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segunda-feira, janeiro 24, 2011

Por que formar universitários pobres?

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Editorial do Estadão é sempre peça cômica. Ontem bradavam o "Colapso do ENEM", o exame nacional que agora, com o SISU, se tornou a ponte direta do estudante pobre à universidade. Na Folha, com seus truques de estilo, usaram o mesmo trocadilho que o Boris Casói (aquele!) para acusar de "Inépcia" o INEP, órgão responsável pelo exame; pro Casói, é "Uma verrrrgonha" o anúncio de que seria criado um órgão para cuidar apenas do ENEM, não vendo nisso o reconhecimento de sua importância e provável crescimento ao longo dos próximos anos.

Tenho folheado esses dois jornalões diariamente durante todo o último ano e não me lembro de neles ter lido qualquer análise sobre o significado do ENEM, o que ele representa para a educação no país. Não apenas porque agora, com o SISU, integra a rede universitária federal, que cresceu enormemente nos anos Lula, com a rede pública de ensino médio, dando materialidade ao discurso do excelente Fernando Haddad de que educação tem que ser pensada de forma sistêmica, envolvendo a valorização de todas as idades e todos os atores do processo (alunos e professores; gestores e financiadores; acesso e qualidade). Mas também pela qualidade mesma do sistema de avaliação, que é o maior exame de ensino médio do mundo, com 4 milhões de estudantes avaliados em 1.700 cidades.

Ao contrário, só se veem críticas, e pesadas, à aplicação dos testes ou ao sistema eletrônico de inscrições. O site do SISU ficou lento por três dias (mas o número de servidores foram dobrados e o problema solucionado), os candidatos podiam ver as notas de outros durante vinte minutos (vinte minutos!!!, e o problema foi solucionado), houve erro na prova do ENEM (em 0,25% das provas!!!!) e pedem que o exame inteiro seja refeito. Hoje, com a divulgação da lista de aprovados no SISU, a manchete focava nas 176 vagas (de um total de 83.125!!!!) que não despertaram interesse dos mais de 2 milhões de inscritos.

Tudo parece um grande fracasso quando numa geladeira cheia de Serra Malte o míope investigador só vê as três latinhas de Belco batendo nelas com o nariz. A educação no Brasil está, de fato, e os números mostram isso, encontrando um caminho de crescimento consistente, ampliando e democratizando o acesso e focando em qualidade, com valorização do professor e da infraestrutura.

Fernando Haddad, esse é o cara.

Nada a ver com o que ocorreu mais ou menos uma década atrás, quando o MEC, para turbinar índices de aumento de vagas no ensino superior, tornou-se um balcão de licenciamento de armadilhas universitárias privadas, muitas das quais fecharam as portas pouco depois (por não ter qualidade para cumprir exigências acadêmicas) deixando alunos a ver navios, sem diploma e com um débito considerável pelas mensalidades pagas durante alguns anos.

Tem que melhorar o site do SISU? Sim, mas esse é o menor dos problemas. O engraçado é que os jornalões não percebem que as consecutivas derrotas políticas que colecionam têm a ver, também, com essa incapacidade de enxergar a realidade. Conseguem, no máximo, e a custo de muito ódio, manter fiéis aqueles que só sabem do mundo por meio desses mesmos jornais, sem qualquer contato com a realidade vivida por outras classes sociais, ou em outros lugares do país. Outro dia, na Folha disseram que o Haddad estava "sob observação", pois Dilma teria se reunido com ele para que explicasse os tais problemas do SISU. Uma interpretação no mínimo exótica de um fato totalmente dentro da normalidade, mas que denota o teor das notícias: a virtualidade que gostariam que existisse, não a realidade. Ainda mais lembrando que a Dilma, logo que foi eleita, declarou que concentraria a atenção em saúde e segurança pública, pois a educação, segundo ela, "estava encaminhada".

Mas o mundo não está de todo perdido, ainda existe sinceridade e pureza de coração. O filósofo Luiz Felipe Pondé, em sua coluna na "Ilustrada", declara peremptoriamente: "Para alguns, universidade é coisa de elite e pronto, e só assim realiza bem sua função. Sou um desses.". Aí desfila um discurso confuso, que eu não sei bem o que quer dizer, sobre o fato de que a democratização do ensino vem com o "barateamento do produto", referindo-se às más faculdades privadas, ou "a abertura de universidades às centenas e em quase toda esquina, quase sempre com qualidade duvidosa. 'Universidades a R$ 399,90 por mês'". Não que todas essas instituições tenham deixado de existir, mas não é mais o boom de outros tempos. E, não custa lembrar, o investimento em pesquisa (a elite da universidade, por assim dizer) cresceu mais de dez vezes no governo Lula, com resultados comprovados.

O colunista não leva em conta que o Brasil já dá sinais de que para um desenvolvimento sustentável precisa formar milhares de engenheiros, médicos, etc. etc. Por que não ter médicos e engenheiros (e outros profissionais de nível superior) de "origem humilde"? Desconfio que essa resposta não leremos nem na Folha nem no Estado.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Efeitos subterrâneos da amplificação da "crise dos cargos"

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Ao amplificar a sede de cargos do PMDB no governo petista, a pauta da grande mídia é ainda aquela veiculada na campanha de José Serra: "A Dilma não dá conta". Ela não é o Lula, que "com seu carisma" conseguia segurar as feras do PMDB e também – no momento fora de foco – os "radicais do PT", como se o carisma fosse a sua única qualidade, ignorando a enorme capacidade de articulação política, que não se perde com a entrada de Dilma, pois o know how é da equipe: há continuidade. Como Dilma dará conta, haverá uma partilha dos cargos, em algum momento terá que ser construída a versão para a "solução da crise", ou seja, o momento em que conseguirem mostrar que houve "derrota do PT para o PMDB" (ou derrota do governo dentro do governo). Mas isso passará.

