmeiras, três do Fluminense e dois do São Paulo. Ainda havia
Zózimo, do Bangu, e o jovem Jair da Costa, da Portuguesa. O grupo da
seleção no torneio contava com México, Tchecoslováquia e Espanha.
A estreia foi contra os mexicanos e o Brasil venceu por 2 a 0, mas
não jogou um futebol convincente. Pelé fez o cruzamento para
Zagallo marcar o primeiro gol da partida, que só surgiu aos 11 do
segundo tempo e o próprio Dez marcou o segundo, depois de driblar
dois adversários, aos 28.
Mas se a desconfiança
pairava sobre a seleção, que muitos viam como uma equipe
envelhecida, a situação ficaria ainda pior na segunda partida. O
jogo entre Brasil e Tchecoslováquia terminou em zero a zero, mas a notícia ruim foi a contusão de Pelé, que, aos 27 minutos, depois de
finalizar de fora da área, sentiu a virilha esquerda. Sem condições
de atuar, ficou em campo até o final, já que não eram permitidas
substituições. No dia seguinte, o diagnóstico de distensão no
músculo adutor da coxa esquerda confirmava os temores do time e da
torcida: Pelé estava fora da Copa.
Na partida que fechou a
primeira fase, o Brasil precisava somente do empate para ir às
quartas de final do Mundial, mas a Espanha era um time forte, que
tinha praticamente o ataque do Real Madrid campeão europeu. E
contava com um expediente que depois seria proibido: a naturalização
de atletas, mesmo daqueles que já tinham disputado jogos por outras
seleções. Assim, a Fúria vinha com o húngaro Puskas e o argentino
Di Stefano, que chegou ao Chile contundido, além do uruguaio
Santamaría e o paraguaio Martínez. Após a Copa, a Fifa proibiu a
“naturalização por atacado”, que estava virando moda, como
mostrava a seleção da Itália, que também tinha os seus: os
brasileiros Sormani e Altafini e os argentinos Sívori e Maschio
O time inteiro jogava
mal e a Espanha chegou ao gol aos 35, com Adelardo. Tudo poderia
ter sido ainda pior se não fossem dois grandes erros da arbitragem. O
primeiro, em um lance que já se tornou lenda, no qual Nílton Santos
derrubou Collar na área mas, espertamente, deu um passo à frente,
ludibriando o árbitro chileno Sergio Bustamante. Na sequência, após
a cobrança de falta de Puskas, Peiró marcou de bicicleta, mas o gol
foi anulado por Bustamante ter entendido o lance como “jogada
perigosa”, ainda que Peiró estivesse a mais de um metro de Zózimo.
O vídeo abaixo mostra dos dois lances. Amarildo e Garrincha
marcariam a virada brasileira.
E Garrincha apareceu
Vieram as quartas de final
foram contra a Inglaterra e, finalmente, brilhou a estrela de
Garrincha. O ponta havia sido muito criticado pelo seu desempenho na
primeira fase e, sem Pelé, o Brasil apostava no talento do craque
das pernas tortas. Ele marcou o primeiro tento da partida, de cabeça,
mas os ingleses empataram oito minutos depois, com Hitchens. A
igualdade persistiu até os 8 do segundo tempo, quando Vavá escorou
após rebote do goleiro Springett em cobrança de Garrincha. O ponta
faria ainda o terceiro, em chute de fora da área. Naquele dia,
Garrincha só seria driblado por um cachorro que entrou em campo
paralisando a peleja. Outro cão provocou uma segunda paralisação e
sumiu debaixo das arquibancadas.
A semifinal seria
contra os donos da casa e a seleção tentou se precaver contra
qualquer imprevisto. Tanto que a refeições do dia da semifinal
foram providenciadas pela própria comissão técnica brasileira, que
tinha medo de algum “problema” com a comida servida aos jogadores
no hotel. Na partida, o infernal Garrincha assegurou a vantagem logo
aos 9, com um chute de fora da área que foi parar no ângulo
esquerdo de Escuti. Ele marcaria novamente aos 31, de cabeça, com o
Chile descontando em cobrança de falta aos 41 ainda do primeiro
tempo.
