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quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Afogando as mágoas na cerveja

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Pouco antes do pé na bunda: Pete Best, George, Paul e John

Outro dia comentei aqui, num post sobre os Beatles, como o empresário Brian Epstein despachou o baterista Pete Best da banda, substituindo-o por Ringo Starr. Historicamente, como o próprio guitarrista George Harrison dizia, essa teria sido uma "grande maldade". Afinal, foi a partir da entrada de Pete, em agosto de 1960, que a banda cristalizou-se como a melhor de Liverpool e conseguiu seu primeiro contrato de gravação com a EMI-Parlophone. Dizem que o produtor George Martin não gostou da batida do baterista. Dizem que Paul McCartney não ia com a cara dele e fez campanha para tirá-lo. Dizem que Epstein era apaixonado por Pete e, sem correspondência, vingou-se. Seja o que for, em 16 de agosto de 1962, o baterista recebeu um telefonema do empresário, demitindo-o (ao lado, reprodução da notícia em jornal da época). Quando a beatlemania explodiu no mundo e o quarteto - já com Ringo - ficou milionário, em 1964, Pete começou (lógico) a ter problemas de depressão, culminando com uma tentativa de suicídio no ano seguinte, ao vedar um dos cômodos de sua casa e abrir o gás (seu irmão o salvou). Curiosamente, naquela época, os Beatles lançavam no cinema o filme "Help!" - "Socorro!"...

Mais tranquilo, casado e com duas filhas, Pete trabalha desde 1969 numa agência pública de empregos, em Liverpool. "Passei a viver o que podemos chamar de uma vida normal: ir ao trabalho, voltar, sair para tomar uma cerveja, coisas assim", conta. "Mas, lá no fundo, ainda existe aquela sensação: 'Meu Deus, se eu tivesse continuado como um beatle!'. Hoje, penso que não faz diferença. Quando chego em casa, encontro as contas a pagar que o correio deixou embaixo da porta. Vem alguém e me diz: 'pague!'. E vou vivendo, afinal, todas essas coisas normais que todos vivem", acrescenta. Numa extensa entrevista de 2007 para o site Geneton, Pete contou a um repórter brasileiro o que aconteceu quando recebeu a notícia de sua exclusão dos Beatles. Aparentemente, ficou sem entender, pois o clima era bom entre eles. "Bem na época da minha saída, logo antes, nós estávamos todos bebendo juntos e parecíamos os melhores amigos do mundo", recorda o ex-baterista. E se foi bebendo que ele conversou com John, Paul e George pela última vez, foi também na manguaça, naturalmente, que tentou afastar o atordoamento. Veja o trecho em que ele fala sobre o dia fatídico:

Geneton - Que sensação ficou até hoje do dia em que você recebeu a notícia de que já não era um beatle? Deve ter sido um dia doloroso...
Pete Best - Não chegou a ser exatamente, porque foi como se uma bomba caísse na minha cabeça, assim, de repente. Só no dia seguinte é que tudo começou a entrar na minha cabeça, quando entendi que tinha acabado. Já era. É aí que a dor começa. Não se tem como voltar. Aquele terminou se transformando no dia mais doloroso, no sentido de que mudou a minha vida. Tive outros tempos duros, desde então. Mas aquele foi o dia que mudou todo o curso de minha vida. Eu me lembro bem. Era agosto de 1962.

Geneton - O "Times" recontou a história há pouco tempo. Você foi a um pub beber umas cervejas...
Pete Best - Umas? Muitas! (ri). Eu tinha acabado de falar com Brian Epstein, às 10 e meia da manhã. Um amigo estava me esperando do lado de fora. Recebi a notícia de que tinha saído dos Beatles e fui para fora. Meu amigo notou algo diferente. Perguntou: "o que foi que houve?". Eu disse: "Eu saí! Não sou mais um beatle!". Ele respondeu: "Meu Deus! Não pode ser verdade! O que é que aconteceu?" Eu disse: "Tudo o que quero fazer é tomar uma cerveja, afundar a minha cabeça!". Fomos para um pub. Derrubamos um bocado de cerveja. Chegou um momento em que eu disse: "Ok! Vamos para casa!". Quando fui para casa é que senti a pancada. E comecei a chorar. Chorei a noite inteira. É o tipo do choque de efeito retardado. Bem aí é que entendi: tudo tinha acabado.