O PMDB, tal como é, sabe que não pode ter qualquer existência como oposição. Teria o mesmo fim do DEM, o encolhimento vertiginoso, até um provável sumiço dentro de uns dez anos. Então a pressão por cargos também tem os seus limites.

Talvez não percebam que, subterraneamente, estão desenvolvendo uma pauta que interessa ao PT: a desmoralização do PMDB, que se mostra apenas como uma massa fisiológica, salvo as sempre citadas exceções, como o governador Sergio Cabral. Quanto mais investirem nessa crise, o desgaste não será exatamente do PT, mas do próprio PMDB, que terá cada vez mais dificuldade de se mostrar como um partido com projeto de país e capaz de propor uma real alternativa de poder. No médio-longo prazo, é um cenário positivo para os petistas.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Nove ministras e uma presidente

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A presidente eleita Dilma Rousseff bateu o martelo em seu ministério. São 37 nomes, da Fazenda à Pesca, da Agricultura ao Desenvolvimento Agrário. Do total, nove são mulheres, menos de um quarto. Com a inclusão da mandatária, seriam 10 moças para 28 marmanjos no primeiro escação, quase um time de futebol feminino na Esplanada dos Ministérios.

Fosse Luiz Inácio Lula da Silva a analisar, ele diria que nunca, na história da República, tantas mulheres ocuparam cargos de tanto destaque. Para um país que tem uma inédita presidenta (para usar novamente termos do mandatário da nação), esses 24% podem ser vistos como um sinal da conquista feminina por espaço de poder, ainda que decorrente de uma decisão política.



Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Miriam Belchior,
futura ministra
do Planejamento



Mas pode parecer pouco levando-se em conta dois indicadores. O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 51% dos 190 milhões de pessoas que habitam o país são do sexo feminino. O outro dado é um exercício matemático realizado até pela campanha de Dilma no início do segundo turno.

Os votos de 61% dos eleitores brasileiros na disputa presidencial de 3 de outubro foram para mulheres. É que além dos 43% da petista, 18% foram para a senadora Marina Silva (PV-AC). Seria exagero entender, apenas por este dado, que a maioria da população quer mulheres no poder.

Especialmente considerando-se que a discussão sobre ações afirmativas para conduzir mulheres ao poder tenha ampla resistência. Foi motivo de "gatos" alaranjados, por parte dos partidos políticos, a garantia formal de 30% de participação feminina nas candidaturas e 5% dos recursos para programas voltados às mulheres. E ainda agravado pela desidratação dessas postulações pela míngua de financiamento, como constatou o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).




Foto: Wilson Dias/
Agência Brasil
Maria do Rosário,
que assume a
Secretaria de Direitos
Humanos em janeiro



Relativamente
A presença de mulheres em outras instâncias de poder fica ainda mais restrita. Nas duas casas do Congresso Nacional, das 594 excelências, 55 são mulheres atualmente; serão 57 em 2011.

Para detalhar: no Senado, 15% dos 81 representantes dos estados a partir do ano que vem são mulheres. Isso quer dizer duas a mais do que o ocorrido hoje – sendo que uma delas, Ana Rita Esgário (PT), assume como suplente a vaga do governador eleito do Espírito Santo Renato Casagrande (PSB-ES). Na Câmara, o número de deputadas foi mantido em 45, embora tenha ocorrido ampla renovação.

No comando dos estados, vale lembrar que o país voltará a ter apenas duas mulheres como governadoras, mesmo número de oito anos atrás. Isso representa 7% dos 26 estados mais o Distrito Federal. No pleito anterior, o comando dos executivos regionais vinha sendo ocupado por presença feminina em três unidades da federação.

Considerando-se o universo de empresas privadas, um estudo revelador foi publicado pelo Instituto Ethos em novembro deste ano. O levantamento, junto às 500 maiores companhias do país segundo ranking do anuário "Melhores e Maiores 2009", da revista Exame, mostrou que 13,7% dos cargos de direção são ocupados por mulheres – o dobro de nove anos atrás, quando pesquisa similar foi realizada.

Apesar da evolução, é pouco, muito pouco. Ainda mais porque quanto mais se ascende na hierarquia corporativa, menos mulheres chegam. Como elas têm, em média, mais anos de escolaridade do que os homens, feministas põem na conta o machismo esse funil estreito.

Relativamente a outros espaços de poder, os 24% para mulheres entre o alto comando do governo federal não são tão pouco.

Compare-se
Primeiro escalão do Executivo Federal – 24%
Senado – 14,8%
Câmara dos deputados – 8,7%
Governadores – 7,4%
Diretoria de Grandes empresas – 13,7%

sexta-feira, novembro 19, 2010

Três porquinhos de Dilma têm 2 são-paulinos e um botafoguense

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Dilma Rousseff agradeceu, na manhã desta sexta-feira (19), a três figuras-chave do PT em sua campanha. José Eduardo Dutra, presidente nacional da legenda, José Eduardo Cardozo, secretário-geral do partido, e Antonio Palocci foram chamados de "três porquinhos" pela presidente eleita.

Sem qualquer coloração de time de futebol, a alusão ao trio foi a forma mais carinhosa que ela parece ter formulado para se referir às figuras que permanecerm mais próximas a ela durante a campanha. Com isso, ela já descarta a possibilidade de ser o Lobo Mau nessa história. Poderia ter recorrido a outros trios consagrados em fábulas, contos de fada ou histórias clássicas da literatura, como "três mosqueteiros", quiçá arvorando-se ao posto de d'Artagnan.