Logo no início da
segunda etapa, Vavá não deixou os anfitriões se animarem, e marcou
após escanteio. Leonel Sanchez descontou de pênalti e Vavá
fez o quarto, aos 33. Depois do último gol, o jogo sairia do
controle do árbitro peruano Arturo Yamazaki. Landa foi expulso após
falta dura em Zito e Garrincha, caçado durante todo o tempo, revidou
em cima de Rojas, agredindo o chileno. O juiz não viu o lance, mas
foi cercado pelos chilenos, que apelaram para o testemunho do
auxiliar uruguaio Esteban Marino, que confirmou a agressão. Como não
havia suspensão automática, ficava a dúvida: Garrincha poderia
jogar a final pelo Brasil?
E daí surge mais um
episódio “estranho” a favor dos brasileiros. Em sessão
extraordinária do Tribunal da Fifa, o árbitro disse não ter visto
a agressão, mas que o uruguaio Marino havia confirmado que ela tinha
existido. Convocado para depor, Marino não compareceu, pois já teria
deixado o Chile àquela altura. Sem o depoimento, Garrincha foi
liberado para atuar contra a Tchecoslováquia. À época, dizia-se
que a CBD teria pago a viagem de Marino, que estaria no Brasil.
Um mês após a Copa, o uruguaio foi contratado pela Federação
Paulista de Futebol.
No dia da final,
Garrincha amanheceu com febre e não teve a destacada atuação dos
dois jogos anteriores. Os tchecos aproveitaram e abriram o placar aos
15. Mas somente dois minutos depois do gol de Masopust, Amarildo
empatou, em um lance no qual o arqueiro Schroif fez um fatídico golpe de
vista.
Na etapa final, a
seleção veio melhor, mas poderia ter encontrado mais problemas se o
árbitro Nikolai Latchev tivesse marcado pênalti quando Djalma
Santos tocou a bola com o braço dentro da área, em cruzamento de
Jelinek. Como o juizão interpretou “bola na mão”,
o jogo seguiu e, aos 24, Amarildo fez grande jogada pela esquerda e
cruzou para Zito, que marcou. Algo raro, já que, por ser volante, o santista costumava chegar pouco à área e na sua trajetória com a camisa do Brasil foram apenas três gols. Um deles, este, que pode ser considerado o do título.
Após nova falha, mais grotesca, de Schroif, Vavá fez
o terceiro aos 33 e selou a vitória brasileira. O país que tinha
complexo de vira-latas no futebol antes do Mundial de 58, vencia pela
segunda vez a Copa do Mundo. E como perguntar não ofende, será que algum jogador, desses que costumam imitar João Sorrisão e quetais, na rodada do Brasileirão de hoje vai lembrar de homenagear os grandes de 1962?
Boa parte das
informações contidas neste post estão no ótimo livro de Lycio
Vellozo Ribas, O
mundo das Copas. Mais que recomendável.
A cidade é uma curva na estrada, no vale do Elqui, em direção à cordilheira. A igrejinha
com uma única torre se coloca no centro deste cenário ao mesmo tempo delicado e
grandioso: barrancos secos cor de serragem, coberto de vinhas igualmente secas,
perfeitamente perfiladas; ao fundo, os picos nevados.
É neste pequeno lugar que se encontra a mais antiga e
respeitada destilaria artesanal de pisco do Chile. O vilarejo chama-se Pisco
Elqui, e foi ali que viveu, ainda no século XIX, Rigoberto Rodriguez Rodriguez,
o homem responsável por tornar uma lenda o pisco 3Rs (marca que hoje é
explorada por uma grande indústria exportadora).
Com mais um punhado de casas, esta é Pisco Elqui.
Arrisco dizer que Don Rigoberto está para o pisco chileno
como Anísio Santiago está para a cachaça mineira. Sua pequena destilaria hoje
se chama Los Nichos e fica na beira da estrada, poucos quilômetros depois de
passada a igrejinha. Acompanhei uma visita guiada ao local com o guia Carlos,
que nos explicou todo o processo de produção da bebida.
Intervalo cultural: a produção do pisco
Na semana em que o Futepoca esteve no Chile, no início de
agosto, a seleção do país austral havia perdido da seleção do Peru por 2 a 1,
sendo o gol chileno na realidade um contra do zagueiro peruano. Os descendentes
dos incas não perderam a oportunidade de dizer que até os gols chilenos são, na
verdade, peruanos.
Com o pisco acontece a mesma coisa. O Peru afirma que o
pisco original e único verdadeiro é produzido em suas terras. O guia Carlos
explicou que a produção de pisco em seu país é tão antiga quanto no país vizinho,
mas que no Chile a grande indústria (como o Capel, a 51 do pisco) proliferou de
tal modo que desfigurou completamente a bebida original. Um verdadeiro pisco
artesanal chileno é tão bom ou melhor que o seu correspondente peruano.