Bebedeira em Hamburgo, Alemanha. Da esquerda para a direita: Stuart Sutcliffe (baixista, que morreria em 1962), John Lennon, Helmut (garçom), George Harrison, Paul McCartney e Pete Best

terça-feira, janeiro 20, 2009

O Futepoca deu primeiro - e deu melhor

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Antes que qualquer interpretação maliciosa que mentes sujas e mal intencionadas possam ter a partir do título desse post, recupero aqui a confirmação do "furo" de reportagem de Diego Sartorato para o Futepoca na última sexta-feira, adiantando com exclusividade a data da posse da vereadora Soninha Francine (PPS) como subprefeita da Lapa, em São Paulo - fato ocorrido ontem, segunda-feira, como registrou o portal G1:

A ex-vereadora e candidata do PPS à Prefeitura de São Paulo, Soninha Francine assumiu na manhã desta segunda-feira (19) a Subprefeitura da Lapa (Zona Oeste), que administra uma das áreas mais extensas da cidade. Em um discurso breve, Soninha disse que vai focar o trabalho na questão da mobilidade, uma das questões recorrentes na sua campanha à prefeitura, melhorando as calçadas e áreas para circulação de pedestres e promovendo a inserção da bicicleta. (...)
A indicação de Soninha ao cargo fez parte de um acordo com o prefeito Gilberto Kassab (DEM), então candidato à reeleição, que garantiu o apoio do PPS, partido de Soninha, no segundo turno.


No post do Futepoca, Soninha já havia adiantado sua plataforma de gestão: "Vou dar atenção às calçadas, à acessibilidade, questões importantes". Mas o Sartorato fez melhor que os outros meios de comunicação, botando a mulher na parede e questionando a participação dela, que se considera "de esquerda", numa administração do famigerado DEM. A resposta foi curta, grossa e elucidativa: "Eu quero o poder". Assim, o Futepoca deu a notícia antes - e deu melhor. Por essas e outras (e muitas outras) que merecemos a indicação da própria Soninha, em 2008, para a disputa do prêmio The BOBs entre os 11 melhores blogues de língua portuguesa do planeta. Valeu, subprefeita!

quinta-feira, outubro 16, 2008

José Dumont: "O bar é o grande ato politizador"

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Acabo de bater um papo arretado com José Dumont, um dos melhores atores do Brasil em todos os tempos. Falamos sobre o filme "O Homem Que Virou Suco" (foto ao lado), clássico de 1980 do diretor João Batista de Andrade, para uma reportagem da revista cearense Singular. Só que, papo vai, papo vem, e é claro que a conversa desembocou em...futebol, política e cachaça. E aí, lógico, eu falei do nosso glorioso Futepoca. "Que bacana, um nome muito apropriado", elogiou o Zé. "O bar é o grande ato politizador. Porque, se eu não escuto opinião, como vou mostrar a minha?", questionou, na seqüência. Por isso, Zé Dumont topou uma entrevista rápida para nossos leitores. Vamos a ela, então:

FUTEPOCA - As ações sociais do governo Lula representam alguma esperança, mudam alguma coisa para o Nordeste?
ZÉ DUMONT - O Lula faz o que pode, dá assistência. Mas o problema não é o governante, é o conceito que se tem para o país. O Brasil tem um presidencialismo de fachada, quem manda é o Congresso e o Senado. E nesses lugares só se faz negócio. Não quero generalizar, deve ter uns 50 ou mais que fazem um bom trabalho, mas o resto, lá, só faz negócios. É preciso fazer reformas, política, fiscal, tributária, do código trabalhista. Mas não essas que estão aí, não desse jeito. Aqui no Brasil só as grandes corporações se dão bem, tudo favorece o monopólio. O Brasil só é bom para o atravessador. As favelas chegaram a uma situação de barbárie. O governo tenta, atua, mas os camaradas que fazem as leis amarram tudo. Nossas leis são anacrônicas. Temos uma porcaria de tributação, uma péssima qualidade social. É só especulação, eles artificializam a economia. E dá no que dá, como estamos vendo. Mas, no Brasil, não é o caso de culpar o governo. A sociedade é que é culpada, porque não quer pensar nisso.