Se fosse em termos futebolísticos, haveria uma crise no governo. Dutra é botafoguense doente. Nascido em Caratinga (MG), estudou no Rio de Janeiro e fez sua carreira política em Sergipe. Torce tanto que, em dia de jogo, larga mão de qualquer pudor e se comporta, no Twitter, por exemplo, como um apaixonado. Responde a outros amantes do futebol, a ponto de só faltar xingar o juiz.

Antonio Palocci é são-paulino. Natural de Ribeirão Preto (SP), é o homem forte da transição. Quem confirma é o jornalista Vitor Nuzzi com suas fontes no Palácio do Planalto sobre times para que torcem os titulares da Esplanada dos Ministérios.

O mesmo Tricolor paulista é o time de predileção de José Eduardo Cardozo, deputado federal. Ele próprio já revelou a condição à imprensa, embora não exercite a condição com frequência (pelo menos não com seus assessores, que não sabiam da questão). Mas há quem diga que ele seja, sim, fanático.

Não chega a ser uma gafe da parte de Dilma, porque a conotação foi toda outra. Para quem torce para o Internacional, mas também gosta do Atlético Mineiro, não é tão grave.

Palmeirenses em baixa?
Fosse destinado a Ricardo Berzoini, deputado federal e ex-presidente nacional do PT, a Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, a Carlos Gabas, titular da pasta da Previdência Social, o termo viria mais a calhar. Os três são torcedores do Palmeiras.

Isso sem falar em outras figuras do universo político, como José Serra (PSDB), candidato derrotado à Presidência, Soninha Francine (PPS), coordenadora de campanha do tucano, e Aldo Rebelo (PCdoB), deputado federal e comunista mais querido pelos ruralistas.

Em tempo
Sem qualquer conotação futebolística, Cardozo escalou o time de porquinhos de Dilma. Ele é o Cícero, o da casinha de palha. Dutra é Heitor, o da residência de madeira. Palocci, o Prático, preocupado com os fundamentos da casa própria. Segundo consta, o apelido decorre da semelhança entre as barrigas e de como cada um funcionava dentro da coordenação da campanha.

Não houve contestação. O Lobo Mau tampouco foi apontado.


quarta-feira, novembro 17, 2010

O verdadeiro mapa das eleições 2010

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Este mapa foi divulgado no Blog do Escrevinhador. Achei oportuno, por toda a discussão que houve em torno da "divisão" do Brasil entre eleitores de Dilma e Serra e que ainda precisa ser melhor compreendida. Foi elaborado pelo ilustrador Bruno Barros.

Nele as cores dos estados são nuançadas conforme o percentual de vermelho (votos em Dilma) e azul (votos em Serra). É interessante notar que praticamente não há diferença de tonalidade entre Mato Grosso e Pará, por exemplo. Ao mesmo tempo que as regiões onde o azul realmente predomina não são em estados tidos como emblemas do "desenvolvimento" e do Brasil "rico e educado", mas sim dois estados amazônicos e majoritariamente rurais, que são Acre e Roraima.


sexta-feira, novembro 05, 2010

Globo News, previdência e a pauta do governo Dilma

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A entrevista da GloboNews com a professora Lena Lavinas, da UFRJ, cumpre duas funções. Primeiro, mostra como a grande mídia está tentando novamente influenciar a agenda do governo eleito, inserindo uma pauta conservadora no debate, apesar da clara mensagem das urnas em favor de políticas de combate à desigualdade. Aqui, cabe lembrar que o pessoal de esquerda (também conhecido como "nóis") precisa cumprir o mesmo papel e puxar o governo para a pauta que nos interessa, especialmente uma ação mais forte no combate à desigualdade.

Aliás, já que a presidenta está falando em reforma tributária, que o debate passe pela introdução de maior progressividade nos impostos, diminuindo a carga sobre os mais pobres (e a classe média deve se beneficiar aqui, creio, do alto de minha ignorância tributária) e aumentando sobre os mais ricos. Se houver conhecedores do tema entre os leitores, por favor, contribuam.

A segunda razão para ver o vídeo é dar destaque mais uma vez à absoluta contradição entre a chamada "Dilma terá que lidar com rombo milionário na previdência" e a argumentação da professora, que nega desde o início a existência do tal rombo. Nesse ponto, destaque para o baile que as jornalistas globais levam de Lavinas, que dá uma verdadeira aula sobre previdência e seguridade social.

A terceira razão é a supracitada aula sobre um tema dos mais importantes para quem acredita na construção e consolidação de um aparato de proteção social no Brasil. Não consegui achar um jeito de reproduzir o vídeo direto aqui, por isso vai o link:

http://globonews.globo.com/videos/v/dilma-tera-que-lidar-com-rombo-bilionario-na-previdencia/1366939/

quinta-feira, novembro 04, 2010

Pensamentos esparsos sobre Lula, Dilma, FHC e a oposição autofágica

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Lembro bem, quando Lula venceu a eleição de 2002, a primeira ação orquestrada da mídia foi tratar de “separá-lo" do PT. Isso se intensificou quando iniciou o governo com nomeações (como o Henrique Meireles) e medidas econômicas tidas como "ortodoxas", elogiadas como a continuidade de FHC – o que mostrou ser de grande prudência, já que uma mudança drástica fatalmente teria consequências indesejadas –, e ao mesmo tempo se falava em "radicais do partido" sempre desenhados como monstros rapinosos. O que se desenhou o tempo todo no discurso (e ainda permanece) foi que Lula estava acertando por continuar FHC e que isso acontecia contra a vontade de seus correligionários. A mídia, assim como a oposição, permaneceu cega quanto a todas as novidades que foram introduzidas, e acredito que haja aí uma boa dose de ilusão.