Diferente da grappa
italiana ou da bagaceira portuguesa, que destilam o produto da fermentação do
bagaço da uva, o pisco (como o Cognac) é um destilado de vinho. Primeiro
produz-se um vinho muito doce e de alto teor alcoólico, a partir de uvas
brancas como a moscatel. Este vinho é fermentado, produzindo um mosto, que é
decantado e, depois, destilado. Despreza-se a cabeça e a cauda da para ficar
apenas com o coração da destilação, o chamado “álcool de pisco”.
Neste estágio, o licor tem graduação alcoólica entre 70 e
80%. É então diluído em água, obtendo-se a graduação desejada, de 30% até 45%.
Conforme me explicou Carlos, o pisco tradicional não é envelhecido. Foi a má
fama adquirida pelo produto industrial que levou alguns fabricantes a
envelhecerem o pisco em carvalho, como esta fosse a razão da qualidade. Não é.
Epitáfios a quem sai
na horizontal
Nichos à esquerda, habitados pelos espíritos de manguaças ilustres.
Por mais de meio século à frente da produção do pisco, Don
Rigoberto tinha certeza de que depois de morto permaneceria entre suas
garrafas. Ele armazenava sua produção no porão da casa, onde fez construir "nichos"
como aqueles que há em criptas de igrejas antigas para sepultar mortos ilustres. As
garrafas de pisco foram preenchendo os nichos, e ali estão até hoje – cada
garrafa dessas vale uma pequena fábula.
Foi numa mesa colocada diante de suas melhores garrafas que Don Rigoberto
recebeu as mais ilustres figuras da sociedade chilena, entre eles vários chefes
de Estado, além de comparsas locais. Aos amigos do peito, homens de caráter
que por pelo menos cinco vezes “entrassem nas covas na vertical e saíssem na
horizontal”, Rigoberto reservava-lhes um nicho e escrevia um epitáfio. Hoje,
cada nicho é dedicado a um desses nobres senhores, cujo espírito habita entre as garrafas.
Comprei duas, uma de Los Nichos e outra de Espírito del Elqui, mais forte. A primeira é para os amigos, a ser compartilhada em plena alegria; a outra, para beber só, é dos inimigos, para quando
fazem meu fígado trabalhar demais e preciso dar-lhe alguma tarefa que me
devolva à sensatez.
Em um painel publicitário do metrô de Santiago, Chile, os lindos olhos de uma mãe querem expressar toda a preocupação revelada pelo texto logo abaixo: “EU MORRO se meus filhos não puderem continuar estudando”. Em seguida, sugere-se ao cidadão que contrate um seguro: “O negócio mais importante de sua vida”. Por fora dos tubos que percorrem as entranhas da cidade, milhares de estudantes e professores saíram às ruas para defender uma outra proposta para se garantir a educação dos jovens chilenos.
E foram recebidos com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água. Os conflitos nas ruas em torno da reforma da Educação no Chile já duram meses e tiveram um primeiro ápice no final de junho, quando as passeatas reuniram mais de 400 mil pessoas, o que resultou na queda do então ministro da Educação, Joaquín Lavín, dias depois. Com uma nova proposta em que cedem em vários pontos ao movimento estudantil, o governo declarou que “o tempo das marchas se acabou”, mas estudantes e professores discordam e marcaram duas grandes passeatas “não autorizadas” para a quinta-feira, 4 de agosto, uma de secundaristas outra de universitários. Ao final do dia havia 874 manifestantes presos e cerca de 30 feridos.
Pelo que afirma o movimento estudantil, o governo do presidente Sebastian Piñera está mais alinhado com a mamãe preocupada da publicidade. As diversas propostas do então ministro Lavín, que é um grande empresário da área de educação, mais reforçavam que reformavam o perverso sistema educacional chileno. Com leis escritas num gabinete de Pinochet e impostas no início dos anos 80, o sistema não apenas tornou pagas (e caras) as universidades públicas como criou uma série de repasses estatais ao sistema privado. Mesmo sendo o lucro ilegal para as instituições privadas, mecanismos simples permitem aos proprietários lucrar e muito. Para citar um exemplo recorrente, o reitor muitas vezes é também dono do prédio onde está a faculdade e o aluga à instituição.
A pedra fundamental da “reforma” de Lavín era um plano que levaria 70 mil bolsas de estudo a secundaristas, repassadas às instituições. Algumas faculdades privadas já haviam começado a oferecer “benefícios” como vales transportes para que os bolsistas as prefiram e assim possam incorporar o investimento público às suas receitas. Como era parte diretamente interessada (nos lucros), estudantes e professores recusaram o ministro como interlocutor, o que levou a sua queda.