FUTEPOCA - Como mudar esse círculo vicioso?
ZÉ DUMONT - O Brasil tem reservas, tem uma natureza esplêndida, tem condições de virar primeiro mundo. Somos mestiços, resultado de três raças cruzadas, essa é a nossa grande vantagem. Falta pensar, mudar os conceitos. Quando fomos apresentar o filme "Os Narradores de Javé" ao presidente Lula (que, aliás, é meu trabalho predileto), pude conversar bastante com a Dilma Rousseff, que na época era ministra de Minas e Energia. Daí eu perguntei pra ela: "-Por que não se investe em energia solar, em energia eólica? Se unirem a inteligência do caboclo com a tecnologia, resolvemos a seca e a fome no Nordeste". Ela disse que há um plano e coisa e tal. Mas é tão simples! Acho que não se investe porque vai contrariar muitos interesses. Só pode ser. Repito: o país existe em função dos grandes conglomerados.

FUTEPOCA - E o futebol? Você torce pra que time?
ZÉ DUMONT - Gosto muito de futebol, acompanho, mas, na verdade, não torço pra ninguém. Tenho simpatia por dois times: o Treze de Campina Grande, que era o time do meu pai, Severino, e, por incrível que pareça, o XV de Jaú (risos). Não me pergunte por que, mas, quando cheguei a São Paulo, no início dos anos 1970, o XV de Jaú tinha um time bom, enfrentava bem os da capital. Tinha um uniforme branco, bonito. E todo time do Nordeste que vem jogar aqui no Sul e Sudeste eu torço a favor (risos). Tem que ganhar! Acho que o futebol é necessário. Se não tiver isso, vai ter o que? Eu joguei muita pelada na minha vida. Hoje, com 58 anos, não jogo mais. Lá em João Pessoa, no bairro de Mandacaru, joguei pelo Vera Cruz, pelo Globo e pelo Atlético. E fui até registrado na Liga Amadora, pela Portuguesa de Cruz das Armas, só que joguei pouco lá. Eu era lateral-direito, depois passei pra ponta-direita. Nunca fui muito bom, mas tinha noção.

FUTEPOCA - Como você analisa a situação do futebol brasileiro?
ZÉ DUMONT - A principal vocação do Brasil é o esporte. Só que é tão manipulado, falta apoio, é uma decepção. Acho estranhíssimo ter uma emissora só com direito de transmissão de um campeonato. É um desperdício de dinheiro, prejudica os clubes. Eu estou fazendo novela para uma emissora, no momento, e prefiro não entrar nessa discussão, pra não dar o que falar. Se a questão é política, não me meto. Mas é grana que os clubes deixam de ganhar. Desperdício.

FUTEPOCA - E a seleção brasileira atual? O que acha?
ZÉ DUMONT - A seleção tá bem, tá em segundo lugar. A obrigação de dar Ibope é que é uma coisa chata. Tem que ganhar toda hora, pra dar Ibope. O Brasil vai se classificar, vai ganhar, temos Ronaldinho, Kaká, um monte de craques. Não dá mais pra achar que no mundo ninguém aprende nada, que a gente sempre vai ser o melhor. É complicado isso.

FUTEPOCA - Qual é um jogador que você admira?
ZÉ DUMONT - O Rogério Ceni. Além de craque, tem postura. Ele deu outra dimensão para o São Paulo, é o mesmo que o Zico foi para o Flamengo. E ainda chuta muito bem, como os atacantes de antigamente. Devia dar aula para os atacantes de hoje (risos). E gosto dele também como gente, pela sua postura. Mas eu vi muitos craques na vida, fui ver o Zico jogar, o Romário. O Pelé eu vi só uma vez, de cima de uma mangueira, atrás do estádio, contra o Botafogo da Paraíba. Foi aquele jogo pouco antes de ele marcar o milésimo gol. É um gênio, um Leonardo da Vinci. Ninguém prestou atenção no que ele disse lá no Maracanã, sobre as crianças, sobre a educação. Se tivessem ouvido, a situação não estava desse jeito.

FUTEPOCA - E um técnico?
ZÉ DUMONT - Gosto muito do Muricy, do Luxemburgo, do Felipão, do Mano Menezes. Eles falam e pronto, o cara tem que obedecer. Não gosto de técnico que fica de conversa mole.