Nos tempos de FHC, aprendemos a acompanhar de perto a tal da "taxa de juros", que seria o grande instrumento do Estado para interferir na economia. Acho que muita gente chegou a acreditar (e ainda acredita) que o tal do tripé câmbio livre (praticado apenas no segundo mandato de FHC, diga-se), meta de inflação e superávit primário resuma o que o Estado pode fazer para interferir na economia. Talvez no mundo do Estado mínimo, desejado pelos tucanos, isso até seja de algum modo verdade. Não quero aqui desconsiderar que os grandes economistas tucanos ignorem a importância de outros fatores, mas é fato que a discussão ficava enrolada em torno desse ponto.

Também não há dúvida de que hoje a discussão está muito mais rica. Fala-se em infraestrutura, em microcrédito, em ampliação do mercado interno (vamos nos lembrar que foi Lula que fez os empresários brasileiros a aprenderem a lidar com a classe C e D, que passou a consumir) com o aumento do poder de compra dos salários mais baixos. Outra coisa que muitos não percebem: não creio que Lula seja contra privatizações "por princípio", mas sim porque quando o Estado não participa de igual para igual nas disputas no mercado os consumidores ficam à mercê de interesses privados (que naturalmente é o interesse das empresas). O Estado perde poder de pressão. Mas Lula mostrou, com a Vale, que o Estado deve defender seus interesses enquanto "sócio" que é da empresa (embora isso seja tratado como ingerência por muita gente).

Li isso por esses dias (não me lembro onde, que me perdoe a fonte não citada aqui). Enquanto FHC injetou dinheiro na economia pelo topo, por meio das privatizações, Lula injetou pela base, com microcrédito e aumento da renda das classes mais pobres. Por isso a política de FHC era essencialmente excludente (e o desemprego e as perdas salariais eram vistas como "o preço a se pagar pelo desenvolvimento") e a de Lula, essencialmente inclusiva. E mais segura, porque pulverizada, não concentrada.

O Bolsa Família, na verdade, embora importante, não é o grande diferencial. Dilma (e Serra também, vejam só) fala sempre nele porque sabe que é um programa que pegou, tem um potencial marqueteiro forte. Mas ela sabe muito bem que o principal está em outra parte.

Agora, com a vitória de Dilma, estão tentando consolidar o entendimento de que ela ganhou roubado, porque quem moveu as peças foi o Lula, que agiu "ilegalmente", já que "um chefe de Estado" não pode ser líder de partido. Obviamente, um dos requisitos normais de um chefe de Estado é que ele seja líder de partido. Mas o que espanta é que essa ilegalidade só existe na cabeça deles. É tão disparatado isso que me vejo obrigado a imaginar a situação de um presidente disputando reeleição sem poder fazer campanha para si mesmo, já que o hábito de chefe de Estado não permite. Ouvi de um tucano ainda que "o FHC não fez isso" quando Serra disputou pela primeira vez a presidência. Não custa lembrar que nas três últimas campanhas presidenciais, FHC foi escondido pelo "seu" candidato, já que suas aparições sempre resultaram em perda de votos por parte daqueles em cuja defesa ele vem.

Além disso, todos os olhos gordos agora estarão sobre Dilma, a tentar capturar cada um de seus deslizes, cada ameaça de titubeio que será anunciada como fraqueza e incapacidade. Não faltará veneno a cada dia. Tentarão desrespeitar Dilma, como o fizeram tantas vezes com o "presidente analfabeto". E se qualquer líder político trombar com a Dilma, isso poderá ser eventualmente ignorado, mas cada gesto do Lula será interpretado como uma mensagem para Dilma, que sem ele não saberia o que fazer. Mais ou menos como um jogo de truco político.

Acabou a eleição, mas a campanha apenas começou, alertou o vampiresco Serra. Vem mais chumbo por aí, podemos esperar, e darão todo o espaço que Serra desejar para falar (já dão para o FHC, imagine para alguém não senil...).

Enquanto isso, fecham os olhos para o fato de que a oposição (anunciada como a grande vitoriosa dessas eleições, tipo "perdeu mas levou") está se devorando a si mesma. Serra já tenta matar o Aécio, que não é bobo mas não terá tanta bala na agulha quanto dizem. Serra também não terá tanto apoio assim de Alckmin, que não vai esquecer as rasteiras que levou do colega careca; ao contrário, o opus dei vai reduzir o serrismo em São Paulo ao "mínimo indispensável". FHC dá show de declarações non-sense, e mostra justamente a desunião do partido. Sergio Guerra e Eduardo Jorge fatalmente se enrolarão nos desdobramentos do escândalo do Arruda. "Líderes" outrora importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes foram excluídos da cena principal. O Kassab já fala em sair do DEM, que agoniza.

Há que trabalhar muito agora, pois ganhar espaço nas eleições municipais de 2012 será mais um passo importante para o gradual desaparecimento do DEM. Enquanto isso, estarão em estado de "vale tudo", em desesperto pela sobrevivência, apegados a um passado que não existe mais, mas que insiste em assombrar-nos.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Olhei nos olhos da minha filha e disse: você pode

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De tudo o que a nova presidente da República, Dilma Rousseff, falou em seu primeiro discurso depois de eleita, o que me emocionou profundamente foi:

- Eu gostaria muito que os pais e as mães das meninas pudessem olhar hoje nos olhos delas e dizer: sim, a mulher pode!

Ato contínuo, eu olhei nos olhos da minha filha Liz, de 8 anos, e disse isso. Nossos olhos se encheram de lágrimas. Liz nasceu no ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez. Para mim, é muito simbólico: tudo melhorou após seu nascimento, em todos os sentidos. E a vitória de Dilma é a certeza e a confirmação de que tudo seguirá melhorando. Principalmente para a Liz e para a sua geração, que viverão num país muito mais justo, democrático e feliz. Com direitos garantidos e oportunidades para todos.

A esperança venceu o ódio.

Escrevi esse texto chorando. De alegria.