As 21 propostas apresentadas pelo governo nesta segunda procuram incorporar exigências do movimento. Os manifestantes consideraram entretanto que o governo não toca no fundamental – a mercantilização da educação – e convocaram as passeatas para um dia antes do prazo que teriam para dar uma resposta. Declaração de Camila Vallejo, presidente da Federação dos Estudantes da Universidade do Chile, foi retomada por muitos: “é mais do mesmo com uns pesos a mais”. Para se ter uma ideia, hoje é possível que uma universidade que não siga padrões mínimos de qualidade definidos pelo Ministério sigam funcionando; a ideia é deixar que os “consumidores” terminem por escolher as melhores e que o mercado trate de eliminar as piores. Há então hoje universidades “acreditadas” e “não-acreditadas”, todas elas autorizadas a funcionar.
As manifestações foram duramente reprimidas em todo o país. Tropas de carabineros realizaram verdadeiras operações de guerra para abafar o movimento; preparados, os manifestantes armaram-se de celulares para contra-atacar pelo Twitter e bexigas com tinta colorida para pintar o arsenal dos pacos. Para o governo, a decisão de dar uma “prova de força” pela força das armas se mostrou uma catástrofe política. A aprovação a Piñera caiu ao nível mais baixo já alcançado por um presidente desde que se começou a medição, há 20 anos, atingindo menos que 30%; pela repressão desmesurada, os estudantes agora pedem a renúncia do ministro do Interior, Hinzpeter.
As reformas
Carteiras e cadeiras enganchadas nas grades das escolas indicam adesão aos protestos. Foto: El Post.
Nos últimos dias, estive em Santiago, Valparaíso e La Serena (no norte do país), e o que se observa é uma impressionante coesão das escolas e universidades em torno do movimento. As escolas de ensino médio trazem carteiras enganchadas nas grades externas, como forma de dar a ver a adesão à paralisação, e as universidades trazem grandes faixas com dizeres como “Isso não é uma brincadeira” ou “Universidade pública e gratuita”.
O que exigem os estudantes e professores não é pouca coisa: querem retomar o sentido da educação pública que havia no período pré-Pinochet. E a resposta da sociedade foi impressionante, tornando-o “mais que um movimento estudantil, um movimento cidadão”, segundo as palavras da líder estudantil Vallejo.
Na raiz das reivindicações está a exigência de reforma do texto constitucional para que a Educação seja declarada como “direito e bem público, sendo o Estado responsável por provê-la assegurando gratuidade e qualidade geral”. A subvenção do governo, dizem os estudantes, deve ser feita às instituições públicas por meio de incremento no orçamento e não como “assistência” – isto é, de forma marginal e complementar por meio de bolsas de estudo, como é a proposta do governo. As escolas devem ser administradas publicamente e ligadas diretamente ao Ministério (hoje muitas são geridas por agências ligadas aos municípios), e todas as universidades devem seguir padrões que permitam sua acreditação. Entre outros pontos.
A síntese se ouvia como grito de guerra pelas ruas de Santiago: “Se va a caer / se va caer / la educación de Pinochet”.
Bombas, jatos d’água e o delicado retinir das panelas
Foto: Maurício Ayer
Por volta das 18h cheguei à Praça Itália, local de onde tradicionalmente saem as marchas de protesto pela Alameda, principal avenida da cidade. A presença militar era fortíssima, com uma quantidade enorme de soldados, e também de caminhões e viaturas blindadas e de todos os tamanhos. Todas as áreas foram cercadas com grades, oficiais falavam em rádios constantemente, como se aguardassem na trincheira a investida de um exército.
Estive em vários pontos do centro durante a tarde e, como sobra dos confrontos da manhã com os secundaristas, toda a região recendia a gás lacrimogêneo. Várias viaturas estavam pintadas de manchas coloridas, marcas das tintas jogadas pelos estudantes nos protestos. Em frente à Universidade de Santiago, pedras e paus cobrem as ruas, e o acesso ao metrô estava bastante dificultado.
Chegando o horário marcado, 18h30, via-se que estudantes começavam a aceder ao redor das áreas cercadas, os policiais trataram de tirar-nos das calçadas para as ruas, restando uma única área em que estudantes e imprensa não disputavam espaço com os carros. Os policiais pediam que saíssemos: “Por favor, caminen hacia allá” (por favor, andem para lá). Diante de tamanha delicadeza, um homem que preferia permanecer no seu lugar contestou um fleumático “no gracias”. A policial mais próxima parou um segundo, mas seguiu coagindo a que todos se movessem.