FUTEPOCA - Bom, pra encerrar o papo, faltou falar de cachaça...
ZÉ DUMONT - É verdade. Nós sempre tivemos essa cultura boêmia. O Juscelino Kubitschek, nosso grande presidente, gostava da boêmia, de cantar. É muito legal beber uma coisinha, cantar, dançar. Nesse país era pra todo mundo amanhecer na beira da praia, tomando uma cervejinha. Hoje eu não bebo, por questão de saúde, mas sempre gostei de uma cervejinha de vez em quando. O que tem que ter é limite, é educação. Eu sou da seguinte opinião: libere e tribute. A pessoa pode usar o que quiser, mas tem que regulamentar. Se o camarada tá embriagado ou drogado e comete um crime, tem que ter agravante. Se ficar viciado, tem que saber que o Estado não vai gastar um tostão com ele, vai ter que se virar sozinho. Tem que fazer leis muito duras. A cultura boêmia é legal, não a violência. A pessoa podia sentar lá no bar, jogar papo fora, dar uma namoradinha, cantar, compartilhar suas experiências com os outros, conhecer os outros. Mas não: hoje o sujeito discute e briga, dança e briga, bebe e briga, depois pega qualquer um ou qualquer uma que vê na frente e sai, usa e descarta. É por isso que ninguém bebe vinho no bar. O vinho estimula a conversa, o pensamento, a convivência. Já a indústria de cerveja transformou tudo num propósito só: é cerveja, briga, futebol, briga, sexo, briga, discussão, briga. Acabou com a convivência. Esse valor da violência, na nossa sociedade, foi criado para vender armas. O bar é o grande ato politizador. Porque, se eu não escuto opinião, como vou mostrar a minha? O que é preciso é beber um pouquinho, brincar um pouquinho, dizer besteira um pouquinho. Sem exagero.

quarta-feira, junho 04, 2008

As entrevistas Futepoca/Diplô

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Este glorioso blogue inaugura hoje uma nova seção, só com entrevistas especiais produzidas em conjunto com a página eletrônica do Le Monde Diplomatique no Brasil. Aqui, você poderá acompanhar conversas entre os integrantes do dois veículos e personalidades das mais distintas áreas, que falam não apenas sobre seus trabalhos mas também sobre os temas que norteiam esse espaço: futebol, política e cachaça.

Para estrear essa nova seção, dois convidados: o cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e o economista e dirigente palestrino Luiz Gonzaga Belluzzo.

Em seu estúdio no centro de São Paulo, Mojica logo de cara nos fez uma revelação: vai emprestar o nome de seu personagem mais famoso para uma aguardente. Não demorou muito para a mesa ter mais duas garrafas da dita cuja, além da que os entrevistadores tinham levado. Aliás, esse é um padrão nos encontros realizados: com pompa e circunstância, servimos cachaça artesanal selecionada, pra soltar a língua do entrevistado e a imaginação dos entrevistadores.

Durante as quase duas horas de conversa, Mojica falou sobre seus filmes, em especial o que será lançado ainda este ano, Encarnação do Demônio, que encerra a trilogia iniciada com À meia-noite levarei tua alma e Esta noite encarnarei no teu cadáver. Contou também suas participações na vida política do país e falou de uma das suas paixões, o Corinthians, rogando uma praga a quem se atrever a falar mal do seu clube.

Já o apaixonado palmeirense Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos principais articuladores da parceria com a Parmalat nos anos 90 e também um dos pais do Plano Cruzado, fez uma interessante análise sobre a crise econômica nos EUA e os seus possíveis efeitos no resto do mundo. Também comentou aspectos da administração do futebol brasileiro e sentenciou, para desgosto dos alviverdes: o São Paulo tem a melhor estrutura entre os clubes de futebol do país. Além disso, Belluzzo falou sobre algumas das pessoas que admira no esporte bretão: Vanderlei Luxemburgo, Valdívia, o meia Alex e aquele que considera um "anti-ídolo", o goleiro Marcos.

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Aproveitando o ensejo, o Futepoca também estréia um novo layout, a partir de uma idéia de logomarca concebida por Olavo Soares, com arte de Carmem Machado e produção de Anselmo Massad. Algumas partes da página ainda não estão funcionando, mas em breve tudo estará bem (se tudo der certo).

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Abaixo, a praga do Zé do Caixão para quem "desprestigiar" a nova seção do Futepoca.