Obrigado, Liz. Obrigado, Dilma.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Dilma venceria mesmo sem o Nordeste

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Não quero de modo algum minimizar a importância do voto nordestino, ao contrário. Mas é interessante ver que o peso do voto de estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde Dilma ganhou de lavada, já seria o suficiente para derrotar o candidato tucano.

Quer dizer, quem sustentar que foi o Nordeste que elegeu Dilma – afirmação que tem grande conteúdo de verdade, mas que geralmente é usada para reafirmar o velho preconceito contra o "voto do pobre" ou dos "analfabetos", já que nordestino por muitos "sulistas" é historicamente identificado com esses qualificativos – está intencional ou ingenuamente (sim, os tucanos também são enganados) ignorando a ampla votação que ela teve no Sudeste.

Veja os números do segundo turno:

Total de votos válidos: 99.462.514

Total de votos de Dilma: 55.752.092
Total de votos de Serra:
43.710.422

Votos de Dilma no Nordeste:
18.380.942
Votos de Serra no Nordeste:
7.673.776

Votos de Dilma excluindo o Nordeste:
37.371.157
Votos de Serra excluindo o Nordeste:
36.036.646

Assim, excluindo o Nordeste, Dilma venceria por 51% a 49%. Uma vitória apertada, mas ainda assim incontestável, por mais de 1 milhão de votos. Como o Nordeste existe, Dilma abriu a ampla vantagem de 12 milhões de votos.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Prossegue a campanha de esgoto do PSDB

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Daí eu pergunto, senhor José Serra: isso é ser "do bem"?

domingo, outubro 24, 2010

Patética capa da Veja comprova: a munição acabou

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Uma única coisa me contenta na patética capa da Veja desta semana: a história é tão bizarra, tão non-sense, que comprova que as "cartadas finais" da mídia serrista para virar a eleição, na verdade, não existem. É verdade que isso pode ser perigoso. Sem munição, Serra pode ser capaz de tudo. E não se sabe o efeito que "tudo" pode ter, quando não há tempo para retrucar. Há que ficar a postos.

Para economizar nosso tempo, copio abaixo o post em que o Luis Nassif desconstroi a bravata da ocasião. Quem quiser ler lá no blog dele, clique aqui.

E quando tudo passar, em nome de nossa sanidade e das futuras gerações, teremos a obrigação de fazer um cuidadoso levantamento do que foi essa campanha eleitoral, sobretudo nesses dois últimos meses. Definitivamente, não pode passar em branco.

Veja e a estratégia de Mister M

AS ILUSÕES PERIGOSAS DA REVISTA MISTER M

Veja blefa mais uma vez: não existe fita provando que Abramovai falou o que não disse. Não existe grampo legal nem perícia nem nada. Só cascata.

Veja publicou uma reportagem de 1.581 palavras das quais apenas 14 realmente interessariam se fossem verdadeiras: "Não agüento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho para fazer dossiês". A suposta frase foi atribuída ao secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovai, ganhou destaque na capa da revista, que circulou no sábado, e reproduzida instantaneamente no programa de José Serra na TV.

Se fosse verdadeira, a frase revelaria um fato gravíssimo, de interesse público e com evidentes repercussões no processo eleitoral. Seria motivo para uma rigorosa investigação policial e uma ação do Ministério Público, com vistas a esclarecer que pedidos seriam esses, a quem aproveitavam, quais seriam os alvos, quem seriam os agentes e os mandantes da produção de dossiês.

Ocorre que nem a frase foi pronunciada nem Veja tem como sustentar a veracidade do que destacou na capa (gostosamente reproduzida por Estadão, Globo e Folha). A negativa de Abramovai está escondida no quinto dos nove longos parágrafos da matéria.

Trata-se de mais uma reportagem ao estilo Mister M, que tem caracterizado a produção recente da que já foi a mais importante revista brasileira. É o jornalismo ilusionista, que recorre a uma série de truques para distrair a atenção do leitor e fazê-lo acreditar nos poderes mágicos da reportagem mentirosa.

O primeiro truque, clássico, é socorrer-se do testemunho de sua fonte, o ex-secretário nacional de Justiça Romeu Tuma Junior. Veja sabe que Tuma Júnior não tem credibilidade para sustentar uma acusação desse teor. Ele foi afastado do governo numa investigação sobre seu envolvimento na concessão fraudulenta de vistos a estrangeiros. É um rancoroso.

O outro truque de Veja é misturar o suposto de diálogo entre Abramovai e Tuma Júnior com uma fitalhada de conversas pela metade envolvendo o próprio Tuma, o ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e sua chefe de gabinete Gláucia de Paula.

Veja recebeu mesmo algumas fitas. Malandramente, porém, a revista induz o incauto a acreditar que as 14 palavras atribuídas a Anbramovai fazem parte do mesmo lote de fragmentos de conversas gravadas.

Veja dá-se ao desplante de afirmar que as conversas teriam sido "gravadas legalmente", como tantas outras fitas que chegam às redações desviadas ilegalmente de inquéritos policiais e do Ministério Público. Nesse caso, a revista teria de informar de que inquérito ou ação penal elas teriam sido extraídas, mas não pode fazê-lo porque sabe que isso é falso.

Elas reproduzem fragmentos de conversas entre mais de duas pessoas. Não são grampos, são escutas ambientais, feitas por alguém presente no local da conversa – e Romeu Tuma Júnior é o mínimo múltiplo comum de todas essas conversas.

Se Veja tivesse a fita com a frase atribuída na capa a Abramovai – as 14 palavras que realmente interessam – este áudio já estaria circulando, no site da própria revista, na rede de blogs auxiliares da desinformação, na CBN, no Jornal Nacional e no programa de José Serra.