Tudo permanecia tranquilo, não se viam maiores sinais de agressividade de nenhuma parte. De repente, sem qualquer aviso, um caminhão parado no canto da praça disparou um potente jato d’água que derrubou alguns manifestantes que permaneciam parados diante de uma linha de carabineiros. Um jipe blindado passou em seguida soltando uma nuvem de gás. A polícia montada criava outra linha, encurralando ainda mais os estudantes, que instados pela repressão acenderam os protestos. Estudantes cantavam e produziam uma infinidade de imagens – que fez que as manifestações chegassem ao topo mundial do Twitter.
A um ritmo regular, cada par de minutos a polícia avançava com novas ações de coação. Os cavalos adiantaram-se um corpo, causando grande tumulto. Aí vieram as bombas. A multidão escapou pelo canal de vazão deixado pela polícia, para o qual a impulsionava. As entradas do metrô estava todas fechadas. E dá-lhe bomba de gás, por trás vinha o caminhão mandando água pra cima dos garotos. Pernas pra que te quero.
À meia-noite, quando terminava de escrever este post, ainda se ouviam panelas retinindo nas janelas e sacadas dos prédios ao redor do bairro de Las Condes, e pelo site El Mostrador se via ao vivo que o panelaço soava por todo o país como signo de repúdio à repressão. Repressão que tratou de fortalecer o movimento, que agora, mais que nunca, coloca o governo contra a parede.
O décimo maior produtor de vinhos do planeta é um país com o formato de uma salsicha. Extenso latitudinalmente e estreito de longetude, o Chile produz 9,9 milhões hectolitros – perto de 1 milhão de piscinas de mil litros – mas exporta dois terços disso. Ainda que os 16 milhões de habitantes deem conta de seus 18 litros anuais per capita, é preciso mais. Afinal, muita gente quer se embriagar.
Foi por isso que, nos intervalos entre uma degustação e outra dos vinhos no país, eu resolvi fazer uma incursão pelo universo das fermentadas de malte de cevada – e eventualmente milho e arroz – do país de Pablo Neruda. Até porque, falta-me conhecimento para expor meus achados enólogos, além de capacidade para perceber nuances, taninos, terroirs e outras peculiaridades desse lado dos fermentados.
Alguém pode cobrar informações sobre o pisco, a aguardente do mosto da uva que leva o nome de uma cidade portuária peruana mas é produzido também nas regiões três e quatro do Chile. O motivo de uma guerra etílica pelo controle da nomenclatura (e da paternidade do pisco sour) não entrou na prova dos sete dias com barreiras para meu fígado. Uma pena.
Outro motivo para justificar o apelo da cerveja foi a informação inusitada de que uma das maiores colônias de imigrantes no país dos 22 mineiros outrora soterrados é a de... alemães. Bom, os espanhóis e bascos superam os germânicos, mas é um dado inusitado para quem cabulou as aulas de geografia. Embora não tenha visto um sequer, consta que vivem todos mais ou menos contidos no estado de Valdívia, batizado sob o herói nacional e não de parente algum do camisa 10 palmeirense.
Todas as descritas aqui, com exceção da primeira, são produzidas por plantas da Compañía de Cervecerías Unidas, uma multinacional que também está na Argentina. A empresa é dona também da bodega Gato Negro, a marca mais popular (leia-se barata) de vinho chileno.
Às geladas
La Casa en el Arte - Ambar Ale
fabricada pela Cerveza Oberg, de Santiago, para um bar
Parei, com sede, no La Casa en el Aire, um bar e restaurante no bairro Bellavista, em Santiago, perto do zoológico e da La Chascona, casa de Neruda na capital. Confesso que quase pedi um suco qualquer, mas fui compelido a honrar meu dever manguaça e experimentar a cerveja da casa. Ela é produzida pela Oberg, uma empresa que tem sua produção, mas a vende garrafas com rótulo de quem comprar o lote – como bares e restaurantes. Algumas cervejarias brasileiras fazem esse tipo de terceirização. A ambar ale da Oberg é frutada em excesso para mim, quase uma vitamina. Para quem cogitava um suquinho, a pedida veio a calhar. Kunstmann Pale Ale www.cerveza-kunstmann.cl/
Torobayo, Valdívia
Uma cerveja também frutada, mas bem mais equilibrada e suavemente. Cor de âmbar, não tão escura. Ela ficou bem com um congrio que almocei, mas provavelmente teria ido melhor com comidas mais fortes. Quer dizer, eu beberia em vários contextos, só inclui essa informação para fazer de conta que foi uma escolha pensada. O copo era da Cristal, o que deixa a foto meio estranha, mas o conteúdo, até pela cor, não deixa dúvidas.
Kunstmann Lager Sin Filtrar www.cerveza-kunstmann.cl/
Torobayo, Valdívia
Quando vi que era uma cerveja não filtrada, me acometeu a ideia de que seria algo parecido com um chopp. Engano de bêbado, já que o líquido amarelado consumido nos barzinhos por aí (tratado como "águinha", por alguns inveterados) é, sim, límpido; só não é pasteurizado. Assim, essa pale lager é turva e saborosa, amarga de um jeito bem interessante. Fica refrescante e, segundo a ideia do fabricante, remete ao tempo em que o fermentado de malte não era purificado de nenhum jeito. A foto ficou bem desfocada, mas o jeitão turvo é da cerveja mesmo.
Austral www.cervezaaustral.cl/
Punta Arena, Patagonia chilena
Uma English pale ale avermelhada. Começa bem, mas termina menor, mais suave do que eu esperaria. Claro que é muito melhor do que cervejas industriais e que vale a pena ser provada. Mas a equivalente desta da Kunstmann foi melhor.
Cristal www.cristal.cl/
Industrial, com várias fábricas
Para ninguém ter dúvida de que a aventura era para valer, provei também a Cristal, que patrocina o campeonato chileno de futebol. É uma cerveja que tenta disputar com a gigante belgo-brasileira Inbev, que espalha o chopp Brahma Extra pelos bares e restaurantes. É bem o estilo das pielsen brasileiras vendidas em botecos, leve, clara e sem muita graça. A não ser em dias quentes em que tudo o que você quer é ficar sentado na mesa de bar conversando sobre o Sebastián Piñera, o Colo Colo e a herança autoritária no cotidiano da ditadura de Augusto Pinochet. Ela "compete" com a Escudo, cuja garrafa de um litro tem tampa de plástico rosqueada, igual à de garrafas pet de refrigerante ou água. Esta não tive tempo de tentar.
Bryan Carrasco, jogador da seleção sub-20 do Chile, estava desesperado. Sua equipe perdia do Equador por 1 a 0 o jogo que decidia a última vaga para o Mundial da categoria. Sem saber o que fazer para furar a defesa adversária, nosso herói resolver ir para o tudo ou nada, e protagonizou a simulação mais bizarra que já vi em um campo de futebol.
O juizão até que marcou falta, mas acho que Carrasco queria uma expulsão mesmo. Não conseguiu, seu time acabou derrotado. Mas certamente ele conseguiu um feito que não imaginava: garantiu diversos ataques de riso e ficou famoso mundo afora.
Falando sério, o moleque merecia uma boa suspensão, mas não me parece que isso esteja em pauta, já que não encontrei qualquer notícia a respeito. Merecia.
Nesta semana, a guerra de campanhas eleitorais trouxe de volta a polêmica sobre o candidato José Serra (PSDB) ter ou não diploma universitário. Segundo consta, ele sempre se apresentou como "engenheiro e economista", desde os primeiros cargos públicos que ocupou e campanhas eleitorais que disputou. Acontece que Serra nunca concluiu o curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Sendo assim, é impossível que tenha qualquer curso de pós-graduação minimamente "validável" - o que levanta suspeitas sobre como teria sido possível dar aulas na Universidade de Campinas (Unicamp), de 1978 a 1983.
Ao abandonar o curso na Politécnica da USP e exilar-se no Chile, Serra teria feito um "Curso de Economia" na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 1965 e 1966, especializando-se em Planejamento Industrial. Parece óbvio que um curso de graduação de dois anos não pode ser formal. Depois disso, fez "mestrado" em Economia pela Universidade do Chile, em 1968, onde seria "professor" até 1973. Em 1974, faria "mestrado" e "doutorado" em Ciências Econômicas na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, sem ter concluído faculdade.