Antes que o desavisado preste atenção a esse detalhe, está na hora de chamar uma dançarina ao palco. Ricardo Bolina, o perito multiuso, entra em cena para atestar a veracidade das gravações obtidas com exclusividade por Veja. Seu lado é apresentado em fatias, é um biquíni que mostra muito mas esconde o essencial: ele não comprova coisíssima nenhuma.

Vamos exibi-lo quadro a quadro, como está no facsimile da revista:

1) O perito recebeu dois arquivos de áudio

2) O perito tem de verificar se as vozes de Luiz Paulo Barreto e Pedro Abramovai ocorrem nessas amostras e se houve algum tipo de montagem

3) O perito constata que não houve alteração ou trucagem nos arquivos

4) O perito constata que as vozes dos arquivos conferem com as de Abramovai e Barreto, numa comparação com entrevistas dos dois personagens veiculadas na televisão.

Percebeu o truque? Nem o perito diz nem veja mostra que o áudio examinado contém as 14 palavras que realmente interessam e que foram peremptoriamente negadas. Diz apenas que recebeu uma gravação com a voz de Abramovai dizendo sabe-se lá o quê.

Há muito tempo que Veja não faz jornalismo, faz prestidigitação, fiando-se em duas máximas: as mãos são mais rápidas que os olhos; se colar, colou.

É triste lembrar que esta já foi a mais importante e mais acreditada publicação da imprensa brasileira. Veja não passa hoje de uma revistinha mandraque, para iludir os incautos e os que pagam para assistir seu espetáculo mambembe.

terça-feira, outubro 19, 2010

Falar aos pobres

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Acabo de encontrar meu amigo George, brasileiro que vive em Londres. Ele me contou que seus amigos tucanos estão em polvorosa no Facebook. Em plena mobilização, clamam para que todos falem com suas empregadas, com os porteiros de seus prédios, com as faxineiras de suas avós ou com os seguranças e a mulher do cafezinho do trabalho... com toda essa gente aí, para não deixar a Dilma se eleger.

Quer dizer, estão conclamando o pessoalzinho – que fez escola particular e universidade pública, que tem bons empregos, que lê jornal, bem, que, em suma, não é analfabeto – a formar a opinião dos pobres... Na cabeça deles deve passar algo como: “Gente, eles são analfabetos, desinformados, não são más pessoas, mas não sabem o que fazem. Você que ‘trata bem’ e é até meio amigo do seu porteiro, pois fala com ele sobre futebol, não deixe ele cometer essa burrada de ignorante e votar na Dilma, faça ele votar em gente como a gente”.

Está claro que também estão respondendo ao apelo do candidato Serra de que cada um conquiste mais um voto e estão fazendo a parte deles com os pobres mais à mão, aqueles sobre os quais sentem que têm até alguma obrigação de influência. Herança genética dos tempos do cabresto?

Será que essa mobilização confirma a opinião de Maria Rita Kehl de que não há respeito pelo voto do pobre, que aprendeu a votar em causa própria em vez de votar pela causa de seus patrões, aquela exata opinião que lhe valeu a demissão de O Estado de S.Paulo?

Espetada em Serra sobrou até para Boris Casoy

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No Rio de Janeiro, durante o ato de apoio de artistas e intelectuais à campanha de Dilma Rousseff para a presidência da República, o cantor/compositor/escritor Chico Buarque resumiu o motivo de sua opção (o grifo é nosso):

‎- Eu vim aqui reiterar meu apoio entusiasmado à Dilma, essa mulher de fibra, essa mulher que já passou por tudo, que não tem medo de nada, e que, sobretudo, vai herdar o senso de justiça social, que é a marca do governo Lula, governo que não corteja os poderosos de sempre. Porque não é de sua índole desprezar os sem-terra, os professores, os garis. Temos hoje um país que é ouvido em toda parte porque faz de igual pra igual com todos - não fala fino com Washington nem fala grosso com a Bolívia e o Paraguai. E que, por isso mesmo, é ouvido e respeitado no mundo inteiro, como nunca antes na História desse país (risos).

Ou seja, além de botar a carapuça em José Serra, que, em vez de dialogar, criminaliza os movimentos sociais, e que costuma botar a polícia para bater nos professores (além de representar a linha política de submissão a Washington e de prepotência com os países sul-americanos mais pobres), Chico ainda deixou uma espetada sutil no apresentador de telejornal Boris Casoy, que este ano classificou dois garis como "o mais baixo da escala do trabalho" (reveja o vídeo aqui). Abaixo, a íntegra do discurso de Chico Buarque e de Leonardo Boff:

sexta-feira, outubro 15, 2010

Serra: Direita, volver?

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No longínquo mês de maio deste ano, alguém que concorria à Presidência da República disse: "Do ponto de análise convencional, sim (sou de esquerda). (Se eleito) vou estar comprometido até o fundo da alma com os trabalhadores e os desamparados, (ser de esquerda) é ser aliado de empresas que gerem empregos".


Em 13 de outubro, o Radar Político, blogue político de O Estado de S.Paulo divulga um santinho do mesmo candidato. Mas é um santinho no mais stricto sensu jamais praticado em uma corrida à Presidência da República. "Neles esta estampada, como nos santinhos convencionais, a foto de Serra na parte da frente com o slogan 'Serra é do bem' e, atrás, a inscrição 'Jesus é a verdade e a Justiça' assinada pelo próprio candidato". Quando se escreve "assinado" é porque está posicionada uma assinatura em letra cursiva.

O motivo por que o material foi produzido é mais importante do que o panfleto. Foi a necessidade de se afirmar cristão e instrumentalizar as acusações contra sua concorrente em temas sensíveis da parte dos católicos e evangélicos. Circulam boatos de que Dilma é a favor do aborto – e não da discriminalização das mães que recorrem à prática – e de que teria dito que "nem Cristo" lhe tiraria a vitória. Ambas as assertivas são falsas.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A curta caminhada
Usar setores da sociedade como trampolim eleitoral em uma conjuntura específica não é uma exclusividade de José Serra. Mas é preocupante quando se dá vazão, se aproveita e incentiva a disseminação de falsas informações que afetam o lado mais conservador e retrógrado da sociedade brasileira.