No Chile e nos EUA não é exigido curso superior para fazer pós-graduação, o que não é permitido aqui no Brasil. Além disso, os cursos de pós-graduação que Serra cursou na Cornell não são strictu senso mas lato senso, como os fornecidos pela rede privada brasileira. Resumindo: não valem nada em termos acadêmicos. Bom, mas, no frigir dos ovos, deve-se considerar que, para sua carreira política, ter ou não graduação não faz diferença alguma. O problema é não ter e dizer que tem. E, ao dar aulas no ensino superior (sabe-se lá como conseguiu isso), configura-se crime.
Recentemente, o Conselho Regional de Economia da Paraíba fez interpelação judicial e pedido de enquadramento de José Serra no Artigo 47 do Decreto-Lei 3.688/41, sobre falsidade ideológica e charlatanismo, pelo "uso indevido da qualificação de economista pelo candidato, que não tem bacharelado em economia nem é registrado em qualquer Conselho Regional de nenhum estado brasileiro". O pedido foi endossado pelos Conselhos Regionais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Maranhão, Rondônia e Tocantins, e por dois membros do Conselho Federal de Economia. Porém, o Conselho Federal de Economia nunca se manifestou sobre isso.
Folheando o livro "O sonhador que faz", de Teodomiro Braga (Editora Record, 2002), encontrei a confirmação pela própria palavra de Serra:
(...) Em 1967, apesar de não ter feito graduação, eu entrei na Escola de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Chile, que era chamada Escolatina.
Como conseguiu ser admitido se não tinha graduação em economia? Eles exigiram que eu fizesse um exame equivalente a todo o curso de graduação em Economia. (Trehco extraído da página 102)
Um exame? Assim, simples? Sem graduação, como pôde ser admitido como professor pela Unicamp? Dilma Rousseff (PT) foi acusada de não ter mestrado nem doutorado pela Unicamp, e reconheceu isso. O que importa, na verdade, é que ela nunca deu aulas - o que até poderia ter feito, pois tem, pelo menos, graduação. Já José Serra atuou profissionalmente de forma indevida. É uma fraude. Porém, como a Unicamp pertence ao governo de São Paulo, comandando pelo PSDB, qualquer possibilidade de investigação ficará no campo de nossas ilusões. E a imprensa pró-Serra não fará o menor esforço para retirar a pedra de cima desse assunto.
Portugal fez 7×0 na Coreia do Norte. É a maior goleada da Copa de 2010, praticamente classifica os lusitanos e matematicamente despacha os norte-coreanos.
Dia mundial do mau humor encerra segunda rodada da fase de grupos. Favoritos de desembarque, representantes da Península Ibérica têm chance de fazer valer o carimbo no passaporte.
Brasil está classificado para as oitavas de final. Mas o camisa 10 brasileiro, autor do passe para dois dos gols brasileiros, foi expulso aos 43 do segundo tempo. Caiu na provocação
O jogo do Brasil contra a Coreia rachou o movimento grevista na USP. Mas só na torcida, porque parte dos ativistas optaram por torcer contra o escrete de Dunga.
Decreto que estabelecia o africanêr como idioma das salas de aulas também em Soweto, principal bairro de negros de Joanesburo, promoveu onda de protestos em 16 de junho de 1976. Foram 435 mortos em todo o país.
Em um dos melhores jogos até aqui, os sul-americanos comandados por Marcelo Bielsa bateram Honduras pelo placar mínimo, mas criaram chance de gol para golear.
Quarta-feira (16) encerra primeira rodada dos grupos e já começa a segunda. Chile de El Loco Bielsa pega a inexpressiva Honduras para acabar com trauma de 48 anos sem vitória. Favoritos espanhois tentam provar que podem ir bem em mundiais.
E a primeira rodada dos grupos acaba nesta quarta-feira (16). A média de gols e da qualidade do futebol apresentado está bem abaixo de outros mundiais. Desenha-se uma candidato a pior Copa da história, rivalizando com a de 1990 e a de 2006 – mas muita água e outro tanto de polêmica precisam correr para se formar convicção sobre isso.
A favorita dos apostadores e uma das maiores promessas de bom futebol vai a campo. A Fúria venceu a Eurocopa de seleções em 2008 e tem um time muito mais equilibrado do que em edições anteriores. Mas tem de conviver com a tradição de amarelar na competição. A Espanha enfrenta a Suíça.
Quem abre os trabalhos do dia é o jogo entre Honduras e Chile, pelo mesmo Grupo G. Os chilenos não vencem em copas desde as quartas-de-final da Copa de 1962, quando sediaram a competição. Os sul-africanos encerram o dia contra o Uruguai, pelo Grupo A, em que só se empatou até agora.
Os comentários jogo a jogo, só mesmo no Copa na Rede
O estádio Chochi Sosa, em Tegucigalpa está sendo usado como prisão em Honduras. É o que denuncia os jornalistas, ativistas, blogueiros etc.
São fotos, reportagens, transmissão de rádio, tudo via internet, denunciando ao mundo o quanto, em pleno século XXI, a comunidade internacional é complacente com um golpe de estado.
Estádio Chochi Sosa, em Tegucigalpa, usado atualmente como prisão em Honduras. Outras imagens podem ser vistas aqui.
A última é que o estádio de beisebol na capital de Honduras está sendo utilizado como lugar de detenção dos partidários do presidente hondurenho Manuel Zelaya, atualmente abrigado e cercado dentro da embaixada brasileira em Honduras. Segundo o jornal argentino Página 12, a estimativa é que entre 150 e 200 pessoas estejam detidas lá. A mesma matéria faz o paralelo com o "curioso destino que tem este cenário na América Latina", e fala sobre a cerimonia de posse de Zelaya, em 27 de janeiro de 2006, no estádio nacional de futebol de Tegucigalpa. Já o estádio que atualmente está sendo usado como "prisão" era empregado para festivais musicais.
Outro exemplo ocorreu na ditadura chilena de Augusto Pinochet, que tinha, no estádio Nacional, prisão e centro de tortura. Aliás, vale a pena ler o post do companheiro Glauco, que narra a vitória do Santos sobre o Chile, enquanto no andar debaixo estava acontecendo sessões de torturas.
Ainda outro exemplo de uso dos estádios para a vergonhosa prática, foi o Cilindro de Montevidéu, um estádio de basquetebol que a ditadura uruguaia transformou em prisão.
Não, a data de hoje não me lembra apenas aquele misterioso atentado ocorrido em 2001 nos Estados Unidos - e do qual já não tenho muita paciência para elocubrar. O 11 de setembro me traz à mente, com maior força, o "suicídio" do presidente chileno Salvador Allende no dia do golpe militar que empossou o nefasto general Augusto Pinochet, em 1973, e o assassinato - ainda hoje inexplicado - do prefeito de Campinas (SP), Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, também em 2001 (que ocorreu na noite de 10 de setembro, mas repercutiu no dia seguinte). Porém, acredito que, como sempre, a ladainha estadunidense-binladeniana deverá ganhar, infelizmente, mais espaço na mídia tupiniquim. Ossos do orifício.
Allende foi e continua sendo um símbolo. Mais um dos muitos casos, na América Latina, de presidentes populares democraticamente eleitos que enfrentam a ira da elite local e a sanha dos interesses externos. Com ele não teve tentativa, "revolução" ou golpe midiático, foi deposto no cacete, mesmo. Com direito a bombardeio do palácio presidencial (La Moneda), em Santiago, e imediata prisão, tortura e morte de quem estivesse na lista dos militares. A versão oficial diz que Allende se matou com um tiro de espingarda no interior do palácio pouco antes de se render. Mas quem acredita em versões oficiais de governos militares sul-americanos das décadas de 1960 a 1980? O suicídio sempre é visto como ato de covardia e os verdugos de Pinochet ainda fizeram circular a versão de que a arma utilizada tinha sido presente de Fidel Castro. Galhofa, bravata, patifaria. Com toda pinta de mentira. Para acobertar um assassinato.
Já o Toninho do PT (à esquerda) vem sendo vítima de especulações maldosas - bem como seu colega Celso Daniel, que, como prefeito de Santo André (SP), foi morto quatro meses depois, em janeiro de 2002. De Norte a Sul do Brasil, a teoria da conspiração bate sempre na mesma tecla: queima de arquivo patrocinada pelo PT, pelo Zé Dirceu, o Lula ou "a quadrilha inteira", como a Veja gosta de adjetivar. Tendo dividido mesa de bar com Toninho na campanha para prefeito em 1996 (quando perdeu), não sei que tipo de ameaça ele poderia representar para o partido e o líder, Lula, que ele tanto amava e defendia. O que sei, e que não vejo a imprensa ir atrás, é que, nos seus oito meses de governo, ele mexeu com dois dos setores mais periogosos da perigosa Campinas - as empreiteiras e os traficantes. No mais, assim como Celso Daniel, ele seria peça importante na campanha presidencial e nos futuros mandatos do governo Lula. Mas o caso parece que nunca será solucionado. E sua memória continuará sendo usada como combustível para maquinações da elite intolerante. Fazer o que? Bebamos aos mortos, que eles merecem mais respeito.