Para chegar até ali, o candidato do PSDB percorreu uma caminhada curta, com alguns degraus.

Houve a acusação da "República Sindicalista" , termo criado por Carlos Lacerda em um factóide histórico. Ele usou seus jornais para dizer que o então Ministro do Trabalho de Juscelino Kubitcek teria recebido uma carta de um ministro argentino prometendo armas para dirigentes de sindicatos brasileiros. Tudo para a instação de uma "República sindicalista". Era mentira, a carta não existiu.

Por trás da crítica aos setores ligados a entidades de representação de classe está uma postura extremamente carregada ideologicamente. É a ideia que apenas diretores de sindicatos empresariais poderiam ascender a cargos do primeiro e segundo escalões do poder Executivo.

Outro episódio dessa escalada foi o material do Instituto Plínio Correia de Oliveira – batizado em homenagem ao criador da Tradição, Família e Propriedade (TFP), um líbelo do ultraconservadorismo brasileiro – no comitê do PSDB.

Foram cinco meses para percorrer, no discurso, o espectro da política: da esquerda na "análise convencional" para o apoio da TFP.

O problema
Se Serra mantiver o crescimento apresentado nas pesquisas e sagrar-se vencedor na disputa, terá uma dívida de gratidão a saldar com esses setores conservadores. Seria futurologia do pretérito tentar vislumbrar como essa fatura seria paga. Muito menos importante do que cargos, a questão seriam políticas efetivas adotadas.

domingo, outubro 10, 2010

Olhando o Brasil de fora

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Dois dias atrás em Madrid, agora aqui em Bordeaux, França: a admiração pelo momento que vive o Brasil é enorme. Em 2001, quando vim à Europa pela primeira vez, só me perguntavam do Ronaldo. Agora todos querem saber como fizemos para dar o chapéu na crise e emplacar o melhor desempenho no mundo em relação aos seus efeitos.

Ontem, eu e Cristina Ortiz, a pianista brasileira com quem estou aqui trabalhando, fomos jantar na casa de um casal de americanos, com um casal de franceses (estes, já viveram no Rio como adidos culturais, conhecem muito bem nossa terra). Todos me perguntaram animados, sedentos por notícias da grande sensação mundial. Chegam a pensar que o Brasil erradicou todos os seus problemas, que vivemos no paraíso. Tive que explicar que, apesar de estarmos muito melhores, ainda temos problemas e contradições históricas para solucionar.

Comentaram como enxergam o Brasil como o país mais apto a negociar internacionalmente, não apenas pelo seu sucesso econômico, mas também pela sua tradição pacifista e postura independente, em episódios como os do Irã e de Honduras. Em Madrid, um amigo espanhol chegou a brincar que invertemos os papéis: são eles que têm crise econômica, desemprego de 20% e ganharam a Copa do Mundo.

Ou seja, nada como sair desse mar de boatos que tomou conta do Brasil para recuperar um pouco de clareza: até muito pouco tempo atrás, o orgulho de ser brasileiro se apoiava quase que só no futebol (e um pouquinho no samba e na cachaça). Agora, já podemos começar a ter orgulho da política.

Mudamos. Estamos mudando.

quarta-feira, setembro 15, 2010

O desespero machucando o coração (2)

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Outro dia comentei aqui sobre o despropósito da Editora Abril de enfiar uma foto do José Serra no meio do encarte de um CD do Chico Buarque. Agora foi a vez das Organizações Globo colaborarem com sua parcela no desespero pela iminente surra que os tucanos levarão nas urnas. Hoje, o site do jornal O Globo traz uma inacreditável "matéria" sobre o "futuro" do governo federal. Contra todas as evidências, a taróloga Cinara Mattos (foto) garante: "Vai ter segundo turno, entre Dilma e Serra".

Além do "incentivo moral" para o PSDB, Cinara ainda tenta convencer os eleitores de Dilma de que, vitoriosa, ela estaria à beira da morte e passaria seu governo para "assessores". "Ela vai ganhar e vai focar na economia, mas, como está doente, vai precisar ser muito assessorada". Não contente em urubuzar a saúde da candidata, Cinara ainda alerta os simpatizantes do popular presidente Lula que ele será inimigo dela. "No primeiro mês de mandato, Dilma vai mudar com o Lula completamente. Ele vai querer comandar atrás dela, e ela vai dizer que não, que o comando é dela. Eles vão romper definitivamente", sentencia a taróloga.

Em tempo: Cinara Mattos é a mesma que previu, para o Globo Esporte, que seremos campeões na Fórmula 1 este ano. "Com certeza voltaremos a ser campeões. Os mais cotados são o Felipe Massa e o Bruno Senna. Um dos dois vai trazer a taça para o Brasil". Faltando cinco provas para o final da temporada, Massa é o 6º colocado na tabela, 63 pontos atrás do líder, e Bruno Senna é o 22º, sem um ponto sequer. Melhor que isso: Cinara também previu, para o site UOL, que a final da Copa do Mundo de 2010 seria entre Brasil e França. "Essa será a final", disse a taróloga, em janeiro. "(A França) Vem quente. Ela quer porque quer. A cabeça está direcionada para ganhar. Tem chance real". Raymond Domenech que o diga...

sábado, agosto 28, 2010

O desespero machucando o coração

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Saindo do hipermercado, decidi dar uma passada na banca de jornais para conferir com os próprios olhos a tal pesquisa do Ibope, divulgada pelo Estadão, mostrando que Dilma Rousseff tem 51% das intenções de voto para as eleições presidenciais, contra 27% de José Serra, o segundo colocado. Pelo burburinho a minha volta, deu pra perceber que aqueles que iam - ou em algum momento consideraram a hipótese de - votar no candidato do PSDB, agora negam, disfarçam ou simplesmente se calam. Satisfeito com a informação, desisti de comprar jornal mas, antes de deixar a banca, notei um CD do Chico Buarque (foto) na prateleira, por R$ 7,90. Um CD que já tenho, mas, além do preço convidativo, era uma nova edição, com um encarte especial. Comprei.

Trata-se de uma coleção da Editora Abril, que trará a discografia quase completa do Chico (se não me engano, vai ficar faltando só o "Chico Canta", de 1974). Buenas, cheguei em casa, abri o pacote e dei uma olhada por cima no livreto do CD. E, surpreso, me deparei com uma foto enorme do José Serra na página 11, página ímpar, de maior destaque. Assim, do nada, totalmente gratuita. Procurei no texto alguma coisa que justificasse, e a menção é tão gratuita quanto a imagem (o grifo é nosso) : "Embora a anistia só viesse a ser promulgada no ano seguinte, parte dos exilados políticos, entre eles José Serra, já havia retornado ao Brasil".

À direita (opa!), José Serra esboça um quase sorriso. Escaneamento torto faz jus à publicação. (Reprodução)

Por que "entre eles José Serra"? Ou se menciona dois ou três, todos ou nenhum. E por que lançar essa coleção exatamente neste momento? Por que escolher um disco de 1978 para iniciar a publicação de uma obra que começa em 1966? E por que diabos botar uma foto do Serra, como um "herói exilado", numa página ímpar, praticamente na abertura do texto? É, o desespero anda machucando o coração dos Civita. A ponto de fazer uma coisa dessas justo com o Chico Buarque, um histórico simpatizante e defensor do PT, partido que seu pai, Sérgio, ajudou a fundar. Feio. Feio demais.

quarta-feira, agosto 25, 2010

Vale a pena ouvir Maria da Conceição Tavares

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O.k. parece campanha e pode até ser, mas é fruto de uma coincidência.


No sábado, no Canal Brasil, passou ótimo documentário sobre Celso Furtado e a entrevista com Maria da Conceição Tavares foi cortante. Resumiu o pensamento do grande economista, suas ideias, principalmente quando falava da máquina de subdesenvolvimento montada no país exatamente para que continuasse a ser eternamente subdesenvolvido etc.

Vale procurar o filme e assistir.

Mas hoje, olhando o blogue Tijolaço, do Brizola Neto, está lá um vídeo com declaração de apoio de Maria à candidatura de Dilma. Vale a pena assistir.

quarta-feira, agosto 18, 2010

'Show do Intervalo' na Globo tem Serra 3 vezes; Dilma só 1

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Durante as transmissões da final da Libertadores da América, a TV Globo de São Paulo colocou o candidato à Presidência da República da oposição, José Serra (PSDB) por três vezes no ar. No "Show do Intervalo", foram 11 inserções relacionadas ao horário gratuito de propaganta na TV. Além de uma entrada dedicada à corrida ao Palácio do Planalto, o tucano apareceu por duas outras vezes durante o tempo que seria dedicado aos deputados federais do PSDB.

Foto: TSE/Divulgação

 Dilma Rousseff (PT), a candidata governista, foi ao ar apenas uma vez. Marina Silva (PV) apareceu em outra ocasião, em inserção de deputados estaduais de sua legenda. O levantamento do Futepoca inclui apenas o que foi mostrado durante dois blocos de propaganda, entremeados de anúncios comerciais e políticos.

Além de Serra, Geraldo Alckmin (PSDB), concorrente a governador de São Paulo, surgiu na telinha em dois momentos no intervalo da partida. Em uma, o foco era a campanha ao Palácio dos Bandeirantes e, na outra, a campanha a deputado estadual correspondente ao DEM, que compõe a chapa com os tucanos na disputa por vagas na Assembleia Legislativa.

Aloísio Mercante (PT), o segundo colocado nas pesquisas paulistas, teve uma oportunidade de deixar seu recado. Quem falou dele foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os candidatos a senador da chapa de Serra, Aloysio Nunes (PSDB) e Orestes Quércia (PMDB) tiveram uma inserção cada. Postulantes à Casa que apoiam Marina e Dilma não tiveram vez no intervalo da Globo. Outras legendas e candidaturas tampouco surgiram na telinha.

Somados, tucanos e seus aliados alcançaram oito aparições, contra duas dos apoiadores de Dilma e um de correligionários do PV.

Distribuição
Um plano de mídia do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define como deve ser feita a distribuição dos spots pelas emissoras por bloco a cada dia. A distribuição é proporcional ao tempo de cada coligação. Para esta quarta-feira (18), a coligação "Para o Brasil seguir mudando", encabeçada por Dilma, tem cinco entradas previstas para cada três da "O Brasil Pode Mais".

A definição de qual peça publicitária vai ao ar no horário reservado para a inserção da coligação é dada pelas campanhas. Assim, pôr Serra e Alckmin para enaltecer os candidatos ao legislativo federal e estadual é uma forma de fazê-los aparecer mais.

sexta-feira, agosto 13, 2010

Datafalha acerta pela primeira vez

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Não é que até o Frias assumiu.... A liderança da Dilma nas eleições presidenciais, claro.

Assumiu envergonhadamente, dando como novidade algo que até os manguaças do Futepoca já sabiam: Dilma 41%, Serra 33%.

Mas vale um capítulo à parte a manchete do UOL.

Com 41%, Dilma passa Serra pela primeira vez no Datafolha.

O correto não seria, pela primeira vez Datafolha acerta na pesquisa?